Um.Caso.de.Histeria.Três.Ensaios.sobre.a.teoria.da.sexualidade.e.outros.trabalhos

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freqüente o enfermo já sentir um alívio ao ver o médico entrar em seu quarto. Os médicos têm praticado o tratamento anímico desde sempre, ainda mais abundantemente em épocas remotas do que hoje em dia. Quando entendemos por tratamento psíquico o esforço de provocar no doente os estados e condições anímicos mais propícios para a cura, vemos que esse tipo de tratamento médico é, historicamente, o mais antigo. Os povos da antigüidade mal dispunham de outra coisa senão o tratamento psíquico; e nunca deixavam de apoiar o efeito das poções curativas e das medidas terapêuticas mediante um tratamento anímico insistente. Os conhecidos usos de fórmulas mágicas, banhos purificadores e invocação de sonhos oraculares dormindo no salão do templo, entre outros, só podem ter-se tornado curativos por via psíquica. A própria personalidade do médico adquiria prestígio por derivar diretamente do poder divino, já que, em seus primórdios, a arte curativa estava nas mãos dos sacerdotes. Assim, tanto naquela época quanto hoje, a pessoa do médico era uma das condições principais para promover no doente o estado psíquico propício a cura. Agora começamos também a compreender a “magia” das palavras. É que as palavras são o mediador mais importante da influência que um homem pretende exercer sobre o outro; as palavras são um bom meio de provocar modificações anímicas naquele a quem são dirigidas, e por isso já não soa enigmático afirmar que a magia das palavras pode eliminar os sintomas patológicos, sobretudo aqueles que se baseiam justamente nos estados psíquicos. Todas as influências anímicas que se revelaram eficazes na eliminação das doenças têm algo de incerto. Os afetos, a concentração da vontade, o desvio da atenção, a expectativa confiante, todas essas forças, que ocasionalmente eliminam a doença, deixam de fazê-lo em outros casos sem que se possa responsabilizar a natureza da doença pelo resultado diferente. Evidentemente, é o caráter autocrático das personalidades psiquicamente tão diversas que estorva a regularidade dos resultados terapêuticos. Desde que os médicos reconheceram com clareza a importância do estado anímico para a cura, ocorreu-lhes, naturalmente, fazer uma tentativa de não mais deixar a critério do enfermo o tanto de boa vontade psíquica que nele se produziria, mas forçar energicamente o estado anímico propício por meios adequados. Foi nesse esforço que teve origem o moderno tratamento anímico. Assim se produziu toda uma quantidade de modos de tratamento, alguns bastante evidentes, outros somente acessíveis à compreensão depois de hipóteses complexas. É evidente, por exemplo, que o médico, já não podendo hoje inspirar admiração como sacerdote ou como possuidor de um saber secreto, há de usar sua personalidade de modo a poder ganhar a confiança e uma parcela da simpatia de seu paciente. Já atenderá a uma distribuição conveniente que ele consiga esse resultado apenas com um número restrito de enfermos, enquanto outros, por seu grau de formação e suas inclinações, serão atraídos para a pessoa de outros médicos. Entretanto, com a abolição da livre escolha do médico, aniquila-se uma importante precondição para influenciar o doente em termos anímicos. Há toda uma série de meios psíquicos muito eficazes de que o médico deve privar-se. Ou


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