Revista-ADVFN-Agosto/12

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Small Caps – página 44

11 ações que farão a diferença ANO 5 | AGO |

R E V I S TA

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EXEMPLAR DO ASSINANTE b r. a d v f n . c o m / r e v i s t a

CONTEÚDO PA R A FA ZER O SEU DINHEIRO CRESCER

Blue Chips – página 20

OLIMPÍADAS 2012

Quem leva a medalha de ouro na bolsa brasileira? Pergunte a quem sabe – página 07

Carlos Alberto Sardenberg Livro do mês – página 36

O sexto sentido nos negócios BM&F – página 62

Opções: aproveite todo o potencial do mercado

Entrevista – página 12

Trends – página 16

Direito do invetidor – página 64

“Só é possível se reinventar com inovação”, afirma Felipe Matos

4 empresas, um único objetivo

e VOCÊ, ACHA QUE ESTÁ PROTEGIDO?




Í N D I C E

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TRENDS | 4 empresas, um único objetivo.

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SMALL CAPS | 10 ações que farão a diferença.

CAPA - BLUE CHIPS | Olimpíadas 2012: quem leva a medalha de ouro?

05 EDITORIAL | Qual é o DNA da empresa em que você investe?

36 LIVRO DO MÊS | Mente intuitiva: o sexto sentido nos negócios.

58 eu na bolsa | No cotidiano do dinheiro, com Japa Trader e Picapau Trader

06 ESPAÇO DO LEITOR

38 MEIO DE CAMPO | Qual o perfil dos novos investidores no Brasil?

62 BM&F | Opções: aumente as suas e aproveite todo o potencial do mercado.

42 COMO FUNCIONA | Recompra de ações

64 Direito do Investidor | Você, acha que está protegido?

07 PERGUNTE A QUEM SABE | Carlos Alberto Sardenberg. 08 EM AÇÃO | Um ano depois. 12 entrevista | “Só é possível se reinventar com inovação”, afirma Felipe Matos. 34 LINHA DO TEMPO | Veja como o Ibovespa se comportou no mês passado. ADVFN BRASIL Diretores Bruno Benatto Torres João Luis Benatto Torres Michael Hodges William Medley ADVFN

52 GLOSSÁRIO DO MERCADO | O que é P/L?

57 Luz, Câmera ... Ações | Facebook: a rede social A ADVFN é publicada 12 vezes ao ano pela ADVFN Editora. Publicidade Anuncie na ADVFN Bruno Benatto Torres bruno@advfn.com.br (11) 4196-6606 Atendimento ao cliente revista@advfn.com.br (41) 3093-6604 | (41) 3093-6608

REDATORES Aroldo Glomb Brasílio Andrade Neto Larissa Moutinho

ADVFN Editora. Todos os direitos reservados. A reprodução total ou parcial deste material só é permitida mediante solicitação por escrito e desde que citada a fonte. O conteúdo dos artigos publicados é de responsabilidade de seus autores.

DESIGN E Diagramação Daniel de M. Keller

Atenção! Apesar dos cuidados na coleta e manuseio, não nos responsabilizamos pelas informações e dados contidos em nossas matérias. Não fazemos qualquer tipo de recomendação de investimento. Não nos responsabilizamos assim por perdas,

ADVFN

66 AGENDA DO INVESTIDOR

54 TUTORIAL ADVFN | 7 + ADVFN!

Editor Francisco Tramujas • 4959 - PR

REVISÃO Joice Lemes

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danos (diretos, indiretos e incidentais), custos e lucros cessantes. PRÉ-IMPRESSÃO (CTP) E IMPRESSÃO IBEP Gráfica Ltda. www.ibepgrafica.com.br (11) 2799-7799 DISTRIBUIDORA Treelog www.treelog.com.br OPERAÇÃO EM BANCAS Assessoria Edicase www.edicase.com.br Para maiores informações sobre nós, acesse: br.advfn.com/revista


E D I T O R I A L

Qual É o DNA

da empresa em que você investe?

O

hábito de comer ovos quentes em pequenas taças de louça os ingleses exportaram para a Índia, sua antiga colônia. Logo, o caminho natural era que as companhias indianas importassem da Inglaterra as pequenas taças de louças para atender o novo hábito dos locais. E isso ocorreu por sucessivos anos, em que 100% das taças de louças presentes na Índia para consumir os ovos quentes eram inglesas. Só que o domínio do mercado inglês sobre as terras indianas sucumbiu bem antes da guerra entre Inglaterra e Índia. As empresas inglesas passaram a notar a queda das suas exportações para a Índia, quando a importação das taças pelos indianos chegava próxima de zero. Foi então que os ingleses resolveram pesquisar, para descobrir o que estava acontecendo, e descobriram que os alemães haviam conquistado quase 100% do mercado de pequenas taças de louças para consumir ovos. “What? Alemães vendendo taças de louça para se comer ovos? Só podem ter conquistado o mercado vendendo o produto por um valor mais baixo”, afirmava algum, ainda atônito, inglês. Para a surpresa ainda maior dele, as peças produzidas pelos alemães custavam o mesmo valor e eram feitas quase no mesmo padrão das produzidas pelos ingleses. Se o valor praticado pelos alemães fosse menor, como a Índia era uma colônia inglesa, o English Team poderia proteger o mercado dessa concorrência, mas como esse não era o caso...

Ainda seguindo a investigação para saber porquê perderam mercado para os alemães os ingleses descobriram que os ovos das galinhas indianas eram, e ainda são, ligeiramente maiores do que os das galinhas inglesas. Como os ingleses exportavam as taças com o padrão inglês. As taças serviam para os ovos indianos, mas acomodavam de forma imperfeita. Os alemães repararam nesse detalhe e customizaram as taças, fizeram o produto no tamanho perfeito para acomodar os ovos indianos. A história acima foi baseada no texto A essência do comércio, do poeta Fernando Pessoa, no qual o escritor exalta

a importância de estudar o mercado. Porém, a pergunta que fica é outra: "Como passar para o DNA de uma empresa a inspiração do pensar fora da caixa?". A General Electric, criada por Thomas Edison (o inventor da lâmpada) em 1890, é até hoje uma das maiores companhias do mundo e mantém, desde os tempos de Edison, a inovação como forte traço da companhia. Tivesse essa ficado apenas na invenção da lâmpada, serim grandes as chances desta ter desaparecido. A Basf, empresa alemã, era líder na produção de fitas cassete e de videocassete. O que ela fez com o fim desse mercado? O que sobrou da empresa hoje? Atualmente, a companhia é uma das maiores no setor químico do mundo. Ela mudou e é dona também da Suvinil (líder no mercado brasileiro de tintas). O que seria da Basf se ela não tivesse migrado para setores para os quais o futuro projetava cenários melhores? Acompanhe na seção Trends deste mês histórias de companhias brasileiras que viram a luz no fim do túnel. Elas buscaram através das adversidades oportunidades para fazer seu negócio crescer, muitas destas, inclusive, transformaram suas ações, que eram consideradas “micos” pelo mercado, em boas para se investir. Vale a pena ficar atento à gestão da companhia e também ao mercado! Confira também a partir da página 20 a matéria especial sobre as Olimpíadas de Londres e descubra quem merece levar a medalha de ouro.

Um abraço e bons investimentos,

Francisco Tramujas Editor-chefe da ADVFN Visite o site: br.advfn.com/revista E-mail: francisco@advfn.com.br

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E S P A Ç O

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L E I T O R

raso de entrega do o comunicado de at ós ap r ito le do ta Respos exemplar de julho. esperando anlo aviso, pois fico nh pe o ad rig ob to o aprendido ui m , Caros amigos a da revista todos os meses. Te ns , tanto pela sioso a chegad m a ADVFN, vocês estão de parabé apresentado m co muitas coisas vista como pelo respeito que tê so demonstra qualidade da re com comunicados como este. Is merecedoras aos assinantes ando com pessoas de caráter e er. Continuem que estamos lid o que a vida venha a lhes oferec de todo o sucessus os acompanhe sempre. assim e que De mos Ricardo Oliveira Ra

vista. Também rabenizá-los pela re pa de ia ar st análise técnigo de te en ca ias acer ér Primeiram at m s ai m ar te ersado em ei estou aqui parasple tesouro direto. Já havíamos comnv s esse tipo ai r itie ve od staria de ca, comm go e to ei sp re enviem o a e de m outra oportunidarevista. Aproveito para pedir que . na al mbi de matéria ) sobre a guerra ca Special Report (PDF Abraço! Fábio Gianluppi

Envie você também uma sugestão de pauta para o e-mail: revista@advfn.com.br Atenção: se você é nosso assinante, envie um e-mail para: revista@advfn.com.br e solicite gratuitamente o Special Report (PDF) Great investor. E, se você ainda não é assinante, o que está esperando para se tornar um? Assine a revista agora mesmo! Acesse: br.advfn.com/revista

OBRIGADO PELO AVISO!

O que significa? mpanhias com Blue chip ssa forma as cocado superior a de as ad in m no er São de e avaliação de m grande liquidez R$10 bilhões. o termo Small cap a brasileira ainda não utilizamosmpa nhias Como na bols seria a denominação das co maiores s ue ia (q p nh ca pa com middle e), formado pore as blue chips, todas as de médio portps qu es or en com m e que as small ca iadas abaixo de R$10 bilhões e/ou .” al empresas av são consideradas small caps pouca liquidez

Para ter sucesso no mercado financeiro, ou o investidor utiliza um modelo no mercado ou é melhor não investir. Frase de Clem Chambers, CEO da ADVFN mundial

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P E R G U N T E

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Q U E M

S A B E

Cinco perguntas

para Carlos Alberto Sardenberg por Larissa Moutinho

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otivados pelas dúvidas que chegaram à nossa redação sobre macroeconomia, nesta edição trouxemos à ADVFN a opinião do jornalista e palestrante Carlos Alberto Sardenberg. Com mais de quatro décadas de jornalismo, Sardenberg se destaca por suas opiniões políticas e econômicas, atuando à frente do programa CBN Brasil, pela rádio CBN, e como comentarista econômico dos programas noticiosos da CBN; do Jornal das Dez, da GloboNews; e do Jornal da Globo, da TV Globo. É ainda colunista dos jornais O Estado de S.Paulo e O Globo e mantém o site: www.sardenberg.com.br, onde posta informações e comentários econômicos. Sardenberg é autor dos livros O assunto é bolsa, em parceria com Mara Luquet; Neoliberal, não. Liberal (2008); O assunto é dinheiro (2006), também em parceria com Mara Luquet; O assunto é vinho (2007), com Renato Machado; e Aventura e agonia nos bastidores do cruzado (1987). Hoje, além das atividades jornalísticas, realiza palestras ao redor do Brasil sobre conjuntura, cenário nacional e internacional e perspectivas políticas e econômicas. Confira a seguir o que Sardenberg espera para o desempenho econômico do Brasil nos próximos anos e para a crise na zona do Euro. Você tem sinalizado que estamos abrindo e vivendo algumas oportunidades no Brasil, com destaque para as seguintes áreas: Pré-sal, Alimentos, Bioenergia, Grandes eventos e Ascensão à classe média. O que o investidor de cada uma dessas áreas pode esperar? Eu diria que o investidor terá boas oportunidades nesses setores, especialmente com empresas privadas. O governo, que normalmente não é lá essas coisas, vai muito mal com suas estatais. Veja a Petrobras, cujas atividades são tão “politizadas” pelo governo. Mas lembra-se da frase de Rockefeller? O melhor negócio do mundo é uma companhia de petróleo bem administrada. O segundo é uma

petrolífera mal administrada. E um cínico acrescentou: o terceiro pode ser a Petrobras. Temos ambiente político para crescer o real potencial dessas áreas? Acho que o governo tem mais atrapalhado, mas a necessidade impõe mudanças. Veja a privatização de aeroportos, antes considerada um pecado mortal. Precisamos de reformas microeconômicas que melhorem o ambiente de negócios, tanto para o setor privado quanto para o público. O governo espera demais do consumo doméstico. Precisa abrir espaço para os investimentos, de novo, privados e públicos. Um imenso programa de privatização (concessões) de aeroportos, portos, rodovias e ferrovias é um passo essencial. Qual é a sua visão sobre a indústria brasileira? Quais áreas estão sendo beneficiadas pelo momento atual e quais são as principais prejudicadas? Há problemas do momento, como o baixo crescimento mundial, mas a dificuldade maior está no “bloqueio estrutural” – essa combinação perversa de custo tributário, custo trabalhista e custo burocrático (incluindo a obtenção de licenças) afeta todos os setores. O que você espera do Euro no atual cenário? A Europa vai caminhar para federalizar e proibir a emissão de títulos nacionais, mas lentamente. O Brasil fez isso com as dívidas estaduais, mas eram estados dentro de uma federação. Na Europa, são países, governos nacionais que terão de abrir mão de parte importante de seus poderes. Acho que o Euro segue em frente, a União Europeia é uma belíssima construção, trouxe riqueza para todos, inclusive para a Grécia, por exemplo, cuja renda per capita aumentou várias vezes. Eles farão de tudo para preservar o que foi tão difícil construir. Mas é complexo, exige reformas. É coisa para anos de trabalho. AGO 12

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1 ano depois

A árvore do Bradesco dá frutos

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or uma feliz coincidência, a sigla do Brasil nos Jogos Olímpicos é BRA; o banco patrocinador da equipe (BBDC3) simplesmente adicionou o “desco”, em uma campanha inteligente e patriótica. Fora dos patrocínios, o banco também tem boas notícias para seus investidores, como um fundo de R$500 milhões por ano para investimento em canais digitais – incluindo desde melhorias nos sistemas de caixa eletrônico, novos serviços para celulares e ações em mídias sociais. Inclusive seu sistema para realizar pagamentos através do Facebook, recentemente.

preço: há mais de 1.841.520.000 (ou, para facilitar, quase 2 bilhões) de ações preferenciais do Bradesco no mercado. Em comparação, existem 502.699.242 de ações ordinárias, que podem ser um pouco afetadas pela recompra.

Também no horizonte do banco estão muitas fofocas de mercado sobre possíveis aquisições que seriam feitas por ele. Como sempre, com esses rumores infundados e mais R$2,00 você compra um cafezinho.

Além disso, o banco registrou um lucro recorde no primeiro trimestre de 2012, faturando R$2,738 bilhões, o quarto maior lucro já registrado no trimestre por bancos de capital aberto. O resultado impressiona, apesar de ser apenas 3,9% maior do que o lucro conseguido no primeiro trimestre de 2011. O mercado responde positivamente.

Mais próximo dos bolsos dos acionistas está o pagamento de juros sobre capital próprio, equivalente a R$0,1881 por ação. Outro projeto do banco que deve ajudar a manter o preço de seus papéis é o programa de recompra de ações, que teve sua validade prorrogada até o final de dezembro de 2012. O banco pretende comprar até 7,5 milhões de BBDC3 e outros 7,5 milhões de BBDC4. No caso desta última, não deve fazer cócegas no 8

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2 anos depois

OSX (OSXB3): Para quem não quer ficar a ver navios

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nalistas do HSBC disseram recentemente à revista Exame que o mercado está errado ao subvalorizar o estaleiro de Eike Batista. Mesmo com todas as mudanças de comando, a empresa vai muito bem, obrigado. A presidência vai para Carlos Bellot, até então diretor de engenharia, e que antes acumulava 30 anos de Petrobras nas costas. O antigo presidente, Luis Eduardo Carneiro, vai assumir a “joia da coroa X”, a OGX (OGXP3).

A nova diretoria vai encontrar uma empresa com bastante dinheiro em caixa – os R$2,7 bilhões contratados junto ao BNDES para as obras da Unidade de Construção Naval (UCN) de Açú, em São João da Barra, Rio de Janeiro. Aliás, os investidores da OSX estão muito bem servidos nesse sentido: a página de relacionamento com os investidores da empresa traz várias fotos do estaleiro mostrando o avanço, mês a mês, das obras. O estaleiro começar a produzir poderá ser uma grande notícia para quem entrar na empresa agora: dois anos atrás, a ação da OSX valia aproximadamente R$18,00. Hoje, caiu pela metade, e pode ser comprada a R$9,00.

Os cachorros de agosto Dizem que agosto é mês de cachorro louco. Veja algumas ações que se parecem com cachorros de desenhos animados e bem saudáveis. EMPRESA

PARECE

POR QUÊ?

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A Ç Ã O

ACONTECEU NO MERCADO Contra a crise

O Mercosul quer aumentar o imposto de importação de uma série de produtos, para tentar fortalecer o mercado comum dos países membros. Bens produzidos nos países integrantes do Mercosul seriam excluídos dessa nova taxa, ou seja, o Brasil vai continuar a exportar para Argentina e Uruguai (o Paraguai está sob judice) sem a nova cobrança.

Trem doido na agricultura

� Perspectiva de crédito – Não é só o

governo que trabalha com a possibilidade de juros cada vez mais baixos. O Santander ( SA NB11) afirma esperar que as taxas e juros dos financiamentos nos cartões de crédito caiam pela metade até 2014. E, com mais crédito, há mais consumo. Em alta

� Produção industrial – Se na ponta do

crédito tudo vai bem, na produção as coisas apertam um pouco. A produção industrial no Brasil teve queda de 0,9% em maio de 2012, em relação à produção de abril do mesmo ano. Isso fez com que o governo ampliasse a isenção de IPI em itens como geladeiras – dados do IBGE.

A quebra da safra de soja nos Estados Unidos e o investimento do governo na melhoria do agribusiness, através de subsídios e facilidade na compra de equipamentos, podem ajudar daqui para frente, mas por enquanto não refrescam o caso da São Martinho (SMTO3). A empresa divulgou os resultados do que considera o quarto trimestre de 2012 (janeiro a março de 2012), com diminuição significativa no lucro. Primeiro uma explicação: a empresa segue o calendário da safra de cana-de-açúcar, assim, seu ano fiscal vai de abril a março. E o preço do açúcar e álcool não ajudou. O lucro líquido do quarto trimestre de 2012 foi de R$126,6 milhões, uma queda de 11% em relação ao quarto trimestre de 2011.

Yes, nós temos plástico

Mais uma empresa brasileira indo às compras lá fora: a Braskem (BRKM3) comprou uma unidade de separação de polipropileno da petrolífera Sunoco, nos Estados Unidos. A unidade Markus Hook fica próxima à cidade de Chester, na Pensilvânia, e seria desativada pela Sunoco. A Braskem não informa quanto pagou.

Em baixa

� Crescimento... nos Estados Unidos – Se o mundo todo está

esperando uma recuperação da economia norte-americana, o FMI ligou a ducha de água fria: os Estados Unidos devem crescer apenas 2% este ano, e aproximadamente 2,25% em 2013. A previsão anterior do Fundo era de 2,1% em 2012 e 2,4% em 2013.

Equipamentos

Em mais uma tentativa de estimular a economia nacional, o governo lança o PAC (Programa de aceleração do Crescimento) Equipamentos, um programa que promete estimular a compra de veículos e equipamentos para servir a saúde, defesa civil e educação brasileiras. Serão R$8,4 bilhões vindos, como sempre, do BNDES. Entre os equipamentos que podem ser adquiridos pelo programa estão: •

Até 8,5 mil ônibus escolares, o que pode beneficiar empresas como Marcopolo (POMO4).

Mais de 160 vagões, o que pode beneficiar empresas de logística como a ALL (ALLL3).

Temos juros cada vez menores, um real competitivo e solidez fiscal. Além disso, estamos com mudanças importantes em curso para fortalecer a economia. 10

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Guido Mantega, Ministro da Fazenda, em apresentação para empresários brasileiros.



E N T R E V I S T A

“Só é possível se reinventar

com inovação” Foto: Divulgação

PERFIL Felipe Matos

Afirma Felipe Matos, sócio-fundador do Grupo Instituto Inovação

Função: Sócio-fundador do Grupo Instituto Inovação. Experiências anteriores: Cantor de samba de raiz nas horas vagas, fanático por novas tecnologias eletrônicas e, fã de Steve Jobs.

p o r A r o ld o G l o m b

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ocê já deve ter percebido que, nas últimas edições, estivemos falando bastante sobre inovação e empreendedorismo – e por um bom motivo. Com inovação, há empreendedorismo, desenvolvimento pessoal e de mercado e novas soluções. Um projeto start-up é perfeito para quem pensa diferente, sempre agindo com seus conhecimentos, aprimorando-se na busca de informações e buscando soluções que trarão benefícios futuros. Não são essas também as características de quem investe na bolsa? Coincidência... Por isso, nesta edição da revista, nós conversamos com Felipe Matos, sócio-fundador do Grupo Instituto Inovação. Além de cantor de samba de raiz nas horas vagas, ele é um fanático por novas tecnologias eletrônicas e, como não poderia deixar de ser, fã de Steve Jobs. Um pouco sobre o Grupo Instituto Inovação O conceito do grupo é o desafio de mudar o mundo para melhor – e a chave é a inovação! Passados 10 anos de vida, eles já atuaram na aceleração de várias empresas de base tecnológica usando muitos expedientes. Eles catalisam, favorecem, facilitam e aproximam indivíduos e organizações, transformando ideias promissoras e bons projetos em negócios de sucesso. A empresa de Felipe bate muito na tecla das relações, das decisões e das práticas empreendedoras. O que foi plantado lá no início continua a crescer até hoje. Basta ver as ações do grupo e perceber que até hoje muitos interessados em inovação o procuram.

De onde veio esta paixão por tecnologia?

Sou um apaixonado por tecnologia desde pequeno. Comecei a programar com 12 anos de idade e, aos 14, tinha um site onde escrevia sobre tecnologia, tema que sempre me fascinou. Na sequência, montei minha primeira empresa de tecnologia, aos 16 anos, e não parei mais. 12

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E N T R E V I S T A

Percebi que era importante atuar nesse gap, pois era uma grande oportunidade.

Mudar o mundo com inovação é um utopia ainda ou já é uma realidade?

O mundo só muda com inovação. Sem inovação, fica tudo como está, certo? As transformações na sociedade vêm acontecendo cada vez mais rápido, não há como ir contra.

Qual foi a primeira empresa na qual vocês trabalharam em cima, ajudando e facilitando o desenvolvimento?

A primeira foi a Ecovec, uma empresa de biotecnologia, de um pesquisador que criou um dispositivo composto de armadilha e atraente químico capaz de atrair e monitorar o mosquito da dengue, uma inovação mundial. A tecnologia ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais e já ajuda a combater a dengue em diversas cidades do Brasil e do mundo.

Fotos: Aline do Espirito Santo

No Chile, temos exemplos de start-ups que deram certo, em Israel também. Muitas empresas que foram participar destas iniciativas não encontraram no Brasil o cenário próprio para este desenvolvimento. Está melhorando aqui?

Em qual momento você percebeu que este era o negócio ideal para se investir pesado?

O ecossistema de empreendedorismo nacional vem se consolidando e existe ainda um grande gap entre os projetos em estágio nascente e aqueles que conseguem se viabilizar, captar recursos e tornarem-se bem-sucedidos.

Melhorou sim, sem dúvida. É claro que ainda temos um longo caminho pela frente, se nos compararmos aos ecossistemas mais maduros, como o Vale do Silício ou mesmo Israel. O exemplo chileno é belo e deve ser seguido, embora eu ache que é cedo para dizer que houve sucessos ali. Acredito que o surgimento de mais casos de sucesso e exemplos, que têm sido cada vez mais recorrentes, vai ajudar a desenvolver ainda mais o nosso mercado.

O que uma empresa quer quando procura vocês?

Em geral, quer tornar-se mais atrativa para os investidores, validar as premissas e modelos de negócio, encontrar parceiros de negócio relevantes, escalar mais rápido, encontrar o time correto, etc. Enfim, aumentar suas chances de sucesso. ago 1 2

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E N T R E V I S T A

Vocês trabalham imitando um sistema solar no organograma da empresa. Como funciona cada um destes “astros”?

Cada unidade do Instituto Inovação é independente e realiza seu trabalho, seja com consultoria, investimentos, aceleração, educação... exploramos nossas sinergias através de encontros periódicos entre os sócios para buscar ter uma visão do todo e gerir o sistema.

Em 2007, com o apoio da Antera Gestão de Recursos, vocês ganharam o edital do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e começaram a operar no maior fundo de capital semente do Brasil, o Criatec, cujos principais cotistas são BNDES e Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Como foi este processo e como está hoje?

