Dýnamis Érrion

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Rafael Fernandes de Souza

A HISTÓRIA DAS AVENTURAS DO

DINÂMICO ERRE

2ª Edição

Brasília, 2018 Edição digital do autor

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Dinâmico R e todos os personagens aqui apresentados são de propriedade de Rafael Fernandes de Souza. ® 1998-2018. Todos os direitos reservados. Textos, revisão e diagramação Rafael Fernandes de Souza Capa e ilustrações Fábio Oliveira Santos 1ª edição – Secretaria de Cultura do Distrito Federal, 2000. Vencedor da Bolsa Brasília de Produção Literária 1998. 1000 exemplares impressos. 2ª edição - Edição digital do autor, 2018.

Souza, Rafael Fernandes de. Dýnamis Érrion: A história das aventuras do Dinâmico Erre. Novela juvenil / Rafael Fernandes de Souza – Brasília, 2018. 2ª edição – 214p. 1.

Literatura Brasileira – novela juvenil. I - Título CDU: 869.0 (81) -3 CDD: 869.3

ISBN: 978-85-904745-7-9 Contato com o autor: Sítio na internet: www.dinamicoerre.com.br E-mail: rofegano@gmail.com

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DÝNAMIS, (), s.m., palavra grega que significa poder, força; eficácia, virtude. ÉRRION, () s.m., Érrion Pontíarkes. Nome do rofegano que criou a fonte de poder, o anel do Dinâmico Erre.

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Sumário APRESENTAÇÃO ...................................................................7 Prefácio da 2ª Edição ..............................................................9 Prólogo - UMA HISTÓRIA DE AVENTURAS ..........................10 A ORIGEM ................................................................................12 01 - QUANDO TUDO COMEÇOU ........................................13 02 - SUPER - PODERES .....................................................15 03 - TESTANDO A POTÊNCIA.............................................19 04 - UM FURACÃO EM AÇÃO .............................................22 05 - MISTERIOSA ILHA ........................................................24 06 - IDÉIAS RUINS NO AR ...................................................28 07 - AMIGOS ESPE(A)CIAIS ................................................36 A REVELAÇÃO .........................................................................44 08 - SURPREENDENTES REVELAÇÕES ...........................45 09 - A VILA AMAZÔNICA......................................................49 10 - RUMO À MISTERIOSA ILHA .......................................51 11 - O CRONOSCÓPIO ........................................................58 12 - ERAM OS DEUSES...LETRAS ? ...................................63 13 - O GRAMMAGON ...........................................................73 14 - A HISTÓRIA AFANÉSICO-ROFEGANA .......................81 A CONSOLIDAÇÃO ..................................................................91 15 - HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DA RAFOLÂNDIA ..92 16 - HERDEIROS DE UM REINO .........................................96 17 - O 2º GRAMMAGON....................................................102 18 - NÃO MAIS SUPER CAPITÃO .....................................106 19 - OS HERÓIS DA CIDADE ............................................111 20 - A SUPER CAPITÃ ERRE ............................................117 21 - CODINOME: ERRE .....................................................121 O PLANETA ...........................................................................126 22 - A CAMINHO DE RÔFEGA ..........................................127 23 - O FURACÃO VOLTA A ATACAR ................................129 24 - KROPI - RAVA .............................................................133 25 - OS TERRESTRES ESTÃO CHEGANDO ...................135 26 - O SUPREMO CONSELHO ROFEGANO ....................139 27 - FUTEBOL ALIENÍGENA ..............................................143 28 - SUMIDO NO COSMOS ...............................................145 A JORNADA ..........................................................................148 29 - PONTO DE ENCONTRO ............................................149 30 - NOSSA PEQUENA GALÁXIA .....................................151 5


31 - REFAZENDO A HISTÓRIA .........................................152 32 - ENTOMÓPIDUM..........................................................159 33 - AIMAKOG, A COLECIONADORA ...............................163 34 - EPISKYROS , O DEUS DO FUTEBOL .......................166 35 - VOLTANDO PARA CASA ............................................169 A GUERRA .............................................................................171 36 - VIDA DE HERÓI ..........................................................172 37 - ENQUANTO ISSO ... ...................................................174 38 - OS CONTESTADORES .............................................176 39 - ORGANIZAÇÃO ANTI-ERRE ......................................178 40 - DE VOLTA À RÔFEGA................................................180 41 - UM NOVO DINÂMICO ERRE ......................................183 42 - PAZ EM RÔFEGA .......................................................186 A CONCLUSÃO .....................................................................190 43 - O TRIBUNAL DE ERRIONÓPOLIS .............................191 44 - VENTUS MALUS CONTRA-ATACA............................193 45 - CONFLITO EM AKÓLITON .........................................195 46 - COMBATE FINAL ........................................................197 47 - HERÓIS DE UM PLANETA .........................................200 48 - A DESPEDIDA ! ...........................................................202 49 - ÚLTIMA MISSÃO .........................................................204 EPÍLOGO ............................................................................209 Planeta RÔFEGA  ...............................................211 Esquadrão Rôfega ..................................................................212 Os vilões .................................................................................213

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APRESENTAÇÃO Tudo começou com aqueles desenhos que criança adora fazer. Eu devia ter uns seis anos quando surgiram os primeiros personagens, e desde então não parei mais. Realmente não achei que fosse continuar com isso por muito tempo, mas criar histórias passou a ser um ótimo passatempo. A importância disso para mim era tanta, que um dos personagens mais antigos, era... eu mesmo. Pode parecer narcisismo, mas eu era meu personagem principal. Afinal, quem melhor para encarnar as situações que eram boladas, senão o próprio autor? Mas eu não era o único. Qualquer um ao meu redor, corria o risco de virar personagem, e interagir com aqueles que vinham de um terreno fértil que tenho, chamado imaginação. A facilidade com que surgiam personagens e fatos, era muito grande. Eu não sou nem capaz de quantificar o número total de seres que inventei ao longo de doze anos. Tudo que consegui, foi esquematizar as diferentes fases pelas quais passaram as minhas histórias. Como eu disse, comecei a criar este universo aos seis anos. Foi uma fase primordial, onde tudo era muito simples, com temas leves, e sem nenhum compromisso com nada. Dos personagens dessa época, apenas um conseguiu manter-se firme. Tanto foi assim, que ele se tornou o meu protagonista. Criado durante o ano de 1984, o DINÂMICO "R" passou de, apenas mais um, para o centro das atenções no meu universo fictício. Foi sem dúvida, o que mais passou por mudanças, e ainda causou a criação de outros personagens para contracenar com ele. Um super-herói, calcado nos clássicos de Histórias em Quadrinhos, era, ao meu ver, um item obrigatório. Foi porém, no intervalo de 1986/90, que cheguei à minha melhor fase. Personagens mais completos, com detalhes em excesso até, vieram para caracterizar de vez; como História em Quadrinhos, as minhas criações. Até então, tudo que eu fazia, era desenhar nas páginas de trás do meu caderno da escola. Agora eu já criava roteiros, onde as cenas ganhavam um contexto com início, meio e fim. Parecia tudo muito legal, mas ocorria um problema que não enxerguei no início. A convivência de personagens da minha infância com os da pré-adolescência, e logo depois, da 7


adolescência mesmo, causava uma confusão. Afinal eram histórias para criança, ou para adolescentes? Essa separação não chegava a me atingir; até o momento em que comecei a divulgar mais o que eu fazia. Entre elogios e esculachos, percebi que era preciso organizar essas histórias. Artesanalmente, escrevi uns quatro "manuais" sobre elas. Mas um texto, com tudo narrado seqüencialmente, só surgiu em 1994, com a confecção de um manuscrito de 94 páginas, entitulado de "As Aventuras do Super Capitão 'R'". Achei que esta seria a versão definitiva, onde poderia reunir o maior número de personagens que fosse possível. Não foi o que ocorreu. Eu estava crente de que havia chegado o momento certo para uma publicação, mas o problema das diferentes fases da criação, reunidas em uma só obra, continuava. Era preciso uma reformulação, mas me faltava coragem. Tal processo poderia causar o fim de personagens, dos quais, pelo menos eu, gostava muito. Era um dilema, que durou vários meses, mas se resolveu com um estalo. Inspirado por uma história que li, sobre um personagem famoso, que passou por uma mudança tão radical, achei melhor fazer o que era preciso. Essa história me deu coragem e serviu de exemplo. A tal mudança operada no personagem foi enorme, mas não significou uma melhoria. Eu simplesmente detestei o que fizeram com ele, e usei este fato para não enterrar de vez meu universo. Não adiantava mudar tudo, e ficar pior ainda. Eu precisava aperfeiçoar, sem ter que me distanciar do estilo próprio que me acompanhou durante estes anos. Logo no começo de 1996, dei início ao projeto que foi batizado de A Grande Modificação; que foi grande sim, mas manteve o mesmo jeito de fazer histórias, que sempre me foi peculiar. Estas histórias foram criadas para o formato de H.Q., mas como o material é muito extenso, e eu queria uma coletânea; que mostrasse tudo, do início ao fim; achei por bem escrever os roteiros na forma de um livro. Foi assim que se gerou a obra em suas mãos. Espero, sinceramente, que a apreciem. Rafael Fernandes de Souza. Brasília , setembro de 1997 8


Prefácio da 2ª Edição Dezoito anos depois da primeira edição e vinte anos depois de vencer a Bolsa Brasília de Produção Literária, Dýnamis Érrion volta em edição digital. Aquele concurso literário promovido pela Secretaria de Cultura me proporcionou a primeira publicação, um sonho de um jovem universitário que sonhava em publicar sua revista em quadrinhos. Foi com este livro que tudo começou. Os quadrinhos vieram pouco depois. E ainda teve peça de teatro, vídeo-clipe e muitas amizades sendo feitas em um fértil período no início deste século com produções independentes envolvendo o personagem. Ao produzir um clipe para a Plebe Rude, banda tão importante do rock nacional, achei que havia chegado ao auge com o Dinâmico R. E outras atividades profissionais, projetos pessoais de outra ordem me afastaram desta minha criação. Foram nove anos desde a segunda HQ. Treze anos desde o segundo livro. Alguns poucos eventos e a pergunta: Quando sai alguma coisa nova com o Dinâmico? Estava na hora. Em 2018 sairá o terceiro volume da saga. Mas com o primeiro praticamente esgotado, e convenhamos, o primeiro livro não recebera um acabamento à altura na época, veio esta 2ª Edição. Nos tempos atuais, um livro digital é tão acessível e simples de fazer. Já poderia ter feito antes, mas ele vem agora para comemorar os dezoito anos do primeiro lançamento. Com vocês a primeira aventura do herói de capa, máscara ... boné! E acompanhem no site e redes sociais. A terceira aventura chega também em 2018.

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Prólogo - UMA HISTÓRIA DE AVENTURAS Brasília, abril de 2006 A cidade estava agitada com as comemorações de seu 46º aniversário, e eu na mesma rotina de alguns anos. Não que eu esteja reclamando! Como o feriado foi ontem e não tenho nada para fazer mesmo, vou andar um pouco, e assim acabo chegando à Praça dos Três Poderes. Muito tranqüila, monótona até, fico observando os monumentos à minha volta. A tarde está tão calma que provavelmente será bem... Papéis voando para todos os lados, e meu nariz doendo. De tão distraído, acabei esbarrando em alguém. Começo a recolher logo os papéis, e ao devolvê-los percebo que a conheço de algum lugar. Ela é uma antiga amiga, e que não vejo a anos; até nos esquecemos da trombada. Com a surpresa vamos nos sentar em um banquinho e começamos a conversar bastante. Conversamos tanto que nem vemos o tempo passar, e já anoiteceu! Combinamos então de continuar o bate papo amanhã, aqui mesmo na praça. Nos despedimos e eu volto para casa. Ao chegar no meu apartamento, que fica perto do centro da capital federal, na Cidade-Satélite do Cruzeiro, eu arrumo algumas coisas. Fiquei morando um tempo no exterior e voltei recentemente. Ainda tenho que por muita coisa em ordem na minha vida, retomar meu antigo trabalho e rever meu pessoal. Mas chega o domingo e eu quero passear; pego minha bicicleta e vou pedalar pelo Parque da Cidade que também é aqui perto. Esta já é uma tradição antiga: vir ao parque deve ser a principal diversão do brasiliense, pois ele está sempre cheio. Mas mesmo com esse tanto de gente indo e vindo, eu percebo que estou sendo seguido, ou pelo menos desconfio. Tentando despistar meu provável perseguidor eu deixo o parque e vou rumo a avenida W3-Sul, que em dias de domingo está totalmente deserta. Só assim terei certeza. O tal cara não vem atrás de mim, mas continuo desconfiado. Para não perder a viagem, me encaminho para a Torre de Televisão. De lá seguirei para casa. Depois do almoço lembro do encontro com minha amiga e novamente pego a bicicleta para sair. Vou pedalando sem pressa pois ainda é cedo, e não é que eu revejo o cara que estava me seguindo? Para tentar despistá-lo de novo eu entro no 10


Centro Desportivo e passo por trás do estádio Mané Garrincha até chegar à Asa Norte. Acho que ele me perdeu de vista agora. Despreocupado vou para Esplanada dos Ministérios. Sentada em um dos banquinhos da Praça, está a moça que conheço. A garota começa a falar, e não para mais; até chegar um certo perseguidor, que se aproxima, e acena. Mudando totalmente de assunto, ela chama o tal homem, que se aproxima; e ambos me fazem uma pergunta bem direta: - Qual a sua ligação com o caso DÝNAMIS ÉRRION? Ao ouvir esse nome, me sinto assustado. Como alguém poderia saber sobre algo, que eu julgava ser um segredo para o resto do mundo? - Não adianta se fazer de desentendido. Já sei uma parte da história, e quero que você me conte o resto! - O tal homem falava nervoso. - Nós queremos apenas compreender, o que aconteceu há alguns anos atrás. Não iremos lhe fazer mal. - Ela tentava me acalmar. Mas quem, realmente, seriam eles. - Conte-nos o que sabe e lhe explicarei quem somos e o que queremos. Ela pega um gravador portátil e aguarda o que tenho para contar. O cara que apareceu depois, sai não sei para onde, e nos deixa a sós. Mas avisa que estará por perto. Não tem jeito; vou ter que contar a minha história !

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PARTE I

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A ORIGEM

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01 - QUANDO TUDO COMEÇOU Brasília, junho de 1989 Lembro-me muito bem de como toda esta história começou, embora já faça mais de quinze anos. Como poderia me esquecer daquela tarde de sábado? Eu devia ter uns onze ou doze anos de idade, e procurava alguma coisa para fazer. Resolvi pegar a bicicleta que tinha ganho recentemente e fui para o Plano-Piloto apesar da desautorização de meus pais. Eles não gostavam que eu fosse andar muito longe, ainda mais no centro da cidade, mas eu não via perigo nenhum e resolvi arriscar. Com isso fui até a Torre de Televisão naquela tarde. O caminho era fácil, não havia movimento de carros e eu conhecia bem o lugar. O que poderia sair errado? Aos fins-de-semana, uma feira de artesanato é realizada junto à base da Torre. Muito popular, a feirinha tem um grande movimento. Um pouco antes da minha chegada, ocorreu uma cena inusitada: um homem corria de outro com a cara muito assustada, e acabou trombando com uma das muitas barraquinhas armadas no local. Ele conseguiu esparramar todos os objetos pelo chão, mas levantou-se rapidamente e continuou a fuga sem ajudar a arrumar a bagunça que tinha feito. Ele estava com alguma coisa na mão, mas foi embora sem levar o que carregava. Talvez com a pressa tenha deixado de propósito mesmo, mas nem adiantou muito, porque quem o perseguia conseguiu agarrá-lo logo em seguida, levando-o não se sabe para onde. A feirinha ficou meio agitada com o acontecido mas logo voltou ao normal. A barraquinha já estava de pé e arrumada novamente quando então cheguei e me aproximei para dar uma olhada. Como eu soube disso? Depois explicarei. Havia apenas um tipo de mercadoria: anéis. Eram umas bijuterias muito comuns nessas feiras e nessa barraca se viam muitos daqueles com letras desenhadas. Nunca gostei de usar essas coisas mas prestei atenção quando uma garota fez o maior caso por causa de um deles. Era de fato um anel diferente dos demais, só que ela reclamava que aquele não tinha a letra que ela queria. A dona da barraca disse que ele era o único neste modelo, e eu curioso pedi para dar uma olhada. Gostei logo de princípio pois tinha a minha letra inicial, um erre dourado dentro de uma oval negra. O resto do anel era 13


todo dourado e a diferença estava em dois detalhes: havia uma inscrição em baixo relevo escrita com umas letras esquisitas que eu nunca tinha visto antes, e um par de botões, um losango e um círculo, um de cada lado do anel. Perguntei à vendedora o que estava escrito nele mas ela fez uma cara de espanto pior que a minha. A garota interessada no anel e inconformada por não ter um do jeito que queria, parecia disposta a levar aquele mesmo e o tomou da minha mão. Como não gostei da sua atitude, tomei o anel de volta e resolvi comprá-lo, mais por pirraça do que interesse no tal anel. Ela ainda quis discutir mas eu não dei chance, perguntei logo o preço e como, felizmente, era bem barato, paguei e fui embora. Ao olhar para meu bolso, vi o pouco dinheiro que restava. Onde poderia me divertir por aqui sem gastar muito? Foi quando avistei à minha direita o Planetário de Brasília. Subi na bicicleta e logo cheguei lá. Ele fica bem perto da Torre de TV e era a única opção de que me lembrei. A sessão já ia começar, então entrei rápido e me acomodei para ver aquela projeção que nunca muda: "A viagem pelo Sistema Solar"! Não que eu ache chato, pois sempre gostei desse assunto; viagens pelo espaço devem fascinar qualquer um, mas eles podiam ter uma variedade maior. Mas o que aconteceu de importante mesmo, foi na hora da saída. Foi quando reparei em um desenho, uma carta estelar mostrando as diversas constelações, e com um dado em especial: cada estrela era chamada pelo nome de sua constelação posposto do nome de uma letra grega! E essas letras eram iguais às que haviam no meu anel. Eu comparei várias vezes e tive a certeza. O que quer que estivesse escrito, estava em grego. Com minha curiosidade no auge fui procurar algum funcionário para que me ajudasse a ler a mensagem do anel. As primeiras quatro pessoas que procurei nem desconfiavam de como se lia aquilo. Só a "vítima" seguinte soube me ajudar. Muito prestativo ele me deu um pequeno pedaço de papel com o nome de todas as letras gregas e, a minha tão esperada tradução! Foi quando me deparei pela primeira vez com estas palavras: Dýnamis Érrion ! ERRION Fiquei olhando para a cara dele. Não foi preciso perguntar o que queria dizer a tal frase! Ele deu um risinho, e 14


com ar de superioridade explicou que "Dýnamis" quer dizer força em grego, agora, quanto à palavra "Érrion" ele tinha apenas um palpite, já que esta palavra não era conhecida. Embora o equivalente da letra erre no alfabeto grego se chame "rhô” e tenha o formato de um "p" pode ser que, não se sabendo o motivo, ela signifique mesmo o nome da letra erre. O desenho estilizado na frente do anel reforça a idéia. Eu me dei por satisfeito, agradeci e fui embora, pois ainda tinha que voltar para casa de bicicleta, e me explicar pela demora!

02 - SUPER - PODERES Cruzeiro (DF) & Rio de Janeiro, junho de 1989 Depois que comprei aquele anel, perdi logo o interesse por ele e o deixei guardado em uma caixa com os meus brinquedos. Nesses dias que se passaram, minha atenção estava toda voltada para o futebol. Como todo bom brasileiro, eu sou daqueles torcedores que acompanha qualquer jogo do seu time. E agora que ele chegou a uma final, fiquei ansioso como nunca. Era a primeira vez, desde que nasci, que isso acontecia. Foram vinte e um anos esperando, e nada. Tendo que aturar a gozação dos amigos que torcem para outros times e vendo o time realizar campanhas bem modestas para um clube de tanta tradição. Mas isto chegaria ao fim logo. Naquela quarta-feira eu poderia acompanhar, ainda que pela TV, a decisão de um dos principais torneios do país, o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. O jogo das 21:30 era entre as equipes de BOTAFOGO F.R. X C.R.FLAMENGO, no maior estádio do mundo, o Maracanã. A ansiosidade era grande, e eu ficava andando pelo apartamento como uma fera enjaulada. Até parecia que era eu quem iria jogar. Descia e subia as escadas de meu prédio, caminhava ao redor do bloco, e nada de chegar a hora. Fui para meu quarto, e comecei a mexer em minha caixa de brinquedos. Haviam tantos bonecos, mas nem brincar direito eu conseguia. Foi quando achei o anel que comprara na Torre. Resolvi guardar tudo de novo, para depois ligar o rádio e ouvir a "resenha esportiva". Na minha mão, apenas o anel! Sentado no chão eu ouvia os comentários preliminares e talvez por um "tique-nervoso" ficava apertando os pequenos botões que haviam no anel. Foi por volta de umas oito horas da 15


noite que então aconteceu: eu pegara o pedaço de papel com a tradução e ao mesmo tempo em que apertei os dois botões li a frase: " DÝNAMIS ÉRRION " ! Imediatamente o anel começou a brilhar e a ficar quente e eu, com o susto o joguei para debaixo da cama. Mas a curiosidade era mais forte e o peguei de novo. Seu brilho foi se apagando aos poucos até ficar "normal"; resolvi colocá-lo no dedo desta vez e repeti o que havia feito. De novo um brilho toma conta de todo o meu quarto; não consigo ver nada ao meu redor e começo a sentir cócegas, é isso aí cócegas! Quando o show de luzes cessa, posso ver o que ocorreu. Minhas roupas estavam totalmente transformadas; fui para frente de um espelho e me vi de corpo inteiro. Estava tudo lá, a roupa, toda azul, com o cinto, luvas, botas, de capa, máscara e ... boné ! Todo o aquele figurino bem conhecido, com exceção do meu boné, de um ... - Eu virei um super-herói! - Berrei bem alto e depois levei a mão à boca. O que meus pais iriam pensar? Sabia que teria de manter segredo, aliás é como um super-herói tem de agir. Eu já estava pensando como um personagem de gibi, e nem me preocupava com o motivo daquilo. Queria era aproveitar a oportunidade. Para saber exatamente o que fazer, fui consultar a leitura mais indicada para a situação, as minhas revistas em quadrinhos! Embora tivesse uma quantidade enorme, o gênero de heróis era o que eu menos tinha, pois sempre gostei mais de revistas para rir. Não possuindo o material suficiente, parei um pouco para pensar. O que eu deveria fazer a uma hora dessas, com os poderes que acabara de ganhar? -... e falta apenas meia hora para o início da grande partida ... - o locutor do rádio me deu a idéia mais maluca que poderia me ocorrer. Tirei o anel do dedo, um descarga elétrica percorre meu corpo e volto a ter as roupas de antes. Mesmo estranhando o choque, não me importo muito, digo aos meus pais que vou para baixo do bloco e já volto. As ruas do Cruzeiro estavam meio calmas, talvez por causa do jogo, muita gente estivesse em frente da TV naquela noite, mas ainda assim se via um ou outro na parte de baixo dos blocos. Para não arriscar fui procurar uma quadra que estivesse deserta. Depois de muito andar acabei chegando ao campo de 16


futebol perto da feira. O lugar estava vazio e como era escuro, acho que ninguém me viu. Tirei o anel do bolso e... -Dýnamis Érrion ! - Tudo que descrevi antes se repete, e volto a estar com meu "super-uniforme". Agora quero saber do que ele é capaz. Olhando fixamente para o botão circular do anel, eu hesito em apertá-lo, então "inteligentemente" aperto o botão com forma de losango. Resultado: meu corpo dispara feito uma flecha para cima e só pára quando solto o botão. Imediatamente começo a cair até encontrar o chão. Apesar da pancada, não sinto (muitas) dores e experimento de novo, mas apertando de leve, e dá certo. Começo a flutuar e conforme a força que uso, subo devagar ou rápido. Na base da experiência mesmo, aperto o outro botão sem soltar aquele que chamei de "botão de vôo". Aperto bem devagar, por precaução mesmo, e um raio sai da letra erre desenhada no anel. Ele saiu meio fraco mas conseguiu arrancar várias folhas de uma árvore. E agora como faço para descer? Não quero soltar o botão e me estatelar de novo. E como ir para frente ou para trás? Fiquei preso lá no alto. Como não me feri, muito, vou arriscar outra coisa. Deslizando bem devagar o dedo sobre o botão vou tirando-o até ficar na ponta do pequeno losango, e é aí que dou uma guinada para frente. Deslizo o dedo para a outra ponta e meu corpo é jogado para trás. É como o controle de um vídeo-game, basta saber aonde apertar! Vou apertando para trás, e logo estou voando de marcha a ré. Inclino meu corpo para baixo e vou apertando para frente, e com isso consigo descer bem devagarinho até tocar o chão numa boa! Acho que já aprendi o básico, mas se eu quiser fazer o que tenho em mente vou ter que aprender o resto depois. Tiro o anel do dedo, levo outro choque e vou a pé para casa em roupas comuns. Sento-me no sofá da sala onde está o resto da família e aos poucos vou dando sinais de que estou com sono. É tiro e queda, minha mãe me chama e manda eu dormir na cama. Vou sem discutir e me fecho lá. Procuro um mapa do Brasil e acho logo (meu quarto não é muito bagunçado). Pego uns travesseiros no armário e ponho debaixo da coberta. Pode não ser original mas sempre ouvi dizer que funciona. Abro a janela e respiro fundo; moro no primeiro andar mas cair dali deve doer um bocado. Coloco o anel pela terceira vez no dia e me transformo. Mas bate aquele medo, que até me parece ser a

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única reação normal do dia. Devo ou não ir? Fecho os olhos, rezo um pouquinho e aperto o botão com força! Sou disparado com uma velocidade fantástica; devo ter feito uns cem quilômetros por hora, apenas ajeitei o corpo para me direcionar; e sem largar o botão fui ganhando cada vez mais velocidade, sentindo o vento gelado no meu rosto e quase ficando surdo com o barulho de uma explosão, (eu acabara de furar a barreira do som!). Voando alto o bastante para não bater em uma árvore ou prédio meu medo passava a ser os aviões. Já pensou em ser atropelado por um? Rumando para o sul vou vendo várias cidades até alcançar o litoral. Quase passei direto, mas com uma meia volta chego a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Parado a algumas centenas de metros do chão procuro por estádios de futebol. Vejo vários, mas o único com luzes acesas é o bem grandão! Logo estou pousado em uma das marquises do Maracanã, que lotado já assiste ao jogo. Cheguei um pouco atrasado mas pelo menos verei o jogo ao vivo, e de graça! Está um tanto longe e eu aperto os olhos na esperança de ter visão telescópica; como não adianta mesmo, tiro uma pequena luneta do bolso. Um uniforme de super-herói com bolsos, não é tão comum assim! Cansado por causa da viagem ainda cochilo um pouco no intervalo. Minha tranqüilidade espanta a mim mesmo! Mas logo me lembrei de como saí; e se meu pai fosse me chamar para ver o jogo? Meus pensamentos foram interrompidos com o reinício da partida e voltei a vibrar sem ter medo de ser visto lá de cima. Acho que nunca me diverti tanto assim. - Está querendo me convencer de que esta é a história que tem para me contar? Por acaso você acha que somos o quê? Já ouvi coisa de demais calada, mas agora chega. Não tente me enrolar mais. - Espere um momento, quem foi que me pressionou para contar a história? Eu não tocava neste assunto a quase duas décadas, e agora estou aqui expondo meu passado sem saber o motivo. Se queria ouvir, ouça, mas não me interrompa, está bem !? "Aos doze minutos do segundo tempo Mazolinha rouba a bola na intermediária e avança para a grande área, cruza para 18


Maurício, que se livra da marcação do zagueiro e chuta de primeira; é GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL !". Com o agito da galera alvinegra, eu me empolgo e acompanho os fogos de artifício usando o "botão de tiro" e disparando raios para o céu. Disparei com tanta força que o coice me jogou para longe do estádio, mas voltei logo para ver o resto da partida. Eu e mais uns trinta mil botafoguenses no estádio, fora os milhões espalhados pelo resto do Brasil fazíamos contagem regressiva para o fim do jogo. E haja coração para tanta emoção ! - Quarenta e cinco minutos, tá quase. Acabou. É CAMPEÃO! CAMPEÃO ESTADUAL INVICTO! Eu fiquei louco de alegria e rouco de gritar: -FOGO, FOGO, FOGO! Apontando o anel para os céus disparei novamente, mas usando toda a força de meu dedo. Nunca se viu fogos como esses. E dá-lhe Fogão, somos campeões! Vendo a emoção da torcida lá embaixo, me lembrei de meus pais: agora é que iriam querer me acordar. Aproveitando que o anel já estava "quente", levantei vôo rumo à Brasília com velocidade máxima. Devo até ter batido algum recorde, mas nem pude contar, pelo menos não naquele dia ! A janela aberta de meu quarto é a entrada, chego como um rojão e já caio em cima da cama, que quebra o estrado fazendo um barulhão, abafado pelos fogos lá fora. É quando entra meu pai na maior alegria contando a novidade, e eu que já tirei o anel entro na farra, mas o cansaço me vence e acabo dormindo logo depois. Só que fui dormir me sentido um Campeão !

