Campus Magazine 2013

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Campus

Revista-laboratório do Curso de Jornalismo Universidade Sagrado Coração ISSN 2317-3041 Ano 2 – Número 1 – 2013

m a g a z i n e

O click no momento exato Os bastidores da política brasileira nas imagens de Lula Marques

O olhar: a visão além do sentido Mentes criativas: o TDAH além do problema

• A moda é preservar • Viver de música, vira? • O futebol mudou • Beleza X Anabolizantes • Grafite = arte + educação • À sombra da AIDS


Retranca

Editorial “Viver é muito perigoso”, escreveu Guimarães Rosa, em “Grande Sertão Veredas”. Para o escritor, é preciso por em prática, como explica no verso seguinte: “aprender a viver é que é viver mesmo”. Esta edição da Campus Magazine se propôs a uma “travessia”, desafiando a todos a fazer uma nova revista. Na elaboração de uma revista laboratório é importante que o aluno sinta na pele como é o nascimento de um produto. Especialmente quando a ideia é trilhar caminhos diferentes. Tudo o que é novo causa estranhamento no começo, mas o esforço individual e coletivo para “dar à luz”, traz uma bagagem de experiência ímpar para todos. Na Universidade, o tempo é escasso, as fontes estão quase todas lá fora, exigindo do aluno dedicação e paciência para cumprir a pauta e entregar uma matéria completa. No mercado de trabalho, o tempo também será escasso, o que exigirá do profissional dedicação e jogo de cintura para cumprir o deadline e a missão de informar com qualidade. No novo caminho percorrido pela Campus, fotografia e texto foram tratados com o mesmo peso. A imagem foi pensada em toda a sua potência para fazer sentido e não apenas para ilustrar um assunto. Outro desafio. Pensar por meio de imagens, elaborar um texto pensando em imagens mais eficazes para acompanhar o texto. A dobradinha fotojornalismo revista foi levada ao pé da letra nesta edição onde o leitor poderá “ver além das palavras”. Foi um processo intenso, e válido, ao tornar possível a vivência de uma ideia que agora está materializada em cada matéria. Conquistamos mais páginas, mais conteúdo e mais qualidade. Vamos à leitura? Erica Franzon

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CAPA

Entrevista Os bastidores da política brasileira sob o olhar do fotojornalista Lula Marques p.

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A moda é preservar ............9 Crônica em Paris ...............10 Quatro Rodas .....................16 O futebol mudou ............. 35 Causa animal .................... 45


Mentes criativas O déficit de atenção e a hiperatividade além do problema p.

Mulheres independentes

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Barriga no fogão é coisa do passado. p.

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A visão além do sentido Os olhos nos permitem conhecer o mundo, mas o excesso de imagens e estímulos visuais estão “cegando” nossos sentidos. Será que estamos enxergando a realidade? p.

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Imagem e realidade Ensaio fotográfico busca o detalhe no cotidiano de profissionais p.

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SAÚDE A busca pela beleza x o risco dos anabolizantes ................. 34 Musicoterapia: quando os sons ajudam na cura ................... 37 Artes marciais, cuidado com corpo e mente ........................ 38 A sombra da Aids: desafios da prevenção .............................. 43 CULTURA Kombi: adeus à queridinha do Brasil ......................................... 17 Viver de música, vira? .................................................................... 18 Na estrada .......................................................................................... 19 Letras ideológicas: protesto cantado ....................................... 20 Trapézio e tecido para sair da rotina ........................................ 39 Grafite alia arte e educação ......................................................... 41 Infinito particular .............................................................................. 47

Ao vivo Um mergulho crítico no cenário musical – do Village Vanguard à casa de Francisca p.

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Entrevista

Os diferentes “olhares” do poder Flávio Fogueiral

B

rasília atrai o Brasil. A sentença é verdadeira pela cidade ser o centro das atenções políticas desde sua criação, em 1960. Mas as últimas décadas foram de grandes transformações no Planalto Central. Desde o final do Regime Militar, passando pela redemocratização, presidente renunciando; estabilidade econômica e quebra de tabus com um metalúrgico sindicalista e a primeira mulher a chefiar a nação. Nenhum destes fatos escapou dos olhares de Lula Marques. Sua trajetória profissional está ligada à política, tendo atuado por 11 anos no Correio Braziliense, levado pelo irmão mais velho, Paulo Marques, então editor de fotografia. Lula passou por diversas funções até chegar à fotografia. Em 1987 foi convidado a integrar Lula Marques a equipe da sucursal de Brasília do jornal Folha de S.Paulo. Ficou até 2013, quando saiu ocupando o cargo de coordenador de fotografia. Lula passou a trabalhar diretamente com o senador Lindberg Farias (PT/RJ), ex-líder estudantil que comandou o Movimento Caras Pintadas pedindo o impeachmant do ex-presidente Fernando Collor; e para o Blog do Kennedy Alencar. Junto de suas duas câmeras, uma Canon 1DX e uma 4 • Campus Magazine 2013

GoPro Hero 3, ainda acompanha os bastidores do poder na capital federal. Nos últimos 35 anos, o fotógrafo- vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo em 2005- junto com seus irmãos Alan e Sérgio Marques, presenciou as maiores transformações que a República passou na capital. O resultado final deste registro está no livro ‘Caçadores de Luz- Histórias de Fotojornalismo’, lançado no ano 2000, em que mostram os registros de maior impacto de suas carreiras. Mesmo estando presente aos fatos marcantes da política, Lula ressalta que a convivência direta com o ‘poder’ o fez ‘exercitar a humildade e ver o quanto o poder e a arrogância transformam os homens’. Isso se traduz em muitos de seus trabalhos fotográficos com temáticas sociais, como a seca no sertão e que define como ‘novos candangos’, os operários do estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, para a Copa do Mundo de 2014. Este registro, feito em parceria com o irmão Alan Marques, deve ser lançado em breve. Para ele, o fotojornalismo é eterno. Mas tece críticas quanto à formação precária dos profissionais e a má preparação da técnica. “Hoje consigo ver um mercado carente de bons profissionais que saibam o que é notícia e dominem a técnica fotográfica. Digo isso porque a era do fotógrafo já era. Hoje temos que ser versáteis, (fotografar e filmar)”, alerta. Confira a entrevista de Lula Marques à revista Campus. Campus- O fotojornalismo mudou nas últimas décadas, seja pelo fator tecnológico ou mesmo pela liberdade de expressão. Para você, essas mudanças vão continuar a existir? Em qual aspecto?


Lula Marques- Acho que nos dois fatores as mudanças continuarão – o tecnológico vai sempre avançar e a precisamos estar sempre atentos à liberdade de expressão. “A Declaração Princípios sobre Liberdade de Expressão” diz: “Conscientes de que a consolidação e o desenvolvimento da democracia dependem da existência de liberdade de expressão”. O que todo mundo tem feito hoje em dia, que é buscar a informação onde cada um quer e não depender dos grandes ‘jornalões’, que já deixaram claro suas tendências e interesses econômicos. Este é outro aspecto que se refere principalmente em relação à difusão da informação ditada pelos senhores das grandes mídias. Campus- Sua preferência com fotografia é em política. O que difere este tipo de cobertura das demais áreas do fotojornalismo? Por que fotografar perfil e feições de políticos? Lula Marques- O diferencial é que quem não estiver muito bem informado jamais fará uma boa cobertura política. Fotografo feições para mostrar a verdadeira cara dos políticos e deixar registrada um pouco da minha indignação com as excelências deste país. Tenho amigos que brincam e dizem que sou “atirador de elite”. Às vezes, fico muitas horas com dedo no gatilho esperando o momento certo para apertar e tentar buscar a melhor imagem do dia. Campus- É possível traçar um futuro ao fotojornalismo diante do fácil acesso a equipamentos e com a difusão instantânea pela internet?

Hugo Chavéz

Lula Marques- Acho que fotojornalismo é eterno, mas são poucos os que ainda conseguem se destacar, principalmente, porque hoje em dia o que vejo é qualquer um pendurar uma máquina fotográfica no pescoço, sai apertando o botão como uma metralhadora e falar que é um fotojornalista. Hoje consigo ver um mercado carente de bons profissionais que saibam o que é notícia e dominem a técnica fotográfica. Digo isso porque a era do fotógrafo já era. Hoje temos que ser versáteis (fotografar e filmar). Quem achar que vai ficar na era de fotografar só para jornais, está parado no tempo. Hoje, com as novas mídias, temos que fazer os dois muito bem. Com a velocidade da inforCampus Magazine 2013 • 5


Constituição - Ulisses Guimarães

mação, as boas fotografias não se sustentam como antes, quando uma boa imagem só seria vista quando publicado em um grande jornal no dia seguinte. Mesmo você fazendo uma boa foto e postando nas redes, ela se perde muito rápido. Anos atrás, e lá passava de mão e mão, ia para a molduras, paredes e 6 • Campus Magazine 2013

mesas. Fica difícil competir, o que está nas nuvens desaparece. Campus- Quais valores e atributos as imagens precisam ter para serem consideradas impactantes ao olhar do público?


Protesto indígena - Foto vencedora do Prêmio Esso 2005 Lula Marques- Depende muitas vezes do fator sorte, de se estar no lugar certo, com a lente adequada. Outro fator essencial é sempre estar bem informado e atento. É preciso parar o leitor e fazê-lo ler a notícia por causa de uma imagem. Campus- A tecnologia provocou uma invasão quanto à privacidade e uma enorme quantidade de imagens em mídias digitais. Quais efeitos essa situação causa? Lula Marques- Hoje vemos uma quantidade de fotógrafos que antes não tinham onde publicar suas fotos e vejo, principalmente no Instagram (mídia social de fotografia), pessoas comuns que amam a fotografia fazendo boas imagens. Muitas vezes, fico horas admirando. São fotografias sem o compromisso de um profissional, e o resultado me assusta por ser muito bom. Vou citar alguns que sigo e sei que a fotografia também é uma paixão: Luiza Foz e Dorival Marinho, por exemplo, e outros que nunca tiveram em uma redação, mas sabem o que é uma boa foto.

Campus- Junto com seus irmãos, foi publicado o livro ‘Caçadores de Luz’, em que retratam diversas situações do país. Ao estar próximo do poder, o que mudou no Brasil nestas últimas décadas? Lula Marques- Comecei com uma vontade muito grande no final da ditadura, nos anos 80, de ver um País mais democrático e com minhas imagens consolidar, principalmente, a liberdade de imprensa. Acho que as principais mudanças foram na área social. Não vejo um governo melhor que o outro neste aspecto. Mas tenho certeza que aquela esperança de termos um país menos corrupto, ainda vamos caminhar muito. Campus- O governo venezuelano chegou a acusá-lo de ser um agente da CIA por uma foto tirada de Hugo Chávez (em que o ex-presidente, morto em 2012, parece estar com orelhas do Mickey) e houve um revólver apontado para você durante as celebrações dos 500 anos do descobrimento do Brasil. O que o faz continuar no fotojornalismo e quais outras situações que vivenciou que possa destacar como peculiares? Campus Magazine 2013 • 7


Construção do Estádio de Brasília

Lula Marques- É a vontade de fotografar e poder registrar com imagens a história do País. Conheci todo o Brasil e vários países que jamais conheceria se não fosse a minha profissão. Mudei várias vezes de opinião quando me deparava com coberturas jornalísticas e tinha conceitos enraizados e não deixei a arrogância me cegar e não ver a verdade. Campus-Após sua saída da Folha de S.Paulo, quais projetos você tem em andamento e há algum em especial que ainda vislumbra? Lula Marques- Meu principal projeto é continuar na Praça dos Três Poderes em Brasília e acompanhar toda essa mudança, me atualizar a cada dia mais com toda tecnologia na área e atuar nas novas mídias. Tenho um projeto que deve estar saindo, que é um livro de fotografias que fiz junto com meu irmão, Alan Marques, sobre os novos candangos que construíram o Estádio Mané Garrincha com fotos dos últimos preparativos e inauguração da nova arena multiuso de Brasília. 8 • Campus Magazine 2013

Campus- Viver na capital federal, estar próximo a políticos e ter conhecido presidentes, o fizeram ter qual visão sobre a política brasileira? Lula Marques- Estar próximo a políticos me fez cada vez mais exercitar a minha humildade e ver o quanto o poder e a arrogância transformam os homens. Como tenho sangue nas veias, sempre busquei minhas imagens através das emoções do momento, chorei atrás da máquina, tive vontade de jogar o equipamento ou mesmo berrar de alegria ou decepção em algumas situações em que melhorava ou piorava a situação do País. Vivi intensamente a política nos últimos 30 anos e acho que tivemos muitas vitórias em direção às conquistas sociais, mas estou muito preocupado com o rumo retrógrado que alguns que dizem de esquerda fazem em direção à direita. A nossa democracia é muito nova, ainda vamos sofrer muito para chegar ao modelo ideal.