Tem sido maravilhoso trabalhar com o BNDES e o BNB neste que é um dos mais ousados e interessantes projetos de capital empreendedor do Brasil. Desenvolvemos

metodologias inovadoras e fomos até onde nenhum outro fundo ou veículo de investimento tinha ido, investindo capital semente em empresas em estágio muito inicial, oriundas dos principais centros de pesquisa do país. Ainda é cedo para falar dos resultados, pois o fundo precisa completar seu ciclo e gerar retornos aos acionistas, mas posso dizer que até agora temos tido excelentes retornos do mercado, das empresas e dos nossos investidores.

Em 2009, foi criada a Inseed Investimentos, gestora de capital empreendedor de todo o grupo. Como ela atua?

A Inseed gere fundos de capital empreendedor, como o Fundo Criatec, em parceria com a Antera, o fundo exclusivo Pura Inova e o nosso mais recente, o Fundo de Inovação em Meio Ambiente. A Inseed cuida de todo o processo de gestão do fundo, desde prospecção de empresas a serem investidas, relacionamento com os investidores, gestão do portfólio e saída.

Para quais empresas hoje vocês olham e falam com orgulho do sucesso delas?

São muitos os exemplos, felizmente. Não gostaria de citar uma em detrimento de outras. Temos empresas aceleradas como a Ecovec e investidas como a Bug – um biofábrica de insetos que foi eleita pela Fast Company uma das mais inovadoras empresas do mundo! A CVD Vale fabrica diamantes sintéticos que crescem em pontas metálicas, com aplicações em diversas indústrias, em um processo tecnológico totalmente inédito no Brasil. Na Start-up Farm, estamos apoiando start-ups como a Easy Táxi, que chama um táxi com um clique no smartphone. São exemplos fantásticos!

O Grupo Instituto Inovação tem em seu DNA uma maneira de pensar, sentir e agir no mundo.

Veja quais são os objetivos estratégicos deles!

Aprender a fazer – “Traduzimos as oportunidades do mercado em empreendimentos inovadores e rentáveis, de forma ágil e flexível, com conhecimento e propósito, compartilhando valor para todos.” Aprender a conviver – “Construímos e nutrimos relacionamentos de confiança, que evoluem de forma autêntica e espontânea.” Aprender a ser – “Inspiramos pessoas através da inovação para a realização de sonhos empreendedores, gerando resultados sustentáveis em prol do bem.” Aprender a conhecer – “Cultivamos e respeitamos processos vivos, com responsabilidade e ritmos definidos, que garantam eficácia e agilidade, buscando fazê-los de forma envolvente, divertida e à vista.” Missão – “Concretizar novas ideias, conectando pessoas para a transformação da sociedade.” Visão – “Buscamos um mundo onde as pessoas descubram e realizem sua essência de forma criativa, original, divertida, cooperativa, responsável e empreendedora, em harmonia com a natureza. Para essas pessoas, fazer o bem para si, para o outro e para o mundo é o principal produto de suas jornadas de vida.”

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Fotos: Aline do Espirito Santo


E N T R E V I S T A

Sistema Solar de Sucesso Veja quais são as principais empresas que estão no sistema desenvolvido pelo Instituto Inovação e quais são as suas funções dentro de toda a galáxia empreendedora!

Planeta Verde – Recente spin-off do Grupo, o Startup Farm é o maior programa de aceleração de negócios digitais do Brasil. Sua missão é ajudar a construir start-ups espetaculares, de forma inovadora, prática e vivencial.

Planeta Azul – A Inventta é a consultoria especializada em gestão da inovação do Grupo Instituto Inovação. Inventta é um acrônimo para: Inovação – Venture – Transferência de Tecnologia – Aceleração. O slogan é “Inteligência em Inovação”.

Planeta Azul Escuro – A Inseed é uma gestora de recursos de terceiros, cujos investimentos estão concentrados em empresas nascentes de base tecnológica, com perfil inovador e elevado potencial de crescimento.

Satélite Verde – O Fundo Criatec foi criado em 2007, pelo BNDES, e é gerido pelo consórcio formado pela Antera Gestão de Recursos e a Inseed, gestora de capital empreendedor. O Criatec é o maior fundo de capital semente do Brasil, com orçamento de R$100 milhões.

Satélite Azul – A Pura Inova Inovação Ltda. possui uma marca brasileira de dermocosméticos, que valoriza os benefícios da água mineral e de ativos naturais biotecnológicos. Foi concebida para criar e ousar na forma de construção de projetos, ideias e marcas.

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Fonte: http://institutoinovacao.com.br

O Sol – O Grupo Instituto Inovação é a primeira empresa criada por Paulo Renato, Alexandre Alves e Felipe Matos em 2002.

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T R E N D S

4 empresas

um único objetivo p o r A r o ld o G l o m b

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vo Hering, presidente da Cia Hering (HGTX3 e HGTX4), destacou certa vez qual era o motivo de a empresa ter uma das maiores longevidades no Brasil: “Hoje, o mundo muda muito rápido e a capacidade de reinventar o próprio negócio é vital”.

Pense um pouco: como uma empresa poderia competir com gigantes mundiais, e no caso especificamente da Hering, competir com a indústria chinesa (focada em vender preço baixo) e ganhar? Por mais que muitos acreditem que o governo precisa dar uma

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força, alguns exemplos podem ser maravilhosos e inspiradores para entender como é possível ganhar espaço com as próprias pernas. Puxando pela memória (de quem já passou dos 30 anos, pelo menos), a Hering não tinha os cortes de roupas competitivas de hoje e as Havaianas eram chinelos para classe média/baixa. Veja só como era a imagem das Havaianas antigamente, na letra da banda Joelho de Porco, a canção São Paulo By Day, de 1976: • • • •

Bebericando cachaça Sandália havaiana Tentando assaltar Na Praça Don José Gaspar

Acha que um produto com esse estigma teria como dar um salto de qualidade e mudar o conceito? Sim, a luz no final do túnel existe – e não é o trem


T R E N D S

vindo ao contrário! Acompanhe a seguir estes e outros casos de companhias brasileiras que utilizaram as adversidades para mudar o posicionamento e lucrar mais.

Totvs (TOTS3)

O bom é saber que algumas empresas daqui batem de frente com gigantes mundiais e estão ganhando a batalha. A Totvs mantém a liderança quando o assunto é sistema de gestão empresarial (ou ERP), ela nem dá margem para a alemã SAP. Olha só como é forte. Em abril deste ano, quando foi divulgada a 23ª edição da pesquisa anual “Mercado Brasileiro de TI e Uso nas Empresas” pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a concentração do mercado brasileiro de sistemas de gestão operacional apontam 82% em três empresas, sendo que a Totvs tem a maior fatia (38%), com a SAP em segundo lugar (28%) e a Oracle com a correndo por fora (16%). E a chave do sucesso está lá no início! Quem poderia imaginar que, em 1969, um bureau de serviços criado por Ernesto Mário Haberkorn chamado Sistemas Integrados de Gerência Automática Ltda. (Siga) iria tão longe nessa área ainda em desenvolvimento (anos 60, lembrem-se) e com as poucas empresas existentes naquela época dominando tudo? Eles trabalhavam praticamente com serviços gerais na área de informática e, com o passar do tempo, desenvolveram um sistema para gerenciar tudo em um único programa (o sonho de um empresário: automação de processos administrativos, tudo prático)! E tudo avançaria quando surgiram os microcomputadores, no início dos anos 80! A companhia não perdeu tempo e os gestores fundaram a Microsiga Software S.A., com o objetivo de ser ponta na criação de softwares para as novas máquinas! Reflexo no Mercado Falando com Flávio Bongiovanni, RI da TOTVS, ele faz uma análise sobre o posicionamento da companhia: “A gente enxerga que tem um potencial muito grande nas vendas dentro das pequenas e médias empresas, porque a penetração dentro deste mercado ainda é muito baixa. Vemos no futuro mais e mais empresas integradas, o que vai impulsionar o crescimento da Totvs”. E as novas gerações ajudam nisso, uma vez que elas já chegam com essa cultura mais enraizada de viver com o software todos os dias. “O próprio governo ajuda, com ações como a criação de um sistema público de escrituração digital que integra toda a parte de notas fiscais, de livros fiscais e contábeis. É uma coisa que a gente vê como boa, um impulsionador para as empresas de software”, completa Flávio. Todos esses fatores, aos poucos, vão refletindo na bolsa também, mas é uma questão cultural. “O brasileiro tem medo de bolsa, ainda mais de empresas que não tenham uma planta industrial, mas sim pessoas. Os projetos partem de outra vertente e grande parte do investimento nesse tipo de empresas acontece nos salários dos profissionais, e não em maquinários os insumos, uma mudança e tanto. A gente vê bastante isso nos grandes investidores, os grandes fundos já olham para a gente”, afirma Flávio. Um ponto mencionado por Flávio é que, na medida em que o setor se mostrar rentável, o número de interessados aumentará na mesma proporção.

O que aprendemos? Desenvolvendo seus próprios sistemas, a Totvs se posiciona na ponta, sempre ao lado das empresas líderes mundiais com acordos tecnológicos e de negócios. Esses acordos favorecem que os produtos dela estejam em evidência e, consequentemente, com melhorias constantes. “Diga-me com quem andas...” vale aqui (Dell, Microsoft, IBM, Intel, Oracle, Novell e Progress).

Embraer (EMBR3)

Outra empresa que está literalmente voando alto com o nome do Brasil é a Embraer, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBR3)! Para o terceiro trimestre deste ano já está certa a venda de aviões produzidos pela companhia brasileira para a Kenya Airways, através da Africa Export-Import Bank (Afreximbank), 10 aeronaves Embraer-190s. Exatamente a metade do que a companhia africana está comprando (que também adquiriu nove modelos do 787-800s Dreamliners e um 777-300ER, ambos da Boeing). A companhia é um dos nossos exemplos mais bem-sucedidos e um dos segredos é estar sempre atento com o que o mercado pede. Por exemplo: a Embraer e a Aviation Industry Corporation of China (AVIC) acabaram de assinar um acordo para que sejam fabricados na China os jatos executivos Legacy 600/650 – aproveitando toda a infraestrutura, os recursos financeiros e mão de obra da joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry Co., Ltda . (HEAI). Os dois lados dessa parceria perceberam o crescimento da demanda dos aeroplanos executivos na China. Resultado? O primeiro avião será entregue no final de 2013. AGO 12

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A Embraer é de ponta mesmo! No final do ao passado, ela recebeu o Prêmio FINEP de Inovação 2011, na categoria Grande Empresa. Um reconhecimento e tanto justamente por inovar em muitas áreas, além de ser um exemplo em processos de gestão e desenvolvimento tecnológico, como no Planejamento Estratégico, no Programa de Desenvolvimento Tecnológico e no Programa P3E (Programa de Excelência Empresaria Embraer), só para citar alguns. A Embraer, nesta premiação, levou a melhor sobre a WEG Equipamentos Elétricos (WEGE3 e WEGE4) e a Braskem (BRKM3 e BRKM5). Neste ano, a companhia já entregou 21 aeronaves comerciais e 13 executivas (12 jatos leves e um jato grande), o que ultrapassou o número de entregas do início do ano passado. Tudo isso reflete na Receita Líquida por segmento, com uma participação maior dos negócios de Defesa e Segurança e Aviação Executiva representando respectivamente 20,1% e 13,2% da Receita Líquida da empresa. Consequentemente, os negócios da aviação comercial e outros contribuíram com 65,7% e 1,1%, respectivamente.

Voando em terras nacionais

A empresa, criada em 19 de agosto de 1969, nasceu com uma mescla de capital misto e controle estatal apoiado pelo governo brasileiro. Fundada pelo coronel aviador (hoje na reserva), engenheiro de aviação pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e ex-ministro Ozires Silva, a Embraer foi a solução para um país que não estava presente no mercado aéreo, mesmo tendo na sua história o pai da aviação, Santos Dummont. O projeto do visionário Ozires Silva veio bem antes, quando ele ainda era do ITA, um centro formador de engenheiros e técnicos. Foi o acaso que lançou os dados e deu a oportunidade para o nascimento da Embraer. Imagine você que, durante a ditadura militar, o então presidente do Brasil, marechal Humberto Castelo Branco, estava seguindo para a base de Guaratinguetá. Até aí tudo bem, mas o tempo não ajudava e acabou prejudicando a aterrissagem da aeronave. Eles tiveram que esperar no aeroporto militar de São José. Na época, o major aviador Ozires viu a oportunidade, foi até o presidente e pediu que construísse uma fábrica de aviões, aproveitando o projeto do avião Bandeirante (criado no Centro Técnico de Aeronáutica (CTA) da FAB). E não é que a ousadia deu certo e veio o sim que deu início à Embraer. O que facilitou um pouco essa instalação foi o dinheiro estatal, é verdade. Mas esse tipo de suporte 18

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precisava de um valor muito grande – não haveria outra saída naqueles tempos. A iniciativa privada deu as costas, então o sonho teve essa largada oficial por parte dos nossos governantes. A companhia foi privatizada anos mais tarde, em 1992, e hoje possui capital aberto na bolsa de valores brasileira. O que aprendemos? É possível ter ajuda do governo sem interferência direta! Se a iniciativa privada nem deu atenção, muitos poderiam apenas desistir ou partir para outro projeto. Mas, quando se quer muito alguma coisa, nada pode tirar essa luz. Reflexos de sucesso nos ares mundiais!

Hering (HGTX3 e HGTX4) – Quem melhor vende o meu produto?

A Hering (foi nossa capa da edição 48, em março de 2012) é a empresa típica desta seção. A família alemã Hering chegou ao nosso país (mais precisamente em Blumenau, Santa Catarina) e não tardou para dar início às suas atividades. Desde 1878, a empresa está atuando firme e forte, mas precisou dar uma guinada para conseguir competir e ganhar mais espaço. Percebam que esse conceito de mudar partiu deles mesmos, uma empresa que está no mercado há mais de cem anos! Nos anos 90, a companhia agiu para se reposicionar no mercado. Aí que está o exemplo bom, uma empresa familiar e centenária teve a ousadia e coragem de sair do lugar comum e arriscar tudo – e conseguiram! Agregaram valor aos produtos de suas marcas e qualificaram tudo. Após anos atuando como fabricante e distribuidora de suas roupas, em outubro de 1993, a empresa decidiu criar o conceito de lojas próprias, onde poderia vender o conceito de qualidade aos seus produtos, fugindo da concorrência direta com malharias chinesas, que só competiam por preço baixo. A loja-piloto Hering Store, no Shopping Via Parque (RJ), nascia naquele ano com essa aposta. Quem apostaria nela naqueles dias? Quantas pessoas duvidaram? Resultado: a Hering Store já passa de 147 lojas pelo país, 10 na América Latina e uma loja na Arábia Saudita. E, desde então, a rede aposta e investe na qualificação de sua distribuição, saindo do mercado antigo deles (supermercados, cadeias de lojas e atacadistas), onde a venda baseada em preço baixo só derrubava o lucro da companhia. A gerente de marketing, Karin Hering, destacou em uma declaração sobre a empresa que a estratégia deles é “crescer de forma ordenada, consolidando


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a valorização da marcas e contando com a parceria de empreendedores com perfil varejista e uma forte identificação com as marcas Hering, PUC e Dzarm.” O que aprendemos? Não fique parado, estagnado, esperando que penas o nome da sua empresa seja suficiente para continuar firme e forte. O mundo se reinventa a cada dia e, se algo novo ameaça o seu negócio (novas marcas de roupas, novas grifes, etc.), busque alternativas mais lucrativas para o seu negócio e se reinvente!

Havaianas (ALPA3 e ALPA4) – Em busca do lucro perdido

As Havaianas mudaram em 1993, quando a empresa queria realmente transformar a sua imagem – que estava acabando com todo e qualquer lucro da empresa! A marca estava enraizada na mente das pessoas como chinelo de pobre (literalmente), mas como mudar o foco?

Para encontrar o posicionamento e mudar sem depender de ninguém (de mercado, de governo, de nada), eles tomaram as rédeas e partiram para o ataque. Para reverter esse quadro, que durava desde 1962, o departamento de marketing e o escritório de publicidade AlmapBBDO detectou que muitos consumidores viravam as solas das sandálias – justamente para deixar tudo igual, na mesma cor das tiras. Assim, vieram as Havaianas monocromáticas, que são as chamadas Top. Eles não ficaram apenas nas pesquisas, mas ouviram consumidores, perceberam o que eles faziam com o produto, etc. Então, começaram com quatro cores ainda de borracha, hoje já passam de centenas de modelos, que variam de cor, modelo, altura, desenho (estampa), etc. Para mostrar essa nova cara, muitos artistas conhecidos (lembram-se do Lázaro Ramos na praia tirando onda com argentinos? E a campanha da TPM, mais recente?) acabaram participando de campanhas de publicidade ostensivas. E junte tudo isso com embalagens modernas, displays chamativos, um ar mais jovem que em nada lembrava os chinelos que o Chico Anysio anunciava nos anos 80. A estratégia deu certo e a companhia saiu da rota do buraco, deixando de lado o padrão de produto para classes menos favorecidas (que lhe rendia margens menores de lucro) para migrar aos patamares da moda. A mudança de rumo fez da marca algo muito maior, mundial, e hoje é possível comprar um par de Havaianas em mais de 70 países do mundo!

Alpargatas (ALPA4) Antes de falar das Havaianas, vale dar uma olhadinha em quem está no suporte: a Alpargatas. Engraçado como um símbolo brasileiro do mercado de hoje tenha nascidoas com um escocês oriundo da Argentina em 1907! Estamos falando de Robert Fraser, que se associou a um grupo inglês e deu início ao embrião da empresa, a Sociedade Anonyma Fábrica Brazileira de Alpargatas e Calçados, que mais tarde passou a ser São Paulo Alpargatas Company S.A. O que ajudou foi o cenário nacional do período e seus produtos eram perfeitos, com as lavouras de café – e não demorou para o sucesso das roupas levarem a Alpargatas até a bolsa de valores de São Paulo. Na época da Primeira Guerra Mundial, eles quase quebraram (pela falta de matéria-prima e os muitos doentes com a famosa Gripe Espanhola acabaram dificultando a produção). Outra ironia (para muitos) é o fato de que a quebra da bolsa, de 1929 em Nova Iorque, ajudou a empresa, uma vez que seus sapatos com preços populares eram praticamente o único tipo de calçado para os recém-atingidos pela crise. Se o mundo estava afundando, por que eles iriam juntos, ora? O grande um salto adiante na história, a década de 50, foi o divisor de águas. Eles lançaram o famoso tênis Conga e estiveram presentes na primeira conquista do Brasil em Copa do Mundo (em 1958), quando patrocinaram as transmissões do mundial na Rádio Bandeirantes – além, claro, da construção de Brasília, cujos trabalhadores usaram o Sete Vidas (mais barato, etc.). Dando outro salto no tempo, podemos citar que, no ano 2000, a Alpargatas adere ao Nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa, e a Camargo Corrêa torna-se sua principal acionista – e surge uma nova visão: ser uma empresa global de marcas desejadas

O que aprendemos? Ouça o seu público para dar a ele o que ele quer. Veja onde investir antes de pensar em agir.

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OLIMPÍADAS 2012 Quais empresas devem levar a melhor na bolsa de valores? por Larissa Moutinho

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este mês em que ocorrem as Olimpíadas, a revista ADVFN embarcou nesse espírito, que desde 776 a.C. movimenta humanos a procurarem superar seus limites, e fomos ouvir o mercado para escalar as empresas brasileiras que também estão em busca de superar suas marcas e representar bem o Brasil em 2012. Na cabeça, uma ideia: quais setores devem se destacar na BM&FBovespa (BVMF3) neste próximo semestre e nos próximos anos? E, em cada um deles, quais as três melhores empresas no momento? Em nosso corpo de jurados, a consultoria LAFIS dita as expectativas em relação aos setores e três corretoras elegem as três empresas que vivem o melhor momento e dão suas opiniões sobre o cenário atual. São elas:

Toro Investimentos, representada pelos sócios e analistas Alessandro Helpa e Mehanna Hamad Mehanna.

SLW Corretora de Valores e Câmbio, representada pelo analista-chefe Pedro Galdi.

Banco do Brasil, que reuniu seu analistachefe, Nataniel Cezimbra, e os analistas Vitor Penna e Carlos Daltozo.

Cada corretora teve liberdade para opinar apenas sobre os setores em que mais vê perspectivas positivas na atual conjuntura econômica e a respeito das ações que analisam. Confira os setores e empresas que prometem “bombar” neste segundo semestre e nos próximos anos e monte sua carteira vencedora!

ENERGIA ELÉTRICA

Esporte: Atletismo, 100 metros rasos Conhecida como a rainha das corridas de velocidade, 100 metros rasos destaca-se pela rapidez desta prova, que pode ser disputada em menos de 10 segundos. A melhor marca desse esporte é do atleta jamaicano Usain Bolt, cujo apelido é nada menos do que “Raio”. Dispensa maiores apresentações para lembrar o setor elétrico, não é mesmo? A seguir, leia a análise da Lafis sobre esse setor.

Geração

"O setor de geração de energia tem respondido ao consumo interno em serviços e aos investimentos públicos e privados, incentivando a construção de usinas – principalmente no que se refere a energias renováveis. A demanda residencial e comercial deverá seguir a mesma tendência positiva, enquanto o consumo da indústria será um pouco mais contido, dado o ritmo mais desacelerado das atividades industriais. 20

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A expectativa é de que o total de potência disponível no Sistema Integrado Nacional (SIN) alcance 682.601 MW/h em 2012 (alta de 2,5% em relação a 2011), sinalizando as novas usinas em operação e investimentos em outras matrizes energéticas. Vale ressaltar que, a partir deste ano, o estado do Rio de Janeiro conta com sua primeira usina eólica e novos parques eólicos têm sido instalados na região nordeste e sul. Dessa forma, espera-se para o faturamento do setor de geração em 2012 por volta de R$188,6 bilhões (aumento de 4,0% em relação a 2011). Para 2013, a Lafis vislumbra um faturamento em torno de R$195,4 bilhões (+3,6%/12) e para 2014, R$205,3 bilhões (+5,1%/13)."

Transmissão e Distribuição

"Para acompanhar o crescimento de geração de energia, o setor de transmissão deverá ampliar sua malha indo de acordo com a necessidade de uma maior quilometragem de linhas para


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a transmissão da energia gerada. O volume total de investimentos necessários para tal gira em torno de R$39 bilhões, sendo R$24 bilhões em linhas de transmissão e R$15 bi em subestações, incluindo as instalações de fronteira.

do setor de transmissão e distribuição de energia elétrica, projeta-se um faturamento em torno de R$134,7 bilhões em 2012 (+6,5%/11); R$142,6 bi em 2013 (+5,9%/12) e R$148,7 bi para 2014 (+4,3%/13).

Sobre as instalações já licitadas, serão investidos nos próximos anos R$26 bi, sendo cerca de R$16 bi em linhas de transmissão e R$10 bi em subestações. Para o faturamento

Estes resultados se justificam pela alta da tarifa média de fornecimento de energia, além da ampliação da extensão da rede básica de transmissão esperada para os próximos anos." Faturamento

2012 Var. (%)

Valor (R$)

OURO: COELCE (COCE3, COCE5 e COCE6) – Distribuidora de energia do Ceará, a Coelce foi eleita a melhor distribuidora de energia elétrica do Brasil pela 14ª edição do Prêmio Abradee (2012), concedido anualmente pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Na mesma oportunidade, ela conquistou o primeiro lugar nas categorias Avaliação pelo Cliente, Responsabilidade Social e Qualidade da Gestão e ficou em segundo lugar na categoria Gestão Operacional, entre as distribuidoras com mais de 500 mil consumidores. Opinião da SLW: “Ela é uma distribuidora de energia, operando no Ceará semelhantemente ao que a Eletropaulo realiza em São Paulo. O papel COCE5 sobe 25% este ano, a recomendação é de compra, com preço justo de R$42,00 e preço atual em bolsa de R$39,00”. Opinião da Toro Investimentos: “Com a Eztec(EZTC3) e Eternit (ETER3 e ETER4), esta é uma ação que a gente tem há muito tempo. É uma companhia de energia do Ceará que possui excelentes múltiplos, rentabilidade e é eficiente, foi eleita pela Abradee a melhor empresa de energia elétrica no Brasil. É uma empresa muito boa, com dividendos excelentes e que, até algum tempo atrás, ninguém citava, agora a cobertura dela melhorou bastante. Ela é a principal indicação”. PRATA: CEMIG (CMIG3 e CMIG4) – Preferida pela SLW, mas não citada pelas demais corretoras, a Cemig completou 60 anos em 2012 e foi premiada pela Agência Estado e pela Economática como uma das dez melhores empresas com desempenho satisfatório e bom retorno aos investidores. Além disso, foi premiada pela re-

2013 Var. (%)

Valor (R$)

2014 Var. (%)

Valor (R$)

Fonte: Lafis Consultoria.