03 - TESTANDO A POTÊNCIA Brasília , junho de 1989 Depois das emoções da quarta-feira passada, eu resolvi investigar a origem do anel, mas tive de esperar até o domingo para voltar à Torre. Ao chegar lá vejo a barraca onde o comprei e vou conversar com a vendedora, mas no seu lugar está outra pessoa. Eu até poderia perguntar para esse cara, mas pensei um pouco: "- Se alguém sabe sobre o anel vai querer ficar com ele, e como paguei não estou afim de perdê-lo!" A idéia de poder virar um super-herói ficou fixa na minha cabeça e eu nem me importava muito com as consequências. Dali fui procurar um lugar para poder treinar 19


meus poderes. Mas onde eu poderia ter espaço e privacidade para isso? O lugar que me pareceu mais adequado foi fora do limites da cidade. Assim fui para o centro desportivo da cidade que estava vazio e me transformei, para então seguir, rumo ao cerrado brasiliense. Desta vez não fui rápido demais, pois não estava com pressa e nem queria me perder como quase aconteceu no meu último vôo. Em dez minutos já estava longe o bastante para ficar tranqüilo, assim pousei no meio do matagal. Poderia ficar voando e treinando tiro sem que ninguém me visse. Primeiro testo a possíveis combinações com os dois botões: apenas o botão de tiro e o anel, atira, podendo controlar a força do disparo conforme a força com que aperto o botão. O botão de vôo tem mais possibilidades, seu formato de losango que lembra um "joystick" permite as seguintes operações: apertando no meio começo a flutuar, para frente ele faz o óbvio, para trás idem, agora para os lados é que descobri algo, o controle de velocidade. Quando se está voando deve-se apertá-lo para frente constantemente e apenas isso já faz a velocidade aumentar, mas combinando com a ponta da direita ganha-se mais velocidade ainda, como um câmbio de marcha! Enquanto que a ponta da esquerda funciona como freio, podendo ir desacelerando aos poucos. Era tão simples, qualquer um poderia descobrir ! Devo ter feito isso sem querer quando fui ao Rio porque consegui uma velocidade fantástica. Agora que já domino, mais ou menos, a arte de voar vou testar melhor o tiro. Com uns galhos de árvore secos que têm pelo chão, faço alguns alvos. Você não pensou que eu fosse mirar nos pássaros que moram por lá, não é ? O primeiro tiro é com um leve toque no "gatilho", e derruba o alvo 1 deixando-o um pouco chamuscado. No segundo tiro pus mais força e o alvo 2 foi arremessado longe e em chamas. Epa! Tive que apagá-lo senão provocava um incêndio na vegetação tão seca. Fui voando até um pequeno córrego perto de lá e enchi a boca d'água, afinal não tinha balde ou coisa parecida. Espirro o pouco que coube em minha boca e apago só um pedacinho do galho. Como o fogo ainda não se espalhou, eu pego o galho e termino de molhá-lo longe do capim seco. E se eu for invulnerável ao fogo, ou qualquer outra coisa? Serei indestrutível com este anel? E como saberei disto? 20


Eu é que não vou me testar, vai que não dá certo! Volto ao teste de tiro, miro paro o alvo 3 e disparo como toda força. Enquanto o galho seco é atomizado em segundos, eu sou jogado pelo "coice" do tiro a pelo menos uns cinco quilômetros até atravessar o telhado de um barraco escondido no meio do mato. Olho em volta e não vejo ninguém dentro. Destrocei um monte de telhas e nem me machuquei; não muito quer dizer. Dentro do barraco tem algumas coisas interessantes, uma mesa cheia daqueles instrumentos de Química, uma caixa com tipos diferentes de terra e uma cama toda desarrumada. Será que mora alguém aqui? Foi só pensar nisso e entra um senhor aparentando certa idade, com um bigodão e carregando um balde cheio de terra. Ao me ver, com esta roupa, de capa, máscara e boné ele leva um susto e sai correndo para o mato. Não queria assustá-lo, por isso fui atrás dele. O coitado tinha tropeçado e caído (isso sempre acontece com quem está fugindo, já percebeu?). Pegando-o pelos braços o levo de volta ao barraco e tento explicar quem sou. Refeito do susto, ele ouve minha história e acredita em tudo, sem levantar uma dúvida ! - Isso não é nenhuma indireta, espero. Ele viu você voar enquanto eu só estou ouvindo. E de fato está difícil acreditar em você. - Tudo bem, não me importo; mas prosseguindo ... Ao ver que sou apenas uma criança, ele diz que pretende me ajudar: -Sua história é tão fantástica! Eu sinto que tenho que ajudá-lo. Sou cientista e me interesso por assuntos assim diferentes, o seu então bate recordes. -Teria sido um elogio? Ele enfim se apresenta: -Sou o Doutor RUPERT von JOTER, formado pela Universidade da cidade de Düsseldorf, na Alemanha! Um item importante para um super-herói é um cientista como aliado, e eu acabara de arranjar o meu. Depois ele pergunta por meu nome e eu enrolo um pouco, pois não queria revelar a minha identidade secreta. Até agora eu não havia pensado nesse outro item tão importante, o nome! Meu uniforme é cheio de letras erres: tem o erre do anel, tem um erre verde enorme em minha capa azul, outro pequeno no lado esquerdo do peito, erre no cinto, na sola da bota... - Não tem erre na cueca, também não ? 21


- Já pedi para não me interromper; será que posso continuar ? - Vá em frente. O fato é que a letra erre estava intimamente ligada ao herói, então pensei em alguns nomes, como por exemplo: Mestre Erre, Grande Erre, Homem-Erre... - Assim eu não agüento, agora sei que está me gozando. - É sério. Eu estou lhe contando tudo o que sei ! O pequeno barraco, que já estava combalido com minha queda, sofreria um golpe final. Enquanto procurava um nome para dizer ao Dr. Rupert, começou uma ventania, que foi ficando cada vez mais forte, as telhas que sobraram foram arrancadas e voaram longe; uma parede tombou e o barraco se desfez como um castelo de cartas. Foi quando ouvi, pela primeira vez, o meu nome: - SUPER CAPITÃO ERRE !

04 - UM FURACÃO EM AÇÃO Brasília , junho de 1989 Um vento muito forte leva o laboratório do Dr. Rupert pelos ares, mas talvez pela força de super-herói, consegui segurá-lo e evitar que saísse voando também. O vendaval não cessa e logo começa a chover. Se não pude esquecer do dia em que consegui o anel, este então foi de arrepiar! Medindo mais de dois metros de altura e largura estava bem a minha frente, com seu enorme nariz pontudo, as poderosas garras nas mãos, a boca com dentes de tubarão e aqueles óculos esquisitos. Tudo isso fazia parte do corpo de... um furacão vivo que olhava fixamente para mim. - Eu sou VENTUS MALUS! Entregue-me o Dýnamis Érrion imediatamente. Apesar do frio que fazia eu e o doutor tremíamos por outra razão. O tal furacão era assustador mesmo. Acho que me meti em uma enrascada daquelas. Pela cara da criatura, ele queria cumprir a promessa que fez, e se eu desse o anel só iria facilitar, mas como eu não estava afim de morrer naquele momento tentei algo. Largo o doutor e vou para perto do furacão. Ele me encara e fica esperando por uma atitude da minha parte. 22


- Escuta aqui, ô cabeça-de-vento, se você acha que vou me entregar sem luta, está enganado, afinal eu sou o... Como foi que me chamou mesmo? - Super Capitão Erre. - Ele fala isso com um risinho sarcástico... - Pois é, eu sou o Super Capitão Erre... Ele não deixa eu terminar meu discurso, levanta uma das mãos e mostra as garras em seus três dedos. Elas brilham e um potente raio vermelho vem em minha direção, me arremessando com força para longe. Fui cair dentro do córrego, com o corpo doendo, mas sem arranhões. Ele investe com fúria em cima de mim; sua mão enorme me acerta e eu sou jogado como um saco de batatas para fora d'água. Uma seqüência de raios vermelhos caem em cima de mim, até eu tropeçar feio e cair em um buraco escondido pela vegetação. Lá embaixo tento ganhar fôlego, enquanto aliso meus hematomas. É lógico que eu gostaria de saber o que era essa coisa e de onde veio, só que acho que ela não iria me responder. O que sei é que se eu não reagir, ele trucida a mim e ao... Caramba! Eu deixei o doutor Rupert sozinho com o monstrão! Respiro fundo, arranjo coragem não sei de onde e saio da "toca". Ele já ia pegar meu novo amigo quando então intervim. Notando minha presença, ele se vira e, vai atirar de novo. É quando digo: - Eu sou o Super Capitão Erre, e você... "tá ferrado, ô cabeça-de-vento !" Miro o anel bem na sua cara e aperto o botão de tiro com toda força. O raio que sai do meu anel pega ele de jeito, sendo que eu também, afinal ele possui um coice muito forte, e assim acabo caindo perto do doutor Rupert, que a essa altura já estava rezando pela vida. Não posso dar chance ao monstro gasoso, e invisto com raiva para cima dele, do mesmo jeito que fez comigo. Aperto o botão várias vezes, sempre jogando-o cada vez mais longe até que ele cai no mesmo buraco onde cai. Ele fica imóvel e eu atiro na borda do buraco, fazendo despencar um monte de terra em cima dele. Não acho que morreu, mas pelo menos desmaiado ele ficou. Volto voando, literalmente, para pegar Rupert e dar o fora. Ele fica olhando para o buraco do monstro enquanto nos afastamos rumo à cidade. Para quem gosta de experiências diferentes, ele deve estar bem satisfeito. - Então você foi atacado por um furacão, em pleno cerrado brasileiro? 23


- Pois é, às vezes acontece. Já estávamos sobrevoando Brasília, quando perguntei onde morava o doutor, e ele apontou justamente para o Cruzeiro. Somos quase vizinhos, mas ele mora no Cruzeiro Velho, que só tem casas como residência, enquanto eu moro no Cruzeiro Novo. Apesar de cansados, maltratados e encharcados, nossa intenção é descobrir mais sobre o tal do Ventus Malus, e sobre mim também. Embora estivesse morando naquele barracão, fazendo pesquisas com o solo, é em casa que o Dr. Rupert tem suas mais interessantes quinquilharias. Vários instrumentos e uma estante cheia de livros técnicos, fazem de seu lar um laboratório doméstico. Enquanto isso, lá no cerrado, o furacão se ergue e louco de raiva dispara contra as paredes do buraco, que em vez de desabar vai se alargando. A criatura estava fazendo uma espécie de toca, um esconderijo para se abrigar. Em poucas horas ele descarrega sua raiva construindo um enorme complexo subterrâneo. Ventus Malus é uma criatura extremamente poderosa, e promete dar trabalho. Ele sai e retorna trazendo duas pessoas, não são monstros, mas sim seres humanos. Eles obedecem às suas ordens e começam a instalar alguns equipamentos no buraco. Parecem estar montando mesmo uma espécie de base para as suas operações; um dos dois até reclama do lugar mas pára logo ao ver a cara de seu chefe. Eu descobriria a origem deles um bom tempo depois, mas já vou matar um pouquinho de sua curiosidade agora. - Obrigada.

05 - MISTERIOSA ILHA Olímpia(GRÉCIA) , maio de 1984 Pode-se dizer que muita coisa começou naquela antiga cidade grega, ou melhor, recomeçou; mas vamos por partes. Berço das famosas Olimpíadas, as ruínas de Olímpia abrigaram a sede de um grupo muito fechado denominado "Sociedade do Ressurgimento", cujas atividades nunca foram muito claras; sabia-se apenas que era algo relacionado com o mar. Eles possuíam um pequena frota de barcos, entre os quais um 24


luxuoso iate, que servia como transporte do presidente da sociedade, o magnata Aristarco Alphestés, nascido em Atenas. Foi logo após a fundação do grupo, que ocorreu a primeira expedição, pelo Mar Mediterrâneo. Não é o momento para eu contar o que eles queriam "ressurgir", mas o fato é que com um grupo de oito homens, chegaram a uma ilha um pouco afastada do litoral grego. E não era nenhuma ilha pertencente àquele país, ou a qualquer outro. Sua existência não era conhecida pelos governos do mundo, somente pelos integrantes da Sociedade! Cercados de tanto mistério, eles desembarcaram vários equipamentos, a maioria de arqueologia, e um aparelho que indicava a presença de radiatividade. Constatando a ausência desta, começaram um minucioso trabalho de escavações, até que semanas depois encontraram aquela que deveria ser a capital de alguma antiga civilização. Foi um trabalho duro para tão pouca gente, e o chefe nem se habilitava a dar uma ajuda, ficando apenas coordenando a ação de seus homens. Ainda assim, alcançaram seu objetivo . Enfim o senhor Alphestés se dispôs a remexer nas ruínas, já expostas, de um palácio, que se não era grande, impressionava pela arquitetura. Foram encontradas várias ossadas, como se as pessoas de lá tivessem sucumbido a algum mal repentino, mas tudo o que se refere a esse lugar contarei mais tarde. Chegando até uma sala no andar superior do paço foi encontrado um trono com um esqueleto nele. O lugar estava todo destruído, com pedaços da parede pelo chão e uma enorme tumba no fundo da sala. Feita de chumbo, parecia ter sido fundida ali mesmo, pois haviam restos do metal próximo a ela. Só que destoava do resto do lugar, tinha um aspecto mórbido, sem desenhos, apenas uma inscrição talhada na frente, escrita com caracteres gregos, mas em um idioma diferente, não sendo compreendido pelos exploradores. Aristarco mostrou interesse foi no cadáver que jazia ali no trono. Provavelmente seria o líder daquele povo, embora estivesse com roupas muito simples se comparadas às que foram encontradas com os outros habitantes. Sem demonstrar nenhum medo, o chefe do misterioso grupo se aproximou e agarrou a mão, (ou o que havia sobrado dela) do tal cadáver. Examinou os dedos e depois a largou, pegou a outra mão e fez o mesmo. Insatisfeito remexeu no monte de ossos todinho até 25


desmanchá-lo. Não encontrando o que procurava, mandou os homens procurarem pelo corpo do verdadeiro rei, pois achou que aquele não poderia ser o tal líder. Deixando o local, ele foi para o pátio ver alguns objetos largados pelo chão. Mas um dos homens retorna à sala do trono, e procurando embaixo da importante cadeira, no meio da poeira ele retira uma pequena coisa. Era o Dýnamis Érrion, o anel do Super Capitão Erre! Vendo que ninguém estava por perto, ele o pega e sai sorrateiramente. Tanto cuidado foi inútil. Ele acabou por trombar com um de seus colegas, que estranhando a sua atitude, relatou depois o acontecido a Aristarco. Como o corpo que eles procuravam não foi achado, passaram a desconfiar do rapaz, chamado Eudóxio Filogônio. Sem perda tempo ele foi chamado, e um interrogatório teve início; mas apenas entre Aristarco e Eudóxio. - Você por acaso leu os papéis que guardo em meu escritório ? - De que papéis o senhor está falando? Por que isto agora ? - Se não quiser colaborar, problema, fique de pé e encoste ali na parede. Aristarco estala os dedos e dois dos homens mais fortes entram: - Revistem-no complemente. Não deixem passar nada, compreendido? Com o "baculejo" concluído, é descoberto o objeto da cobiça, o anel. Sabendo que sua situação se complicou e muito, só resta a Eudóxio uma única tentativa. Ele dá uma pisada no pé de quem o segura e empurrando o seu chefe, retoma o anel saindo correndo como louco até o telhado do palácio. Os homens vão ao seu encalço, sendo que um deles, com a maior cara de pirado, traz um bazuca no ombro. Sem prestar atenção em onde pisa, Eudóxio acaba caindo em um buraco por entre as telhas e voltando para a sala do trono, onde está seu exchefe. Acuado ele se encosta na enorme tumba de chumbo, enquanto o cara da bazuca desce e mira nele. Vendo a bazuca, Aristarco tenta tomar-lhe a arma e o outro no susto a dispara. Eudóxio consegue sair da frente e sai correndo sem olhar para trás. Os demais ficaram na sala para ver aquilo que não queriam. Dos destroços da tumba começa a sair uma brisa que foi ficando forte, até começar a empurrar todo mundo para o chão. Muitos foram jogados pelas janelas, e 26


então aqueles gazes tomaram forma. Após muitos milênios, ressurgia o responsável pela destruição daquele povo. O furacão vivo, o terrível Ventus Malus ! - Então o anel e o furacão vêm do mesmo lugar, uma das ilhas gregas ? - Eu não disse que é uma ilha grega, ela apenas fica próxima ao litoral grego. Nenhum país tem posse sobre aquele lugar, aliás, ninguém nem sabia de sua existência! - Bem no meio do Mar Mediterrâneo, um lugar super movimentado, com grande trânsito de barcos de passeio, e você acha que nunca a viram? Nem de um satélite? Que ilha é essa, o País das Maravilhas, ou a Terra do Nunca ? - Não, mas se quer saber, fique quieta e me deixe continuar. Vendo aquelas pessoas, Ventus Malus começa a falar num idioma muito esquisito. Como ninguém o entende, ele se irrita e joga os que sobraram pela janela. Apenas Aristarco Alphestés, que se escondera atrás do trono ficou lá. Mas ele foi visto, e no maior medo pronuncia algumas palavras no idioma do furacão que, por puro interesse, o deixa vivo. Mesmo não dominando muito bem a língua, os dois conseguem se entender, e Aristarco conta sobre Eudóxio, que aliás, já devia estar longe. O furacão o deixa ali mesmo, e vai atrás do fugitivo, mas ao ver as ruínas da cidade, e as embarcações no porto, volta e pergunta em que ano estão. Ao saber que ficou séculos encarcerado, ele pára para pensar, e resolve deixar o outro escapar por enquanto. Sua preocupação agora é se atualizar para não cometer os mesmos erros do passado. Assim Aristarco se torna professor na marra. Ventus Malus quer saber tudo o que ocorreu de importante na Terra nos últimos dois mil anos. Os dois ficam na ilha por várias semanas. Durante esse tempo, Alphestés ensinou, além de história, os seis idiomas que sabia, e Ventus Malus, "muito aplicado", aprendeu em menos de quarenta dias a falar grego, inglês, francês, italiano, alemão e português! Satisfeito, ele começa a procurar por um acessório que lhe é essencial: um par de óculos. Não, ele não tem problema de vista; esses óculos são uma, (bem diferente) fonte de energia, assim como o anel Dýnamis Érrion.

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- Anel, óculos. O que aconteceu com as espadas e armaduras; essas coisas de super-herói de verdade? - Concordo que o par de óculos seja meio esquisito, mas herói de anel tem um monte por aí. E o que você quis dizer com "Super-herói de verdade" ? Bom. Encontrando sua fonte de poder, o furacão foi procurar pelo cara que estava com o anel. Mas antes, ele usou um truque que criou quando conhecera o povo daquela ilha. Olhando fixamente para Aristarco, seu corpo gasoso vai tomando a forma do homem à sua frente, e depois com uma espécie de pele de borracha, ele fica exatamente igual ao chefe da Sociedade do Ressurgimento. Depois vai até o iate e pega umas roupas. Destrói os barcos restantes, deixando Aristarco preso lá, para o caso de precisar dele, e vai para o continente iniciar sua caçada.

06 - IDÉIAS RUINS NO AR Turim (ITÁLIA) & Rio de Janeiro, outubro de 1987 Brasília, junho de 1989 Utilizando-se da identidade de Aristarco Alphestés, a criatura conhecida como Ventus Malus, andou por toda a Europa a procura de Eudóxio Filogônio. Dispondo de muito dinheiro, ele conseguiu contratar os melhores detetives europeus e nem assim teve sucesso, mas nunca desistiu, devido a importância que tinha o anel. Já se passaram alguns anos, desde que deixara a ilha e ele vivia como se fosse um humano, apenas para não estragar seus planos. Sempre mantendo as aparências, acabou indo a uma festa repleta de milionários do mundo todo, e lá conheceu um outro membro da Sociedade do Ressurgimento: Giovanni Deliota, um dos donos do grupo. Embora fosse o grego quem comandasse pessoalmente as atividades, haviam muitos outros sócios, igualmente ricos que possuíam interesses na tal sociedade, mas que viviam em diferentes países do mundo. Como não conhecia o sócio, Ventus Malus corria o sério risco de ser descoberto, pois não era capaz de responder às perguntas sobre o grupo. Quando Deliota já estava bem desconfiado, se aproxima um homem de bigode, com cara de malandro, que já sabia que aquele não era o verdadeiro 28


Aristarco só de observar, e que por causa disso mesmo deu uma desculpa ao magnata italiano, a quem chamou de patrão e a quem disse que precisava falar com o milionário grego. - Tá legal, eu já saquei que você não é o Alphestés. Se está envolvido em alguma jogada é melhor contar comigo, ou vou ter que lhe dedurar para o patrão ali. - Se você acha que não sou ele mesmo, porque acha que eu iria querer sua ajuda! E se eu for um assassino perigoso? Nessa hora o cara, que era assessor de Deliota, sentiu um frio na barriga. A voz do homem à sua frente lhe deixara com o pé atrás, mas ainda assim ele insistiu com a conversa: - Malucos homicidas são muito raros por aqui. O seu negócio só pode ser dinheiro mesmo! - Digamos que seja. Em que você me ajudaria? E o seu patrão, seria traído? - Sou sem dúvida um dos melhores assessores para "assuntos especiais", e honestidade ou fidelidade não fazem parte do meu ramo. Do jeito que ficou perdido com o Sr. Deliota, você precisa mesmo de meus serviços. - Com licença, mas acho que o meu assessor, só tem negócios a tratar comigo, não é verdade ? - O Sr. Deliota entrara no meio da conversa. - Não tem mais, eu o estou contratando neste instante. Ele agora é meu empregado. - Ventus Malus nem deixa os outros dois falarem, e pegando seu novo aliado pelo colarinho o arrasta para fora deixando Giovanni sem entender nada. A caminho do hotel, Ventus Malus enfim larga o outro que estava assustado com a atitude e principalmente com a força de seu novo chefe. Eles retomam então a conversa: - Para o seu próprio bem, é bom que me seja útil. Eu não estava apenas supondo sobre o fato de ser um assassino perigoso. Pretende continuar comigo? - Com bons honorários, trabalharia até para o capeta. Afinal como conseguiu os documentos de Alphestés, e principalmente, como pode ser tão parecido com ele? Seria um irmão gêmeo? - Você só vai saber o que eu achar necessário, por outro lado, eu quero saber mais sobre meu recém-contratado. - KARONTINO HADES, é por esta alcunha que gosto de ser conhecido. Mas pelo menos qual é a jogada, eu posso ficar por dentro, certo? 29


Ventus Malus conta a Karontino alguns detalhes e este entra em contato com vários conhecidos. Não leva uma semana e a pista de Eudóxio é encontrada. Os colegas de profissão de Hades possuem uma excelente rede de informações que revela o atual paradeiro daquele que está com o precioso anel: uma cidade conhecida como Rio de Janeiro ! Coincidência ou não, é a cidade natal de Karontino, e ele não pisa em terras brasileiras a um bom tempo. E nem parece muito animado em voltar ao Brasil. Depois que conseguiu o emprego com aquele empresário italiano, ele vivia esnobando o país e agora se vê obrigado a retornar. E vai ter que providenciar muita coisa sozinho. Ventus Malus acha melhor pegar uma arma secreta que está na misteriosa ilha, junto com o verdadeiro Aristarco, e vai mandar seu secretário na frente. Com isso ele desembarca na Cidade Maravilhosa e vai direto para um dos morros mais perigosos, entrar em contato com possíveis informantes. Apesar da boa pinta, e um pretenso ar de superioridade, foi em uma dessas humildes comunidades que ele cresceu. Por essa pose toda mesmo, é que sua missão ficou mais complicada. Sem conseguir resultados, lhe vem à cabeça recorrer àqueles que menos queria rever: os familiares do morro em que nasceu. A recepção não foi nada boa. Todos sabiam como ele conseguira o emprego na Itália, após passar a perna em seu antigo parceiro boliviano que acabou preso em Brasília. Mas apelou para a única que poderia perdoá-lo: a própria mãe, que convenceu a rapaziada a ajudá-lo, e alcançar o objetivo. Surgiu porém uma imposição; como ele dissera que seu novo patrão era muito poderoso, exigiram uma troca. Eles encontravam o tal de Filogônio e ele dava um jeito de soltar o seu ex-parceiro, o boliviano conhecido por todos eles como CAMALEON. Vendo que não iriam ceder, Karontino diz que vai ver o que pode fazer e deixa o morro sabendo que se conseguir isso vai ter de encarar aquele que traiu; seu quase irmão Carlos Manos Leon. Os dois foram criados juntos e faziam sucesso entre os malandros de seu morro ao contar as armações que aprontavam com a alta sociedade carioca. Mesmo sendo de fora, (nascera na capital da Bolívia) Camaleon gozava de certa popularidade. Não pelos golpes, sempre arquitetados por

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Karontino, mas pelas trapalhadas que fazia, proporcionando boas gargalhadas aos conhecidos. Era a mascote do pessoal. Por ser tão atrapalhado assim, é que Karontino não resistiu à oportunidade de passar-lhe a perna. Em uma passagem por Brasília conheceram aquele mesmo milionário italiano que seria vítima de algum golpe de estelionato. Mas esse não era bobo e conseguiu descobrir tudo a tempo. Só que ele também não era flor que se cheire, e notando a astúcia de Hades em bolar esses tipos de planos resolveu dar-lhe um emprego, desde que entregasse o seu parceiro, considerado inútil. Sem pensar duas vezes, um telefonema anônimo foi suficiente para condenar Camaleon, que ficou preso na Penitenciária da Papuda desde então. E isso foi a uns dois anos. Ao entrar em contato com seu chefe, ele conta a novidade e este apenas pergunta onde fica Brasília. Imediatamente ele pega um avião e vem para a capital do Brasil. Os dois se reencontram no Aeroporto Internacional e o falso milionário manda seu empregado procurar um hotel para se instalarem, enquanto ele vai cuidar do caso do boliviano. Após achar um lugar mais afastado, o furacão retira a pele que lhe dá a forma de Aristarco e vai voando, bem alto para não ser visto, até o presídio. Com sua estratégia já montada ele começa a agir. Passa por uma guarita como se fosse um redemoinho e entra; lá captura um guarda e reproduz o truque de metamorfose. Podendo transitar normalmente, encontra a cela de Camaleon, discretamente chama por ele e abre a porta. Dizendo que vão até o pátio, lhe oferece uma bebida, mas achando tudo muito estranho, o prisioneiro pergunta o que está havendo. Sem perder tempo, Ventus Malus o acerta na cabeça, fazendo-o desmaiar e retoma a forma de furacão, para em seguida sair voando para fora do complexo. Não houve nem chance para a polícia saber que ele esteve ali. Depois deixa o recém libertado encostado em uma árvore, e retorna como Aristarco Alphestés. Camaleon acorda e é informado que agora trabalha para o milionário grego. Os dois vão até uma parada de ônibus, e tomam uma condução até a Rodoviária do Plano-Piloto, onde são aguardados por Karontino. Quando este vê o antigo parceiro, descaradamente corre para abraçá-lo. O boliviano até deixa, mas em seguida lhe aplica um belo soco no estômago. Quando já ia começar a pancadaria, Ventus Malus intervém e os dois obedecem de imediato. 31


Camaleon, assim como Karontino, já percebeu que é melhor não contrariar o patrão. Os três pegam um táxi e vão para o hotel, onde começam a planejar os próximos passos. Curioso, o estelionatário interrompe para perguntar pela enorme caixa que Aristarco trouxe consigo e se encontrava no saguão, já que não pôde ser trazida no elevador. Ao saber que a tal caixa está em pleno saguão, o furacão fica furioso, e manda os dois irem arranjar um lugar seguro, seja um cofre ou algo parecido. Os dois vão imediatamente e enfim surge a oportunidade de pôr as diferenças em dia. Camaleon já sabe que só foi solto porque os malandros do morro exigiram, e não se conforma com a traição. De bate boca, logo passam a uma ridícula briga, mas Ventus Malus aparece no corredor, e com apenas um olhar eles param e vão até o saguão, esquecendo um pouco a rixa. Camaleon resolve saber mais sobre o tal chefe e Karontino lhe conta como o conheceu e por quem estão procurando. Depois conseguem providenciar um lugar seguro para a enorme caixa de madeira. Voltando para o quarto, Karontino trata de entrar em contato com o pessoal do morro e estes se surpreendem com a libertação do boliviano. Ninguém pensou que ele fosse tentar alguma coisa. Mas o fato é que ele conseguiu e agora exige a colaboração deles, que sem opções prometem encontrar o tal de Eudóxio Filogônio, e dizem para os três voltarem logo ao Rio. Acreditando que ainda não deram falta de Camaleon no presídio, eles fretam um jatinho e rumam para lá. Por melhor que seja uma rede de informações entre a bandidagem, encontrar uma única pessoa é muito difícil. O fato é que a pista do homem se perdeu e eles ficaram a ver navios. Acabaram estabelecendo-se na cidade onde abriram um negócio para servir de fachada a uma série de golpes de estelionato que usaram para se manter, enquanto continuava a busca por Filogônio. Passaram-se quase dois anos, e a paciência de Ventus Malus enfim se esgotou. Foi preciso ele ter um acesso de raiva daqueles, que quase revela sua verdadeira forma, para se obter resultado. Tiveram notícia de um grego cuja descrição bate com a de Eudóxio, e ele se encontraria justamente em Brasília. Talvez se tivessem ficado na cidade quando aqui estiveram pela primeira vez o teriam achado antes, se bem que Camaleon já era procurado pela polícia do Distrito Federal. Justamente por isso 32


foi obrigado a mudar o visual, raspou a barba que cultivara na prisão e pintou os cabelos, antes negros, de caju. Só não se livrou de uma marca que podia denunciá-lo de pronto: o seu dente canino direito, que é maior que o esquerdo, e fica saliente na boca. Em Brasília não demoraram nem um pouco para achar Eudóxio. Foi quando ocorreu a perseguição na Torre de TV. Camaleon fez o perseguido tropeçar e cair sobre a barraca, para depois o capturar e levá-lo até Ventus Malus. Lá constataram que o anel fora perdido e o furacão sentiu uma vontade enorme de exterminar os três com um raio, mas preferiu interrogar sozinho, o rapaz grego. Este conta que roubou o anel por que conhecia uma parte da história sobre ele, mas não era nada relacionado a seus poderes, e sim à civilização que viveu naquela ilha e da qual se dizia descendente, assim como seria também o verdadeiro Aristarco. Diante da situação, o furacão fica meio perdido, e manda seus comparsas arranjarem um lugar para esconder o seqüestrado. Depois manda Karontino ir até a Torre tentar encontra alguma pista sobre o anel. Somente agora é que ele conta o que realmente queria a seu empregado, que faz o maior caso ao saber da verdade, pois passou dois anos trabalhando para ele achando que o tal Eudóxio era algum milionário que lhe devia grande quantia de dinheiro, e resolve se desforrar da submissão que lhe foi imposta. Ele mais seu parceiro boliviano (os dois acabaram fazendo as pazes mesmo!), se rebelam contra o patrão, mas antes que possam fazer qualquer coisa, vêem Alphestés pegar uma faca na cozinha e enterrá-la no próprio peito. Susto maior foi após: como não passava de um verdadeiro balão de gás, a pele falsa explode fazendo um grande estrondo e revelando aos dois com quem estão se metendo! Nem preciso dizer que eles voltaram rapidinho à submissão, ante a figura macabra que é Ventus Malus. Com uma boa gorjeta, Karontino convence a dona da barraca a ceder o lugar pelo resto da tarde afim de encontrar alguma coisa. Foi nesse dia que eu voltei à Torre e o vi no lugar da vendedora. Sem conseguir resultados, Ventus Malus saiu voando pela janela para pensar e sentiu a energia que emanava de meu anel. Não sei como ele sentiu isso, mas foi assim que ele me achou. 33


Depois, o que se seguiu eu já lhe disse antes. Eu e o Dr. Rupert começamos a divagar sobre aquele monstro que nos atacara e o anel que nos protegera, teorias começaram a surgir, mas nada que fizesse sentido. - Eu posso imaginar. Aham... Já ia anoitecendo e o doutor me sugeriu que eu lhe passasse o anel para que fizesse uns testes, mas eu não concordei. Não sabia se deveria confiar nele agora, e só o deixei dar uma olhada, ainda assim com anel no meu dedo. Ele não se importou e pegou minha mão, olhou, viu, observou e não chegou a conclusão alguma. Como eu também queria descobrir do que se tratava exatamente o tal do anel, acabei mudando de idéia. Mas antes lhe pedi que me trouxesse uma toalha para eu esconder o rosto, afinal eu estava crente que a máscara que usava escondia minha identidade, e queria manter isso assim. Só depois o tirei do dedo, e senti o pequeno choque de novo. Com minhas roupas voltando ao que eram antes deixei o cientista ainda mais surpreendido: era muita novidade para um dia só. Concordamos que era melhor deixar os testes para o dia seguinte, e então fui para casa, levando o Dýnamis Érrion. A agitação fora demais e a luta com Ventus Malus me deixara cansado o bastante para encostar na cama e dormir. Só que o dia seguinte teria os mesmos tipos de emoções. Depois que fui liberado pela minha mãe para ir à rua, fui até meus colegas para jogarmos bola; de repente eu voltara a fazer coisas normais para alguém da minha idade, mas após o almoço a tentação de sair voando por aí era grande, e mesmo com o aviso do Dr. Rupert de que Ventus Malus poderia me achar de novo, resolvi arriscar e me transformei mais uma vez no Super Capitão Erre. O céu estava tão limpo, num azul bem bonito, e como meu uniforme era da mesma cor, eu poderia voar como se estivesse camuflado. Assim sobrevoei a cidade e fiquei admirando seu desenho, um formato de pássaro perfeito, com seus prédios famosos na Esplanada dos Ministérios, e as pessoas lá embaixo parecendo formigas. Até me lembrei que vivia dizendo aos meus pais que não gostaria de viajar de avião por puro receio. Embora fosse invenção de brasileiro eu nunca me convenci, até hoje, de sua segurança, mas não me pergunte o motivo. Mas com este anel, eu tinha uma sensação diferente. O fato de se ter uma visão daquelas me tranqüilizava, e eu ganhava confiança a mais de 34


não sei quantos quilômetros de altura. Minha ousadia foi tanta, que resolvi pousar bem em cima do prédio do Congresso Nacional e lá fiquei de bobeira por algumas horas, ao lado de um passarinho que me fez companhia. Mas o que é bom dura pouco. De repente começou a trovejar, mesmo fazendo sol; então logo pensei que Ventus Malus estava por perto, mas não era ele... - E quem era? - Opa! Estarei notando uma dose de credulidade agora? - Não, não é isso. Já notei que você não está afim de colaborar, mas quero ver até onde vai a sua imaginação, contando esta história! Mas devo te avisar que aquele cara que esteve conosco vai querer algo de concreto e não será tão paciente quanto eu. Mas prosseguindo; a causa dos raios que caiam não era o furacão. Um zunido se fez ouvir, e eu fiquei de pé e olhei ao meu redor. Não vi nada, até que alguém me empurrou com uma força tremenda, me jogando em cima do Panteão da Liberdade, do outro lado da Praça dos Três Poderes. Ele realmente me atacava como um raio, e uma saraivada de relâmpagos vinham em minha direção. Desviei de alguns, mas fui pego por outros e acabei por cair lá de cima. Então pude ver quem era meu agressor: uma cara alto, pálido como giz e com uma roupa amarela brilhante. Seu corpo atraía raios que faiscavam ao seu redor. Ele ergueu um braço e os raios se concentraram em seus dedos, para depois serem lançados na minha direção novamente. Com o anel sai voando bem rápido; se tivesse sido pego nem sei o que teria acontecido, se bem que com o tamanho da cratera que ficou, pude ao menos imaginar. Usei a arma que tinha, e disparei com força um raio de meu anel. Ele se deixou atingir e acabou sentido o impacto, mas se recuperou logo, enquanto eu fiquei só olhando. O cara investe de novo e agora vem ele mesmo contra mim, mas não dou mais bobeira e saio voando rápido. - Ninguém pode escapar de mim, eu sou aquele que domina a eletricidade. Eu sou RELÂMPEGO ! Embora seu português não fosse dos bons, sua força era fenomenal. Pude porém, me aproveitar de uma tática bem manjada. Fiquei bem posicionado e quando ele veio para cima, sai da frente e ele foi com tudo para dentro do lago Paranoá,

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onde sofreu um curto e acabou ficando quieto, para a felicidade deste super-herói !

