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do período da pandemia

Prefácio

As lições aprendidas: o que ficou como entendimento do período da pandemia

Em março de 2020, o Sebrae-SP empreendeu uma longa viagem, em uma verdadeira jornada para evitar que as micro e pequenas empresas fechassem as portas e sucumbissem às graves consequências da pandemia. Duas fotos emblemáticas da avenida Paulista, uma das mais movimentadas da cidade de São Paulo, ajudam a concretizar a crise que viria. Na primeira, no fim de fevereiro de 2020, as pessoas e os veículos ocupavam todos os espaços das calçadas e das pistas, como acontece no dia a dia. Na segunda imagem, do dia 23 de março, quando foi decretado o lockdown, menos de um mês depois, o que se via às 9 horas da manhã na Paulista era um panorama de desolação, um vazio total, nenhuma pessoa, nenhum carro, como se fosse uma cena saída de um filme de ficção científica.

Era o retrato fiel de um período de espanto e apreensão, de incerteza e instabilidade, surgido da noite para o dia. E, é claro, foram tempos de temor. Ainda no dia 14 de março de 2020, quando surgiram as notícias da ocorrência de um estranho vírus na China, um grupo de líderes do Sebrae-SP fez uma pesquisa com a ferramenta Google Trends e verificou que havia ocorrido um salto enorme no número de buscas pela palavra “medo”. O mesmo aconteceu com os termos “ansiedade”, “ajuda” e “seguro-desemprego”. Havia alguma coisa no ar. As pessoas já percebiam que uma ameaça concreta e terrível surgia no mundo – isso dez dias antes do lockdown.

Em busca de dados mais concretos, a equipe do Sebrae-SP pesquisou informações relacionadas à gripe espanhola, que assolou o planeta entre janeiro de 1918 e dezembro de 1920 e matou 50 milhões de pessoas. Era mais uma tentativa de buscar algum aprendizado para entender como a instituição poderia ajudar, de modo concreto, as empresas na grave crise sanitária que se aproximava. Não havia muita informação a respeito do problema, mas uma imagem, em especial, chamou a atenção: uma família de seis pessoas foi fotografada com máscaras de proteção, e um homem de terno escuro e chapéu segurava um gatinho, o animal também com máscara.

Naquele dia ainda não havia consenso em relação ao uso de máscara, mas hoje se sabe com certeza que, se esse procedimento simples tivesse sido adotado de modo amplo, logo no início da pandemia, muitas vidas se salvariam. O que toda a Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo do Sebrae-SP buscavam, de fato, era um tipo de máscara que protegesse as micro e pequenas empresas paulistas. Não havia perspectivas nem previsões seguras, ninguém tinha ideia de como o problema afetaria os negócios, mas era preciso buscar soluções efetivas, e rapidamente. Ficou claro que todos viviam na incerteza, sem conhecimento para lidar com o imprevisto.

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No universo corporativo, fala-se muito em plano de negócios, em previsibilidade, o que dá a impressão de que sempre há alguma fórmula mágica que trará as respostas desejadas. Contudo, descobriu-se que o planejamento, por mais bem-feito que seja, é a mera referência de um cenário imaginado. Era hora de assumir a premissa de que as pessoas e as empresas sempre lidam com um ambiente de incerteza e é preciso estar preparado para navegar nesse cenário. Para o Sebrae-SP, esse entendimento representou um aprendizado de fundamental importância.

Decretado o lockdown, a instituição começou a elaborar um estudo prospectivo para entender o que poderia acontecer com os pequenos negócios nas semanas seguintes. Logo se percebeu que ficariam sem caixa, sem dinheiro para pagar o aluguel e os demais compromissos; teriam de juntar tudo o que entraria nos próximos meses para remediar a falta de caixa.

Era preciso seguir vendendo, e quem não estava digitalizado encontraria problemas sérios, em especial nos grandes segmentos como alimentação e vestuário, e no comércio em geral. Tudo ficaria estrangulado pela pandemia. A partir daí, o Sebrae-SP delineou um cenário que deu um direcionamento para a construção de ferramentas de ajuda imediata.

Uma das lições aprendidas é que instituições como o Sebrae são feitas para momentos de dificuldade, e era hora de pôr a mão na massa. Em apenas uma semana, a diretoria e a equipe gerencial da entidade mobilizaram 1.100 funcionários para atuar no modelo de home office, uma experiência nunca feita antes. Assim, teve início o atendimento online por meio de lives e consultoria remota, não apenas empresariais, uma vez que também se requeria um apoio psicológico a empresários que estavam perdendo tudo e, para complicar, alguns relatavam casos de morte na família. Essas pessoas começaram a procurar o Sebrae-SP num misto de busca de respostas, e alento.

