Andréa M. C. Guerra - A Psicose

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A psicose

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co por excelência. Lacan, nesse seminário, chega mesmo a falar sobre esse ponto em relação à função da arte ou do artesanato. “O problema todo reside nisto – como uma arte pode pretender de maneira divinatória substancializar o sinthoma em sua consistência, mas também em sua ex-sistência e em seu furo?” Para ele, a consistência equivale ao registro do imaginário; o furo, ao simbólico; e a ex-sistência, ao real. Os registros foram mostrados por Lacan na forma de círculos ou aros que se entrelaçam. A mostração, na matemática, é a maneira de apresentar o desenho de um caso único e possível, diferente da demonstração, que mostra os casos genéricos e os impossíveis. Assim, Lacan diz ter descoberto a realidade operatória da análise com a aplicação do estudo dos nós ao psiquismo humano. Ele faz vários desenhos de nós representando os diferentes recursos que Joyce desenvolveu com sua escrita. E que podemos estender aos casos que atendemos na clínica para pensar a direção do tratamento analítico para eles. Assim, sobre a lógica fundada na matemática do nó borromeano, Lacan infere a construção do sinthoma em Joyce, que realiza, pela escrita, o nome próprio, sem o apoio do Nome-do-Pai. Do Nome-do-Pai se pode também prescindir. Pode-se também prescindir dele com a condição de dele se servir. Assim, a hipótese de sua escrita como sinthoma surge e ganha evidência. Fazer enigma, desejar um nome que seja lembrado, ser artífice que sabe fazer sinthoma fez de Joyce paradigma de uma modalidade de solução na psicose: a obra, pelo viés da escrita.


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