07 - AMIGOS ESPE(A)CIAIS Cruzeiro (DF) , junho de 1989 Ilha Capital (Rôfega) , agosto de 1988 O Universo, tão grande, tão imenso; com incontáveis estrelas e planetas... Diga-me uma coisa, o que você acha da teoria sobre vida extraterrestre ? - Enfim começou a mudar de assunto. Eu sabia que não poderia levar aquele papo adiante. - De modo algum. Isso tem tudo a ver com o que estou lhe contando. - Claro, não poderiam faltar os alienígenas. Olha, eu não queria fazer isso, porque já fomos colegas de classe, mas vou chamar o nosso "amigo", ele tem um jeito mais eficiente para te fazer falar. - Espera, é por ser alguém que conheci há tanto tempo, e já saber pelo menos uma pequena parte dessa história, que resolvi lhe abrir o jogo. Sempre quis contar isso tudo para alguém e só não o fiz por motivos óbvios. - E por que acha que logo eu vou acreditar? Nunca vi alguém viajar tanto na maionese como você ! - Se ao menos você me dissesse aonde ouviu aquelas duas palavras, e quem é o seu "amigo"; até agora eu fui o único a passar um relatório. - Ainda não posso lhe contar nada... Continue o que ia dizendo. Perguntei se acredita em vida em outros planetas, mas deixa para lá. Depois de derrotar o Relâmpego, fui voando até o Dr. Rupert para lhe contar o acontecido, e ele ficou realmente preocupado, achava que a coisa estava saindo de controle. E acabou por sugerir que eu me livrasse do anel. Ao ouvir isso me indignei. Eu não podia considerar essa idéia, estava fascinado demais com o fato de ser um super-herói, então sai pela janela e fui para bem longe. Devo ter voado por várias horas, e fui para bem longe, até que chegou uma hora em que o anel começou a piscar. Como ele mantinha um brilho constante me assustei. O que poderia 36


ser? Aos poucos fui perdendo altitude, e achei melhor descer de vez. Novamente estava no cerrado, mas bem distante de onde encontrara Ventus Malus. Comecei a caminhar pelo meio do mato e então acabei por avistar um negócio meio esquisito. Ao olhar de perto, tive certeza: era uma nave alienígena. Não era grande, mas devia ter capacidade para até uns seis passageiros. Cheguei mais perto para encontrar algum homenzinho verde, mas não. Só vi um vermelho. Pois é, eu acabara de realizar um contato imediato de 4º grau. A criatura era bem pequena, não devia medir nem meio metro. E usava uma roupa azul escura com sabe o quê desenhado no meio? Um grande erre vermelho. Ele me viu e não chegou a reagir com muito espanto. Querendo se comunicar, ele me disse umas palavras:

R  Na hora eu não entendi chongas, e tentei me comunicar por sinais, mas ele ficou me olhando com uma cara, que deve ter me achado maluco... - Só ele ? Pois saiba que conseguimos nos comunicar. Quando me apoiei na fuselagem da nave, encostei o anel e este logo voltou a brilhar, então o baixinho disse:

R    - Eu respondi a ele. De repente passei não só a entender o que ele dizia, como estava falando no seu idioma. Descobri que o anel também era um tradutor automático, e começamos a conversar bastante. - Pelo visto, esse anel fazia de tudo mesmo, não é? Ele me contou a sua história: tudo começou quando ele e sua família foram visitar um centro tecnológico em seu planeta, onde trabalha seu pai. Eles só puderam entrar lá por isso, pois o lugar possui acesso restrito. E justamente nesse dia, estava em andamento um projeto secreto de extrema importância para os interesses do planeta dele. Quando os 1 - Olá, eu sou o Caixinha Mágica. Quem é você amigo ? {Traduzido do rofeganês} 2 - Há algum problema com você ? - Não, está tudo bem comigo. Desculpe, mas o que você havia dito antes ?

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diretores do centro souberam que um de seus funcionários trouxera a família ao complexo, o repreenderam duramente, e mandaram todo mundo de volta. Mas o irmão mais novo dele se perdeu, e começou a ser procurado pelo pessoal do lugar. Só que o meu amigo alienígena resolveu ir procurá-lo também, pois conhecia bem a peste que era o irmão. Ele conseguiu achá-lo. O moleque conseguiu penetrar em um grande galpão, onde estavam sendo feitos os preparativos para o tal projeto. Quando notou que fora achado pelo irmão, ao invés de ir até ele, achou melhor entrar na pequena nave que estava lá. Restou ao outro ir lá pegá-lo, mas assim que consegui arrancá-lo do aparelho, chegaram algumas pessoas e foi ele quem se escondeu dentro da nave, enquanto seu irmão se meteu atrás de algumas caixas que estavam por lá. Os dois sabiam que estariam encrencados se fossem descobertos, por isso ficaram imóveis em seus cantos. O resultado foi que um piloto entrou na nave, e sem ver o 2º passageiro a bordo, deu início à contagem regressiva. Mas ao invés de ser lançado como um foguete, o aparelho correu uns poucos metros, emitiu um raio à sua frente, fazendo surgir um círculo brilhante, por onde ele entrou para desaparecer logo em seguida. Ele chamou esse círculo de Portal de Teleporte, e com ele é possível cobrir distâncias enormes em um tempo mínimo. Foi assim que ele chegou à Terra. Isso havia acontecido, já faziam uns dez meses. Quando aterrissaram, ele acabou sendo descoberto pelo piloto, que ficou furioso, e entrou em contato com seus comandantes, no planeta de origem, o planeta chamado RÔFEGA! Como não havia a possibilidade deles retornarem apenas para devolvê-lo, decidiram que o piloto ficaria tomando conta dele enquanto estivessem na Terra, mas avisaram que a missão teria um prazo muito extenso. Assim ele vem vivendo com esse piloto, que pelo que descreveu, é um cara bem chato. Eu estava fascinado com a história que ele me contara. Eu acabara de conhecer um E.T. da minha idade, e que acabou se tornando meu amigo. Ele até havia me dito seu nome antes, mas acho que como o anel estava meio que sem carga, não pude entender. Então ele repetiu: todos seus amigos o chamam de CAIXINHA MÁGICA. Continuando sua conversa, fiquei sabendo que ele e o piloto ficaram por muito tempo em uma ilha deserta, com 38


algumas ruínas que foram pesquisadas pelos dois, e depois encontraram alguém perdido por lá, um homem chamado Aristarco Alphestés! Ele queria que o tirassem de lá, mas quem estava no comando não era o Caixinha, e deixaram o homem lá, para depois seguir a pista de alguém que Aristarco disse estar se passando por ele, e que se parece com um furacão, um tipo de ser que é comum a uma nação do planeta dele. Obviamente ele estava falando de Ventus Malus, mas Caixinha Mágica não sabia o motivo da perseguição. Ele não sabia nem dos detalhe, pois não fora informado pelo tal piloto, que aliás podia andar disfarçadamente por entre os terrestres, pois ao contrário do pequeno C.M., tinha uma forma humanóide. Duas coisas porém, o diferenciavam: quatro dedos nas mãos e os olhos com a esclerótica, a parte branca dos olhos, azul. Nada que óculos escuros não escondessem; quanto ao meu amigo, restou um modo meio estranho para se disfarçar. Sei que não está acreditando em mim, e se eu falar isso agora, você até ficará mais brava, mas o fato é que eles tinham uns bastões capazes de reduzir o tamanho, e usaram isto para encolher o Caixinha Mágica, que já não era muito alto, e assim o escondê-lo em uma mochila. - Brava, eu? Por que eu ficaria brava ouvindo tudo isso? Continue, certo? Quando descobriram que Ventus Malus já estava no Brasil, eles pegaram sua pequena nave, e chegaram até aqui, mas aconteceu um imprevisto. Seu parceiro na viagem, acabou sofrendo um acidente. O primeiro lugar em que chegaram foi na cidade do Rio, e com muita fome, foram até o primeiro boteco que viram. Era um sábado, e o piloto pediu o prato do dia: resultado, sofreu uma reação alérgica tão forte à feijoada, que quase morreu; mas para não ser descoberto, fugiu e deixou o Caixinha sozinho na nave. Como este não sabia operá-la, apertou um botão qualquer e veio parar no meio do cerrado onde o encontrei. Sem saber o paradeiro do outro, e seu estado, ele queria que eu o ajudasse. Ele tinha um localizador, e se voltasse ao Rio poderia encontrá-lo. Deixamos a nave ali mesmo; Caixinha encolheu-se com o bastão e partimos para lá. Não levamos muito tempo para chegar ao Rio, e menos tempo ainda para

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encontrar o piloto; o potente GLADION ROGHER, agente rofegano para assuntos especiais. - Muito potente, quase morre por causa de uma indigestão. - Você não entendeu, ele sofreu foi reação alérgica. Seu organismo é diferente, e certas comidas podem ser mesmo fatais. Por precaução até proibimos Caixinha de comer esse tipo de comida. O fato é que os rofeganos não se dão bem mesmo, com certos alimentos. - E ainda quer que eu te leve a sério ! Tanto Gladion quanto o Caixinha, estavam espantados ao verem que eu podia voar, e tive que explicar a eles a razão disto. Na hora Gladion quis ver o anel dourado em meu dedo, mas não deixei. Então ele pegou um aparelho que estava com o Caixinha e apertou um botão. Minutos depois, abria-se um portal a nossa frente e a nave deles reaparecia (Eles chamavamna de Nave Triangular Exploradora). Com isso ele quis me mostrar que o anel poderia ser da mesma constituição da nave, pois o metal de que ela é feita possui uma capacidade magnética única, podendo ir atrás de um outro fragmento deste metal, a distâncias enormes. Esse metal é conhecido como rofegnum. Se a nave foi parar no cerrado brasiliense, era porque eu a havia atraído. Disse a ele porém, que a nave não foi exatamente ao meu encontro, eu a achei a alguns quilômetros à frente. Começamos então a juntar alguns fatos, e concluímos que meu anel funciona como uma bateria. Seu aro armazena a energia, que é controlada pelos botões, e como eu já estava voando a um bom tempo, devo ter descarregado o anel, e impedido que a nave chegasse mais perto de mim. Sentido fazia, e eu me preocupei. Conclui que a missão dele era vir pegar o anel, que só podia ser de seu planeta. Não era bem isso. Ele veio à Terra procurar indícios de uma outra visita, um rofegano teria chegado à Terra, algum tempo atrás. Eu logo pensei em Ventus Malus que pelo que eles me disseram, era rofegano também, mas o primeiro visitante era da mesma raça de Gladion, um antropóide, e sua visita foi mais ou menos há uns dois mil e quinhentos anos atrás. A existência de Ventus Malus era ignorada por eles, e por isso vieram à sua procura. Precisavam saber como um outro deles fez essa viagem, 40


sem os recursos que eles tinham. A nave que usavam era única em Rôfega e teria sido fabricada pelo primeiro viajante, naquela mesma época longínqua. Concordamos que precisávamos um do outro para entender melhor o que ocorria, e assim firmamos um acordo; seríamos uma equipe. Super Capitão "R", Caixinha Mágica e Gladion Rogher, contra Ventus Malus e seus aliados. Voltamos para Brasília, pois lá seria o nosso "campo de guerra". Enquanto eles iam na pequena nave, eu fui voando na frente para indicar o caminho, e pensando em onde poderia deixá-los ficar. No meu apartamento seria impossível, então pensei no Dr. Rupert. Fomos para lá, e expliquei tudo ao cientista antes de mostrarlhe seus novos hóspedes. Ele simplesmente vibrou com a idéia de conhecer seres extraterrestres. Como o doutor morava sozinho, podia arranjar espaço para os dois sem problemas, assim fui para casa tranqüilamente. Voltei logo no dia seguinte para traçarmos nossas estratégias, e fui surpreendido pelas palavras de Gladion Rogher. Ele queria que eu desse o anel a ele, por se achar mais apto para confrontos, e não admitia que um garoto tivesse controle sobre um poder tão grande. Foi aí que começou a discussão; de um lado o Dr. Rupert apoiando o soldado, de outro Caixinha Mágica, me dando força. A coisa estava ficando feia, quando ouviu-se uma explosão ao longe. Fomos todos ver o que era, e avistamos Ventus Malus e Relâmpego ao lado de uma caixa de luz esfumaçando. O furacão deve ter sentido minha presença e fez aquilo para me chamar a atenção. Tudo caminhava para mais um confronto, e com o agravante de que ali era uma área residencial. Eu já voava em direção a eles, quando o portal da nave se abriu, e se posicionou perto dos vilões. Percebi o que Gladion tinha em mente, respirei fundo e atirei nos dois com toda força, empurrando-os para dentro do portal. O coice do tiro me jogou ao chão, bem aos pés do Caixinha, que me fez o favor de jogar um pouco de água na cara. Quantos aos vilões, Gladion me disse que programou o portal para levá-los até a ilha misteriosa do Mar Mediterrâneo. Teríamos mais algum tempo, até eles voltarem. Com este problema temporariamente resolvido, até deixamos a discussão sobre o anel de lado. Vimos que Ventus Malus podia chegar muito perto; desta vez ele não viu em que 41


casa estávamos, nem pôde confirmar se realmente morávamos ali, mas teríamos de tomar providências para nossa segurança, e a do bairro todo. Caixinha Mágica e o soldado, levaram a nave de volta ao cerrado, pois ela também poderia nos denunciar, e eu estava proibido de usar o Dýnamis Érrion no limites da cidade. Como o anel só emitia energia enquanto eu estivesse transformado, poderíamos evitar visitas indesejáveis. Ficamos eu e o Dr. Rupert em sua casa, comentando o fato de Relâmpego, o mesmo que me atacara a pouco tempo atrás, trabalhar com Ventus Malus. Queríamos saber quantos mais poderiam estar com ele. Falando nisso, lhe direi o porque de Relâmpego se chamar assim. A tal caixa que Karontino e Camaleon tantas vezes tiveram de carregar, era a embalagem do andróide que pode dominar os raios e trovões. Logo após se instalarem naquele buraco no cerrado, o furacão deu ordens para reativá-lo e coube ao Camaleon, reprogramá-lo. Só que este estava morrendo de medo da máquina à sua frente, e ainda teve de digitar em um teclado com caracteres do alfabeto rofegano. Ele errou e consertou várias vezes, até que, irritado, Karontino deu por encerrada a reconfiguração básica e tomou o controle da mão do boliviano. Esse não gostou e puxou o controle de volta, para em seguida Karontino retomá-lo. O resultado foi que deixaram o controle cair no chão e se espatifar todo. Como na memória do andróide estava seu novo nome em português, escrito errado, e não havendo mais a possibilidade de se consertar isso, oficializou-se o nome da criatura assim, com um 'e' no lugar do 'a'. Mas como eu dizia, ficamos na casa do doutor Rupert, aguardando a volta dos dois alienígenas. Como o doutor não costumava ter visitas, acreditávamos que ocultaríamos os dois rofeganos sem despertar suspeitas. Pois sabe da maior? Alguém bate na porta, e ao abri-la, o cientista alemão vê seu sobrinho norte-americano, com uma mala na mão. Era o ex-funcionário da NASA, JOHN JOTER, que chegara para ficar. - Realmente a sua história me deixou surpresa. Você não parou quase nada. Poderia achar mesmo que é tudo verdade, devido à facilidade com que desenvolveu isso tudo.

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- Está tão difícil de acreditar, não é? Por isso era um segredo. Ninguém mais poderia saber. - E essas pessoas de quem você falou. Se elas existem, poderiam confirmar tudo e até, quem sabe, me convencer. - Infelizmente é impossível encontrá-los hoje em dia. E por que eu iria querer que alguém confirmasse isso para mim? Você ainda não me contou como descobriu justamente as palavras que ativariam o anel, nem quem é o leão-de-chácara que está observando a gente do outro lado da praça. Afinal, vai me dizer ou não? - Olha só, as fitas que eu trouxe acabaram. Como ainda não conseguimos nos entender vou fazer o seguinte: Mandarei ele ir embora, você vai para casa descansar e a gente se vê de novo amanhã. - Para quê? Você vai continuar fazendo mistério, e nem vai acreditar no que irei lhe contar. - Se me contar algo que bata com o que sei... Encontre-me amanhã na Praça das Fontes, no Parque da Cidade. Prometo não levar o "leão-de-chácara", nem mostrar-lhe as fitas com a nossa conversa de hoje. - Eu vou, mas quero respostas amanhã.

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PARTE II

A REVELAÇÃO

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08 - SURPREENDENTES REVELAÇÕES Brasília, julho de 1990 - Bom dia! Espero que esteja preparada para o que vem hoje. Vou poder até ilustrar alguns fatos desta minha emocionante narração! - Você vai insistir mesmo com essa história de Super Capitão Erre? E essa maleta? O que você tem em mente? - Quantas perguntas! Eu disse que queria respostas, mas tudo bem. Essa maleta tem algumas lembranças que vou lhe mostrar. Ligue o seu gravador. Concluindo o que eu dizia ontem, o sobrinho do Dr. Rupert havia chegado e ia se hospedar por lá, pois disse que estava de férias da NASA, e queria passar umas férias no Brasil. Ele até mandara um telegrama, mas o avoado Rupert se esqueceu de abri-lo, e agora tinha que arranjar uma desculpa para a presença de Gladion Rogher. Como o rapaz não deveria ficar por muito tempo eles poderiam se arranjar, mas para evitar que desconfiasse de qualquer coisa, eu trouxe o Caixinha Mágica para ficar comigo no apartamento. Podendo ficar bem pequeno, seria fácil escondê-lo em meu quarto. Passaram-se meses e John não ia embora, até que um dia, por um descuido, ele acabou vendo Gladion sem os óculos escuros e o jeito foi contar tudo. Ele então resolveu contar que nem estava de férias, mas havia se demitido da Agência Espacial, e não pretendia voltar para os Estados Unidos. Acabou entrando para o nosso time. Um ano já havia se passado desde que eu conseguira o anel, mas ainda tínhamos muitas dúvidas sobre a origem dele. Gladion não contara tudo o que queríamos saber sobre sua missão, mas me garantiu que a existência do anel era ignorada por ele, embora estivéssemos convencidos de que o Dýnamis Érrion havia sido feito no planeta Rôfega. Os ataques de Ventus Malus, na tentativa de obter o anel, também intrigavam muito, pois a origem do furacão ainda era desconhecida. Só sabíamos que era um outro rofegano. Durante este tempo, não conseguimos muitas respostas, mas os dois alienígenas não desistiam; eles já dominavam nossa língua 45


há algum tempo e eu não precisava ser mais o intérprete deles. Só estava preocupado com o Caixinha Mágica, há tanto tempo longe de casa e sem ter contato com sua família. Ele não demonstrava, mas sabíamos que não estava satisfeito com a situação. Tínhamos ainda que conviver com as investidas dos vilões, que de vez em quando aprontavam algo para chamar minha atenção e tentar pegar o anel. Certa vez conseguiram achar o esconderijo da nave de Gladion e a danificaram bastante. Ela nunca mais voltou a funcionar direito, mas como não interessava a eles aparições em público, nunca tentaram nada mais ousado. Logo a vida de super-herói começou a ficar entediante. Gladion e Rupert não deixavam que eu tivesse outros confrontos com Ventus Malus ou mesmo com Relâmpego. Eu sabia que tivera sorte antes, mas o anel me dava confiança; um motivo a mais para eles se preocuparem comigo. Ficar sem o anel era uma hipótese que eu havia descartado há muito tempo. Como medida de segurança, o Super Capitão "R" só aparecia bem longe da área urbana, e nessas oportunidades eu aproveitava para pegar cada vez mais experiência. Até Gladion admitiu que eu estava indo muito bem. Mas era com o Caixinha que havia uma sincronia legal. Nós passamos a agir como uma dupla, onde ele usava os bastões de miniaturização para me auxiliar em várias aventuras. Se não podíamos ser celebridades, nos divertíamos cuidando dos nossos "afazeres de super-herói". Com o tempo porém, eu perdi a empolgação inicial e já não usava o anel com a mesma frequência do princípio. Foi quando aconteceu algo novo; o Dr. Rupert havia me ligado, pedindo para ir até sua casa. Chamei o Caixinha e fomos até lá. Quem abre a porta é John, e quando entro vejo que eles têm visita. O senhor sentado no sofá se chama João Nicanor, e estava me aguardando para poder contar de uma vez só o que tinha a dizer a todos nós. Caixinha Mágica saiu de meu bolso sem que o vissem e foi para trás do aparelho de som. Ele acabara de chegar de Manaus, e procurava pelo Dr. Rupert, mas quando este percebeu que a conversa podia me interessar, resolveu me chamar. O tal homem estranhou o interesse de um garoto nisso, mas começou a falar. "Venho procurando por representantes da família von Joter há bastante tempo. Eu faço parte de um grupo que tem um 46


objetivo histórico: restaurar uma antiga civilização. Nós percorremos o mundo todo em busca dos descendentes dessa civilização, e fundamos uma aldeia na Floresta Amazônica, onde vivemos com esse ideal. Nosso maior problema é o grupo rival ao nosso, do qual somos dissidentes. Precisamos ter maior representatividade contra a Sociedade do Ressurgimento, pois eles não passam de um monte de interesseiros visando explorar o potencial da civilização de AFANÉSIA. Já reunimos cinco famílias entre nós, e esperamos contar com o senhor e seu sobrinho. Como vejo que tem ainda esses dois amigos tão interessados, pode trazê-los conosco, mas advirto que cobramos lealdade, pois estamos tendo problemas com um novo membro, que por sinal se chama Erik von Joter." Foi quando o doutor demonstrou surpresa, chegando a deixar a xícara de café que segurava cair no chão, e respingar no Caixinha, que saiu correndo lá para fora. Ele se virou para mim e disse: - Mas é o SENHOR ERRO ! Esse Senhor Erro é Erik, o irmão mais novo do doutor Rupert, e os dois não se vêem desde que deixaram a Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Eu conhecia a história da família von Joter. O doutor me contara que seu pai trabalhava para o governo alemão e que ficara indignado com o que seu país vinha fazendo. Como sabia que não poderia fazer muito contra isso, resolveu abandonar o emprego e deixar o país. Ele era um homem muito duro em sua conduta e não queria tomar parte do regime nazista que se instalava. Quando porém estava tudo pronto para deixarem o país, foi surpreendido pela decisão do filho mais novo que não queria ir de jeito nenhum, pelo contrário, até apoiava as idéias de Hitler, com o detalhe de ter apenas doze anos de idade. Diante da irredutibilidade do filho em querer ficar, ele simplesmente foi até seu cunhado e deixou o garoto com ele. O restante da família foi para os Estados Unidos. O fato de seu irmão ter ficado para trás marcou Rupert, que tinha apenas catorze anos na época e não poderia contestar a decisão do pai, mas não concordou com o acontecido, sendo apoiado pela mãe. O outro filho, o mais velho, apoiava tudo o que o pai fazia, e isso gerou um clima de desunião entre eles, mas já estava feito e tiveram que conviver com isso.

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Quando a guerra acabou, Rupert voltou sozinho para a Alemanha, afim de reencontrar o irmão, mas não teve êxito, e acabou ficando de vez no país em que havia nascido e que estava em estado de miséria, devido ao pós-guerra. Nos anos 60, querendo conhecer novas culturas, veio morar no Brasil, ficando um tempo no Rio para depois se estabelecer definitivamente em Brasília. Eu entendi o porquê dele me chamar para ouvir a conversa. Era a nossa chance de conseguir algumas respostas. Com certeza há um elo entre a Sociedade do Ressurgimento e o anel e nós precisávamos descobrir qual era. Conhecendo o pessoal do grupo de Nicanor, poderíamos ter mais chances ainda. Tínhamos que ir para esse povoado, e para isso havia o guia ideal. O problema era como eu iria explicar uma viagem sem mais nem menos para meus pais. Gladion chegou a sugerir que eu emprestasse o anel e ficasse esperando eles voltarem; nem dei resposta. Acabei inventando foi uma desculpa esfarrapada. Eu disse a eles que tinha ganho uma viagem para o Amazonas em um concurso qualquer, e o doutor forjou uns comprovantes para dar credibilidade. Como me mostrei muito animado com uma viagem, eles acabaram me liberando e assim consegui ir sem problemas. Como tínhamos pouco dinheiro para passagens de avião, eu me prontifiquei a ir voando sozinho, seguindo o avião; dissemos a Nicanor que eu ia pegar uma carona em um jatinho com algum conhecido. Ele até quis que fôssemos então todos no tal jatinho, mas disse que ele era muito apertado e não haveria como levar mais gente. Enfim chegamos a Manaus e nos reencontramos no aeroporto. De lá seguimos para uma loja para comprar equipamentos para a travessia da selva e depois seguimos em direção norte rumo ao interior da maior floresta tropical do mundo. Foram dois dias de incursão, até chegarmos ao vilarejo chamado de Nova Afanésia.

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09 - A VILA AMAZÔNICA Floresta Amazônica , julho de 1990 Uma clareira no meio da mata abrigava algumas cabanas, e um pequeno grupo morava ali. Eu esperava algo maior, mas Nova Afanésia era um lugar bem simples, onde a única diferença era a origem de seus habitantes: argentinos, camaroneses e espanhóis, além dos brasileiros, conviviam ali falando um idioma estranho, mas que eu conhecia; era o rofeganês, a língua de Caixinha e Gladion. Nicanor se adiantou a nós e foi falar com um conhecido dele, para depois nos chamar para irmos até ele. Eu não tinha ainda certeza do que eles falavam, pois só compreendia bem o rofeganês quando o anel estava ligado, mas notava uma certa alegria deles em verem seu velho colega, e Nicanor também estava muito satisfeito. Em compensação parece que o tal Senhor Erro não conseguiu agradar o povo daqui, e esteve gerando confusões. Quando Rupert pergunta por ele, um dos "neo-afanésicos" aponta para o rio. Vamos todos até lá e vemos um senhor de idade dependurado em uma árvore, querendo escapar de uns jacarés que estavam por ali. Fomos ajudá-lo, mas em vez de agradecer, ele reclamou do fato de haverem estranhos em "sua vila". Foi preciso Nicanor apresentar os dois irmãos para estes se reconhecerem. E enquanto Rupert se emocionava, o outro fez pouco caso, pois ainda guardava a lembrança de ter ficado sozinho na Alemanha. O doutor ainda lembrou que ele só ficou por que quis, mas Erik não aceitava o fato, e o reencontro dos dois ficou nisso. Até John, que era seu sobrinho, não foi capaz de amolecer o velho rabugento. Diante do clima ruim que se instalou, resolvi conversar com o Nicanor para saber os detalhes da história da vila, mas nova decepção. O homem mudou de comportamento conosco, e não estava disposto a contar mais nada. Só queria que fôssemos ajudar a montar cabanas e cuidar da roça. Ele devia achar que ficaríamos morando na vila dele e já estava dando ordens. Aí eu fiquei contrariado, achei que ia ter algumas respostas e só vi aborrecimento. Me afastei do pessoal e tirei o Caixinha Mágica de minha mochila para conversar com ele. Acabei ligando o anel, e fui voar pela selva para conhecer um pouco o lugar.