Quais eram as respostas salvadoras? Antes de pensar com objetividade na resposta, foi necessário buscar a articulação com os governos federal e estadual no sentido de atuar com alinhamento e fazer com que os necessários recursos chegassem à população. Sem isso, qualquer projeto do Sebrae-SP no sentido de salvar as micro e pequenas empresas paulistas não poderia se concretizar. Firmada essa cooperação, o próximo passo foi formular um algoritmo que se tornaria o que a direção do Sebrae-SP denominou “kit de enfrentamento”. Levou-se em conta a necessidade de desenhar cenários e revê-los diariamente, para redirecionar as estratégias de acordo com o rumo dos acontecimentos. Seria preciso avaliar cada detalhe da evolução da pandemia e de suas consequências para encontrar o melhor caminho a seguir e perceber onde estariam os riscos e as oportunidades para os empreendimentos de pequeno porte. Por exemplo, se essa avaliação fosse feita hoje, deveria considerar que no segundo semestre de 2022 a Europa passava por uma crise econômica provocada pela invasão russa na Ucrânia. As empresas estavam desligando o ar-condicionado para economizar energia e, no inverno que

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

se aproximava, faltaria gás para aquecimento. Em cenários como esse, o empresário deve pensar: isso pode afetar minha empresa de alguma maneira? Tenho alguma oportunidade de negócio, de exportação, de aprendizado? Esse tipo de lógica, com base nos sinais dados pelo mundo, é importante para aquilo que todos nós fazemos no dia a dia.

Em março de 2020, a preocupação era outra, e um lanche no meio da tarde fez diferença no esforço que o Sebrae-SP empreendia para encontrar as melhores respostas. Saímos para um almoço tardio, depois de várias reuniões, e não encontramos lugar nos restaurantes de costume. Resolveram então ir à Art Esfiha (ver página 40), no Paraíso, com a ideia do “kit de enfrentamento” na cabeça. Repetíamos entre nós: “Tem que renegociar aluguel, tem que digitalizar”. Ao chegarmos à lanchonete de comida libanesa, a proprietária estava sentada à mesa, desesperada. Quando soube que éramos do Sebrae-SP, ela apelou: “Vocês têm que me ajudar”. Escrevemos o algoritmo para ela num guardanapo de papel e explicamos a ideia: “A senhora vai precisar fazer isso e isso, renegociar aluguel, vender pela internet, mudar o comportamento”. E ela: “Mas como? Nunca atrasei o aluguel e ainda tenho caixa”. Ao que respondemos: “Não é para agora, é para daqui a três, quatro meses”. A conversa seguiu em frente, até que todos perceberam que ali estava sendo validada a resposta que as empresas esperavam e de que tanto precisavam.

Somado à expertise dos vários consultores da instituição, o “kit de enfrentamento” ganhou forma. Numa madrugada, foi construído um simulador de caixa que dava quatro meses de prazo para renegociar aluguel e as contas dos fornecedores. E também apontava como adotar técnicas capazes de fechar a torneira das despesas e permitir que o negócio sobrevivesse – muitas empresas passaram pela pandemia graças ao simples procedimento de controle de caixa.

Na Art Esfiha surgiu também a primeira lição: ouça sempre o seu cliente, pois você vai aprender muito, com certeza. A segunda lição: as empresas precisam de caixa para, pelo menos, quatro meses. Esse foi um aprendizado que ficou na cabeça de todos: são necessários ao menos quatro meses de folga de caixa.

Naquele momento veio o insight fundamental: a missão do Sebrae-SP deveria ser a equação do impossível. Ou melhor, a solução de problemas que pareciam impossíveis. O conceito de “impossível” é vago e, muitas vezes, aplica-se a problemas de difícil solução. Por exemplo, certo dia um empresário do setor industrial calçadista entrou em contato com o Sebrae-SP porque estava com um caminhão cheio de produtos para entregar em um shopping e encontrou tudo fechado. Queria uma ajuda urgente para não perder a carga. A partir do apelo daquele empresário, em duas semanas o gerente do Sebrae-SP em Franca criou um marketplace que permitiu o contato direto entre o setor industrial e o consumidor, usando plataformas digitais já existentes.