SETOR

vista IR Magazine em três categorias: Empresa de Energia e Serviços, Melhor Encontro com a Comunidade de Analistas de investimentos (empresas com valor de mercado acima de R$3 bilhões) e Melhor Conference Call. Opinião da SLW: “É uma empresa principalmente de geração, na qual no passado não houve ingerência do governo de Minas Gerais no seu processo de expansão, ela é muito forte, até mais do que a Copel (CPLE3, CPLE5 e CPLE6), do Paraná. O papel valoriza 49% este ano, a recomendação é de compra e o preço justo R$50, com preço em bolsa a R$38,00”. BRONZE: ELEKTRO (EKTR4) – A Elektro atende 2,2 milhões de clientes de 223 cidades do estado de São Paulo e 5 do Mato Grosso do Sul – numa área de mais de 120 mil quilômetros quadrados – e responde por 11,5% da energia elétrica distribuída no estado de São Paulo. A empresa foi eleita pela sexta vez a melhor distribuidora de energia elétrica do país, entre as companhias com mais de 500 mil clientes, pela Abradee, e também foi reconhecida em outras duas categorias: Avaliação pelo Cliente e Gestão Operacional. Opinião da Toro Investimentos: “A Elektro possui um dos maiores Dividend Yield, ROIC e ROE e um dos menores EV/EBIT entre as operadoras de eletricidade e é uma das melhores distribuidoras de energia do país, com a Coelce, tendo ganhado vários prêmios: • Prêmio Abradee 2012. • XIII Prêmio Consumidor Moderno de Excelência em Serviços ao Cliente. • Guia Exame de Sustentabilidade 2011. • Prêmio Guia Você S/A Exame. • Prêmio Melhor Empresa para Trabalhar em 2011”.

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Mineração/Petróleo

Esporte: Atletismo, halterofilismo

A união desses dois setores foi proposital por dois motivos. Primeiro: o mercado e muitos investidores gostam de comparar as duas gigantes desses setores, Vale (VALE3 e VALE5) e Petrobras (PETR3 e PETR4), na hora de optar por investir em uma ação. Segundo: por seus tamanhos e tradições, essas duas empresas movimentam boa parte da bolsa de valores, uma vez que os desempenhos de seus papéis costumam influenciar diretamente o índice Bovespa. É por isso que aqui brincamos que, se elas fossem um esporte, seriam o halterofilismo: pelo fato de carregar nas costas o peso de intervenções governamentais e da própria bolsa. Confira a seguir, a opinião da Lafis.

Mineração

"A produção interna de minérios responde aos inúmeros investimentos no setor e sua demanda é sustentada em patamares elevados pela China, que dificilmente irá desapontar, mesmo assumindo uma acomodação ou até desaceleração de sua atividade doméstica. Além disso, esperam-se novos investimentos estrangeiros (principalmente dos Estados Unidos) em infraestrutura que demandarão minérios brasileiros. Ademais, pelos inúmeros investimentos no setor, pedidos de licenças de exploração de jazidas e melhor detalhamento do solo brasileiro, haverá uma expansão da capacidade produtiva. Assim, espera-se um faturamento nominal de cerca de R$132,1 bilhões para 2012 (valor 16,0% acima do alcançado em 2011). A expectativa é de que os ajustes no preço do minério de ferro não oscilem de forma abrupta, tendo pequenas altas, o que não deve prejudicar sua aquisição, além do surgimento de novas formas de precificação desse minério. O setor deverá manter um mercado interno aquecido, o que se traduz ao montante nominal do faturamento, que deverá ser por volta de R$143,7 bilhões (+8,8%/2012) e para 2014, R$156,2 bilhões (+8,7%/2013)."

Petróleo

"No início de 2012, o preço do petróleo se manteve em patamares elevados, inclusive superiores aos registrados no mesmo período de 2011. Ademais, dado o movimento de embargo ao petróleo iraniano, o preço da commodity deve se manter elevado durante todo o ano. Em âmbito nacional, a produção do setor apresentou recorde nos três primeiros meses de 2012, tendência essa que deve permanecer até o fim do ano. Desse modo, com aumentos no preço e também na quantidade produzida e comercializada, a expectativa é de que o faturamento do setor cresça 15,3% em 2012."

Combustíveis – Distribuição

"A demanda por gasolina deverá crescer 18,4% neste ano, movimento que deverá impactar na elevação de seu preço. O consumo de diesel deverá também se elevar em 6,0% em 2012. A LAFIS baseou suas projeções para 2012, principalmente, no comportamento positivo da demanda, influenciada principalmente pelas atividades agrícolas e industriais. O faturamento do setor de combustível deverá apresentar resultados satisfatórios em virtude da manutenção da atividade econômica em um nível satisfatório, crescimento do rendimento médio e massa salarial, bem como a expansão das vendas de automóveis leves e pesados. Quanto aos anos seguintes, o crescimento do PIB brasileiro contribuirá para o aumento das vendas de combustíveis, além da frota de veículos de passeio, fruto do aumento da renda e das facilidades na obtenção do crédito. Cabe ainda ressaltar a significativa expansão do faturamento em 2014, muito influenciada pela alta proura de combustíveis, tanto por pessoas físicas quanto empresas relacionadas à Copa do Mundo." Faturamento

SETOR

2012 Var (%)

Valor (R$)

2013 Var (%)

Valor (R$)

2014 Var (%)

Valor (R$)

Fonte: Lafis Consultoria.

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OURO: VALE (VALE3 e VALE5) – Unanimidade entre os analistas, a Vale comanda o setor de mineração, fortemente recomendada principalmente pela demanda chinesa por minério de ferro. Opinião da SLW: “A Vale é a melhor do trio por seus fundamentos. O preço do minério de ferro continua em um bom patamar e, mesmo com a crise europeia, não há expectativa de que caia a um patamar abaixo de US$120,00. A China é o grande produtor de aço , produz 45%, e é o grande consumidor de minério de ferro do Brasil, da Austrália e da Índia. O Brasil, por ter uma reserva de minério de ferro muito rica, terá sempre uma demanda importante. Além disso, a Vale é muito forte em níquel, tem vários projetos de ampliação de capacidade, inclusive em minério de ferro, e isso vai fazer com que, lá na frente, quando o mundo voltar a crescer com mais solidez, ela esteja preparada para atender à demanda adicional. A valorização desse papel no ano está em 10,11% e a recomendação é de compra, com preço justo de R$55,42”. Opinião da Toro Investimentos: “Em múltiplos, a nossa preferida é a Vale. O setor está barato, a empresa como um todo está com números baixos, de P/L, de Ebitda, mas continua com margens boas e a gente não acredita que a China vá desacelerar como estão achando. De todos os setores, acreditamos principalmente em commodities, e de todas elas, na Vale”. Opinião do Banco do Brasil: “Não tem como falar em mineração sem falar de Vale. A empresa está com uma estratégia forte agora, o novo presidente tem focado investimentos nos ativos que considera mais estratégicos, estão pensando até em vender alguns ativos e focar naqueles que têm perspectivas maiores e que, consequentemente, trazem retorno maior para os acionistas. Este ano, as incertezas são bastante grandes e a gente acredita que na Vale os papéis estão sendo tradados de acordo com os dados que vão saindo. Então, se a China divulga determinado dado um pouco acima das expectativas, já traz retorno sobre esses papéis. A perspectiva para 2012 é de que a economia lá sofra um arrefecimento em relação aos últimos anos, mas em uma economia com um PIB enorme, e que deve chegar a 8% de crescimento, ainda é muito grande, muito consistente, então por isso ela é top pick em relação às outras”. PRATA: PETROBRAS (PETR3 e PETR4) – Única recomendação entre os analistas para o setor petrolífero, a Petrobras vem abaixo das recomendações sobre a Vale devido aos riscos de produção e de intervenções governamentais. Opinião da SLW: “Nesse setor, escolho a Petrobras ON (PETR3), que está este ano com valorização de 7,67% e tem recomendação de compra. OGX (OGXP3) e HRTP (HRTP3) a gente não recomenda, Manguinhos (RPMG3 e RPMG4) também não”. Opinião do Banco do Brasil: “Recomendamos a Petrobras, de preferência a PETR4, que tem maior liquidez para o investidor. No longo prazo, a empresa tem vários pontos críticos, como a capacidade de produção. No preço atual, a Petrobras está muito descontada e o principal fator é que há três anos a empresa não está estável na produção e, desde 2003, ela não atinge a meta que estabelece. Mas quem acompanha a Petrobras vê que ela é outra desde o pré-sal, a empresa deu um salto e se criou muita expectativa em relação a ela. Nos últimos anos, ele não andou no ritmo que os investidores desejavam e aí algumas coisas descontaram o preço do petróleo. Hoje, o preço está convergindo para uma taxa abaixo dos US$100,00, mas no longo prazo tem muita coisa para acontecer, a Petrobras tem possibilidade de fechar parcerias com outras companhias e pode trazer resultados interessantes, até no nível de governança, uma vez que a presidente da companhia, Maria das Graças Foster, enfatiza muito eficiência operacional”.

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Opinião da Toro Investimentos: “No Brasil, não tem outra como a Petrobrás, não é porque agora a OGX (OGXP3) caiu que a gente está deixando ela de lado, a gente já não gostava dela desde 2007. Operamos bastante OGX, estamos comprados em alg umas e vendidos em outras, porque são papéis que facilitam operações de curto prazo, tem volatilidade, tem liquidez, mas são papéis meramente especulativos – estamos falando de análise técnica. Para colocar em carteira, como uma aposta, acreditando na gestão da empresa, não recomendamos”. BRONZE : MMX ( MMXM3 ) – A empresa é opção apenas do Banco do Brasil, uma vez que SLW e Toro investimentos preferem não citá-la pelo momento que vivem as empresas do empresário Eike Batista. Nataniel Cezimbra, analistachefe do Banco do Brasil, e Vitor Penna, analista do BB, têm outra visão. Opinião do Banco do Brasil: “A MMX tem foco mais no mercado interno, está exportando muito pouco, porque ainda não tem porto, ela só tem contrato com o porto da CSN, então a perspectiva para a MMX deve melhorar a partir do ano que vem, quando o superporto sudeste irá inaugurar e a empresa terá uma capacidade de exportação de 50 milhões de toneladas por ano. A perspectiva de produção de minério dela é de passar de 7 para 25 milhões de toneladas, então acredito que o futuro é positivo para a MMX mais a partir de meados do ano que vem. Nós estamos com o preço em revisão para ela, este ano ela está bastante volátil, mas a médio prazo a recomendação ficaria de compra. Ela tem muitos investidores estrangeiros posicionados, que já é uma característica das empresas de Eike Batista, e há o próprio risco de ser uma companhia dele, uma vez que ela acaba sendo bastante influenciada pelos dados operacionais das outras empresas do empresário. É o que aconteceu este mês quando saíram os dados da OGX (OGXP3) e o papel da MMX caiu 15%. Em termos fundamentalistas, não seria tão justa essa análise, mas o mercado com certeza leva em consideração os dados das outras empresas de Eike Batista para avaliá-la. Mas a MMX é uma das primeiras empresas que deixou de ser pré-operacional, desde 2010, enquanto há outras empresas do grupo que ainda estão totalmente pré-operacionais”.

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Siderurgia e metalurgia Esporte: Hipismo

Esporte que começou a ser difundido no Brasil em 1911, o hipismo sempre foi tido como mais elitista e é tradicional nas competições Olímpicas. Ele ganhou nova dimensão no Brasil na década de 20, quando uma missão militar francesa chegou ao país e trouxe uma melhora na técnica do esporte. Quer mais um link de siderurgia e metalurgia com o hipismo, além da tradição? A medalha de ouro desse setor costuma patrocinar esse esporte, uma vez que a família é apaixonada e praticante de hipismo. Você consegue adivinhar qual é?

Siderurgia

"A siderurgia nacional enfrenta algumas adversidades como o alto custo da energia, o preço do carvão metalúrgico e a concorrência com produtos importados no que se refere aos produtos manufaturados. No curto prazo, na indústria lida com a concorrência externa em razão dos baixos preços do aço, porém tem investido na verticalização de sua produção para se tornar um segmento mais competitivo em termos internacionais. Condizendo com este cenário, o faturamento siderúrgico deve ficar em torno de R$78,8 bilhões em 2012 (alta de 9,7% em relação a 2011); no médio e longo prazos, as perspectivas são positivas graças aos programas governamentais, como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, além dos investimentos em exploração de petróleo (pré-sal) e infraestrutura para os eventos

esportivos, que farão o mercado interno mais aquecido. Em 2013, o faturamento ficará em torno de R$85,6 bilhões (valor 8,6% acima em 2012) e em 2014 R$88,7 bilhões (+3,7%/13)."

Fundição

"A indústria de fundição brasileira permanece em alerta e ainda se atém ao alto nível das importações de peças fundidas – menos custosas em relação às nacionais. Isso porque as empresas brasileiras arcam com despesas elevadas, principalmente de energia e altos preços de algumas matérias-primas. A fundição nacional conta com algumas fragilidades, como a vulnerabilidade diante do câmbio, a oscilação dos preços dos seus insumos e a incerteza do cenário externo (prejudicando suas exportações). No entanto, alguns incentivos governamentais se mostram presentes neste ano, o que pode favorecer o faturamento do setor. A estimativa do faturamento para 2012 é em torno de R$20,8 bilhões (alta de 9,7% em relação ao mesmo período de 2011). Espera-se um aquecimento advindo da continuidade das obras de infraestrutura previstas no PAC e no Minha Casa, Minha Vida, além das obras para a Copa do Mundo, Olimpíadas e exploração de petróleo." Faturamento

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Fonte: Lafis Consultoria.

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OURO: GERDAU (GGBR3 e GGBR4) – Preferência para duas das três instituições de análise, Banco do Brasil e SLW, a Gerdau vem soberana devido ao seu principal produto, aços longos, que está sendo menos impactado do que os aços planos.

dita que ela deva manter essa posição por enquanto e, à medida que o mercado melhor, venha a se desfazer aos poucos, mas acreditamos que a aquisição efetiva não venha a acontecer.

Opinião da SLW: “O setor siderúrgico se divide em dois segmentos, aço plano e aço longo. O aço plano é produzido com minério de ferro e que é reduzido por carvão mineral. Esses dois componentes estão com preço elevado, como vimos no caso da Vale e, consequentemente, a crise prejudicou muito as empresas que o fabricam, como Usiminas (USIM3, USIM5 e USIM6) e CSN (CSNA3).

A CSN está com um caixa muito grande, e o que o mercado tem comentado bastante é que ela pode vir a entrar na CSA, que é a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma vez que a multinacional alemã Thyssen Krupp manifestou estar querendo vender a participação dela aqui no Brasil e a CSN está com bastante caixa seria uma opção , mas evidentemente a companhia não comentou nada a respeito e, portanto, é mera especulação de mercado. (Vale lembrar que a Gerdau e a Usiminas também foram especuladas pelo mercado como possíveis compradoras, assim como grupos siderúrgicos do Japão, da Coreia e da China)”.

Agora, aço longo é diferente, ele é um forno que, quando você precisa parar a produção, apenas desliga da tomada, enquanto um autoforno com minério não pode ser abafado, se ele apagar tem que quebrar tudo e fazer outro. Então, a situação para a Gerdau é mais confortável, não existe exportação de aço longo como a gente vê de aço plano, ela tem a liderança desse segmento aqui no Brasil e a gente vai ter vários eventos que irão demandar aços longos, como Olimpíadas, Copa do Mundo, PAC, Minha Casa, Minha Vida, a expansão dos aeroportos e infraestrutura em geral. O papel sobe 27,30% este ano, o preço em bolsa é R$18,32, a recomendação é de compra, com preço justo de R$20,73”. Opinião do Banco do Brasil: “Nossa top pick é a Gerdau, por ser uma companhia com foco em aços longos. Ela é uma empresa que já vem sentindo os reflexos disso ao longo do ano, está subindo e tendo um desempenho muito melhor do que as outras, porque aços longos é investimento em infraestrutura, construção civil, todos esses investimentos que estão ocorrendo no Brasil. O mercado continua aquecido, apesar de os preços estarem em patamares um pouco menores, mas a demanda continua forte, o que é positivo para a companhia, que tem ações menos influenciadas pelo mercado externo, o foco da demanda mesmo é o mercado interno. E a Gerdau tem uma posição forte na América do Norte, então o mercado está trabalhando com qualquer dado positivo que saia na economia norte-americana”. PRATA: CSN (CSNA3) – A CSN, na visão dos profissionais da TORO, é uma empresa com boas margens e múltiplos, cuja lucratividade, ROIC e ROE estão interessantes. Já para Nataniel Cezimbra, do Banco do Brasil, a atuação também em mineração faz a diferença nessa empresa. Opinião da Toro Investimentos: “Se você comparar com a Usiminas (USIM3, USIM5 e USIM6), perceberá por que uma caiu muito mais do que a outra. A CSN é muito mais eficiente do que a Usiminas e ela acabou caindo um pouco também por estar comprando Usiminas no mercado há algum tempo. Por um lado, é boa essa compra, porque, se a CSN transformar a Usiminas em outra CSN, será excelente, mas tem outro ponto que é: o mercado de siderurgia no mundo está horrível, com excesso de oferta e capacidade ociosa, tem muito aço chinês e o custo para fazer aço no Brasil é mais caro. O setor de commodities vive de ciclos, ninguém falava da CSN, em 1999 ou 2000, só depois que ela foi a ação que mais subiu até 2011 é que todo mundo saiu comprando! Para os próximos cinco anos, deve haver uma fase boa para a CSN. Além do que ela, hoje, não é apenas uma siderúrgica, ela extrai minério também”. Opinião do Banco do Brasil: “A CSN já tem 30% de exposição ao segmento de mineração, ela já é autossuficiente em minério e ainda exporta o excedente. Então, como as margens do segmento de mineração ainda estão muito mais altas do que as de siderurgia, isso acaba compensando e a empresa tem tido um desempenho muito melhor. A CSN tentou entrar na Usiminas de forma indireta, mas dificilmente o Conselho Administrativo de Defesa Econômico (CADE) aprovaria uma concentração no setor tão grande quanto essa. Agora, a CSN ainda mantém uma posição grande na Usiminas como acionista minoritário, a gente acre-

Opinião da SLW: “CSN eu não recomendo, aços planos é um setor que está muito prejudicado e que, por vários anos, deve permanecer assim”. BRONZE: USIMINAS (USIM3, USIM5 e USIM6) – A Usiminas vive um dos seus mais delicados momentos, pela exposição em aços planos, que fabrica sob a forma de placas e laminados a frio e a quente. Opinião do Banco do Brasil: “A companhia está em uma posição bem difícil e tem um desafio grande pela frente para conseguir sair dessa situação. Ela tem uma dificuldade um pouco maior, porque tem menos exposição ao segmento de mineração e está com margens superpressionadas, a demanda está fraca, a concorrência com os importados alta e os preço estão superbaixos, então está no pior cenário que teria possivelmente para o segmento. A CSN e a Usiminas ainda vão patinar bastante, acho que ainda ao longo deste ano, e uma retomada só vai vir mesmo quando elas conseguirem um reajuste razoável de preços e quando a concorrência com produtos importados começar a diminuir de forma consistente”. Opinião da Toro Investimentos: “O mercado está com certo receio da aquisição de Usiminas pela CSN, mas um ponto que se deve analisar é que, se a CSN estiver buscando uma aquisição, esse é um momento benéfico para a empresa negociar. A Usiminas, por mais que a gente não esteja acreditando no papel, pela gestão, pelo setor e pelos últimos resultados, chegou a estar negociando recentemente abaixo do valor patrimonial, então é uma relação muito boa para compra”.

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FINANCEIRO

Esporte: Atletismo, maratona Quem nunca enfrentou a maratona que é lidar com serviços financeiros? Eles movimentam praticamente todos os setores do mercado, uma vez que o dinheiro perpassa por algum dos players desse segmento. Tradicional como a própria maratona, que deu início às Olimpíadas, em 776 a.C., sua organização permitiu a outros setores (e esportes) se organizarem e prosperarem.

Bancos

"Apesar de uma pequena desaceleração na concessão de crédito em 2011, dado o cenário de instabilidade financeira e o aumento da inadimplência no ano, as receitas de intermediações financeiras (RIFs) ainda apresentaram robusto crescimento no referido ano, fruto do ambiente macroeconômico favorável. Registrou-se em 2011 uma expansão de 23,8% ante o ano anterior, com aumento expressivo do lucro líquido dos maiores bancos. A movimentação do sistema bancário brasileiro também vem mostrando solidez e ampliação de atividades nos últimos anos.

"Em concordância com o cenário econômico, somado ao processo de bancarização, as estratégias das empresas do setor foram responsáveis pela alta no número de cartões (crédito, débito e private label) ativos em 2011 (crescimento de 9,4% em relação ao ano de 2010) e também no volume transacionado (alta de 18,6% na mesma base comparativa). Além destes fatores, a migração para os meios de pagamento eletrônicos, a expansão das vendas do comércio e a emissão de cartões para clientes novos também foram importantes para a alta observada. A popularização desses meios de pagamento, através do maior número de cartões entre a população de renda mais baixa, deve implicar na tendência de aceleração do crescimento do gasto médio por cartão e do tíquete. Em 2012, com a perspectiva de manutenção do crescimento econômico no país, a Lafis espera um aumento na quantidade total de cartões (aumento de 10,1% em relação a 2011) e que, a partir deste ano, o número de transações ultrapasse a casa de R$9 bilhões. No longo prazo, a ampliação das operações de securitização de recebíveis de cartões de crédito também deve colaborar para a expansão desse meio de pagamento."

Fonte: Lafis Consultoria.

O total das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional registrou expansão de 19,0% no acumulado de 2011 na comparação com 2010. Em consonância com a diminuição da taxa de juros anunciada desde meados de 2011, a LAFIS espera um crescimento mais expressivo nos anos vindouros. Assim, o ambiente atual garantirá um crescimento das RIFs em 2012, assim como no médio e longo prazos."

Cartões de crédito

Neste setor, não apenas bancos entram, mas a própria BM&FBovespa, cartões de crédito e demais serviços financeiros. Aqui o reflexo do momento que vive o setor pode ser sentido nas recomendações, uma vez que apenas três empresas foram citadas em comum por mais de uma corretora, enquanto seis foram citadas. Para compor este pódio, levamos em consideração o saldo de medalhas ouro, prata e bronze, nessa ordem.

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OURO: BM&FBOVESPA, BANCO DO BRASIL E BRADESCO (BVMF3) – Top pick do setor para a SLW e terceira opção da Toro, ela reúne a expectativa geral da bolsa brasileira. Opinião da SLW: “O papel sobe 21% este ano e a gente tem uma expectativa de que, passada a crise no mercado acionário, comece a haver uma recuperação, um volume financeiro um pouco mais expressivo e, logicamente, a empresa se beneficiará disso. O papel está cotado a R$11,59, a recomendação é de compra, com preço justo de R$12,30”. OpiniãodaToroInvestimentos: “Ela tende a crescer se a bolsa retomar e, nesse caso, seria beneficiada, porque estrangeiro gosta de comprá-la. Ela hoje tem monopólio, mas corre o risco de perdê-lo. Ela é uma das saídas do investidor estrangeiro para poder investir no setor financeiro brasileiro, sem investir em banco, caso tenha algum receio, então ela acaba sendo preferida mais dentro desse perfil do que propriamente por seus múltiplos. A bolsa tem sofrido muito nos últimos 24 meses, então o que a gente tem procurado colocar em carteira hoje são papéis descontados. Não acreditamos que tudo o que caiu irá subir, analisamos o que apresenta oportunidade de ter uma relação risco-retorno boa”. BANCO DO BRASIL (BBAS3) – Top pick para a Toro Investimentos, vale lembrar que o Banco do Brasil não pode analisar a própria instituição e, portanto, não fez nenhum comentário sobre suas ações. Opinião da Toro Investimentos: “Essa intervenção que teve no Banco do Brasil, de redução do spread bancário provocando queda da taxa de juros, foi ruim para o cenário dos bancos, mas já está bem precificada, então a gente vê oportunidade de ter uma posição maior no setor financeiro também. Banco do Brasil está mais atraente em termos de múltiplos, é o que apresenta maior risco e é o mais descontado por isso. Essa redução nos juros que ocorreu pode até ser benéfica para o banco, uma vez que, por ter juros mais baixos do que os outros, talvez esteja captando mais clientes, mas agora é um momento em que tudo é suposição.

