revista Observatório #19

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aos leitores

Desde o surgimento da humanidade, possuímos uma relação simbiótica com a tecnologia. Em um eterno feedback autoamplificador, moldamos nossas ferramentas e elas nos moldam de volta. Elas atuam tanto sobre nosso aparato cognitivo e sensorial – verdadeiros upgrades mentais – quanto sobre nossas estruturas econômicas, políticas e sociais. Os aparelhos eletrônicos digitais, que hoje parecem monopolizar injustamente o significado do termo “tecnologia”, constituem parte de nossos sentidos e de nossas redes neurais, assim como óculos e telescópios são extensões de nossos olhos e instrumentos musicais tornam-se membros do corpo de um músico. Nesse sentido, como diz Andrew Clark, sempre fomos ciborgues. Abrindo a Revista Observatório número 19, Lucia Santaella afirma que nossa primeira tecnologia, a linguagem, é marca constituinte do ser humano, nossa condição inevitável. Do surgimento da comunicação oral e escrita, da narrativa e da memória nascem a cultura e a tradição. Ao longo de nosso processo histórico, as tecnologias foram se acumulando e complexificando nossos modos de viver,

culminando na atual sociedade híbrida, potencializada pelo poder do computador e da internet. “O ser humano, desde a sua gênese, foi e continua sendo um ser inacabado que se metaboliza transformando em cultura a natureza de onde emergiu.” Contextualizando em uma linguagem simples os recentes avanços das máquinas e seu poder de processamento, Marcos ­Cuzziol discute a possibilidade de já estarmos vivendo em um mundo que nos obriga a nos relacionar com entidades artificiais mais competentes do que nós e que pode muito bem levantar importantes dúvidas filosóficas. Um programa de computador pode atingir um estágio de consciência? O que nos define como humanos? A partir desse cenário incerto, são analisados os impactos das tecnologias digitais em diferentes fases do sistema de produção cultural: como criamos, financiamos, fruímos e conservamos obras de arte no mundo atual. Como economia, política, estética e cultura se relacionam? E como tudo pode ser mais bem analisado do ponto de vista das redes que se formam? “Rede”, aliás, é


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