Por meio da premissa de equacionar o impossível, a direção do Sebrae-SP relacionou em uma semana uma série de problemas que precisariam ser resolvi-

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Marcia Abbud, proprietária da Art Esfiha, negócio onde surgiu a proposta do "kit de enfrentamento"

dos com urgência, por exemplo, encontrar uma solução que permitisse ao produtor rural entregar alface aos clientes e à Ceagesp. Porque, naquele momento, uma das dificuldades era garantir o abastecimento de alimentos na cidade de São Paulo.

A essa necessidade se somavam várias outras, até então consideradas impossíveis: ajudar o setor de flores a vender durante a pandemia e não perder tudo o que brotava nas plantações; apoiar os produtores no esforço de vender pela internet; salvar 2,5 milhões de empregos na cadeia do etanol; ajudar empreendedores e profissionais a evitar perdas decorrentes da pandemia; negociar soluções que permitissem aos caminhoneiros condições para fazer o transporte das propriedades rurais até o Ceagesp; encontrar uma solução para que mil feiras livres se mantivessem em funcionamento na capital paulista, a partir de um conceito de “feira segura”, em que, uma vez tomadas todas as medidas sanitárias recomendadas, esse importante meio de comércio de alimentos se mantivesse em operação; proporcionar às indústrias do setor calçadista condições de vender os produtos estocados; facilitar aos pequenos negócios o acesso ao crédito; oferecer orientação e segurança sanitária às empresas de todos os segmentos, e assim por diante.

Eram, todos, problemas complexos que requeriam soluções rápidas. No começo da pandemia, houve uma corrida aos mercados para comprar alimentos, papel higiênico, álcool e tudo o mais. Falava-se que ia faltar comida, o que preocupava muito a população, e era preciso apoiar toda a cadeia produtiva de frutas, verduras, hortaliças e outros itens para que o abastecimento não fosse interrompido – mil feiras livres paulistanas, por exemplo, abastecem 40% dos consumidores de uma cidade de 12 milhões de habitantes. Para mantê-las em atividade, seria preciso criar um protocolo sanitário que atendesse às regras de proteção e evitasse o contágio. Esse protocolo de feira segura foi construído numa madrugada pelas equipes do Sebrae-SP, Senar-SP, ao lado de técnicos do Ministério da Agricultura, num exercício surpreendente de cooperação de pessoas que não se conheciam. E o abastecimento não parou.

Ao mesmo tempo, outra solução para uma equação impossível: a criação do Pertinho de Casa, uma plataforma digital que estimulou as compras no comércio do bairro e acelerou o processo de digitalização das empresas. Por teleconferência, o Sebrae-SP reuniu-se inicialmente com a Accenture e, na sequência, com os representantes do Facebook, do Google e de outras redes numa sexta-feira, apresentou o problema e perguntou como poderiam ajudar. Em duas semanas, o Pertinho de Casa começou a funcionar, para benefício de um número incontável de micro e pequenos negócios.

Houve uma preocupação também em relação ao impacto emocional da pandemia, que provocou uma espécie de estresse pós-guerra entre os empreendedores. O Sebrae-SP juntou-se ao Fundo Social do Estado, contando com a participação da primeira-dama Bia Dória, à Faculdade de Psicologia da USP e a outras instituições para apoiar a construção de uma plataforma de atendimento online que capacitou todos os municípios paulistas para o atendimento de pessoas com problemas de trauma e saúde mental.

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E qual foi o custo de todas essas iniciativas? Nada. Quantos novos contratos tiveram de ser feitos? Nenhum. Isso aconteceu por causa de um fenômeno que combinou prioridade e convergência e se tornou um dos aprendizados mais relevantes da instituição. Muitas pessoas diziam que seria difícil demais, e não havia razão para quebrar a cabeça tentando fazer tudo isso, que ninguém havia conseguido nada parecido, não ia dar certo. O Sebrae-SP seguiu em frente em busca do que acreditava ser necessário, para encontrar o “X” da equação impossível.

Surgiu então outro aprendizado significativo: momentos adversos formam líderes legítimos. Em outras palavras, as empresas e as instituições precisam trabalhar com os recursos que têm à mão e encontrar soluções efetivas para os obstáculos que aparecem, as pedras no meio do caminho. O empreendedor precisa assumir a responsabilidade de dirigir sua equipe, tendo a consciência de que muita gente depende de suas decisões e de suas ações. Se a situação é difícil, reinvente-se para encontrar a saída, com fé e confiança.