Claro que nenhum investidor gosta da intervenção do estado na empresa, e o governo utilizou o banco que ele tem controle para diminuir as taxas e fazer com que os outros bancos fossem nessa onda, para forçar a redução no spread bancário. E o que a gente tem que analisar é que, para o consumidor final, isso é uma tendência de mercado, não tem como evitar, não era algo real a forma como no Brasil eram praticados os juros, os bancos vivem uma nova realidade”. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) – Top pick na visão do Banco do Brasil, foi analisada por Nataniel Cezimbra em parceria com o analista do setor, Carlos Daltozo. Opinião do Banco do Brasil: “As ações devem acompanhar a retomada do crescimento das carteiras de crédito no segundo semestre e eles estão com taxa de inadimplência menor que a do Itaú, que vem sofrendo um pouco com a inadimplência, principalmente na parte de crédito para veículos. O Bradesco tem a expectativa de ter estabilizada essa inadimplência agora para o segundo trimestre, quando já deve estar com volume de crédito maior”. PRATA: ITAÚ (ITUB3 e ITUB4) – Prata no setor tanto para SLW quanto para Toro a Investimentos, o papel vem castigado pela inadimplência, mas é uma opção para os mais conservadores. Opinião da SLW: “O papel cai 11% este ano, o banco Itaú é um pouco mais conservador que os outros e a gente percebe isso quando ele faz as provisões para devedores duvidosos, ele tem sido mais agressivo do que Bradesco e os outros bancos. O setor vai ser penalizado pelo atraso de pagamentos de financiamento de carro, mas ainda assim este é um banco que tem uma geração de caixa forte, é uma instituição sólida, cuja recomendação é de compra, com preço justo de R$43,23. O papel está em R$29,33, então tem um espaço muito bom de valorização. É o mais descontado dos bancos”. Opinião da Toro Investimentos: “Suas ações estão bastante descontadas. Um ponto negativo que o Itaú tem e que a gente gosta de frisar é o mesmo da

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Ambev, são empresas que possuem um market share tão grande que a possibilidade de crescimento acaba sendo pequena. Hoje, é difícil um Itaú crescer 30% ao ano, tamanha é a posição do banco. É um papel que a gente tem colocado para os investidores que estão buscando maior segurança, que não estão at r á s de u ma small caps ou de grandes ganhos”. BRONZE: CIELO (CIEL3) – A decisão do Banco Itaú de propor o fechamento de capital da concorrente Redecard tem motivado os analistas e investidores que gostam deste setor, com a possibilidade de a Cielo reinar soberana. Opinião da SLW: “A Cielo está subindo 53% este ano, a nossa visão de preço justo é de R$65,00, o preço em bolsa está R$60,25. O Brasil vai mudar muito nessa questão de dinheiro, ao invés de usar dinheiro e cheque, usará cartão, e a empresa, com a saída da Redecard (RDCD3) no mercado, deve atrair os investidores dela, então consequentemente é uma boa opção. O Itaú está fechando o capital da Redecard, eles já deram o preço, mas ainda não tem data fechada, o preço da Redecard pelo Itaú é de R $35,00 e o papel está R$33,00 em bolsa”. Opinião do Banco do Brasil: “A Cielo com certeza está entre as três principais do setor! Apesar de o papel ter rendido bastante, ainda está com potencial. Mesmo valorizando bastante nos últimos meses, a gente está vendo uma migração, os investidores que gostam do setor e que estavam posicionados em Redecard, com a perspectiva de fechamento do capital desta certamente vão migrar para a Cielo, o que deve dar um upside bom para o papel. O fechamento deve acontecer provavelmente em agosto, mas vai haver assembleia para definir e 2/3 dos acionistas precisam aprovar”. Opinião da Toro Investimentos: “Redecard e Cielo também são recomendações que a gente fez, mas que hoje caem no caso do que achamos da Ambev, são ações que estão custando caro. Todo mundo foi buscar a segurança que essas ações ofereciam na crise e o potencial de retorno já não é tão alto quanto antes”.

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ALIMENTO/FUMO/BEBIDA

Esporte: Atletismo, corrida com barreiras Se há setores que vivem pulando as barreiras trazidas por instituições reguladoras e pelo próprio governo são os de alimentos, bebidas e fumo. Há quem queira proibir publicidade (no de fumo já é proibido), há quem queira limitar o uso em locais públicos (de bebida e de fumo) e há quem limite a união de empresas – como o fato recente envolvendo a Brasil Foods (união entre Sadia e Perdigão), que foi aprovada com ressalvas pelo CADE, uma vez que o órgão antitruste pediu a venda de alguns ativos. Conheça a seguir o que esperam os especialistas de mercado para essa “corrida com barreiras”. Segue abaixo a análise da Lafis.

Carnes

"O setor brasileiro de carnes (bovina, suína e de frangos) possui boas perspectivas para os próximos anos. Principal vetor de expansão do faturamento, o mercado doméstico apresenta boas perspectivas com baixa taxa de desemprego e aumentos na massa salarial e no rendimento médio, o que garante um mercado consumidor ávido por proteínas animais. O mercado externo também pode apresentar bons resultados, visto que existe a perspectiva de crescimento

dos países em desenvolvimento e possivelmente de aumento na demanda por carnes. Os custos de produção poderão permanecer altos, em função de a ração animal ser composta principalmente de milho e soja, os quais poderão se manter em patamares de preços elevados. Essas variáveis são algumas das analisadas pela Lafis para acreditar que o faturamento do setor pode expandir 2,8% em 2012, 3,5% em 2013 e 3,1% em 2014."

Cervejas

"Em 2011, o setor de bebidas apresentou um baixo crescimento no volume produzido, ao comparar o desempenho em 2010. No entanto, o baixo volume foi compensado pela elevação do preço de venda, o que garantiu um bom faturamento ao setor em 2011. A produção industrial de cerveja registrou um crescimento de 2,1% em 2011 e, no primeiro trimestre de 2012, foi observado um aumento de 1%, na comparação com o mesmo período de 2011. A incidência dos eventos esportivos vem estimulando o aumento da capacidade produtiva nacional por parte das fabricantes e também o crescimento da demanda brasileira, que ainda é baixa quando comparada com países desenvolvidos." Faturamento

SETOR

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Valor (R$)

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Valor (R$)

Fonte: Lafis Consultoria.

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"Dessa forma, a perspectiva para os próximos anos é de um aumento das vendas em litros um pouco mais acelerada, com aumento do preço médio da cerveja um pouco mais arrefecido, dado ao forte reajuste de 13,80% em 2011. Assim, para 2012 espera-se um crescimento de 5,5% em volume, resultando em um aumento de 8,89% em faturamento. Para 2013 e 2014, a Lafis prevê que o faturamento possa crescer em torno de 11,97% e 15,01% respectivamente."

Refrigerantes e água mineral

"Em 2011, estima-se que o setor de bebidas tenha apresentado um comportamento bem arrefecido ao comparar com 2010, dado o aumento de preço evidenciado no período e a forte base de comparação. As vendas de refrigerantes podem ter apresentado, em 2011, um crescimento em torno de 1,5%.

OURO: AMBEV (AMBV3 e AMBV4) – Preferida na visão da SLW, ela causa desconfiança na Toro Investimentos, por ser considerada uma ação que está “cara” e que, portanto, pode surpreender mais negativamente do que positivamente. Opinião da SLW: “O papel AMBV4 sobe 18% este ano, tem uma exposição mundial e, ao mesmo tempo, grande atuação no Brasil, que é um mercado muito forte, no qual o clima ajuda também. A recomendação é manter o papel, com preço justo de R$81,00, preço atual em bolsa R$ 78,00.” Opinião da Toro Investimentos: “A gente sabe que os múltiplos do setor de consumo são muito maiores que os de commodities e a Ambev apresenta ótimos múltiplos, Retorno sobre o Capital investido (Roic) e Retorno sobre o Patrimônio (ROE) excelentes, mas em comparação com a Vale, por exemplo, a diferença está muito grande e acaba sendo discrepante”. PRATA: SOUZA CRUZ (CRUZ3) – Outra ação considerada “cara”, ela surpreende pela constância de seus papéis, sempre ascendentes. Opinião da SLW: “O papel sobe 28% este ano, é uma empresa que, apesar de vender um produto questionável em termos de saúde, paga bons dividendos. Ela tem um padrão em termos de faturamento e é bem tranquila quanto a retorno para o investidor. A recomendação é manter em carteira, com preço justo de R$32,00. Está em R$28,68”. Opinião da Toro Investimentos: “A Souza Cruz é a ‘vaca leiteira’, ela consegue estar mais cara que a Ambev – na verdade é a mais cara dos players de

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No caso da água mineral, o cenário de crescimento ainda é bastante favorável, estimulado principalmente pelo aumento de renda da população, que deixa de consumir água de torneira e passa a optar pela engarrafada. Em 2011, foi estimado para o setor de bebida um crescimento de 13,5% em sua produção e 13,35% em seu faturamento. A permanência do crescimento da massa salarial fornece bons estímulos para a indústria de bebidas ao longo destes três anos, que ainda se beneficiará com os eventos esportivos até 2016. Para 2012 espera-se um faturamento arrefecido, próximo a 8,88%, que será resultado de um crescimento da produção e um arrefecimento dos preços dos produtos. Com a continuidade na melhoria dos indicadores macroeconômicos, aliado ao arrefecimento dos preços dos insumos (principalmente o do açúcar), o faturamento do setor tenderá a crescer em torno de 9,82% em 2013 e 11,79% em 2014."

tabaco, em termos de múltiplos, do mundo! A gente nem questiona os fundamentos da empresa, não vemos um cenário ruim para ela como empresa, só que, para o investidor, pagando o preço atual, não vale o risco. Warren Buffett falou há alguns dias que não tem dúvidas de que a Apple e o Google vão continuar subindo, mas que ele não compraria. Então, vou seguir mais ou menos a mesma sugestão: ‘Eu não tenho dúvidas de que a Souza Cruz pode continuar subindo, mas eu não compro’. Ela está muito precificada já, o papel pode continuar subindo 15%, 20% ao ano, mas a questão é que, em um cenário otimista, você pode ganhar o que espera, mas em um cenário pessimista pode perder muito mais do que imagina. Às vezes, pelo risco, vale mais a pena comprar um título público. BRONZE: BRASIL FOODS (BRFS3) – Na visão da SLW é uma empresa boa, que foi penalizada por decisões recentes do CADE. Já para os profissionais da Toro Investimentos, é hora de apenas olhá-la, sem recomendação para o momento. Opinião da SLW: “Não precisa falar muito, é uma empresa que une Sadia e Perdigão, com uma projeção muito grande de crescimento e exportação. Ela está cada vez mais forte na China, o que deve ajudar muito a empresa no futuro; a renda no Brasil está melhorando um pouco, as camadas mais baixas passaram a ter acesso a comidas mais nobres, e isso consequentemente é bom para a empresa. O papel cai este ano 17,4%, mais pela questão do CADE, que separou os ativos da empresa e isso ficou pendente, a Marfrig pegou uma parte das máquinas, o que gerou desconforto, mas, se olharmos em termos de canário, é uma empresa boa. A recomendação é manter, com preço justo de R$42,00 e preço em bolsa R$30,00.

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VAREJO/CONSUMO Esporte: Vela Comércio Varejista

"O comércio varejista tem apresentado crescimento consistente. Tal dinâmica é reflexo do constante aumento do poder de compra da população brasileira e da queda do desemprego no país. As perspectivas para o curto prazo se mantêm otimistas em virtude, essencialmente, do aumento dos preços médios praticados no varejo e do crescimento satisfatório do volume de vendas.

A expansão do nível de emprego e da renda prevista para o período serão determinantes para que o consumo se amplie com a base de operação das varejistas em 11,9% e 13,8% em 2013 e 2014 respectivamente."

Fonte: Lafis Consultoria.

O comércio voltado a parcelas significativas da população tem ampliado o acesso geral a bens e serviços diversos,

o que tende a se manter por um período mais longo. Para 2012, espera-se um crescimento no faturamento de 11,8%. No biênio 2013/14, espera-se um crescimento impulsionado pela demanda interna aquecida e os eventos esportivos de 2013 (Copa das Confederações) e 2014 (Copa do Mundo).

Faltou vento, o que cancelou esta “regata”. Após movimentar boa parte das recomendações nos anos anteriores, os setores de varejo e de consumo sofreram uma freada agora, fruto de perspectivas menos otimistas e de algumas ações do setor já estarem sendo consideradas caras. Na comparação com os esportes olímpicos, seria como a vela, que depende da movimentação dos ventos (no caso das empresas e dos consumidores) para movimentar seus competidores. “Normalmente, no segundo semestre se fala bastante em consumo, mas achamos que o brasileiro já está muito endividado, o nível de inadimplência está alto e tem pouca margem, porque há muito gasto. O Natal não deve apresentar o mesmo crescimento que obteve nos últimos anos. A previsão é de uma desaceleração”, revelam Helpa e Mehanna, analistas da Toro Investimentos. Eles lembram que, no ano passado, o setor favorito deles era o de consumo e a ETF CSMO11 figurava como a principal recomendação. “Por mais que a gente goste desse setor e acredite que deva apresentar menos volatilidade do que as commodities, ele já subiu muito, as ações estão precificadas. A gente sabe que o setor de commodity está mais exposto em função de câmbio e da desaceleração de outros países, mas em termos de múltiplos realmente está muito mais atrativo”.

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Outros que se posicionaram menos empolgados em relação ao atual cenário para o consumo foi a equipe de analistas do Banco do Brasil. Na análise histórica, Nataniel Cezimbra relembra que, da década de 60 a 80, o Brasil estava muito voltado para a exportação de commodities. Ao entrar no ano 2000, “logo depois do plano Real e, principalmente, na era do Lula”, viveu a época de crédito, ou seja, de demanda interna de consumo e de varejo. “Hoje, a gente está enfrentando um pouco de desaceleração de consumo, de ineficiência em continuar sendo um país exportador de commodities, mas principalmente de uma emergência em infraestrutura”. Diante disso, o analista-chefe acredita que os setores de infraestrutura – como estradas, aeroportos, concessões e bens de capital – terão empresas que merecerão maior interesse governamental e estarão com atratividade de investimento: “Essa é a nossa visão para longo prazo. O consumo continua interessante, mas o Brasil começa a encarar daqui para frente taxas de crescimento mais sustentáveis”. Por tudo isso, cada analista acabou citando uma preferência diferente no setor, não possibilitando com que fossem ranqueadas. Acompanhe, a seguir, as sete empresas citadas como apostas desse setor:


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PÃO DE AÇÚCAR (PCAR3, PCAR4 E PCAR5) Opinião da SLW: “O papel PCAR4 sobe 21% no ano. A recomendação é de compra, com preço justo de R$90,00, o preço atual é de R$80,00”

NATURA (NATU3) Opinião da SLW: “Projetamos 33% de subida no ano. A recomendação é manter preço justo de R$49,00 e ela está em R$47,00”.

LOJAS RENNER (LREN3 E LREN4) Opinião da SLW: “O papel LREN3 tem alta de 22% este ano e a recomendação é manter, com preço justo de R$70,00, o preço em bolsa é de R$57,00”. Opinião da Toro Investimentos: “A Renner é uma boa opção, mas está um pouco cara no atual cenário. A gente não considera este momento como oportunidade para aumentar posição nessas ações, a gente não tem realizado quem está no papel, estamos segurando, mas, para quem está começando uma carteira, eu não focaria a maioria das ações nisso”.

GRENDENE (GRND3) Opinião da Toro Investimentos: “Esta é uma das ações que não está com as características de uma Ambev ou de Hering, por exemplo, que dispararam e já precificaram. Nesse momento de medo de commodities, de exportação e de cenário externo conturbado, todo mundo se refugiou em consumo, Telecom, energia e dividendos, então boa parte desses setores já está precificada na bolsa há tempos, mas a Grendene não acompanhou esse movimento”.

GRAZZIOTIN (CGRA3 e CGRA4) Opinião da Toro Investimentos: “Empresa gaúcha, a liquidez dela não é boa, mas é uma empresa de que gostamos. Ela só tem no sul do Brasil, não está em Curitiba, mas já existe no interior do Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Ela é uma espécie de Pernambucanas, vende desde roupas a artigos de camping. É uma empresa com bons múltiplos, boa lucratividade e rentabilidade e tem boa gestão familiar. É pouco comentada, mas com muito potencial”.

ALPARGATAS (ALPA3 e ALPA4) Opinião da Toro Investimentos: “A empresa tem bons múltiplos, muito a aproveitar do próprio marketing e não tem tanta loja assim. O que a Hering (HGTX3 e HGTX4) fez há um tempo e que foi o que transformou a empresa acho que Alpargatas tem espaço para fazer agora, porque ela não é só Havaianas, tem a Timberland, a Dupé, a Topper, a Rainha, a Mizuno, a Sete Léguas e a Meggashop. A Alpargatas (ALPA3 e ALPA4) é pouco comentada, não sei quantas pessoas analisam a empresa, ela não é tão seguida quanto uma B2W, o marketing dos produtos dela é melhor do que o das ações”.

MULTIPLUS (MPLU3) Opinião da Toro Investimentos: “É uma empresa boa, mas que está cara e a gente acaba gostando mais das que estão descontadas. Mas ela tem monopólio em um setor que até então não existia (o de fidelização) e uma margem impressionante. O segmento de atuação da Multiplus exige até uma análise diferente, com um ROE como o desse setor, ela tem até de compensar um pouco mantendo o Ebitda mais alto. A Multiplus também pode ser a próxima B2W, tem esse risco, o negócio é legal, assim como o da B2W também era até surgirem as concorrentes. Para a Multiplus é mais difícil surgirem concorrentes, a barreira de entrada é maior, mas convém ficar de olho”.

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Construção Civil/Imobiliário Esporte: Natação, 4 por 100 medley

Para construir algo, são necessárias várias pessoas, uma ajudando a outra e fazendo funções diferentes, assim como para se destacar e construir a vitória de uma nação em uma das mais famosas provas da natação, a 4x100 metros medley, cada atleta precisa nadar um estilo da melhor forma e mais rápido possível. Será que os “atletas” da construção civil e do mercado imobiliário estão se preparando para trazer bons frutos a esse setor em 2012 e nos próximos anos? É o que você confere agora, na análise dos especialistas de mercado, a começar pelos da Lafis.

Construção

"Os resultados do PIB da construção em 2011 acompanharam o movimento de crescimento econômico, entretanto com certa insegurança dos agentes econômicos, principalmente, no segmento imobiliário, no qual se observou redução no número de projetos e lançamentos em algumas regiões, pela instabilidade do cenário internacional. Assim, o resultado no ano foi de um aumento no PIB do setor de 3,6% com relação a 2010. Com o cenário positivo, é esperada para 2012 uma manutenção do crescimento para o setor, aliado à ampliação dos programas governamentais Minha Casa, Minha Vida e PAC. Espera-se que os custos para o setor de construção, medidos pelo INCC, também devam sofrer aumento no ano em questão e que, com a continuidade da redução do IPI até dezembro de 2012 para materiais de construção, com as obras do programa habitacional, do PAC, da Copa do Mundo e das Olimpíadas, ocorra uma expansão do PIB Construção em 3,6%, 4,6% e 5,5% em 2012, 2013 e 2014, respectivamente."

Materiais de acabamento

"O reaquecimento da atividade econômica, principalmente na construção civil, vem impactando diretamente nas vendas

de materiais de acabamento, cujo faturamento (em termos reais deflacionado pelo INCC) aumentou 8,0% em 2011. A continuidade dos investimentos no setor de construção também foi consolidada após o anúncio de expansão do programa Minha Casa, Minha Vida, que tem por meta atual a construção de 2,4 milhões de moradias para famílias com no máximo dez salários mínimos, até 2014. Além da redução tarifária para mais de 30 itens de materiais de construção, concedida pelo Governo Federal, o setor de material de acabamento recebeu maiores estímulos para a manutenção nas vendas. Em 2012, 2013 e 2014, o setor deverá ser beneficiado pela entrega das unidades de imóveis lançadas, criando uma demanda crescente de materiais de acabamento que sustentará o avanço do faturamento nesses anos. “Setores dos quais a gente pode falar, não tanto pelo segmento, mas porque tem duas empresas na quais a gente realmente acredita, são o de construção e imobiliário. A gente não acredita e não recomendaria esses setores, não estão em foco como a commodity, mas têm oportunidades boas. Eztec e Eternit, que não são empresas para os próximos seis meses, mas para cinco anos, são empresas nas quais a gente já está comprado há muito tempo e que continuam excelentes e não estão caras”, opinam os profissionais da TORO Investimentos. Eles destacam, entretanto, que se o setor voltar a “bombar” talvez não sejam as ações que mais irão subir, “porque o setor tem muita ação, como uma PDG ou uma Gafisa, que estão lá em baixo e provavelmente vão subir mais. Mas nós vemos PDG e Gafisa como vemos OGX, ações para investir utilizando análise técnica, não porque acreditamos nos fundamentos das empresas. Preferimos ganhar 15% com Eztec do que investir em PDG e poder ganhar 30% mas também poder perder”, concluem." Faturamento

SETOR

2012 Var. (%)

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2013 Var. (%)

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2014 Var. (%)

Valor (R$)

Fonte: Lafis Consultoria.

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OURO: Eternit (ETER3 e ETER4) – A Eternit é a maior fabricante de telhas e caixas-d’água de fibrocimento do mercado brasileiro, tido como um dos maiores de construção civil do mundo. Para os analistas da Toro Investimentos, nem mesmo as brigas políticas envolvendo amianto são suficientes para tirar o primeiro lugar, no pódio da construção civil dessa empresa. Opinião da Toro Investimentos: “A Eternit é excelente em margem, em ROIC e ROE, e é descontada em razão da situação do amianto, que é puramente um caso político. A principal concorrente dela não fabrica utilizando amianto, e a briga é política, porque há estudos da USP que já provaram que o amianto que a empresa usa não é prejudicial. Além disso, todos os seus funcionários trabalham muito bem protegidos com equipamento de segurança e não há nenhum caso de câncer na empresa causado pelo amianto que eles utilizam. A Eternit continua excelente e está procurando crescer e se diversificar, ela cresceu bastante sua participação em bolsa”. “Outra questão de Eternit é que o RI reforça que nunca perderam nenhum processo relativo ao amianto, todas as acusações nunca conseguiram ser provadas. Pela parte de RI, aliás, ela acabou sendo eleita pela segunda vez consecutiva a empresa mais transparente do país segundo a premiação IR Magazine Awards, com a melhor Relação com Investidores do País para Pessoas Físicas, o que reflete a transparência e a governança corporativa da empresa. A Eternit tem dono, vem de família e é líder absoluta do setor. Em um momento que a bolsa está batendo a mínima do ano, ela está batendo a máxima histórica, está na máxima como Ambev e Souza Cruz, mas ainda fazendo jus aos múltiplos”.

PRATA: EZTEC (EZTC3) – Atuando na área de engenharia, construção e incorporação imobiliária, a Eztec, assim como a Eternit, nem sentiu a queda ocorrida na bolsa, uma vez que também está atingindo sua cotação histórica. Opinião da Toro Investimentos: “Está com preço baixo e ela nem passou por essa queda que a gente viu em PDG e Gafisa, ela não sentiu a queda de 50%, no mesmo período ela está atingindo a sua cotação histórica. Então, ela pode ser que nem suba mais, mas a gente está comprado no papel desde 2007, hoje ele está R$20,00 e a gente está comprando o papel desde que estava R$7,00, ela tem, disparado, a melhor margem do setor. Outra novidade da EZTEC em termos de inovação é que ela está lançando o maior empreendimento imobiliário da história do país em valor de vendas, o EZ Towers, que são duas torres corporativas em São Paulo, na região da Chácara Santo Antônio, possuindo ambas um volume de vendas esperado na casa de R$1,3 bilhão. Ela dependia de muitas licenças, alvarás e já iniciou a construção desse projeto. Outro ponto bacana e que foi discutido em um encontro de value investing que a gente foi em são Paulo é que a EZTEC, diferentemente de uma PDG ou de uma Gafisa, é uma empresa que tem dono, é uma gestão familiar, enquanto na PDG os donos são investidores, diretores, que inclusive recentemente estavam vendidos porque sabiam que o papel iria cair, então estavam mais preocupados com os lucros deles do que com o dia a dia da empresa. A Eztec já desloca dessas outras empresas de construção desde a IPO, em 2007, quando houve o boom da abertura de capital de construção civil na bolsa. Ao contrário de todas as outras empresas do mercado imobiliário, que saíram comprando terreno e construindo no Brasil inteiro, até onde nem tinham presença nem equipes, e isso se reflete agora na crise, em que estas reduziram o volume de custos, perderam margem e tiveram dificuldades financeiras, a Eztec manteve a mesma filosofia e continuou atuando só em São Paulo, só no segmento Classe A e construindo apenas em terreno próprio. Ela compra o terreno, evita fazer parcerias, então tem uma gestão diferente, um crescimento menor, mas mais orgânico, sustentável, então por isso que a gente gosta da empresa”.

