Jornal derba vive final paginas individuais

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Maio / 2015

Derbianos manifestam tristeza e indignação Equipe de jornalistas visita Residências de Manutenção Nada melhor do que colocar o pé na estrada para falar daqueles que dedicaram toda a vida a derrubar matas

e cavar o chão para construir rodovias, abrir estradas vicinais, manter e conservar a malha rodoviária da Bahia. Foi o que fizeram o gerente geral da Sasderba, Nilton Borges Ramos e uma equipe de reportagem (dois repórteres, um repórter fotográfico, um cinegrafista e um produtor). De 11 a 19 de março passado,

pouco depois de ter sido concretizada a extinção do Derba, eles visitaram oito das vinte Residências de Manutenção e Conservação do órgão. Em todas elas encontraram um sentimento de tristeza, revolta, indignação e até de incerteza em relação ao destino dos funcionários remanescentes. A consideração de

todos, independentemente da grande distância de uma residência para outra, é de pertencerem à uma mesma família, o tronco intermunicipal dos derbianos. Confiram, nas páginas seguintes, o que pensam os derbianos, na ativa e aposentados, dessas residências, por ordem cronológica das visitas.

5ª Residência, Itaberaba (11 de março)

“Éramos respeitados em todas as cidades” José Dantas de Santana, de 71 anos, ingressou no Derba em 1º de janeiro de 1962, como auxiliar de escritório. Nos tempos áureos do órgão, ele viajava num pequeno avião para fazer o pagamento dos operários em pleno campo. “Levava uma grande pasta de dinheiro e chegava a pagar até 300 homens. Nunca fomos assaltados”, recorda Dantas. Natural de Cipó, ele foi trabalhar em Itaberaba, o que acabou influindo no destino do celibatário servidor que pretendia ser padre

e chegou a cursar o Seminário da Piedade, dos padres capuchinhos, em Salvador. O religioso derbiano acabou seduzido pelo charme de uma itaberabense com quem se casou e constituiu família. Por isso, faz questão de reconhecer: “O Derba me deu tudo. Eu tinha o Derba como uma família, um órgão operante e muito útil. Nós, funcionários erámos respeitados em todas as cidades”. Na mesma residência,o mecânico Aderbal Rodrigues Cerqueira, de 64

anos, se mostrava indignado com o sucateamento das máquinas. “Como é que pode essas máquinas ficarem aqui sem uso, enferrujando, com tantas estradas esburacadas?”, pergunta, apontando para duas patrois, duas caçambas e um caminhão-pipa”. E acrescenta: “Só pode ser por incompetência desse governo que se diz do trabalhador”.

“Se a gente sair daqui, vai para onde? Aqui tem um bocado de gente velha esperando a melhor hora para se aposentar” (Carlos Antônio Pedreira Sampaio, jardineiro de 70 anos). “O Derba nunca foi um órgão distante, mas sempre interligado com o desenvolvimento de toda região” (Mário Silva Santos, encarregado de escritório, 40 anos). “Nem com ACM, aconteceu um desastre desses, acabar com o Derba” (José Ferreira, agente administrativo, derbiano há 36 anos). “A extinção do Derba é uma traição a Bahia” (Zezito Santiago da Silva, motorista, de 52 anos).

12ª Residência, Morro do Chapéu (12 de março)

“A Bahia sofrerá um grande prejuízo” Ex-prefeito de Morro do Chapéu e de Bonito, no Piemonte da Chapada Diamantina, o empresário Odilésio Gomes, também presidente da Associação dos Criadores e produtores da Região de Morro do Chapéu, prevê que a Bahia terá um grande prejuízo com a extinção do Derba. “O Derba realizava ações preventivas de manutenção e conservação das estradas. Parecia uma coisa simples, mas esse tipo de trabalho evitava os custos elevados para se fazer novas obras”, afirmou Gomes. Para ele, em lugar de ter sido extinto, o

órgão deveria ter passado por um processo de modernização, com investimentos para voltar a ser tão útil como era. “O Derba era uma instituição tradicional e contava com o amor de seus funcionários, que vestiam a camisa do órgão e defendiam os interesses da Bahia”, salientou o político e empresário. Ele frisou que falava em nome dos 330 associados da entidade que dirige, responsável pela implantação do Polo Cafeeiro da Chapada Diamantina, que gerou a criação de dois novos municípios, Bonito e Mulungu do Morro.

Em Morro do Chapéu uma imagem inusitada demonstrou a inércia a que o Derba foi relegado nos últimos anos. O motorista Edvaldo Oliveira dos Santos, de 66 anos, 41 de Derba, utilizou uma carregadeira para buscar um botijão de gás. “Era para estar trabalhando nas estradas, mas o que posso fazer se estamos, aqui, parados e sem ter o que fazer? justifica. Já o operador de carregadeira,

Antônio Gomes Bezerra diz que a maior preocupação de todos é saber para onde vão. O operador de retroescavadeira Gelson Cardoso da Silva, de 51 anos, faz coro: “A gente vai fazer o quê? Quem só sabe trabalhar com máquinas vai fazer o quê? ”.

“Um patrimônio desses não pode se acabar. Não só o pessoal de Morro do Chapéu, mas toda a microrregião depende do Derba” (Evaldo Oliveira dos Santos, operador de equipamentos pesados, de 66 anos, 41 de Derba).

“Dormi até 15 dias no mato, caçando preá para comer” (Samuel Barreto, operário aposentado, de 75 anos). “O governo precisa pagar os precatórios desse pessoal. Tem muita gente esperando. Alguns morreram esperando” (Erizânela Secunde, fotógrafa). “Seria mais barato recuperar e fortalecer o Derba, do que começar tudo de novo” (Gilson do Espírito Santo, aposentado de 79 anos).


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