Percepção Espacial: analise e intervenção no território infantil ( Proposta TFG I )

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SAMANTHA BOSCO PROFº DR. LUIS ANTONI JORGE

2015

Percepção espacial: análise e intervenção no território infantil PROPOSTA TFG1


JUSTIFICATIVA DO TEMA

Já faz alguns anos que possuo interesse particular em ambientes educacionais, principalmente por acreditar que a educação seja o veículo principal para o desenvolvimento da sociedade brasileira. A educação básica das crianças de primeira e segunda infância é a mais importante, pois é base para o desenvolvimento para a fase adulta. Em pesquisa cientifica pude entrar em contato com a arquitetura escolar, realizando uma APO em uma EMEF no CEU Jaguaré. Durante esse processo me esbarrei em questões que não pertenciam ao escopo da proposta da pesquisa como: será que aquele espaço não poderia ser melhor? Será que as crianças identificam aquele espaço como suficiente? Que tipo de influências aquele espaço gerava no desenvolvimento daquele grupo de crianças? Pequenas intervenções poderiam ser suficientes para melhoria daquele espaço? Questões destas relacionadas a psicologia ambiental infantil, se tornaram agora foco no final da minha graduação e neste trabalho proponho investiga-las. Em acordo com os pensamentos que DAY (2007), acredito que o espaço-ambiente, seja elemento de influência direta no comportamento e bem-estar humano, que de maneira subliminar afeta o nosso desenvolvimento físico, mental e social, sem que tenhamos consciência disso dentro da nossa cultura. Com a velocidade do desenvolvimento urbano, surgiram outras necessidades em projeto como a eficiência econômica, maior número de pessoas atendidas, eficiência energética entre outros. A percepção espacial pelo usuário deixou de ser o foco, os espaços perderam ainda mais a qualidade “espacial” e ganharam usos e regras, o mundo adulto já sofre disso dentro do seu trabalho e até mesmo da própria casa. Com relação as crianças a existência de espaços que possam influenciar positivamente seu desenvolvimento são quase inexistentes. Atualmente as crianças passam a maior parte do tempo na escola, ou em lugares fechados “próprios para crianças”. Todos estes locais foram projetados e regrados por adultos que não necessariamente compreendem o universo infantil, as escolas são cada vez mais dominadas por grades, regras, portões, corredores apenas de circulação e não de estar, pátios inabitáveis e duros... Em São Paulo mais especificamente, a situação dos edifícios escolares se agravou com o sucateamento de sua construção, com a necessidade de suprir um grande déficit de vagas, muitas escolas foram construídas sem seguir a necessidades básicas de conforto ambiental, sem infraestrutura correta e com materiais de pouca durabilidade baixa qualidade construtiva.


JUSTIFICATIVA DO TEMA

Com o crescimento da violência e insegurança urbana as crianças não podem mais ocupar as ruas, com a mudança do modo de habitar, as casas já não possuem mais quintais, as praças também se esvaziaram devido a malcuidados ou porque foram ocupados por novos “moradores”, culturalmente se mudou o que é o lugar da criança. As crianças não se apropriam mais dos espaços, são direcionadas a ocupar o local designado com um nome e função. Os espaços infantis não se resumem as salas de aula, brinquedotecas, e parquinhos. Lopes e vasconcellos(2006), toda criança é criança de uma lugar. O território da infância é definido na teia entre geografia e a cultura local. As crianças se referem sobretudo, a essa dimensão territorial, simbólica do espaço. A criança diferente do adulto experiência o espaço, se utiliza dos 5 sentidos para compreender e interagir, é motivada a descobrir. Por meio da investigação ativa e permanente ela utiliza o espaço como meio de se autodesenvolver, age e se esforça pelo simples desejo de ser o processo de uma ação, já o adulto trabalha para atingir um resultado final. Como descrito por DAY(2007) para os adultos os espaços-ambientes possuem propósitos pré-definidos mas para as crianças oferecem oportunidades de coisas a serem feitas. Dois fatores são essências para que a criança possa se expressar dessa maneira: a liberdade e a segurança. “... O sentimento de pertencimento da criança marcando o seu território de domínio a faz transformar o ambiente em espaço íntimo, isto é, um Lugar, que lhe dá a sensação de segurança. A experiência da brincadeira guarda, assim, um sentido de domínio do espaço, fazendo que a criança conheça melhor a si mesma. O espaço, como um dos agentes construtores, contribui nesse processo com as diversas possibilidades de apropriação vividas em brincadeira, e que são despertadas no imaginário infantil.”[COELHO,2011 p.5]