Foi isso o que aconteceu no Sebrae-SP no início da pandemia. O time vestiu a camisa, pôs a mão na massa e conseguiu criar novos modelos de negócio para tempos de crise. E os resultados apareceram. Não faltaram alimentos em São Paulo e a cadeia de abastecimento funcionou de modo pleno, incluindo os portos e as exportações. Ao mesmo tempo, com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), produtoras rurais fabricaram, de imediato, mais de 4 milhões de máscaras de proteção que evitaram que mais pessoas se contaminassem com o vírus. Em resumo, os produtores rurais não pararam, garantiram o abastecimento e, graças a isso, não houve convulsão social, nem saques, como algumas pessoas temiam.

O mesmo ocorreu com a produção de flores na região de Campinas e Holambra, onde o Sebrae-SP se uniu a várias entidades para evitar perdas e manter as vendas durante a pandemia, inventando novos canais de comercialização. Nesse sentido, destacou-se a recém-criada plataforma Pertinho de Casa, que até hoje é utilizada com sucesso em 26 estados brasileiros por produtores rurais e empresários, com a participação de mais de 15 mil vendedores e milhares de negócios realizados pela internet. Na cidade de São Paulo, as mil feiras livres também se mantiveram em atividade depois do protocolo sanitário criado com a participação da instituição e, mais tarde, adotado em várias outras regiões. A solidariedade emergiu forte neste período. Além dos 4 milhões de máscaras produzidas por mulheres de todo Estado, foram realizados mais de 500 mil testes junto aos produtores e empregados rurais paulistas. Tudo gratuitamente.

Essa rede de parceiros também criou mecanismos de estímulo ao consumo de etanol, que estava sobrando nas usinas, e acionou órgãos públicos, indústrias e empresas para que abastecessem suas frotas com álcool, na meta de salvar 2 milhões de empregos em toda a cadeia de produção e distribuição. As iniciativas conseguiram mobilizar a sociedade, aumentar o consumo e reduzir os estoques.

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

No setor calçadista de Franca, as ações do Sebrae-SP, em parceria com entidades locais, conseguiram superar o desafio de proporcionar às indústrias a comercialização dos estoques encalhados. Mais de 50 empresas começaram a vender pela internet, o que permitiu a concretização de negócios superiores a R$ 2,5 milhões e a consolidação do conceito direct to consumer.

Em outra vertente, o Sebrae-SP mobilizou parceiros para a formação de uma rede especializada de apoio que ajudou empreendedores e profissionais a lidar com as perdas pessoais e financeiras decorrentes da pandemia. Entre outras iniciativas, os especialistas buscaram o fortalecimento da autoestima da população, para enfrentar as situações de estresse pós-traumático.

Em relação à necessidade urgente de crédito para os micros e os pequenos negócios, as iniciativas da instituição também tiveram efeito imediato e permitiram a liberação de R$ 170 milhões – a juros subsidiados. Para isso, houve um trabalho de orientação com as instituições financeiras e a sensibilização para a necessidade de acelerar medidas para fazer o crédito chegar realmente às empresas. E surgiu nesse período o embrião da rede de fomento à inovação dos pequenos, com a visita a todos parques tecnológicos do Estado de São Paulo

Depois de toda essa verdadeira maratona destinada a combater os efeitos da pandemia, os profissionais do Sebrae-SP chegaram a uma conclusão que vale como ensinamento para todos os empreendedores: o impossível não existe! Sim, ficou provado nesse período tão difícil que o impossível não prevalece no universo corporativo. Há, sem dúvida, problemas, dificuldades, obstáculos e crises que parecem não ter fim, mas há também uma solução para cada caso, desde que as pessoas se unam em busca das respostas para equações que parecem impossíveis. A barreira do impossível está, em princípio, na cabeça de cada um, na maneira como cada um enfrenta uma situação inesperada – ou seja, muitas vezes as pessoas criam os próprios muros e acham que não vai dar certo, por isso nem vale a pena tentar. No entanto, o Sebrae-SP constatou que, simplesmente, o impossível não existe para quem quer seguir adiante.

Desse aprendizado fundamental, a equipe Sebrae-SP, orientada pela direção da entidade, colocou em prática, paulatinamente, o conceito de reshape, da reinvenção, com as lições que aprenderam no esforço para a superação das consequências da pandemia de covid-19 nas micro e pequenas empresas de São Paulo e do Brasil. Não houve planejamento estruturado para chegar a essas lições e tudo foi feito empiricamente, em batalhas travadas dia e noite com a determinação de vencer a guerra e encontrar um padrão de conduta para os empreendedores.