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E o pior que podia me acontecer, aconteceu. Como vim voando de Brasília até aqui, meu anel começou a piscar e eu tive que descer, para não despencar dos céus. No meio do mato eu perdi qualquer referência, e acabei me perdendo. O Caixinha havia ficado na vila com o Gladion; eu não tinha ninguém para me ajudar, pelo contrário. Toda vez que dou uma "voadinha", um rastro de energia fica no ar, e é por meio desse rastro que Ventus Malus acaba me encontrando; duas horas andando perdido e não deu outra, o furacão veio até aqui atrás de mim. Com o anel fraco ele perdeu minha pista e pude me esconder antes de ser visto. Sabia que era burrice enfrentá-lo sem os poderes, mas não sabia o que fazer. Ele ainda trouxe todos os seus comparsas, que começaram a me procurar. Acabei sendo visto por Karontino e saí correndo. Obviamente levei um tropeção e fui pego. Mas não me entreguei sem luta, pois ainda tinha energia para dar uns disparos e afastá-lo. Para minha sorte alguns moradores da vila resolveram me procurar, e viram que eu estava sendo ameaçado por um adulto. Rapidamente imobilizaram Karontino, mas não tardou para o poderoso furacão aparecer. Ao verem a enorme criatura, metade dos homens fugiram, só ficando Gladion, John, e dois neo-afanésicos. O jeito foi partir para a luta, mas não consegui ajudar muito. Relâmpego chegou disparando raios para todos os lados, e para me desviar de um, acabei rolando até cair em um rio lá embaixo. Fui arrastado por alguns quilômetros e quando consegui voltar não tinha mais ninguém no local; apenas algumas árvores tombadas, e marcas de queimado em outras. O rastro de queimado se estendia até a vila e por lá também estava tudo queimado, não havendo uma cabana, nem ninguém por perto. No meio das cinzas, surgiu algo pequeno, todo sujo de fuligem: era Caixinha Mágica. Ele estava bem, pois quando chegara já estava tudo daquele jeito. Um galho que caiu e quase o acertou, o fez se jogar no meio do pó. Perguntei o que aconteceu, mas ele também não sabia de nada. Eu ainda tinha o anel, mas ele estava totalmente descarregado, e o jeito foi irmos a pé mesmo. Eu não sabia quanto tempo havia ficado desacordado, mas deve ter sido por muito tempo, pois as cinzas das cabanas já estavam frias. Procuramos por horas, mas nada de achar nossos amigos.

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Acabamos seguindo uma trilha até um acampamento próximo ao Rio Negro onde pegamos uma carona de volta a Manaus. Ainda tentei descobrir algo na cidade, mas não tive sucesso. Fiquei esperando o anel recarregar, como sempre acontecia, e voltamos para casa. O anel sempre voltava a funcionar depois de algum horas desativado. O doutor me disse uma vez que ele funciona com energia solar e se carregava sozinho. Já estávamos em Brasília e fomos até a casa de Rupert no Cruzeiro Velho. Estava fechada, e sem saber o que fazer, esperei um tempo; e ainda voltei à Amazônia, mas não havia sinal de ninguém. Voltei para casa e disse que minhas férias tinham acabado. Passaram-se dias, semanas, meses e não tive notícias. Caixinha e eu já havíamos perdido a esperança de achá-los. Não fazia sentido; se fosse Ventus Malus o responsável, ele teria me procurado para tentar algo. Achei que fosse um seqüestro, e o anel seria o resgate, mas fiquei voando pela cidade e o furacão não apareceu. - Interessante, alguns detalhes disso que você me contou batem com minhas informações, mas ainda está muito longe do que quero saber. - Que bom, comecei a te agradar. E se você fizer o mesmo, e me disser para quem trabalha? - Calma, ainda não. E esta maleta, por que não me mostra o que tem nela? - Eu mudei de idéia. Vou continuar este relatório na base do discurso mesmo, afinal você não colabora também. Eu e Caixinha Mágica ainda fizemos algumas tentativas para se conseguir respostas, mas nossa esperança chegou ao fim quando fomos até o cerrado, onde estava a nave de Gladion. Se antes estava danificada, nem isso estava mais. Havia sumido e não se via rastros em volta. O mistério já me irritava. Os meses se passaram e o ano chegou ao fim sem que descobríssemos o que ocorreu; e nós dois acabamos desistindo das buscas.

10 - RUMO À MISTERIOSA ILHA Brasília , dezembro de 1992 Dois anos se passaram, até que aconteceu algo que me chamou atenção: o anel estava guardado em meu armário e 51


começou a brilhar sem que eu tivesse feito algo. De repente um facho de luz sai dele e projeta o símbolo do Super Capitão "R" na parede. Fico espantado, e chamo o Caixinha para ver aquilo. A luz continua piscando por mais uns minutos e depois se apaga. Como ele nunca havia feito isso antes, fiquei intrigado e procurei entender o que acontecia. Peguei o anel e me transformei, para sair voando, e depois pousar no telhado de um prédio. O anel ficou piscando de novo e se apagou. Durante o dia todo isso ficou acontecendo, até que percebi algo. Ele sempre piscava de modo parecido, seguindo um padrão, e fiquei pensando se não era então um Código Morse luminoso. Peguei um livro que tinha a relação desses códigos. Quando o anel voltou a brilhar tomei o cuidado de conferir, e fui decifrando uma mensagem: -E-S-T-A-M-O-S- -V-I-V-O-S-! Eu vibrei com aquilo. Só podiam ser meus amigos desaparecidos. O Caixinha achou estranho, mas uma hora depois a mensagem se repetiu, e foi assim até a meia-noite. No dia seguinte o padrão se modificou, e decifrei o seguinte: -V - A - - A - O - - P - A - R - T - E - N - O - N - . Depois de mais de dois anos, eu tinha uma esperança de reencontrá-los, mas ficava o receio de ser uma armadilha. Mas quem poderia fazer meu anel acender daquele jeito? Eu só podia imaginar o Gladion usando algum aparelho rofegano, ou o doutor Rupert bolando alguma coisa parecida. O Partenon fica em Atenas e ir até lá é fácil se o anel estiver carregado, mas e meus pais? Será que vão engolir outra viagem repentina? Não havendo outra idéia eu lancei essa mesmo, e como não a usava há algum tempo, até que ela colou. Peguei o meu parceiro e levantamos vôo, rumo a capital da Grécia, onde chegaríamos poucas horas depois. Ficamos esperando por outra mensagem do anel, já que elas se repetiam de uma em uma hora. Fui procurar pelo Partenon, o monumento mais famoso da cidade. Demorou um pouco mas consegui achá-lo, e ficamos esperando por lá. Umas duas horas depois, chegaram dois homens e prenderam um cartaz em uma das colunas para depois se sentarem ali perto; deviam estar esperando por alguém. Um casal de turistas chegou perto e eles falaram algo, mas o casal se afastou sem responder nada.

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Pouco depois passaram umas garotas e a cena se repetiu. Tirei o anel e pus no bolso junto com o Caixinha, para depois me aproximar e ver o cartaz, que tinha um desenho com o símbolo do Super Capitão "R". Um deles se levantou e falou em português: -Reconhece este símbolo? Nós fomos enviados por Gladion Rogher. Eu fiz que sim com a cabeça e ele se mostrou contente, dizendo que eu precisava ir com eles imediatamente para intervir em um problema. Mas antes perguntei o que estava acontecendo e ele disse: -Você não é o garoto que tem o anel, e teve alguns amigos desaparecidos há dois anos atrás? Pois eles estão bem, e precisam da sua ajuda. Acabei indo com eles até uma estação ferroviária onde pegamos um trem para a cidade de Pirgos, próxima ao litoral oeste da Grécia. Depois tomamos um táxi e fomos para fora da cidade até um lugar perto da praia, andamos mais um pouco e chegamos até um bote ancorado na areia. Empurramos o bote para a água e embarcamos. Eu estava com muito receio do que iria acontecer, mas achava que com o anel estaria salvo. Logo estávamos em alto mar, e Caixinha começou a me cutucar, querendo sair do meu bolso. Como os dois não estavam prestando atenção em mim, deixei o baixinho sair e se esconder em baixo do banco. Nesse momento o homem que falava português resolveu se apresentar: ele era Eudóxio Filogônio, aquele que tirou o anel da ilha. Eu já sabia dos fatos que lhe contei antes e fiquei surpreso em vê-lo vivo, pois achava que ele já tinha morrido. Quis saber o que estava ocorrendo de fato, mas ele me interrompeu para pegar sua sacola e tirar alguma coisa de lá; era o MEDALHÃO HEURETÉS, uma relíquia histórica, ele me disse. - Com este medalhão podemos localizar a "misteriosa Ilha Afanésia". É a única coisa que pode fazer isso, além é claro, de seu anel. E por falar nisso, onde ele está? Não sabia se devia confiar nele, e disse apenas que estava bem guardado. Foi quando o medalhão começou a piscar, e uma pequena seta no mostrador do artefato apontava para um ponto fixo no meio do mar. Ele me passou a peça e disse para olhar pelo visor que havia nela. Quando o levei à altura de meus olhos, avistei a costa de uma ilha. Mas quando o abaixei, não consegui ver nada mais além da água. A ilha só era visível com o 53


medalhão, que aliás estava brilhando mais intensamente e envolveu todo o bote em um brilho dourado. Agora a ilha já estava mais próxima e todos podiam vê-la. Por fim chegamos à praia. Eu estava "bestificado", foi uma situação incrível. Depois puxamos o bote e fomos caminhando até um grupo de pessoas que nos aguardavam. E lá estavam Gladion, o doutor Rupert e John, além de Karontino e Camaleon. Eu e Caixinha ficamos tão contentes em revê-los que acabamos mostrando o pequeno rofegano a Eudóxio e seu companheiro. Mas eles pareciam já saber disso também. Depois de toda a comemoração fomos para um acampamento para fazermos um lanche, e eu voltei a perguntar o que afinal tinha acontecido. Era hora de me explicarem algo, e foi Gladion que se encarregou de contar a mim e ao Caixinha: "Logo após você ter caído no rio, Ventus Malus começou a disparar raios para todos os lados. A briga prometia, mas foi interrompida quando eu fui atingido. O raio acertou o meu controle da Nave Triangular e eu o joguei no chão, enquanto ele fazia uns barulhos. Logo em seguida a nave se materializou bem na nossa frente, e eu aproveitei para entrar nela e de lá disparar o raio que forma o Portal de Teleporte no furacão. Mas ele também disparou contra a nave e ampliou o campo de influência do portal englobando a todos nós e a vila também. Como não sabia dos efeitos que uma viagem pelo portal poderia fazer a quem estivesse fora da nave, fiz sinal para o doutor Rupert, John e os neo-afanésicos, para que entrassem rapidamente, mas Karontino viu e entrou junto com Camaleon. Todo mundo conseguiu se proteger, e fomos enviados para o lugar que já estava programado: a Ilha Afanésia. E aqui estamos." Gladion fez uma pausa, esperando que eu perguntasse: E depois? "A nave foi parar em frente a um pequeno palácio, distante da capital. Saímos todos da nave e vimos que Ventus Malus e Relâmpego estavam desacordados. Então prendemos Karontino e Camaleon a um tronco de árvore e fomos ver o furacão. Ele estava brilhando intensamente, como se tivesse absorvido mais energia durante o trajeto, mas não dava sinal de vida. O ar ao seu redor estava muito quente, e ninguém

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conseguia se aproximar, então o deixamos lá mesmo e nos afastamos. Ainda tentei reativar a nave, mas esse último esforço a impossibilitou de vez. Como havia o risco de V.M. ..." - Você disse V.M. ? - Foi. Esses nomes eram muito grandes, então começamos a nos chamar por siglas! (V.M. = Ventus Malus ; C.M. = Caixinha Mágica ; G.R. = Gladion Rogher) - Imagino então, que você também tinha uma sigla. - Tinha. Era S.C.R; mas os mais íntimos me chamavam apenas de "R" ! Mas ele me dizia que V.M. podia acordar, e sabe se lá em que estado. Foram então na direção das ruínas da cidade que conheciam. Armaram uma tenda por ali e procuraram tratar dos feridos. O único que veio do lado de fora da nave e estava ileso, era o irmão do doutor, o tal de Senhor Erro, que havia se escondido em um baú que ele tinha, e que o protegeu. Como não podiam sair da ilha nem se comunicar com o resto do mundo, não puderam entrar em contato comigo. E como nesse meio tempo Ventus Malus não havia se levantado, deixaram o tempo passar. Começaram a explorar a ilha e reencontraram Aristarco Alphestés e Eudóxio Filogônio. Os dois vinham vivendo há vários anos ali e até fizeram uma grande plantação para se manterem. Só não pareciam muito bem psicologicamente ! Os habitantes da vila amazônica se adaptaram bem a realidade, afinal estavam na terra de seus antepassados, e pretendiam se estabelecer por lá, enquanto que os demais estavam angustiados, e sem grandes possibilidades. Por isso, independente de suas vontades, também se estabeleceram por lá, e desistiram de me reencontrar. Algumas semanas depois eles ainda foram ao local onde deixaram Ventus Malus e Relâmpego, mas não os acharam. Esperaram por um ataque deles, mas nada aconteceu. Pensaram que eles foram atrás de mim, mas não foi o que ocorreu. Tudo indicava que não nos veríamos mais, até que Gladion e Eudóxio encontraram um anexo subterrâneo do palácio, que aliás vinha sendo a morada deles.

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Percorreram um túnel e acharam alguns aparelhos jogados no chão, embaixo de uma grossa camada de poeira. O túnel terminava em uma grande porta, que eles tentaram arrombar, mas como essa era muito resistente, desistiram e recolheram os aparelhos. Eram máquinas de origem alienígena, mas não pareciam ser rofeganas; pelo menos não de nossa época. Concluíram que era do primeiro rofegano que esteve na Terra há uns 2500 anos atrás. O doutor Rupert e seu sobrinho, junto com o Senhor Erro, tentaram recuperar uma das peças e usaram partes da nave para tentar consertá-la. O resultado foi que conseguiram montar um transmissor que envia sinais para matrizes de rofegnum, o metal de que é feito o anel. Tentaram entrar em contato comigo então, mas quem recebeu a mensagem foi um grupo de pessoas na cidade de Olímpia. Os remanescentes da Sociedade do Ressurgimento, que organizaram uma expedição para a ilha novamente. - Mas como eles acharam a ilha, se ela não é acessível para qualquer um? Acontece que um dos expedicionários da equipe de Aristarco conseguiu sobreviver quando foi arremessado pela janela do palácio, ao cair no lago que fica ali perto. Era justamente o maluco que tinha uma bazuca. Ele se escondeu no meio do mato e voltou algumas horas depois. Como não achou seu chefe, pegou um medalhão que estava na tenda, que havia sido armada quando chegaram, e resolveu se lançar ao mar em uma jangada que fizera na hora. Ele acabou conseguindo voltar para a Grécia, e entregou o medalhão para os outros sócios da Sociedade. Com isso foi possível a recepção dos sinais enviados. Um grupo grande chegou à ilha e tomou conta da situação, pois estava fortemente armado. No comando desse pessoal estava o italiano Giovanni Deliota, aquele antigo chefe de Karontino; esse aliás vivia por ali e estava cada vez mais inconformado com a vida extremamente simples de Afanésia. Esse novo grupo chegou uns três meses antes de mim e também quis explorar a ilha para descobrir alguma riqueza. E para tanto não se preocuparam em usar o pessoal que já estava lá. Todos viraram escravos, inclusive meus amigos e inimigos. Até que Gladion conseguiu armar uma revolta e pegou o transmissor de volta, junto com o Medalhão Heuretés. Mas 56


com o poder bélico do adversário, tiveram que fugir com um pequeno grupo de revoltosos. Eles se dispersaram pela ilha e o grupo de Gladion rumou para o oeste, usando um jipe que roubaram da Sociedade. Eles ficaram escondidos em uma das ruínas que ficavam espalhadas pela ilha, e estabeleceram ali um forte, onde tentariam novamente entrar em contato comigo sem o risco de terem a mensagem interceptada pelo inimigo, pois eles não tinham mais como fazer isso. Daí em diante, eu já contei. Eu já estava satisfeito de encontrá-los, mas percebi ainda que as respostas sobre o anel só poderiam estar nesta ilha. Estava na hora de tomarmos conta da situação, e fomos para as ruínas da capital, onde estavam os "ditadores". Foi uma luta e tanto, mas meu anel estava com um carga boa e em algumas horas o super-herói aqui pôs fim ao conflito, praticamente sozinho. Eu pude notar que Gladion não ficou muito contente com a minha façanha, afinal ele era um guerreiro e vinha liderando com bravura, e sem super-poderes o pessoal, para de repente chegar alguém e resolver tudo de imediato. Mas como estávamos do mesmo lado, ficou por isso mesmo. Depois que prendemos o grupo de Giovanni, Gladion e o doutor me levaram até o túnel que tinham achado. Queriam que eu abrisse a grande porta no fim dele. - Vamos lá super-herói. Use seu poder e derrube esse troço. -Meu amigo rofegano estava meio mordaz, mas não dei muita atenção a isso. Com o combate, meu anel ficou fraco, então comecei a examinar a porta, e achei um buraco, que se parecia com uma fechadura. - Agora só precisamos da chave. -Caixinha Mágica gostava de simplificar tudo. Mas o buraco era grande demais para uma chave, ali cabia até um punho fechado, aliás um dos grandes. Eu cutuquei com uma vara, e como não saiu bicho nenhum, meti a mão lá. Senti uma atração, o anel estava sendo puxado como se houvesse um imã ali, e ele acabou se encaixando. Virei-me para eles e perguntei o que fazer. - Agora gira! -Eles responderam em coro. Fiz isso mesmo e ouvi um "clic", a porta havia sido destravada.

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11 - O CRONOSCÓPIO Ilha Afanésia , dezembro de 1992 Rôfega & Ilha Afanésia , século VIII a.C. Lá dentro estava muito escuro, mas o Caixinha havia trazido uma lanterna. Entramos no recinto e começamos a vasculhar, o que parecia ser um laboratório. Haviam mais engenhocas em cima das mesas, mas não mexemos em nada. A curiosidade era grande, mas era bom ter cuidado. Nesse instante meu anel voltou a brilhar com mais força. Ficamos intrigados, afinal ali não havia luz do sol. Como então ele se recarregou? Saímos na mesma hora, mas fechamos a porta, e fomos para o palácio. Ainda tínhamos que resolver o que faríamos com os prisioneiros. Estes aliás estavam bem inquietos, e chegaram a exigir respeito afinal eram descendentes diretos dos afanésicos. Tive que lembrá-los que aqueles que eles haviam escravizado, também eram, mas isso só os deixou mais agitados. Achamos melhor voltar para a tal sala secreta, e levamos dois potentes lampiões para poder olhar melhor o lugar. Agora dava para se encontrar algo, e de fato aconteceu. Um enorme telão se localizava no fundo da sala, e a ele estava ligado um fio que terminava em uma caixa. Tanto Gladion quanto C.M. disseram que aquilo se parecia com um aparelho comum em Rôfega, que pela descrição que eles deram, devia ser um tipo de vídeo-cassete alienígena. O doutor deu uma olhada, mas foi o Caixinha quem descobriu o compartimento para fitas. Do lado, haviam três coisas muito similares a isso, então resolvemos colocar. Haviam alguns botões com mensagens, e os dois rofeganos leram com facilidade, o que evidenciava mais ainda a origem da máquina. Por fim ligaram o aparelho. Fez uma barulheira danada, que espantou John e C.M.; os dois saíram correndo, e acabaram trombando com João Nicanor, o velho líder da vila neo-afanésica. Ele queria saber o que nós estávamos fazendo e foi até a sala. O cara ficou irritado ao nos ver mexendo naquele negócio sem tê-lo chamado. Gladion parou a máquina e começou uma discussão. Por fim ele nos convenceu de que não só ele como todo o povo neo-afanésico deveria tomar conhecimento da tal sala e seus segredos.

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Como tudo indicava que aquilo seria uma projeção sobre fatos ocorridos no passado da ilha, concordamos em mostrar ao pessoal. Mas ele lembrou que até os prisioneiros tinham interesse nisso. Aí fui eu quem ficou bravo. Por acaso ele queria soltar os caras? Segundo ele, pelo menos os líderes deveriam ver aquilo, afinal, eles tinham um interesse ao menos histórico, mesmo sendo inimigos. Acabamos trazendo os líderes de cada família, assim como os curiosos Karontino e Camaleon, que até então vinham colaborando conosco, ainda que a contra gosto. Com a sala completamente lotada, teve início a projeção: "Cerca de cinco bilhões de anos atrás formava-se uma bola de fogo, expelida por uma estrela amarela. Essa bola de fogo foi se resfriando e deu origem a um cometa e ao nosso planeta. Somente milhares de milhões de anos depois floresciam as formas de vida que resultariam por sua vez em algumas civilizações, da qual a maior até o momento foi sem dúvida, a Civilização de Uórde." - Até aí tudo bem, mas em que idioma era a narração desse "filme"? - Eu já ia lhe contar esse detalhe. Estava em rofeganês. Gladion e C.M. já eram falantes dessa língua, embora esta tivesse algumas diferenças, pois era um rofeganês arcaico. Eu podia entender graças à tradução instantânea do anel, e o Dr. Rupert conhecia um pouco pelo que aprendeu com Gladion. Karontino, Camaleon e John tiveram que se contentar apenas com as imagens. Mas sabe que o resto do pessoal ali presente conseguia entender? Os líderes da Sociedade tinham domínio do idioma; lembre-se que Alphestés conseguiu se comunicar com Ventus Malus quando ele foi solto. Eles conversaram em rofeganês, o que aliás mostra que o povo afanésico falava essa mesma língua. Mas continuando com a história: "Os uordianos atingiram uma fase de esplendor máximo, por volta de alguns séculos atrás. E desenvolveram uma grande quantidade de tecnologias inovadoras. Propulsores de vôo, reorganizadores moleculares, Portais Teleportadores, e outras maravilhas. Mas tudo isso se mostrou inútil, pois faltava um gerador de energia ideal para essas invenções que pediam 59


quantidades enormes de força. Com isso as invenções foram abandonadas. Dois séculos se passaram até que um fato merecesse atenção dos uordianos: a constante caça aos Lagartos Errantes, uma espécie animal comum na ilha dominada por Uórde, estava ameaçando a existência dessa espécie, e um grupo de cidadãos se reuniu para pôr um basta na situação. Sob a liderança de Ênion Pontíarkes, houve uma série de manifestações, mas que não tiveram muito resultado. O líder do grupo resolveu então usar os projetos das velhas tecnologias, que havia comprado em um leilão, e utilizá-las em prol dos lagartos. Ele já havia observado que esses grandes animais, possuíam patas muito fortes, e as usavam para fazer escavações nas áreas onde moravam. Eles se alojavam em enormes buracos, e ali passavam muitas horas por dia. Ênion resolveu então, olhar no buraco de um lagarto que havia sido morto. Com equipamento adequado ele desceu e viu como eram as paredes do buraco. Ricas de um minério brilhante, o lugar era bem quente durante o dia e ele teve que sair logo de lá, mas voltou com alguns amigos à noite e extraíram amostras daquele minério, para serem analisadas com cuidado. Em seus laboratórios, descobriram que daquele minério podia se extrair um metal, com a propriedade de reter energia. Era o que eles precisavam para por em funcionamento aquelas invenções antigas e que lhes seriam muito úteis. Claro que a desconfiança do potencial de tal minério já existia mas ela nunca foi comprovada, pelo simples fato de que poucas pessoas conseguiam se aproximar das tocas dos lagartos. Ênion era um desses poucos que podiam se aproximar dos Errantes. Enfim deram início aos seus planos, e ativaram uma das invenções: o Portal de Teleporte, que foi ligado em potência máxima e levou Pontíarkes e mais três companheiros, todos dentro de uma nave (similar à N.T.E.) até um lugar extremamente distante. Eles haviam chegado à Terra, um planeta de outro sistema estelar, em nossa galáxia! Sem ter noção de onde estavam exatamente, os quatro aventureiros exploraram a região mas viram que ela era desabitada. Instalaram uma base e montaram um outro laboratório para desenvolverem seus planos. Com as muitas adaptações nos aparelhos que possuíam, adquiriram meios de conhecer melhor a situação. 60


A ilha em que se encontravam tinha uma grande massa do metal-bateria que eles usavam. Mas esse metal se encontrava a uma grande profundidade, onde sofria grande pressão, e que causava um efeito ímpar. As moléculas da ilha e tudo o que estivesse sobre ela, estavam vibrando em uma freqüência diferente do resto do planeta. Para quem observasse de fora, esta área não teria nada senão mar. A ilha ficava invisível para os estrangeiros. A descoberta deste fenômeno entusiasmou demais o grupo, que momentaneamente se esqueceu do objetivo principal. Só quando seus instrumentos mostraram aonde realmente estavam, foi que se deram conta. Mas quando prepararam tudo para o retorno, descobriram mais uma coisa. A nave, cuja fuselagem era toda feita do metal, estava descarregada. A viagem que empreenderam consumiu um valor imensurável de energia, e até que a nave se recarregasse novamente, para poderem voltar, levaria pelo menos uns dois anos. Diante da situação, não lhes restava outra opção, senão montarem acampamento ali mesmo. E como o grupo era formado por ecocientistas, havia o interesse de se conhecer mais sobre o planeta em que estavam. Assim eles se prepararam para fazer uma viagem de reconhecimento. Para assegurar o retorno à base, eles confeccionaram mais um aparelho, que tinha o formato de um medalhão, e que serviria para localizarem a ilha depois. Usando os pequenos propulsores de vôo, rumaram para a área habitada mais próxima. Um lugar conhecido como Grécia. Para se comunicarem com os nativos, eles usaram um outro recurso tecnológico: um sistema de tradução semiinstantâneo, que analisa em poucos minutos a estrutura gramatical de um idioma. Com isso, eles aprenderam a língua grega e se integraram à uma cidade chamada Olímpia. Mesmo sendo estrangeiros, muito diferentes até, pois os nativos tinham cinco dedos em cada mão e em cada pé, e seus olhos tinham a esclerótica branca, foi possível um breve período de convivência ali. Em alguns meses, eles já estavam bem adaptados, e apreciavam muito os costumes daquele povo, em especial um festival chamado Olimpíadas. Mas tiveram que retornar à ilha, que agora seria batizada. Eles queriam homenagear aquela 61


gente, e usaram palavras do idioma grego, para batizar não só a ilha como também alguns dos aparelhos que haviam construído. Criaram então o termo AFANÉSIA, que significa "Ilha invisível". {AFANÉS INVISÍVEL / NÉSOS ILHA}. Com eles, veio também um jovem grego para a ilha, e este lhes contou o que sabia sobre a Terra. Querendo conhecer outros povos terrestres, fizeram então uma viagem maior ainda, e trouxeram gente de vários cantos do planeta com a promessa de formarem uma nova civilização. Com uma comunidade bem populosa e heterogênea ocorreram alguns incidentes. Alguns quiseram voltar para sua terra de origem, mas isso não seria mais possível, porque os propulsores de vôo também se esgotaram, e um grupo irado, os destruiu de vez. Quando enfim a nave se carregou, eles temiam ter de esperar por mais dois anos, se tivessem que levar terrestres que queriam voltar para sua terra de origem. Por isso orientaram o amigo grego, chamado Teófanes para que ele ensinasse o idioma uordiano a todos, e com isso quem sabe procurassem um entendimento. Deram-lhe também o Medalhão Heuretés, único meio de se encontrar a ilha para quem estivesse no exterior. O fato foi que todos aprenderam o idioma, mas logo em seguida houve a dispersão das diferentes etnias pela ilha. E os alienígenas trataram de voltar para seu planeta. Ao chegarem a Uórde, descobrem a tragédia. Enquanto estiveram fora, a população empreendeu uma grande caçada, e o resultado foi imediato: a extinção da raça do Lagartos Errantes. Os companheiros de Pontíarkes, que haviam ficado, causaram grande tumulto e acabaram presos. Ao tentar soltá-los, seus outros amigos tiveram o mesmo fim. Todos foram julgados e condenados à prisão perpétua. Ênion, que havia guardado tudo o que havia recolhido, tanto as invenções quanto esta fita com suas aventuras em um cofre escondido no subterrâneo dos laboratórios da Cidadela Uordiana, tentou libertar os companheiros em uma operação mal planejada. Foi morto pela tropa de choque da Guarda Uordiana." ____FIM DA TRANSMISSÃO____

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12 - ERAM OS DEUSES...LETRAS ? Ilha Afanésia , século VI a.C. Uórde & Afanésia , século V a.C. O aparelho pára e todos na sala ficam pensativos. Acabáramos de conhecer a origem do povo afanésico. Alguns não gostaram do que viram, mas a maioria queria saber mais, então Gladion colocou a segunda fita. (Obs.: Eu converti as datas do cronoscópio para facilitar !)

"Foi por volta de ±750 a.C. que o povo terrestre conhecido por gregos fez a adaptação de uma invenção de um outro povo, conhecido por fenícios. Denominado alfabeto, foi considerado uma das maiores criações dos seres terrestres. O alfabeto teria uma importância maior ainda para o povo que habitava a ilha invisível. Durante o ano de 540 a.C. ocorreu uma revolta entre os habitantes das 24 vilas que lá existiam. Todos estavam dispostos a assumir o comando geral, por achar que seu povo fosse melhor que os demais. Por fim o vencedor não foi nenhum grupo étnico, mas sim o único que era miscigenado, e ainda por cima liderado por uma mulher, chamada Raufália. Com seu grupo vitorioso, ela acabou coroada como rainha de toda a Afanésia, e como primeiro ato, proibiu os casamentos entre pessoas de mesma etnia. A polêmica foi enorme, mas ela sabia que com a miscigenação, os motivos para separação entre os grupos diminuiria. Foi um grande problema, mas ela conseguiu fazer com que a lei fosse cumprida. Para dar o exemplo ela, que era grega, se casou com um representante de cada etnia, e teve um filho com cada um. Com o tempo o reino estava pacificado, e tudo transcorreu muito bem. Os anos porém se passaram, e a rainha veio a falecer. Nova polêmica se instalava; quem seria o novo governante? Todas as vilas já estavam bem misturadas, e não haviam grupos para lutar novamente pelo poder. Os vinte e quatro príncipes não sabiam quem teria o direito de ser 63


coroado, e a idéia que tiveram foi a que prevaleceu. Cada um governaria uma vila, e ali seria seu reino. Não mais existiria um governo central na ilha. Afanésia estava novamente dividida. A vida prosseguiu na ilha sem grandes alterações. Periodicamente os líderes das vilas se reuniam para decidir questões gerais, entre elas a elitização dos mestiços, que dominavam aqueles de sangue menos misturado. Uma vez resolveram organizar uma expedição ao exterior para saber o que acontecia no mundo. Para isso nomearam um chefe para a expedição, Rauatinaikos, e lhe entregaram o Medalhão Heuretés. Ele partiu com um pequeno grupo, e o destino foi a região mais próxima, a Grécia. Um ano depois, em 487 a.C., eles regressaram, e trouxeram uma família consigo. O líder da expedição disse que o pai daquela família se ofereceu para difundir o que ele julgava ser a maior invenção da humanidade: a escrita! Os líderes das cidades foram ver o que era isso, e o professor grego, que aprendera o idioma deles quando conheceu Rauatinaikos, disse que era um modo de se representar os sons, e contou-lhes toda a história do alfabeto. Embora os gregos considerassem os outros povos "bárbaros", por não saberem sua língua, esse professor mostrou-se muito interessado em ensinar-lhes. Conforme havia combinado com Rauatinaikos, ele e sua família receberiam uma casa e mantimentos, e no salão dessa casa funcionaria uma instituição chamada Didaskaleion. Era a primeira escola da ilha, e seu nome era justamente isso: escola, em grego.  Ele desenvolveu um método para despertar o interesse de toda a população. Teófrastos, esse era o nome do professor, apelidou cada líder com o nome de uma letra grega, e disse que cada um poderia usar como brasão, a sua letra correspondente. Contudo, essas letras não eram exatamente as mesmas usadas pelos gregos. Assim como eles adaptaram os símbolos criados pelos 64


fenícios para seu idioma, Teófrastos fez o mesmo para a ilha e criou o Alfabeto Greco-afanésico. As letras era parecidas em forma com o alfabeto grego clássico, com exceção de uma que foi criada especialmente pelo professor. Algumas outras diferiam no som que representavam, mas a maioria conservava as mesmas características do original grego." - Com certeza essa letra especial que ele criou, era o erre no formato que conhecemos, afinal o erre grego tem a forma de um 'P'. Estou certa ? - Não está não. O erre continuou do mesmo jeito, ou melhor a letra rhô. O que ele fez foi descartar a letra khi () e trocá-la por uma que representaria o som de jota, inexistente no grego. Ele batizou essa letra de jeta, e ela tem a forma de um gama invertido. - Tudo bem, mas qual forma de um gama ? - Veja essa tabela que eu montei, que você vai entender. Grego

Diferenças entre o alfabeto grego e o afanésico Afanésico

NOME Alfa Beta Gama Delta Épsilon Dzeta Eta

LETRAS       

SOM a b g d e (breve) dz e (longo)

Theta Iota Capa Lambda Mü Nü Csi Omicron Pi Rho Sigma

          

th i k l m n x (cs) o (breve) p rh s

NOME Alfa Beta Gama Delta Épsilon Zeta * Eta *

LETRAS       

Tcheta * Iota Kapa Lambda Mi Ni Chi * Omikron Pi Rhô * Sigma

          

SOM a b g d e (aberto) z ê (fechado) tch i k l m n x (ch) o (aberto) p r s

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Tau Üpsilon Fi Khi Psi Omega

     

t ü (francês) ph kh ps o (longo)

Tau Úpsilon * Fi * Jeta * Vi * Ômega *

    

t u f j v ô (fechado)

- Pelo visto há coisas interessantes nessa maleta. O que mais tem aí ? - Vamos com calma, só vou mostrar o que eu achar conveniente. Muita coisa aqui pode lhe parecer absurda, e como você não vai mesmo acreditar, não preciso mostrar. Posso continuar com a narração do Cronoscópio? - Pois não!