BRONZE: ETF (MOBI11) – Pelo conturbado momento do setor e, particularmente, de algumas empresas, a recomendação em terceiro lugar para quem gosta de construção civil e imóveis é minimizar os riscos, investindo na ETF que reúne o setor, a MOBI11. Opinião da Toro Investimentos: “Eu gosto de shopping também, como a BRMalls (BRML3). Tem a ETF (MOBI11), que dá uma equilibrada e representa o setor. Se você não está confiante em uma PDG ou em uma Gafisa, compre o MOBI11 que você tem um risco mais justificável, se você acredita que essas empresas podem se recuperar, que elas podem ter uma recuperação, seja uma PDG, uma Gafisa, uma Cyrela, uma Ibiza, uma MRV, etc. Acreditamos que vale mais a pena comprar esse risco através de uma ETF, levando o pacote inteiro e ficando na média do mercado, do que apostar em uma PDG ou em uma Gafisa e realmente não ter retorno para isso. Não confio nessas empresas para ficar posicionado, mesmo com o preço atual, mas confio no setor, empresas como a Eztec e shoppings podem acabar compensando”.

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RAIO X da bm&fbovespa

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8/6/2012 a 26/6/2012

56104,7

Lá vem ajuda O mundo estava apreensivo com o resultado das eleições gregas que aconteceriam no dia 17. Por conta disso, os principais bancos centrais do mundo emitiram sinais de que abririam os cofres para impedir a economia mundial de travar, caso o resultado grego não fosse bom. Isso foi o suficiente para fazer os investidores voltarem às compras.

55049,03

Na bomba! O sinal de uma bolsa desequilibrada é quando uma única empresa sobe mais de 4% no dia e, com ela, arrasta todo o índice. Foi o caso neste dia: a notícia de que a Petrobras poderá finalmente reajustar a gasolina fez as ações da empresa subirem mais de 4% no pregão, levando consigo todo o Ibovespa. E, num momento de trégua no mercado mundial, deu para os compradores respirarem.

Faltou algo

54001,45

O pacote de resgate aos bancos espanhóis foi bom, mas não tudo o que os investidores esperavam para acalmar os ânimos. Com isso, muitos embolsaram os lucros das duas sessões anteriores da BM&FBovespa para começar a semana com algum no bolso.

Amor para dar No Dia dos Namorados, a Bovespa aproveitou a ausência de not ícias negat ivas nos mercados internacionais e os boatos de que novas medidas de estímulo à economia estão sendo preparadas pelos bancos centrais ao redor do mundo.

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Muito ruim Que ninguém se anime com as altas recentes, a economia mundial anda muito fraca para entusiasmar os investidores. Neste dia, dados r uins da China e dos EUA derrubaram as bolsas em todo o mundo. A situação europeia também não agrada, e com isso todos fogem do risco.

Luz no fim do túnel Quando menos se esperava, os líderes europeus conseguem fechar um acordo para tentar reanimar a economia do Velho Continente. A boa notícia ofuscou indicadores nem bons nem ruins vindos dos EUA e deu um gás em todas as bolsas do mundo.

55505,17

Óleo derramado A presidente da Petrobras, em entrevista neste dia, disse o que todos já desconfiavam: que a empresa era mal gerida e que seus números eram irrealistas. O resultado foi que as ações da companhia caíram quase 9% no dia. E, como o clima internacional continua ruim, o Ibovespa deu um mergulho forte, assustando os investidores.

X problemas Em um dia de calmaria internacional, os maus resultados da OGX Petróleo, a empresa do ex-midas Eike Batista, fizeram as ações da empresa cair 24,61%, o que puxou o Ibovespa para baixo.

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53108,93 21/6/2012

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Fonte: br.advfn.com

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Mente Intuitiva: O sexto sentido nos negócios Não é magia nem algo divino, mas algo que pode ser criado e planejado p o r A r o ld o G l o m b

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ocê já ouviu falar em sexto sentido? Muitos usam este termo para apresentar uma intuição, algo que não teria como explicar racionalmente. No mundo da bolsa de valores, isso é comum. Quantas vezes, caro leitor, já não comentaram contigo algo como: “Ei, vamos apostar no setor de batatinhas?” ou “Acho que vale a pena investir na empresa XX...”? Ou você mesmo... já teve algum presságio de que não vale a pena comprar determinadas ações? Este chamado “sexto sentido” não é puro palpite. A seção Livro do Mês desta edição mostra como funcionam as nossas escolhas, muito além do óbvio que algumas publicações nos apresentam. Mente Intuitiva, de Eugene Sadler-Smith, consegue nos mostrar isso e como é a percepção que muitos chamam de sexto sentido. Como distinguir a intuição de um simples pensamento? É importante destacar que a nossa mente é dividida em duas partes: a analítica e a intuitiva. Para explicar um pouco, digamos que a mente analítica monitora e interfere na intuitiva, é a parte consciente do nosso pensamento que aprende de maneira rápida, mas opera mais lentamente. A intuitiva já é o inconsciente, o lado que avalia como um todo e toma decisões que muitos consideram sobre-humanas. Ou seja, o sexto sentido tem mais ligação com a natureza do que com o sobrenatural. Fica claro no livro que elas não são separadas, e sim que ambas estão sempre trabalhando juntas. A leitura nos coloca em uma nova percepção que aponta que temos duas mentes, não apenas uma. 36

ADVFN

Estranho? Não, apenas confirmação científica. Ao contrário do que parece, ter duas mentes não atrapalha em nada – muito pelo contrário, é benéfico na hora de tomar decisões.

Diferenças em ter a mente intuitiva e a analítica

Os últimos estudos mostram como são os modelos das duas mentes, usando conceitos e análises biológicas da neurociência cognitiva e da própria evolução humana. Enquanto a mente analítica tem capacidade para monitorar, intervir e sobrepor-se à mente intuitiva (para resolver grandes problemas de ordem intelectual), a intuitiva é bem mais rápida e maleável, sem esforço algum para operar e bastante útil nas questões morais, estéticas e criativas. Sabe aquela capacidade de antecipar uma situação ou sair de algo que pode deixar muitas pessoas em risco? Então, não é por acaso que isso ocorre. Acompanhe este exemplo para entender melhor. O caso do avião que pousou no Rio Hurson, em Nova Iorque, mostra como as duas mentes presentes em cada ser humano podem agir com perfeição. Após decolar, a aeronave


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acabou “colidindo” com alguns gansos canadenses e tendo seu motor danificado. Não era possível voltar ao aeroporto naquela altitude e velocidade, e o aeroporto mais próximo, Nova Jersey, não estava assim tão perto. Era um Airbus 320 com 145 pessoas, muita responsabilidade! Mente analítica É sequencial. Precisa de esforço consciente (parar para pensar). Segue passo a passo um processo. É consciente. Aprende rapidamente. Opera lentamente. No processo evolutivo, surgiu recentemente (há algumas décadas apenas). Mente intuitiva Corre em paralelo. Processos automáticos (sem esforço nenhum). Avalia simultaneamente toda a situação. Inconsciente (não precisa parar para pensar). Aprende lentamente. Opera rapidamente. Na evolução humana, é muito antiga (milhares de anos).

O piloto era Chesley “Sully” Sullenberger, de 57 anos, com uma bagagem e tanto: ex-piloto de caça e comandante de linhas aéreas civis desde que deixou a Força Aérea Americana, em 1980, além de um especialista em segurança e um piloto de planador. Muita experiência para, em uma fração de segundos, decidir pousar o avião no famoso rio que margeia a cidade. Não foi uma decisão simples, mas, como um raio, sua mente trabalhou e juntou todas as informações de sua vasta bagagem (que incluía desde atividades com o exército até um recente curso de ultraleve) – informações adquiridas, sem tempo para serem usadas de maneira reflexiva e que atuaram na mente intuitiva, juntando todos os pedaços de cada informação.

Desenvolver as habilidades

Talvez as que melhor representem essa filosofia sejam as para desenvolver percepções extrassensoriais: Especialização

Não basta apenas saber, mas usar esse conhecimento em situações reais e em simulações é fundamental, pois praticando de maneira intensiva só se aumenta a capacidade de ser um “extrassensorial”. Apoio

Pessoas, equipamentos, tecnologia avançada e/ou qualquer outro elemento que facilite as duas decisões e ações. O bom de ter pessoas facilitadoras ao seu lado é que as soluções surgem mais rapidamente.

Proatividade

Ser notado, fazer contatos e estar na hora certa e no lugar certo. Pessoas de sucesso constroem a própria sorte e percepções extrassensoriais são controláveis.

Influências negativas

Como tudo o que vemos ao nosso redor acabamos absorvendo, o que pode ser um perigo, podemos desenvolver uma intuição mais fraca, mas as intuições podem sofrer bastante influência de todos os lados. É preciso se proteger para não desenvolver intuições fracas, que podem ser maléficas e atrapalhar muitas decisões. O autor mostra como isso é possível! Procure contrariar evidências

“Devemos procurar, com empenho, desmentir nossas hipóteses, especialmente aquelas com as quais temos algum tipo de ligação emocional por causa de um desejo futuro. Devemos ficar abertos no que for a favor e contra nossos projetos, por mais encantadores e arrebatadores que possam ser”. Evite estereótipos

“Não devemos procurar dados que confirmem nosso estereótipo, e sim permanecer receptivos às informações que o contrariem, especialmente se eles forem carregados de julgamentos sociais negativos”. Questione suas intuições

“Devemos questionar nossas intuições – as genuínas resistem a exames detalhados, enquanto as tendenciosas, estereotipadas ou “desejosas” tendem a cair diante uma nova avaliação crítica, tanto da nossa parte quanto dos outros”. Cuidado com o pensamento coletivo

“Devemos ficar atentos ao poder do ‘pensamento coletivo’, inclusive em relação às normas de um grupo de trabalho ou de uma sociedade como um método. A opinião da maioria não necessariamente é a correta. Precisamos estar preparados para ser a voz discordante – talvez o imperador esteja, de fato, nu (como no conto infantil) ”.

E o que o investidor na bolsa tem a ver com este livro?

Tudo! Imagine uma empresa em que você ainda não investiu, mas na qual está interessado. Visualizar o cenário de como estará o setor de atuação dessa empresa é o primeiro ponto, e aí entra tudo o que você conseguir ler e adquirir sobre o assunto (atuação do governo, mercado internacional, etc.). Mais do que apenas ver números, quem sabe você não começa a trabalhar o seu subconsciente e desperta o seu sexto sentido? Da próxima vez que aparecer uma oferta tentadora para investir, use tudo o que estiver armazenado e deixe que seu subconsciente trabalhe por você – mas tenha bagagem para isso. AGO 12

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“Insanidade empresarial é continuar a fazer as coisas da mesma maneira e esperar obter delas resultados cada vez melhores.” Tom Hopking

“O caminho mais curto para o sucesso eu não conheço, mas para o fracasso com certeza é agradar a todos.” J. F. Kennedy

“O preço das coisas devia depender de seu mérito, e nunca de sua denominação.” William Shakespeare

Qual o perfil dos novos investidores no Brasil? por Larissa Moutinho

A

s três frases acima resumem o espírito desta nova coluna da ADVFN. Através dela, lançamos o seguinte desafio: o que a sua corretora ou banco está fazendo de diferente para atrair e reter investidores? Há uma variedade de intermediadores no mercado, cuja função principal é basicamente a mesma: ligar o dinheiro de seus clientes à bolsa de valores. • Mas o que diferencia uns dos outros? • O que você deve levar em consideração na hora de optar por uma empresa em detrimento das outras existentes? 38

ADVFN

• Será que apenas o valor da corretagem é suficiente para fazê-lo optar pela melhor alternativa? Temos consciência de que não e, portanto, a partir desta edição, traremos, mês a mês, o que há de diferente no universo que liga investidores à bolsa de valores.


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Para começar, este mês abordaremos a TOV Educacional, um braço da TOV Corretora, cujo objetivo é educar financeiramente o público brasileiro e desmistificar o mercado de renda variável. Muitas corretoras procuram trazer cursos interessantes e atrativos aos seus atuais e futuros investidores. A diferença da TOV está no desafio traçado: formar 5 mil novos investidores. Para isso, a TOV Educacional tem utilizado os cursos que realiza para fazer levantamentos trimestrais sobre o público interessado em assuntos dessa área. Qual a motivação? Conhecer melhor o que ainda separa o brasileiro da renda variável. “O curso introdutório em bolsa de valores da TOV não foi criado com o intuito de abrir conta, como muitas corretoras fazem. Nele, quase não falo a respeito da TOV, se os alunos perguntam alguma coisa e/ou se pedem para abrir ficha na corretora, peço para mandarem um e-mail, não enfatizo o nome da corretora, mas sim a parte do educacional”, conta Cauê Penedo, diretor da TOV Educacional.

Um mercado em potencial

Ao contrário de vários países desenvolvidos, que têm a renda variável como sua primeira opção de investimentos, no Brasil, menos de 1% das pessoas investem em ações. São cerca de 550 mil CPFs cadastrados em bolsa, sendo que nem todos estão posicionados em alguma ação. Existem muitos mitos entre os profissionais de mercado para essa aversão do brasileiro ao risco, entre eles o de que as pessoas não investem na bolsa por sentirem medo, principalmente por causa do trauma da inflação que o Brasil viveu e da quebra da bolsa de valores do Rio de Janeiro. Para saber até que ponto essa hipótese se confirma, a TOV Educacional elaborou uma pesquisa com 172 alunos do curso básico de introdução ao mercado financeiro. Ela levou em consideração alunos de 18 a 65 anos, pertencentes principalmente às classes média e média alta. Veja alguns dos surpreendentes pontos que a corretora descobriu:

No gráfico, é possível perceber que uma parte expressiva, 43%, não investe por falta de conhecimento. Note que esse dado não vem da maioria da população, mas sim de pessoas que já têm interesse por investimentos, a ponto de procurarem um curso sobre o assunto. “A gente sente o exemplo da nossa cultura comparada à dos americanos, hoje em dia menos de 1% da população investe em renda variável no Brasil, e nos Estados Unidos é um absurdo o quanto eles investem (mais de 30% dos norte-americanos investem em ações). Por quê? Porque já têm essa educação desde pequenininhos, e é isso que nós temos que mudar. Temos que levar essa educação para os jovens, afinal, eles são o futuro do país”, pontua Cauê. Por isso, a TOV Educacional realiza também cursos em faculdades, com intuito de introduzir os jovens no mercado financeiro. “Criamos agora uma equipe que vai até as escolas estaduais, porque precisamos frisar aos jovens brasileiros o quanto é importante poupar. Se eles estiverem poupando, podem daqui a dez anos pagar a própria faculdade, realizar sonhos, etc.”, enfatiza. Ele lamenta a pouca atenção dada pelo governo à educação financeira e acredita que ações simples, como incluir pequenas pinceladas sobre o assunto durante algumas aulas, já poderiam provocar grandes transformações. “Este é um trabalho que nós, corretoras, bancos e outras instituições financeiras temos que fazer, nos unir para criar essa conscientização. É um trabalho de formiga. Do governo, infelizmente, não espero muita coisa, porque hoje em dia a gente pega os relatórios de educação e vê que, ao invés de melhorar, ela vem piorando”, afirma. Seu tipo de investimento

O maior receio

Tipos de investimento

Outro dado interessante que a pesquisa revelou é que 33% dos entrevistados ainda não investem em nada, 25% em poupança, 13% em imóveis e apenas 8% em renda variável. AGO 12

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Quando unido com os dois resultados a seguir, que revelam o perfil de investidores, tais dados permitem perceber que os potenciais novos investidores estão principalmente pensando no longo prazo e se dividem entre moderados e conservadores.

Perguntas comuns Respostas

O que a bolsa de valores representa para você

Que tipo de investidor você se considera

Se estão pensando no longo prazo, o que afinal os leva temer ações? Para investidores de curto prazo, ações podem acabar surpreendendo negativamente, como no último ano, em que o índice Bovespa (Ibovespa) teve uma baixa de 18%. No longo prazo, porém, a expectativa é de crescimento, sobretudo quando escolhidas empresas sólidas, com bom planejamento e gestão profissionalizada. “Pode ver que na pesquisa a maioria ou não investe ou está em renda fixa. E o mais interessante: se você fala para os investidores que existem dois tipos de CDBs, o pré-fixado e o pós-fixado, sendo que o CDB pós-fixado tem um risco mínimo, mas oferece uma taxa de retorno maior, sabe quantos investirão no pré-fixado? É coisa de 95, 96%, porque eles estão com medo do risco, de expor o capital”, revela Penedo. Abordamos na edição passada, aqui mesmo na ADVFN, o “risco” mascarado existente na poupança. A poupança que, no longo prazo, comparada à inflação, acaba empatando ou até mesmo diminuindo o poder aquisitivo de seus investidores. É preciso, portanto, rever a relação que o investidor brasileiro tem com o risco. 40

ADVFN

Quando questionados sobre se é possível ter uma boa rentabilidade com a bolsa em queda, 65% dos entrevistados afirmaram que sim, que é possível lucrar nessa situação. “Talvez, este seja o principal motivo da alta procura pelos cursos mesmo em tempos de baixa na bolsa”, avalia Penedo. Apesar disso, alguns investidores demonstram desconhecimento em pontos básicos. “Quando eu ou algum outro professor pergunta: ‘O que é o Ibovespa para você? Se o ibovespa teve uma baixa de 2%, significa que eu, com a minha carteira, perdi 2%?’ é muito comum as pessoas responderem que sim”, conta o diretor. Outra frase comum, fruto do desconhecimento sobre o mercado, é: “não sabia que a empresa pagava dividendos”. Uma pergunta muito comum nos cursos da TOV é o mínimo necessário para investir. “Muitos pensam que R$10 mil a R$20mil é o mínimo, e não é verdade. Existem ações custando R$3,00, R$4,00 ou R$5,00 que podem ser adquiridas aos poucos e que vão dar juros sobre o capital próprio, rendimento, bonificações, é uma bola de neve”, conta Penedo. O problema da falta de conhecimento é que muitos “investidores de primeira viagem” vão a fóruns ou leem alguns meios de comunicação, em que outros investidores ressaltaram que ganharam “x ou y%” e entram empolgados com tal retorno ou pela indicação de amigos, sem uma pessoa para assessorá-los de verdade. “Mas o mercado, no meu ponto de vista e de vários outros da área, é um triângulo, em que os profissionais de mercado e as pessoas bem assessoradas estão comprando em sua base. Aquele triângulo começa a subir e, na hora em que chega ao topo e que a pessoa já ganhou 8%, quem está vendo de fora, pensa: ‘Aquela pessoa ganhou 8% em dois dias? Eu vou entrar’! E essa


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é a hora em que os institucionais olham e falam: ‘Nossa, já ganhamos 10%, vamos sair!’”, compara Penedo.

Futuros investidores

Em que esses dados ajudam na hora de atender um futuro cliente/investidor? “O primeiro contato que fazemos é para medir o perfil daquele cliente, para perceber se ele foi preparado para ser agressivo, moderado ou conservador. Nós temos que sentir o cliente, para saber se é bom recomendar poupança, renda fixa ou um pouquinho em ações que pagam dividendos e que não terão tanta oscilação. Tem também quem gosta de comprar e vender ações com frequência, então a gente tem que seguir o investidor”, explica Penedo. Para quem não possui conhecimento ou ainda tem medo de investir, a TOV opta por começar na renda fixa, para que a pessoa possa ir se acostumando a investir. “Recomendamos uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI), por exemplo, para não focar em poupança, ou sugerimos ações blue chips e boas pagadoras de dividendos, que tenham histórico de serem ascendentes em um período mais longínquo, mesmo com crises”, exemplifica o diretor. No curso, os profissionais da TOV sugerem que o ideal é poupar 10% do próprio ordenado. “Mas, se não der, comece com 5%. Pense que esses 5% são de um celular que você comprou em 36 prestações e que está pagando”, enfatiza o diretor da TOV Educacional. Outro ponto crucial ao começar a investir, na visão de Penedo, é ter um profissional ao lado, independentemente de o novo investidor já ter feito cursos na área e/ou se leu livros e revistas a respeito. “A pessoa está começando no mercado e pode ter os melhores cursos na praça, mas se ela não tiver o acompanhamento de um profissional para orientar, tanto em termos psicológicos quanto operacionais, pode se frustrar”, acredita. Por isso, ele recomenda: “Na hora em que abrir uma conta no banco ou em uma corretora, procure aqueles que oferecem bons profissionais, pergunte, interaja, observe se a corretora ou banco oferece chat on-line, vídeo on-line, enfim, procure formas de comunicação”. Somente depois das primeiras experiências e de entender todas as taxas que envolvem o mercado acionário é que o investidor está apto a começar a pensar em investir sozinho. “É como se estivesse pilotando um carro, não pegue o carro e saia andando, primeiro faça aulas com um instrutor e, só depois que pegar a sua carta, é que você está apto para sair dirigindo nas ruas”, finaliza Penedo.

... os profissionais da TOV sugerem que o ideal é poupar 10% do próprio ordenado. “Mas, se não der, comece com 5%. Pense que esses 5% são de um celular que você comprou em 36 prestações e que está pagando... Cauê Penedo, diretor da TOV Educacional

Saiba mais sobre a TOV Fundada em 1994, a TOV Corretora tem como objetivo oferecer o mais completo ser viço de acompanhamento e assessor ia nas áreas de câmbio, operações especiais, financeiras e de comércio exterior. Em 2008, a TOV fortaleceu suas operações de negociação eletrônica através da implantação do seu novo home broker, com foco em operações de varejo. Devido à nova tecnologia, passou a oferecer naquele ano o menor preço do mercado por ordem executada. Soluções criativas, agilidade e preços competitivos são os principais atributos da TOV. A TOV Educacional é o braço de educação financeira da corretora. Unindo palestrantes com amplo conhecimento prático de mercado, a TOV ministra cursos nas seguintes áreas: introdução à bolsa de valores, análise técnica e análise fundamentalista. As sedes da TOV estão localizadas em: Manaus (AM), Salvador (BA), Vitória (ES), Poços de Caldas (MG), Curitiba e Londrina (PR), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Campinas, São Paulo, Santos e São José dos Campos (SP).

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Recompra de ações p o r C l á u d i a A u g e ll i

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tilizada inclusive por empresas que recém abriram o capital, a recompra de ações – medida estratégica, mas de caráter excepcional – é uma sinalização do gestor da companhia de que o preço de mercado dos papéis não reflete seus fundamentos, estando portanto subavaliado. Dessa forma, a empresa opta por adquirir, com recursos próprios, parte de suas ações negociadas no mercado, para serem canceladas ou mantidas em tesouraria.

capital via recompra de ações é bastante óbvio, pois ao retirar do mercado uma parcela de suas ações a empresa diminui a participação do capital próprio na sua estrutura de financiamento, aumentando sua alavancagem.

No artigo deste mês, tentarei sintetizar a mecânica e os objetivos desse tipo de operação, tanto quanto possível. Não pretendo esgotar o tema, esse assunto é bastante complexo e recheado de considerações legais.

2. Por excesso de fluxo de caixa livre

A recompra de ações era vetada até recentemente em vários países, devido ao receio de uma possível manipulação dos preços das ações pela companhia emissora. Na Austrália, por exemplo, a legislação proibia a recompra de ações até 1989, e até 1995 havia uma regulamentação muito restritiva. No Reino Unido, os programas de recompra de ações foram legalizados em 1981, mas com fortes restrições em termos de quantidade, duração, preços e impostos, se comparados aos do mercado norteamericano. Já no Japão, a recompra de ações era proibida até 1994, na Alemanha até 1998, na Suíça até 1992 e, em Hong Kong, até 1991. A CVM lançou mão de algumas medidas regulamentares, no intuito de coibir que um programa de recompra de ações camuflassem o “fechamento branco de capital” de uma empresa, fato que ocorre quando os acionistas majoritários de uma companhia possuem um percentual tal que limite a liquidez /quantidade das ações em circulação (free float), prejudicando dessa forma os acionistas minoritários, já que, ceteris paribus (mantidas inalteradas todas as outras coisas), um ativo terá seu preço reduzido com a diminuição de sua liquidez. Esse aumento do percentual (stake) dos acionistas controladores poderia ser obtido por intermédio de sucessivos programas de recompra de ações, os quais retirariam do mercado ações em circulação, detidas pelos acionistas minoritários. Podemos destacar quatro principais motivos pelos quais as empresas recompram suas próprias ações:

1. Para ajustar sua estrutura de capital

Se uma empresa avaliar que está pouco endividada e que possui mais capital próprio do que necessita, uma recompra de ações pode restaurar em seu balanço a composição desejada de capital próprio x capital de terceiros. O ajuste da estrutura de 42

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O excesso de caixa que não encontra oportunidades para ser reinvestido lucrativamente no negócio e do qual se fará um uso inadequado se for deixado na companhia é direcionado para a recompra de ações.

