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Nยบ 04


Cultura Sempre │9

Editor │Designer Editor de Artes Plásticas Editora de Conteúdo

Primavera 13

Alexandre Marcondes Tche D’alia Ruggi Silvia Rosas

Diretoria Comercial

Hayk Collective

Produção Gráfica │ Impressão

Hayk Collective

Agradecimentos: Rafeal Sartorelli, Rafel Paixão, Thiago de Freitas Peixoto, Leandro Milani, Ananda Nahu, Does, Nick Aive, Verdindusia, Eleanor Bennett, Haikaiss, Crazy Beats, Pedro Volpi, Carlos Taparelli, Bruno Park.Nossos sinceros obrigado a todos que contribuem de alguma maneira - Sem vocês, a Sempre não seria possível. Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações por qualquer meio sem prévia autorização dos artistas ou editores da revista.


Ă?NDICE

Na Vitrola por Rafael PaixĂŁo

6

Caminhos Enivo por Alexandre Marcondes

10

Poetisando por Thiago de Freitas Peixoto

32

Ver por Leandro Milani Gouveia

44

Galeria

46

Happens Haikaiss por Alexandre Marcondes

72

Pedro Volpi por Alexandre Marcondes

86



Mudanças. Não só de casa, mas em tudo. Hayk Collective, Coletivo 132, casa nova, tempo,novo ciclo, tempo, novo bairro, hoje, concreto, aço, São Paulo, ontem, momento. É preciso viver?! Preciso Viver?! Confusão. Você viu? Eu vi! Ano 13. Processo de mudança à revista passou por mudanças, pesquisa, pesquisa, pesquisa, pessoas, layout. O coletivo seguiu o mesmo processo. Mudanças, mudanças, mudanças... Por que as pessoas têm medo de mudanças? Meu medo é que não mude. - Alexandre Marcondes



{por Rafael Paixão}

Na Vitrola

ECLÉTICO

P

or definição, diz-se de uma pessoa que, em todas as manifestações do pensamento, não segue nenhum sistema, partido, método etc., mas se reserva a liberdade de escolher o que julga melhor em todas. Ecletismo: s.m. Método que procura harmonizar correntes de pensamentos diferentes. Ecléctico: adjetivo, ou seja, qualidade. E também é um substantivo masculino ou ecléctica, substantivo feminino. 1. Do eclectismo! Ecletismo ou a ele relativo. s. m. 2. Partidário do eclectismo! Ecletismo.


A palavra que assombrava muitos da minha geração, pois em meio a gêneros bem formados dos anos 1990, época em que ainda era possível classificar bandas e músicos, querendo ou não, todos tínhamos um estilo a seguir ou fazíamos parte de um grupo. Falar que era “eclético” em meio a isso, era quase como ser uma pessoa que não se importava com a música, o ouvinte de ocasião que vai do sertanejo ao metal em questão de minutos, dependendo do bairro em que estivesse ou da companhia com quem estivesse no momento. Como aspirante a compositor, segui por muito tempo uma linha de música que me agradava mais, e que me parecia ser o caminho mais rock and roll a seguir. Fui por muito tempo um aspirante a Noel Gallagher, Kelly Jones ou qualquer outro compositor monstro do britpop, estilo que mais me agradava na época. Porém, quando você começa a se importar mais com suas criações, você não quer se parecer com alguém, e, sim, criar sua identidade. Foi aí que comecei a buscar referências em outros estilos musicais. E durante todo esse período, sem definir um gênero musical a ser seguido, já que as influências de todos os estilos musicais possíveis não paravam de aparecer, decidi não me rotular, não fazer parte de grupos. Decidi ser o músico e o ouvinte eclético. Como se encaixar em grupos, quando você junta batidas de hip hop, com melodias de rock, sintetizadores com pegada eletrônica e um toque de r&b para finalizar? Estamos em 2013, e nos últimos anos, cada vez mais as bandas, músicos


e ouvintes parecem não conseguir mais definir gêneros. A facilidade com que a informação tem para chegar às pessoas trouxe diversidade e oportunidades a pessoas que antes nunca se imaginariam ouvindo certos estilos musicais. Em meio a essas mudanças e a tudo que vivencio, soa quase como ignorância, é como se fechar para o mundo, querer fazer parte de grupos e gêneros. Diante do mundo em que vivemos, dessa orgia de informação que temos a todo o momento nos atingindo por todos os lados, não precisamos mais de rótulos, precisamos apenas ter a

sabedoria de filtrar tudo que chega a cada um de nós, e tirar o melhor disso. Hoje eu posso dizer com muito gosto que sou eclético, e se ao ouvir minhas músicas você quiser definir um estilo ou me perguntar qual estilo de música eu faço, por favor, me diga quando descobrir, pois, no momento, eu não faço a mínima ideia.

Mixtape Textures - Rafel Paixão: https://rapidshare.com/share/829148 2AFCF6444F0F63A6AFBD58AF05


Simplicidade e essência por Alexandre Marcondes

Do Grajaú via Interlagos, Interlagos conexão Paraíso, com estação final Vila Madalena.



Amizade Sentado no sofá da galeria A7MA, em São Paulo, o artista Marcus Vinícius Enivo começa a contar a sua trajetória.


D

uas famílias da zona sul de São Paulo, mais especificamente do Grajaú, criaram dois dos representantes mais importantes do Street Art Brasileiro, Marcus Vinícius Enivo e Jerry Batista. A mãe e o tio do artista Enivo estudaram com o irmão de Jerry Batista no colégio. Depois, foi a vez dos dois estudarem juntos no mesmo colégio, mas não na mesma série pela diferença de idade. Essa relação de família fez com que Enivo acompanhasse os desenhos do irmão mais velho de Jerry, João, o que despertou seu interesse pela arte. Ainda pequeno, Enivo presenciou os primeiros graffiti de Jerry; a cada pequeno gesto, ele se aproximava cada vez mais da arte. Jerry tinha um amigo de infância, chamado Niggaz (grande artista do Street Art brasileiro, falecido em 2003), com quem começou a explorar o mundo do graffiti. Observando o trabalho dos dois, Enivo decidiu que também queria estar

com eles ali pintando, tinha aquele gosto em colorir e mostrar a sua arte. Niggaz e Jerry sempre tiveram muito foco na arte e treinavam diariamente seus desenhos. Enivo, molecão com 12 anos, deixou se envolver por essa paixão e começou a pintar na rua junto com eles. Jerry e Niggaz levavam Enivo para todos os roles. Nessa época Jerry tinha 17 anos, Niggaz tinha 16 e Enivo, 12. Os três conheceram a cidade na forma geográfica. O graffiti levou os três geograficamente a conhecer a cidade. A pertencer à cidade! Eles moravam muito próximos e sempre tiveram essa relação, como amigos. O fato de Jerry e Niggaz darem muita força e incentivo para se viver da arte fez com que o sonho tão almejado virasse realidade. Há 13, 15 anos atrás eles pensavam em um dia viver de arte, ter espaço para produzir arte. Já mais maduros, Jerry e Enivo saíram do Grajaú e se mudaram para Interlagos, para um quartinho muito pequeno, onde moravam e produziam arte.



