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Florescer leva tempo

Como desacelerar em um mundo em que parecemos constantemente atrasados? Seja no sentido literal ou simbólico, o sentimento de estar atrasado pode nos paralisar ou impulsionar e, muitas vezes, somos pressionados a adotar um ritmo que não é nosso. Está na origem da palavra: atraso vem de “atrás”. E quem quer ficar para trás?

Logo que entendi que estar conectada, atualizada e atenta aos fluxos digitais são exigências da minha atividade profissional como comunicadora, procurei ocupar meu tempo livre com atividades que me ajudassem a botar o pé no freio e me mantivessem longe das telas. Os principais passatempos que experimentei foram tricô, crochê, bordado, origami, culinária e jardinagem. Um pouco de tudo.

Apesar do prazer que eu sentia ao aprender algo novo, como construir uma peça de roupa, cozinhar uma nova receita e fazer tsurus a torto e a direito, havia sempre uma pressão interna de me tornar mais habilidosa e assim acelerar a conclusão dos projetos. Na maioria dos passatempos, o treinamento e a repetição ajudavam a melhorar meu desempenho e ter mais rapidez na execução, mas com a jardinagem foi outra história.

Conhece aquela expressão popular “olhar o fogo não faz a água ferver mais rápido”? Pois bem. Ela cabe perfeitamente para explicar como me senti diante da ansiedade de ver minhas plantas crescerem e darem flores. Durante um período, consultei os vasos quase que diariamente para checar se havia novidades por ali. Mesmo seguindo todos os cuidados específicos para ajudar no seu desenvolvimento, não havia mágica que fizesse as plantas obedecerem ao meu tempo. Cada uma delas tinha o seu tempo próprio e inegociável.

Foi um desafio aceitar esse ritmo que rejeita a pressa e mesmo assim nunca pode ser considerado atrasado.

Quando me conformei que esta era uma condição para que pudesse manter minhas plantinhas saudáveis, confesso primeiro ter sentido um pouco de inveja da posição de proprietárias do tempo, mas depois comecei a reparar as lições discretas que elas me transmitiam.

Primeiro, precisei respeitar a diferença entre cada uma delas. Mais água, menos água, mais luz, menos luz. A gente vai pegando o jeito. Depois, aprendi sobre os ciclos de vida. De nada adiantou ter pena de colher os raminhos de manjericão, já que ele nasce, cresce e morre em aproximadamente um ano. Outra dificuldade foi aceitar a hibernação. Como assim o vaso vai ficar vazio? Meu tinhorão vai voltar? Era só o clima esquentar para ele dar as caras de novo.

Quanto à floração, essa foi uma das lições que mais me fez refletir. Eu torcia para ver as flores surgirem nos vasos, mas as espadas-de-são-jorge não entravam na onda. Nada de flor no primeiro, segundo ou terceiro ano de vida. Quando desisti de esperar, lá estavam as pétalas brancas com cheiro doce no meu quintal. A flor apareceu me afrontando e parecia me dizer: “Por que a pressa?”.

Dentre todos esses passatempos (acho um termo injusto, quem deseja que o tempo passe quando se faz algo de que se gosta?), cuidar das plantas foi o único capaz de me trazer uma perspectiva não produtiva sobre o tempo. Não é fácil contemplar um vaso vazio. É isso. Às vezes a gente demora a florescer e a pressão não vai fazer algo acontecer mais rápido. Mas cuidar bem do ambiente que você está pode ser um bom começo!

Thaís Cristina Kruse é comunicóloga e mestra em Educação: Currículo. Atua como editora web na Gerência de Saúde e Odontologia do Sesc São Paulo.

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