3. Quando a companhia considera que o preço de suas ações está subavaliado

Isso explica a avalanche de anúncios de recompra de ações depois de grandes quedas nos mercados. Após o crash de 1987, quando o mercado norte-americano caiu mais de 20%, cerca de 750 empresas anunciaram programas de recompra de ações nos dias seguintes à queda. Da mesma forma, nas duas semanas que sucederam os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, foram anunciados mais de 300 programas de recompras de ações. Essa prática também pode ser observada no mercado brasileiro.


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Um dado interessante é que, curiosamente, grande parte das empresas norte-americanas que anunciaram programas de recompra de ações após a queda de 1987 nunca chegou a efetivamente recomprar tais ações, a “sinalização” para o mercado funcionou tão bem que não precisaram fazê-lo. Isso pode corroborar a “hipótese da sinalização”, pela qual os administradores estariam indicando ao mercado julgar que o preço das suas ações estaria subavaliado, pretendendo, assim, tirar vantagem disso através da recompra.

4. Recompra de ações como um substituto, mais flexível e que possui vantagens fiscais, ao pagamento de dividendos

Quando uma empresa recompra ações, o número de ações em circulação se reduz, logo os ganhos por ação crescem. Essa estratégia é válida para a maioria dos mercados mundiais, mas não se aplica ao mercado brasileiro, no qual existe uma desvantagem fiscal e a distribuição de dividendos é obrigatória (por lei). Os procedimentos mais comuns de recompra de ações no Brasil O primeiro método é denominado oferta a preço fixo com prêmio (fixed-price self-tender offer), conhecido no Brasil como Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA), na qual a empresa define o número de ações a serem recompradas, a data de vencimento e o preço que pretende pagar pelas ações, que geralmente é superior ao praticado pelo mercado. Nesse método, a empresa é obrigada a adquirir as ações conforme anunciado, não podendo usar a recompra apenas como sinalização para o mercado. A OPA não tem sido utilizada tradicionalmente para recompra parcial de ações, e sim para o fechamento do capital da empresa, sob três modalidades: alienação de controle acionário, cancelamento de registro na CVM e aumento de participação do acionista controlador. O segundo e mais utilizado no mercado brasileiro é o método de recompra no mercado aberto (Open-market share repurchases), no qual a empresa recorre ao mercado como qualquer outro investidor para recomprar suas ações, não existindo a fixação de valor a ser pago ou quantidade a ser recomprada, podendo inclusive, ao final do prazo estabelecido, não recomprar nenhuma ação. No mercado internacional, existe um terceiro método, menos utilizado no mercado brasileiro, que é o de recompra a preço variável com prêmio (Dutch-auction offer). Semelhante ao método de preço fixo com prêmio, a empresa define o número de ações e o prazo de recompra, porém o preço é estabelecido através de algumas faixas, geralmente com ágio sobre o preço de mercado, a empresa recompra até o limite preestabelecido com o menor preço possível. Vale lembrar que, em alguns países, é permitida a recompra através de transações privadas, sendo que no Brasil essa modalidade é vetada pela CVM.

Podemos sistematizar a mecânica de um programa de recompra de ações da seguinte maneira. Primeiramente, a companhia informa à BM&FBovespa (BVMF3) sua intenção de realizar um programa de recompra de ações. Segue-se uma Reunião do Conselho de Administração (RCA) e a decisão sobre a realização de um programa de recompra de ações, com a definição das seguintes características: data de início do programa, prazo no qual a empresa poderá recomprar suas ações, classes e quantidades de ações a serem recompradas (máximo de X% das ações em circulação de cada classe), destino das ações a serem recompradas e sociedades financeiras intermediárias do processo. Segue-se à RCA a divulgação para o mercado por meio de um “fato relevante”. O exemplo abaixo ilustra um anúncio de recompra de ações:

O Conselho de Administração do Banco do Brasil aprovou o programa de recompra de até 50 milhões de ações próprias em reunião realizada no dia 13 de julho de 2012 O prazo para as compras será de 180 dias, a contar desta data, e a operação será realizada através da intermediação das corretoras Votorantim, Concórdia, Liquidez e Ágora. De acordo com o BB, o programa de recompra tem como objetivo a manutenção das ações em tesouraria e posterior alienação ou cancelamento, visando à geração de valor para os acionistas.

Muitos estudos têm sido feitos no sentindo de verificar se, de fato, o anúncio da recompra gera retornos anormais positivos para os acionistas minoritários, ou seja, se puxa o preço das ações para cima. Ainda não existe um consenso sobre o tema, e de toda forma os resultados variam de país para país. Por outro lado, a recompra poderia causar uma possível redução na liquidez, e consequentemente, no preço dos papéis em questão.

Cláudia Augelli – Sócio fundadora da Eugênio Invest e agente autônoma de investimentos certificada pela CVM. Possui especialização em Finanças (Yale School of Management) e em Corporate Finance (New York University). MBA em Mercado de Capitais e Derivativos pela BM&F. Graduou-se com honras em Administração. É palestrante e professora de Finanças e Gestão de Custos no Ibmec. Possui mais de 15 anos de experiência atuando em mercado financeiro, nos bancos Credit Commercial de France (CCF), Banque Nationale de Paris (New York), Banco Garantia, Credit Suisse First Boston (CSFB), Bear Stearns (London) e Banco Fator; nas áreas de Tesouraria, Administração de Recursos, Research e Sales / Sales Trading. Também ocupou a posição de Gerente Financeiro na Parmalat Participações. Perguntas, comentários ou sugestões através do Twitter: @eugenioinvest

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11 ações que farão a diferença

por Larissa Moutinho

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urante a redação de nossa reportagem de capa para este mês, não nos deparamos apenas com blue chips. Algumas empresas consideradas small caps também foram citadas entre as preferidas pelos analistas para o restante de 2012 e para os próximos anos.

Enquanto algumas estão atingindo seu topo histórico, apesar do desempenho fraco da bolsa de valores no ano, outras estão descontadas (ou subvalorizadas), mas demonstram fundamentos para resgatar seu crescimento. A seguir, confira as onze small caps citadas pelo Banco do Brasil e pelas corretoras SLW e Toro Investimentos como promissoras para o futuro, seus principais dados fundamentalistas e os motivos para ficar de olho nelas.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

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pequenos e médios, mas há bancos interessantes. O ABC é um deles”, resumem Alessandro Helpa e Mehanna Hamad Mehanna, analistas da Toro Investimentos. “Eles foram penalizados por todo o problema do Cruzeiro do Sul (CZRS3 e CZRS4) injustamente e agora devem estar em foco. É um banco com destaque maior para o segmento corporate e acreditamos que ele deva ter uma retomada mais rápida e forte neste segundo semestre. Ele está operando abaixo da média histórica dos últimos quatro anos”, revelam Nataniel Cezimbra e Carlos Daltozo, analistas do Banco do Brasil.

MATERIAL DE TRANSPORTE

Para a Toro Investimentos, esse é um bom setor, mas com poucas empresas que se justificam em termos de fundamentos. Veja, entre as opções do setor, algumas que merecem um olhar com atenção.

Banco ABC (ABCB3 e ABCB4) Papel

ABCB4

Marcopolo (POMO3 e POMO4) POMO3

POMO4

O Banco ABC Brasil é um banco múltiplo especializado na concessão de crédito para empresas de médio e grande portes. A solidez do seu acionista controlador, o Arab Banking Corporation, aliada a uma eficiente administração local garantem, segundo os profissionais da companhia, agilidade na tomada de decisão, acesso a funding atrativo e à mais alta classificação de rating entre os bancos médios de capital aberto no país. O banco está habilitado a operar nas carteiras: comercial, de investimentos, financeira, crédito imobiliário e câmbio, contando ainda com uma agência nas Ilhas Cayman. Única instituição citada entre os bancos médios como uma das melhores opções do setor financeiro, o Banco ABC foi citado tanto pelo Banco do Brasil quanto pela corretora Toro. “A gente não acompanha de perto os bancos

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Papel

Uma das maiores fabricantes mundiais de ônibus, o objetivo da Marcopolo é desenvolver e implementar soluções para o transporte coletivo de passageiros. “Ela produz carroceria de ônibus e vai ter uma demanda grande com eventos nos próximos anos. Ela não está só no Brasil, mas em vários países, principalmente no Egito e na Índia, onde terá uma demanda muito forte”, destaca Pedro Galdi, da SLW. Para ele, a empresa merece atenção: “O papel POMO4 sobe 35% este ano* e o governo já anunciou recentemente que vai fazer aquisições de ônibus, caminhões e uma série de coisas – e têm que comprar mesmo, porque até agora só fez barulho, mas a impressão que dá é de que irá acelerar essas compras agora no último semestre para AGO 12

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criar um pouco mais de atividade na indústria, nos setores que estão prejudicados. A recomendação é manter esse papel, com preço justo a R$11,00, ela está R$9,52”. Iochpe-Maxion (MYPK3 e MYPK4) Papel

MYPK3

MYPK4

“Ela é a nossa preferida no setor! Tem um comparativo da Odontoprev com empresas de planos médicos (não odontológicos), e o setor de planos médicos no Brasil é muito mais desenvolvido, o que abre uma oportunidade melhor para quem está atuando com plano odontológico, porque há um mercado muito maior para explorar, com menos concorrentes e players menores. E o fato de uma Amil ou uma Unimed mostrarem interesse em também abrir planos odontológicos, ao mesmo tempo em que assusta também pode ser benéfico, porque a empresa passa a ser visada por esses players. O foco da Odontoprev é isso, ela tem know-how”, ressaltam Helpa e Mehanna, da Toro Investimentos. ODPV3

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Papel

SAÚDE E MEDICAMENTOS

Na área de saúde, três empresas foram destacadas pelos analistas das corretoras SLW e Toro Investimentos: duas da área de serviços médicos (hospitalares, análises e diagnósticos) e uma da área de medicamentos. Odontoprev (ODPV3)

Fundada em 1987 por um grupo de cirurgiões-dentistas, a Odontoprev tem como objetivo oferecer soluções completas e de alta qualidade em saúde bucal. Possui cerca de 6 mil clientes corporativos e 5,2 milhões de brasileiros beneficiários, sendo a líder do segmento de assistência odontológica na América Latina. 46

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Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Presente nos segmentos automotivo e ferroviário, a Iochpe-Maxion gera atualmente mais de 8 mil empregos, distribuídos em 7 unidades fabris, localizadas no Brasil e no exterior. No segmento automotivo, a companhia atua através das divisões Rodas e chassis, Fumagalli e Componentes automotivos, produzindo rodas de aço para caminhões e máquinas agrícolas, além de chassis para caminhões, ônibus e picapes, e no segmento ferroviário através da AmstedMaxion, produzindo vagões de trem. “Ela tem vários produtos diferenciados, todos relacionados com peças e autopeças. O papel MYPK3 está caindo 1,72% no ano, mas a recomendação é de compra, com preço justo de R$37,71, o papel está a R$24,04”, afirma Pedro Galdi.

Para os analistas, o fato de o setor também ser ligado ao consumo interno é um ponto a mais para considerar a Odontoprev entre seus investimentos. “Ano passado, o número de planos de saúde no Brasil cresceu cerca de 5%, enquanto o odontológico cresceu quase 14%. O percentual de brasileiros que têm planos de saúde é muito maior do que o de brasileiros que têm plano odontológico. Fora que o número de empresas que contratam esse tipo de plano tem aumentando constantemente”, completam os profissional da Toro. Dasa ON (DASA3)

Maior empresa de Medicina Diagnóstica da América Latina e a quarta maior do mundo, a Dasa oferece mais de 3 mil tipos de exames laboratoriais e diagnósticos por imagem, coletadas em mais de 300 unidades de atendimento. A companhia tem ampliado sua presença no país tanto por meio de expansão orgânica quanto por aquisições de empresas no setor. Atualmente, possui mais de 20 marcas distintas, presentes em 12 estados brasileiros e Distrito Federal. Além das unidades próprias, ela presta


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serviços de apoio para cerca de 3 mil laboratórios em todo o Brasil, por meio da marca Alvaro, e opera para o setor público, por intermédio da marca CientíficaLab. Papel

DASA3

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Ela também procura crescer de maneira orgânica, através de abertura de novas lojas e de aquisições. Atualmente, possui 776 lojas em operação, sendo 407 da Raia e 369 da Drogasil, onde trabalham mais de 17 mil funcionários. Papel que figurou entre as importantes altas da bolsa neste ano, subiu 69% até julho e atualmente está cotado a R$21,00. A recomendação do analista-chefe da SLW é de compra, com preço justo de R$23,00.

PROGRAMAS E SERVIÇOS Totvs (TOTS3)

TOTS3

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Papel

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Para Pedro Galdi, analista-chefe da corretora SLW, a Dasa se destaca pelo seu poder de valorização. O papel está caindo 12% este ano e encontra-se atualmente em R$13,66. “A recomendação é manter, com preço justo de R$18,00”, diz. Raia Drogasil (RADL3) RADL3

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Papel

A Raia Drogasil nasceu em 2011, resultado da fusão entre Drogasil e Droga Raia, e atualmente é um dos dez maiores grupos varejistas do Brasil. Com R$4,7 bilhões de faturamento, a empresa adota uma estratégia de negócio diferenciada, com duas bandeiras distintas (Droga Raia e Drogasil) e grande potencial de sinergias e economia de escala.

Líder absoluta no Brasil, com 53,1% de participação de mercado, e também na América Latina, com 35,6% (segundo o instituto Gartner), a Totvs é a maior fabricante de softwares aplicativos sediada em países emergentes e a sexta maior do mundo. Seu nome (com V no lugar do U) vem do latim e significa “tudo”, “todos”, representando uma companhia que consolidou outras 25 empresas e fornece soluções em 10 segmentos: agroindústria, construção e projetos, distribuição e logística, ramo educacional, serviços financeiros, jurídicos, de manufatura, saúde, serviços e varejo. É também é a única companhia latino-americana que dispõe de plataforma tecnológica própria para desenvolver seus softwares. Com mais de 28 anos de experiência, possui cerca de 26 mil clientes ativos e conta com o apoio de aproximadamente 10 mil participantes em unidades próprias e franqueadas. Está presente em 23 países, também por meio de unidades e franquias. A Totvs tem chamado a atenção do mercado tanto pela forma como é administrada quanto pelo desempenho constante de suas ações. “É um dos melhores desempenhos de uma empresa brasileira desde a abertura de AGO 12

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capital, e já não é curto prazo, em apenas dois ou três anos esse desempenho vem se mantendo”, destacam Helpa e Mehanna, da Toro.

EDUCAÇÃO

Eles lembram que a empresa conseguiu crescer bastante através de fusões e aquisições. “É uma empresa que não sei se compraríamos, mas quem tem não dá para vender, porque é impressionante a força do papel! Nesses dois últimos anos a empresa não sabe o que é queda...”, pontuam.

Anhaguera (AEDU3 e AEDU11)

Neste setor, duas empresas chamaram a atenção dos analistas da SLW e da Toro: Anhanguera e Kroton. Papel

AEDU3

AEDU11

TRANSPORTES Localiza (RENT3) Papel

RENT3

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

A Anhanguera é a maior empresa de capital aberto do setor de educação no Brasil e o segundo maior grupo de Ensino Superior do mundo em número de alunos. A companhia tem 400 mil alunos, distribuídos em seus 73 campi e mais de 500 polos, localizados em todos os estados brasileiros e também no Distrito Federal. “Fundada em 1973, durante o período do primeiro choque do petróleo, com seis fuscas usados e comprados a crédito”, como o próprio site da companhia inicia de forma divertida a própria história, a Localiza foi reinventando seu negócio sempre com foco na qualidade em oferecer um bom serviço e em se diferenciar no mercado. É a maior rede de agências de aluguel de carros desde 1981 e, a cada ano, amplia sua participação de mercado. A frota, nova e diversificada, tem idade média de seis meses, serviço de assistência ao cliente e central de reservas 24 horas, 365 dias por ano. Para garantir a qualidade no atendimento, a empresa realiza constantes pesquisas de satisfação, programas de qualidade e incentiva a agilidade nas operações de aluguel de devolução de carros, totalmente informatizadas. Ela também frisa a competitividade através de preços no mercado. Desde o ano em que abriu capital na BM&FBovespa, em 2005, atua no Novo Mercado. Para os profissionais da Toro, não tem como pensar no setor de transporte e de serviços sem se lembrar da Localiza (RENT3). Ela une a força do consumo interno com boa governança corporativa. Vale a pena ficar de olho.

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Ela abriu capital em 2003, sendo a sucessora da Associação Lemense de Educação e Cultura, entidade que reuniu o Centro Universitário Anhanguera (Leme e Pirassununga), a Faculdade Comunitária de Campinas e as Faculdades Integradas de Valinhos. O grupo também reuniu o Instituto Jundiaiense de Educação e Cultura, que mantinha a Faculdade Politécnica de Jundiaí, e o Instituto de Ensino Superior Anhanguera, mantenedor da Faculdade Politécnica de Matão. A partir daí, vivenciou diversas fases de crescimento: a primeira, de expansão dos seus cursos superiores e da sua base física, até 1998; a segunda, de otimização e qualificação dos seus currículos e projetos pedagógicos, até 2003; e a terceira, de reorganização estrutural, administrativa e financeira, tendo esta se dado com o ingresso de novos parceirossócios e investidores. “A Anhanguera se beneficia do crescimento da educação do Brasil, da necessidade urgente de o país passar por uma evolução para virar um país suporte. Estão faltando profissionais hoje em tudo quanto é lado, então a educação é uma coisa que vai crescer muito, que o Brasil vai demandar muito e ela, como faculdade, vai estar inserida nesse contexto. A valorização do papel


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ordinário (AEDU3) foi de 35,09%, a recomendação é de compra, com preço justo de R$36,00, o preço em bolsa é de R$27,00”, sintetiza Pedro Galdi, da SLW.

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SIDERURGIA E METALURGIA Paranapanema (PMAM3 e PMAM4) Papel

PMAM3

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Kroton (KROT3, KROT4 e KROT11) Papel

KROT3

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Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Fonte: Fundamentus, 16/07/2012.

Outra que chamou a atenção dos analistas é a Kroton, que na visão de Helpa e de Mehanna tem tido um bom desempenho e merece ficar no seu radar. Uma das maiores organizações educacionais privadas do Brasil, a Kroton atua a mais de 45 anos no Ensino Básico e há quase 10 anos no Superior, por meio da marca Pitágoras. Em 2010, adquiriu o Grupo IUNI Educacional, instituição que também atua na graduação e pós-graduação por meio das marcas UNIC, UNIME e FAMA. Atualmente, são 39 unidades de Ensino Superior, presentes em 9 estados e 28 cidades brasileiras. Ela ainda conta com mais de 770 escolas associadas em todo o território nacional, além de cinco no Japão e uma no Canadá. Na área pública, a instituição está presente com a marca Projecta. Ela também mantém a Fundação Pitágoras, uma organização sem fins lucrativos que viabiliza projetos educacionais em instituições públicas e privadas. Por fim, através da marca INADE (Instituto de Avaliação e Desenvolvimento Educacional), é responsável pelo desenvolvimento de avaliações educacionais com o objetivo de melhorar os níveis de aprendizagem dos alunos das escolas e redes de ensino públicas e privadas no Brasil.

Conheça alguns dos números da instituição:

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92 mil alunos de ensino superior e pós-graduação. 22 faculdades com a marca Pitágoras. 15 faculdades com as marcas UNIC e UNIME e FAMA. 81 mil alunos no ensino básico.

Após passar por uma reestruturação financeira em 2010, a Paranapanema ampliou sua atuação e modernizou sua produção. Ao final de 2011, celebrou o up grade em suas ações, que passaram a ser negociadas pelo mais elevado nível de governança corporativa, o Novo Mercado da Bovespa (desde 2007 era participante do Nível 1). Maior produtora não integrada de cobre refinado no Brasil e líder de vendas com participação de aproximadamente 38% em volume de vendas no mercado doméstico, ela ostenta ainda o segundo lugar de produtora de semielaborados de cobre no país (laminados, barras, tubos, conexões e ligas de cobre), com participação em torno de 34% em volume de vendas no mercado doméstico e inclui ainda a produção de superfosfato simples e fertilizantes. O analista-chefe da SLW explica que a empresa não é uma mineradora, é uma processadora de cobre: “Ela compra o minério, separa o cobre dos outros metais e processa, vende cobre enriquecido para a bolsa de Londres ou produz com o cobre produtos de consumo no Brasil, como o cobre dos fios elétricos, o terninho de cobre que vai para gás e outros equipamentos”. Para ele, a Paranapanema está relacionada com o crescimento da economia, da demanda e da habitação. “E, por mais que se tenha feito e vendido muito apartamento no Brasil, a gente entende que ainda há uma carência grande, então a recomendação é manter, mesmo que ela esteja caindo 16,27% ao ano. O preço justo é R$6,50 para as ações PMAM3”, finaliza. *Vale lembrar que as entrevistas foram realizadas durante o mês de julho e, portanto, alguns dados presentes nesta matéria podem variar de acordo com a realidade diária do mercado.

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10 pontos que devem ser considerados pelo investidor

1. Excessiva popularidade pode ser prejudicial ao seu bolso

Quem acompanha os negócios na BM&FBovespa já deve ter observado como alguns papéis têm uma imensa popularidade. São companhias com as mais variadas características, desde micos em estado pré-falimentar a blue chips. A popularidade acaba atraindo uma legião de pessoas nem sempre capacitadas para avaliar se as ações em voga estão baratas. Muitas vezes, a popularidade de algumas companhias é inversamente proporcional aos seus fundamentos ou ao tamanho real da oportunidade. Saber analisar o que efetivamente é uma oportunidade é a melhor maneira de não fazer péssimos investimentos.

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2. Observe o ROE

O retorno sobre o patrimônio líquido é um excelente indicador de eficiência de uma companhia. Para calculá-lo, basta dividir o lucro líquido do período de 12 meses pelo patrimônio líquido. Empresas com alto retorno são as melhores. Aquelas que conseguem uma rentabilidade inferior à da Taxa Selic devem ser evitadas, salvo se o preço é irrisório ou se há evidências de que o momento ruim da empresa ficará no passado. Toda vez que uma companhia retém lucro e tem um retorno patrimonial abaixo das taxas de menor risco no mercado, o investidor estará perdendo dinheiro, pois se aquele resultado fosse distribuído, ele mesmo conseguiria um retorno melhor numa simples aplicação financeira.

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3. Cuidado com dívida líquida crescente

Diversas companhias costumam apresentar dívida líquida crescente, sem que esteja acontecendo investimento em capacidade produtiva ou em capital de giro. O grande temor se dá quando, apesar de existir bons lucros no balanço, a dívida líquida permanece aumentando. É um sinal de perigo decorrente da possibilidade de despesas estarem sendo contabilizadas como ativo. É desse expediente, inclusive, que se utilizaram companhias no exterior em alguns escândalos contábeis. A empresa com atividades normais, boa lucra-

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tividade, com redução da dívida líquida e o pagamento de bons dividendos dificilmente dará esse tipo de dor de cabeça para o investidor. 4. Lucros não recorrentes devem ser considerados com lupa

Muitas companhias ficam atraentes nos indicadores fundamentalistas em virtude de ganhos que não se repetirão no futuro. Os lucros que decorrem das atividades operacionais habituais são aqueles que estarão presentes nos anos seguintes, salvo mudanças concorrenciais ou macroeconômicas muito fortes. Já os resultados que advém de fatores não recorrentes, como a venda de ativos, ganhos de causas judiciais, entre outros, provavelmente não estarão de novo no balanço e, com isso, os indicadores de outrora atrativos, de um trimestre para outro podem deixar de ser.