N

esse meio tempo, outro grande artista e amigo deles, Rafael Sliks, foi morar no Sul do Brasil e deixou vago um quarto em uma casa onde morava com outros artistas, entre eles: Vito (A firma) e Tché. Certo dia, Jerry e Enivo estavam entregando um trabalho para Paulo (colecionador de arte), que escutou Jerry dizendo para Enivo: “Não mano, vamos morar lá, vamos alugar lá, puta ateliê no centro, é importante para gente, é importante!” O colecionador interferiu: “Só um minuto, posso ser a terceira pessoa?” Com uma pequena ajuda de custo oferecida durante dois anos, Jerry e Enivo resolveram partir para uma nova jornada. Assim, conhece ram e acabaram se mudando para Rua Nilo, nº 132, Vergueiro - Paraíso.



Coletivo 132


J

erry e Enivo já conheciam os integrantes da casa, mas um em especial se tornou um grande parceiro deles.

Eles foram se relacionando com o grupo, conhecendo; era uma relação nova. Mas Tché, um dos integrantes da casa sempre demonstrou ser um cara de muita vontade, apesar de ser muito novo no graffiti. Desde 2005, Tché já desenvolvia movimento de casa, de coletivo. O início da sua primeira casa tinha mais cara de república, pelo fato de juntar estudantes de sua faculdade (Belas Artes), que tinham o intuito de produção artística e sonora. A casa 132 foi a segunda casa de Tché. Após precisar entregar sua primeira casa, alugou a casa da Rua Nilo, que viraria o Coletivo 132. Sua experiência de conviver em grupo com outros artistas o tornou um dos grandes mentores dessa parada de movimento coletivo para todos de dentro da casa. Os artistas da casa não tinham noção do talento de Tché. Sabiam que ele tocava, pintava, mas achavam que era meio lazer. Foi apenas depois que viram a garra e o valor de Tché, e, com o tempo, perceberam sua grande potência em várias áreas de atuação, na fotografia, no vídeo, nas esculturas, no metal, na pintura; uma grande força e, no graffiti, uma grande autenticidade.



Em 2008, pode-se dizer que se inicia o processo do Coletivo 132, casa até então normal, com a chegada de Enivo e Jerry com o intuito de produção de arte. A coisa pegou fogo! Todo mundo começou a produzir e, em poucos meses, a casa ficou forrada de obras. O Coletivo começou a realizar movimentos como o encontro de cinema independente, clube do vinil, alguns shows, grande festas, produções. Foi então que surgiu, por intermédio de Daniel Minchoni, o Sola, o pedido de fazer um sarau na casa. Sola queria muito fazer esse trabalho de núcleo de poesia, e todos da casa concordaram em abrir o espaço. Em homenagem a

uma pixação de Enivo foi criado o “Sarau do Burro”. Gente de todo lugar começou a frequentar o sarau (que atualmente acontece na A7MA, há mais de 3 anos e meio). É um sarau aberto, em que não precisa fazer inscrição, não tem que schamado, não se usa microfone, é informal, todo mundo fica à vontade. Quem vai uma vez, na próxima vez traz novas pessoas e se torna sempre presente. O Sarau do Burro ganhou muitos adeptos desse encontro que começou na casa 132. O Coletivo 132 teve uma grande repercussão porque era um lugar completamente fora do circuito de arte, onde as pessoas chegavam através do boca a boca, pois não ocorria


divulgação na internet e em nenhum outro meio. Em pouco tempo, curiosos, desde os que batiam na porta porque sentiam a vibração da casa toda grafitada até diretor de museu, galerista, colecionadores, canais de TV, jornais, começaram a visitar o Coletivo 132 a fim de entender o que estava acontecendo. Entender o que faziam naquela casa, o que era aquele movimento de arte que estavam fazendo. Era a arte de vivência e convivência. Eles acordavam e dormiam juntos, pintavam juntos. Vários artistas passaram pela casa, mas sempre tinham, em média, sete artistas

trocando e aprendendo um com o outro. Entre eles, Zumi, Vito, Sliks, Rayash, Macarrão e, para realizar as coisas de uma forma mais burocrática, Guilherme Provenzano, que sempre teve a vontade de estar com o coletivo, de entender o que os artistas faziam e de, um dia, fazer com que as coisas acontecessem para esses artistas. Mesmo sem saber nada no início, Guilherme foi aprendendo e, hoje, é o gerente comercial da A7MA; conhece cada artista, obra e história. Guilherme conduz o movimento há aproximadamente 4/5 anos, desenvolvendo um trabalho full time nessa história, colado com Coletivo 132 e, agora, A7MA.



A7MA Pensando em correria de cada um, acabaram ficando cinco integrantes da Casa / Coletivo 132: Enivo, Jerry, Zumi, Tché e Gui. Em 2011, todos já sabiam sobre a desapropriação da casa e, no final desse ano, os integrantes do Coletivo 132 precisaram deixar a casa. Ela seria removida para construção de prédios. A especulação imobiliária chegou e, nesse momento, eles viveram um momento muito triste ao verem os vizinhos indo embora: primeiro o da esquerda, depois a pensão à direita, em seguida foram embora muitas famílias. Aquele lugar vazio, com barulho de destruição o dia inteiro, as casas ao lado caindo. Para os integrantes do Coletivo a casa caiu literalmente, em todos os sentidos. Nesse meio tempo, Enivo tinha ido morar em outro lugar, e quando voltou, invadiu uma casa desocupada ao lado do antigo Coletivo, onde ficou um mês vivendo. Foi o mesmo processo que anteriormente havia realizado na Europa, onde ocupou algumas casas para desenvolver uma produção artística. Assim surgiu a ideia do evento In-Comodos, um marco importante na história desses artistas e também uma passagem.


Nesse meio tempo, Enivo tinha ido morar em outro lugar, e quando voltou, invadiu uma casa desocupada ao lado do antigo Coletivo, onde ficou um mês vivendo. Foi o mesmo processo que anteriormente havia realizado na Europa, onde ocupou algumas casas para desenvolver uma produção artística. Assim surgiu a ideia do evento In-Comodos, um marco importante na história desses artistas e também uma passagem. Nesse momento, eles estavam produzindo diversos trabalhos em meio ao barulho de destruição, de escavadeira, trator, caminhão e surgiu a ideia de organizar um evento com esse nome. In = dentro,

In-Comodos = dentro dos cômodos. Enivo ficava dentro dos cômodos produzindo, pensando nessa ideia, até que todos do Coletivo 132 convidaram vários artistas, com a ideia de todo mundo tomar conta de cada cômodo, criando, assim, um labirinto. Com marretas em mãos começaram a deferir marretadas e a quebrar as casas, uma a uma. Dessa forma, acabavam saindo em outra casa que saia em outra e outra. Assim, conseguiam rodar o quarteirão pelas paredes quebradas e pintar os destroços daquelas casas. Fotografias magníficas e filmagens fantásticas fazem parte desse registro que teve o intuito de denunciar a de-


sapropriação de um espaço de arte para construção de um prédio. Era um lugar muito bonito, casas muito belas, casas antigas. O evento foi um momento de vivência de arte, em que todos que ali estiveram presenciaram uma coisa fantástica. A casa ficou mais um ano em pé e desocupada, porque a obra foi embargada e não havia alvará de demolição. Depois de um ano, Enivo passou por lá e a casa estava no chão. Esse momento, para ele, foi muito poético, um momento de reflexão, em que ficou vagando pelos escombros, lembrando-se de cada lugar, onde acontecia o sarau, onde era a garagem, onde

eles produziam arte, onde era o quarto que já estava quebrado. Sua caminhada foi no meio da madrugada em meio aos escombros. O Coletivo partiu, mas deixou algumas marcas na memória dos vizinhos que ficaram no bairro, como o grafitti nas casas da vizinhança. Dia 30 de dezembro de 2011, o Coletivo 132 deixou a casa. Todos estavam pensando: “E agora, acabou o 132? Vamos cada um para o seu canto? Ou não? O que a gente vai fazer?” Enivo, Jerry, Zumi, Tché e Gui tinham algo em mente, e começaram a procurar um lugar.



