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Tingimentos artificiais

“O algodão é uma fibra incrível e foi estudando a respeito das diversas fibras que existe que resolvi trabalhar com o algodão e até tenho um selo que certifica a qualidade da matéria-prima que utilizo.

Listo o que mais me motivou a fazer essa escolha: 1. É uma fibra natural, leve e durável. 2. 84% da sua produção possui certificação socioambiental.

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3. Porque mais de 90% das plantações brasileiras dependem apenas da água da chuva para se desenvolver.

4. Da pluma ao caroço tudo é aproveitado, nada se perde.

5. Totalmente reciclável.”

Mari Correia

Mari Correia

Detalhe da cesta em cordão de algodão e contas em madeira

Mari Correia

Colar de mesa em cordão de algodão e contas em madeira

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Dorian Almeida

Mandalas em linha de algodão em frivolitê

Município de Salvador

Composição realizada pela parceria entre núcleos produtivos

Milla Floquet

Colar em cordão de algodão e detalhe decorativo (figa) esculpida na madeira Município de Salvador

Mestre Aguilardo

Figa em madeira

Município de Salvador

Pollyanna Silveira da Costa

Diversas fibras e palhas de núcleos produtivos. Palha de milho, cipó de maracujá e palha de licuri, mesclada com fios de malha em algodão em tricot e macramê

Município de Ilhéus A inserção de diferentes matérias-primas dentro de uma mesma composição artesanal vem apresentando uma renovação no uso dos trançados, expandindo as possibilidades de inovação. Ações que podem ocorrer pela própria iniciativa do artesão, mas principalmente iniciaram pelas ações criativas que foram implementadas nos núcleos produtivos com oficinas de design, mas também participação em eventos, acesso ao mercado, inclusão dos produtos artesanais em ações que envolvem diferentes segmentos, inclusive como tematização de ambientes, na decoração e na arquitetura de imóveis de alto padrão. Assim, o artesanato tem reafirmado seu posicionamento na escala de valor e a produção artesanal mais tradicional “ganha” privilégios no seu aspecto mais “primitivo”, mas também nas releituras conceituais contemporâneas.

Os materiais complementares à matéria-

prima principal permeiam uma infinidade de possibilidades, dos naturais aos sintéticos, papéis, tecidos, linhas, fios, fibras, tintas e pigmentos. Criatividade, experimentação e o próprio mercado consumidor são os estímulos para que a ebulição de ideias aconteça. Algodão e fibras diversas

Josete Bezerra da Silva

Jogos americanos, argolas de guardanapos, porta-copos e descanso de panelas em crochê, com fios de algodão, palha da costa e fios de sisal Município de Ilhéus

A palha da costa, fibra de rafia, originalmente é uma fibra extraída de uma palmeira africana, no entanto tem sido designada de diversas palmeiras, por meio da fibra do jupati (Raphia Vinifera). Nas unidades produtivas da Bahia, tem sido amplamente utilizada para fazer acabamentos de produtos, assim como ajudar a estruturar o trançado costurado. Além disso, é presente em adornos e colares.

Célia Amorim

Carteira em fibra de bananeira, taboa e botão de coco Município de Porto Seguro

Cooperafis

Bolsas em caroá tingida

Município de Valente O caroá é uma planta existente no semiárido do Nordeste brasileiro e sua fibra é amplamente utilizada na produção artesanal. No passado, já foi utilizada na confecção de cordas, barbantes, linhas de pesca e até como um “linho” na confecção de tecidos. Atualmente é introduzida no artesanato como uma malha, por meio da técnica do aió e é uma das matériasprimas utilizadas pelas habilidosas artesãs da Cooperafis, que além de produzir bolsas em diferentes formatos e modelos, muitas delas ainda são implementadas com tingimento natural.

Composição de cestos e balaios em cipó e tranças de piaçava natural e tingida

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

O trançado no cipó é considerado uma tradição bem antiga. A matéria-prima principal é ajustada de acordo com cada localidade ou também adquirida de terceiros, ou seja, compradas em feiras livres. De maneira geral, o cipó reúne diversas famílias de plantas que compartilham características similares em relação ao alongamento de seus caules e raízes.

