Publicacao xilo corpo e paisagem edit compressed

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CLAUDIO MUBARAC CURADOR DA EXPOSIÇÃO

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SIMONE PEIXOTO

qualidades que só esse tipo de inflexão, nas reflexões sobre a gráfica, pode nos trazer ao olhar e ao juízo. As estocadas mais recentes do neoexpressionismo alemão, na segunda metade do século XX, com Anselm Kiefer, Felix Droese e Georg Baselitz, entre outros, vêm confirmar a presença da xilogravura como processo seminal, como energia vital e não só primitiva, no cenário onde atuavam, dando continuidade aos paradigmas antes enunciados. Situo esses fatos para entendermos uma noção de escala, tanto no que diz respeito às variações dos tamanhos das empreitadas e das edições quanto no que tange à escala e às propriedades físicas, materiais, das estampas impressas, nos seis séculos de sua intensa atividade. Há toda uma história possível de ser contada sobre os fenômenos de edições gigantescas ou diminutas, sobre as cadeias de cópias e apropriações – por um bom tempo devidamente aceitas no meio – ou sobre, como um exemplo de flexibilidade do meio, a produção de estampas em grande formato do final do século XV, início do XVI, onde a presença cada vez mais ostensiva dos “empreiteiros” nessa indústria levou-os a buscar novas funções e novos lugares para os papéis impressos. Esses puderam, naquele momento, rivalizar com a pintura mural, a tapeçaria, o painel e o baixo-relevo, assumindo a possibilidade de também existirem em escala monumental, conjugando-se com espaços arquitetônicos. Essas notas, bastante breves, buscam salientar uma grande energia que pulsa na produção gráfica ainda hoje, que não dispensa os aparatos tecnológicos digitais, já que a gravura de estampa sempre trabalhou ao lado das indústrias de todos os tempos, e que, também como princípio, é cumulativa, cultivando uma convivência diacrônica e sincrônica entre os processos de construção matriciais de imagens, posicionando a xilogravura ao lado dos computadores, os impressos mais toscos na convivência com os parques gráficos altamente sofisticados, sem reverência e sem mistificação. De certa forma, a pujança das oficinas inaugurais do século XV é uma semente na criação de uma ideia de originalidade, onde a multiplicação é vetor para a apresentação de novas figuras, novas situações, sem o viés de uma singularidade a toda prova, com a consciência do trabalho compartilhado, da experiência como partilha, numa extensa cadeia de ações, onde a origem pulsa no aqui e agora.


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