Todos procuravam ir até eles, mas eles queriam estar mais próximos de todos. O lugar que veio à cabeça foi o circuito da arte Vila Madalena. Para dois dos integrantes do Coletivo, Jerry e Enivo, esse bairro significa muito, a Vila Madalena é um lugar muito especial. Eles moravam cerca de duas horas e meia de distância, mas saiam do Grajaú em sentido à Vila Madalena com apenas um intuito: caçar um murinho para pintar. E não era tão fácil assim, às vezes eles chegavam e não encontravam um muro para pintar, mas a alegria que aquele bairro passava para eles já os tornava mais felizes. Estar pelo beco, ver um monte de graffiti, ver a galera detonando, o movimento, colar no Aprendiz, ver o que estava acontecendo, estar mais inserido, entender, conhecer novos artistas. Sem destino pela Vila Madalena. A Vila Madalena é reduto da boemia, das galerias, um bairro onde sempre tem muita coisa acontecendo. Por sorte, eles encontraram uma casa bem na saída do Beco do Batman, um lugar muito especial para todos do Street Art. Ali naquela casa, a princípio bem pequenininha, bem simples, foi onde eles construíram um grande espaço, grande pelos sonhos e ideias que todos carregavam. Nascia nesse meio tempo uma nova relação de amizade, uma nova parceria com a Full House, uma empresa de gravuras dos irmãos Cristiano Kana e Alexandre Enokawa, o Kaninha, que trabalham com skate há 17

anos e há mais de 10 anos desenvolvem trabalhos com serigrafia. Tudo de gravura que o Coletivo tinha visto até o momento, dos grandes artistas da arte de rua, Titi Freak, Herbert, Sesper, Vitché , Speto, Alex Hornest, Walter Nomura (Tinho), Rafael Highraff, foi desenvolvido pela Full House. Então, eles sempre tiveram muito respeito pelos irmãos. A relação de amizade e confiança foi criada em pouco tempo, só no olho no olho. Assim nascia uma nova parceria! Todo mundo queria fazer gravura com a Full House, mas eles ficavam na Vila Prudente. Quando o Coletivo apresentou a proposta de abrir uma galeria com escritório na Vila Madalena, eles pensaram um pouco e entraram num acordo. Uma simples frase fechou a união: “Vamos embora”! Em novembro de 2011, antes de deixar a casa, eles alugaram esse espaço. Demorou cinco meses até a abertura e foi uma correria, um grande trabalho. Todos participaram desde as pequenas reformas, com muita fé e raça. “Abrimos uma empresa sem grana, tá ligado? Fizemos tudo o que a gente podia fazer, nos entregamos de corpo e alma. Aí que veio o nome, a ligação disso é que todos faziam com alma, os artistas do Coletivo 132 e a Full House. Fizemos isso com alma, a fim de montar uma história, pegar o contemporâneo e registrar isso! Através de um movimento.” (Enivo).



“Abrimos uma empresa sem grana, tá ligado? Fizemos tudo o que a gente podia fazer, nos entregamos de corpo e alma. Aí que veio o nome, a ligação disso é que todos faziam com alma, os artistas do Coletivo 132 e a Full House. Fizemos isso com alma, a fim de montar uma história, pegar o contemporâneo e registrar isso! Através de um movimento.” (Enivo).


O nome foi discutido com o grupo e com alguns amigos. Eles diziam: “Pô, fica tranquilo! O nome vai aparecer, o nome vai aparecer”. Na véspera, precisando abrir em abril 21 de abril de 2012, não aparecia o nome. Para Enivo o nome era ATMA, o espaço se chamaria ATMA por dois motivos: Primeiro, por todos terem se entregado de corpo e alma e, Segundo, ATMA em Hindu é alma, como se fala Mahatma Gandhi, Mah-atma Grande, e, ainda, pela brincadeira com o vizinho, o Beco do Batman, que tirando a primeira e a última letra do B-A-TM-A-N fica ATMA. Por algumas questões de originalidade, eles foram pesquisar e já havia alguns lugares com esse nome. Para Enivo era o fim. Quebrou! Dentro de tantos nomes esse já existia. Ele ficou tão chateado que pegou o nome ATMA, e num gesto para cancelá-lo o riscou ao meio; quando riscou, o T virou um 7. Pronto! Na hora lançou o nome no grupo que tinham criado no Facebook. Assim, criaram um logotipo que é muito importante para todos. As duas letras “A” nessa logotipia em forma de triângulo, para eles lembram casa, ligação das casas Coletivo 132 e Full House. O espaço foi aberto em abril e surpreendeu. Em pouco tempo a galeria ganhou vários adeptos, com boas vendas, e com um quadro de exposições ótimo. A relação de vivência de todas as pessoas que fazem parte da A7MA, pessoas que viveram a rua, foi consequência da A7MA virar um espaço de covivência, onde além da proposta comercial de inserir os artistas no mercado, trabalhar o

artista, vender o trabalho, criou uma coisa muito legal: o movimento de encontrar artistas, curiosos, colecionadores, turistas, todos que passam, alguma coisa os chama, por algum motivo, como era na casa 132. A galeria recebe artistas de todas as eras, de grandes a iniciantes, que frequentam o espaço e comentam para os integrantes que a A7MA é o lugar em que eles mais gostam de estar. A A7MA junta artistas de outras galerias e, semanalmente, é possível encontrar um deles lá, apenas conversando, trocando uma ideia, apreciando a arte, convivendo, trocando e tendo experiências. Um lugar original em processo, em constante evolução, através da harmonia do grupo, em uma produção constante para trazer coisas novas. Uma galeria criada por artistas, trazendo novos e antigos artistas e com uma história muito particular, que traz pessoas de cunho político, seja de uma posição estética na arte, de técnica. Talentosas, seja de um lance conceitual, representação de memórias da infância ou mais surrealista, mais expressivo, agressivo. A galeria tem escultura, pintura, gravura. Acabamos a entrevista com belas palavras sobre o que é a A7MA.


Enivo

“Aqui é nossa igreja, nosso circo, um lugar onde as pessoas saem bem, saem contentes. Então aqui é a nossa conexão sagrada, porque aqui eu vou encontrar os meus, as pessoas que eu gosto, aqui as pessoas vão estar contentes de estar.”