As escolas conforme MAYUMI apresentam um espaço desinteressante, frio, padronizado e padronizador, na forma e na organização das salas, fechando as crianças do mundo, policiando-as, disciplinando-as. Para a criança existe o espaço-alegria, o espaço-medo, o espaço-mistério, o espaço-descoberta, enfim os espaços da liberdade ou da opressão. No TFG de RAYSSA(2014), ela identifica o que ela nomeia de espaços afetivos na escola, sendo estes a árvore-lugar, o objeto imantado, o universo particular, o esconderijo, o cantinho , o tempo especializado, o espaço residual, o campo imaginários, a curva, as derivações do sentar e o graveto.


JUSTIFICATIVA DO TEMA

Estas formas afetivas de relação com o espaço, são as que permanecem em nossa memória de forma latente, as lembranças espacializadas, que quando resgatadas apresentam a sutileza pela qual nós no passado nos relacionávamos com o todo ao nosso redor. Neste trabalho tenho por objetivo identificar, analisar e propor intervenções com foco nestes espaços afetivos, que pertencem apenas ao território infantil, em uma determinada região de estudo ainda a ser definida. Com base em MAYUMI, realizar projetos de espaço capazes de estimular a curiosidade e a imaginação das crianças, porém incompleto o bastante para que elas se apropriem e transformem aquele espaço através da sua própria ação e relação sentimental. Objetiva-se encontrar aqueles espaços permeáveis onde seja possível o jogo e a brincadeira que envolva os companheiros da mesma idade e observar o mundo dos adultos nas condições urbanas atuais. Proponho enquanto fase de projeto discutir sobre forma, textura, escala, cor, luz e outros aspectos que compõe o espaço, com foco nos parâmetros infantis identificados na bibliografia e na observação in loco. O intuito final é propor espaços para o cuidado e educação da primeira infância, e como desafio principal pensar em possibilidades de participação infantil na cidade para além das formas adultas de organização.


METODOLOGIA

Para realização deste trabalho decidiu-se que a definição do objeto de projeto e o território de análise irá ser definido após conversas e entrevistas com Associações e ONGs presentes nas Favelas da zona sul de São Paulo, as quais exerçam ou já exerceram atividades, intervenções, ou construções de espaços com crianças. A favela a ser escolhida será com base na presença significativa de população infantil, receptividade a pesquisa por parte das lideranças, na deficiência de espaços e propostas para crianças e na facilidade acesso para que seja hábil realizar levantamento in loco. Com o auxílio da Secretaria da Habitação, pretende-se adquirir material gráfico e dados detalhados sobre a Favela a ser estudada. Com a EDIF pretende-se levantar material como plantas e desenhos dos equipamentos escolares da região. Após definido o local de estudo, será realizado levantamento técnico e social em conjunto com as associações e crianças para identificar necessidades e pontos de interesse. Durante o processo de projeto, propõe-se a participação das crianças, por meio de oficinas e brincadeiras interativas a serem elaboradas ainda. Durante o todo o trabalho estão previstas visitas de observação em espaços públicos com foco no público infantil, afim de observar características que tornam aqueles espaços elegíveis a espaços afetivos. Serão coletados dados por meio de registro ideográfico, fotográfico e de anotações e croquis. Por fim a representação destas propostas será importante, já que as delicadezas destes espaços afetivos não são de fácil identificação, será necessário aludir ao público adulto a criança interior que um dia eles foram. A estratégia de representação ainda será investigada e se pautará pelas próprias descobertas no andamento deste trabalho.


