400 p a doenca como linguagem da alma

Page 197

vida. As conexões entre os nervos danificadas e especialmente às conexões dos nervos para os músculos, corresponde a falta de compromisso e a pouca disposição do paciente para a mediação entre suas próprias necessidades vitais e as exigências do mundo exterior. A medicina não está segura do fundamento físico da esclerose múltipla. A única certeza é a degeneração da capa de mielina que recobre os nervos, o que a longo prazo leva à perda da capacidade de condução nervosa. A enfermidade tem tantas faces e sintomas que a princípio é freqüentemente mal diagnosticada. Estabelecido o diagnóstico, a medicina acadêmica56 se cala a respeito, devido à implacabilidade e intratabilidade da doença. Esse procedimento, duvidoso em si mesmo, é especialmente absurdo com pacientes de esclerose múltipla já que, devido a seu padrão anímico, eles se vêem em uma situação desesperada sem diagnóstico. Como eles exigem funcionar mais do que bem e fazer tudo com perfeição, e além disso tendem a assumir eles mesmos toda a culpa, suas múltiplas deficiências os colocam em situações desesperadoras. Isso chega ao ponto de eles aceitarem o diagnóstico com verdadeiro alívio quando finalmente o recebem, já que este os libera definitivamente do ódio da simulação e da pressão sobre si mesmos e finalmente lhes dá um pretexto para relaxar ao menos um pouquinho o próprio perfeccionismo. Eles agora já não precisam mais poder tudo. A tendência de ranger os dentes e culpar-se a si mesmo, aliada a uma certa teimosia, são também um perigo para as interpretações que se apresentam. Indica-se aqui uma vez mais que nunca se trata de avaliação, ainda que o idioma faça com que pareça ser assim, mas sempre de interpretação. Quando se interpreta a vida do paciente com todos os seus fenômenos, ela não se torna melhor ou pior; ela se transforma em significado. Apesar de sua variedade, os sintomas circunscrevem um padrão básico. A sensibilidade dolorida da coluna vertebral, muito freqüente, decorre dos processos inflamatórios crônicos que se desenvolvem nas profundezas desse âmbito. Muitos afetados queixam-se de dores nos pés, o que denota como para eles é difícil o caminho, que na maioria das vezes não é o deles mesmos. As dores nos pés e nas pernas mostram como lhes é doloroso agüentar o caminho que está sendo percorrido. Elas forçam à condescendência, a assumir a própria dolorosa fraqueza. O fato de que se continue afirmando que a doença transcorre sem dores deve soar macabro 197


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.