Sustentabilidade

natural fashion Do

ao

Amanda Malavazi e Leticia Toledo

A ecomoda ganha espaço e prova que quanto menor o impacto, maior o estilo

Michelle Svicero em seu brechó

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ibra de bambu, cupro, garrafa pet, já pensou em se vestir com esses materiais? São as matérias primas que entraram na moda ecológica, um estilo que usa materiais recicláveis e que levariam muito tempo para se degradar na natureza - de 200 a 600 anos, no caso das garrafas pet. Por que não reutilizar? É o chamado “Marketing Verde”, uma área do mercado que valoriza os produtos ecologicamente corretos, porque entende e não aceita a atividade comercial que provoca o esgotamento dos recursos naturais para as próximas gerações. As fibras naturais deram a cara na moda na década de 90, mesmo período em que a sociedade começou a se preocupar mais com o futuro do planeta. Pensando nisso, a designer de moda e fotógrafa Michelle Svicero teve a ideia de vender moda sustentável. Tudo começou na infância, na companhia da avó, produzindo roupas para bonecas. “O momento mais feliz do dia era fazer roupinhas para as bonecas e ajudá-la a cortar tecidos. Cortava minhas roupas e pintava para ficar diferente”, conta Michelle. Aos 20 anos, descobriu-se na moda: customizou roupas para amigas, participou de cursos, workshops e encontrou um meio de compartilhar suas experiências em um blog. No misvicero.blogspot.com.br, Michelle escreve sobre beleza, moda e estilo. O início da carreira de empreendedora começou com um ‘look do dia’, quando uma das leitoras perguntou se ela venderia uma das peças. “Tive uma ideia naquele momento de como poderia transformar isso em um negócio, já que tinha muitas roupas que não usava no armário. Fiz a primeira venda assim”, explica. Para ela, os valores do brechó Mi Svicero Vintage Shop podem ser resumidos em exclusividade, sustentabilidade e acessibilidade. Campus Magazine 2013 • 9


Encantos em cada canto de

Gabriela Martinez

Paris

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Crônica

Gabriela Martinez

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inda cheia de glamour, a cidade cheirava à história. Cada muro reconstituído depois de destruído em alguma guerra, cada paralelepípedo daquelas ruas estreitas e sem direção, tudo parecia querer contar alguma história. Acompanhada de uma amiga de Lilly, norte da França, nos hospedamos em um hostel em Montmartre, bairro conhecido pela concentração de arte de rua. Pelas vielas, os verdadeiros boêmios. Artistas e suas mais diversas artes ocupavam cada esquina. Os músicos eram os mais rodeados pelos turistas, acho que isso não muda quando se muda de país. Mas via-se muito talento nos caricaturistas também. Quase sem fôlego, lá de cima, a Basílica do Sagrado Coração. Foi ali, no ponto mais alto da cidade, que percebi a grandeza daquele lugar. Por seus monumentos também, mas por viver e guardar tanta história. Os jardins, logo abaixo, me aguardavam com uma surpresa. Um carrossel, bancos e alguns caminhos que serviram de cenário para Amelie, a menina de destino fabuloso do meu filme favorito. Mais encanto, mais

doçura, um copo de vinho quente para espantar o frio e eu poderia ficar ali o resto dos meus dias. Mas a caminhada deveria continuar a passos largos. A fortaleza criada por Felipe II para proteger Paris contra os ataques dos Vikings tomaria nossa tarde. Falo do Museu do Louvre que depois de fortaleza, ainda foi palácio. A mais notável obra de Da Vinci, La Gioconda, A Mona Lisa para nós, roubava a atenção de todos os cantos do mundo. Eram tantos dialetos em uma mesma sala, que o som da conversa de todos aqueles turistas que a rodeá-la, ecoava numa única nota. Tão pequena e logo, contraditoriamente, tão grandiosa. Passar pelo Arco do Triunfo foi reviver mais um pouco da história. A chama que nunca se apaga, em homenagem ao soldado desconhecido, e os nomes dos 558 generais de Napoleão Bonaparte em suas 128 batalhas, gravados numa arquitetura tão complexa, me fez ao menos entender o patriotismo e orgulho francês. A proposta inicial fora rever uma grande amiga, deixar um amor pra trás, viajar e fugir da rotina. Mas Paris foi muito mais que isso...

Basílica do Sagrado Coração em Montmarte e uma das torres do Palácio do Louvre, vista de dentro da Pirâmide de vidro, em Paris

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Ensaio Fotográfico Retranca

SERVIÇO Fotos e texto: Adriano Vannini

Malandro é quem cedo madruga, é quem que toma o café em pé e não se atrasa pra labuta. Malandro é quem pega ônibus lotado, engole sapo sem perder o rebolado. Malandro sua a camisa, pega no batente, sabe da responsabilidade de cuidar da sua gente. Uma homenagem a todos os trabalhadores, os verdadeiros malandros do nosso Brasil, que mesmo com toda palhaçada e safadeza por aí continuam firmes, orgulhosos e honestos no compromisso de seus serviços. Um olhar sobre as profissões tradicionais que continuam vivas, sobrevivendo às duras mudanças do tempo. Parabéns a todos os trabalhadores, os verdadeiros malandros do nosso Brasil.



Ensaio Fotogrรกfico Retranca

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Veículos

Tecnologia a bordo

Foto: Divulgação

Montadoras investem em carros bem equipados com preços cada vez mais acessíveis

Novos modelos tem como atrativo os acessórios de fábrica Deivide Ambrosio

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os dias de hoje, cada vez mais os carros se modernizam e com isso aumentam o preço, certo? Não para a nova linha de carros que vem tomando conta do mercado nacional. Os modelos contam com acessórios tecnológicos, vidros elétricos, GPS, ar condicionado, airbag e não para por aí. Essa nova tendência de carros começou em 2012, quando uma montadora lançou esse tipo de veículo. Para não perderem espaço no mercado nacional, quase todas as montadoras já têm veículos bem equipados e com preços mais acessíveis. Tamanha é a procura que o estudante Bruno Garcia disse que teve de esperar mais de dois meses para a chegada de seu novo carro. A demora foi o único problema, pois o carro em si é fantástico, não deixa a desejar em nada e ainda muito econômico, afirmou. 16 • Campus Magazine 2013

Graças a esses novos modelos, o mercado de automóveis zero quilômetro também cresceu. Três meses após o lançamento, uma montadora alemã chegou a vender mais de 22 mil unidades de um modelo que segue essa tendência. Fernando Pelisson, que trabalha em uma revenda de carros novos e seminovos, falou que, após o lançamento desses novos carros, aumentou a procura por veículos zero quilômetros, e diminuiu a venda dos seminovos. Outro fator importante é que esses carros vêm com garantia de até cinco anos, deixando o consumidor mais animado na hora da compra, pois outros modelos têm o tempo bem menor. Essa tendência tem tudo para dominar o mercado, fazendo com que carros sem qualquer acessório fiquem menos atrativos, pois o preço de ambos é bem parecido.


Paixão nacional

H

á 56 anos, chegou ao o Brasil um carro que se tornou uma paixão nacional, arrastando-se por gerações. Ninguém imaginava que ela faria, por tanto tempo, parte do trabalho e da diversão das famílias brasileiras. A Kombi, um dos carros mais amados do país, deixou de ser comercializada no final de 2013. O motivo? Falta de segurança e adequação às novas exigências de trânsito. Os carros fabricados a partir de 2014 contêm air bag duplo e freios ABS, algo para o qual a antiga Kombi não está preparada para se adequar. Como os idealizadores do modelo não imaginavam tamanha mudança nos padrões dos veículos fabricados, a mudança ficou impossibilitada. A Kombi não tem estrutura para se adequar às normas sem perder a identidade visual do veículo. Ela se tornou um ícone nacional e, segundo Wagner Rodrigues, que trabalha com o modelo há mais de 26 anos, a Kombi é um dos poucos carros da marca Volkswagen que conseguiu se manter entre os mais vendidos ao longo de várias décadas. Lá se vai a Kombi Para marcar o fim da era Kombi, que já foi desde perua escolar à trailer, a Volkswagen lançou a edição especial do veículo no ano de 2013. A ideia inicial era fabricar 600 exemplares visando atender os apaixonados do país todo. Mas, ao anunciar a decisão, a empresa recebeu inúmeros pedidos para que fizessem mais exemplares e a produção foi dobrada para 1.200 veículos. Quem quiser comprar essa relíquia terá que desembolsar 85 mil reais, valor bem superior aos 45 mil que a Kombi custava há alguns anos. Mas Wagner Rodrigues garante: “Quem comprar agora e for vender vai conseguir esse dinheiro de volta”, ressalta. “Pão de forma” O sucesso do veículo possibilitou a criação de um clube para atender aos apaixonados. O Sampa Kombi Clube foi criado em São Paulo, reunindo os proprietários para

A queridinha do Brasil A Kombi atravessou décadas e se tornou uma paixão nacional ao unir economia e versatilidade A “Last Edition” traz a antiga Kombi de forma renovada

a troca de peças e experiências. Este é o primeiro clube da capital com essa temática. Engana-se quem pensa que só os mais velhos se interessam pela Kombi. A maioria dos associados são homens na faixa de 30 anos. “Noto que a idade média dos sócios tem reduzido. Também tenho percebido aumento no número de mulheres interessadas pelo veículo”, comenta o advogado Eduardo Gedrait, idealizador do clube. Realizando um sonho Com apenas 28 anos, Dayana dos Santos esperou bastante tempo até conseguir realizar seu sonho: comprar a própria Kombi. A paixão começou na adolescência e Dayana via no utilitário a forma perfeita para viajar e reunir os amigos. O casal, que é de São Paulo, viajou até a cidade de Poá para comprar o veículo. “Quando vi a placa da Kombi CDE imediatamente falei ‘essa vai ser a nossa Crotilde’”, lembra Dayana. Aos apaixonados, ao menos restarão as boas lembranças. A Volkswagen pretende doar a plataforma em que a Kombi era construída para um museu, para que as gerações futuras conheçam o veículo que fez parte da vida da população. De alguma forma, a Kombi continuará fazendo história. Campus Magazine 2013 • 17

Foto: Divulgação

Nathalia Faria


Retranca Carreira

Profissão

Músico Marcelo Gromboni

Foto: Márcio Francisco Martins

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ivemos em um mundo apaixonado por música, mas será que os músicos têm seu talento devidamente reconhecido? Muitos deles tinham a música como um hobby. E, com o tempo, junto à paixão adquirida, conseguiram transformar a atividade em profissão e sustento. Segundo Guilherme Barbarossa, integrante do Piratas Roots, dupla que leva o Pop Rock para Jaú e região, além da maioria dos que se propõem a ser músicos não tem a formação devida, além de outros empecilhos. “É um trabalho autônomo e o sindicato dos músicos não ajuda em nada. As gravadoras, principalmente, monopolizam o mercado, e só os artistas daquele nicho é que têm grandes chances de dar certo. Mesmo sendo difícil, creio que seja possível viver da música”, afirma. Existem outras dificuldades encontradas, uma delas é o preconceito quando aquela velha pergunta vem à tona: o que você faz da vida? “Sou músico!” E logo em seguida vem a segunda: mas não trabalha? É nessas horas que muitos que sonham em seguir carreira ficam pelo caminho.

