Morteluz

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- Como seja - disse, enquanto se levantava. - Há muita coisa que não entendo, Gwen. Muita coisa. Fico pensando que metade da conversa de ontem foi incompreensível para mim, e não sei as perguntas certas que devem ser feitas. Mas posso tentar. Devo isso a você, acho. Devo isso, de um modo ou de outro.

- Você esperará?

- E ouvirei, quando a hora chegar.

- Então estou feliz que tenha vindo - ela disse. - Preciso de alguém, de alguém de fora. Você chegou bem a tempo, Dirk. Uma sorte.

Que estranho, ele pensou, mandar buscar a sorte. Mas não disse nada.

-E agora?

- Agora me mostre o bosque. Viemos para isso, no fim das contas.

Pegaram os aeropatinetes e se afastaram do lago silencioso, em direção da espessa floresta. Não havia trilha a ser seguida, mas o mato não era fechado e a caminhada era fácil, com muitos caminhos a serem escolhidos. Dirk estava quieto, estudando as árvores ao redor, com os ombros caídos e as mãos enfiadas no fundo dos bolsos. Gwen falou o pouco que havia para ser falado. Quando falava, sua voz era baixa e reverente como o sussurro de uma criança em uma grande catedral. Mas, na maior parte das vezes, ela simplesmente apontava e o deixava olhar.

As árvores ao redor do lago eram todas velhas conhecidas que Dirk vira milhares de vezes antes. Por isso era chamada de floresta de casa, as árvores que os homens carregaram consigo de sol em sol e plantaram em todos os mundos em que chegavam. A floresta de casa tinha suas raízes na Antiga Terra, mas não era totalmente da Terra. Em cada novo planeta, a humanidade encontrava novas favoritas, plantas e árvores que logo eram tão parte da linhagem quanto aquelas que vieram da Terra no


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