Em Órbita n.º 89 Julho de 2009 (Edição Especial)

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Em Órbita

Quinze segundos mais tarde, Aldrin ligou a câmara Maurer de 16 mm que havia previamente instalado num apoio no canto superior direito da sua janela. Como não tinha uma mira, ele ajustou a câmara o melhor que pôde para registar a sombra do Eagle com um pouco da superfície iluminada em cada lado. Armstrong entrou no campo de visão da câmara 30 segundos após ter sido ligada. “Fica onde estás um minutos, Neil,” disse Aldrin. Ao se preparar para a sua própria saída, Aldrin fechou parcialmente a escotilha para permitir que atravessasse o lado esquerdo da cabine, e não querendo que Armstrong prendesse o cabo na escotilha. “Podes abrir a porta um pouco mais?”, disse Armstrong, quando disse que podia continuar. “Muito bem,” disse Aldrin, e abriu completamente a escotilha para o espaço onde previamente havia estado. À medida que Armstrong se preparava para descer a escada, o Columbia passava para lá da zona de comunicação e sem a sua ligação a vontade de Collins em escutar o que Armstrong iria dizer quando desse o primeiro passo na superfície lunar, foi frustrada. No caso de Armstrong se ter esquecido de abrir o MESA, Aldrin perguntou, “Tiraste a MESA para o exterior?” “Vou tirá-la agora,” respondeu Armstrong. Ele localizou o anel D ao seu lado e usando a sua mão esquerda, puxou-o. A paleta no quadrante dianteiro direito do estágio de descida deslocou-se até quase á horizontal. “Houston, a MESA deslocou-se sem problema.” “Roger,” respondeu McCandless. “E aguardamos a vossa TV.” “O fusível da televisão está instalado,” relatou Aldrin. A transmissão seria feita pela antena de alto ganho.

Passeio lunar No plano de missão, o passeio lunar deveria ocorrer quando as antenas de Goldstone e do Observatório de Parkes na Nova Escócia do Sul, Austrália, tivessem uma linha de visão livre e capaz de fornecer 100% de redundância nestas grandes antenas. Porém, com o avançar das actividades, significava que a antena de Parkes, que não se podia deslocar completamente até ao horizonte, não podia receber os sinais até que a Lua estivesse bem alta no céu; e em qualquer caso, as rajadas de vento ameaçavam interferir nas operações. E como um problema na antena de Goldstone estava a degradar o sinal de televisão, uma antena mais pequena localizada no Centro de Rastreio de Honeysuckle Creek, a 40 km de Camberra, Austrália, tornara-se o principal receptor para a cobertura da saída. Construída em 1967, Honeysuckle Creek havia feito a cobertura de algumas missões anteriores mas, e tal como notou o oficial administrativo Bernie Scrivner, “Por alguma razão isto parecia ser muito mais importante; este era o dia pelo qual toda a gente na estação havia trabalhado e treinado.” O Primeiro-ministro australiano, John Gordon, juntou-se a um grande grupo de técnicos para testemunhar o evento. Às 11.15 locais, a Lua elevou-se no horizonte e o sinal era forte. A câmara Westinghouse a preto e branco fornecia 320 linhas de resolução a uma taxa de varrimento de 10 frames por segundo. Tal como reflectiu o técnico de televisão Ed von Renouard, “Quando estava sentado ali em frente do conversor esperando por um padrão no monitor de entrada, não me apercebia que o resto do mundo. Eu ouvi o Buzz Aldrin dizer ‘O fusível da televisão está instalado’.” O sinal chegou. “Quando a imagem apareceu pela primeira vez, era um puzzle indecifrável de blocos de negro no fundo e cinzentos no topo, e estava bissectada por uma linha diagonal brilhante. Apercebi-me que o céu deveria estar em cima – e na Lua o céu é negro.” Várias semanas antes, a NASA havia notado que quando a MESA estava aberta a câmara que nela estava fixada estaria orientada ‘de pernas para o ar’, e um interruptor havia sido instalado em cada estação de rastreio para colocar a imagem na posição correcta. Quando von Renouard accionou o interruptor “de repente tudo fez sentido”. À medida que um dos ecrãs Eidophor de 3 x 3 metros no controlo da missão piscou, originou aplausos na galeria dos observadores. “Estamos a receber uma imagem na TV,” anunciou McCandless. “Recebem uma boa imagem?” perguntou Aldrin. “Tem um grande contraste,” respondeu McCandless, “e está de pernas para o ar no nosso monitor, mas podemos discernir muitos detalhes.” De facto, a transmissão inicial para Houston era feita por um cabo desde Goldstone, onde os técnicos esperaram 30 segundos para colocar a imagem na posição correcta. Infelizmente, o problema com o sistema de conversão tornava a imagem cheia de contrastes. “Será que podes verificar a abertura que devo ter na câmara?” perguntou Aldrin, referindo-se à Maurer. “Aguarda,” respondeu McCandless. Como o movimento de rotação da MESA havia parado quase nos 90º, a imagem da televisão mostrava o horizonte ligeiramente inclinado para a direita. Vista por uma audiência em total espanto, Armstrong desceu cuidadosamente a escada de nove degraus. “Neil, conseguimos ver-te agora a descer a escada,” referia McCandless. As especificações do fato extraveícular requeriam que fosse capaz de proteger o astronauta de temperaturas entre os -155ºC e os 155ºC que se verificam nas zonas de sombra e nas zonas totalmente iluminadas pelo Sol mais o calor irradiado pela superfície,

Em Órbita – Vol.8 - N.º 89 / Julho de 2009

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