"Os afanésicos estavam muito empolgados com a novidade. O líderes não só criaram brasões, como passaram a se chamar pelos nomes das letras. O líder representado pela letra jeta, até rebatizou sua vila com esse mesmo nome. Foi o bastante para que todos os demais o imitassem. Assim cada vila ganhou um nome de letra: Vila Alfa, Vila Beta, Vila Ômega, etc. O Didaskaleion vivia lotado. Até o esporte preferido do povo, a luta afanésica ficou em segundo plano. Todos queriam aprender a ler e escrever. O professor Teófrastos ficou sobrecarregado, e passou a precisar da ajuda de seu filho, o jovem Teócrito. Teócrito era um profundo conhecedor da Mitologia Grega, e também um tremendo aproveitador. Em um encontro com os 24 líderes, ele mostrou um plano para se obter maior domínio sobre o povo, e conseguir explorá-los ainda mais. Sua idéia era criar uma religião oficial em toda ilha, e substituí-la pelos diversos cultos pagãos que existiam, fruto do sincretismo dos povos que primeiro habitaram Afanésia. Obviamente ele queria ganhar algo com isso e sugeriu aos líderes um cargo para ele; o de 66


sacerdote Supremo dessa religião, que ele batizaria de GRAMATISMO. Seu pai já estava muito doente, e as aulas eram administradas apenas por Teócrito. Então ele se aproveitou para divulgar a Lenda Mitológica que havia criado, para poder espalhar sua nova religião. Ele começou a contar alguns trechos da TEOGONIA, um poema escrito por volta do século VIII pelo poeta grego Hesíodo, e que contava a criação do Universo e a origem dos deuses segundo os gregos. Depois acrescentou a sua parte na história. Segundo ele a genealogia divina possuía um ramo a mais, desconhecido pelos gregos. Esse ramo era o dos deuses responsáveis pela Ilha Afanésia. Zeus, o principal deus olímpico havia tido nove filhas com Mnemósine, a deusa da memória. Elas eram conhecidas como as Musas, e eram responsáveis pela inspiração das artes e das ciências. Seus nomes eram: Urânia (astronomia), Talia (comédia), Polímnia (retórica), Euterpe (música e poesia lírica), Clio (história), Érato (poesia de amor), Terpsícore (dança), Melpômene (tragédia) e Calíope (eloqüência e poesia épica). Até então, nada demais. Era assim que se conhecia este trecho da Mitologia. Mas de acordo com Teócrito, Calíope teria sido invocada por um poeta grego que vivia em Afanésia. Sua intenção era escrever uma epopéia sobre os povos desta ilha. Aconteceu porém, que Calíope teria se apaixonado por este poeta, e resolveu viver algum tempo na ilha com ele. O resultado foi que ela engravidou e teve um total de vinte e quatro filhos. Como ela precisava retornar ao Olímpo, e não poderia mostrar seus filhos aos outros deuses, principalmente o pai, Zeus, ela os deixou aos cuidados da então rainha e mantenedora da unidade da ilha, a guerreira Raufália. Quando Raufália morreu, os filhos de Calíope, assumiram cada um, uma vila, e deram origem a uma 67


descendência de líderes. Portanto cada líder de vila atualmente, é herdeiro do poder olímpico. Afinal os primeiros eram filhos de Calíope e netos de Zeus. Seriam portanto deuses, e eram conhecidos através de cada letra do alfabeto greco-afanésico. Após tantos anos, os deuses queriam que seus protegidos lhes rendessem um culto, e ele Teócrito havia sido escolhido para ser o condutor deste culto aos "theogrammas" , os deuses-letras. E assim aconteceu. A nova religião se espalhou, e todos faziam parte dela. O velho Teófrastos acabou morrendo, e seu filho Teócrito foi nomeado Gramático Supremo. A escola foi ampliada e tornou-se um santuário esplendoroso, graças às contribuições do povo, que dava vários tipos de oferendas aos representantes dos deuses na Terra. _ _ "

Mudando o foco de nossa narração, verifiquemos a situação em Uórde. Várias décadas se passaram, e encontramos um descendente de Ênion Pontíarkes trabalhando na mesma Guarda Uordiana que o havia assassinado. Ele era capitão e um dos melhores guerreiros da Guarda, além de excelente cientista. Sua missão atual era confeccionar uma arma mais eficiente para seus superiores. ÉRRION PONTÍARKES, vivia para o seu trabalho. A única coisa mais importante para ele, era sua filha, a jovem ERRIANA. Passeando com ela, ele avistou um parente que não via há muito tempo e foi falar com ele. Esse seu tio seu mostrou muito decepcionado ao ver que ele era um guardião. Érrion não sabia o porque disso e seu tio pediu que o levasse para os laboratórios da Cidadela. Ao chegarem lá ele pediu para abrir a porta que levava aos subterrâneos. Lá embaixo havia uma espécie de sarcófago vazio. Era chamada de Câmara de

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Suspenão da Vida. Era mais uma invenção que necessitava de fonte de energia ideal. O velhinho tentou então abrir um alçapão, mas não conseguiu. Érrion abriu para ele e viu a porta de um cofre. - Mas o que é isso? Esse cofre sempre esteve aqui? Como é que ninguém da Guarda sabia disto? - Esse cofre foi posto aí por seu antepassado Ênion. Aí dentro há um monte de objetos interessantes, e que você precisa conhecer. Tome a combinação, e por favor não me decepcione de novo! Ele disse isso e foi embora, deixando Érrion e sua filha parados diante do cofre. - Abre logo pai, deve ter algum tesouro aí dentro! A menina estava curiosa, mas seu pai era cauteloso. - Eu vou abrir sim, mas não aqui. Vou levar para meu laboratório, e enquanto isso, você vai para casa. No laboratório ele colocou a caixa atrás de uma parede de chumbo, e abriu com braços mecânicos. Quando viu o que tinha lá dentro saiu de trás da proteção e foi ver de perto. Vários papéis com projetos de antigas invenções e a primeira fita do Cronoscópio. Érrion a pôs no aparelho e assistiu toda a história de Ênion. Depois pegou os projetos e começou a montar novas máquinas. Algum tempo depois estava tudo pronto. O propulsor de vôo, o recombinador molecular, o campo de força, o sistema de manutenção de vida, e o ativador do Portal de Teleporte. Vários aparelhos de poder incrível, esperando apenas por uma bateria ideal. Depois disso ele trancou o laboratório e saiu. Ia procurar a fonte de energia nos campos desertos da ilha. Com material de escavação abriu a parede de uma velha mina abandonada. Descendo até o fundo ele viu aquele metal amarelo, reluzindo como ouro. Um pequeno respiro podia ser visto, e ia até a superfície servindo para, de dia, iluminar o local com a luz do sol e manter o metal

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continuamente carregado. Extraiu alguns quilos e levou consigo. Passou a noite toda trabalhando em seu projeto, e acabou sendo acordado de manhã pela filha, que fora ao laboratório. Com o metal espalhado pela mesa, ela viu um monte de coisas esculpidas, e pediu para seu pai lhe fizesse um anel com aquele metal amarelo que era tão bonito. Ele prometeu que faria mais tarde. Agora ele tinha que se apresentar ao General Antirres e entregar o relatório semanal de suas pesquisas. Esse general era o responsável pela divisão tecnológica da guarda e queria muito uma arma nova para acrescentar ao arsenal, mesmo com seu país estando em época de paz. Até então Érrion obedecia sem contestar nada, mas depois que viu a fita, estava começando a questionar as atitudes que tomava. Depois voltou ao laboratório e continuou a trabalhar. Sua idéia era reunir aqueles aparelhos em uma coisa só. Assim ele montou uma armadura com o metal e embutiu nela os equipamentos. Por dentro havia uma camada de tecido para deixar a armadura mais confortável. Vieram os testes, feitos em uma área muito distante da Cidadela. Os resultados foram mais do que excelentes. O poder de fogo era capaz de dizimar exércitos. Era muito poder para uma única pessoa. Ele voltou e pensou em como poderia diminuir aquilo, e também tornar a armadura mais discreta. Mais uma vez Erriana entrava no laboratório, e perguntava se o pai já havia feito o anel. Ele olha para ela bravo, mas de repente tem uma idéia, e vê um grande aparelho no canto da sala: uma máquina miniaturizadora. Era disso que ele precisava. - Vou fazer seu anel agora mesmo filha, mas irei demorar. Volte amanhã. - Mas pai, eu só quero um anelzinho. Você tem tantos equipamentos. Não precisa de um dia interio para fazer algo tão simples! 70


- Eu sei, mas é que eu vou caprichar nesse anel. Acho que vou até fazer um para mim! Vá para casa, e me deixe trabalhar agora. Mais um dia de trabalho se passou, e Érrion não saiu do laboratório. Quando Erriana voltou no dia seguinte viu seu pai dormindo sobre a mesa, e dois anéis ao lado dele. Enfim ele desperta, e vê a menina com um dos anéis no dedo. - Aí está o que me pediu. Mas devo avisá-la para que tenha muito cuidado com ele. Só existe outro igual a ele, e é o meu. Resolvi usar um porque coloquei nele o símbolo que nosso antepassado usou. Ele representa um animal que existiu em Uórde, e esse nosso parente morreu tentando defender a espécie desse animal e os seus amigos. Quando voltou a se encontrar com o general Antirres, disse que o projeto não tinha como ser concluído. Seu superior se irritou e batendo na mesa exigia alguma arma até o fim do prazo que era dentro de quatro dias. Érrion tentou argumentar que suas tentativas não deram resultado, mas isso só deixou o homem mais furioso. Érrion se retirou, mas sabia que estava enrascado. Principalmente se o general descobrisse que ele conclui o projeto e ocultou dele. Mas o destino agiu desta vez . Enquanto mexia em seu monitor de comunicações, Érrion acabou captando uma conversa entre Antirres e algum estrangeiro. O general estava vendendo armas para fora, e entre as que ele havia negociado estava o projeto de Érrion. Imediatamente ele foi até a sala do general, e exigiu que ele se entregasse ao comando superior. Mas o general era muito astuto, e já havia notado que sua mensagem tinha sido interceptada por Pontíarkes, e tratou de capturar Erriana e prendê-la para ter uma garantia. E ainda exigiu a tal arma, que ele sabia que

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estava pronta pois tinha como monitorar os computadores do laboratório. Temendo pelo pior, Érrion mostrou o anel em seu dedo, e disse que aquela era a arma. Achando que estava sendo gozado, Antirres mandou prenderem Érrion, que não falou mais nada para proteger a filha. Mais tarde o general foi à prisão para pressionar Érrion. Ele disse que a menina estava presa naquela velha Câmara de Suspensão de vida, nos subterrâneos e que se ele demorasse muito para contar sobre a arma, a fraca bateria iria se esgotar e ela morreria. E o único que sabia como abrir a câmara era ele. Érrion se levantou, fechou a mão direita, levantou o dedo com o anel, apertou os dois botões que tem o anel, e disse: DÝNAMIS ÉRRION ! Seu uniforme da guarda, que era todo negro, ficou azul, uma capa apareceu em suas costas, luvas e botas ficaram cinzas, e uma máscara se pôs sobre os olhos. Em seu peito estava o símbolo criado por Ênion. O símbolo do Lagarto Errante. Em seguida ele pronunciou algumas palavras no idioma grego, e seu anel disparou um raio na parede. Formou-se um grande círculo de luz e Érrion Pontíarkes entrou nele para sumir logo em seguida. O general Antirres ficou transtornado, chamou seus homens e foi correndo para os subterrâneos. Muito antes deles chegarem, Érrion já estava lá. Ele verificou que Antirres havia dito a verdade; se ele tentasse soltá-la, ela acabaria morrendo. Sua idéia era garantir o funcionamento da máquina permanentemente, para depois poder retirá-la. Com isso ele começou a furar a parede do lado com um raio que saía de seu anel. Escavou um túnel até a mina do metal energético, e depois montou um grande cabo ligando a matriz do metal até a bateria da máquina, e ocultou tudo depois. Logo em seguida ele saiu.

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Quando o pessoal de Antirres chegou, conferiu a sala toda e não acharam sinais da passagem de Pontíarkes. Saíram e foram para o laboratório. Lá encontraram Érrion guardando suas invenções em uma grande caixa. Um dos soldados o ataca por trás e ele é seguro por mais cinco. Antirres os instruiu para segurarem a mão dele e assim imobilizá-lo. Ele é levado para fora, enquanto os soldados mexem no laboratório. Antirres vê uma câmara de contenção de radiatividade, e vai mexer nela com os braços mecânicos. Segundo os aparelhos trata-se de um isótopo instável do metal descoberto por Érrion. Achando que se trata de algo mais poderoso que o anel, ele resolve testá-lo no capitão da guarda. Érrion sabe que aquilo é muito mais perigoso mesmo, e se livrando de seus captores, abre um portal sob a caixa com suas invenções, mandando-a para o mais longe possível. Se mais alguma coisa caísse nas mãos de Antirres, seria desastre certo. Mas isso não foi preciso. O general pegou um grande fragmento do isótopo com uma grua e o jogou na direção de Pontíarkes. Por reflexo este disparou um raio contra o isótopo, e sabendo da conseqüência do choque entre os dois, abriu um portal imediatamente, teleportando-se para bem longe. Quando retornou, só encontrou uma enorme cratera, no lugar da Cidadela.

13 - O GRAMMAGON Ilha Afanésia, 470 a.C. A fita chegara ao fim, e eu estava pasmo. Finalmente tinha visto a origem do anel, quem o criou, o motivo. E todos os demais na sala ficaram olhando para a minha mão. Sabiam que ali estava um objeto de poder. Gladion notou isso, e quebrou a tensão ao colocar a terceira fita.

"Érrion estava diante do túmulo de todos aqueles que conhecia. A cratera ainda estava fumegante, mas 73


era impossível encontrar alguém vivo ali. Toda a cidadela desapareceu em poucos instantes. Érrion acredita que a explosão de seu laboratório iniciou uma reação em cadeia entre o isótopo radiativo e o metal energético que estavam guardados separadamente e se chocaram com a pulverização da sala. Desesperado, pois até sua filha havia sumido, resolveu ir para o mais longe possível. Ele abriu o portal ciente de que não poderia voltar tão cedo. Vagando por diferentes mundos viveu as mais variadas aventuras por anos, até que depois chegou ao lugar visitado por seu ancestral, a Ilha Afanésia do planeta Terra. Sua chegada foi marcada por um enorme clarão, e os afanésicos que estavam por perto correram para ver do que se tratava. Érrion olha para as pessoas ao seu redor e pensa em sair voando, mas isso só causaria mais tumulto. Um senhor de idade diz que ele é o enviado do Deus Rhô para representá-los no "Torneio das Sagradas Letras". A multidão o conduz para o palácio e o apresenta ao líder da vila que estava na cama todo enfaixado (Ele havia caído da sacada do 3º andar, mas estava bem, pois caíra para o lado de dentro!). O velhinho diz todo contente, que ele veio dos céus para lutar por eles. Confuso, o uordiano pergunta o que está acontecendo, e o líder estranha o fato de um enviado de Rhô não saber o que se passa. Mesmo assim ele lhe conta. - O fato é que Afanésia tem tido muitos conflitos por conta da existência de reinos separados. Na última reunião dos líderes, ficou combinado que voltaríamos a ser uma nação só. Obviamente todos queriam ser o líder máximo, e houve muita discórdia. O Gramático Supremo ainda sugeriu que ele exercesse o cargo. Mas a proposta foi recusada. - E vocês resolveram lutar entre si para saber quem vai ser o maioral?

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-Concordamos que isso deveria ser resolvido pelo Theogramma mais poderoso. Um torneio é o modo de se demonstrar isso. O representante de sua vila e letra vai ser o indicador desse poder, e o melhor terá sua vila elevada à condição de capital do reino, e seu líder será o novo rei. - Entendo. Mas acontece que o Deus Rhô não me avisou de nada, por isso acho melhor eu voltar e conversar com ele. - Espere. Nós gostaríamos de saber o nome do lugar onde o deus Rhô vive! Érrion queria ir embora, mas o povo estava tratando-o com muita reverência. Ele parou e disse que daria a resposta em breve. Depois pediu um lugar para descansar. Arranjaram-lhe um quarto bem confortável e o deixaram só. Ele ficou pensando se deveria tomar parte do torneio; se deveria viver ali, ou se iria embora e conheceria o resto do planeta. Em dúvida sobre o que fazer, resolve bolar um nome para responder à pergunta do líder. Ele havia aprendido um pouco de grego com as anotações de Ênion e inventou uma palavra. Juntaria a palavra resplendor com o nome do deus letra. Mas ele o fez de maneira confusa. Resplendor em grego se escreve , (féggos), mas no grego, quando a letra gama aparece na frente de uma outra letra gama, ela passa a ter som nasal. Então o correto é féngos. Érrion não sabia disso, e simplesmente eliminou o segundo gama. Depois mudou a terminação da palavra. (rhô + feg + a) Dessa operação surgiu o nome RÔFEGA. Ele gostou do som da palavra e foi isso que ele disse ao pessoal. Ele havia chegado de Rôfega, o resplendor de Rhô! A multidão vibrou, e ele aproveitou o embalo para sair voando pela janela. O pessoal então foi ao delírio. Todos menos o líder, que parecia muito desconfiado da procedência desse enviado celeste. 75


Enquanto voava, Érrion pensou no que havia feito, mas achou que não teria nenhuma conseqüência no futuro. Chegou até a criar um nome para o metal energético, e o batizou de rofegnum, o metal de Rôfega ! Querendo conhecer mais o planeta ele foi para o continente europeu. Mas na direção contrária da de costume. Assim ele voou até a península itálica e pousou na maior cidade que avistou, Roma. A sede de uma república que seria a maior potência do Mar Mediterrâneo. Mesmo com suas roupas destoando das demais pessoas, ele foi andar entre o povo e ativou o tradutor automático. Viu que as pessoas comentavam sobre as revoltas sociais que vinham ocorrendo. O povo estava muito temeroso, e ele concluiu que este planeta não era muito diferente do seu. Achou melhor voltar e tentar fazer alguma coisa pelo povo de Afanésia, que era o único receptível a ele. Antes de sair porém, notou a inscrição em uma parede. Pediu a um transeunte que lhe dissesse o que estava escrito ali. - SPQR, Senatus Populasque Romanus. Era o Senado romano. O que lhe chamou a atenção porém, foi a última letra da sigla. Ele sabia que ali se usava um outro alfabeto, mas essa letra era muito parecida com o símbolo que havia no anel. Ele voltou para Afanésia e relembrou da confecção de sua arma. Ele queria homenagear seu antepassado usando o símbolo dele, mas o fez de forma simplificada. Esse símbolo era um desenho do Lagarto Errante, e do modo como Érrion o refez, ficou parecendo com uma letra erre. Lembrou-se também que seus poderes vinham das invenções de Ênion, e que para acomodá-las em um simples anel, ele as miniaturizou e juntou com um microcomputador que se ativava com um comando de voz. A frase "Dýnamis Érrion" era o código de ativação, e 76


significa "Força (de) Érrion", e que tudo isso estava acoplado no interior do anel, que por ser feito de rofegnum, se recarregava automaticamente com a luz do sol. A única coisa original foi a roupa que surgia através do recombinador molecular, e foi desenhada por ele mesmo. Por falar nisso, suas outras invenções deviam estar por perto, pois o portal estava programado em direção à ilha. Ele sai e meia hora depois volta com a enorme caixa de aparelhos. Por fim, foi falar com o líder da Vila Rhô, e contou que tinha um recado do deus deles. O símbolo usado para representá-lo estava errado. A correção precisa ser feita logo, antes que o Deus Rhô se irritasse. Todos acharam isso um absurdo, e ele demonstrou algo a eles. Erguendo seu braço ele disse duas palavras em latim. (Ele acabara de acrescentar mais algumas coisas ao anel) - Signum Érrion! De seu anel sai um forte facho de luz que ilumina a sala e projeta um grande erre dourado no teto. Todos se ajoelham e contemplam o seu resplendor ! Quando o líder comunica o ocorrido ao Gramático Supremo este fica furioso e vai imediatamente para lá. Quando vê a figura de Érrion Pontíarkes fica temeroso. Seria mesmo um enviado dos deuses; e esses deuses por acaso existiriam? Diz-lhe então que é preciso passar por uma seleção para representar a Vila de Rhô, pois não era um dos líderes. Érrion faz que sim com a cabeça. Os três melhores lutadores da vila são chamados e vão para a arena. Érrion chega e vê o campo de luta. Um pequeno retângulo, com uma linha no meio, e em cada lado menor uma trave de madeira roliça com uma rede fechando-a por trás. - O que são aquelas coisas nas laterais? O que vai se lutar nesse torneio?

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- Vá até lá que os lutadores lhe ensinarão a arte da Luta Afanésica. Os três olham para a figura de capa que coloca o anel no bolso, e acham graça, mas lhe dizem o que fazer. O objetivo da luta é arremessar o adversário na sua rede. Quando isso ocorre é marcado um ponto, e quem fizer o número de pontos estipulado antes é o vencedor. Em caso de infração, o infrator se posiciona à frente de sua rede e aguarda o adversário, que vem correndo do outro lado para empurrá-lo. Só não valem golpes baixos, e matar o oponente. - Vocês querem que seu rei seja escolhido assim? Que modo estranho! - Acontece que este é o esporte preferido dos afanésicos. Érrion começa a tal luta, e em um minuto é arremessado para dentro da rede. Ele se levanta, e o oponente avisa que esta é uma luta de apenas dois pontos. Do centro da arena ele toma impulso e dá uma voadora bem no peito do adversário. É ponto. A decisão do último ponto é mais demorada, mas Érrion consegue suspender o outro e o joga, nas redes. Resultado final: 2X1. Os outros adversários são mais fáceis, e perdem por 2X0. Érrion está aprovado para lutar no Grammagon. Esse nome aliás, também é de origem grega. Gramma quer dizer letra e Agon torneio. Vai portanto, começar o Torneio das Letras. Para cabeças-de-chave, foram escolhidas as letras que compõe a palavra RAUFáLIa, a primeira rainha da ilha. Os demais foram divididos pelo critério de importância de suas vilas. Com o sorteio; as chaves e as lutas foram as seguintes:

GRAMMAGON 470 a.C. Fase Classificatória: GRUPO I ALFA 2X0 CHI SIGMA 2X1 TAU

GRUPO II FI 2X1 JETA GAMA 2X0 DELTA

GRUPO III IOTA 2X0 TCHETA BETA 2X0 NI

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ALFA 2X0 TAU SIGMA 2X0 CHI TAU 2X0 CHI ALFA 2X0 SIGMA

FI 2X1 DELTA GAMA 2X1 JETA DELTA 0X2 JETA FI 2X0 GAMA

GRUPO IV RHÔ 2X0 ETA

GRUPO V LAMBDA 2X0 OMIKRON MI 2X0 ZETA LAMBDA 2X1 ZETA MI 2X1 OMIKRON ZETA 2X1 OMIKRON LAMBDA 2X1 MI

ÔMEGA 2X0 PI RHÔ 2X1 PI ÔMEGA 2X0 ETA PI 2X1 ETA RHÔ 2X0 ÔMEGA

IOTA 2X1 NI BETA 2X0 TCHETA NI 2X0 TCHETA IOTA 2X0 BETA GRUPO VI ÚPSILON 2X1

PSI

ÉPSILON 2X1 KAPA ÚPSILON 2X0 KAPA ÉPSILON 2X1 PSI KAPA 0X2 PSI ÚPSILON 1X2 ÉPSILON

Os Classificados: Grupo I : 1º- Alfa 2º- Sigma 3º- Tau   Grupo II : 1º-Fi 2º- Gama 3º- Jeta Grupo III : 1º- Beta  2º- Iota 3º- Ni   Grupo IV : 1º- Rhô R; 2º- Ômega  Grupo V : 1º- Lambda 2º- Mi   Grupo VI : 1º- Épsilon 2º- Úpsilon 3º- Psi  Os Eliminados : Pi , Zeta , Omikron , Kapa , Delta , Eta  , Tcheta , Chi . A Fase Eliminatória teve os seguintes resultados:

Com esses resultados, o representante de Rhô é 79


declarado o grande campeão. A Vila Rhô passa a ser capital do Reino de Afanésia e seu líder, o novo rei. O povo de Rhô comemorou muito, e o líder se mostrava satisfeito com seu representante, que saiu invicto da competição. Mas quando ia receber o cetro de rei afanésico do Gramático Superior, foi puxado por Érrion. Este diz que o campeão foi ele e que é ele quem deve ser o novo rei. O líder fica histérico,pois não admite perder a oportunidade de ser o rei, mas Érrion mostra que não veio para brincadeira. Ele recoloca o anel e o ativa, para sair voando e lá do alto fazer seu discurso. Segundo ele, seu governo era o único que poderia ser justo, pois ele representava não só o líder de rhô, mas seu povo e o de toda Afanésia. Só o fato dele ter sobrevoado a arena de Alfa, onde se realizou a final, foi suficiente para deixar todo mundo pasmado. E ele fez maior demonstração de poder ao esculpir em uma rocha, o seu símbolo, uma enorme letra erre, em granito. Depois voou para o interior da ilha carregando a escultura. Foi até um lago e a deixou lá, para depois voltar. - Construiremos uma nova capital, no interior da província de Rhô. Ela será eqüidistante das demais vilas, pois ficará bem no centro da ilha. Todos terão facilidade para chegar até lá. Instalarei a sede do poder e irei transferir o Didaskaleion para lá. Em seguida fundaremos uma escola em cada vila, e todos terão que aprender a ler e a escrever, independente da contribuição que derem aos templos. Ao terem conhecimento de pelo menos, esses dois itens, vocês já estarão agradando aos deuses. E eu não quero o título de rei; quero que chamem o seu governante pelo nome de... Érrion pensou um pouco e tirou as palavras do latim. Ele seria chamado por uma palavra que indica situação acima da dos demais, juntamente com a sua patente na Guarda Uordiana. Ele seria o “SUPER CAPITÃO de RHÔ.” 80


___FIM DA TRANSMISSÃO ___

14 - A HISTÓRIA AFANÉSICO-ROFEGANA Afanésia , os 5 Séculos a.C. Planeta Rôfega , os 2 últimos Milênios Ainda havia mais alguma coisa na fita, mas Gladion deu uma pausa. Estava todo mundo agitado. Eram revelações demais para um só dia. O pessoal resolveu sair e retomar a exposição em uma hora. Eu olhei para o Caixinha e depois para minha mão. Nela estava um artefato de quase 2500 anos e eu temia pelo que eles pretenderiam fazer, diante do que estavam descobrindo. Meus outros amigos se aproximaram e John disse que eles iriam bolar alguma coisa para ficar com o anel. Eu ficava cada vez mais com medo. Enquanto isso Karontino e Camaleon ficavam perguntando ao pessoal da Sociedade do Ressurgimento, o que havia acontecido de mais importante, pois eles não haviam entendido. Gladion botou a fita de volta, e a história continuou.