Para Thiago Souza, integrante do Pagode Travesso, é fundamental amar a música, ter um bom investimento, tempo, dedicação e força de vontade para manter em pé a realização desse sonho. “Infelizmente só acreditarão no seu sucesso quando tiverem conquistas materiais, reconhecimento regional, aparições em TV, músicas nas rádios.” Quem tem o papel de auxiliar os músicos para que tenham uma atividade profissional digna é o sindicato dos músicos. No entanto dentre todos os entrevistados a resposta foi unânime: não existe auxílio ao músico. De acordo com Fábio Lopes, docente de Música na Universidade do Sagrado Coração, o sindicato é ausente: “Eu, particularmente, tenho uma liminar que me permite trabalhar em todo território nacional sem estar vinculado à ordem dos músicos, entidade que deveria trabalhar em nome da classe”. Apesar de toda essa dificuldade, Fábio acredita que há boas perspectivas para o profissional da área musical que busca conhecimento, aperfeiçoamento e técnica. Com a nova lei de implantação de aulas de música nas escolas, os profissionais da área terão um importante espaço para o desenvolvimento de trabalhos pedagógicos, e talvez essa seja uma alternativa importante para a formação e elevação do nível do público consumidor e uma maior valorização do músico. Cássio Roma e Guilherme Barbarossa, integrantes do Pirata Roots, dupla usa o amor pela música para buscar o sucesso

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morguefile.com

Mercado Retranca

Na estrada No cenário da música independente, crescer por conta própria é um risco Karina Sant’anna e Mayara Giacometti Gigioli

A

música independente vive em um universo paralelo, na tentativa de ser livre e buscar espaço entre as gravadoras e o público. Sem apoio e declarada como hobby por muitos, tende a não ser levada à sério; realidade que deixa muitas bandas pelo caminho. Entre o desejo de ser descoberta por grandes gravadoras ou proteger sua essência e continuar no anonimato, o foco é um só: manter a música viva. Até criar uma cooperativa é válido. Evandro Ferreira tem 15 anos de carreira no rock, há muito tempo não sonha em ter sua banda descoberta por uma grande gravadora. Hoje, aos 40 anos, tem uma visão realista sobre o cenário da música independente no interior paulista. Para ele, as rádios dedicam mais espaço às bandas amparadas por gravadoras que investem alto na divulgação. Vocalista da Euthanásia, em Botucatu, Evandro sentiu-se incomodado com a falta de espaço para o rock nas casas noturnas da cidade. “O público do rock é um muito específico e, nas baladas, o estilo era misturado com outros como sertanejo, forró. Isso afasta quem gosta de rock.”

Evandro decidiu unir seis bandas de rock botucatuense e alugar um espaço para tocar. Este espaço é a Liga do Chopp, uma conhecida casa noturna da cidade, que às sextas-feiras vira “A LIGA DO ROCK”. A cooperativa é administrada por um líder, um tesoureiro e um secretário, os demais ficam encarregados da divulgação dos shows. Quem vai no caminho contrário e sonha deixar de ser independente é o estudante Zeka Cardoso, da banda One Cash, de Lençóis Paulista. Para ele, “ser independente é dar a cara à tapa”, com coragem e dedicação para fazer o que ninguém mais faz. Ele acredita que quando se tem contrato com uma gravadora, a banda sofre algumas imposições, mas não vai perder a essência. “Cada oportunidade tem o bom e o ruim e toda profissão tem altos e baixos”, completa. O fato de tomar as próprias decisões foi positivo. “Criamos uma nova base de fãs: a gente subitamente percebeu muito mais homens aparecendo em nossos shows, quando nosso público-alvo sempre foi majoritariamente feminino. Éramos mais que uma bandinha pop adolescente”, afirma Tom Fletcher, vocalista. Campus Magazine 2013 • 19


Protesto Retranca

Letras ideológicas Manifestações no país expõe legado da música popular brasileira durante o período da ditadura militar

Flávia Placideli

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ditadura militar em 64 calou e censurou a sociedade por muitos anos. Reprimidos em suas entidades, a juventude e os compositores da Tropicália encontraram um caminho para expressar sua voz por meio da música. No período, a música po-

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pular brasileira ousou dizer o que não era permitido à nação nas letras de canções que, até hoje, são lembradas como símbolos de resistência e luta. O regime militar utilizou diversos métodos de restrição à liberdade, atingindo vidas e cerceando manifestações artísticas. Muitas letras de música foram proibidas pelos censo-

res da ditadura por tratarem da realidade na qual vivia o país. Compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré foram perseguidos e exilados. Músicas como “Podres Poderes”, de Caetano Veloso, afrontaram o regime e seus líderes. A canção de Caetano expressa o artista irado com o cenário brasi-


Compositores perseguidos e exilados durante a ditadura leiro e com a falta de senso crítico do povo, que se calava diante de uma sociedade desigual. Na letra, o cantor cita os ‘ditadores’ da América Católica, os ‘burgueses’, os “paisanos”, os “capatazes”, “os ridículos tiranos”. Caetano diz que gostaria de confiar nessas pessoas, mas ‘tudo é muito mau’. E questiona: “Será que apenas os herméticos pascoais, os tons e os mil tons, com seus sons geniais, nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?”, fazendo uma alusão ao músicos Hermeto Pascoal e Tom Jobim. O coordenador do curso de história da USC, Roger Marcelo Gomes, explica que as composições que contextualizaram o período serviram de resistência ao regime. “A ditadura deixou um legado pesado para a maioria da sociedade que

ficou excluída e marginalizada. E as músicas tiveram papel importantíssimo. As composições musicais foram além de qualquer ideologia”, explica. Na década de 80, após o fim do regime militar, Cazuza vem com ‘Brasil’, expressando muito bem um país não do passado, nem de seu presente, mas de um Brasil atual, corriqueiro desses dias. Cazuza foi o porta-voz de um povo calado, na frase: “Brasil, mostra tua cara”, fica evidente um pedido para que o povo brasileiro desse as caras à sociedade. As letras ideológicas contribuíram para a ‘liberdade de expressão’ conquistada e não deixam de ser um hino de muitas manifestações, que apesar de não haver uma bandeira única, há uma só voz: a do brasileiro.

Hoje, as manifestações vêm para mostrar que vozes são necessárias, mas ações também, “Há uma resistência à dominação, não há dominação absoluta. Toda manifestação torna o povo mais atento, mais sujeito de sua história”, ressalta Gomes. O que se conclui é que essa ‘ditadura democrática’ é o limite das virtudes humanas, e que ninguém consegue ultrapassá-la se não houver a utopia de um mundo melhor. “Acho que o brasileiro tem que ter utopias. A utopia alimenta as nossas esperanças, é o que nos movimenta. E, apesar dela não estar muito clara para alguns brasileiros, então, que as manifestações amadureçam na luta por uma sociedade mais justa e fraterna”, finaliza Gomes. Campus Magazine 2013 • 21


Comportamento/Cultura

Ao vivo no Village Dos incendiários bairros nova-iorquinos dos anos 40 ao cenário artístico capenga no Brasil, o que rola por trás das cortinas da vida de um artista Adriano Vannini e Júlia Furtado

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oi se o tempo de Max Gordon. Tempo No Village o artista tinha espaço. O palco de efervescência cultural nas grandes era livre e intimista, deixando músicos, poemetrópoles. Músicos ambiciosos, jovens tas e atores à vontade para mostrar suas criapoetas, jornalistas subversivos e a busca deções. Ícones como Miles Davis, Thelonious senfreada pelo desconhecido compunham Monk, Charles Mingus, Woody Guthrie, o cenário dos grandes centros urbanos. Leadbelly, Joe Gould, Allen Ginsberg e Lenny Bruce devem muito aos palcos do Vilalge. Contextualizando, Max Gordon foi um homem visionário e cheio de esperança. Outro ponto crucial que deu vida ao Imigrante lituânio, mudou-se Village era o público, que era para Nova York ainda muifiel. Max conquistou uma to jovem, acompanhado freguesia. A qualidade de “No Village seus espetáculos e a boa dos pais e dos irmãos. sempre havia alguém disposto a lhe pagar uma Gordon chegou à hospitalidade faziam xícara de café após uma boa Big Apple na hora os clientes retornarem noitada em troca de uma certa. Os bairros de toda semana. Além discompanhia agradável e Manhattan exalavam so, as críticas que saíam um papo interessante.” arte e entretenimento. nos grandes jornais daEra possível ouvir o lavam água na boca dos nova mento rachado dos saxofones e -iorquinos. A casa de Max vivia trompetes subindo as estreitas escadas coalhada de gente, as filas dobravam as dos porões do Greenwich Village. O ruído esquinas. Todos queriam saber o que estava rolando no lendário Village Vanguard. aconchegante das conversas que vinham dos bares tomava conta das ruas. Era o tempo do boca a boca, do tête-à“No Village sempre havia alguém distête. Não existia internet para divulgar o posto a lhe pagar uma xícara de café após trabalho do artista. Hoje, tudo é divulgado uma boa noitada em troca de uma compelas redes sociais. O acesso à informação ficou mais ágil e dinâmico. “Nos dias panhia agradável e um papo interessante” lembra Max saudoso, em seu livro Ao Vivo de hoje, a percepção espacial dos jovens é No Village Vanguard, que conta detalhes totalmente virtual”, comenta José Larandos bastidores de como foi fundada a casa jeira, professor de arte da Universidade Esnoturna que, ao lado do Birdland, Cotton tadual Paulista (Unesp) de Bauru. O problema é que essa informação em baciada Club, Café Society e do Bitter End, é considerada uma das mecas da boa música e da não tem permitido às pessoas digeri-la. A boêmia nova-iorquina. informação não está virando conhecimen22 • Campus Magazine 2013


Foto: Reprodução Fachada do lendário bar de Max Gordon, em Nova York

to, repertório. Sabe-se pouco de muito. As pessoas estão mergulhadas no raso, só vendo os cardumes que nadam na superfície. É importante se aprofundar em algo, pesquisar, buscar o real conhecimento sobre algum assunto. “Se você é instruído a não pensar, seu repertório é curto e você segue todas as normas e leis que lhe são impostas, você está se tornando um tremendo idiota”, completa Laranjeira. Atualmente no Brasil, sofre-se com a infidelidade e desinteresse do público. A arte tem passado por uma crise de honestidade. Tanto do artista para com o público quanto do público para com o artista. A arte não vem sendo feita de maneira sincera. A ganância acabou com a criatividade e com o real. O amor foi acobertado pelo lucro. Belas canções estão rareando a cada dia. “O comercial não é antiético por natureza, mas perverte e chega até a prostituir o artista. O comercial não tem escrúpulos”, comenta Laranjeira. “A música popular brasileira atual está inundada de lixo e sujeira. Os músicos entram em um processo de limpeza, de capacidade de reflexão critica da realidade; processo que imbeciliza, como água com açúcar”, lamenta o professor ao se lembrar de músicos que foram cegados pela fama e pela grana.