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5. Observe o que se passa na macroeconomia

Em determinados momentos, empresas de um setor inteiro vão bem e, na sequência, passam a enfrentar sérios problemas. É bom que o investidor saiba que nem sempre isso se deve a uma questão interna de uma companhia. A situação das siderúrgicas ilustra muito bem esse fator, por exemplo. Quando a China importava aço do mundo inteiro, o preço do produto estava nas alturas e as margens eram muito relevantes. De repente, a capacidade produtiva do país asiático ficou maior que o próprio consumo e, de importadora, passou a inundar o mercado mundial com aço. Os preços despencaram, enquanto os custos de produção permaneciam em uma crescente, inclusive no Brasil. Quem percebe isso antes pode evitar a realização de investimento em ativos de companhias que deixaram de ser atrativos em virtude de um novo momento macroeconômico.

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6. Excesso de confiança costuma ser prejudicial

Alguns investidores acabam estudando uma companhia e passam a acreditar tanto numa tese que perdem a capacidade crítica de perceber quando as coisas começam a dar errado


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| Comentários de Anderson Lueders

– e afundam junto. Ninguém é infalível, por isso montar um método para evitar que um erro possa lhe arruinar as finanças é essencial. Investidores que acreditaram em algumas empresas nas IPOs, inclusive de companhias pré-operacionais, pagam atualmente caro por terem se concentrado em ativos com total ausência de histórico de resultados. O fato é que a maior parte dos projetos acaba se tornando mais cara do que o previsto e/ou com prazo de execução bem superior ao planejado, fazendo com que os retornos financeiros não se concretizem como estava no papel, que tudo aceita.

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alguns lançamentos de ações de companhias que saíram tão caras que nunca mais atingiram esses preços. 9. Não tenha medo do lucro

Há muitas formas de estabelecer o que seria o “preço justo” de um ativo. No entanto, não é a capacidade de realizar cálculos complexos que determinam o sucesso de um investidor. Se assim fosse, uma legião de físicos quânticos estaria multimilionária e o grande trunfo do investidor seriam computadores de última geração. O que determina os acertos no mercado acionário é a capacidade de estabelecer as premissas adequadas para os seus investimentos. Ou seja, saber definir quais mercados vão se expandir mais do que a previsão dos demais agentes, bem como quais companhias saberão tirar proveito da situação.

Um dos erros mais comuns dos investidores é se contentar com uma alta modesta quando sua escolha de ações é correta e permanecer com aquelas que estão caindo apenas para não “realizarem o prejuízo”, como se os preços por si só fossem suficientes para justificar as decisões de compra e de venda. Muitas vezes, a retomada da alta das ações pode ser apenas o início de um longo período de subida que costuma ocorrer quando a cotação de empresas em que imperavam o pessimismo passa a refletir otimismo. O lucro inicial decorrente da valorização acionária parece queimar as mãos de alguns investidores, que sentem uma necessidade insaciável de logo se desfazer do ativo. São estes também que têm uma enorme capacidade de manter algumas ações por longos períodos apenas porque elas se desvalorizaram. Os maiores vencedores no mercado acionário se concentram nos grandes acertos e sabem aproveitar bem as altas decorrentes das boas decisões. Eles não têm medo de lucrar quanto for necessário.

8. Tenha a capacidade de fazer o contrário da massa

10. Não basta ser bom, tem que estar barato

O investimento em renda variável, para muitos, costuma ser bastante emocional e uma das formas que as pessoas encontram para enfrentar o grande mar de incertezas é se unindo e investindo em ativos, conforme o consenso do mercado. É por isso que algumas empresas alcançam preços estratosféricos e outras chegam a preços parecidos com companhias que atingem o estado pré-falimentar. É nesse momento que se deve ter coragem de ir contra a correnteza e selecionar os ativos desprezados ou então vender aqueles que estão na euforia de momento. Exemplos clássicos de agora: uma das empresas que mais rentabilizou recentemente foi a Cielo, depois de toda a tempestade que se formou após a abertura da concorrência, momento em que o pessimismo imperou nas previsões; no lado contrário, basta pensar na febre que foram

O investidor deve fazer o dever de casa: analisar bem a alternativa escolhida, observar como é o histórico de resultados, quais são as margens e as perspectivas futuras. É importante visualizar ainda se o cenário que permitiu bons resultados vai permanecer. Todo esse cuidado, no entanto, não basta se você encontrar uma empresa que já embute no preço toda a sua competência e anos à frente de bons resultados. O que impulsiona as cotações no longo prazo de uma companhia é a diferença entre as expectativas já precificadas e aquelas que de fato ocorrem. É nesse campo que se deve concentrar a escolha dos melhores investimentos. Ou seja, encontrar uma boa companhia, com um bom preço, o que permitirá a colheita de bons lucros futuros, à medida que o mercado perceba o que você visualizou antes.

7. Foque nas premissas corretas

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Anderson Lueders é conhecido como Small Caps em alguns fóruns de investimento. É formado em direito, com MBA em gestão empresarial pela FGV. Tem experiência como investidor individual no mercado de ações desde 2000, com foco na análise de empresas small caps e desprezadas pelo mercado. Autor do livro Investindo em small caps: um roteiro completo para se tornar um investidor de sucesso, da editora Campus/Elsevier. E-mail: smallcaps@pop.com.br Blog: http://smallcaps.blogs.advfn.com

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O que é P/L? d a R e da ç ã o

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Preço por Lucro, ou simplesmente P/L, é considerado o principal índice da análise fundamentalista por ser simples de calcular e interpretar, isso faz com que esse seja o índice mais utilizado por investidores em todos os níveis de conhecimento (pequenos, médios, grandes e institucionais).

No índice, o preço é sempre o valor por ação que está cotada na BM&FBovespa (BVMF3). O lucro do índice é o ganho por ação, que nada mais é do que o lucro da empresa dividido pelo lucro total de ações. Simplificando um pouco mais, para uma empresa X que tem sua ação cotada na bolsa a R$20,00 e possui um lucro projetado de R$4,00 por ação anualmente, o seu índice P/L será igual a 5. O número 5 (cinco) significa que o acionista teria em cinco anos o retorno do valor investido inicialmente. E como sabemos quando um P/L é bom ou ruim? Quanto menor o P/L melhor. Quando o P/L fica muito alto a empresa passa a ser menos atrativa para alguns investidores. Acompanhe o P/L* das companhias que citamos na matéria de capa:

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G loss á rio

do

M ercado

Petróleo e Mineração

P/L*

Siderurgia e Metalurgia

USIM3 USIM5 Financeiro

Alimento, Bebida e Fumo

CRUZ3 BRFS3 Varejo/Consumo PCAR4

LREN3 GRND3 CGRA3

MPLU3 Energia Elétrica COCE3

Construção Civil e Imobiliário

EZTC3 *P/L referente ao dia 13 de julho de 2012. Lembrete: não é possível calcular o P/L de uma empresa que dê prejuízo.

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As 7+

ADVFN 7 dicas quentes para você aproveitar ao máximo o melhor website financeiro do Brasil

p o r J o ã o L u i S B e natt o T o r r e s

1. Portfólio ADVFN

Gerencie a sua carteira de ações através do Portfólio ADVFN. Essa ferramenta fornece uma visão detalhada do desempenho de sua carteira de ações em tempo real, ao mesmo tempo em que contabiliza o lucro total de seu aporte de capital. O usuário pode acompanhar o desempenho de várias carteiras de ativos ao mesmo tempo, assim como criar carteiras hipotéticas para simular futuros investimentos. Outro diferencial importante do Portfólio ADVFN é a atualização em tempo real do rendimento de cada ativo durante o período em que as bolsas de valores estão abertas. E, o mais importante: a ferramenta Portfólio ADVFN é totalmente GRATUITA. Para utilizá-la, basta apenas que o usuário esteja conectado no website. Acesse o Portfólio ADVFN através do link: br.advfn.com/p.php?pid=pf. 54

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2. Crise na Europa

A crise na Europa continua pegando fogo e você pode acompanhar os últimos acontecimentos diretamente através do website da ADVFN: br.advfn.com/eventos/2012/crise-na-europa.


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O Guia ADVFN sobre a crise na Europa permite que você visualize rapidamente como estão se comportando os índices dos principais mercados envolvidos e a influência deles sobre a paridade do euro com as principais moedas do mundo. O investidor também se atualiza sobre os últimos acontecimentos através de comentários diários produzidos por um dos maiores gurus financeiros da Europa – Clem Chambers. O acesso ao guia completo sobre a crise na Europa é gratuito. Para você que vai passar a acompanhar o desenrolar da crise do euro a partir de agora, esta é a situação atual: O s bancos espanhóis estão na berlinda, inundados com títulos imobiliários de altíssimo risco. Para tentar evitar que a Espanha transforme-se na versão europeia da crise imobiliária americana de 2008, o governo propôs um pacote de capitalização de €100 bilhões. A população grega elegeu Antonio Samaras – líder do partido de centro-direita Nova Democracia – para liderar o parlamento grego Troika. O resultado da eleição foi um alívio para o resto da Europa, uma vez que o novo primeiro ministro está comprometido em honrar as obrigações firmadas pela Grécia durante a renegociação de sua dívida com os demais países e bancos da Zona do Euro. D epois de muita relutância, a Alemanha cedeu às pressões de Itália e Espanha e a Zona do Euro acabou aprovando o acordo que permite o socorro direto a bancos em dificuldade. O acordo permitirá que o Mecanismo Europeu de Estabilidade injete dinheiro diretamente nos bancos com problema, sem que seja necessário que os governos dos países afetados tenham que endividar-se para repassar os recursos aos seus bancos.

Lembramos que o colegiado da ADVFN conta com mais de 500 mil pessoas interessadas ou ativas no mercado financeiro, o que garante a legitimidade dos resultados. Assim, o ADVFN Awards 2012 não servirá apenas para premiar quem mais vem se destacando em nosso mercado de atuação, mas também será um guia para que os investidores façam suas escolhas na hora de investir.

4. Universidade dos Traders

Em agosto deste ano, a Universidade dos Traders, o maior e mais democrático programa de ensino financeiro do Brasil, abordará dois temas diferentes: Mercado de opções e Estratégias long short. As aulas acontecerão no Auditório On-line ADVFN (br.advfn.com/p.php?pid=auditorium_br) e serão ministradas pelos especialistas em análise técnica da Ágora Corretora, a mais tradicional corretora de valores mobiliários do Brasil. A Universidade dos Traders é gratuita. Em cada mês, abordamos um assunto diferente. Cada aula tem duração de 1h30 e ocorre toda sexta-feira das 15h às 16h30. Para saber mais, acesse: br.advfn.com/universidade.

5. Estudo Gráfico Williams %R

3. ADVFN Awards 2012

A votação do ADVFN Awards 2012 já começou e a disputa pelo Oscar do Mercado Financeiro Brasileiro está pegando fogo. Acesse o link: br.advfn.com/awards e vote nas seguintes categorias:

Melhor Corretora de Valores Mobiliários. Melhor Ferramenta Home Broker. Melhor Professor de Análise Técnica. Melhor Curso do Mercado Financeiro. Melhor Setor de RI entre as Empresas Listadas na Bolsa de Valores. Blue Chip Favorita do Investidor Brasileiro. Small Cap Favorita do Investidor Brasileiro. Maior Guru Financeiro.

O período de votação se encerra no dia 31 de agosto e o resultado será divulgado em 15 de setembro de 2012, quando conheceremos as preferências do investidor brasileiro.

O estudo de análise gráfica Williams %R (ou apenas %R) foi desenvolvido por Larry Williams e é normalmente utilizado como um indicador de momentum (indicador de análise gráfica) aplicado no mercado de ações. Esse versátil oscilador apresenta de forma simples a interpretação de sinais de compra e venda, além de informar quando um ativo se encontra sobrecomprado ou sobrevendido. AGO 12

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O estudo estabelece a relação entre o preço de fechamento, o preço máximo e o preço mínimo de uma ação durante determinada quantidade de períodos. O estudo é passível de ajuste e o investidor pode determinar o número de períodos que será utilizado pelo %R. Normalmente, preconiza-se a utilização de 10-14 períodos para otimização dos resultados do Williams %R. O oscilador é aplicado a uma escala negativa que varia de -100 (o menor valor) até zero (o maior valor). Como regra geral, valores entre -100 e -80 indicam sobrevenda da ação, enquanto valores entre -20 e zero indicam sobrecompra.

moeda”. A paridade será calculada automaticamente assim que você pressionar o botão “Converter”. É uma maneira rápida e fácil de você ter acesso imediato a informações de câmbio sem precisar telefonar para o seu corretor ou ir até uma casa de câmbio.

7. Top List Bovespa Bovespa Sumário do Toplist 109 = 36% Maiores altas

180 = 59% Maiores baixas

A ferramenta gráfica Williams %R é disponibilizado gratuitamente no website ADVFN. Basta apenas que o usuário esteja conectado e acesse a seção Gráficos em Tempo Real (br.advfn.com/p.php?pid=charts). Acesse também a seção Tutorial sobre o estudo Williams %R através do link br.advfn.com/educacional/ analise-tecnica/william-percent-range e aprenda todas as técnicas preconizadas por Larry Williams para otimizar os seus trades utilizando a ferramenta.

6. Conversor de moedas

O Top List Bovespa da ADVFN é um ranking completo da performance diária do Mercado Bovespa. A ferramenta Top List classifica todas as ações das empresas listadas na BM&FBovespa (BVMF3) de acordo com: maiores altas (%), maiores baixas (%), volume negociado, número de negócios, maior spread, menor spread e maior relação entre preço e volume.

Vai viajar para a Europa e precisa saber quantos euros você consegue comprar com R$3 mil? Vai comprar algum produto pelo e-bay e o preço está cotado em dólares? Quer ter certeza se o seu produto premium da ADVFN continua sendo o mais barato do Brasil? A ADVFN te dá a resposta prontamente. Basta acessar a ferramenta gratuita Conversor de Moedas ADVFN (br.advfn.com/conversor-moedas) e calcular o valor de conversão entre todas as moedas do mundo. Você só tem que inserir o valor a ser convertido no campo “Converta isto” e escolher as duas moedas para conversão nos campos “Desta Moeda” e “Para esta 56

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A página principal do Top List Bovespa disponibiliza um resumo de cada ranking com os dez primeiros colocados do dia. Entretanto, o usuário pode clicar no botão “Mais” em cada ranking e ter acesso à lista completa de cada categoria. A ADVFN ainda disponibiliza um resumo com a quantidade total e o percentual de ações em alta, em baixa e que não sofreram alterações em seu preço durante o pregão. O acesso ao Top List Bovespa ADVFN é gratuito, através do link: br.advfn.com/p.php?pid=adntl.

Acompanhe estas e outras dicas no principal portal do mercado financeiro: br.advfn.com.


L uz ,

c â mera . . .

aç õ es !

: a rede social Uma trajetória de sucesso p o r A r o ld o G l o m b

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proveitando a entrada do Facebook na bolsa de valores, resolvemos falar um pouquinho sobre como ele chegou a este ponto. A tão aguardada (e para muitos, atrasada) abertura de oferta pública do Facebook, ou IPO, aconteceu neste ano com muita apreensão do mercado.

Resumindo o filme A Rede Social

Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) é um típico nerd estudante da conceituada Universidade de Harvard. Logo após terminar com a namorada, e muito contrariado por levar um fora da garota, nasce a ideia de criar um site para avaliar o quão atraentes eram as alunas da instituição (coisa de estudante solteiro mesmo). Acontece que o site deu muito certo! A base de tudo veio com seu amigo, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), e nasce o “Facemash”. Todos os rapazes de Harvard entraram na brincadeira e, lógico, o site decolou! Bola de neve total, o Facemash chamou a atenção de muita gente, até mesmo dos gêmeos Cameron Winklevoss e Winklevoss Tyler, atletas do remo de Harvard, e de um parceiro de negócio deles. Estes três personagens queriam alguém para desenvolver um site chamado Harvard Connection, e como o Facemash havia estourado adivinhe só quem foi convidado para ajudar a desenvolver tudo?

Angel investment

Passando um pouco a “fita”, nasce a ideia do “The Facebook” (uma rede social exclusiva para alunos de Harvard) com Eduardo ajudando Mark com mil dólares para iniciar o site. Podemos considerar isso como sendo um angel investment (um investimento anjo), ou seja, veio uma ideia, foi visto potencial nela e alguma empresa ou alguém (neste caso, Eduardo) decidiu que poderia dar certo e injetou alguma verba. Vamos desconsiderar todo e qualquer julgamento sobre se houve plágio ou não na ideia dos gêmeos (que entraram com um processo por roubo de propriedade intelectual contra Mark) e nos concentrar no que veio na sequência.

Com o andar da carruagem, Mark decide expandir sua nova criação para mais universidades, a partir de então, todo o projeto decola para valer: Yale, Columbia, Stanford... Uma nova virada (ou um novo investimento anjo, mais forte ainda) surge na figura do fundador do polêmico Napster, Sean Parker (Justin Timberlake). A primeira tomada de decisão foi tirar o “The” no domínio do site, ficando apenas Facebook. Parker era admirado por Mark e entrou com tudo na sociedade. Estava indo tudo muito rápido, portanto era hora de profissionalizar os processos. Na nova formação, Eduardo ficaria em Nova Iorque como suporte de publicidade enquanto a nova dupla dinâmica (Mark e Sean) monta base em Palo Alto. Sean Parker come e bebe Facebook, tomou posição e foi o responsável por achar um investidor da pesada para o projeto. Era o encontro da oportunidade com a ideia! O novo parceiro de Mark tinha muita experiência com este tipo de negócio e, portanto, tinha acesso e contatos neste ramo tecnológico que poderiam render grandes contratos. Saindo um pouco do filme, o livro Bilionários por acaso – A criação do Facebook mostra como veio o grande salto da empresa em poucos meses. Eles eram disputados quase que a tapa por grandes empresas que atuam com start-ups (a Sequoia foi uma das que menosprezaram eles no início e corriam feito loucos depois do sucesso) e em São Francisco eles conseguiram uma reunião com Peter Thiel, apenas o dono do fundo de investimento multibilionário Clarium Capital e o responsável pelo começo de projetos como o PayPal. Um homem de visão, empreendedor... perfeito para o Facebook. Uma negociação rápida até, mas, como a ideia era muito atraente e já estava em andamento, eles conseguiram o investimento inicial de US$500 mil. Parece pouco até, mas era o suficiente para pagar as dívidas acumuladas e profissionalizar de vez o site! Houve muita mudança na composição social da nova companhia. Thiel levaria 7% da nova recém-formada empresa e, em pouco tempo, Eduardo deveria sair da jogada (já que ele não estava tão dentro do projeto quanto os outros). Se Mark foi traíra com seu amigo ou não, veja o filme e tire suas próprias conclusões! AGO 12

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Um dia como

day trader

No cotidiano do dinheiro, com Japa Trader e Picapau Trader p o r A r o ld o G l o m b

PERFIL Cláudio De Lucca Função: Empresário – criador do perfil Picapau Trader do Twitter.

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nvestir pensando no longo prazo é uma das bandeiras da nossa revista e é esse o perfil da maioria dos nossos leitores. Que tal ver o outro lado da moeda, o daquele que vive intensamente o sobe e desce a cada dia? Conversamos, nesta edição, com um day trader –um não, mas dois!

Só para colocar os pingos nos “is”, day trader é aquele investidor que atua a curtíssimo prazo. Ele abre e fecha as suas operações no mesmo dia. Imagine a quantidade de informações que este investidor precisa ter? O número de tomadas de decisões ao mesmo tempo? E a quantidade de histórias curiosas então, nem se fala! Conversamos com duas personalidades que representam bem este espírito! Vejamos cada um deles então. Histórico dos entrevistados

Fotos: Divulgação

PERFIL Ricardo Hideki Ogura Função: AKA Japa Trader.

Ricardo Hideki Ogura, mais conhecido como Japa Trader, é natural de Dracena, interior de São Paulo. Aos 17 anos, foi para o Japão a trabalho e acabou ficando por lá três anos. Imagine um jovem com dinheiro e sem cabeça para guardar o que conquistou? O resultado só poderia ser fim da grana em pouco tempo! Uma nova ida ao Japão, em 2004, agora mais maduro e com foco para investir em algo, foi a consequência natural. “Ouvia falar de bolsa de valores, mas achava que eram negócios somente para pessoas ricas. Em 2007, por curiosidade, eu vi um vídeo no YouTube de um grande investidor day trader do Japão que utilizava análise técnica, mas eu nem tinha noção do que era um gráfico, candles, etc. Ficava pesquisando e, em 2008, prestes a voltar, eu conheci uma técnica de combinação de candles”, explica. No Brasil, só uma coisa estava na cabeça dele: investir na bolsa. Mas não ainda, já que surgiu outro negócio que parecia ser tão ou mais lucrativo: ele comprou um caminhão! E esse foi o seu maior erro. “Me deu muitos prejuízos e não era o que eu mais gostava, que era investir na bolsa de valores. Devemos fazer o que gostamos”, justifica-se. Cláudio De Lucca, criador do perfil Picapau Trader do Twitter (twitter. com/picapautrader), vai direto ao ponto. Esse empresário paulista de 43 anos teve como ano-chave também 2008, quando descobriu o mundo da bolsa de valores. “Naquele ano, como o mercado vinha desabando, eu achei que era uma ótima janela para começar. Passei a estudar o assunto várias horas por dia, até adquirir confiança para fazer as primeiras operações”, contou Cláudio.

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Qual foi a sua primeira grande operação como day trader? Japa Trader (JT) – Que me recordo como primeira foi a PETR4. Investi R$45 mil na época, mas tirei apenas 0,42% (menos de R$300,00 de lucro), ainda com medo de operar (risos). Não é operar grande que te faz ser grande, e podemos operar pouco dinheiro e nos sentirmos maiores do que aquele que investiu pesado e obteve menos, em termos de porcentagem. Picapau Trader (PT) – A primeira grande operação fiz no começo de 2010, em Kepler (KEPL3), um amigo de chat alertou sobre uma movimentação atípica no papel e, no dia seguinte, abriu com força total e entrei na abertura sem medo e com bom capital, fiz várias entradas e saídas no papel, acertando praticamente todas elas. Foi um dia que tudo conspirou a meu favor, e praticamente a última vez que entrei em Kepler com tanto capital. Qual foi sua operação mais lucrativa? JT – A mais relevante até hoje foi no índice futuro que atingi uma meta bruta de 32% no day trade. Abusei da meta diária, pois o mercado nesse dia abriu várias oportunidades. O certo é sempre buscar a meta traçada no dia. E em ações foi na Usiminas (USIM5), com 7,8% no dia. PT – De operação day trade esta da Kepler foi a mais lucrativa, sem dúvidas. Atualmente, meu controle de risco praticamente me impede de fazer operações tão arriscadas como a que fiz em 2010. Você opera com mais frequência ações de qual setor? JT – Estou operando no mini-índice todos os dias day trade, que vem crescendo cada vez mais no mercado. Onde é mais volátil e mais vantajoso em termos de porcentagem em relação às ações, que pode começar com pouco capital e obter um lucro elevado (vale a pena ressaltar que este pode ser positivo ou negativo). Venho utilizando até hoje uma técnica de combinação de candles que conheci no Japão com a analise técnica, que tem dado um bom nível de pontuação no mês, entre ganhos e perdas. PT – Opero na maioria das vezes opções, então meus ativos preferidos são aqueles que possuem opções, e líquidez. Operar opções te traz uma gama maior de estratégias, por isso tenho preferência por elas. Como descrever a sua sensação após um dia de trade? JT – Após o fechamento do mercado, gosto de rever as operações das análises que fiz durante o dia. Sempre é bom porque às vezes podemos ver com mais tranquilidade fora do pregão, seja de ganho ou perda. Se errei, eu busco o aprimoramento, que será mais um novo aprendizado e, se ganhei, será mais um dia de vitória da força da análise técnica, e dou parabéns a ela, e não a mim! PT – A exposição frequente ao risco traz adrenalina, e isso é viciante. Para trazer equilíbrio, procuro encerrar meu dia de trabalho com o fechamento do pregão, algumas vezes é difícil não remoer o que se passou durante o dia. Sei lidar muito bem com minhas falhas e me policio para que uma vitória não me distraia, porque o entusiasmo te deixa vulnerável a falhas, o ponto ideal é terminar o dia indiferente ao que aconteceu no pregão.