"O Super Capitão Érrion começou a erguer suas obras. Durante a construção de seu palácio ele construiu um novo laboratório no subterrâneo, e como fechadura, ele usaria o próprio anel. Depois abriu uma nova mina, pois sabia que o subsolo da ilha era rico em rofegnum; sendo o acesso a essa mina bem restrito. Depois usou o Portal de Teleporte e transportou o Didaskaleion para perto de seu palácio. Algumas casas foram erguidas ao redor e ele batizou sua cidade de ERRIONÓPOLIS. Com apenas uma semana, ele teve que enfrentar um grande grupo de revoltosos descontentes com a situação. Eram os líderes de Alfa e Ômega que marcharam com seus exércitos para derrubar o Super Capitão. Contudo Érrion teve o apoio das vilas de Jeta e Psi , e conseguiu dar um fim rápido ao problema. Essa revolta foi chamada de "A Revolta de Alfa e Ômega", e foi a única. Outros líderes pensaram em fazer o mesmo, mas temiam o poder de Pontíarkes. 81


Seu governo seguiu então sem maiores problemas por 67 anos, quando então Érrion resolveu passar o cetro adiante. Ele já estava com 107 anos de idade e escolheu o neto do último líder de Rhô como seu sucessor. Ele havia se casado com a líder de Psi, que aliás foi sua adversária no Grammagon, mas eles não tiveram filhos. Mais vinte anos se passaram até que o herói veio a falecer. Foi erguido um mausoléu em Errionópolis, e ele e sua esposa foram enterrados lá. Uma grande estátua do herói foi erguida e Érrion recebeu todas as homenagens a que tinha direito. Daí em diante os novos Super Capitães foram se sucedendo. Além do cetro, era passado também o anel, e isso acontecia antes da morte do antecessor, para que este pudesse ensinar o próximo, a usar o Dýnamis Érrion com sabedoria. O segundo Super Capitão de Rhô governou por quarenta anos, e foi sucedido por seu filho. Assim foi, até que tomou posse o 13º Super Capitão no ano de 187 a.C.. Ele era o mais despótico dos que já governaram Afanésia. Vivia fazendo o que bem entendia, e para piorar descobriu o que havia no interior do velho vulcão, nas terras de Ômega. Sobrevoando a cratera do vulcão Pirobólon, ele viu um brilho vermelho. Desceu e foi bem no fundo. Lá dentro podia se ver encravado na rocha um minério brilhante vermelho. Ele ainda tocou, mas começou a passar mal e saiu logo. No dia seguinte foi lá com um grupo e mandou que retirassem amostras do minério. No laboratório de Érrion, descobriu que se tratava do isótopo radiativo do rofegnum, e que o 1º Super Capitão havia deixado um nome para aquilo em seus registros: antirrium. Pensando em fazer um anel mais poderoso com aquele isótopo, ele começou a trabalhar com o Antirrium. Como não era habilidoso com os equipamentos, sofreu 82


exposição direta à radiação, e estando com o anel ligado, os efeitos eram ainda piores. Já estava muito doente quando caiu por cima do computador. Acabou apagando o programa com os projetos do Dýnamis Érrion. Seu filho o encontrou e o tirou de lá. Achou por bem pegar o anel e manejando com perícia o braço mecânico colocou o antirrium em uma caixa de chumbo, para depois jogá-la de volta no Pirobólon. Quando voltou seu pai já tinha morrido e ele foi efetivado como o 14º S.C.. Seu primeiro ato foi criar a Zona Proibida ao redor do vulcão. Ninguém deveria ir até lá. No ano 136 a.C., o 16º S.C. de Rhô estabeleceu um sistema monetário, criando a moeda nacional, o Rulfir (R ). No ano 8 a.C. tomava posse o 22º Super Capitão. Ele era muito interessado na história do 1º S.C., e foi o que mais fez uso do Portal de Teleporte. Fazia muitas viagens, ficando ausente por vários meses. Mas seu objetivo era chegar à Rôfega. Ele esteve em vários planetas, mas todos desabitados. Até que um dia alcançou seu objetivo. Desceu na ilha de Uórde, e viu a grande cratera, já coberta pela vegetação, e sem sinais de civilização. Só se deu conta de que estava em Rôfega, o resplendor de Rhô, quando viu um grande erre de pedra perto da cratera. Lá havia uma inscrição: "Em memória de Erriana e de todo o povo uordiano. ÉRRION PONTÍARKES" Uma escultura de seu ídolo em um lugar tão desolado, só poderia ser uma referência. Ele continuou voando um pouco, quando viu umas criaturas enormes. Eram como furacões, mas tinham braços e olhos, e estavam conversando. Ele se aproximou e viu que falavam sua língua. Então se apresentou a eles e foi bem recebido pelos dois furacões. Eles mostraram interesse nele pois eram pesquisadores de uma terra muito distante e chegaram nesta ilha para conhecer seus

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habitantes, mas não tinham visto ninguém até aquele momento. O Super Capitão achou isso estranho, e pediu informações sobre o lugar. Os furacões disseram o que sabiam. Que aquele era um pequeno planeta formado por diferentes países, com diferentes tipos de seres, que viviam isolados um dos outros. E o intuito dos furacões era estabelecer uma espécie de governo central, que reunisse todas as espécies do planeta. E que também dessem um nome definitivo, pois cada um chamava o mundo pelo nome de seu país. - Mas este planeta tem um nome. Ele se chama Rôfega ! - E o que quer dizer Rôfega ? - Eu não sei, mas gostei. Soa bem e foi proposta de alguém neutro. Assim os outros países não poderão reclamar de que o nome foi imposto por uma nação rival! O segundo furacão apoia a idéia do terrestre, mas o outro lembra que há mais alguém para votar, e que ele acaba de chegar. É Ventolf Ventucci, o terceiro furacão do grupo. Ele fica sabendo quem é o estranho, e se interessa pelo que ele tem na mão. Os dois ficam conversando, e Ventolf sugere que ele os leve ao seu planeta para conhecê-lo. O Super Capitão concorda mas antes quer conhecer todo o planeta Rôfega. Como os quatro podem voar, fazem uma grande viagem ao redor do mundo. Meses depois voltam à Uórde. Além de conhecerem todos os países, espalharam a idéia do governo central, e ficaram de voltar para saberem as respostas. Quando se deu conta do tempo que passara fora, o Super Capitão disse que voltaria para levá-los. Mas que agora ele precisava voltar com a maior urgência, e se os levasse poderia se atrasar. Ventolf não gostou, mas os outros dois o liberaram e ele foi. Chegou a Afanésia e não foi bem recebido. Ninguém entendia essas viagens longas, pois 84


ele deixava o governo nas mãos do Gramático Supremo. Ninguém confiava mais nele e sua situação era crítica. Em Rôfega, os três furacões fazem uma descoberta: uma mina. Mas não de rofegnum, e sim de antirrium. Eles entram lá e percebem que o minério é nocivo. Ventolf se interessa pois acha que aquilo pode significar poder. Usando aparelhos velhos e ultrapassados, ele descobre um meio de controlar a radiatividade do isótopo. Com uma substância negra e viscosa que tem no interior da mina, e serve como isolante, ele cria uma peça capaz de conduzir a energia. Como seu corpo é 90% gasoso, ele precisa colocar esse aparelho onde for sólido. Suas garras seriam uma opção, mas ele prefere confeccionar um par de óculos que lhe dão um aspecto sinistro, para ser sua fonte de energia. Os óculos se adaptam bem ao seu enorme nariz, e assim foi feito. Para retirar o antirrium, ele prefere usar seus companheiros e os convence a pegar um pouco, só para fazer análises. Eles colocam uma capa achando que isso os protegeria, mas quando saem de lá, começam a se sentir mal. Ventolf usa o material adequado e transfere o material para dentro dos óculos. Quando os coloca, começa a brilhar com o poder. O antirrium não está lhe afeta, e ele pode emitir e dominar suas energias. Ele era agora uma arma viva ! Para não ter testemunhas, Ventolf joga os outros dentro da mina e os larga por lá. Sua idéia agora é esperar pelo Super Capitão e pegar seu anel. Ele sabe que o anel é mais poderoso, e com ele poderá prosseguir o ideal de seus amigos; criar um governo central, tendo ele como o Imperador do recém batizado, planeta Rôfega ! Alguns meses depois o Super Capitão volta, e pergunta pelos demais mas Ventolf diz que eles desistiram do projeto. Depois o lembra de sua promessa e o terrestre concorda em levá-lo. Mas não sabe se é 85


seguro levar alguém pelo Portal estando desprotegido. O furacão diz para ele não se preocupar, e que devem ir logo. Eles vão mas durante a viagem, Ventolf começa a ter espasmos, e se contrai todo. Quando chegam, ele está desmaiado. O Super Capitão chama os médicos e ele é levado para o palácio, embora ninguém saiba como tratar dele. Muito preocupado, o líder dos afanésicos o leva para o laboratório, mas não encontra nenhuma solução, e o deixa por lá. Quando desperta, o furacão está sozinho. Sentindo-se ainda mais poderoso, ele usa o laboratório para aperfeiçoar seus óculos. Depois pega um andróide que está desativado e o reprograma para ajudá-lo. A criatura é capaz de controlar descargas elétricas e ele o chama de RELÂMPAGO. Os dois saem voando e começam a aterrorizar a população. Finalmente o Super Capitão aparece para intervir, e começa a lutar com Relâmpago. Ventolf avista o vulcão Pirobólon e vai até lá. Ele sente que há uma grande quantidade de antirrium e ameaça provocar uma erupção se não lhe entregarem o Dýnamis Érrion. Depois de nocautear o andróide, o S.C.R vai até o vulcão e tenta negociar, mas o monstro está irredutível. O Super Capitão que sabe falar latim, chama a criatura de VENTUS MALUS, a catástrofe viva, e só o faz rir. Irritado ele atira no furacão com força e o joga dentro da cratera. Achando que o matou, volta para o palácio e é informado que quase todos os líderes das vilas estão reunidos em Úpsilon, e que pretendem derrubá-lo do poder. Ele resolve ir até lá mas esbarra com Ventus Malus na janela. Este o empurra para dentro e avisa que a erupção já começou, e que em breve toda a ilha sofrerá os efeitos da radiação. Aí começa uma luta violenta entre os dois.

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Por fim o Super Capitão o vence, e pegando algumas barras de chumbo, solda uma grande tumba bem na sala do trono e encarcera Ventus Malus lá. Depois sai e sente os efeitos da radiação, ficando enfraquecido. A multidão vem atrás dele querendo linchálo pois o julgam responsável pela catástrofe. Ele volta para o palácio e, como não tem chance de impedir a erupção, reúne sua família e o Gramático Supremo. Manda todo mundo entrar na pequena nave que está no laboratório e os manda para Rôfega. Depois senta-se no trono e assiste tristemente a destruição de seu reino. Os líderes que estavam em Vila Úpsilon ficam sabendo do acontecido no interior da ilha, e como o líder de Alfa está com o Medalhão Heuretés, resolvem abandonar a ilha e fugir para o continente. Em algumas horas, toda Afanésia se consumia em lavas, cinzas e a radiação. Era o fim da civilização da Ilha Afanésia, no 1 a.C." ____FIM DA TRANSMISSÃO____ Todos se levantam e saem. Eu fico sozinho no laboratório, pensando, quando meus amigos voltam. A Sociedade do Ressurgimento foi se reunir, o pessoal de Nova Afanésia também. E o Senhor Erro se juntou a Karontino e Camaleon. Todas essas pessoas, descendentes dos afanésicos que escaparam, devem achar que devem ficar com o anel como herança. Deverei entregá-lo ou me tornar um rebelde como Ventus Malus, para ficar com o poder ? Gladion me diz que as fitas esclareceram ainda mais coisas. Agora a história que ele conhece de Rôfega faz mais sentido. Muitos fatos passam a se encaixar, e ele chama o Caixinha Mágica para os dois darem uma aula de história rofegana para mim, o doutor e John. "Os passageiros da nave desceram em Uórde, e como o Super Capitão não voltou, eles presumiram que o pior havia acontecido. Resolveram então pôr em prática a idéia de unir os 87


povos daquele planeta. Os filhos do último Super Capitão sabiam pilotar a nave, e fizeram um reconhecimento da área. Do lado da cratera havia uma montanha, e do outro lado da montanha um grande vale. Foram para lá e montaram acampamento. O grupo faz uma série de obras e batizam a vila de Cidade Rôfega. Ali seria a futura capital do planeta. Explorando a ilha, acham um velho galpão uordiano intacto, que não sofreu nada com o cataclisma que ocorrera por lá. Com o maquinário encontrado montam uma vila tecnológica. Setenta e sete anos depois é feita a primeira tentativa de união entre os rofeganos. Um grupo de rofegopolenses vai para uma grande ilha ao sudoeste. É uma nação já organizada, povoada por seres idênticos a Érrion. Eles chamam esses seres de antropóides (forma de humanos). A receptividade é boa, e eles têm a garantia da adesão do Reino da RAFOLÂNDIA. - Até que eu gostei dessa parte do Cronoscópio. Mas um país chamado Rafolândia. Está me parecendo gracinha sua! - Que isso!? Esse é o país de Gladion, um lugar muito bacana, e muito desenvolvido. A população é muito amável. Eu achava até parecido com o Brasil! - Eu não sei porque lhe dou ouvidos. Termine logo, que a fita já está quase no fim. Um ano depois os rofegopolenses foram ao país chamado PINATOM. A espécie que vive lá foi chamada pinóide, pois seu corpo parece ser formado com peças de encaixe. Também concordaram em participar de uma assembléia mundial, mas queriam sugerir um nome. Se o planeta se chamaria Rôfega, o órgão máximo seria o SUPREMO CONSELHO ROFEGANO (S.C.Rof). Idéia aprovada, e os rofegopolenses decidiram também mudar de nome. Como queriam ficar numa situação diferente dos nativos nesse Conselho, eles se auto-intitularam os Supra-rofeganos. No ano seguinte os Supra-rofeganos foram ao maior país em área no planeta: KATCHARAN, a terra de Caixinha Mágica. Dessa vez ele tiveram maior dificuldade em convencer os governantes, mas por fim estes aceitaram. Mais um ano se passa e eles visitam PIPERAN, país habitado por antropóides de pequena estatura, que são chamados de mikróides. Esses aceitam a idéia sem problemas. 88


Com quatro integrantes, mais os Supra-rofeganos, é marcada a primeira reunião do Supremo Conselho Rofegano para o ano 83 após a fundação de Cidade Rôfega. Nessa reunião são acertados os estatutos. Alguns mais polêmicos foram aceitos com muito custo, mais ficou estabelecido o seguinte: *1- A sede do Supremo Conselho Rofegano é a cidade de Cidade Rôfega, localizado na ilha agora denominada Ilha Capital. *2- O idioma oficial fica sendo o rofeganês, a versão atualizado do uordiano e do afanésico. *3- É reservado ao povo Supra-rofegano a indicação do Supremo Conselheiro, cargo máximo do Conselho. *4- Paulatinamente será instituída uma moeda única mundial, o Rulfir (R *5- É dever dos membros fundadores buscar a adesão das demais nações do planeta. *6- É instituído um calendário único, cuja contagem é a partir da fundação de Cidade Rôfega. (Ano 1) *7- É vedada a intervenção em assuntos internos dos Estados nacionais. Entre os anos de 86 e 180 ocorrem tentativas frustradas de adesão. As outras nações procuradas, se recusam a integrar o Conselho. Em 182 ocorre uma revolução interna em Katcharan. Como o Supremo Conselho não pode interferir, o país é dividido em dois: Katcharan do Norte, com o governo original, maior território e monarquia; e Katcharan do Sul, com um governo revolucionário republicano, o primeiro de Rôfega. Katcharan do Sul procura se filiar ao Conselho em 188, e mesmo com o veto de Katcharan do Norte, é aceito. No ano 200, EKLÂNIA, uma nação pinóide se torna o 6º filiado. Em 204 as tribos dos Grags e as dos Drokos põem fim à rivalidade e se juntam para formar um país, a República Dual de VUZDITCH, que se filia no mesmo ano ao Conselho. Com uma popularidade crescente, o Supremo Conselho recebe enfim a adesão de: Anemon (206), Kartésia (209), Kriósia (211), Termônia (211), Jadran (212), Zambrânia (213) e Bludia (214). Através de um esquema diplomático, Tachlan se filia em 305. Com a formação de um novo país, consegue-se o 16º e último filiado, Dêifritan (331). Em 337 é assinado o Tratado das Fronteiras, que as estabelece em definitivo. A Ilha Capital

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não é mais considerada um membro, mas coordenadora do Supremo Conselho Rofegano. Katcharan do Norte, Tachlan e Anemon propõem o fim desse status, mas não são apoiados pelos outros treze países. A nova sede do Conselho é construída em 340 e fica conhecida como Acrópole de Cidade Rôfega. Os Supra-rofeganos se isolam em sua cidade, sendo erguida uma grande cúpula sobre as residências, e o acesso fica restrito aos membros representantes do Conselho, que mesmo assim, só podem ir até à Acrópole. Cria-se um clima de mistério em torno deles, e já não se sabe mais, nem como eles são realmente. Única ilha desabitada, Kropi-Rava é escolhida para abrigar o maior presídio de Rôfega, destinado ao piores criminosos rofeganos. Em 1366 é instituída a Ilha Penal. No ano de 1927 a Agência Espacial Rofegana lança a 1ª nave espacial rumo a Akóliton, o satélite do planeta. E em 1988 novas obras em Cidade Rôfega revelam vestígios da civilização uordiana, com um achado em especial, que motiva a convocação de um agente rofegano especial para assuntos incomuns; o nosso amigo Gladion Rogher. - Tudo bem, pode parar. As fitas acabaram, e eu estou cansada. Hoje você falou demais! - Devo admitir que essa foi a parte que mais gostei de contar, mas ainda não cheguei nem na metade. - Sua história é realmente incrível. Você consegue falar tudo isso sem vacilar por um momento. Como consegue? - Falando a verdade. Você começou não gostando, mas agora já está até elogiando. Falta pouco para acreditar em mim. - Ainda acho que vai me contar algo de substancial. Podemos nos encontrar amanhã? - Pode ser. Eu estou de férias mesmo. Aonde será? - Que tal naquela praça perto da Torre de TV? - Feito! Te espero lá, no mesmo horário de hoje.

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 PARTE III

A CONSOLIDAÇÃO

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15 - HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DA RAFOLÂNDIA Ilha Afanésia , dezembro de 1992 - Muito bem, vamos começar. Pode falar. Após a exibição do Cronoscópio, um clima de intrigas instalou-se em Afanésia, e eu era o alvo. Se quando cheguei na ilha estava cheio de confiança com meu anel, agora estava muito preocupado, pois se eles o exigissem, eu não teria como argumentar em meu favor. Até Gladion, que sempre o quis, procurava me acalmar, dizendo que ninguém teria como tirá-lo de mim. Depois que todos saíram, eu fiquei olhando os aparelhos sobre a mesa e achei uma placa com um tipo de mapa em altorelevo nela. Era a planta baixa do laboratório de Érrion, e mostrava uma outra sala secreta com a entrada embaixo da mesa do Cronoscópio. Eu entro debaixo dela e vejo um alçapão. Consigo abrí-lo e pego uma lanterna para explorar o lugar. É um fosso e parece bem fundo. Somente alguém que pudesse voar poderia ir até o fim. Eu pulo e aperto o botão de vôo. Quando aterrisso vejo que estou em uma mina, e o túnel se estende por mais alguns quilômetros. Vou andando por ele e observo uma série de desenhos esculpidos na parede. É uma reprodução da história que o cronoscópio mostrou, e devem ter sido feitos por algum Super Capitão, ou pelo próprio Érrion. Um dos desenhos reproduz com perfeição o anel e eu o toco. O anel de pedra afunda na rocha, e o túnel começa a tremer. Atrás de mim começa a cair uma enxurrada de areia, e eu começo a correr para o interior da caverna, enquanto uma grande onda de areia avança na minha direção. De repente um buraco se abre na minha frente e não tenho tempo de apertar o botão de vôo mais uma vez. Caio em uma espécie de tobogã, que me leva mais para o fundo. O fluxo de areia pára, e o túnel por onde desci se fecha sozinho atrás de mim. No fim do "tobogã" existe uma câmara escura e como eu perdi a lanterna, uso um truque que aprendi durante a exibição do Cronoscópio. Digo a frase  e um feixe luminoso sai de meu anel clareando tudo. É uma sala pequena 3 Signum Érrion (sinal Érrion, a palavra signum provém do latim)

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com um barril e uma prateleira na parede onde tem um livro e um porta retrato. A foto é da filha de Érrion e está em bom estado de conservação; o livro tem uma inscrição na capa: R. Eu pego o livro e fico surpreso: é o Manual do Super Capitão Erre! Só então me toquei de que estava preso, e fui procurar por uma saída. Olho dentro do barril e tem um monte de réplicas do Dýnamis Érrion. Será que funcionam? Devia ter mais de duzentos ali. Volto a procurar a saída e vou tateando a parede para achar alguma coisa, mas não acho nada. Abro o livro para talvez achar alguma resposta, mas aos poucos as letras vão ficando esquisitas, e não consigo mais ler o que está escrito. A luz do anel vai diminuindo. A carga dele está no fim! Tiro ele do dedo e religo. O uniforme se refaz mas o brilho está mais fraco. Sem outra opção, aproveito a pouca carga que ainda tenho e atiro com força na parede para abrir o meu próprio túnel. Escavo fora da direção do tobogã para que a areia não entre na câmara e me sufoque, mas não sei aonde vou parar. O anel já ia apagando quando consegui ver do outro lado. Entro no buraco apertado que fiz e vou parar na continuação do túnel onde estava antes. Daqui posso ver o monte de areia parado em cima da entrada do tobogã e também a luz no fim desse túnel. Enfim vou sair daqui, e ainda por cima levando o Manual do S.C. R comigo. A saída do túnel é na beira do lago, que fica perto do castelo, mas estou bem longe e só posso voltar a pé. É uma boa caminhada e vou logo para não perder mais tempo. Quando chego na cidade vejo que o pessoal está muito alvoroçado. Me aproximo de Nicanor e pergunto o que está acontecendo. - Então você não fugiu heim? Muito bem, venha comigo. - Ir com você para onde? E por que achou que eu ia fugir de alguma coisa? - Todos os demais irão lhe responder. Fizemos uma reunião e meu grupo mais a Sociedade do Ressurgimento chegou a um acordo que já foi aceito por todas as partes. Como esteva ausente, terá que aceitar o que já foi decidido. Estão todos esperando por você no palácio, inclusive seus amigos. 4 O Manual do Super Capitão de Rhô

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Sentados ao redor de uma grande mesa, estão os representantes de cada família descendente dos afanésicos, e também Gladion Rogher e Karontino. Todos estavam muito sérios e eu aguardava uma resposta. Giovanni Deliota começou a falar: - O grupo dos descendentes de Afanésia, diante dos fatos apresentados pelo aparelho chamado de Cronoscópio, julgou os fatos que culminaram com a morte da população desta ilha. O último governante deste povo agiu de forma insensata ao trazer para cá a criatura denominada Ventus Malus, e com isso destrui o nosso povo. Conforme as leis afanésicas, os líderes das vilas têm o direito de submeter o réu a uma prova que demonstrará se o deus que ele representa, continua sendo o mais poderoso entre os deuses-letras. O resultado do primeiro Torneio das Letras será contestado com a realização de um segundo Grammagon! Eu entendi na hora o que eles queriam, mas pedi uma explicação mais clara, e Aristarco Alphestés tomou a palavra: - O representante da letra Rhô vai ter seu título de Super Capitão posto em disputa novamente. Se vencer o torneio, permanecerá o líder dos afanésicos, se perder entrega o título e todas as suas honras para o novo campeão. Entre essas "honras", subtende-se o Dýnamis Érrion. Eu acho a idéia absurda e reclamo na hora: - Por acaso vocês acham que os "deuses-letras" vão interferir no resultado desse torneio? E quem vai poder disputá-lo? Vocês pretendem reerguer uma civilização destruída há séculos, usando as mesmas leis que eles tinham, e nada disso faz sentido ! - Realmente nunca fez, e eu nem sei porque estou gravando essa história! - Eu estou reproduzindo aquele diálogo de maneira fiel. Não me atrapalhe! - O que vocês querem é ficar com o meu anel. O último Super Capitão não é culpado pela destruição de Afanésia; ele ficou aqui até o fim, enquanto que seus antepassados fugiram, para que vocês estivessem aqui hoje! Dessa vez eu consegui irritar todo mundo para valer, e eles me responderam na mesma medida: - Você não tem absolutamente nada a ver com o nosso povo, e carrega um dos maiores símbolos dele. Como pode 94


achar que tem algum direito sobre os poderes de Super Capitão? Você é um intruso aqui e muito incômodo aliás. Deveríamos tirar-lhe o anel e mandá-lo embora. - Infelizmente não temos representantes de todas as letras aqui, e os descendentes de rhô não têm como participar. Por isso seu colega rofegano havia sugerido que você lutasse no lugar dele. Mas estamos tentados a mudar de idéia. Eu só estava me complicando mais, e tive que ficar quieto para não piorar a situação. Gladion se levantou e disse que conhecia bem as regras que haviam sido estabelecidas. No caso de não haver um descendente para representar uma letra, ela teria como lutador, uma pessoa envolvida no caso, mesmo que não são fosse descendente dos afanésicos. Uma contagem foi feita e apenas dezesseis legítimos representantes teriam condições de participar desse novo torneio. Como faltavam os descendentes que não faziam parte da Sociedade do Ressurgimento ou dos Neo-afanésicos, seria feita uma última busca. Caso essas pessoas não comparecessem, abriam vagas para que outros participassem. Eu já tinha vaga garantida, pois ficou bem claro que não existia um representante para rhô, e como eu havia comprado o anel, podia ficar com essa vaga e defender o título de Érrion Pontíarkes. Eu até enfrentaria qualquer um, se pudesse usar o anel, mas isso não seria permitido. Assim como Érrion, vou depender apenas de minha técnica e força. Mas eu era apenas um garoto de quinze anos, e que chance teria contra os filhos dos membros da Sociedade do Ressurgimento? Eles eram todos lutadores profissionais e eu seria massacrado. Enquanto o torneio não fosse disputado, eu poderia ficar com o anel. Acho que todos já contavam com minha derrota. Mas eu teria um bom tempo para treinar. A busca pelos últimos descendentes seria patrocinada pela Sociedade e deveria demorar bastante, por isso o segundo Grammagon foi marcado para dentro de sete meses. Era o tempo que eu tinha para me tornar um campeão de luta afanésica !

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16 - HERDEIROS

DE UM REINO Planeta Terra , 1º semestre de 1993

A decisão já havia sido tomada, e eu só podia aceitá-la. Com isso saí do recinto e fui para pátio onde estavam John e Caixinha. Contei a eles o que houve, e John constatou mais uma coisa. Sua família também é de origem afanésica, e um deles terá que lutar também. Como não seria o doutor Rupert ou o Senhor Erro a entrar nessa, coube a ele representar a letra Jeta. Eu já conhecia boa parte dos adversários, mas ainda faltavam os que não tinham aparecido. Surpresa mesmo foi a notícia de Gladion. Ele entrou com um pedido para representar a letra Gama no caso de não se encontrar um descendente desta vila. E não foi o único, Karontino também se achou no direito de disputar o meu anel, e acreditava que tinha boas chances. Nós já podíamos ir embora, e um barco da Sociedade iria nos levar de volta para o Brasil, mas antes eu quis mostrar a eles o lugar que eu tinha achado. Fomos os cinco para lá, e Gladion disse que seus aparelhos indicavam uma grande quantidade de rofegnum naquela área. O lugar era uma mina e ficava escondida na vegetação em torno do lago. Se o campeão do torneio for mesmo o novo rei de Afanésia e dono do Dýnamis Érrion, vai poder explorar essa mina sem nenhum impecilho. - Vamos torcer para que eles não a encontrem. Caixinha Mágica disse isso e apontou para a vila de Errionópolis. Era a hora de voltarmos para casa. Da vila fomos, em um jipe, para o litoral e lá pegamos um barco junto com alguns neo-afanésicos. Para esse pessoal era a última vez que iriam até sua terra de origem, pois depois voltariam para viver o resto da vida em Afanésia. Já estávamos em alto-mar e fiquei pensando nesse torneio. Se por, quem sabe, boa vontade do destino, eu fosse o campeão. Poderia ficar com o anel, mas seria proclamado rei daquele povo e eu não sabia como governar um país. O máximo que já fiz foi ser líder de um clubinho com os garotos da minha quadra. Agora o momento era outro. Mas o mais provável era uma eliminação ainda na primeira fase e a perda do anel. Seria o meu fim como Super Capitão Erre. Achei melhor esquecer isso, e como o anel já estava recarregado, comecei a ler o livro que achei na mina de rofegnum. Logo todos me arrodiaram e perguntaram o que era 96


aquilo. Eu mostrei a capa e surpreendi os quatro. Mas eles guardaram segredo até chegarmos no litoral da Bahia. Daí em diante teríamos que arranjar carona. Antes de descermos, o comandante do barco avisou para que eu comparecesse na data marcada com o anel, senão eu seria caçado por todos os neo-afanésicos do mundo. Não dei atenção e fui caminhando pela praia. Meus amigos queriam saber como voltaríamos para Brasília, sem dinheiro ou meio de transporte. Eu mostrei o anel e disse que estava tudo resolvido. No manual, encontrei como usar todos os poderes que o anel concedia, e entre eles estava um portal teleportador portátil. Só precisava pronunciar a palavra código e ativá-lo. - Acontece que entrar em um portal sem proteção é fatal. Lembre-se que Ventus Malus e Relâmpego evaporaram depois que fizeram isso. - Gladion me lembrou esse pequeno detalhe. Felizmente o doutor trouxe uma caixa com lembranças de sua estada em Afanésia. E havia um traje de proteção a radiação. A roupa até serviria, se não fosse só uma, mas como o usuário do anel já tem uma proteção automática, eu acabei levando um por um. Levava, trazia a roupa, vestia outro e trazia. Quando terminei o anel já estava esgotado de novo. A casa do doutor Rupert estava toda suja, pois eles ficaram dois anos fora, e eu uma semana. O pessoal ia fazer um multirão, mas eu achei melhor ir para casa, pois quando saí disse que ficaria exatamente sete dias fora. Enquanto isso, a Sociedade mobilizou todos os recursos para encontrar os neo-afanésicos que faltavam. Foram em todos os países com pistas dessas pessoas. Faltavam apenas oito vagas, mas já era esperado achar menos do que isso, afinal não foram todos os líderes de vila que escaparam da erupção do Pirobólon. O número de descendentes encontrados até excedia as oito vagas, mas apenas um por família poderia participar. Alguns que teriam o privilégio de representar seu deus-letra recusaram, por motivos bem simples até, mas sempre havia alguém disposto a participar e ficava com a vaga de um irmão, pai ou tio. Ao fim de seis meses, foram reunidos seis grupos, com um lutador e parentes dispostos a viver em Afanésia, e talvez, ser da nova família real. A Sociedade mandou um relatório para Rupert, e nos convocou para retornarmos. 97


No relatório, havia a descrição dos vinte e quatros inscritos para o segundo Grammagon, e ele foi distribuído para todos os envolvidos. A Sociedade gastou uma grande quantidade de dinheiro para este torneio, e parecia que o evento seria muito bem promovido, apesar de ser realizado numa ilha conhecida como "ilha invisível". Eu guardei uma cópia daquele relatório, que está aqui na minha maleta; dê uma olhada. "Participantes do 2º Torneio das Letras" Alfa()- Aristarco Alphestés Júnior, grego, 22 anos. Filho do presidente da S.R., participou de campeonatos de luta greco-romana enquanto seu pai esteve desaparecido. Foi campeão em quase todos, e não chegou a desempenhar nenhuma função no comando da organização, uma vez que seu maior talento são as lutas. A bolsa de apostas de Afanésia paga 2 rulfirs por cada um apostado. Beta ()- Alberto Beltrão, brasileiro, 32. Professor de capoeira, dá aulas gratuitas para crianças carentes na cidade de Salvador(Brasil). Seu pai faz parte do grupo Nova Afanésia. O último torneio que disputou foi há dez anos, mas foi o campeão. Apostas: 9 por 1. Gama ()- Gladion Rogher, rofegano, 28. Único alienígena na disputa, ganhou a vaga pela inexistência de um descendente do povoado de Gama. Representa o planeta Rôfega, que tem uma certa ligação com a história afanésica. Agente para Assuntos Especiais de seu governo, é treinado em várias modalidades de luta em seu planeta. Apostas: 7 por 1 Delta ()- Abdel Deltâmeth, egípcio, 25. Guia do deserto, com alguma experiência em boxe. Não disputou nenhuma competição até hoje mas possui bom preparo físico. Apostas: 14 por 1. Épsilon ()- Juan Epstilos, argentino, 24. Pratica boxe por lazer, mas não é lutador profissional. Venceu um pequeno torneio entre os empregados de sua fazenda. Faz parte dos N.A. Apostas: 13 por 1. Zeta ()- Clarence Zeto, australiano, 26. Pratica luta livre e já venceu alguns torneios 98


de pouca expressão. É conhecido pelos golpes esquisitos que aplica, mas que funcionam. Apostas: 9 por 1. Eta ()- Ramón Esteves, uruguaio, 24. Dono de uma academia de musculação, apenas pratica fisiculturismo, mas não é um lutador. Apostas: 13 por 1. Tcheta ()- Carlos Manos León, boliviano, 26. Ex-presidiário, não pratica nenhum tipo de esporte. Só conseguiu uma vaga porque o representante de Tcheta é idoso e o escolheu para lutar em seu lugar. Apostas: 30 por 1. Iota ()- Luigi Deliota, italiano, 20. Filho de Giovanni, vice-presidente da S.R., pratica luta greco-romana e venceu todos os torneios que disputou. É rival freqüente de Alphestés Jr., e um dos favoritos ao título de campeão do 2º Grammagon. Apostas: 3 por 1. Kapa ()- Karontino Hades, brasileiro, 30. Também conseguiu uma vaga por não haver um descendente da vila desta letra. Ex-funcionário de Giovanni Deliota, não pratica nenhuma luta. Apostas: 30 por 1. Lambda ()- Hernand Leóncio, espanhol, 31. Não é bem um lutador, mas sim um toureiro. Tem bom preparo físico, mas não experiência em combates corpo a corpo. Apostas: 11 por 1. Mi ()- Pablo Miguelino, mexicano, 29. Exguerrilheiro, lutou em alguns países da América Central. Tem experiência em lutas sem regras, mas veio para Afanésia com um ferimento de bala. Ainda assim vai participar do torneio. Apostas: 25 por 1. Ni ()- João Nicanor Filho, brasileiro, 21. Luta judô em nível amador, tendo ganho alguns torneios. Seu pai é líder dos N.A. Apostas:6 por 1. Chi ()- Cheng Huang Chi, chinês, 22. Faixa preta em caratê, judô, taekwondô e jiu-jitsu. Vários títulos. Apostas: 4 por 1. Omikron ()- Kassim Abu Omar, árabe saudita, 30. Fez parte de grupos extremistas no Irã, mas abandonou a carreira. Hábil tanto em lutas com 99


facas, quanto no corpo a corpo. Apostas: 8 por 1. Pi ()- Jean Bertrand Pierre, francês, 25. Pratica luta livre e ganhou torneios importantes na Europa. Apostas: 8 por 1. Rhô ()- Super Capitão R, brasileiro, 15. Representa o campeão do 1º Grammagon. Não é descendente de afanésicos, e só participa do torneio porque detém o anel destinado ao futuro líder dos Afanésicos. Apostas: 30 por 1. Sigma ()- Willian Sigmann, norte-americano, 30. Procurado pela polícia de doze estados nos E.U.A., é um ex-lutador de luta livre. Sofre de algum problema mental pois está sempre usando um avental manchado de sangue, que lhe rendeu a alcunha de "O Açougueiro". Apostas: 4 por 1. Tau ()- Mtomb Taunay, camaronês, 26. Artista de circo, cujo número era o desafio a leões. Apesar das cicatrizes, nunca perdeu uma briga com os animais. Apostas: 4 por 1. Úpsilon ()- George Yorkshire, inglês, 31. Lutador de boxe profissional, tem algumas vitórias por nocaute e prestígio na área. Apostas: 9 por 1. Fi ()- Teodoros Filogônio, grego, 22. Outro praticante de luta greco-romana. Aprendeu na mesma academia de Alphestés e Deliota, mas não teve o mesmo desempenho dos dois. Seu irmão era membro da S.R. até roubar o anel de Super Capitão e perdê-lo no Brasil. Apostas: 15 por 1. Jeta ( )- John Joter, norte-americano, 23. Exfuncionário da NASA, recebeu treinamento para missões no espaço. Já praticou caratê mas não é um lutador. Apostas: 18 por 1. Psi ()- Aleto Psalônikos, grega, 22. Única mulher na disputa, é filha do falecido professor Apolo Psalônikos, um dos idealizadores da S.R. É lutadora de caratê, boxe e jiu-jitsu. Juntamente com suas duas irmãs forma um grupo de vigilantes chamadas "Novas Erínias" Apostas: 10 por 1.