Refúgios Em algumas casas de show nas capitais são encontras características semelhantes às do Village Vanguard. “A Casa de Francisca é uma pioneira e um exemplo de um espaço que apostou num lance mais ‘artesanal’, e que rolou e rola muito bem, sobrevivendo na doidera que é o independente em São Paulo e no Brasil. É pequenininha e absolutamente caprichada em todos os aspectos, seja no trato com o público, com o músico, com a atenção para o show, a curadoria de quem toca lá, a arquitetura e a estética do lugar”, comenta Tim Bernardes, vocalista e guitarrista da banda paulistana O Terno, que desde 2009 vem se destacando pelas letras criativas que mostram a realidade dos músicos independentes. Seu primeiro disco “66”, de 2012, foi eleito um dos 25 melhores discos da música brasileira pela revista Rolling Stone. Tim completa: “Digo que ela é pioneira porque, recentemente, vimos aqui na capital casas grandes e médias fechando e casas pequenas abrindo. Como é o caso do Puxadinho da Praça, que está cada vez mais incrível e tem sempre muito show bom rolando por lá. Lugares um pouco menores têm mantido melhor um padrão de qualidade como casa de show no alternativo paulista e com isso o cenário ganhou muito. Isso é uma coisa bem recente e está bonito de ver”. O que resta agora é esperar por pessoas como Max Gordon. Depositar as fichas em novas casas, com propostas honestas e decentes, tanto para o artista como para o público. Esperar por aqueles que acreditam. Aqueles que têm esperança. Aqueles com tesão em ver a arte viva. Vida longa a Max. Vida longa ao Village! Campus Magazine 2013 • 23


Retranca

Entre

o ver

eo Foto: Marco Nascimento

enxergar

Olhares sobre a realidade e a existência humana 24 • Campus Magazine 2013


Visão de mundo

Marco Nascimento e Samanta Ravazzi

“O

s olhos são janelas da alma.” Esse pensamento tão conhecido, mesmo que sem autoria definida – alguns dizem ser do escritor Edgar Allan Poe, outros do pintor Leonardo da Vinci – é repetido constantemente, em diversas ocasiões e contextos diferentes. Se essa afirmação é verdadeira, pode-se dizer que a visão é elevada ao sentido de maior importância entre os cinco e que se deixa para segundo plano o olfato, a audição, o paladar e o tato. A visão tem relação com a alma e os outros… são apenas “os outros”. De fato, poder ver traz sensação de pertencimento, de segurança. Ao abrir os olhos, de manhã, e reconhecer o ambiente à sua volta, as pessoas sabem onde estão e quem são. Questão de identidade. Então, se a visão consegue ter esse poder de conexão com o mundo externo, como as pessoas que não enxergam fazem essa ligação? E, além disso, todas as pessoas que são ditas como “normais” e que “enxergam bem” atingem o vínculo com a realidade da mesma maneira ou estão cada vez mais cegos para sua existência? O deficiente visual Rafael Silva é um exemplo de que sim, é possível estar em contato com o mundo exterior mesmo sem enxergá-lo com os olhos. Rafael teve descolamento de retina ainda bebê e foi perdendo a visão gradativamente até chegar à perda total, na adolescência. Segundo ele, mesmo sendo um período difícil, não houve uma barreira para continuar a viver normalmente. “Foi nesse momento que comecei a enxergar diferente, mas na totalidade. Comecei a ver coisas que creio que se eu enxergasse realmente eu não conseguiria. Dificuldades, problemas, barreiras, somos nós mesmos quem criamos. Quem decide ou não enxergar somos nós, seja com os olhos humanos ou com o coração.” Rafael hoje, mesmo sem o sentido da visão, é técnico de informática e cursa o 4º semestre de Ciências da Computação, além de dar palestras motivacionais e aulas de informática com especialização em tecnologias assistivas. Como ele mesmo diz, existem aos montes pessoas para dizer que não é fácil, mas ficar parado frente às dificuldades – quaisquer que sejam elas – não agrega nada ao crescimento humano. “O mais importante é saber que, apesar de todos os obstáculos e barreiras, conseguimos chegar ao objetivo e superar limites”, afirma. Campus Magazine 2013 • 25


Visão de mundo

Foto: Marco Nascimento

Almas “cegas” Para a professora de filosofia e sociologia Marina Hilst, o fato de “estar cego” para a própria realidade e, portanto, deixar a alma “às escuras” é algo que vem sendo discutido há muito tempo: “Platão em sua Alegoria da Caverna já se propunha a explicar a cegueira da alma das pessoas. Um grupo de pessoas vivia acorrentado dentro de uma caverna com iluminação precária e tudo o que enxergavam eram apenas as suas próprias sombras. Como nunca tivessem visto qualquer outra imagem, mais nítida que fosse, acreditavam naquilo que (não) estavam vendo. As sombras eram apenas uma pequena porcentagem da realidade, a qual eles não tinham acesso por viverem acorrentados na escuridão de suas próprias ignorâncias. A ilustração platônica tinha por objetivo argumentar como as pessoas muitas vezes se acorrentam por si mesmas no obscurantismo, se contentam com migalhas de conhecimento enquanto têm um infinito à sua disposição.”

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Uma ideia como a de Platão parece tão atual quanto verdadeira. A humanidade está cada vez mais conectada com a realidade – literalmente conectada – através de seus aparelhos eletrônicos modernos e de suas redes sociais, mas, por vezes, só enxerga as sombras e acredita apenas nelas. Acredita no seu empoderamento e, lá do alto, acha que sabe tudo e que controla tudo. Ou seja, a realidade – tão ampla e tão mais profunda do que o “mundinho individual” – não é vista. Pior, é ignorada. “Valorizam-se as criaturas – o computador, a internet, os smartphones, o automóvel – e coisificam o criador. O ser humano apenas parece, nada mais é diante daquilo tudo que criou. Sendo assim, de nada adianta os olhos serem as janelas se a alma está fechada para a imensidão do mundo lá fora”, comenta a professora. Isso significa os olhos da alma, sejam de uma pessoa “normal” ou com alguma deficiência visual, só enxergarão quando estiverem prontos para isso.


Perdendo a visão Cores, formas e texturas, o mundo que vivemos é cheio de elementos e intervenções visuais. É o chão em que pisamos ou o modelo da casa na qual moramos. A cor do céu, do sol ou das plantas. A placa de informação, o semáforo que nos permite ou não atravessar. São tantos elementos visuais que muitas vezes não conseguimos olhar tudo que está à nossa frente ou não damos atenção devida à paisagem. Quem não enxerga precisa se valer de outros sentidos, além da imaginação, para poder ver o mundo sem cores. Quem enxerga limita-se, por vezes, a utilizar apenas o sentido que considera o mais importante, a visão, não tocando ou sentindo as coisas, não apreciando-as de maneira mais completa. De olhos vendados, a estudante universitária Cynthia Kalyne viveu a experiência de não enxergar por alguns minutos, precisando colocar em prática o uso de todos os outros sentidos e da imaginação, além de viver uma experiência jamais imaginada. Nos primeiros passos ainda demonstrava medo, as mãos iam à frente do corpo, como se estivesse à procura de algo para tocar. Os passos lentos revelavam a dificuldade que o não enxergar traz ao ser humano. Ao primeiro toque na folha verde a sensação era de insegurança por não saber o que estava tocando, mas ao mesmo tempo se misturava ao desejo de descobrir o que tinha nas mãos. Por não poder ver, o toque era como se fosse o olhar, e a mente ia construindo a imagem na cabeça. “Precisa ter muita imaginação, pois só de apalpar, sentir a textura, é muito difícil de imaginar”, conta a estudante. Os passos seguintes foram um pouco mais seguros, mas só um pouco. Os pés tocavam o chão, como que tentando imagi-

nar o que viria a frente. A voz expressava o medo e a ansiedade. Enquanto caminhava, Cynthia falava de como deve ser a vida do deficiente visual. “Deve ser muito difícil você conhecer alguém e só tocar pra ter uma noção de como ela é, ou então não poder enxergar as coisas com que a gente convive, o céu, o sol, coisas simples, mas que fazem uma grande diferença”, diz. Com os olhos ainda vendados, a estudante desbravava o local apenas utilizando o tato e o olfato, tentando descobrir o que estava em volta, imaginando como seria aquele local. “Você não tem noção de espaço, de nada”, afirma. Após vários minutos, Cynthia finalmente tirou a venda e pela primeira vez enxergou o local que há pouco visualizava apenas com toque e a imaginação. À primeira vista se surpreendeu, não tinha imaginado o lugar da mesma forma que era de verdade. Seus olhos corriam por todos os lados, visualizando o que só havia, até então, tocado. Após matar a curiosidade de ver tudo, Cynthia refletiu sobre a experiência de ter que ficar sem enxergar e comparou com a possibilidade de ver. “Quando você está vendo, fica despercebido, não tem curiosidade de mexer. Com os olhos vendados eu tinha que prestar atenção pra ter noção de localização, fica mais curioso pra saber o que está acontecendo ao seu redor”, afirma. A experiência de perder a visão por alguns momentos a fez perceber o mundo de outra forma e nos mostra o quão importante é a união de todos os órgãos de sentido. Assim como a dificuldade que há na deficiência visual. “Apesar do medo, eu gostei bastante. Precisa usar a imaginação, tentar dar sentido pras coisas”, comenta a estudante.

“Mas nós estamos realmente todos cegos! Cegos da razão, cegos da sensibilidade…” José Saramago

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TDAH

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Além do problema


Uma diferente percepção do mundo a partir de quem tem déficit de atenção e hiperatividade

Mateus Pessoa

S

entado naquela poltrona bege numa sala que media uns 10 metros quadrados, comecei a me queixar de meus problemas, entre eles a desatenção, a falta de foco, dificuldade de planejamento, terminar projetos e também o frequente esquecimento de objetos e compromissos. Tudo isso pode facilmente parecer preguiça, falta de disciplina, de responsabilidade ou motivação. Apenas parece. Existe algo biológico em jogo, algo que é muito mais forte do que minha própria vontade. — Mateus, você tem TDAH. Naquele momento, as palavras de Luiz Cunha, psicoterapeuta com muitos anos de experiência, entraram pelos meus ouvidos me fazendo compreender os porquês de meu comportamento relapso. No fundo, eu já sabia. Anos antes eu havia lido sobre o tema e havia me identificado com os sintomas, mas na época não fui investigar a fundo e, portanto, somente descobri tardiamente, aos 22 anos. Desde então, passei a pesquisar cada vez mais sobre o tema e resolvi escrever esta reportagem e contar um pouco sobre como percebo o mundo. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurológico caracterizado por desatenção e hiperatividade/impulsividade. Segundo a ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção), afeta de 3% a 5% das crianças no mundo e pode persistir até a vida adulta.