{Por Thiago Peixoto}

A poesia desce pra arena em SP

A

cidade de São Paulo vive hoje uma efervescência cultural muito intensa, a literatura marginal vem ganhando cada vez mais admiradores, adeptos e visibilidade, principalmente em função da cena poética que ganhou muita força tanto no centro quanto nas periferias, com cada vez mais Saraus surgindo pelos botecos, praças e espaços culturais. Atualmente, uma forma diferente de celebrar a palavra vem se espalhando pela metrópole e se tornou a mais nova sensação entre os amantes da poesia: são os chamados Slams. Para quem ainda não conhece, tratam-se de batalhas entre poetas, com poesias autorais de até três minutos de duração (tradicionalmente). A modalidade foi trazida para o Brasil há pouco mais de três anos, pela poeta, Mc e atriz, Roberta Estrela D’Avla, que idealizou, juntamente com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, o ZAP! – Zona Autônoma da Palavra, o primeiro Slam Brasileiro, realizado uma vez por mês na sede do Núcleo. “A primeira vez que ouvi alguma coisa sobre Slam foi num outro coletivo do qual faço parte, o Frente 3 de Fevereiro, porém, no Brasil ainda não acontecia nenhum. Em julho de 2007, em uma viagem à Nova York, tive a oportunidade de conhecer um Slam ao vivo e a cores. Estive no Nuyorican Poets Café e no Bowery Poetry Club, dois dos mais tradicionais clubes de poesia (e de Slam) da cidade, e pude ver de perto as batalhas. Descobri que existem mais de 500 comunidades de Slam no mundo inteiro, nos países mais d tradicionais clubes de poesia (e de Slam) da cidade, e pude ver de perto as batalhas. Descobri que existem mais de 500 comunidades de Slam no mundo inteiro, nos países mais diversos. Fiquei com muita vontade de no Brasil”, lembra Roberta. ▼


Roberta Estrela D’Alva “A primeira vez que ouvi alguma coisa sobre Slam foi num outro coletivo do qual faço parte, o Frente 3 de Fevereiro, porém, no Brasil ainda não acontecia nenhum. Em julho de 2007, em uma viagem à Nova York, tive a oportunidade de conhecer um Slam ao vivo e a cores. Estive no Nuyorican Poets Café e no Bowery Poetry Club, dois dos maiatradicionais clubes de poesia (e de Slam) da cidade, e pude ver de perto as batalhas. Descobri que existem mais de 500 comunidades de Slam no mundo inteiro, nos países mais diversos. Fiquei com muita vontade de fazer um Slam no Brasil”, lembra Roberta.



No Slam, os poetas se apresentam para o público e para um júri, selecionado na hora e composto por pessoas que estão na plateia. Cabe a eles julgar cada poema utilizando seus critérios pessoais, considerando performance, métrica ou rima. Eles avaliam de acordo com a emoção que sentiram ao ouvir a poesia declamada. Os poetas se apresentam a partir de uma ordem definida em um sorteio. São três rodadas de poesias declamadas, sem o uso de qualquer adereço para enfatizar a apresentação, e, no final, sai o vencedor. “O Slam traz essa coisa da poesia performática, com uma participação muito ativa do público. Isso está fazendo com que os poetas não só escrevam, mas também desenvolvam a habilidade da performance. Isso acaba criando todo um movimento, uma estética, onde a gente encontra muitos estilos diferentes, muitas maneira urgentes, genuínas e criativas de expressão”, explica Roberta. Atualmente, além do ZAP, existe também o Slam da Guilhermina, realizado também uma

vez por mês, ao lado da saída do metrô Guilhermina Esperança. Conhecido como o Slam mais roots de São Paulo, por ser realizado no extremo leste, a céu aberto (à luz da lua, diria o poeta), em uma praça onde a poesia disputa atenção com o barulho dos carros de um lado e com o trem do outro, inúmeras condições adversas que engrandecem ainda mais a noite. No meio dos poetas e do público, que fazem um círculo (uns em pé, outros sentados), é colocado um lampião aceso, que ilumina a roda enquanto o poeta declama seus versos. “Queremos popularizar a poesia oral, somar com este fenômeno dos saraus em bares, propondo um espaço lúdico onde se possa jogar a poesia como se joga capoeira”, explica um dos idealizadores do Slam da Guilhermina, o poeta Emerson Alcalde, e acrescenta, “E que os transeuntes possam parar e escutar as palavras e voltar para suas casas sensibilizados, quem sabe até escrevam um texto e, numa dessas passagens, parem para recitálo em nossa singela arena”, brinca.



“Queremos popularizar a poesia oral, somar com este fenômeno dos saraus em bares, propondo um espaço lúdico onde se possa jogar a poesia como se joga capoeira” Emerson Alcalde


Existe ainda outro Slam com a proposta e o formato um pouco diferente. A batalha é para poetas com poesias autorais de até 10 segundos, e é chamado Menor Slam do Mundo. Idealizado pelo poeta Daniel Minchoni, o Menor acontece todos os meses na Casa das Rosas. “É como um jogo de tabuleiro de poesia, surgiu como forma de possibilitar as poesias curtas, um pouco inspirado no menor sarau do mundo, de giovani baffô, um pouco no zap, do bartolomeu; essa meia calabresa, meia mussarela deu nisso. Um evento divertido, que privilegia os poemas curtos”, brinca Daniel, poeta amante não só dos poemas menores mas de todas minimalesas da vida, inclusive faz questão de escrever tudo em caixa baixa, como prova desse amor. No Menor Slam do Mundo tudo é em tamanho reduzido: as notas só vão até 6.6, o prêmio é um minicinturão (ou cinturinho, como é chamado), e até mesmo o vencedor não sai de lá como campeão, mas sim como campeinho. “Pra abrir a noite ainda tem o minimenorslamdomundo, que são poemas de até três segundos, fora a possibilidade de desafiar o campeinho, que também é uma característica interessante pra dar o tom de brincadeira pra coisa”, diz Daniel, que se autodenomina “a regra do jogo”, e é quem garante que tudo seja uma grande diversão. “Por mais que você queira ganhar e leve a sério a batalha, a ideia é compartilhar a poesia e se divertir”, diz.