Foi um processo que combinou atitude e técnica, em um redesenho das atitudes pessoais e profissionais que se tornam necessárias também agora. Em resumo, destacam-se 10 lições principais, que representam um norte para empresas e empreendedores:

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Para atender os empreendedores de todo o Estado de São Paulo, durante a pandemia, foi preciso sair a campo, percorrer quilômetros de estradas, improvisar "escritórios" onde fosse possível, atendendo a quem precisava de apoio naquele momento

1 Aprenda a interpretar os sinais ao seu redor. O tempo todo o mundo emite sinais importantes que não devem ser desprezados. O empreendedor precisa ficar atento para captar essas mensagens e saber empregar cada uma delas em seu negócio, por meio da observação de tendências e comportamentos, para antecipar seus movimentos.

2 Valorize os recursos disponíveis (conhecimento, experiência, redes, capital, estruturas, estoques etc.). Lembre-se de que crédito nem sempre é a única salvação; o dinheiro não é tudo. O crédito é parte importante do processo, mas há outras iniciativas também fundamentais. Quando não é possível ter tudo o que gostaria – por exemplo, uma consultoria especializada em redes sociais ou computadores novos e mais potentes –, o empreendedor deve encontrar soluções com os recursos de que dispõe, porque não dá para ficar esperando. Pode faltar dinheiro, equipamento ou pessoal, mas empreender significa vencer adversidades para fazer as coisas acontecerem com os recursos disponíveis. Pequena empresa trabalha com pouco dinheiro, não tem jeito, e é preciso aprender a administrar com essa realidade.

3 Substitua o sentimento de perda pela possibilidade de reconstrução. Trata-se de reorganizar a mente, de abrir os olhos e deixar de achar que tudo está ruim, para perceber também o que vai bem, a possibilidade de novos caminhos.

Essa é a única escolha possível. Houve quem desestimulasse as iniciativas do Sebrae-SP, a turma do “não vai dar certo”, mas os times conseguiram superar esse sentimento com crença positiva. E além, trabalhando firme para alcançar resultados.

4 Defina suas premissas. Determine uma base para a criação dos pensamentos, pontos de vista e iniciativas que poderão ser aplicados a partir de agora, para que sua empresa fortaleça e seja capaz de enfrentar eventuais crises no futuro.

5 Mobilize outras pessoas e use suas conexões intensamente. Uma rede forte de contatos pode ser o principal ativo de uma pequena empresa para a condução dos negócios – ou seja, as pessoas com as quais você pode contar. Trabalhe com essas pessoas, converse e peça ajuda quando necessário, sem nenhum receio.

É preciso negociar o aluguel? Então vá atrás disso e use os seus relacionamentos para resolver o problema.

6 Mantenha o propósito diante das objeções e das dificuldades. Propósito é uma palavra mágica, um farol na busca dos seus objetivos. É o seu objetivo, e vale muito a pena se esforçar para alcançá-lo. Mesmo quando surgem dificuldades.

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7 Pense na melhoria da coletividade. Esse é um importante upgrade para o fortalecimento de qualquer negócio. Quando você vê que sua empresa está ajudando a coletividade, tudo muda de figura. E uma pequena empresa que já começa ou inclui esses valores ao seu dia a dia, ganha musculatura para tomar decisões mais robustas e com impacto positivo na sociedade.

8 Planeje para curto espaço de tempo e remodele a realidade. Apesar da possibilidade de imprevistos, faça o seu planejamento anual. Portanto, faça uma projeção para o ano, mas faça também para o mês, a quinzena e a semana. Pequenos negócios trabalham melhor em intervalos curtos em termos de planejamento.

9 Execute com transparência e energia. Trabalhe com vontade, paixão e desejo real para fazer acontecer, quase como uma obsessão, uma vontade aparentemente maluca de fazer seu projeto dar certo. De alguma maneira, os resultados aparecerão.

10 Compartilhe os resultados com todos e valorize a união. Divida as vitórias e os problemas com sua equipe, mesmo que seja uma equipe de uma só pessoa.

Valorize os profissionais que trabalham com você, porque esse sentido de união proporcionará resultados no futuro.

Essas 10 lições simples e viáveis permitiram que o reshape passasse do conceito à prática, acolhendo aspectos de gestão – como planejar para o curto prazo, ativar redes de contato e escolher pessoas – e comportamentais – como vontade, persistência e resistência às dificuldades, que dão a energia necessária para que tudo dê certo. Dificilmente os negócios vão sucumbir se essas lições forem adotadas na íntegra, visto que representam também uma maneira de encontrar desvios para eventuais correções de rota.