Os cipós podem ter suas folhas retiradas e, em alguns casos, as cascas. E depois de limpos e preparados que são utilizados. A preservação ambiental se faz necessária constantemente para essa matéria-prima, visto que a existência dele depende de uma área de mata, vegetação para se desenvolver. Quanto mais ameaçado esse ambiente, mais restrito se torna esse recurso.

Cipó

Trançado das Marias

Lustres trançados em cipó de maracujá

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Trançado das Marias

Composição de centros de mesa em cipó

Localidade de Cachoeira do Edgar Município de Esplanada

Josué Ferreira Lima

Lustre em talisca e fibra de coqueiro Município de Porto Seguro

O coqueiro é uma palmeira encontrada vastamente na região litorânea do Nordeste brasileiro, um ícone muito presente na Bahia. Além disso, é considerado com alto índice de rendimento, pois apresenta um excelente aproveitamento na produção de diversos produtos e segmentos, utilizando os frutos, as folhas e as fibras. No artesanato também tem uma atuação como destaque. Como fibra, palha e tala, muitas vezes é descartado como lixo, mas para o artesão, se torna fonte de matéria-prima na confecção de diversos produtos.

Coqueiro

“Sou da Costa do Descobrimento, cidade de Porto Seguro e trabalho com diferentes fibras, matéria-prima sustentável que encontro na minha região.

Sou autodidata, trabalho com artesanato desde 10 anos de idade e meu avô sempre foi minha inspiração. Na minha linha de produção, sempre procuro inovar e, de acordo com a solicitação do cliente, produzo sempre peças diferentes de luminárias, arandelas, pendentes, abajures e persianas.”

Josué Ferreira Lima

Josué Ferreira Lima

Lustre em talisca e fibra de coqueiro Município de Porto Seguro

Josué Ferreira Lima

Lustre em talisca e fibra de coqueiro Município de Porto Seguro

Palha Formosa da Serra

Caixa com tampa trançada e costurado com a fibra do licuri Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba A produção artesanal à base de palha de licuri se faz presente em algumas localidades no semiárido da Bahia, como a região denominada como Polo da Palha do Licuri, assim como em outras regiões do Estado.

A prática do manejo sustentável tem sido de fundamental importância para conservar os biomas locais e garantir sustentabilidade ao processo. Essas ações têm apresentado uma maior intensidade e apelo na região da caatinga, pela necessidade de preservação da flora e da fauna, principalmente em relação à arara-azul-de-lear, espécie classificada na categoria “em perigo de extinção”, onde o fruto do licuri é seu principal alimento e a baixa disponibilidade dele pode ser fator limitante para o desejado aumento populacional dessas aves. Adotando as práticas de maneira adequada, é possível encontrar palha disponível o ano inteiro, mas a plantação acontece a partir de um rodízio entre as comunidades, respeitando os limites anuais, com orientações corretas em relação à extração da palha. Licuri

Conhecida como a “palmeira sertaneja”, do licuri tudo se aproveita. As folhas são utilizadas na fabricação artesanal. A amêndoa produz um óleo, utilizado na culinária, mas também na produção de outros segmentos, inclusive cosméticos e até os resíduos são aproveitados na alimentação dos animais. Vale salientar ainda que o licuri é um dos principais alimentos da arara-azul-de-lear, sendo considerado indispensável para a sobrevivência deste animal endêmico da caatinga brasileira e ameaçado de extinção.

A conscientização quanto ao uso da matéria-prima por meio das fibras vegetais e a preservação do bioma das regiões tem sido um trabalho coletivo, que envolve as diferentes cadeias do artesanato, desde os próprios núcleos produtivos que conferem de perto, no dia a dia, a importância de manter e respeitar o ecossistema natural, inclusive como uma estratégia de manter viva a produção tradicional artesanal e sua subsistência. Assim como as instituições parceiras, orientadores técnicos e a cadeia consumidora.

Palha Formosa da Serra

Bandeja trançada e costurada com a fibra do licuri Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba Em Itiúba, o trançado com a palha do licuri é uma tradição indígena que atravessa gerações. O trançado presente é costurado com os “linhos” oriundos da própria fibra e o auxílio de uma agulha.

Palha Formosa da Serra

Palha do licuri e detalhe de sousplat com a fibra do licuri Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba

Palha Formosa da Serra

Detalhe da fruteira e caixa com tampa trançada e costurada com a fibra do licuri Localidade de Várzea Formosa Município de Itiúba

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