John stott ouça o espírito ouça o mundo

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valores) e globais (zelar pela honra e glória de seu nome).

PARTE DOIS

O DISCÍPULO Agora vamos deixar o "evangelho" e voltar-nos para o "discípulo". Afinal, se o Cristo crucificado e ressurreto é o nosso Senhor, nós somos os seus servos; se ele é nosso mestre, nós somos seus discípulos. O discipulado cristão (isto é, seguir a Cristo) é uma responsabilidade que tem muitas facetas. O fato de eu ter escolhido quatro aspectos seus poderia até parecer acidental. Acontece que todos eles tendem a ser subestimados e mesmo negligenciados. Eu começo com "O Ouvido Atento". Com efeito, embora todos os órgãos do nosso corpo devam ser consagrados e apresentados a Deus (inclusive nossos olhos e lábios, nossas mãos e pés), nós deveríamos fazê-lo em especial com relação aos nossos ouvidos. Todo discípulo de verdade é um ouvinte. O Capítulo 7 ("Mente e Emoções"), além de lembrar-nos que o nosso Criador nos fez tanto racionais como emocionais, explora também algumas das relações mais significativas entre estes dois componentes da personalidade humana. No Capítulo 8, intitulado "Direção, Vocação e Ministério", nós vemos que discipulado implica em serviço e analisamos como é possível discernir a vontade de Deus e o chamado de Deus em nossas vidas. Para o capítulo final da Parte II eu reservei uma discussão sobre o primeiro fruto do espírito, que é o 194 At

5.29 Bauer, A Greek-English Lexicon ofthe New Testament and Other Early Christian Literature, traduzido e adaptado para o inglês por W. F. Arndt e F. W. Gingrich (University of Chicago Press, 2 ed. 1979) 196 Fp 2.9 197 Walter Bauer, A Greek-English Lexicon ofthe New Testament and Other Early Christian Literature, traduzido e adaptado para a língua inglesa por W. F. Arndt e F. W. Gingrich (University of Chicago Press, 2 ed., 1979) 195 Walter

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amor. Sua prioridade na vida dos discípulos cristãos é bem expressa no Livro da Oração Comum, que o descreve como "o mais excelente dom da caridade, o próprio vínculo da paz e de todas as virtudes, sem o qual qualquer pessoa viva é considerada morta diante de Deus".

CAPITULO SEIS

O OUVIDO ATENTO Um dos ingredientes mais importantes — e mais negligenciados — do discipulado cristão é o cultivo de um ouvido atento. Quem ouve mal não é um bom discípulo. O apóstolo Tiago deixou isso muito claro. Nós conhecemos muito bem o texto que ele escreveu a respeito da língua, "mal incontido, carregado de veneno mortífero".198 Quanto ao ouvido, porém, ele não tem nenhuma crítica parecida. Ele nos exorta a não falarmos demais, mas parece insinuar que ouvir nunca é demais. Eis aqui sua exortação: Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. 199 Que órgão impressionante Deus criou ao fazer o ouvido humano! Em comparação com ele, disse alguém, o mais sofisticado dos computadores é "tão primitivo quanto um misturador de concreto". Naturalmente, o que nós geralmente chamamos de ouvido é apenas o ouvido externo, aquela saliência de carne que temos no lado da cabeça e que vem em uma variedade de formas e tamanhos. A partir dela sai um canal de três centímetros que vai dar no tímpano, atrás do qual se encontra o ouvido médio, onde os três ossinhos mais miúdos do corpo (popularmente conhecidos como bigorna, martelo e estribo) amplificam o som vinte e duas vezes, passando-o então para o ouvido interno, onde então ocorre o verdadeiro ouvir. Seu principal componente é um tubo em forma de caracol, chamado cóclea. Ele contém milhares de células microscópicas, semelhantes a um fio de cabelo, sendo que cada uma delas é sintonizada com uma vibração específica. Então as vibrações são convertidas em impulsos elétricos, que transmitem o som até o cérebro para serem decodificados ao longo de 30.000 circuitos do nervo auditivo, o suficiente para alimentar o serviço telefônico de uma cidade de tamanho considerável. O ouvido humano já foi festejado, e com razão, como "o triunfo da miniaturização".200 Quando se pensa em quão versátil e sensível é esse órgão que Deus fez, é mil vezes lamentável que não o utilizemos de maneira mais adequada, desenvolvendo melhor a nossa capacidade de ouvir. Não estou pensando apenas em música, no canto dos pássaros ou nas vozes dos animais, mas também no valor que tem a conversação para os nossos relacionamentos. Surdez involuntária é uma deficiência lamentável; surdez deliberada é ao mesmo tempo um pecado e uma insensatez. Este é um dos principais temas do filme Birdy, de Alan Parker, baseado na novela de William Wharton. Sua declaração-chave parece ser o fato quase definitivo de que "ninguém mais ouve a mais ninguém". O filme descreve a amizade de Al e Birdy, dois adolescentes da Filadélfia, a qual desabrocha a despeito da estranha obsessão de Birdy pelo vôo dos passarinhos. Arrastados para o Vietnã, ambos são atingidos. Al tem de

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