Todos os meses acontecem uma edição de cada um desses Slams, de onde saem os vencedores parciais, que se enfrentam em uma batalha no final do ano, que garante o título de campeão daquela temporada àquele poeta. Há ainda um duelo final entre o vencedor do ZAP com o da Guilhermina, de onde sai o grande campeão nacional que vai representar o Brasil no Slam Mundial, que acontece todos os anos na França, em Paris. O duelo final do ano passado foi realizado no Sesc Pompeia, em um evento chamado Slam SP, que reuniu mais de 200 pessoas para assistir às finais das batalhas de poesia. Ao longo da noite, aconteceram as finais do Slam SP e a do Menor Slam do Mundo. Para o Slam SP, que garantia vaga para o mundial em Paris, dois poetas duelaram, Lews Barbosa (vencedor do ZAP) e Thiago Peixoto (vencedor do Slam da Guilhermina). O campeão foi o Lews, ex-integrante do grupo de rap Potencial 3, que acaba de lançar seu novo projeto solo, chamado “A evolução foi criada para a criação evoluir”. Lews se saiu muito bem nas duas primeiras rodadas e garantiu o título mesmo tendo feito menos pontos que seu adversário, Thiago, na rodada final. O título do Menor Slam do mundo ficou com Victor Rodrigues, um dos novos


nomes da poesia marginal, autor do livro Praga de Poeta, lançado pelo selo da Poesia Maloquerista. Além dele, concorreram nessa final os poetas Bobby Baq, Felipe Valério, Fernando Vasqs, Pedro Tostes, Thiago Cervan e Thiago Peixoto. Houve ainda o lançamento do “O sagrado livro do menor slam do mundo”, com todos os poemas que estiveram nas três primeiras colocações de cada edição, ao longo do ano passado. Logo em seguida às batalhas, o público ainda pode curtir os shows – tão aguardados quanto os Slams – da Mc Gra, que recentemente lançou seu Cd “Só acaba quando termina”, do Amiri, integrante do grupo Diquintal que está trabalhando seu EP solo “Eta Porra!”, além do show de encerramento do Mc Marechal, um dos principais nomes da cena independente do Rap nacional. Para quem não conhecia e ficou curioso para ver de perto essas batalhas acontecendo, confira abaixo o endereço eletrônico de cada um dos Slams que rolam na cidade, lembrando que se você também escreve suas poesias e tem interesse em participar de um desses eventos, basta chegar ao local e se inscrever na hora. Aproveite, junte-se à cena, coloque sua arte na rua!



Zap!Slam: http://zapslam.blogspot.com.br/ Slam da Guilhermina: http://www.facebook. com/groups/309095182479114/?fref=ts Menor Slam do Mundo: http://www.facebook. com/groups/381456795221559/


│São Paulo, 12 de fevereiro de 2013. Por Leandro Milani Gouveia

A terça de carnaval, ensolarada, começa cedo para um feriado. O despertador, comprado na China e movido à água, toca às 10 horas da manhã. O café da manhã tem suco orgânico. A embalagem da geleia dá todas as instruções para sua reciclagem. Na hora de escovar os dentes, pego minha escova, fabricada com a sobra do plástico da produção de outras escovas da marca. Enquanto isso a TV mostra a matéria especial sobre cidades-modelo na gestão de seus resíduos. Saio de casa para algumas compras e percebo que várias lojas anunciam em alto e bom som todas as suas práticas a favor do meio ambiente gôndolas exclusivas para produtos eco-friendly, uso de papel reciclado, emprego de mão de obra social, programas de reciclagem... Não posso evitar o pensamento: a sustentabilidade está tomando conta da sociedade. À tarde um rolê de bike pela cidade mostra um cenário totalmente diferente. Nas águas do rio Pinheiros, centenas (ou milhares) de garrafas

PET, algumas delas fabricadas com plástico “verde” vindo de plantas e com milionárias campanhas publicitárias anunciando o fato, boiam pelo rio, dividindo o espaço com a família de capivaras doente e o lodo que acumula o lixo e esgoto que vem da cidade. As barcas de dragagem não dão conta de limpar o cenário. Nessa altura voltam a me perturbar duas questões que já me são velhas conhecidas: São verdadeiras todas essas ações pela sustentabilidade praticadas pelos governos e grandes empresas? E elas têm potencial para, de fato, transformar a sociedade? A resposta que me vem à cabeça é uma opinião pessoal, que se transforma um pouco a cada vez que a pergunta volta a me incomodar. Apesar de as suspeitas já serem levantadas há anos, a sociedade só se deu conta do tamanho do estrago que estava fazendo no Planeta há poucos anos. Os mercados em torno de produtos nocivos ao ambiente já estavam desenvolvidos e muito


dinheiro, pessoas e interesses dependiam (e ainda dependem) desses produtos. Mas uma nova visão começa a surgir em diferentes núcleos da sociedade. A sustentabilidade, palavra tão repetida e desgastada, começa a amadurecer e a tomar forma real, a ter um novo significado. Hoje em dia, grandes empresas, que ainda causam um enorme impacto ao meio ambiente, começam a investir volumosas quantias de dinheiro em tecnologias que buscam diminuir seu impacto à natureza, no desenvolvimento das comunidades onde estão instaladas suas fábricas e escritórios e no uso de matéria-prima que obedeça a princípios de manejo sustentável. Por outro caminho, a iniciativa pública começa a promover o desenvolvimento sustentável por meio de leis e políticas que demoraram a surgir, mas que começam a pipocar Brasil afora: A Política Nacional de Resíduos Sólidos, a promoção da bicicleta como meio de transporte (com integração parcial ao sistema de transporte público, como na cidade de São Paulo), inspeções veiculares para fiscalizar o nível de poluição dos veículos motorizados... Todos esses recortes dos dias atuais, junto com uma voz dentro de mim que fala cada vez mais alto, me fazem acreditar que um novo tempo está chegando. Um tempo em que adotar comportamentos mais sus-

tentáveis (ô palavrinha chata!) vai se tornar não uma obrigação, mas um comportamento natural. Em que todos vão entender sua parcela de responsabilidade para com o planeta, em que as empresas vão lucrar com essas mudanças e que esses lucros serão compartilhados com toda a sociedade. O caminho não vai ser fácil e muita transformação ainda tem que ser feita. Mas a semente já está plantada. Falta agora correr atrás e garantir que cada um desempenhe seu papel. Como diz aquela frase creditada a Gandhi e popularizada na internet: “Seja a mudança que você quer ver no mundo!” Vamos fazer acontecer?


F


A ci棚ncia descreve as coisas como s達o; a arte, como s達o sentidas, como se sente que s達o. -Fernando Pessoa


Ananda Nahu


Ananda Nahu







DOES






verdindusia




Nick Alive







Eleanor Leonne Bennett







MART







Anita Dominoni






Fernando tosko







HAIKAISS


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Das ruas de Sao Paulo a baladas da elite.

As facilidades de gravar um disco “em casa” possibilitaram a artistas, como Haikaiss, ir contra o fluxo das indústrias fonográficas e inventar seus próprios métodos. Entre os métodos, destaca-se a internet, que faz as músicas se disseminarem em uma velocidade impressionante com a disponibilização dos sons para downloads, vídeos de alta qualidade, podcasts, entre outros meios de divulgação. Grupos como o Haikaiss vêm surgindo e se tornam populares rapidamente por meio da rede. Mas não pense que é tão fácil assim! Vamo que Vamo - Um brinde!!! Assim começa a conversa com Qualy e SPVIC, integrantes do Haikaiss. Com a cervejinha no copo a conversa começa a rolar. Moradores da Zona Norte de Sampa SPVIC (MC), Spinardi (MC), Qualy (MC) e DJ Sleep formam o Haikaiss. O grupo iniciou com outra formação: SPVIC, Spinardi e Dj Urso. Com a saída de Urso do grupo, surgiu a necessidade de se buscar um Dj. Spinardi e SPVIC convidaram Qualy, conhecido pelos beats e pela qualidade sonora de sua produções, para ser o novo DJ do grupo; mas eles não esperavam por seu outro talento, a rima. Qualy entrou para o grupo em 2009, participou em sua primeira música no álbum Incógnito Orquestra, e a partir daí... já era. Sua facilidade para produzir e criar letras a partir das músicas o tornou o novo integrante na linha de frente das rimas, saindo das pick-ups direto para o mic. Isso foi possível graças ao primeiro show dos três. Como Vic também é DJ, o revezamento durante as apresentações rolava em perfeita sincronia; enquanto Vic seguia para pick-ups, Qualy seguia para o mic.