Qual o maior erro que um trader pode cometer? JT – No meu ponto de vista, o maior erro é perder o controle emocional, saindo de suas metas, o que consequentemente não traz bons resultados. Outro erro que pode ocorrer é uma estratégia traçada com stop gain, algumas pessoas, ao ver que estão prestes a serem “stopadas”, mudam rapidamente o stop mais abaixo e o acionam, isso já aconteceu comigo, o que minimiza os lucros e deixa correrem as perdas, exatamente o contrário do que buscamos no mercado. PT – Negligenciar o controle de risco é um erro frequente e o mais grave deles. O emocional pesa até que ponto? JT – A chave principal de tudo é controlar o estado emocional que demora a ser contido, falo por experiência própria. Se eu estivesse ganhando em um determinado dia, logo pensava: “Estou no lucro, por que não arriscar mais um trade? Prometo que é o último trade (risos)”. Às vezes, era melhor ter parado, cumprindo a meta diária! Estando no prejuízo, agora era hora de recuperar. Estava perdendo, o subconsciente já se altera pensando na perda. Conheço várias pessoas que ganham um trade e desligam rapidamente o computador, mas se está perdendo vai o dia todo para recuperar. Daí já viu o descontrole, tanto emocional quanto financeiro e o estresse, porque não consegue se conter diante do sobe e desce, e seja em ações, opções ou BM&F. Então, o estado emocional é muito importante, diria que é preciso planejar uma meta diária de ganhos e perdas – se for a ativos, uma porcentagem no dia, no índice x de pontos, pois às vezes o mercado não está favorável. Deixar de operar no dia também é operar e, em caso de dúvidas, não opere. AGO 12

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E, quando acertar um ou mais dias, jamais se sinta invencível, pois quem decide é o mercado, que pode pegar de surpresa e lhe dar uma rasteira. E, se ele erra, automaticamente vai afetar, porque houve uma perda, mas isso podendo variar de perfil para perfil, os traders bem-sucedidos erram, mas sabem que aquela perda – seja uma, duas ou três – poderá ser recuperada nos próximos day trades, controlando seu risco x retorno. Hoje, opero mais tranquilamente porque perder também faz parte. PT – Sim, o emocional conta muito, é natural se sentir invencível quando ocorrem acertos e perdedores quando erramos. Nossa mente trabalha para isso acontecer. A vida de um day trader é decidida no dia a dia, você é um operário da bolsa, seus ganhos estão mais relacionados a pequenas conquistas somadas do que a fazer grandes operações diárias. Se você está tendo grandes lucros ou grandes prejuízos, pode ser que esteja operando mais por impulso do que por estratégia. Uma operação tem que ter começo, meio e fim, com objetivos claros. Qual é o seu limite? JT – O meu limite é: se perder no máximo três operações no dia, já encerro. Mais que isso já não insistiria, pois seria emocional, e deixaria para próximo dia, buscando novas oportunidades. PT – Para cada operação, meu risco máximo é de 1 a 2% do meu capital em bolsa, em caso de prejuízo. Para o lucro, não tenho um limite, enquanto o ativo está fazendo máxima ou perto dela eu mantenho a operação. Quais empresas você sente mais facilidade de operar? JT – A escolha, de fato, para mim são as blue chips. Opero Petrobras (PETR3 e PETR4), Vale (VALE3 e 60

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VALE5), Gerdau (GGBR4), Itaú Unibanco (ITUB4),Usiminas (USIM5), OGX (OGXP3), Bradesco (BBDC4) e por aí vai, sempre as que tiverem maior liquidez para não ficar preso no papel. Small caps seria bom operar a longo prazo, particularmente não gosto muito de operar ações consideradas micos, mas já operei antes. Pela liquidez às vezes ficava travado ao longo do dia. PT – A facilidade de operar um ativo depende do momento do mercado, já vi mercado parado e micos pulando (dando ótimos lucros), então para um trader não pode haver preconceito, você tem que operar o que o mercado está te trazendo. O que torna um day trader um bom gerador de lucros? JT – Em minha opinião, é ficar sempre atento às análises, além do conhecimento e da dedicação, mantendo sempre a disciplina para buscar sua meta, que é a base fundamental. O mercado desenha o gráfico e nós apenas interpretamos e tomamos as decisões concretas. Cada um analisa o gráfico como bem entender, em um curso o professor dizia: “Seguimos a teoria tradicional nesse gráfico, mas pode chegar um bêbado aqui na sala e interpretar outras figuras e dar certo” (risos). Tenho sempre a mente de um aprendiz, pois a cada dia o mercado nos ensina algo, essas são as principais sementes para colhermos bons frutos. PT – O mercado muda a todo instante, nenhum dia é igual ao outro, as estratégias têm de se adaptar ao mercado. Já vi colegas sofrendo porque montam uma estratégia que funciona por um tempo, mas depois ela passa a ser perdedora, porque o mercado muda – uma tendência de alta para uma de baixa, por exemplo. Então, o bom trader é aquele que percebe as mudanças e se adapta a elas. Um bom analista pode se tornar um day trader? JT – Sim, desde que cumpra suas metas no dia a dia e já tenha um pouco de experiência no médio e curto prazos até chegar no day trade, que é uma operação mais arriscada comparando-a ao longo prazo. PT – Esta pergunta é bem capciosa... é fato: é muito mais fácil analisar do que operar. Quando você faz uma análise, o dinheiro não está envolvido, você enxerga as possibilidades e traça um plano, o mercado não vai fazer o que você quer, aliás ele não está nem aí para suas metas. Analisar nada tem a ver com operar. Operar envolve o emocional, porque trabalha com dinheiro. Quando você erra uma análise, se não operou fatalmente você não vai se chatear, agora se você errou numa operação, isso te trará aborrecimento, porque dói muito perder dinheiro. Como um trader pode não se perder em meio a tantas decisões rápidas? JT – No começo, diria que ficava procurando oportunidades nos gráficos, traçando passo a passo, e às vezes a oscilação era rápida e eu deixava passar. Mas, com o passar do tempo, o processo vai ficando mais fácil e visível de analisar. A dica que eu daria para não se perder diante disso é ficar atento aos gráficos que estão prestes a se confirmarem em suas estratégias, e nisso já se analisa os riscos x o retorno. PT – Em todas as operações, eu sei quanto posso perder. Só começo a operação sabendo disso. Foi por isso que comecei a operar opções, prefiro arriscar 1% do meu capital na compra de uma opção a seco do que ficar comprado em uma


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ação que pode desabar 20% num dia, como ocorreu com a OGX (OGPX3) recentemente. Quando você compra uma opção, o seu risco é todo o capital que você está pagando por ela; quando você monta uma trava, é a mesma coisa. Ou seja, controle de risco é a chave de tudo. Qual foi a situação mais marcante que você já passou? JT – Logo no começo, eu estava comprado em opções a seco sem stop, aquelas de um real e pouco que oscilam rapidamente. Aí começou a cair tudo e, ao mesmo tempo, acabou a luz em casa! Liguei imediatamente na corretora e dava ocupado. Desesperei-me e liguei para um amigo e tinha luz na casa dele, não tive dúvidas, fui até lá. Nisso, com a mão direita segurando o mouse, sem perceber arrastei o mouse junto pelo caminho. Quando percebi, dei risada sozinho. Olha o ponto a que cheguei (risos). PT – Recentemente, comprei umas opções de venda na Petrobras a R$0,10. Infelizmente, essa opção foi praticamente para R$0,01, era uma quinta-feira, e a Petrobras ia apresentar o balanço no final do dia. Para a opção ficar “dentro do dinheiro”, precisava cair mais de 7%, e naquele momento a chance de isso ocorrer em apenas um dia era menor de 1%. Resolvi aumentar minha posição, mas comprei opções de venda num strike acima, que necessitava de uma queda de 4%. No dia seguinte, eu não estaria operando logo na abertura, por estar em viagem e, quando abri o home broker na tarde de sexta, nem acreditei, as opções que tinha comprado um dia antes subiam expressivamente. Executei-as na mesma hora, segurei as minhas opções que estavam virando pó, até atingir 3.000%, lembrando que para mim, na verdade, estava tento um lucro de 200%, pois tinha pago R$0,10 e vendi por R$0,30. Qual o seu guru e método preferido? JT – Meu método preferido é uma técnica de combinação de candles, talvez seja o temperinho (risos) no intraday em quatro tempos, gráfico junto à análise gráfica, que vem dando certo no operacional do dia a dia. Em eventuais dúvidas que eu puder ajudar, fico à disposição. O investimento é a ciência e a arte. A ciência é a disciplina, enquanto a arte é a capacidade de julgamento, a experiência e a disposição de ouvir o mercado com atenção. O investidor esquece a disciplina e se deixa dominar pelas emoções quando, no mercado de alta, decide entrar com medo de perder o trem. As emoções de medo e ambição precisam ser controladas e substituídas pela disciplina. PT – Alexander Elder dispensa qualquer comentário, é um mestre que deve ser lido. Meu método de estudo é análise técnica, gosto de usar candles, Bandas de Bollinger, Índice de Força Relativa (IFR), SAR Parabólico e as médias móveis exponenciais.

Conheço várias pessoas que ganham um trade e desligam rapidamente o computador, mas se está perdendo vai o dia todo para recuperar... às vezes o mercado não está favorável. Deixar de operar no dia também é operar e, em caso de dúvidas, não opere. Ricardo Hideki Ogura

O emocional conta muito, é natural se sentir invencível quando ocorrem acertos e perdedores quando erramos. Nossa mente trabalha para isso acontecer. A vida de um day trader é decidida no dia a dia, você é um operário da bolsa, seus ganhos estão mais relacionados a pequenas conquistas somadas do que a fazer grandes operações diárias. Se você está tendo grandes lucros ou grandes prejuízos, pode ser que esteja operando mais por impulso do que por estratégia. Uma operação tem que ter começo, meio e fim, com objetivos claros. Cláudio De Lucca, criador do perfil Picapau Trader

Se quiser trocar algumas ideias com nossos convidados, entre em contato com eles! Picapau Trader: twitter.com/picapautrader Japa Trader: japatrader@hotmail.com

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OPÇÕES: aumente as suas e aproveite todo o potencial do mercado por Marcelo Coutinho

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magine que agora mesmo algum fato externo surja, provocando o derretimento (desvalorização acelerada) de alguns papéis – algo que temos visto muito recentemente, por sinal, não é mesmo? Quais são as suas opções? O investidor pode ter comprado ações na expectativa de subir, ter vendido, pode estar esperando o papel cair para comprar mais barato... e pode também investir em opções. Ao invés de comprar ações da Vale, por exemplo, compra uma VALEI40 ou VALEI42. Ter opções é ótimo, nos mais amplos sentidos da palavra. Agora, o que muitos investidores não sabem é que opções são um dos instrumentos mais complexos do mercado. Por isso,

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digo sem medo de causar polêmica que começar a especular com opções é o caminho mais curto para quebrar. O que eu já vi de pessoas quebrarem no mercado operando opções, é de causar mau humor. Já vi especulador perder R$424 mil em 21 dias por investir em opções a seco. Mas também já vi grandes fortunas serem construídas. Entre os dois polos, há uma só expressão: educação. O grande ponto em opções é que não existe conhecimento básico, não se pode recorrer ao famoso: “Me ensina o básico sobre tal assunto?”. Essa é a forma mais rápida de quebrar! Para começo de conversa, o instrumento tem cinco variáveis correlacionadas e, para operá-lo, é imprescindível conhecêlas e entender o que cada uma dessas variáveis pode gerar (e


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nós, do YouTrade, podemos ajudá-lo nisso!). Só depois desse passo é que recomendo a você começar a operar. Se você quer investir em opções, indico como leitura inicial obrigatória The bible of options strategies, de Guy Cohen, que como o próprio nome já sugere é uma bíblia de opções. É um livro de 700 páginas que eu li e reli centenas de vezes. A barreira da língua pode o deixar um pouco apreensivo, o livro não tem tradução para o português, mas com ele você pode entender melhor as travas e combinações entre opções que lhe permitirão fazer as três formas possíveis de operações envolvendo opções: 1. Operações-alvo. 2. Proteção de capital. 3. Compra e venda a seco.

Uma recomendação em português é o livro Opções – Do tradicional ao exótico, de Lauro de Araújo Silva Neto, que também é muito bom. Das três formas de operar com opções, a mais arriscada é especular em opções a seco – e é onde mais vejo pessoas quebrarem. Se você quer mesmo correr esse risco, precisa levar duas regras básicas em consideração: 1. Opere na semana que antecede o vencimento. Essa é uma regra simples, mas quem não entende muito do mercado normalmente se perde aqui. Opções vencem na terceira segunda-feira de cada mês, com exceção de fevereiro, por causa do carnaval. Lembre-se disso na hora de operá-las! 2. Sempre opere utilizando opções cujo valor nominal seja próximo de R$1,00.

Opção tem uma característica peculiar: é um contrato que tem vencimento, ela morre toda terceira segunda-feira de cada mês (exceto em fevereiro). Se quiser continuar investindo naquela opção que adquiriu, você pode ir rolando a opção para cima ou para baixo, mas tem que fazer algo, caso contrário, ela deixa de existir. Aqui, aliás, lembro-me de um grande equívoco que costumo ouvir no mercado: “Opções não são investimentos de longo prazo e, portanto, não são para investidores conservadores”. Quer um conselho? Deixe de lado a falácia de que opções são só para investidores arrojados, a questão não é perfil, mas como operar o instrumento! Outro ponto que muita gente desconhece no mercado é que dá para investir em opções não somente com Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3 e VALE5), mas em qualquer ação do Ibovespa. A partir de R$5 mil, já é possível investir em opções e, a partir daí, o céu é o limite, não existe valor máximo.

Eu não recomendo investir em opções a seco. E o que vem a ser isso? Opção a seco significa comprar uma opção como a VALEI40, por exemplo, e não comprar mais nada, não ter mais nenhum tipo de ativo que complemente sua estratégia. Ao invés de fazer só isso, o investidor pode zerar algumas operações, colocar o lucro no bolso e, em dias pontuais, que são aqueles em que o mercado dá algumas oportunidades de correção, ir lá e vender essa opção. Dessa forma, ele estará perdendo dinheiro no papel, caso este esteja caindo, mas em compensação, na outra ponta, estará vendido e o investidor se beneficiará com a queda do mercado, podendo comprar o papel mais barato. Em outras palavras: ele pode proteger uma parte do capital ou até vender uma quantidade superior a que tem de papel, o que chamamos de “delta neutro”. Ao invés de se desfazer do papel, que ele pode não querer por alguma estratégia que imagina mais para frente, o investidor pode operar com opções e aí estará cobrindo as duas pontas, comprado e vendido. O que um investidor não deve fazer, pelo menos aos meus olhos, é ficar comprando e vendendo opções a seco no mercado. Alicerce as operações, juntando-as com outros papéis, use-as como um instrumento acessório, adicional à sua estratégia, mas não opere a seco! Outro erro clássico é não saber com que opção trabalhar, é comprar qualquer uma, sem entender as variáveis. Não adianta simplificar, investir em papel é fácil, você compra e vende e acabou. Opções não, você tem que entender o mecanismo. Qual é a tua estratégia? Você vai fazer uma trava de alta? Então, compre opções mais para fora do dinheiro, que são as opções de strike acima do valor do papel. Pretende uma trava de baixa? Vá mais para dentro do dinheiro, que são as opções de strike inferior do papel. Vai operar a seco? Escolha opções mais próximas a R$1,00, com delta gama maior. Qual é o seu objetivo? Defina! E, por último, lembre-se: opções são uma forma a mais de operar, não significa excluir compra e venda de ações. Se for operar opções, por favor, saiba o que está fazendo! Marcelo Coutinho – É piloto privado de avião e sócio-presidente do YouTrade. Engenheiro eletrônico com especialização em telecomunicações, MBA executivo pelo Ibmec São Paulo (atual Insper) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Criou o YouTrade com a intenção de difundir os conceitos de análise técnica e promover a educação financeira.

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por Gisele Menezes

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um primeiro momento, foi exposto o entendimento de que os riscos envolvidos nas operações de valores mobiliários devem ser repartidos entre órgão regulamentador (estado), empresas e investidores, na exata proporção da responsabilidade de cada uma das partes, visando à garantia de mínimo equilíbrio entre as envolvidas, sob pena de estancar o desenvolvimento do mercado. Muitas serão as vozes a afirmar que esse equilíbrio já existe, afinal, o mercado de valores mobiliários brasileiro não sucumbiu às crises mundiais, praticamente seguidas desde 2008. Ao contrário, o segmento apresenta crescimento expressivo ano após ano.

Mas, esse acervo normativo é operacionalmente acessível? É eficiente? E você, investidor, acha que está protegido? Enquanto a CVM sustenta que a implantação do modelo de supervisão baseada em risco (Resolução CMN nº 3.427/06) permite à autarquia se antecipar aos problemas que dariam vulnerabilidade ao mercado, os fatos e notícias veiculados diariamente dão conta da crescente constatação de que o pequeno investidor encontra-se entregue à própria sorte, ou à falta dela. Em meio aos vários pontos de vista subjetivos externados, o relatório Doing Business in a more transparent world, elaborado de forma objetiva pelo Banco Mundial, classificou o Brasil no item “proteção aos investidores” com a 79ª colocação entre 183 países pesquisados, conforme dados coletados no biênio 2010/2011. O estudo demonstra que o país despencou 17 posições em apenas cinco anos, ante ao também insosso 62º lugar obtido em 2007.

Com efeito, dizer que não existem regras que assegurem uma participação adequada (ou quase) do acionista minoritário seria uma falácia. Tecnicamente, há uma divisão de responsabilidades e até um nível normativo evoluído de proteção ao investidor, especialmente As variáveis que definem a classificação no ranking são: quando se trata de investimento em títulos de emissores p o r G i s e l e M e n e z e responsabilidade s transparência, dos diretores, facilidade nacionais, os quais estão sujeitos à Lei das S.A.s. 64

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dos processos de acionistas e eficiência da proteção ao investidor. Sem ofender àqueles que refutam a conclusão alcançada pelo relatório, superficial análise desses pilares, na prática, leva à constatação idêntica. Ainda que se tenha em elevado critério a transparência expressamente prevista nas normas que regulamentam o mercado e a responsabilização dos diretores das companhias, um passar de olhos na dificuldade do investidor em promover os atos necessários à sua defesa e na incipiente eficiência dos meios de proteção confere vida à impressão colhida pelo Banco Mundial. Isso porque, se há investidores desprotegidos de um lado e, de outro, a lei que determina e provê os meios para sua proteção, sem, contudo, obter os resultados esperados, emana inconteste desta equação, então, a dificuldade dos processos de acionistas e a deficiência da proteção do investidor, ou seja, a inoperância de dois dos quatro alicerces que pautaram o estudo. A simples existência de regras de proteção não basta, por assim dizer, à satisfação dos anseios dos pequenos investidores, que nem de longe contam com poder de fogo para guerrear com os contadores, economistas, auditores, advogados e até publicitários das empresas de capital aberto. É preciso eficiência. Tem de haver meios de garantir o cumprimento das regras (enforcement), sem impor ao pequeno investidor o ônus de arcar com artilharia idêntica. Sem adentrar no mérito dos conhecimentos multidisciplinares envolvidos na eleição da empresa, o que, de pronto, descarta a almejada popularização do investimento em ações, os custos de advogados e profissionais capacitados às análises de consistência de balanços e demais informações fornecidas ao mercado figuram como principais fatores de desestímulo à busca de proteção, ao lado da falta de informações básicas, fundamentais para qualquer cidadão (direitos). O caso da empresa Mundial (MNDL3 e MNDL4) é um bom exemplo da inoperância suscitada. Decorrido mais de um ano da deflagração da manipulação dos valores das ações emitidas pela empresa, não há qualquer condenado, nem tampouco um único investidor ressarcido. E haverá? A questão não é o desfecho do caso Mundial, mas a incômoda certeza de que ele também se dará nos moldes do sistema “mais do mesmo”, ou seja, nada de novo. O investidor brasileiro é culturalmente resignado, mas a globalização de direitos e informações sinaliza um cenário de alterações substanciais nessa postura, tal qual já vigente em países de porte econômico similar. No início de 2011 a BM&FBovespa amargou a saída de aproximadamente 30 mil pessoas físicas, apesar de

contar, em dezembro do mesmo ano, número de investidores quase 7 vezes maior que há 10 anos – de 85 mil em 2002, saltou para 583.202 mil. Deixando para outra oportunidade a discussão sobre a consistência dos dados e da distância entre estes e as projeções anunciadas pela BM&FBovespa para 2018, o crescimento experimentado até agora é suficiente para expor as fragilidades do sistema de defesa desses acionistas. O valor aferido pela CVM, de aproximadamente R$1,7 bilhão, resultante de multas aplicadas e acordos firmados nos últimos cinco anos, nem de longe se mostra proporcional às perdas dos acionistas minoritários ocasionadas pelos atos punidos. Aliás, enquanto os números enchem os olhos, o bolso dos investidores vitimados continua vazio. Salvo engano – e estejam à vontade para correção – não socorre à lembrança nenhum caso, nos últimos dez anos, em que o investidor tenha sido agraciado com o efetivo ressarcimento de suas perdas, apesar de causas em andamento perante às instâncias cabíveis. Um aparte apenas aos processos entre investidores e corretoras, em razão da incompatibilidade entre ordem transmitida, em regra via agente autônomo, e ordem executada, muitas das quais obtiveram indenizações pelos danos decorrentes. Importa ponderar que os reflexos nefastos de uma precária proteção ao pequeno investidor vão além da possibilidade de uma evasão maciça, atingindo empresas que arcam com elevados custos para manterem-se dentro de rigorosos padrões de governança corporativa, sem obter nível de captação de recursos satisfatório ou compatível com as obrigações assumidas, o que desestimula novas IPOs e a entrada de investimento estrangeiro, especialmente diante da baixa remuneração atual oferecida pelos títulos públicos. Em tempos onde crises e instabilidades do mercado financeiro acarretam efeitos sistêmicos muito além das fronteiras dos protagonistas da vez, estudos como o do Banco Mundial, antes de servirem à exposição do descompasso entre a realidade interna e a tendência mundial, assumem relevante impacto, na medida em que, em conjunto com as demais informações, citados dados amparam a decisão de governos, empresas e investidores de relacionar-se ou não com o mercado de valores mobiliários do Brasil.

Gisele Menezes Emídio – Advogada, especialista em Direito Empresarial pela FGV e em Gestão Tributária pela FIPECAFI. gisele@meaa.com.br

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AGOSTO | 12 AUDITÓRIO ADVFN Morning Call Em todos os dias da semana, quem faz a abertura de mercado às 10 horas é a rico.com.vc Night Call Equipe Trader Toda segunda-feira às 21 horas Winner Trade Toda terça-feira às 21 horas Icap (MyCap) Toda quarta-feira às 21 horas SLWI – com Bo Williams e Márcio Santos Toda quinta-feira às 21 horas YouTrade – Com Marcelo Coutinho Todo domingo às 21 horas

Cursos on-line Mercado à Vista de Ações: Videoaula on-line.

Day Trade com Ações e Opções: Videoaula on-line. + info: Site: www.seuconsultorfinanceiro. com.br E-mail: contato@ seuconsultorfinanceiro.com.br

ÁGORA EDUCACIONAL Análise Fundamentalista e Carteiras Recomendadas Ágora 28 de agosto | Rio de Janeiro

VESSEL INVESTIMENTOS Análise Fundamentalista 24 e 25 de agosto | Maceió, AL

Obs.: as inscrições devem ser feitas através do site.

SEU CONSULTOR FINANCEIRO Palestrante Leandro Martins Intensivo sobre Análise Gráfica 4 de agosto | Rio de Janeiro, RJ 11 de agosto | São Paulo, SP 18 de agosto | Brasília, DF 25 de agosto | Curitiba, PR 1 de setembro | Londrina, PR

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Invista em Ações para o seu Futuro 25 de agosto | Curitiba, PR + info: Local: Av. Silva Jardim, 465, sala 03 | Curitiba/PR E-mail: contato@ toroinvestimentos.com.br Site: www.toroinvestimentos.com.br Tel.: (41) 3052-7744

Introdução à Análise Gráfica: Videoaula on-line.

Obs.: para acompanhar o Auditório ADVFN, basta entrar no site br.advfn.com e acessar o menu Auditório.

+ info: E-mail: thiago.wanderley@ vesselinvestimentos.com.br Site: www.vesselinvestimentos.com.br Tel.: (82) 3313-2114

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Day Trade 5 de agosto | Rio de Janeiro, RJ 12 de agosto | São Paulo, SP 19 de agosto | Brasília, DF 26 de agosto | Curitiba, PR 2 de setembro | Londrina, PR

ATIVA CORRETORA Introdução ao Mercado de Ações e Home Broker 7 de agosto – às 19h Termo e Aluguel 21 de agosto – às 19h Análise Técnica 21 de agosto – às 19h + info: Local: Al. Dr. Carlos de Carvalho, 417, 30º andar | Curitiba/PR E-mail: comercialpr@invistaativa. com.br Site: www.invistaativa.com.br/curitiba Tel.: (41) 3075-7405 Fax: (41) 3075-7406

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