O diagnóstico é clínico e pode ser feito por um neurologista, psicólogo ou psiquiatra seguindo os critérios do DSM, sigla em inglês para Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais. Apesar de existirem exames laboratoriais para auxiliar a identificar o problema, a maneira mais eficiente de diagnóstico é entrevistar o paciente juntamente com seus pais e familiares, amigos e até professores. Existem basicamente dois tipos de classificação do TDAH de acordo com a predominância de sintomas na criança ou adulto: predominância em hiperatividade e impulsividade e predominância em desatenção. A ocorrência de outras doenças ao mesmo tempo em que o TDAH é chamada de comorbidade, como explica o psiquiatra Sérgio Bourbon. “As mais comuns são: transtornos de aprendizado, transtornos de comportamento, transtornos ansiosos, transtornos do humor e abuso de drogas”, completa. Em meu caso, a ansiedade sempre foi um problema. Já passei noites sem dormir por conta disso. Terminar essa reportagem é algo que me deixa ansioso e o esforço para controlá-la é muito grande, assim como a atenção que me é roubada frequentemente por qualquer barulho simples no ambiente. Mas sigo em frente tentando manter o foco.

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Comportamento

Tratamento O tratamento para TDAH é feito a partir de três tipos de intervenção: conscientização, medicação e psicoterapia. “O primeiro passo é a conscientização do paciente e daqueles que convivem com ele. Sem isso, o restante do tratamento fica prejudicado”, explica Bourbon.

Hiperatividade e Impulsividade • Frequentemente mexe as mãos e os pés e se ajeita na cadeira; • Tem dificuldade de se manter sentado quando é preciso; • Corre ou escala em demasia; • Tem dificuldade de participar em atividades de maneira silenciosa; • Age como se fosse movido a “motor”; • Fala excessivamente; • Dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido completadas; • Tem dificuldade em esperar sua vez, e • Intromete ou interrompe os outros com frequência.

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A medicação utilizada é geralmente um psicoestimulante e, em alguns casos, usa-se antidepressivo. E para auxiliar ainda mais na melhoria, a psicoterapia é aplicada na criança ou adulto para tratar dos problemas emocionais e comportamentais que possam refletir na condição do déficit de atenção e na hiperatividade.

Desatenção • Não consegue prestar atenção aos detalhes ou comete erros por falta de atenção; • Tem dificuldade em manter atenção e o foco; • Parece não ouvir quando alguém fala; • Não consegue seguir instruções; • Tem dificuldade com organização; • Evita ou não gosta de atividades ou tarefas que exigem esforço mental; • Distrai-se facilmente, e • É bastante esquecido nas atividades do cotidiano.


Tendência à criatividade Leonardo Da Vinci, um dos maiores gênios de toda a humanidade, apesar de ser conhecido como pintor, era também cientista, matemático, inventor, escultor, arquiteto, poeta e muito mais. Tinha tendência em não finalizar muitos de seus projetos, tanto que há registros na história de que uma vez o Papa Leão X disse sobre Da Vinci: “Este homem nunca vai completar nada! Ele pensa sobre fim antes mesmo do começo!”. Provavelmente, Leonardo Da Vinci tinha o que hoje conhecemos como TDAH. É o que sugere o estudo “A coincidência do TDAH e a criatividade”, publicado em 1995 por Bonnie Cramond, Ph.D em Psicologia Educativa, na Universidade da Georgia, nos Estados Unidos. O estudo aponta que há uma coincidência entre o comportamento de uma pessoa com TDAH e uma pessoa criativa. Ambas apresentam comportamento de desatenção, parecendo estar sonhando acordadas; são hiperativas e impulsivas; têm problemas de temperamento e de relacionamento social. Além disso, há possibilidade

de que as alterações na estrutura cerebral das pessoas com TDAH sejam as mesmas encontradas no cérebro de uma pessoa com alto nível de criatividade. Stephen Tonti, escritor e diretor de cinema, em seu discurso no TEDx Talks começa da seguinte maneira: “Meu nome é Stephen Tonti. Eu sou um diretor e escritor; ator, baterista, roteirista, jogador de futebol, operador de câmera...” e continua atribuindo a si mesmo inúmeras funções e profissões e ao final da frase revela: “Eu tenho TDAH”. A princípio é bastante estranho e pode parecer duvidoso que uma pessoa seja capaz de praticar várias atividades, saber várias profissões, ainda mais para um jovem de apenas 21 anos. Mas, coincidência ou não, Stephen é como Da Vinci. Eu, que escrevo esta reportagem e tenho TDAH, compartilho da mesma experiência que Stephen e Da Vinci: sou jornalista, guitarrista, escritor, técnico de informática, radialista, entre outras atividades. Não, não estou dizendo que sou bom em todas elas, apenas me interesso muito por todas e aprendi um pouco de cada uma e, por isso, sou capaz de ver o mundo e participar dele de várias maneiras. Isso acontece porque a falta de foco causada pelo TDAH, que inicialmente pode parecer apenas um problema, ao mesmo tempo faz com se tenha interesse por diversas atividades ou profissões. Assim como o genial Leonardo Da Vinci, Stephen Tonti, eu, Mateus Pessoa, e muitas outras pessoas com TDAH, certamente temos uma percepção diferente da realidade e isso não nos torna melhores, apenas diferentes. Muitas pessoas são como Papa Leão X, ao dizer que não somos capazes, pois não enxergaríamos nada além de problemas. Cabe aos pais, às escolas, aos professores, ao mundo compreender que vemos e vivemos o mundo de outra forma e nos estimular a desenvolver todas as nossas potencialidades, mesmo que pensemos sobre, o fim antes do começo. (MP)

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Retranca Comportamento

Foto: Amanda Domiciano | Produção: Ivana Santos

Mulheres independentes

Amanda Domiciano e Ivana Santos

D

urante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os homens foram alistados no exército para combater e as mulheres precisaram ir para o mercado de trabalho. No fim do conflito, os maridos voltaram e quiseram suas esposas em casa, motivo que levou muitas a se revoltarem e a história acabou com muito sangue feminino. Com tantos ícones de independência ao longo dos anos, as mulheres começaram a tomar as rédeas de sua vida. Cansadas da opressão no lar, elas decidiram ir à luta.

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Aquele tempo de barriga no fogão e no tanque para cuidar da casa e do marido o resto da vida é passado; hoje, elas estão mais donas de si

Na década de 70, essa história e muitas outras deram origem a um movimento feminista que tomou força e chegou aos EUA. Conhecido como Bra-Burning, ou em português, a “guerra dos sutiãs”, o episódio marcado por cerca de 400 ativistas na lutapela liberdade e pelo fi m da exploração comercial realizada contra elas. Queimaram sutiãs, calcinhas, cílios postiços, sapatos de salto alto, espartilhos em praça pública. Quarenta anos depois, o papel feminino em casa continua sendo alterado, assim como o masculino. Em muitas relações, elas trabalham fora e seus parceiros cuidam da casa. Em outras situações, dividem as despesas e as atividades domésticas. É comum, nos dias atuais, encontrar lares onde os homens também põem a mão na massa. Mas longos anos de conquistas e mudanças ainda não foram suficientes para equilibrar o rendimento. Muitas vezes, pelo mesmo trabalho, a mulher ganha menos do que o homem. Ainda há muito a conquistar. Roberta Rocha, consultora e coach da empresa Roberta Rocha, acredita que a independência não seja uma grande influenciadora de uma mente aberta afinal podese ser independente e ainda assim não ser livre. Uma mente aberta é livre de crenças limitantes, que impedem as pessoas de ver além do que aparências, comportamentos e palavras. “Acredito que há espaço para mulheres que batalham para ser melhores que os homens na vida profissional, mas geralmente estas acabam sendo infelizes na vida pessoal, é uma questão de escolhas.” Roberta diz que não tem uma bandeira, mas é contra a violência, as diferenças salariais e a favor da família, hoje em dia, avalia, não há espaço para preconceitos. Para ela mulher independente assusta um homem. Buscando informações na história da antropologia, ou até mesmo da psicologia, percebe-se que os homens possuem a neces-

sidade de manter o poder. “Acredito que o peso maior ainda é o financeiro. Quando uma mulher ganha mais que o homem”, avalia Roberta, isso costuma gerar brigas e constrangimentos para eles. Além das pretensões financeiras, o que tem mudado é o sonho feminino de ser mãe. Há mulheres que preferem trabalhar a ter um filho. Mas essa escolha não agrada a todos. Há pressões de muitos lados, e algumas até se tornam motivo de chacota: “Cuidado para não ficar pra titia, hein?”. Com tanta evolução e revolução, algumas mulheres perderam-se no caminho, talvez a delicadeza tenha partido diante de reunião, musculação, contas não divididas e da necessidade de desempenhar vários papéis. Cresceram, saíram de casa sem um marido ou namorado, apenas com a vontade de ser livre e ter seu próprio cantinho, seu emprego para o suporte financeiro, isso tudo sem consultar ninguém. A transformação acabou gerando o amadurecimento para decisões e situações que um dia elas nunca tivessem consciência de fazê-las. Beatriz Vargas, 25 anos, é representante de vinhos de Santa Catarina, e comenta que existe certo radicalismo em qualquer luta. Na sua visão, é preciso entender que em qualquer briga existe limites e tudo precisa ser moderado. Ser “dono do próprio nariz é uma conquista, mas todas as entrevistadas apontaram o mesmo problema relativo ao relacionamento. Lucymara Rodrigues, executiva de negócios e publicitária do Jornal da Cidade de Bauru, tem 44 anos e está sozinha. Ela diz que já sofreu preconceito e que são poucos os homens que conseguem lidar com essa nova mulher. Lucymara é um exemplo comum na história da independência feminina, mora sozinha, não tem filhos e não é casada, e o melhor de tudo isso: é feliz e realizada. Campus Magazine 2013 • 33


Estética

tudo Vale

pela beleza?

Em busca do corpo perfeito, jovens têm procurado meios que podem trazer mais malefícios do que benefícios Cynthia Kalyne e Gabriel Cochi

Q

uem não conhece a frase: “Espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?” Em busca dessa perfeição, as academias têm sido onde muitos “se encontram”, mas os motivos que levam a essa procura podem não ser corretos, como diz o estudante Mizael Pereira. “Faço academia pela saúde, para me sentir disposto, mas o principal motivo é melhorar o visual.” Considerando que a beleza é relativa, e está nos olhos de quem a vê, é necessário estar atento a certos comportamentos, como diz a psicóloga Dyanna de Menezes Martins: “A beleza sempre foi valorizada, aprendemos desde cedo que agir de determinada maneira pode ser feio ou bonito”. A mídia também tem um papel fundamental no conceito do que é ser belo. Ali, são lançadas modas e tendências, homens e mulheres querem ter aquele corpo, vestir certa roupa e isso gera alguns transtornos, como explica Dyanna: “Quando uma pessoa deseja atingir certos padrões, é preciso tomar cuidado, pois viver em função dessa busca pode gerar transtornos alimentares como bulimia, anorexia e, também, a vigorexia, que é um transtorno ligado ao culto excessivo ao corpo”.

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Além desses problemas, atingir determinados padrões de beleza para o corpo tem levado muitos jovens a tomar atitudes perigosas para alcançar mais rápido um resultado, como o uso de esteroides anabolizantes. O uso de esteroides anabolizantes é um reforço para atingir o corpo perfeito, o físico ideal, porém, sem a indicação e supervisão de um médico, acabam comprando óleo, ou, no caso dos comprimidos, apenas farinha. Além da probabilidade de receber produtos falsos que não trarão resultado, corre-se o risco dos efeitos colaterais, que são acompanhados da perda do tecido muscular. Os efeitos colaterais em homens são perda de libido (apetite sexual), ginecomastia (acúmulo de gordura sob a glândula mamária, dando, assim, a impressão de que o homem tem “seios”), mudança na voz, queda de cabelo e, em alguns casos, ressecamento das articulações. Em mulheres, os efeitos colaterais mais conhecidos são crescimento de pelos por todo o corpo, queda de cabelo, perda de libido e alteração no ciclo menstrual. Querer um corpo perfeito a todo custo, leva a pessoa a se esquecer que, ao invés de ganhar, pode perder com o uso incorreto desses produtos.