Eles fizeram esse revezamento até o dia em que tocaram no Mary Pop. Foi a única e primeira vez que cantaram em um lugar que não tinha ligação entre o DJ e o palco. Dias antes já ficaram pensando: “E ae... o que a gente vai fazer?”. Para ajudar, Fat Dub, amigo e técnico do Estúdio Origem, entrou de DJ nesse show e acabou ficando alguns meses com o grupo. Meses mais tarde, com a chegada de Sleep, Qualy saiu do DJ, foi para a frente do palco e não voltou mais! O primeiro disco saiu em 2010, mas o Haikaiss existe desde 2006. Todos os álbuns lançados pelo grupo são independentes. Os integrantes tem um profundo conhecimento sonoro. SPVIC se formou pela Faculdade Anhembi em Tecnologia de Produção Fonográfica, onde foi instruído para criar um CD e desenvolver o processo de criação até o registro. A produção do primeiro disco do Haikaiss foi feita por Vic, com muita dedicação,

investimento do próprio bolso e a facilidade da Ponto Quatro, uma fábrica de produção de CDs. Essa é que é a diferença! Os CDs são feitos pelo Haikaiss e a arte das capas é feita pelo irmão do SPVIC, que é design e desenvolve as capas, desde o primeiro álbum. Ele criou o manual de identidade do grupo, fez tudo, sempre esteve presente criando a arte e a identidade do grupo. Independência. Essa é a caminhada dos integrantes. Eles estão colhendo o fruto da batalha e o negócio está ficando chique. A produção agora é feita no Mac, o novo brinquedo do Qualy. Agora é só MAC e Logic Pro para produzir e gravar. “As músicas mixadas ficam por conta do Vic, que usa ainda um Windows a lenha... Windows 95 Plus.. ”, brinca Qualy. “Programa é programa, tem que saber usar”, retruca Vic. Na base do bom e velho Sonar para fazer uns beats , Fruit Loop e Reason, sai a sonoridade “caseira” para as ruas.



A Caminhada A correria de Vic no meio musical já acontece há um bom tempo. Ele já vinha fazendo um som para os amigos da ZN. O pessoal passava o som, uns para os outros, disseminando a parada. Vic chegou a lançar um vinil aos 16 anos, em 2006. Foi um dos seus primeiros beats. Seu pai resolveu bancar a produção depois de escutar o som: “Tá foda, tem que lançar isso. Você está pegando realmente a manha e tem que lançar”, falou. As influências não são poucas. O avô de Vic era baterista da banda The Jet Black’s e da banda do Tim Maia, um mestre do mundo musical. O pai cresceu dentro do meio, e conheceu Jorge Ben Jor, Baden Powell, enfim, DJ dos anos 1975 a 1980, na época da Disco, Funk. Até os 26 anos, tocou profissionalmente, mas depois acabou partindo para outra carreira. Crescer dentro desse universo, já tendo em casa 3.000 e tantos discos, toca-disco, presenciando o amor do pai pela música foram grandes diferenciais para a vida de Vic. O interesse pelo som, pelo hip-hop em si, começou ao escutar Gabriel Pensador, Atalib e A Firma e Racionais. Jazz Allison, Metropolitan Jazz Affair e Bajo Fondo Tango Club de Gustavo Santaolalla são algumas

das suas influências, quando se fala em produção. Essas são pessoas que foi conhecendo e com as quais se identificou para alcançar esse tipo de timbre. Para escrever, suas influências são todas nacionais: Black Alien, Parte Um, Bode Baixo, Espião. Quando ganhou seu primeiro toca-disco e começou a comprar uns vinis, como por exemplo o do Sabotage, surgiu o sentimento e a vontade de escrever RAP. Nessa época, Vic também começou a comprar vinis de instrumental. Para Vic, você descobre que quer fazer RAP a partir do momento que você faz o seu primeiro instrumental e sente vontade de rimar em cima. Vic já tinha feito bastante coisa. Desde os 12 anos gravava, com um gravador Tascam do seu pai, vinis do Quiap e saia jogando na mão de conhecidos da área. Depois, quando conheceu a internet, mais precisamente o ICQ, e já sabia gravar no seu próprio computador, começou a gravar e passar para rapaziada. Crescer podendo gravar as suas paradas no seu quarto foi um diferencial em sua vida. Tudo era feito com umas paradas bem vagabundas, mas foi seu primeiro contato com áudio. Foi ali que viu que queria trabalhar como produtor. Com o tempo foi progredindo, foi estudando e focando na área de produção, de como poder gravar e lançar seu disco.


Nesse mesmo tempo, outro representante da Zona Norte, Qualy, crescia escutando sua mãe tocando piano e desenvolvia seu gosto pela música. Quando conheceu o skate, conheceu o RAP. Qualy admirava, mas não tinha noção do que realmente era o RAP, não conseguia entender realmente qual era a diferença. Na hora em que começou a escutar Racionais,

observou o propósito do som e pensou: “É isso aqui que eu quero fazer também”. Ainda moleque, começou a fazer rimas improvisadas. Grande fase da sua vida, passou fazendo rimas improvisadas com os amigos e isso trouxe sua evolução. Foi assim que sua história no RAP deu início e foi fluindo. Quando se deu conta já estava fazendo suas produções. Foi


tempo e dedicação até lançar as primeiras produções para rua, demorou um bom tempo, foram anos de estudo. A coisa mais importante para Qualy foi o Red Hot, que o guiaram para procurar a musicalidade. Os produtores J Dilla e Madlib são suas influências máximas. Para criar os sons, uma coisa única deles é escrever em cima de uma base que já é meio que a certa. Mas em relação à composição não há regra nenhuma, é meio que o progresso individual de cada um, cada um tem seu momento, sua parada de criar, seja uma letra, seja com um tema, um beat. A verdade é que se um dormir, há dois trabalhando. O bom do Haikaiss é essa qualidade de produção: três fazem beats, três são Mcs. O fato de um cobrir o outro faz com que as músicas saiam com mais facilidade. Tem quatro cabeças para pensar rapidamente nas músicas, sempre pensando em coisas novas.