A partir daí surgiram algumas reflexões. Crises de fato produzem inovações, ficou provado e comprovado. Precisa ser sempre assim? Será que as micro e pequenas empresas precisam sofrer para produzir inovação? É claro que não. É possível inovar em situações normais, com vontade e uma rede de contatos potente.

A equipe do Sebrae-SP também constatou que em situações adversas os acordos ocorrem com mais fluidez. Prova disso está no momento em que passou o pico da pandemia, a reunião que era rápida virou presencial e lenta, e a decisão que o empresário tomava sozinho passou a requerer consultas a duas ou três pessoas. Precisa ser assim? O Sebrae-SP acha que não, pois a pequena empresa deve ser rápida. A pandemia mostrou que é possível aprender a agir com determinação e decisão.

Uma verdade ficou clara: o futuro é incerto e “implanejável”, mas as lições do passado são importantes para enfrentar novos problemas e criar uma cultura de aprendizado. Não é preciso começar do zero, como nós começamos por não ter informações relevantes sobre a crise da gripe espanhola no início do século XX. Da mesma

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

maneira, o Sebrae-SP aprendeu a arte de fazer a convergência para um mesmo propósito, aplicando experiências exitosas que colhemos em diversas entidades e também no sistema Sebrae, em especial nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre outros. Mais que os aprendizados, a conexão e o fortalecimento entre os estados e o Sebrae Nacional - que passou a ter um escritório instalado na sede do Sebrae-SP - foram vitais para tomada de decisões mais eficientes.

Todo esse aprendizado culmina no momento atual: como construir um futuro melhor, com mais qualidade de vida e melhor aproveitamento do tempo? Como absorver novos conhecimentos e contribuir para o bem-estar da coletividade? Que tipo de vida cada um pretende levar de agora em diante? Essas são as questões que ficam e requerem uma pausa para reflexão, um posicionamento em relação à vida e às lições deixadas pela pandemia. Sem dúvida, o Sebrae-SP acelerou a digitalização de seus processos e de suas ações, sua equipe está muito mais unida, surgiram novos produtos e novas parcerias, muita coisa boa aconteceu. E esse aprendizado precisa servir para que as organizações e as pessoas saibam fazer as escolhas no tempo certo e do melhor modo possível, para orientar decisões pessoais e profissionais de agora em diante.

A ideia é que cada um se faça a pergunta: “E agora? Qual é a minha equação impossível?”. A resposta pode ser escrita em um papel, mesmo que a meta pareça impossível. Esse pode ser o início da construção de uma convergência de pensamento capaz de indicar as soluções que vão abrir caminho para a realização dos objetivos, ou pelo menos chegar bem próximo disso. Este é o apelo do Sebrae-SP aos empreendedores: desafiem o que parece impossível. Apesar dos sérios danos que provocou, a pandemia também permitiu que muitas qualidades pessoais desabrochassem.

Em 29 de novembro de 1935, na véspera do seu falecimento, o genial poeta português Fernando Pessoa escreveu num pedaço de papel, em inglês, seu último verso: I know not what tomorrow will bring – “Não sei o que o amanhã trará”. De fato, o futuro é incerto e ninguém sabe o que vai acontecer nem daqui a pouco. Portanto, é preciso valorizar o momento atual, como ponto de partida para novas conquistas, com base nas lições aprendidas desde março de 2020. Numa das noites em que uma equipe do Sebrae-SP planejava as próximas iniciativas da instituição, no auge da crise, alguém exclamou: “Isso daria um livro!”. Sim, com certeza. E deu. Este livro foi editado pensando no coletivo, para que essas lições não sejam esquecidas e sirvam para ajudar muitas e muitas pessoas ao longo do tempo.

Nas páginas a seguir, vocês vão conhecer em detalhes toda essa vencedora experiência, numa cronologia da pandemia de covid-19, que mostra, de um lado, os momentos mais dramáticos e as perdas. De outro, a união, o encorajamento, a criatividade, o trabalho em equipe e os relatos de superação de muitos empreendedores. São histórias que, além de emocionar, com justiça registram verdadeiras lições de equações possíveis.

Juntos somos mais fortes, sempre!

Tirso de Salles Meirelles, presidente Renato Fonseca de Andrade, assessor da presidência

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