Mercado da bola

O imprevisível rumo do futebol brasileiro

Não existem mais séries hegemônicas dentro das quatro linhas, o que se vê é um campeonato de grande disputa e com inúmeros possíveis vencedores Leonardo Lopes e João Gabriel Falcade

T

odos os anos, no começo da temporada brasileira de futebol, os ‘jornalistas-videntes’ derramam vários tipos de prognósticos sobre o esporte. No entanto, bem como a história de grandes previsões, a quantidade de falhas se amontoa e o futebol segue sendo uma grande dúvida. Desde o nascimento dos clubes brasileiros, maior parte deles na primeira década do século 20, e com o embrionário profissionalismo com os primeiros departamentos de futebol, surgem os pioneiros torneios e campeonatos entre esses times. Um oásis no então estabelecido cenário nada hegemônico vem na década de 1960, época do domínio brasileiro no futebol. O maior representante daquele novo panorama veio com Pelé, que liderava o antológico time do Santos Futebol Clube. Aquele de Pepe, Coutinho, Dorval e Mengálvio, ganhando seis títulos nacionais (1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 1968). O Palmeiras, construindo a sua primeira academia, ganhou outros quatro campeonatos nacionais na década de 60 (1960, 1967, 1967, 1969), transformando aquela década nos maiores dez anos do futebol paulista.

Como qualquer oásis, o que se viu nos anos sessenta nunca mais aconteceu, sequer se assemelhou. Os anos setenta começam com a definitiva profissionalização do futebol. A então comandante, a CBD, Confederação Brasileira de Desportos, se especifica à CBF, Confederação Brasileira de Futebol, o suspiro organizacional de que se ressentiam clubes e amantes da bola. Como consequência desse cenário, surge definitivamente o Campeonato Brasileiro de Futebol e, junto dele, o fim de grandes hegemonias. Uma nova era Zico, Toninho Cerezo, Falcão, Oscar, Sócrates, Júnior. O Brasil teve, possivelmente, seu apogeu técnico dentro das quatro linhas. O talento esbanjado por aqui ganhou o mundo, o mundo da bola. A seleção brasileira abre os anos 70 com o tricampeonato mundial de futebol, no México. Essa geração de ouro se refletiu no campeonato nacional, os craques se espalharam pelo país todo, em todos os clubes, fazendo com que fossem dez anos de vitórias divididas por clubes de várias regiões do Brasil. Campus Magazine 2013 • 35


Mercado da bola

Os anos oitenta inauguraram uma fase híbrida que tem traços do que se viu em sessenta e a base fundamental nos acontecimentos de setenta. A fusão induzida faz com que comecem a acontecer pequenas séries hegemônicas de, no máximo quatro anos, que começa com o Flamengo campeão mundial com a icônica camisa 10 de Zico e que chega ao São Paulo em 2006, 2007 e 2008, com Muricy Ramalho. Passando pelos gloriosos anos de Telê Santana à frente do Tricolor Paulista nos anos noventa, não deixando de citar o Internacional “campeão de tudo” no século vinte um. O panorama histórico produzido evidencia, por números, que as grandes hegemonias não se consolidaram pós-sessenta. Existem possibilidades teóricas que justificam esses acontecimentos. Agentes determinantes para que o futebol mudasse seus rumos, criando uma nova tendência que se consolidara ao longo de 43 anos e que não demonstra possibilidade de se alterar. São dois os motivos que se alternam historicamente para explicar essa falta de hegemonia: a categoria de base dos clubes e a inserção publicitária no meio esportivo. Dinheiro x Talento O dinheiro aparece com muita força nos anos setenta e se mantém ainda forte até o meio dos anos noventa. A categoria de base, o treinamento de jovens para que sejam aproveitados nas equipes profissionais. Nomes como o de Zico ou de Pelé são representantes máximos dessa situação. No caso de Pelé, o jogador sai do Brasil com 34 anos, e Zico se transfere para a Europa com 31. Nos dias atuais do futebol, um jogador dificilmente sairá do Brasil para jogar em outro lugar com tal idade. O pouco êxodo de talento determinou até os anos noventa que o futebol se mantivesse tão competitivo e parelho no Brasil. Os últimos anos do século XX poderiam ser aqueles que retomariam as séries hegemônicas seiscentistas, mas um novo e determinante fator entra em cena para não mais sair: a injeção de dinheiro publicitário.

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O que nos anos anteriores dava apenas mostra de sua existência, em 1992 toma ares de realidade com a histórica aliança de entre a empresa Parmalat e o Palmeiras. Durante os oito anos de parceria, o clube alcançou seu maiores títulos, o bicampeonato brasileiro 1993/94 e a Libertadores da América em 1999, enquanto isso, a empresa de laticínios teve seus anos de auge em venda e repercussão. Os primeiros momentos no novo século marcam o final da parceria tão vencedora entre Palmeiras e Parmalat, e, além de preconizar os péssimos anos que viveria o clube paulista nos anos sequentes, marca também o era da grandes parcerias clubes/empresas. Não demorou para que o arquirrival palmeirense, o Corinthians, fechasse uma milionário fusão com a empresa MSI, trazendo grandes elencos e títulos ao clube de Alberto Dualib. Mesmo com o fracasso pós-parceria já anunciado com seu rival, o Corinthians seguiu pelo mesmo caminho, sofreu após a cisão. Fluminense e Unimed, a partir de 2008, é mais um exemplo de grande sucesso em parcerias clube/empresa. Além desses três já citados, existiram algumas associações de menor porte, mas com grandes sucessos. O Flamengo e a petrolífera Petrobrás trouxeram o título brasileiro de 2008 aos cariocas e o Internacional de Porto Alegre e o banco Banrisul conquistaram a taça Libertadores em 2006. E não se pode ignorar a ainda, apesar de menos influente, presença de talentos da base nos anos 2000 com o Santos de Neymar, campeão da América e o São Paulo de Lucas, campeão Sul-Americano. Com a rápida passada ao longo dos anos 2000, foram citados clubes do Brasil todo e suas conquistas, há uma clara heterogeneidade no Brasil que vem dos anos setenta com as grandes categorias de base e os craques deixando legados lendários e que se fixa em definitivo no novo século com dinheiro em profusão. Os anos de hegemonias históricas não existem mais, e muito dificilmente voltarão a existir. O futebol mudou, mas a dúvida em saber quem será o próximo campeão continuará a mesma.


Qualidade de vida

A utilização musical como processo terapêutico gera mudanças nos pacientes Luciana Nóbrega e Caroline Figueiredo

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musicoterapia teve seu início na Primeira Guerra Mundial (1914/1918), período em que os músicos tocavam instrumentos ou cantavam para pacientes. Como consequência, os enfermos apresentavam melhora. Essa terapia usa elementos musicais - ritmo, harmonia, melodia - na busca de estímulos que promovam emoções, sensibilidades, expressões, comunicação e elementos que reabilitem, integrem e acrescentem “algo mais” à vida dos doentes. O assunto musicoterapia rende debates entre os pesquisadores sobre suas vertentes: a holística, que parte para a crença de que o ritmo é parte do corpo, melodia é sentimento, sendo esta abstrata; e a vertente científica, que segundo o musicoterapeuta David Maldonado, da clínica Musiclin em São Carlos (SP), é uma ciência mais concreta por ser provada pela própria medicina. Já existem estudos que comprovam o uso simultâneo de todas as regiões do cérebro ao se ouvir uma música. Musicoterapia x Educação Musical A musicoterapia, de acordo com Patrícia Maldonado, musicoterapeuta especializada em psicopedagogia escolar, é diferente de educação musical. A música nesse caso é utilizada para promover saúde e bem-estar, e não para um aprendizado instrumental rigoroso, ressaltando que alguns pacientes “sensíveis” podem até sair das sessões

tocando instrumentos. Pacientes de musicoterapia, como autistas, já tiveram grandes avanços em relação à percepção do mundo ao seu redor graças à música, que é uma forma de expressão, e se transforma em comunicação através da intensidade com que os pacientes manipulam os instrumentos ou por meio da dança, explica David, que notou em um de seus pacientes com autismo um avanço após sessões desse processo terapêutico. O paciente melhorou com a psicoterapia, tornando-se menos fixado em si mesmo. A profissão O musicoterapeuta tem de ser graduado na área para que haja melhor desenvolvimento de seu trabalho, pois apenas ser músico, Patrícia explica, torna difícil para clinicar o paciente, e ser apenas terapeuta, a sensibilidade musical e a falta do saber lidar com os instrumentos também limitam a atuação. A faculdade de musicoterapia tem duração de quatro anos, abrangendo desde partes médicas em seu ensino até teoria musical. Vendo de perto o trabalho do musicoterapeuta, nota-se que na maioria dos casos onde eles aplicam a vivência musical o local se torna mais híbrido e feliz, pois as pessoas têm a oportunidade de se utilizarem da música de maneira livre.

Foto: Luciana Nóbrega

Música e bem-estar

David Maldonado e Patrícia Maldonado-são musicoterapeutas em São Carlos

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Circo

Tecido e trapézio: sensações no a r

Maria Luisa Bergamasco

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á mais de 4 mil anos, o circo atrai multidões com suas diversas modalidades, entre elas o tecido e o trapézio que, até hoje, despertam a curiosidade de adultos e jovens. A arte de subir em um pano, denominada tecido, tem origem na China por volta de 600 anos d.C, onde bailarinos realizavam grandes performances para o imperador. Essa moda lidade ganhou espaço com o passar dos anos e hoje é encontrada não só no circo, mas também em teatros, universidades, escolas e clubes. O tecido não é apenas um pano amarrado em que

Apesar de exigir muito do corpo, as modalidades circenses ajudam a sair da rotina as pessoas sobem e fazem arte através de coreografias. Ele tem uma estrutura padrão. Segundo a estudante formada em artes cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Maria Emília Tortorella, os professores compram 20 metros de tecido, liganete 100% poliéster e utilizam-no dobrado ao meio, onde ele fica menor, com 10 metros. Dessa forma, a estrutura fica mais organizada. Maria Emília também destaca que o bom do tecido é que ele pode ser realizado por pessoas de qualquer idade, porém, os alunos que já praticam alguma atividade física terão mais facilidade no início para desenvolverem as técnicas, que envol-

vem alongamento e força para subir, do que aqueles que não praticam. Também é importante treina r ma is de u ma vez por semana para se obter um melhor rendim e nt o e a p r e n d i z a d o . A aluna de tecido Gabriela Ramos faz essa atividade há seis anos e conta sobre como é a prática: “Sempre fi z teatro e assistia apresentações. Um dia, vi moças fazendo tecido e senti uma vontade de fazer. Minha maior dificuldade até hoje é o alongamento de espacate. Mas é uma atividade boa para liberar energias, além de ter a vantagem de ser lúdico. O condicionamento físico que o circo oferece acredito que nenhuma academia pode proporcionar”.


Voando sem asas O trapézio é uma das modalidades mais antigas do circo e não há registros de onde surgiram as primeiras experiências artísticas. Sabe-se que uma das descrições iniciais foi realizada por um professor de ginástica. Ele o descreveu como uma vara com extremidade presa em uma corda conectada por um anel, que é colocado em um gancho para suspender o instrumento. O nome deriva de sua forma geométrica. O trapézio pode ser fixo, de balanço ou em vôo, e as diferenças estão nas técnicas utilizadas. O fixo consiste numa barra de ferro de 70 centímetros suspensa por duas cordas, que ficam presas a uma estrutura no alto. A diferença entre o fixo e o de balanço estão nas coreografias e piruetas que são realizadas. O trapézio em vôo possui uma estrutura metálica, normalmente quadrada, suspensa, com um banquinho pendurado, de onde os artistas partem e chegam, fazendo seguidos balanços em que tomam velocidade para realizarem saltos livres. Essa modalidade é apresentada com duas ou mais pessoas; cada um fica numa extremidade da estrutura e ambos se encontram no ato de “voar”.

