Janesp2 5

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— Eu fiz — disse Petra repentinamente, e o tremor em sua voz fez parecer que ela estava rindo. — Eu a matei, exatamente como devia. Eu paguei o preço, só pra te ver mãe! Posso te ver? Preciso falar com você. Eu realmente preciso de uma mãe agora. — Ela realmente riu agora, andrajosamente, com o súbito entendimento de tudo aquilo. Uma lágrima caiu da ponta do nariz e pingou no lago, seguindo o cadáver da raposa. — Onde você está? Se revele, por favor... eu paguei o preço. Sangue por sangue. Se revele mamãe. Fale comigo! A água ondulante se agitou levemente nas estacas do dique. A lasca da lua dançou na superfície. Lentamente, Petra se levantou. Não havia nada lá. Não havia nenhum rosto olhando para ela das profundezas. Nenhum sorriso reconfortante. Nada além de água muda e reflexos mortos. Petra não achara que ainda era possível, mas seu coração se partiu. Engoliu o choro e ergueu os olhos para as ondas sombrias debaixo do dique. E então viu a figura parada sobre a água do meio do lago. O soluço de Petra se transformou num violento suspiro de surpresa e levou ambas as mãos à boca. Não era nenhum reflexo. A figura pairava no meio da superfície vítrea do lago, sua silhueta destacada contra a franja da luz brilhante do luar. Era certamente uma mulher. Petra não podia distinguir nenhuma característica, mas ainda assim reconheceu a forma das suas visões na câmara do poço; era sua mãe. Ondas bateram contra sua cintura onde estava na águ a, com os braços do lado, sua cabeça levemente inclinada, observando. Seu cabelo nem estava molhado. — Mamãe! — Petra tentou gritar, mas o que saiu foi meramente um rouco e abafado sussurro. Ela estava simultaneamente aterrorizada e exultante. Ela forçou o ar para dentro dos pulmões. — Eu fiz, mamãe, sangue por sangue! Eu fiz! Lágrimas escorreram livremente pelas bochechas de Petra enquanto permanecia na beira do dique, sorrindo, seus braços se estenderam para a figura no outro lado da água. — Eu não sei o que fazer, mãe — gritou Petra com a voz tremulando. — Isa, Fílis e o vovô Warren... é tudo tão confuso e desordenado. Eu sei que tenho que ajudar de algum jeito. Foi por isso que eu voltei, eu acho. Mas eu simplesmente não sei como! Estou perdida, mamãe! E com medo! O que eu devo fazer? Através das ondas, a figura balançou a cabeça levemente. Petra compreendeu que aquilo não era um sinal de ignorância, mas de impotência. Sua mãe queria ajudar, mas não podia. Ela estava sendo puxada de volta, de alguma forma. Ela não podia se aproximar de sua filha, nem se fazer ouvir. Petra notou que, agora, a água estava na altura do peito de sua mãe. Ela estava afundando de novo. — Não! — chorou Petra, se inclinando tão para frente no dique que a ponta dos pés se enroscaram na beira. — Mãe! Ainda não vá! Eu preciso de você! Eu sempre precisei de você! Me diga o que fazer! Diga... Diga que você me ama e que tudo vai dar certo! A tristeza tomou conta de Petra, fresca e nova, como se estivesse perdendo sua mãe uma vez mais. Ela lamentou e gemeu ao mesmo tempo. Na água, sua mãe mantinha estendido seus braços, na direção de Petra, tentando oferecer o máximo de conforto que podia. A água a engolia, molhando as mangas de seu vestido, molhando-a acima dos ombros. — NÃOOO! — gritou Petra com a voz rouca. Ela quase pulou na água, momentaneamente esquecida do laço mortal com o mirante submerso. Ela mirou a silhueta que afundava através de seus próprios dedos estendidos, como se intencionasse arrancar a figura da água meramente por força de vontade. Ela não podia fazer, e mesmo enquanto observava, a forma


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