REFERÊNCIAS

ALDO VAN EYCK HERMAN HERTZBERGER ESCOLAS AFRICANAS KASUHIRO YOJIMA SCHOOLS ESTUDIO ENTRE PQ. PARA BRINCAR E PENSAR


BIBLIOGRAFIA

• BACHELARD, Gaston. The Poetics of Space,1964 O autor discorre sobre a relação que nós temos com nossa prórpias casa, e o elo efetivo que desenvolvemos com o espaçoe com a esfera do íntimo. • BUITONI, Cássia S. Mayumi Watanabe Souza Lima : A construção do Espaço para Educação. São Paulo,2009 – dissertação de mestrado em arquitetura e urbanismo. • CARVALHO E SOUZA, Mara C. e Tatiana N.. Psicologia Ambiental, Psicologia do Desenvolvimento e Educação Infantil: Integração possível?, Universidade de São Paulo,2008 • CASTRO, Fabióla F. Relação espaço –aprendizado: uma análise do ambiente pré-escolar. Dissertação de mestrado. USP, 2000 • CLARK, Alison – Early childhood spaces – Involving young children and practitioners in the design process, 2007 Envolve o assunto do processo de projeto participativo com crianças. • COELHO, Glauci. O espaço vivido nas representações da infância: cotidiano e lugar na apropriação das crianças dos espaços livres na Favela da Rocinha no Rio de Janeiro, ufrj, 2011 • DATTER, Richard. Design for Play. New York, 1969 O livro foca a respeito dos lugares do brincar, contudo apresenta uma serie de referências a Piaget e discorre como a relação com estes espaços é diferente conforme cultura e como a criança tem desejo de construir o próprio espaço como no caso dos playgrounds londrinos de sucata. • DAY, Cristopher. Environment and Children – Passive lessons from the Everyday Environment, 2007 O autor arquiteto formado e pesquisador possui uma serie de publicações acerca da relação das crianças com o espaço-ambiente e sobre construções sustentáveis. Neste livro ele aborda tanto as questões de psicologia ambiental quanto de parâmetros e elementos arquitetônicos.


BIBLIOGRAFIA

• DUDEK, Mark. Children’s Spaces, 2005 • HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura, São Paulo: Martins Fontes, 1999. Discorre sobre os diferentes aspectos e temas sobre arquitetura com base no seu ponto de vista, e ensino que acredita. Além disso apresenta sua obra, de escolas ligadas ao conceito pedagógico montessoriano. • HUIZINGA, Johan. Homo Ludens – A Study of the play-element in culture. Texto de filosofia sobre o ludico na cultura do homem. • LIMA, Mayumi Souza. A Criança e a Percepção do Espaço. Caderno de Pesquisa- Fundação Carlos Chagas. LIMA, Mayumi Souza. A Cidade e a Criança. São Paulo: Nobel, 1989 – Coleção Cidade Aberta. Mayumi é importante pesquisadora e ativadora na área da arquitetura infantil em ambos os textos coloca o ponto de vista de que as crianças tem pouca voz na configuração do espaço e discorre sobre a maneira como isto pode ou deveria ser feito, executou uma série de medidas importantes para a arquitetura escolar paulista. • NASCIMENTO, Andreá Z. A criança e o arquiteto: quem aprende com quem?, Dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo, USP, 2009 • OLIVEIRA, Rayssa R. F. Espaços afetivos na escola ,trabalho final de graduação, 2014 Trabalho de graduação, que focou a percepção espacial infantil dentro de 3 escolas estudadas e identificou por meio de desenhos e percursos guiados com as crianças, espaços afetivos no qual ela organiza como um índice, e sem associação especifica a algumas das escolas. • OLIVEIRA, Claudia Maria A. O ambiente urbano e a formação da criança. São Paulo, 2004, tese de doutorado. • REIS-ALVES, Luiz Augusto. O Conceito de Lugar. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n.087.10, ago.2007


ATIVIDADE

Proposta TFG1 Conversas c/ orgãos Visitas de observação Sintese Bibliográfica Sintese de visitas Relatório TFG1 Levantamento dos pontos Levantamento de necessidades Oficinas Estudo Preliminar Anteprojeto Projeto final Representação Conteúdo TFG2 Caderno TFG2

1Q OUT

2Q OUT

1Q NOV

2Q NOV

1Q DEZ

2Q DEZ

JAN

FEV

MAR

ABRIL

MAIO

JUNHO

CRONOGRAMA


PRODUTOS E METAS TFG1

Pretende-se ao final do TFG1, ter definido local a ser objeto de estudo, de acordo com as conversas já programadas com órgãos municipais, ONGs e associações. Realizar levantamento social e físico da área de intervenção. Ter síntese dos parâmetros a serem seguidos em projeto já realizada com base na bibliografia. Levantamento de necessidades. E levantamento de referências de representação, cronograma detalhado do tfg2. Assim ter toda a base necessária para se iniciar a fase de projeto no TFG2.


PARECER DO ORIENTADOR ALUNO: Samantha Bosco | ORIENTADOR:

7177504

Profº Dr. Luis Antonio Jorge

TFG: “Percepção espacial: análise e intervenção no território infantil”

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