Segurança para alunos Segundo o professor de trapézio Lucas Bruder, o

O tecido, assim como qualquer outra modalidade do circo, exige força de vontade e determinação porque não há corda que segure o artista durante a apresentação. Para alunos iniciantes as aulas nunca começam direto no tecido, primeiro se iniciam com alongamentos, abdominais e flexões de braço.

que mais chama a atenção na atividade é a possibilidade de testar limites. “Eu tenho pânico de altura e não subia nem em escada, mas o trapézio me ajudou a vencer essa barreira. Você se desafia a cada treino e, quando aprende algo novo, fica mais entusiasmado. Também é uma atividade que trabalha o corpo todo, é apaixonante.” Porém, o professor alerta que os alunos devem saber que não é algo fácil se pendurar como se fosse uma criança no parquinho. Ele diz que a barra de ferro machuca o corpo no início, mas, uma vez que você começar, não vai querer pa-

rar. Para alunos iniciantes as aulas nunca começam direto no tecido, primeiro se iniciam com alongamentos, abdominais e flexões de braço. “Para um melhor desempenho do aluno, ele precisa ter vontade de fazer, pois o treino é muito puxado. Quem gosta de adrenalina ou quer enfrentar o medo de altura, saiba que um trapézio pode chegar a mais de 12 metros de altura. Como medida de segurança para os alunos, são colocados colchões embaixo dos trapézios e cordas de segurança amarradas na cintura,” explica Lucas. Campus Magazin e 2013 • 39


Saúde

Além dos golpes Ao trabalharem mente e corpo, artes marciais atraem adeptos Ana Laura Terra e Maria Gabriela Leonel

preocupações e aprendem a lidar com o autocontrole nas situações do dia a dia. A arte é muito recomendada para as crianças em fase de desenvolvimento, por trabalhar a disciplina e o respeito. Anderon Primo, 18 anos, é um bom exemplo do benefício da arte para as crianças. Ele começou a treinar judô aos 5 anos por ser muito hiperativo, hoje, após 13 anos de treinamento, é faixa preta em judô e bicampeão paulista, campeão brasileiro e campeão do desafio interestadual. Com tantas qualidades, a arte marcial passou a ser sinônimo de bem estar. O mestre Thiago Mascaranhas, professor de JiuJitsu da academia Planet, de Bauru, revela que em sua maioria as pessoas procuram a arte marcial pela qualidade de vida, segundo pela estética e, por último, com o sonho de ser um lutador.

www.sxc.hu

A arte marcial vem conquistando adeptos desde seu surgimento. Foi graças ao cinema que as caíram no gosto da população, mas com o tempo seus praticantes viram que os golpes aprendidos traziam muitos benefícios. Uma aula de Kung Fu, por exemplo, pode queimar pelo menos 700 calorias. Ronaldo Fogueral, proprietário e professor de Kung Fu na Academia Shaolin, de Botucatu, explica que ao praticar as artes regularmente se obtém a melhora da força, e agilidade, se ganha maior coordenação física, definição da silhueta e fortalecimento do sistema imunológico. Além dos benefícios físicos, a arte marcial traz grandes melhoras para a saúde mental, pois fortalece o cérebro, melhora a autoestima e a convivência em sociedade. Muitos praticantes usam a arte para a libertação do estresse, deixam nas aulas todas as

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Intervenção Cultural

Arte nas ruas O grafite no Brasil demorou a se consolidar, mas a cada dia ganha mais adeptos e consegue atuar na educação para crianças

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Beatriz Vieira e Amabily Dias

grafite surgiu na década de 70 em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e chegou ao Brasil no final da mesma década, na cidade de São Paulo. A arte que chama a atenção por suas cores e desenhos é ligada ao hip hop. No Brasil, o grafite ganhou um estilo diferente e ficou tão famoso que hoje é reconhecido entre os melhores do mundo. A arte cresce e ganha respeito aos olhos da população, porém, ainda não é tão esclarecida e reconhecida por alguns que ainda não sabem diferenciar o grafite da pichação. “A pichação é feita pelos que não sabem o que é a verdadeira arte. Eles degradam a cidade, picham muros, portões e o fazem sem autorização. Já o grafite é uma arte expressa em desenhos nos muros e lugares públicos, com autorização da prefeitura”, explica Cristiano Paccola, de Lençóis Paulista, que ganha a vida com o grafite e a ilustração. Cristiano criou um projeto de grafite nas escolas, por meio do qual tenta mostrar às crianças como é essa arte. “Procuro alertar sobre a diferença entre o grafite e a pichação. Nas palestras, falo sobre a arte, procuro também mostrar a eles que há um caminho a seguir fora do mundo das drogas, bebidas e das ruas. Meu maior objetivo é esse: tirá -los das ruas antes mesmo de irem para ela”, ressalta o grafiteiro. Essa forma de manifestação artística em espaços públicos, de acordo com o site da revista Brasil Escola, tem uma definição mais popular, como um tipo de inscrição

feita em paredes. O aparecimento do grafite na década de 70 se deu através de jovens que desenhavam em locais públicos, mas começaram a aperfeiçoar suas técnicas e desenhos. Embora o grafite tenha conquistado um espaço aceitável no Brasil, ainda é visto com preconceito.

Éder Flávio

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Cultura/Arte

O mundo do hip-hop sempre foi diretamente ligado ao grafite, pois, do mesmo modo que se manifesta por meio da dança, o grafite se expressa por meio de desenhos, pinturas e mensagens, e tanto um quanto o outro garantem a liberdade de expressão. Adeptos Apesar de sido criticado por muito tempo, porque alguns aspectos de sua expressão são considerados rabiscos, por outro lado, o grafite é uma arte de rua feita também de rabiscos, mas com qualidade artística e um toque de sofisticação. O problema é que parte da população ainda o considere apenas pichação e não aprova essa prática que deveria ser bem vinda, assim como outros tipos de manifestações artísticas.

Éder Flávio

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Entre os grafiteiros brasileiros mais famosos estão os gêmeos Eduardo Kobra e Ramon Martins. E entre os grandes nomes internacionais destacam-se Eric Grohe, dos Estados Unidos; Banksy, da Inglaterra; e Smug, da Escócia. Um grande projeto para mostrar mais sobre o grafite é o do músico Criolo, que vai lançar um documentário sobre como a prática é reprimida na alta sociedade, e seu espaço conquistado nas comunidades. Na região de Bauru, existem muitos grafiteiros que fazem bom uso da arte e querem mostrar o que ela realmente significa. O publicitário e ilustrador Éder Flávio, de Lençóis Paulista, começou no grafite no fim dos anos 90, por volta de 1998. “Sempre ilustrei, mas sentia que precisava de mais liberdade e de outras plataformas para o meu trabalho e conheci o grafite através dos Gêmeos, por revistas do segmento, pois na época a internet não possuía o poder que tem hoje”, comenta. Para as pessoas do meio, ou aqueles que exercem essa arte, o grafite é uma forma de protesto, de revolução. Éder Flávio comenta que o grafite, assim como a pichação, está presente no Brasil há muito tempo, e tem traços vindos dos tempos das “DJ” e da ditadura. “O grafite se concentra nos desenhos e no acabamento, além de focar mais no trabalho estético, nas técnicas, desde as minimalistas até as hiper-realistas”, explica o grafiteiro.


Saúde / Utilidade Pública

freeimages.com

HIV Um mal à espreita

Especialistas alertam que há riscos de incidência maior da epidemia entre jovens

Juliana Mesquita

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HIV é um dos grandes problemas da saúde pública. De acordo com Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, a faixa etária mais afetada pelo HIV é de 27 a 49 anos, em ambos os sexos. Isso se deve ao fato de esta faixa etária ser a mais sexualmente ativa, por consequência, a mais vulnerável ao vírus. De acordo com o Boletim Epidemiológico feito pelo Departamento de DST, desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2012, o Brasil registrava 656.701 casos de Aids (condição em que a doença já se manifestou). Em 2011, foram notificados 38.776 casos da doença e a taxa de incidência de Aids no Brasil foi de 20,2 casos por 100 mil habitantes. E a situação pode se agravar. O Departamento de DST alerta que há tendência de crescimento do HIV entre os jovens.

Os meios de comunicação enfatizam a forma de prevenção e contágio do HIV. Há campanhas, preservativos são distribuídos na rede pública de saúde, mas por que muitos jovens ainda não se previnem? De acordo com infecto-pediatra Renata Roledo Masotti, apesar das pessoas serem mais informadas, algumas perderam um pouco do medo do HIV. “Saber como se prevenir, a maioria sabe, só que elas nunca acreditam que o parceiro está contaminado com o vírus, acham que o contágio só acontece quando há infidelidade” , explica a médica. A estudante de enfermagem Larissa Garcia acredita que os jovens não se previnem pois se deixam levar pelo momento, depois é que vão se preocupar com as consequências do ato impensado. Solange Cardoso, professora do curso de Enfermagem da Universidade Sagrado Campus Magazine 2013 • 43


Saúde / Utilidade Pública

Coração e funcionária do Departamento de Saúde Coletiva em Bauru, acredita que a mensagem passada ao jovem sobre o HIV não o atinge de forma eficaz. “A mensagem precisa ser revista, pois ela não chega ao jovem de uma forma que ele compreenda e a coloque em prática”, explica. A médica Renata Roledo enfatiza que não há mais grupo de risco, todos estão suscetíveis ao HIV desde o momento em que não utilizaram o preservativo em uma relação. “Existem muitos casos de idosos que ficaram viúvos, voltaram a sair e adquiriram o HIV, por não usarem preservativos”, ressalta. O coquetel Os medicamentos antirretrovirais ou coquetel, como é chamado popularmente, surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do vírus no organismo. Eles não matam o HIV, vírus causador da Aids, mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Por isso, seu uso é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida de quem é portador da doença. Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente o coquetel antiaids para todos que necessitam do tratamento. Segundo dados de dezembro de 2012 do Ministério da Saúde, 313 mil pessoas receberam regularmente os remédios para tratar a doença. Atualmente, existem 21 medicamentos divididos em cinco tipos. Para combater o HIV é necessário utilizar pelo menos três antirretrovirais combinados, sendo dois medicamentos de classes diferentes, que poderão estar em um só comprimido. O tratamento é complexo, necessita de acompanhamento médico para avaliar as adaptações do organismo ao tratamento, seus efeitos colaterais e as possíveis dificuldades em seguir corretamente as recomendações médicas, ou seja, a adesão ao tratamento, por isso, é fundamental manter o diálogo com os profissionais de saúde, compreender todo o esquema de tratamento e nunca ficar com dúvidas. Mais informações em http://www.aids.gov.br/aids

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SAIBA MAIS SOBRE O HIV Como se contrai? Pode-se contrair o HIV no sexo sem camisinha - pode ser vaginal, anal ou oral; de mãe infectada para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação - também chamado de transmissão vertical; uso da mesma seringa ou agulha contaminada por mais de uma pessoa; transfusão de sangue contaminado; instrumentos que furam ou cortam não esterilizados. Sintomas Existem duas fases: Quando ocorre a infecção pelo vírus causador da Aids, o sistema imunológico começa a ser atacado. Na primeira fase, chamada de infecção aguda, que ocorre a incubação do HIV. Esse período varia de 3 a 6 semanas. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe. Por isso a maioria dos casos passa despercebido. A próxima fase é marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus. Mas que não enfraquece o organismo o suficiente para permitir novas doenças, pois os vírus amadurecem e morrem de forma equilibrada. Esse período, que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático. Com o frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns, chama-se fase sintomática. Os sintomas mais comuns são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento. E o exame? Em um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) ou nas diversas unidades das redes públicas de saúde. O exame pode ser feito de forma anônima e é gratuito. Se as pessoas têm uma vida sexualmente ativa, deve realizar exames e sem perder de vista que: a melhor prevenção é sempre usar preservativo.