A União Na real, quando o Qualy entrou mesmo no rolê com Vic e Spinardi, começando a se trombar com frequência, a bater as mesmas ideias, trocar beats, foi o momento que Vic e Spinardi decidiram que tinham que viver disso. Vic pediu a conta do “trampo”, e de cara lançaram Incógnito Orquestra, fazendo um show ao lado de Projota, Rachid, Caique, Ogi. Naquele momento, o Haikaiss sentiu um incentivo e o sonho tomou forças. Tinha um bar na ZN em que o Haikaiss costumava ir muito, bem na época em que lançaram o primeiro CD. Nesse local, eles deixavam o CD no bar para vender. Esse bar meio que abraçou o grupo. A partir disso, surgiu, nesse local, a festa MOFO, base do Haikaiss. Uma festa que rolava todos os sábados a convite de Qualy e Vic, muitos DJs e MCs passaram por lá, como Shawlin e Ogi. Esse “corre” gigante fortaleceu sua caminhada no RAP, já que eles se viravam para pagar as pessoas e arrumar os equipamentos para organizar um movimento cultural independente no circuito do RAP nacional. Os registros dessa época estão na memória e em algumas fotos e vídeos perdidos nos arquivos da história desse grupo. Haikaiss, para o grupo, é um puta aprendizado em primeiro lugar. O nome Haikaiss vem da poesia Haikaiss, que Vic viu, estudou e conheceu. Seu estudo mostrou um gênero poético de um nível assustador. Uma maneira absurda de um nível intelectual elevado. A base do estilo de poesia Haikaiss tem muito a ver com a visão deles, como fazem as paradas, tudo muito simples com um pouco da visão e do que pretendem que as pessoas sintam de uma maneira mais ampla. O intuito deles é fazer com que uma pequena frase fermente no cérebro de uma pessoa até ela compreender aquilo. “Com pouco obter o suficiente”. Haikaiss é uma poesia direta.


A rua já recebeu 4 CDs do grupo. O Cover foi o primeiro. Eles gravaram os CDs “Na mundrugagem” e “Bora pra rua fazer mó corre” no PC. Foi a época de aprendizado e, no final, venderam mais CDs. A ideia era simples, vender cada CD com a capa de sulfite a R$ 2,00. Cortesia Part 1 e o Cover se juntaram e o CD se chamou Perfil. Depois veio Incógnito Orquestra e Cortesia da casa – 2. “O mais difícil foi o Cover. O Incógnito já estava lançado e eles fizeram o Cover, e o corre foi louco. O bom é que todo mundo se uniu, não foi só nós três. A gente chegava ao Studio e eram três PCs gravando CD, era a gente TUMTUMTUM, todo mundo ajudando, e aí a coisa fluiu. E essa foi a parada mais difícil que teve. A gente chegava nas pessoas abordando, recebendo alguns “não” que davam uma desmotivada, mas sempre foi, vendia. Eu não sei o que acontecia, eu pelo menos não sei você (SPVIC). Mas eu tinha uma visão de que as pessoas não compravam mais CDs, que era difícil vender CD. Mas quando a gente meteu o CD a R$ 2,00, chegava na portas, “Olha aqui o nosso CD, ele tem sete músicas, aqui tem umas produções”, masteurizadinho, bonitinho, as pessoas compravam. E aí que foi proliferando. Os outros já vieram tendo uma venda boa por causa do nome Haikaiss.”, conta Qualy. Você brinca, mas os caras fizeram até um cronograma com os shows de outros grupos para poder vender o CD para pessoas que ainda não conheciam o Haikaiss. Foi um trabalho ativo e foi um dos trabalhos mais importantes para alavancar o projeto. Os CDs a R$ 2,00 foram pensados a um preço popular para divulgar o grupo. Foi uma visão de mercado fundamental, que Qualy teve após participar de uma palestra no Espaço Soma, ministrada por Emicida e Edu da Filial, que mostra o caminho para dar esse grande passo, criar um CD barato que todo mundo pode comprar.


COM POUCO OBTER O SUFICIENTE


“Mídia obsoleta, ninguém mais compra, mas quando os caras veem você vendendo o seu CD, ali, a R$2,00 reais, aí pessoal fala: “Ah tá... Não beleza...”. Tinha gente que parava para ouvir. As pessoas têm interesse, elas gostam desse contato, ver uma pessoa X que apresenta um trabalho que ela não conhece.”, diz Qualy. Eles imaginavam que o caminho seria pior. Na verdade, saíram para a rua pensando: “A gente não vai conseguir vender, vai ser “mó” difícil”. O resultado foi completamente o oposto, a parada vingou, as pessoas no outro dia encontravam com eles e comentavam sobre a compra do CD e sobre a forma de pensamento deles, que se encaixa com a vida do ouvinte. Mas também não era só alegria, várias vezes eles escrutaram que o D não estava gravado... (hahahahahaha). “O pior de tudo, essa história eu vou ter que contar. O SPVIC começou a gravar e se entusiasmou. Nas duas primeiras semanas, com a correria, alguns CDs não estavam gravados, e eu saí vendendo na rua e aí vinham uns caras me cobrando: “E aí Rasta, e esse CD aqui que não funciona?” SPVIC conta, “É eu vi isso na frente do Milllo: Ô não funcionou Rasta. Que fita é essa, tá me tirando?. E Qualy respondia: Desculpa ae!”


Mas é desse jeito, nem sempre o barato é bom... (hahahaa). Muita diversão, correria e lembranças. Agora eles estão colhendo os frutos dos “corres”. Eles sentiram isso com o último CD, que teve total receptividade. Não precisam mais fazer essa correria toda e sair colando em pessoas que não conhecem o grupo. O mundo está em constante mudança e o Rap vive uma nova reformulação. A grande verdade é que a realidade já não é a que o Rap apresentava há alguns anos atrás. O Rap realmente apresentava uma classe que era só a da favela e, atualmente, o Rap apresenta o que está na realidade geral. Nem todo mundo cresceu na favela, mas muitos possuem histórias de desafios, superações, situações difíceis da vida, e o Rap expressa esses sentimentos, entre outros. Para fechar a história desses novos integrantes da cena independente da música brasileira, Vic cita um exemplo: “Meu pai, se você for ver a história dele, é de uma família completamente pobre. Moravam ele, pai, mãe, dois irmãos, o avô, a avó e o bisavô em um apartamentinho no centro, e ele não queria isso”. Era um apartamento no centro, mas situação era tão ruim ou pior do que a de muitos moradores dos grandes centros periféricos. Eles lutam pelo novo Rap, em que o dinheiro com que a pessoa vive ou o quanto de dinheiro ela tem é mera consequência, é o que menos interfere. Ainda existem muitas pessoas que se baseiam nisso para opinar, criticar, ter uma noção sobre o que as outras pessoas fazem e são. Com certeza, essas pessoas que se baseiam nesses valores têm uma cabeça engessada e o novo Rap vem para quebrar esses paradigmas. Por que o Rap é vivência!



PEDRO vOLPI

PEDRO VOLPI

Voltando às Raízes

P

or um bom tempo Pedro foi conhecido como Peter. Agora ele está em busca de suas raízes. Um dos resgates foi o seu nome, o outro, seu skate de rua. Aos 10 anos de idade, começava a história de Pedro Volpi no skate, mais precisamente no seu aniversário, 5 de novembro. Até hoje, nunca largou o brinquedo que ganhara no seu aniversário.