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Ômega ()- Dimitri Bucvostróv, russo, 29. Exagente da extinta KGB, foi criado na Sibéria, onde recebeu treinamento especial para várias formas de combate. Apostas: 5 por 1." - Realmente eles parecem caras durões. Qual a origem desse pequeno relatório? - Eu disse que foi feito pela Sociedade do Ressurgimento. Eu ganhei essa cópia e a guardei de lembrança. - Pelo visto, você tem mais documentos nessa maleta velha. Vai me deixar ver o resto? - Calma, vamos por parte. Eu vou mostrando à medida que for contando. Depois que voltamos para o Brasil, eu me dediquei à leitura do Manual do S.C.R, mas treinar para o Grammagon era minha maior preocupação. Eu não tinha muitas esperanças em ser campeão num torneio de luta, mas precisava tentar, ou ficaria sem o anel. E treinava junto com outros dois concorrentes, John e Gladion, que também estavam inscritos. Quando eu perguntava o que aconteceria se um dos dois vencesse, ambos rodeavam e não me davam uma resposta concreta. Eu estava uma pilha de nervos, e ainda tinha que me dedicar à escola. Quando vieram as férias no meio do ano, achei que poderia relaxar, mas uma carta chegou para nós. Era da Sociedade do Ressurgimento. Todos os competidores deveriam comparecer à ilha em uma semana para participar da leitura das regras e o sorteio das chaves. Eu precisaria ficar fora o mês todo, e meus pais não engoliriam outra viagem de prêmio. Minha situação era bem difícil. Enquanto o pessoal na casa do Dr. Rupert arrumava as malas, eu ficava andando em meu quarto pensando em uma solução. Quando pensei em uma, fui correndo para a casa dele. Contei o que tinha em mente, e não agradei muito. Meu plano era o seguinte: havia um segundo andróide no laboratório de Érrion e o doutor poderia reprogramá-lo para agir igual a mim. Depois usaria aquele rosto sintético que tem para ficar parecido comigo. Todo mundo achou um absurdo, mas eu insisti e abri o portal para ir pegá-lo. Voltei com o robô e o material que ele precisaria para a operação.

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Diante da minha insistência, o doutor começou a trabalhar no projeto. Depois ainda voltamos ao laboratório pelo portal para terminar tudo sem que ninguém da S.R. soubesse. Quando terminamos, apresentamos aos demais o meu "robôclone", batizado de R-2.1; em homenagem ao personagem de Guerra nas Estrelas. Ele ficaria no meu lugar e enganaria a todos, pois tinha minha personalidade reproduzida em seu programa e se comportava como um ser humano comum. Era fruto da tecnologia uordiana, assim como Relâmpego. Ele foi para minha casa em meu lugar e os outros vestiram trajes protetores de radiação. Fomos todos através do portal de meu anel.

17 - O 2º GRAMMAGON Ilha Afanésia , julho de 1993 Utilizar o portal é o que mais consome energia do anel, mas como não tínhamos outro meio para irmos, usamos esse mesmo. Em poucos minutos chegamos à ilha de Malta, o ponto de encontro dos competidores, para aguardar um barco da S.R. que nos levaria até Afanésia. Eu poderia ir direto para lá, mas preferi poupar energia, e usei o barco que estava equipado com o Medalhão Heuretés. Desembarcamos no porto da vila de Úpsilon, e percebi que o pessoal que ficou na ilha andou trabalhando um bocado. As ruínas estavam sendo limpas, muitas casas já estavam recebendo moradores, e aos poucos Afanésia ia voltando a ser uma nação. O grupo de competidores subiu em uma frota de jipes e fomos todos para Errionópolis, onde haveria a reunião sobre o torneio. Como o palácio não era muito grande, dividimos os quartos e fiquei junto com meus amigos. Parecia um centro de convenções, com gente andando para todos os lados, falando alto, e o mais interessante, a formação de torcidas organizadas. Parentes distantes, que nem se conheciam, arrumavam juntos faixas e decoravam as arenas espalhadas pela ilha para torcer pelo representante de sua letra. Foi um fator desfavorável para mim, pois eu não tinha torcida. O único que fez uma bandeirinha com um "R" estampado foi o Caixinha Mágica. O doutor Rupert tinha que apoiar seu sobrinho e Gladion também era um concorrente. 102


No dia seguinte acordaram o pessoal bem cedo; era a hora da reunião, aonde seriam estabelecidas as regras e o sorteio das chaves. Entramos em um auditório próximo ao palácio e lá na frente estavam Aristarco Alphestés, Giovanni Deliota e João Nicanor. Os três eram os organizadores, mas tinham representantes no torneio, no caso os filhos. Todos sentam-se nas cadeiras de madeira e ouvimos o que os três têm a dizer. Eles voltaram a definir o objetivo da disputa e passaram mais uma vez a segunda fita do Cronoscópio, para que todo mundo pudesse ver. Ao fim da exibição afirmaram que não haveria mudança de regras, tudo seria exatamente igual ao torneio realizado no ano 470 a.C. Aristarco levantou-se e mandou eu entregar o anel. Tive que obedecer, mas tirei o anel do dedo com muita má vontade, e receio do que aconteceria. Como eu representava o último campeão fiquei como cabeça-de-chave nº1, e faria as três primeiras lutas na arena da vila Rhô, junto com meus primeiros adversários. Os outros cinco cabeças-de-chave seriam os representantes das letras que ficaram nas primeiras posições; pela ordem: Sigma, Alfa, Lambda, Beta e Fi. Suas vilas seriam as sedes de cada chave. A primeira fase foi chamada de Classificatória, pois em cada uma das seis chaves, quatro lutadores disputariam entre si duas ou três vagas para a etapa seguinte. Para compor as chaves, veio o sorteio e a sorte não ajudou muito. Eu estreiaria enfrentando o representante de Chi, e depois pegaria os representantes de Tau e Épsilon. John também estava em um grupo difícil, pois enfrentaria Úpsilon, o favorito Alfa e Omikron. Parece que o mais favorecido foi Gladion que estreiaria justo com a única mulher do torneio, Psi, e também pegaria os representantes de Eta e Fi. Nós teríamos mais cinco dias para treinarmos e eu abriria o torneio contra um chinês faixa preta em quatro artes marciais. Para ir direto ao assunto, dê uma olhada nos resultados da Fase Classificatória:

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II GRAMMAGON 1993 Fase Classificatória: GRUPO I RHÔ 0X2 CHI ÉPSILON 1X2 TAU RHÔ 0X2 TAU ÉPSILON 0X2 CHI

GRUPO II SIGMA 2X0 TCHETA IOTA 2X1 NI SIGMA 2X0 NI IOTA 2X0 TCHETA

TAU 0X2 CHI RHÔ (W.O.) ÉPSILON

NI 2X0 TCHETA SIGMA 2X0 IOTA

GRUPO III ALFA 2X0 OMIKRON ÚPSILON 2X1 JETA ALFA 2X0 JETA ÚPSILON 0X2 OMIKRON JETA 1X2 OMIKRON ALFA 2X0 ÚPSILON

GRUPO IV LAMBDA 0X2 DELTA ÔMEGA 2X0 ZETA LAMBDA 2X1 ZETA ÔMEGA 2X0 DELTA ZETA 0X2 DELTA LAMBDA 0X2 ÔMEGA

GRUPO V BETA 2X0 KAPA MI 0X2 PI BETA 1X2 PI MI 1X2 KAPA PI 2X1 KAPA BETA 2X0 MI

GRUPO VI FI 2X0 ETA GAMA 2X1 PSI FI 1X2 PSI GAMA 2X0 ETA PSI 2X0 ETA FI 1X2 GAMA

Os Classificados: Grupo I : 1º- Chi  2º- Tau 3º- Rhô R Grupo II : 1º- Sigma 2º- Iota 3º- Ni  Grupo III : 1º- Alfa 2º- Omikron    Grupo IV : 1º- Ômega  2º- Delta  Grupo V : 1º- Pi 2º- Beta 3º- Kapa   Grupo VI : 1º- Gama 2º- Psi 3º- Fi  

Os Eliminados : Lambda , Úpsilon , Mi , Zeta , Jeta Eta  , Tcheta , Épsilon .

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__ __ " Minha estréia não podia ter sido pior. Cheng Huang conseguiu a vitória mais rápida do torneio e me jogou entre as traves com facilidade. Felizmente não me machuquei, mas também não fui muito combativo. A estréia de John foi um pouco melhor, pois ele ainda conseguiu empurrar seu adversário para o gol uma vez, mas não foi suficiente para uma vitória. A estréia de Gladion foi a mais disputada. Ele enfrentou a única mulher no torneio e fez o primeiro ponto, mas ela revidou e o mandou para as redes também. O último ponto foi o mais demorado da primeira rodada, e só acabou no tempo limite de 5

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min. Como o rofegano estava no campo da adversária, levou a vitória. Na segunda rodada eu enfrentei um camaronês, e consegui durar por mais tempo, mas o resultado foi o mesmo. Na outra luta de meu grupo, o chinês enfrentou um argentino invocado, que se empenhou tanto, que torceu o joelho. Cheng e Mtomb já estavam classificados. John enfrentou o filho de Aristarco e também perdeu, mas Gladion seguiu fazendo boa campanha e venceu o uruguaio de Eta, garantindo a classificação. Eu ia decidir meu destino na última rodada. Dos seis lutadores que ficassem em 3º nos seus grupos, quatro ganhariam vaga. Entrei na arena com toda fúria e me deparei com o adversário. Era o argentino, que ainda sentia dores, mas insistia em lutar. O árbitro permitiu e eu fiz minha parte; dei um empurrão de corpo e ele caiu perto de seu gol. Ele se levantou, mas não estava em condições de andar. Acabei ganhando por W.O. e me classifiquei como o melhor terceiro colocado. Gladion terminou a primeira fase como 1º colocado do grupo VI ao vencer o irmão de Eudóxio Filogônio, mas John foi eliminado ao perder para Kassim Omar. A tabela da Fase Eliminatória já havia sido divulgada e eu teria de ir até a Vila Pi, enfrentar o 1º do grupo V, o francês Jean Bertrand, pelas oitavas-de-final. Gladion lutaria novamente com Filogônio, pois este foi o 2º melhor terceiro colocado. Quanto a Camaleon, este foi eliminado perdendo suas três lutas, mas Karontino conseguiu se classificar como o 4º melhor terceiro colocado ao vencer o mexicano que estava com um ferimento de bala. Ele enfrentaria justamente o chinês que ficou em 1º lugar no meu grupo. Esse chinês, assim como o filho de Aristarco, o americano Açougueiro e o russo Dimitri foram os únicos a vencer todas as primeiras lutas por 2X0, e despontavam como os favoritos. As Oitavas-de-Final ocorreram todas no mesmo horário, mas desta vez em locais diferentes. Os que tiveram melhor campanha na 1º fase fariam suas lutas na arena de sua vila. Assim eu cheguei em Vila Pi como visitante. As arquibancadas estavam cheias e com muitas bandeiras da França. Mas em um banquinho pude ver que minha torcida havia triplicado. John e Rupert juntaram-se a Caixinha para torcer por mim.

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Nos posicionamos no círculo central e, ao sinal do árbitro, comecei a empurrar o francês, mas eu deslizava e fui sendo empurrado para dentro de meu gol. Em um minuto já estava perdendo. Desta fase em diante porém, as lutas seriam em melhor de 3 pontos; mas uma derrota significava eliminação. Quando vi um torcedor de Pi pondo fogo em uma bandeira do Brasil com um erre estampado, me enchi de fúria e acertei o adversário de jeito. Tanto eu quanto ele ficamos surpresos, mas não parei e lhe passei uma rasteira, que o desequilibrou para dentro do gol. Empatei a luta mas ainda tinha mais. Ele veio correndo para cima de mim e usei da malícia, ao me posicionar em frente ao gol dele e tirar o corpo fora deixando apenas o pé. Ele tropeçou e caiu feio dentro da rede: 2X1. O regulamento permitia isso. A única coisa proibida era bater abaixo da cintura. O francês estava tão irritado que começou a fazer besteira, e saltou em cima de mim com a intenção de machucar. Sai da direção com agilidade e ainda acertei o meu pé no estômago dele. Mas fui eu quem gelou nesse momento. Até agora não havia tido uma agressão, mesmo sendo permitido, mas eu dei motivo para ele revidar. De fato ele me pegou de jeito e eu caí no meu gol sem ver nada. Fiquei tonteado e tive que pedir tempo. Eu estava estirado no meio da arena olhando para o céu. A torcida estava calada e eu me lembrei das realizações de Érrion. Busquei nele uma inspiração para me erguer e decidir a luta. Levantei, sacudi a poeira e dei um soco no nariz do francês que chegou a fazer barulho. Com um empurrão, o joguei para dentro do gol e fechei o placar: RHÔ 3X2 PI. Eu estava classificado para a próxima fase.

18 - NÃO MAIS SUPER CAPITÃO Ilha Afanésia , julho de 1993 Eu cai de joelhos no círculo central. Era minha primeira vitória no torneio e eu já estava entre os oito melhores colocados. Meus amigos invadiram a arena, e fui erguido vitoriosamente por eles. Saímos de lá deixando a platéia perplexa e o lutador envergonhado por ter perdido para um garoto de apenas 15 anos. 106


Competir é importante, mas vencer é melhor ainda. Eu já começava a acreditar no título e na permanência do anel e seus poderes comigo. Fui para a cabana que serviu como meu hotel, e descansei um pouco. Uma enfermeira entrou para cuidar de meus machucados e logo em seguida veio o líder da Vila Pi, que me sugeriu uma partida imediata para Vila Ômega, onde seria minha próxima luta, pois a torcida organizada "Raça Pi" estava se preparando para uma revanche. Chamei meus amigos e fomos embora na hora. Vila Ômega se localiza no norte da ilha, e foi uma viagem longa de jipe, mas que compensou, pois estávamos longe de alguns torcedores vândalos. Só não esperava a recepção de lá. Todos ficavam me olhando, mas não falavam nada. O motorista do jipe disse para ignorar e fomos para a cabana-hotel. Fiquei sabendo dos outros resultados. Karontino perdeu de 3X0 para Cheng, a garota que lutou com Gladion também venceu por 3X0, e este se classificou vencendo por 3X1. Os outros favoritos também venceram, com exceção de Luigi Deliota que foi eliminado por um brasileiro lutador de capoeira. Meu próximo adversário havia derrotado um outro brasileiro, o filho de Nicanor, e tinha uma das melhores campanhas, todas por dois ou três a zero. Ia ser uma parada dura, mas eu achava que tinha alguma chance. O dia amanheceu e fui para a arena. A torcida de Ômega era mais quieta, mas lotava as arquibancadas. O árbitro estava no centro aguardando o dono da casa, e eu fazia um aquecimento. Caixinha agitava sua bandeirinha quando os outros torcedores se levantaram. Eu olhava para meu amigo e notei que ele ficou quieto rapidamente. Me virei e vi como era o adversário. Senti um frio na barriga ao ver o cara com dois metros de altura e três de largura. Era um armário daqueles. Ele se aproximou, olhou para mim e se posicionou. Fiz o mesmo, mas sem a mesma confiança. O árbitro apita e eu me jogo para cima de Dimitri Bucvostróv. Ele me pega pelo pescoço e me joga perto do gol, mas levanto-me rápido e evito o primeiro ponto. Minha única vantagem é a agilidade, e vou escapando de suas investidas até ser golpeado nas costas. Ele me ergue e me joga no gol. Volto para a disputa e ele me joga de novo. Mais um ponto e estarei eliminado, por isso me desloco com mais rapidez e fico ziguezagueando entre ele e o gol. Quando ele faz que vai 107


me pegar, rolo no chão e puxo sua perna. Ela não se move, então chuto sua cara e ele vacila. Me afasto para pegar velocidade e empurro a montanha para o gol. Foi a primeira vez que ele caiu nas redes, e por isso não me perdoou. Ao recomeçarmos, ele socou o ar, porque consegui desviar, mas ainda fiquei ao seu alcance. Ele me puxou pelo braço e me atirou sobre a linha em frente à rede. Só me lembro de ver seus pés vindo na minha direção. Quando acordei, estava em uma enfermaria, com Rupert e Gladion olhando para mim. - Até que enfim você acordou! Ficamos preocupados. Rupert falou baixinho; devia saber que minha cabeça doía um bocado. Eu olhei para eles, e depois para mim; eu estava deitado em uma maca. - O que aconteceu? - Eu perguntei, já sabendo da resposta. Gladion respondeu: - Dimitri acertou um chute em seu estômago e você caiu dentro do gol; após ter batido com a cabeça na trave. Ele saiu e o médico entrou em campo para os primeiros socorros. E isso foi ontem ! - Eu passei um dia inteiro desmaiado? - Não exatamente. Você se recuperou logo e emendou no sono. - Mas perdi a luta e fui eliminado. O Super Capitão "R" está acabado. - O Super Capitão Gama também, e nem por isso estou chorando. - Você foi eliminado? O que houve? - O tal do Açougueiro luta bem, e ganhou de mim no último instante. Meu consolo foi ficar na sua frente, na classificação geral. - Grande, agora o anel pode parar na mão de algum psicopata! Nesse instante C.M. e John entraram junto com o médico, que me deu alta. Lá fora estava tranqüilo, e perguntei para onde iríamos. Gladion disse que amanhã seriam realizadas as semifinais, e ele queria assistir. Eu não tinha mais interesse em luta afanésica, mas ficamos para ver o confronto entre Dimitri de Ômega e Aleto de Psi. A garota conseguiu se classificar eliminando o chinês faixa preta, e agora disputava uma vaga na final.

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Fomos à arena no dia seguinte, e nos sentamos perto da torcida de Psi. As duas irmãs de Aleto estavam bem sérias, mas John tentou puxar um papo. Elas cortaram na hora, mas uma delas veio sentar-se perto de mim. Seu nome era Tisífone e ela queria conhecer o único cara que havia marcado ponto em cima do adversário de sua irmã. Eu fiquei todo cheio, mas ela desviou a atenção para a lutadora que entrou na arena. Eu também reparei em Aleto, mas embasbacado mesmo estava Gladion, que nem piscava. Dimitri chega e arranca alguns aplausos de seus torcedores. A luta começa e é bem emocionante. Mesmo sendo uma mulher, Aleto consegue competir de igual para igual com o russo. - Quer fazer o favor de parar com esse discurso machista. "Mesmo sendo uma mulher", eu deveria lhe dar uns tapas, para ver do que somos capazes. Aposto que Aleto venceu o adversário que ganhou de você. - Não venha você, dando uma de feminista. Ela lutou muito bem sim, mas foi derrotada por 3X1. - Pelo menos foi melhor que vinte homens, inclusive você e seu amigo rofegano. - Não seja antipática. Eu era um garoto entre lutadores profissionais e fiz uma ótima campanha. Oitavo lugar num torneio com 24 caras é muito honroso. - Pois só falta você dizer que vice-campeonato vale alguma coisa! - Não vou discutir. Religue o gravador para saber quem foi o campeão. Enquanto Ômega eliminava Psi, o representante de Beta vencia o Açougueiro de Sigma. A final seria entre Brasil e Rússia, e fomos todos para Errionópolis. A final teve o maior público do torneio e a luta mais demorada, sendo disputada em melhor de quatro pontos. O capoeira Beltrão começou fazendo dois pontos, mas Dimitri virou a disputa para três a dois. Beltrão ainda marcou outro ponto, mas o russo deu uma voadora que empurrou o brasileiro para o gol. O torneio havia acabado, e o campeão era Dimitri Bucvostróv. Eis a tabela da fase eliminatória:

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O campeão manteve-se como durante toda a competição. Frio como a Sibéria, de onde veio. A comissão organizadora estava frustrada com a eliminação de seus representantes, mas cumpriram o protocolo e entregaram o cetro de líder máximo de Afanésia. Quando o anel apareceu e passou para a mão de Dimitri, eu senti uma tonteira, mas o povo me ignorou. Era o fim de um sonho. Surgia naquele momento o "Super Capitão Ômega". Ele perguntou para Aristarco como usar o anel, mas esse não sabia. Eu dei um sorrisinho meio maroto, e lembrei do Manual que ficou em Brasília no meio de meus livros da escola. Ninguém sabia da existência desse livro, e não seria eu que iria contar para eles. Fomos para o palácio arrumar as malas e encontramos as Novas Erínias. Elas também iam embora da ilha, pois seu maior objetivo era lutar com Alphestés, e isso não aconteceu. Tisífone me contou que elas queriam uma vingança pela desgraça do pai delas. Apolo Psalônikos foi o idealizador da Sociedade do Ressurgimento, mas tinha algumas dívidas com Aristarco Alphestés, e vendeu sua parte para o sócio no empreendimento. Chateado, saiu em uma lancha para o altomar e acabou desaparecendo. Elas culpam o empresário e viram no torneio uma chance para a vingança. Como não conseguiram nem mesmo enfrentar o filho dele, deixariam a ilha que agora seria governada por um homem ligado a esse grupo que elas desprezavam. Eu também não tinha 110


o menor interesse em ficar lá e assim fomos todos embora. Mas antes a terceira Erínia aprontou uma confusão. Megaira deixou uma mensagem escrita no muro do palácio com uma tinta vermelha muito parecida com sangue. Ela prometia voltar e dar um fim a todos os Alphestés. O líder da Sociedade e da Vila Alfa mandou prendernos, mas já estávamos a caminho do porto de Úpsilon. Quando chegamos lá, o comandante do barco já aguardava com alguns capangas para nos deter. Foi aí que as três entraram em ação, pondo quatro homens em nocaute. Embarcamos e fomos para a Itália, onde nós descemos. Elas seguiram para a Grécia. Éramos cinco caras perdidos na Europa, sem dinheiro ou portal teleportador que nos levasse para casa. Rupert sugeriu que fôssemos para a Alemanha, onde encontraríamos parentes dele que poderiam pagar passagens de volta para o Brasil. John tinha alguns dólares que pagaram a passagem de trem. Chegamos em Düsseldorf e encontramos um tio de Rupert. Era o mesmo que havia cuidado do Senhor Erro quando este ficou na Alemanha. Ele não foi muito gentil com o sobrinho, deu o dinheiro e nos mandou embora. Achamos melhor ir logo mesmo, pois o doutor estava preocupado com o R-2.1, o andróide que ficou no meu lugar. Eu estava tão chateado com a perda do anel que nem me preocupava tanto. Mas fiquei com receio na hora de entrar no avião. Voar com um anel tudo bem, mas eu não me sentia nem um pouco a vontade em um avião. Lembro-me de um refrigerante que Gladion me deu; e depois de acordar no Aeroporto Internacional de Brasília.

19 - OS HERÓIS DA CIDADE Cruzeiro (DF) , 2º semestre de 1993 Voltamos para casa e tentamos esquecer os fracassos da viagem, mas era difícil. O Dýnamis Érrion passou para as mãos de um estranho, nenhum de nós chegou ao menos na final do Grammagon, tivemos que pedir dinheiro emprestado para voltar e a Nave Triangular estava quebrada e largada na ilha Afanésia. Pelo menos o andróide conseguiu cumprir seu papel e meu substituiu como devia. Ele ainda gravou tudo o que viu para eu saber o que se passou enquanto estive fora, e assistimos a mais uma fita sobre o passado. Eu estava de férias na escola e 111


o máximo que ele podia ter visto era alguma coisa com minha família, mas estava tudo bem. Quanto à cidade em que moramos, ele presenciou algo no mínimo preocupante. R-2.1 vinha periodicamente a casa de Rupert para se recarregar e viu o Sr. Erro e Karontino rondando a quadra. Como em seu programa havia uma instrução para observar algum inimigo do S.C.R que estivesse por perto, ele os seguiu e foi até o buraco onde ficava a base dos vilões. Sem ser visto, se aproximou do local e focalizou uma pequena nave com eles, a N.T.E. Gladion se levantou e mostrou-se irritado. Os bandidos conseguiram consertar sua nave e ficaram com ela. Ele foi até o sótão e voltou com uma metralhadora disposto a recuperar o que era dele. Ninguém sabia da existência daquela arma e o pessoal ficou preocupado. Mas ele nos lembrou que era antes de tudo um soldado, e deveria concluir sua missão de uma vez por todas. Como não havia mais um motivo para continuar na Terra, ele recuperaria a nave e regressaria à Rôfega. Caixinha arregalou os olhos, e abriu um sorriso de orelha a orelha. Enfim ele voltaria para casa, pois mesmo com a ameaça disto não acontecer, sempre havia uma esperança, e dependia de uma missão de resgate. Só os terrestres mostraram-se contrários à idéia, afinal eles iam usar uma metralhadora contra humanos, e um deles era irmão de Rupert. Houve uma pequena discussão, mas Gladion garantiu que não fuzilaria ninguém, e que a arma era apenas para intimidá-los. Concordamos então em ir até lá para ajudar, mas descarregamos a metralhadora antes. R-2.1 mostrou o caminho, e foi aí que reconheci o local de meu primeiro confronto com Ventus Malus. Entramos sorrateiramente e vimos apenas Camaleon dormindo em uma rede. Gladion se aproximou dele e o derrubou, para em seguida amordaçar e amarrá-lo em uma cadeira. A nave estava em ordem, e seus controles restaurados. Ela só precisava de um pouco de sol para recarregar suas baterias. Começamos a empurrá-la para fora, mas assim que a pusemos perto da entrada do buraco, vimos que o Sr. Erro estava chegando. - Você ainda não disse porque chamavam esse homem de "Sr. Erro".