ONG

Uma trajetória em prol da causa animal

Dedicação, carinho e atuação politizada marcam atuação de ativista em Marília

Mãos calejadas e pele rachada pelas árduas tarefas do dia. Vestia uma calça largada e camiseta marcada de patas dos mais diversos tamanhos. Sorriso simples no rosto e candura no olhar. Assim encontrei Tessa Elizabeth Carvalho, mais conhecida como Beth, da UPAM (União Protetora dos Animais de Marília São Francisco de Assis). Sempre muito solicita, Elizabeth abre os portões e me convida a entrar, mas não só ela. Junto ao falar manso da protetora, vários cães latem e balançam o rabo freneticamente, dizendo que também estão felizes com a visita. Lilica, Nega, Ceguinho, Bob e Lobinho são os primeiros a me cumprimentar com lambidas. Alguns passos adiante, outro portão surge e através de suas grades posso enxergar vários focinhos a cheirar o ar, captando o odor de outra pessoa por ali. Elizabeth está sempre à minha frente, guiando meu caminho por entre a pequena viela de paralelepípedos. Ao abrir os portões, já me avisa: “Cuidado, eles pulam alto e todos de uma vez!”. Dito e feito. Precisei levantar a câmera para o alto para que o equipamento não se tornasse também um alvo do afeto daqueles animais. Fui passando por entre os 31 cães que estavam naquele recinto, oferecendo um carinho aqui e ali, e cheguei na casa onde Elizabeth mora. Uma casa simples, sem luxo algum e um tanto bagunçada para os padrões tradicionais da arrumação. Elizabeth nasceu no dia 14 de junho de 1955, na cidade de Marília, interior de São Paulo, onde cresceu e vive até hoje.

Foto: Beatriz Avalone

Beatriz Avalone

Dara, uma labrador que foi abandonada na porta da Ong, brinca com um balde

A única escapada que Beth, apelido usado desde pequena, se deu durante a juventude, foi quando se mudou para São Paulo para cursar jornalismo na ECA-USP. A estadia por lá durou apenas os quatro anos de curso e Marília voltou a ser sua casa. Lá, voltou a estudar e concluiu o curso de filosofia pela Unesp e, a cada texto que lia, Campus Magazine 2013 • 45


ONG

Nêga e Lobinho, dois dos companheiros de Elizabeth

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A Upam conseguiu o registro de utilidade pública do município e ainda por cima uma área cedida pela prefeitura para abrigar os cães. E com a Beth sempre encabeçando todas as atividades. Mas por mais que lutasse pelos animais, percebeu que precisaria de muito mais força. Beth tentou a eleição para vereadora em Marília por duas vezes consecutivas e, por uma margem mínima na segunda tentativa, não entrou para o cargo. A perda foi sentida, mas não abalou sua esperança. Tentar de novo? Por que não? “Vou até o fim por eles. Minha vida é deles.” Sou convidada, então, a me levantar e conhecer o resto da ONG, quase num momento de despedida, pois Beth tinha várias atividades agendadas. Ao olhá-la conversar com os cães, pedir desculpa quando sem querer esbarrava em um deles e mesmo no amor impresso em atos tão simples quanto encher o pote de água, percebi a pessoa incrível que ali estava. “Não acho que abdiquei da minha vida, como muitos dizem. Eu só escolhi uma outra vida, uma outra família.” E quem não adoraria ter uma família onde a incondicionalidade do amor é a mais pura verdade? Elizabeth é um exemplo de paixão por uma causa. Como tantos outros que marcaram seus nomes na história da humanidade, Beth está marcando também o dela. Pode não ser no mundo todo, mas já tenho a marca dela no meu mundo. Uma marca que quis dividir com você aí, do outro lado do papel. Histórias assim inspiram. Inspiram-me e espero que façam o mesmo por você. Permita-se sorrir pelo abanar de um rabo.

Foto: Beatriz Avalone

a cada reflexão feita, sua paixão pela causa animal aumentava mais e mais. Beth enxerga os animais de outra forma. Semelhantes ainda não seria a palavra correta para ela. “São como a gente, a diferença está por fora e só por fora”, pondera ela quando perguntada sobre sua relação com os cães. Desde pequena Elizabeth era apaixonada por bichos, característica que vem de família, já que sua mãe recolhia animais abandonados nas ruas, dando a eles abrigo e alimentação. O primeiro cachorro, aquele ícone da infância, Beth não teve. Foram vários primeiros cães, gatos, passarinhos, tudo de uma vez e aos montes. A menina foi crescendo e mantendo em sua trajetória o amor pelos animais. Sua casa ganhava mais e mais moradores de quatro patas, assim como a casa de suas amigas protetoras. Dez, vinte, trinta cães em um espaço que, para a maioria das pessoas, comportaria no máximo 1% daquela quantia. Mas não para Beth. Todo o cão que via na rua passando por alguma necessidade, ela recolhia. Fome, sede, sarnas, pulgas e carrapatos eram os problemas mais fáceis que achava para resolver. Das doenças mais simples até os tumores irremediáveis, Beth estava ao lado do bicho, dando cada centavo necessário para sua melhora. Mas nisso ela percebeu que, se unisse forças com suas outras colegas protetoras, conseguiria uma maior expressividade junto à comunidade. E em maio de 2005 fundou a UPAM (União Protetora dos Animais de Marília São Francisco de Assis). A primeira ONG protetora de animais da cidade passou por diversos problemas até sua estruturação e aceitação por parte do poder público. Foram brigas noticiadas pelos veículos de mídia, ataques verbais em reuniões e ativistas em peso nas sessões da Câmara até que um acordo fosse selado.


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PARTICULAR Bruna Ferreira

O que você anda ouvindo? “Lauryn Hill é a dona de uma das mais lindas e encantadoras vozes já ouvidas e seu álbum “Miseducation of Lauryn Hill” traz uma mistura de vários ritmos, que vão de hip hop a soul. O título de seu CD está ligado aos aprendizados que a vida nos proporciona, aqueles que não estão ligados a uma “educação formal”. “Me encanta a capacidade de Lauryn Hill de capturar os sentimentos da mulher, seus conflitos e lutas internas e externas. Esse disco fala de amor, desde o seu contexto romântico até o espiritual. Letras bonitas, profundas, marcantes e inovadoras transformadas em uma musicalidade cheia de vida alma. Uma obra de arte atemporal, cheia de sentimentos traduzidos em música de qualidade!”

Viviane Rosin

é professora e tradutora.

Qual o filme da sua vida? “Um filme que considerei muito foi Uma Mente Brilhante, de Ron Howard. O filme verídico me chamou muita atenção pelo raciocínio lógico do matemático John Nash e o quanto é importante a lógica para a ciência. Entretanto, o ser humano pode falhar e o lado humano de sua esposa o equilibra novamente para poder colocá-la fora de seu mundo fechado. Então, nem tudo é ciência. É ciência, fé nas pessoas e amor ao próximo.”

Maricê Domingues Heubel

é coordenadora do Curso de Ciências Biológicas da USC

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Expediente UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO Profª Drª Irmã Susana de Jesus Fadel Reitora Profª Drª Irmã Ilda Basso Vice-Reitora e Pró-Reitora Acadêmica Profª Mª Daniela Luchesi Diretora do Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas Profª Mª Daniela Pereira Bochembuzo Coordenadora do Curso de Jornalismo CAMPUS MAGAZINE Publicação da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II (Revista) com o apoio das disciplinas Design Gráfico para Jornalismo e Fotojornalismo, do Curso de Jornalismo da USC. Editora de conteúdo e fotografia, professora e jornalista responsável: Profª Mª Érica Cristina de Souza Franzon (MTB 39.590) Editor de Arte e professor de design gráfico: Prof. Esp. Renato Valderramas Editor assistente de Arte: aluno João Gabriel Darros Falcade Edição final: Prof. Ma. Daniela Pereira Bochembuzo Tiragem: 1.200 exemplares. Edição 1 / Ano 2: Dezembro de 2013. Endereço para correspondência: USC/Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas. Curso de Jornalismo. Rua Irmã Arminda, 10-50, Jardim Brasil, Bauru – SP. CEP 17011-170. Telefone: (14) 2107-7255. E-mail: jornalismo@usc.br.

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Campus Magazine: revista-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade do Sagrado Coração / Universidade do Sagrado Coração – Ano 2, n. 1 (2013). – Bauru, 2013. 48p.: il. ; 15,0 x 23,0 cm Anual Texto em português ISSN 2317-3041 1. Ensino Superior. 2. Comunidade Universitária. 3. Jornalismo. I. Universidade do Sagrado Coração. CDD 378.05 Elaborado por Biblioteca Central “Cor Jesu”

EQUIPE DE REDAÇÃO Textos e fotografia: alunos da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II (Revista): Adriano Vannini, Amabilly Dias Ribeiro dos Santos, Amanda Domiciano, Amanda Lacerda Malavazi da Silva, Ana Laura Terra Bergoce, Beatriz Avallone, Beatriz de Souza Vieira, Bruna Ferreira da Silva, Caroline Figueiredo Durval, Cynthia Kalyne de Lima Feitosa, Deivide Alexandre Diz Ambrosio, Flávia Placideli, Flavio Luís Fogueral, Gabriel de Paulo Cochi, Gabriela Clemente Martinez, Ivana de Paula Oliveira Santos, João Gabriel Darros Falcade, Júlia Cardoso Furtado, Juliana Mesquita Santos, Karina Vieira Souza Alves Sant’Ana, Leonardo Gonçalves Lopes, Letícia de Toledo Garcia, Luciana Melo Nóbrega, Marcelo Gromboni de Oliveira, Marco Aurélio Nascimento, Maria Gabriela Nieto Leonel, Maria Luísa Bergamasco, Mateus Pereira Pessoa de Almeida, Mayara Giacometti Gigioli, Nathalia Faria Máximo da Silva e Samanta Ravazzi. Projeto gráfico e diagramação: alunos da disciplina Design Gráfico para Jornalismo: Adham Fillipe Marin, Ana Beatriz Garcia Santos, Ana Clara Veiga Zanata, Ana Lívia Rodrigues Ruiz, Barbara Wentz Gatti, Carolina da Silva Guidio Cachoni, Evelin dos Santo Nunes, Guilherme Müller Cardoso, Heidy Roxane Venturini, Heloísa Paulucci Casonato, Jair Domingues de Almeida Júnior, João Pedro Libório Godoy, João Vítor Silva Cordeiro, Juliana Pereira Pinheiro, Letícia Albuquerque Monteiro Aguiar, Lucas Murari Cabrero, Luís Felipe Zago Carrion, Mariana Ribeiro Camargo, Mayara Crepaldi Chaves, Natália Lemos Lima, Nayara Assis Fabiano, Renan da Silva Watanabe, Renato Francisco Sônego, Ricardo Moreira de Lacerda, Sandra Mara Aparecida Domingos Carvalho, Úrsula Bernardi Gambetti, Vítor Reghine Manfio e Watana Martins de Melo.


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