Rua Perto de sua casa era o local ideal para encontrar Pedro em sua infância. Ali ele e seus amigos se divertiam e faziam os obstáculos para session de skate, corrimão, rampas e a ladeira eram a diversão do dia a dia do rolê de rua. Raramente eles saíam da rua para alguma pista. Foram anos de sessões nas ruas até conhecer as pistas do Sesc Belenzinho e Carandiru. Quando Pedro foi morar com seu pai, de volta ao bairro de Santa Cruz, reencontrou nas suas sessões de skate, no Ibira, seus amigos do Carandiru. Naquele momento, observou que eles estavam altamente evoluídos em outro nível de skate. Foi quando pensou sobre o tempo que perdeu fora do skate. Sua volta veio com mais vontade, determinação, motivação e um empurrão do skatista Jr. Pig, que ele conheceu durante as filmagens do vídeo de skate “Seleção Natural”. Assim, naturalmente as coisas foram fluindo, fotos, vídeos, conhecimento, trips, proporcionando a cada dia novas oportunidades e experiências. Entre as experiências, estavam as sessões nos Bowls. Isso chamou a atenção de Pedro de tal maneira que o fez querer aprender e ter a sensação de fazer um carven e dar um grind. Depois que descobriu o quanto era bom nunca mais largou as transições e as mesclou com seu rolê de rua.

“O aéreo foi uma coisa que eu sonhei por muito tempo e hoje em dia é uma realidade, mas já foi um sonho, é legal ver que eu consegui alcançálo. Skate é ilimitado. Depende só de você, se você não tiver limite psicológico e físico também. Mas psicológico é muito importante, 90%”. Na caminhada seu amigo Pig, rachava as madeiras e equipas que conseguia. Quando Pedro e Pig saíram de trip para Argentina, rolou uma matéria para revista de skate Tribo. Isso deu um up na caminhada dele. Na correria de só andar de skate por satisfação pessoal e tesão, encontrou os irmãos da Skate até Morrer que, por um tempo, forneceram shapes de skate, a família da Weird que arrumava as roupas, e se agregou à família Gardhenal, marca que desde criança já conhecia e achava bem louca. Conhecer o Ragueb, criador da Gardhenal, depois de muitos anos, aos poucos, criar uma amizade que atualmente é bem forte, é “sem palavras” para Pedro. Pedro considera Ragueb um irmão. Por causa da convivência com a família Gardhenal, que é muito mais que uma marca, que é composta por pessoas que fazem o que gostam de uma maneira real, poder participar e conhecer pessoas que só querem mesmo viver, se divertir e andar de skate deixou mais claro seus objetivos. Ragueb abasteceu Pedro com muitas histórias sobre o skate e ensinou



muitas coisas também, graças à sua longa caminhada sobre o carrinho. A cada ida e vinda da casa de Ragueb, ele saía com várias histórias na cabeça, concepções novas, ideias e sempre também com alguma lembrança, peça de skate da década de 1980, camisetas, coisas boas da história do skate que Ragueb repassava para Pedro. Hoje, Pedro vive e ganha seu dinheiro por meio do skate, com as suas novas parcerias: Haiiz, 1968 Skateboards, Balboa Boards, Spitfire e Thunder da distribuidora Plimax.

Trips e Cultura Um dos caminhos que o skate abre é a possibilidade de conhecer novos lugares, pessoas e culturas. O skate possibilitou a Pedro a sua primeira viagem para fora do país. Uma viagem com apenas uma missão, andar de skate. Foi assim a trip para Argentina, a melhor skate trip que ele já fez, em que todos os dias foram de muito skate e mais nada para pensar, só procurar os picos. Junto na barca partiu o fotógrafo Marcelo Mug, Jr. Pig e Dexter. Diversão garantida! Pedro se deparou com uma cidade pequena, mas bem plana, onde

quase não utilizaram o transporte público apesar de ser muito acessível e barato. Pela condição do asfalto, calçadas e estrutura da cidade compensava bem mais ir sempre de skate para os picos. Pegar o skate e sair remando possibilitou a eles achar outros picos e conhecer melhor a cidade e como ela funcionava. Essa experiência proporcionou-lhes conhecer uma cultura diferente. A visão de Pedro sobre a cidade é que as pessoas são mais simpáticas, até mais educadas. Ele não soube explicar ao certo o que sentiu, mas percebeu que a cidade funciona melhor, o transporte, não é tão suja.

De Sampa pra fora Curitiba, Floripa, Porto Alegre, Rio de Janeiro, algumas outras cidades menores. Quando pode sempre está viajando, principalmente para Floripa, onde ficam localizados os melhores bowls do Brasil e a galera do R.T.M.F, que o recebe super bem. No Bowl do R.T.M.F., ele já participou do Red Bull Genaration, em 2012. O “bowzão” gigantesco agora está arrumado, mas antigamente era assustador. É um evento clássico que tráz todas as gerações do skate, desde


os amadores, com moleques de 14 anos, até os Legends, que têm 50 e poucos anos. Essa sensação de todo mundo estar andando ali junto, se divertindo, é uma grande festa do skate e o que importa na verdade para Pedro. Viver a confraternização, a diversão de estar ali andando, todo mundo andando de skate no limite, evoluindo, é o que Pedro mais gosta. Andar com lendas ao lado, como Duane Peters, foi uma honra enorme. Duane é uma das maiores lendas do skate. Ele inventou manobra de skate e tem banda de Punk Rock até hoje. Duane quase perdeu a perna e está andando de skate até hoje na mesma “pegada”, competindo, voando, dando a cara para bater no concreto. Dividir a sessions com lendas, como Duane Peters, Jeff Grosso e Hosoi, foi um dos maiores prazeres de sua vida. Pelo modo como ele nos fala, dá para sentir que poder andar com eles é uma sensação inexplicável.

Vivência “O skate é minha vida, né? Eu gosto de viver o skate porque é um universo em que eu me sinto bem, me sinto em casa, eu me divirto e faço novas amizades. Fico satisfeito de dar uma embalada na rua, é o que me faz feliz mesmo”.

O skate ensinou Pedro a viver e se relacionar com as pessoas, ensinou praticamente tudo que ele sabe, desde andar pela cidade a se comunicar com as pessoas. Com isso ele pretende mostrar para o mundo toda liberdade que o skate lhe ensinou. De ser livre para fazer o que você quiser, sem regras. Seu rolê foi sempre por amor e diversão e ele quer mostrar que o skate não tem regras e nem limites ou qualquer tipo de dogma ou verdade absoluta. Ele espera que as pessoas façam isso mais para si mesmas, não porque o outro vai achar legal ou “zuado”. Que cada um faça aquilo que quer fazer.

Agradecimentos: Minha família e meus amigos, Jr. Pig, Murilo Romão, Xaparral, Ragueb, Loriato, Bruno Araujo, Edgar, Plínio, Ari Bason, Daniel Liu, Haruo, Bico, Demian Balboa, Carlos Taparelli , Bruno Park , Mug, Victor Ferrari, Daniel Ceara, Nicolas, Etam, Sant e as marcas que me dão suporte, Haiiz, 1968 Skateboards, Balboa Boards Skateshop, SpitFire e Thunder (Plimax distribuidora)... E, especialmente, Coletivo Hayk.



“Fico satisfeito de dar uma embalada na rua, é o que me faz feliz mesmo”.



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