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- Ele ganhou esse apelido de seu tio, pois não era muito "hábil" com suas invenções. Gladion logo sacou a metralhadora e rendeu o cientista. Fomos todos para dentro do buraco, e perguntei como ele havia consertado a nave e saído da ilha. Com uma arma ameaçando-o, ele contou tudo: - Quando Karontino foi eliminado do torneio, eu o levei para o laboratório do palácio e pegamos todas as peças que pudemos carregar. Depois fomos até a nave de vocês e eu a consertei. Ele havia apenas trocado uma peça que Gladion não tinha como repor antes. Se ele tivesse a tal peça, a nave já estaria funcionando perfeitamente e os dois rofeganos já teriam voltado para seu planeta. Mas quando pensamos que estava tudo resolvido, fomos surpreendidos por Karontino, que puxou Rupert por trás e o ameaçou com uma faca. Tivemos que soltar Camaleon e Erro, e passamos a ser os reféns. Fomos presos em uma jaula no interior do buraco observando eles esvaziarem o lugar e carregar a N.T.E., para em seguida irem embora e nos deixar largados naquele lugar. Karontino ainda disse alguma coisa sobre o que eles tinham planejado, mas não entendi direito. Parece que eles iam abrir um negócio de mineração no Cruzeiro e fazer concorrência aos afanésicos. Quando saíram, olhamos para Caixinha e ele já segurava o bastão de miniaturização. John ainda ficou com medo de ser reduzido, mas Caixinha era a prova de que não havia perigo, pois passava a maior parte do tempo assim. Ficamos do tamanho de ratos e passamos por entre as grades, mas só voltaríamos ao normal após uma hora. O bastão não servia para restaurar o tamanho, e era preciso esperar o fim do efeito. Fomos caminhando para saída e passamos por debaixo da porta. Do lado de fora estava a vegetação do cerrado e para não arriscar uma aventura por essa selva, esperamos até voltarmos ao normal. Só depois fomos embora. De volta ao Cruzeiro, vimos que a porta da casa de Rupert fora arrombada. Lá dentro estava a maior bagunça, e concluímos que era obra daqueles três bandidos. Eles levaram os equipamentos que nós tínhamos pego em Afanésia e algumas anotações do doutor. Este demostrou a tristeza de ter seu irmão 113


envolvido com Karontino e Camaleon, e ainda disse que nós não éramos melhores, pois também havíamos pego várias coisas sem pedir aos afanésicos. Com o clima ruim, eu achei melhor ir para casa, mas fui seguido por R-2.1, que se achava no direito de continuar no meu lugar. Comecei a discutir com o andróide, e ele se irritou comigo. Fui surpreendido quando ele levantou vôo e disparou um raio na minha direção, para depois sumir no céu prometendo honrar o nome de Super Capitão Erre. Fui para casa e notei que ele já havia passado por lá e pego algumas coisas minhas. Um agasalho, uma toalha e meu outro boné. Olhei pela janela e vi o robô fantasiado de S.C.R! Quase joguei uma cadeira em cima dele, mas me controlei e pedi para ele voltar. Felizmente não havia ninguém em casa e pude conversar com a máquina. Ele disse que um herói precisava deter os vilões e ele era o único capaz. Depois saiu voando e foi embora de novo. Tive que ligar para Rupert e pedir auxílio. Do outro lado da linha ele parecia mais calmo e me disse que R-2.1 tinha os mesmos poderes de Relâmpego. Para detê-lo seria preciso alguém com super-poderes, ou o controle remoto do robô, que estava com ele. Fui correndo para lá. A casa já estava arrumada e eles tinham achado um rastreador de rofegnum no meio da bagunça. Deve ter sido esquecido pelo Sr. Erro e achamos que eles deveriam estar procurando pelo metal aqui mesmo na cidade. Saímos para procurar e fomos cada um para um lado; mas antes pegamos um "walkie-talk" para mantermos contato. Dos cinco eu era sem dúvida o que melhor conhecia o lugar e acabei achando os vilões dentro de uma escola no Cruzeiro Novo. Com as férias, não havia muito movimento e eles estavam atrás da quadra de esportes. Chamei os outros e esperei até eles chegarem. Pulamos o muro e nos aproximamos sorrateiramente. Eles estavam usando um raio trator da nave para escavar um túnel no chão, e o rastreador de rofegnum começou a piscar. Devia existir uma pequena jazida dentro da escola e eles estavam extraindo tudo. Com não vi metal do lado de fora, concluímos que estavam enviando o rofegnum pelo portal. Mas para onde? Nesse instante, R-2.1 chegou e nocauteou Camaleon e Karontino de uma só vez. Entrou na N.T.E. onde o Sr. Erro 114


controlava o raio e fez um gesto parecendo que ia atirar nele. Rupert saiu correndo na direção dele e quando chegou perto sacou o controle remoto desligando o robô, mas foi golpeado por Camaleon que se recuperou rápido. Aí tivemos que intervir e começou uma briga feia. No fim nós conseguimos amarrar os três em uma árvore, depois desligamos o raio e conferimos o buraco. O rastreador não indicava presença de nenhuma pedrinha de rofegnum, e os aparelhos da nave mostravam que ele foi transferido para o Cinturão de Asteróides. Com a operação, a carga da N.T.E. estava baixa de novo, mas ainda podia nos levar da escola para o quintal de Rupert. Saímos deixando apenas o buraco nos fundos da escola. Começamos a interrogar os vilões, mas eles não nos contavam nada, então Gladion foi pegar a metralhadora e desta vez demonstrou que ela estava carregada. - Nós íamos vender o metal para um afanésico que consertou a nave! - Quem é esse afanésico? - Gladion mostrava rispidez e cutucava Camaleon com a metralhadora. - Ele nos mataria se disséssemos! - E eu os teleportarei para os asteróides se não disser! Ninguém duvidou da ameaça! - É o Aristarco! O líder da Sociedade do Ressurgimento! - Camaleon entregou tudo de bandeja. - E ele vai nos destruir agora seu boliviano estúpido! Karontino, que estava amarrado em uma cadeira como os outros, se jogou em cima do parceiro querendo agredi-lo, mas foi detido por Gladion. Não entendemos para quê Aristarco iria querer mais rofegnum, pois na ilha havia bastante, e Camaleon diz que era para se livrar de nós. Não sabíamos como seria isso, mas precisávamos tentar algo e mandamos R-2.1, reprogramado, para o espaço, para encontrar o metal. Assim impediríamos que o empresário concluísse seu plano. Antes dele ir para o espaço, eu me lembrei de pegar minhas roupas de volta, mas Gladion e John sugeriram que eu as vestisse como fez R-2.1; com a toalha nas costas e o boné enterrado na cabeça para ficar parecido com o S.C.R. Eu não gostei da piada e fui para casa de novo. 115


Cheguei lá e vi um aparelho no chão do meu quarto. Era outro rastreador de rofegnum, que foi esquecido lá por R-2.1. Achei melhor entregar para Rupert, mas como ele estava piscando muito, resolvi verificar onde havia mais rofegnum e descobri outra jazida localizada no campo de terra perto da feira. Cheguei ao mesmo tempo dos outros e eles me disseram que Karontino contou o resto do plano. O rofegnum que eles mandaram para o Cinturão de Asteróides seria impulsionado de volta à Terra, e guiado pela jazida que ficou aqui, atingindo a cidade e pulverizando o Cruzeiro todo. Ele só contou isso, porque ficou com medo de ser pulverizado junto. Com a força que a nave tinha acumulado nas últimas horas, dava para ir até os asteróides e interceptar o meteoro antes dele se aproximar da Terra. Gladion e John entram na nave e se teleportam enquanto C.M. e Rupert tomam conta dos vilões. No espaço, John fica nos controles da nave, enquanto Gladion vai até o meteoro usando uma roupa de astronauta da nave. Ele coloca uma bomba para fragmentar o minério depois que ele for teleportado para mais longe, e assim evitar que volte a ser usado por alguém. Voltando à nave, o meteoro é teleportado para um ponto distante da galáxia. Em seguida voltam à Terra e teleportam a jazida que está no Cruzeiro para junto da que vai explodir. Com uma última busca, constatam que não havia mais rofegnum em um raio de dez quilômetros e portanto não havia como atrair um meteoro de rofegnum para cá. Um outro meteoro comum até poderia aparecer, mas a chance disso acontecer é reconhecidamente desprezível. Voltamos para a casa de Rupert e ele faz alguns cálculos em seu computador. Com os dados que ele tinha, mostrou para gente o motivo da existência dessas jazidas. Elas eram fragmentos de um cometa que saiu de Rôfega quando ela se formou, e atingiu a Terra no local onde hoje é Afanésia. Alguns fragmentos se espalharam pelo planeta e com certeza deveriam existir outros mais afastados, mas por hora, o perigo tinha passado, e a cidade estava salva.

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20 - A SUPER CAPITÃ ERRE Cruzeiro & Afanésia , novembro de 1993 Logo após essa aventura, tivemos um outro problema. Com a nave no quintal de Rupert para absorver energia do sol, achávamos que Gladion e Caixinha voltariam para seu planeta, mas subestimamos nossos adversários. O Sr. Erro pediu para ir ao banheiro, e escapou pela janela. Viu a nave no quintal, entrou nela e ameaçou pulverizar a casa com um raio. Tivemos que soltar Karontino e Camaleon, e os três fugiram com a nave. Esperamos por uma volta deles, mas isso não aconteceu, e Caixinha mostrou-se muito frustrado em não poder voltar para casa. Ele perdeu aquele jeito alegre, e não saía mais comigo. Passou a morar na casa de Rupert aonde podia mexer nas máquinas que lembravam sua terra. Aos poucos fomos nos afastando, e eu ia cada vez menos no Cruzeiro Velho. Em uma das poucas vezes que fui lá durante essa época, vi uma carta que foi enviada para Rupert por Alberto Beltrão, o vice-campeão do Grammagon, que contava sobre o recém instalado Reino da Afanésia. As notícias não eram muito animadoras. O Super Capitão Ômega (Nessa época eu passei a achar o nome muito esquisito!) governava como um ditador, e nem a Sociedade do Ressurgimento conseguia dominá-lo. Poucas vilas receberam melhorias e as pessoas que moravam lá se queixavam da falta de urbanização. Dimitri só usava seus poderes para se divertir, e cobrava altos impostos para manter o palácio bem luxuoso. Assim como na época de Érrion, ocorreu uma revolta, mas essa tinha motivos mais justos. Infelizmente o povo não tinha como enfrentar o homem com o anel e voltava a se sujeitar a seus desmandos. A única solução que os descontentes acharam foi abandonar a ilha, mas até nisso ele se mostrou despótico, e impediu a fuga de quase todos. Apenas o pequeno grupo de Beltrão conseguiu enganá-lo, e foi para a ilha de Creta, graças a ajuda de uma garota que também tinha um anel e usava roupa idêntica ao Super Capitão. Essa última notícia reavivou nosso interesse em Afanésia. Eu fui o primeiro a sugerir uma viagem de volta, mas 117


surgiu uma forte oposição. Gladion não queira mais o meu envolvimento na história e era apoiado por Rupert. Só me restou uma coisa a fazer. Fui ao sótão do doutor e peguei as máquinas que eram minhas. Disse que o grupo já não era mais o mesmo e que eu ia agir sozinho. A atitude que acabara de tomar foi meio precipitada, mas eu ainda tinha alguma esperança de recuperar o anel e sabia que eles não me ajudariam. Por isso fui até o parque da cidade executar o que tinha em mente. Eu já sabia mexer naqueles aparelhos de Érrion, e ia usá-los para chegar à ilha invisível. Ainda que arriscado, eu usei o controle remoto de R2.1 e o chamei de volta. Ele havia ficado no espaço, pois não conseguira interceptar o meteoro de rofegnum, e nós o deixamos por lá mesmo. Felizmente o robô ainda estava em bom estado. Reinstalei o programa com minha personalidade, mas modifiquei um pouco para evitar futuras rebeliões. Depois peguei o rastreador de rofegnum e, se ele fosse exatamente igual a Relâmpego, teria algum aparelho para penetrar na ilha. Com este item localizado, subi nele e fomos voando para Afanésia. Eu ainda tinha um mês de aula, mas queria muito fazer aquilo, por isso o reprogramei para voltar e ocupar meu lugar mais uma vez. Ele só teria que fazer as provas finais e em sua memória havia a matéria que estudei. Pousamos perto do lago próximo à capital e em seguida ele voltou para o Brasil. Achei que ficaria incógnito, mas alguém me viu e me suspendeu no ar. Era a tal garota de quem Beltrão falou na carta. Ela me levou até um galpão afastado da vila e só então me deixou vê-la de frente. Devo admitir que fiquei meio abobado no início, mas mostrei que não estava satisfeito em ser levado para quilômetros de distância do lugar que tinha planejado. Sem se importar com meu mau humor, ela me mostrou um verdadeiro batalhão lá fora. A população estava armando uma nova revolta, mas essa contava com muito mais gente. Um dos homens veio até o galpão falar conosco. Era Beltrão, que tinha voltado à ilha e agora liderava o pessoal contra o novo Super Capitão. A garota achou que eu era algum espião e já queria me castigar, mas fui inocentado por Beltrão, que se lembrava bem de mim, afinal era eu o antecessor na posse do anel. 118


Minha curiosidade sobre ela era grande, mas quem me disse seu nome foi outra pessoa. Um clarão se fez no meio do mato, e todo mundo foi correndo para ver o que era. Do meio da vegetação saiu o meu velho conhecido Gladion Rogher. Eu me aproximei dele, mas quem chamou sua atenção foi ela. Ele olhou para a garota com roupa de Super Capitão e disse: - ERRIANA ! Aí eu arregalei os olhos e me virei para ela. Ainda pensei que fosse apenas uma xará, mas não. Ela era a filha do criador do anel, Érrion Pontíarkes. Fomos para o galpão, e Gladion me contou o que sabia. A Câmara de Suspensão de Vida onde ela havia sido presa pelo General Antirres não foi atingida pela explosão que destruiu a cidadela de Uórde, mas sim empurrada com toda a sala para mais fundo no solo. Como o cabo que ligava a câmara com a mina de rofegnum não se rompeu, ela continuou em animação suspensa graças à bateria permanente que tinha. A cerca de cinco anos atrás, o Supremo Conselho Rofegano realizou algumas obras no local onde foi Uórde, e as escavações acabaram achando a sala intacta e Erriana lá dentro, do mesmo jeito que estava há 2.500 anos. Um grupo de tecnólogos conseguiu retirar as travas e ela foi liberta com a sua saúde em ótimo estado. Sua tutela ficou a cargo do Conselho, que intrigado com sua existência, convocou um agente prestes a ser despedido para uma missão sem previsão de retorno. Eles queriam que um piloto para a nave que estava em posse dos Supra-rofeganos descobrisse de onde ela vinha. Ninguém em Cidade Rôfega tinha mais registros sobre seus antepassados; e a existência da garota, que contou a eles o pouco que sabia, mais a nave poderia ajudar na solução deste mistério. Por isso Gladion foi enviado na N.T.E., que era a mesma nave usada pela família real de Afanésia na fuga da ilha para o planeta Rôfega. Sua missão era recolher o máximo de dados possíveis e armazená-los em uma espécie de Cronoscópio para, talvez, depois voltar ao planeta. O fato de Caixinha ter vindo com ele o deixou preocupado, pois ele não sabia o que encontraria na Terra. Como não poderia voltar à Rôfega antes de dois anos, (tempo para recarregar a nave para uma viagem interplanetária) ele ficou encarregado de cuidar do garoto também. Depois foi a vez 119


de Erriana nos contar o que fazia na Terra e que anel era aquele que ela possuía. Como ela estava sob cuidados do Supremo Conselho, não podia sair de Cidade Rôfega, e também não podia ir à área residencial. Ela ficou como uma prisioneira na sede do Conselho, e tentou fugir algumas vezes, mas só teve sucesso após uma aula de alfabetização. Estavam ensinando a garota a ler com o alfabeto rofegano, e isso serviu para ela decifrar o que estava escrito no anel que seu pai lhe dera. Érrion tinha gravado o código de ativação do anel com as letras que seu antepassado havia conhecido na Terra, e esse mesmo alfabeto foi o difundido em Rôfega pelos afanésicos remanescentes. Foi questão de tempo até ela apertar os dois botões de uma só vez e dizer "DÝNAMIS ÉRRION" ! Com o anel ativado, ela foi aprendendo a usar os poderes aos poucos. Mas o principal ela aprendeu em um livro que foi encontrado com ela. Um pouco antes de ser presa por Antirres, ela estava lendo esse livro, e foi posta na câmara com ele. Era a primeira versão do Manual do S.C.R, escrito à mão por Érrion. Ela descobriu todas as possibilidades do anel e na primeira oportunidade abriu um Portal de Teleporte para a Terra, e assim se livrou do regime de internato a que estava submetida. Chegando à Afanésia, ela tomou conhecimento da situação dos neo-afanésicos e passou a ajudá-los desde que chegou, a umas duas semanas. Beltrão esteve em Creta para comprar armas e foi trazido de volta por ela. E ele trouxe consigo mais três combatentes, as Novas Erínias. Eu não me dei por satisfeito e perguntei como Gladion chegou à ilha. Ele revelou que possuía um único gerador de portal, que deveria ser usado para uma pequena distância e apenas em caso de emergência. Ao saber da existência de uma Super Capitã Erre, ele deduziu que era Erriana, graças às informações do Cronoscópio. A viagem de Erriana mostrou que o anel pode abrir portais interplanetários, desde que esteja devidamente carregado. Era a chance dele e de Caixinha voltarem para casa. Erriana ainda lembrou que o anel dela já havia feito uma viagem, e não poderia fazer outra tão cedo, mas tanto Gladion 120


quanto eu tínhamos a mesma idéia, pegar o anel que estava com Dimitri. A idéia era boa, mas quem conseguiria fazer isso? Erriana não sabia usar o anel totalmente, faltava-lhe uma certa experiência, e os revolucionários poderiam deter os aliados de Dimitri, mas não o próprio. Precisávamos de alguém que já tivesse habilidade no manejo do anel. Gladion viu o olhar que troquei com ela e tentou impedir, mas já era tarde. Ela pronunciou a palavra certa para desligar o anel, tirou-o do dedo e entregou para mim. Eu estava de volta à ação!

21 - CODINOME: ERRE Ilha Afanésia , novembro de 1993 Foram apenas quatro meses, mas eu senti uma falta danada de ser o Super Capitão Erre. Saí voando pela janela e dei uma volta ao redor do acampamento, para depois pousar eufórico na entrada do galpão. Entrei e fui repreendido por Gladion, mas Erriana não se importou com o meu acesso de alegria, e apenas avisou que aquilo era um empréstimo. Eu fiz que sim com a cabeça e me sentei para planejarmos nossa ação. Enquanto a população atacava o palácio, eu deveria ir atrás de Dimitri e tomar o anel dele. Para facilitar minha missão eu deveria economizar energia e ficar com o anel no sol, enquanto o Super Capitão Ômega se escondia nas sombras de seu quarto. Eu fui então para o telhado do galpão recarregar o Dýnamis Érrion, versão feminina. Este anel era diferente pois não formava uma capa, e quando estava com ela, deixava o uniforme com um desenho mais próprio para uma garota. Felizmente o anel percebia quando um homem o usava e fazia uma roupa idêntica à do outro anel; ainda que sem a capa, da qual eu senti falta. Chegando a hora de minha missão desci por uma escada mesmo e reencontrei Tisífone. Ela e suas irmãs iam tomar parte do grupo de assalto. Eu fiquei surpreso com sua presença, mas ela e as outras ainda tinham a idéia de se vingarem de Alphestés, que fazia parte do grupo de Bucvostróv. Desejei sorte e ela

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retribui com um beijo no meu rosto, para depois ir atrás das irmãs. Fiquei meio abobado na hora, e ainda esbarrei em Erriana que veio me chamar. Ela ficaria no galpão pois não era nenhuma combatente, mas me deu mais um incentivo, e desejou sorte ao me dar um beijo no outro lado do rosto. Eu sorri e levantei vôo, pois só tinha duas faces, e era bem tímido. Do alto de uma árvore, pude ver que os soldados de Dimitri já se posicionavam. Estavam bem armados, mas se eu fosse enfrentá-los, poderia sair em desvantagem contra o S.C. Ômega. A batalha começou e fui para o palácio, quando esbarrei com o adversário, que saía pela janela. Ele me reconheceu e não perdeu tempo, ao disparar um raio com o anel. Começamos a duelar nos céus, mas desta vez era de igual para igual. Da primeira vez que isso ocorreu minha desvantagem era enorme, e mesmo com o anel setuplicando a força individual de cada um, eu tinha o fator experiência do meu lado. Quando acertei um soco que o jogou longe, tive tempo de olhar para baixo e ver que ninguém estava lutando. Os soldados de Bucvostróv tinham parado de defender o tirano quando viram que ele estava sendo desafiado. Eu voltei à carga e disparei alguns raios para empurrá-lo a uma área despovoada. Essas brigas costumam arrebentar com tudo em volta. Ele se recuperou rápido e também me acertou de jeito. Devolvi com um outro soco e o anel prendeu-se em um pedaço de pano costurado em seu peito. Ele tinha posto o desenho do ômega por cima do erre estilizado de Érrion, e eu acabei arrancando na hora. Só então me toquei que não fazia sentido o representante de Ômega ficar com o anel. Ele era criação de Érrion, e deveria pertencer a seus descendentes ou às pessoas de Rhô que foram escolhidas como seus sucessores. Se o rei de Afanésia passasse a ser de uma outra letra, não tinha porque ficar com o anel. Eu ainda disse isso para Bucvostróv, mas só o deixei mais irado. Resolvi mudar de tática, e usei os conhecimentos do Manual do S.C.R. Abri um portal e entrei nele, para depois aparecer por trás. Acertei um soco de surpresa e puxei o anel do dedo dele. 122


Pus o velho Dýnamis Érrion no bolso, e fui pegar o russo. Pousei com ele no meio do pátio do palácio, onde todos nos aguardavam. Ele ainda reclamou do meu golpe baixo, mas não havíamos estabelecido nenhuma regra. Para acabar com sua moral, ainda descobriram algo de comprometedor em seu quarto. Um vidro de pílulas, seringas e uma ampola de esteróides anabolizantes. Ele vinha tomando aquilo desde o início do Grammagon, e lutou dopado. Aplicando as leis do Comitê Olímpico, ou do próprio Grammagon, ele não teria direito a nenhum título de Super Capitão. Derrotado e humilhado, Dimitri Bucvostróv foi mandado embora da ilha. Ele deveria pegar algum bote e partir imediatamente. Claro que ele não deixou de jurar vingança antes disso, mas ninguém deu muita atenção. O problema agora era a sucessão no governo da ilha. Pela lei, o novo líder máximo seria o segundo colocado no torneio das letras, no caso o brasileiro Alberto Beltrão. Aristarco e Giovanni ainda tentaram se opor, mas a população mostrou-se aliada ao capoerista. Teríamos agora um Super Capitão Beta, não fosse o impecilho do próprio. Esse título foi criado por Érrion após o 1º Grammagon para ser usado pelos líderes da Vila Rhô. Com a transição do poder para o representante de outra letra, perdia sentido a denominação Super Capitão. Beltrão preferia ser conhecido então como o Mestre Beta. Era o momento de levantar a questão que pensei durante a luta com Bucvostróv. Como Beltrão mostrou-se pouco interessado em ficar com o anel, Erriana concordou que o outro também era herança dela. Eu pronunciei  (o código para desligar o anel!) e tirei o Dýnamis Érrion do dedo, para então entregar os dois a ela. Gladion ficou me olhando, sem acreditar muito no que eu fizera, mas preferiu lembrar da viagem de volta. Nós nos despedimos de Beltrão, das Novas Erínias e do povo afanésico, para voltar para Brasília e buscar o Caixinha Mágica. Gladion vestiu a última roupa anti-radiação que havia no laboratório de Érrion, mas ficou esperando no pátio comigo 5 Pauomai (fazer cessar, em grego)

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enquanto Erriana olhava as invenções de seu pai. Beltrão deixou ela pegar as cópias das fitas do Cronoscópio, que Aristarco havia feito e avisou que queria os aparelhos que eu e o doutor tínhamos pego. Eu balancei a cabeça e prometi devolver. Erriana ainda foi ao túmulo com a estátua do primeiro Super Capitão, e depois nos chamou para ir embora. Ela jogou o anel que foi de seu pai para mim, e disse: - Seria bobagem ficar com dois anéis. Você já mostrou que sabe usá-lo. Fique com este depois que formos embora, e tome conta de seu planeta. - Era tudo que você queria, não é garoto? - Gladion falou uma verdade, mas fiquei calado. Ela abriu o portal com seu anel, para irmos até a casa de Rupert e eu ativei o meu para entrar protegido no portal. Gladion estava com o traje e entrou também. Em poucos minutos chegamos ao Cruzeiro Velho com muitas novidades para contar. Passamos a tarde toda relembrando as nossas aventuras, até que chegou a hora. Caixinha Mágica estava muito ansioso, mas também mostrou-se chateado em deixar a Terra. Nós dois tínhamos ficado muito amigos, e mesmo na pior fase, continuamos muito ligados. Para evitar choradeira, ele foi buscar um traje no sótão enquanto eu ativava o Portal. Para abrir um era preciso estar com a força do anel em, pelo menos 80%. Para guiar a direção, o anel de Erriana já daria conta do recado. Gladion pegou seus equipamentos e a metralhadora e se despediu bem rápido, sendo seguido por Caixinha Mágica. Erriana ainda sugeriu uma visita à Rôfega, mas eu só poderia voltar para casa em dois anos, então ficamos apenas em um forte abraço. Eu ainda tentei "tirar onda" ao dizer que o Super Capitão Erre cuidaria de tudo agora, mas ela me interrompeu: - Você se esqueceu do que Alberto falou? O título de Super Capitão terminou com o último líder de Vila Rhô. Você não pode usá-lo mais. - E do que eu vou ser chamado agora? Só de Erre ? - Eu tenho um nome que é perfeito para você: O DINÂMICO ERRE ! Ela disse isso e entrou no portal que a levaria de volta para seu planeta. 124


- Muito bem, mais fitas completas. Esse já é o terceiro pacote, mas sinto que estamos próximos de um entendimento. - Isso é bom, mas você ainda não me disse para quem trabalha ou quem era aquele cara. - Não vamos começar a discutir. Dessa vez você já contou alguma coisa. Só falta largar essa idéia de rechear os fatos com acontecimentos fabulosos. - O que exatamente eu disse, que você acreditou? - Acho melhor não dizer. Vamos nos ver amanhã? - Não sei. De que adiantam esses encontros ? - Já estão produzindo algo. Por favor, eu sei que você pode me ajudar ! - Tá legal. E aonde vai ser? - No Jardim Zoológico, de manhã cedo. - Certo.

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ï€ PARTE IV

O PLANETA

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22 - A CAMINHO DE RÔFEGA Cruzeiro , julho de 1994 - Preparado para mais um emocionante narração? - Vejo que está de bom humor. Pois hoje você irá conhecer a primeira grande aventura do rebatizado herói, Dinâmico Erre ! A Copa do Mundo nos Estados Unidos havia acabado há três dias e todos ainda festejavam a conquista do tetracampeonato pela Seleção Brasileira. A cidade estava toda pintada de verde e amarelo e as pessoas estavam mais alegres, incluindo um certo super-herói adolescente que tinha assumido a condição de protetor da capital do Brasil. Sempre agindo ocultamente, o Dinâmico Erre cumpria suas tarefas protegendo os cidadãos de todo o Distrito Federal e até de outros pontos do país. Claro que não dava para evitar todas as tragédias, mas dentro do possível eu realizava algumas façanhas e participava de muitas aventuras no meu tempo livre. Certa vez estive em São Paulo e conheci dois caras que me ajudaram em um problema na capital paulista, e até fiquei desconfiado de que eles também tinham super-poderes mas não consegui confirmar e nem os vi mais. Quando voltei para casa recebi uma mensagem para ir até o Mar Mediterrâneo. Meu anel estava piscando em Código Morse de novo e alguém queria me ver na ilha da Sicília. Fui logo para lá e vi um facho de luz em forma de erre no céu. Voei em direção à fonte da luz e descobri quem estava me chamando. Era Erriana, que depois de oito meses voltou para a Terra e precisava de meu auxílio. Saímos voando para um local mais afastado e ela me contou qual era o problema. Depois que ela voltou para Rôfega com Gladion e Caixinha, tudo voltou ao normal. Ela continuou vivendo em um regime de internato, mas agora estava sob a tutela direta de Gladion que conseguiu uma promoção e tinha trânsito livre na sede do Conselho, mas manteve em sigilo a existência dos anéis para que ela pudesse sair de vez em quando. Caixinha voltou para a casa de seus pais em Katcharan do Sul, mas escrevia para ela e Rogher quase sempre. 127


O problema ocorreu foi semana passada. Um grupo de terroristas conseguiu burlar a segurança da Acrópole e invadiu a sala de reuniões do S.C.Rof, deixando como reféns os dezesseis membros e mais dois seguranças. A exigência deles era a abertura da velha mina de antirrium para que seu chefe pudesse absorver energias e então conquistar toda Rôfega. O tal chefe dos seqüestradores era o furacão rofegano Ventus Malus. Eu caí para trás quando ouvi esse nome. Achava que ele já tinha morrido há anos, mas não. Estava vivo e aprontando. Só não conseguia entender mesmo, foi como ele ficou longe por tanto tempo, sem dar sinal de vida. Erriana me contou mais: - Os terroristas que renderam os conselheiros não foram vistos por ninguém, e apenas comunicaram o seqüestro por auto-falantes, mas Gladion disse ter reconhecido a voz de um deles, e era Karontino. - Então Camaleon e o Sr. Erro devem ser os outros. Mas como eles voltaram a trabalhar para Ventus Malus? Devem ter usado a N.T.E., pois a última vez que os vi, eles tinha roubado a nave de Gladion. - Os três estão bem equipados, pois conseguiram entrar sem ser vistos por ninguém e ainda encontraram a sala de reuniões, que fica em um ponto secreto da Acrópole. Por isso precisamos de sua ajuda, afinal você já enfrentou Ventus Malus antes e o venceu. - Pode contar comigo. Mas antes me diga como você chegou até aqui, se seu anel ainda não teve tempo de repor a carga para uma viagem interplanetária? - A Guarda Rofegana conseguiu apreender a N.T.E. que realmente estava com eles e ela foi recarregada para que eu abrisse um portal e viesse para cá. Para voltarmos, teremos que usar a energia dos dois anéis e carregá-la mais uma vez. - E para eu voltar, como farei? - Chegando lá iremos usar toda tecnologia disponível para recarregar o anel o mais rápido possível. Só não fiz isso com o meu para não comprometer a recarga do seu! - Se é assim, vamos nessa. Eu ainda posso aproveitar e conhecer o seu planeta!

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23 - O FURACÃO VOLTA A ATACAR Cidade Rôfega , julho de 1994 Chegamos quatro horas depois e o portal abre-se para nós em uma praia deserta. Deixamos a nave por lá e vamos andando até os anéis se recarregarem. Só não chegamos antes porque resolvi reativar R-2.1 e deixá-lo no meu lugar novamente, sendo que dessa vez nem avisei Rupert. Por fim avisto uma cidade no alto de uma montanha. É a capital do planeta e sede do Supremo Conselho Rofegano. Esperamos até os anéis atingirem uma boa carga e entramos na cidade. Os guardas barram nossa entrada, mas Erriana mostra uma credencial e nos deixam passar. Fomos direto para a Acrópole onde a Guarda Rofegana estava de prontidão, e no comando da operação estava Gladion Rogher. O Agente para Assuntos Especiais se mostrou contente em ver seu amigo terrestre, mas logo retomou a pose de durão. Ele me conta os detalhes da situação, e diz que a sala está trancada por dentro e tem um dispositivo explosivo que os impede de arrombá-la sem ferir os conselheiros que estão lá dentro. Como o interesse dos bandidos é a abertura de uma mina que está selada com um grande portão de chumbo, que impede a entrada do ser poderoso que pretende se abastecer com essa energia, é meu dever ir até lá para interceptá-lo. Gladion já sabia que era Ventus Malus, e por isso concordou com a minha participação nesta tarefa, mas não sozinho. Eu teria a ajuda de alguns guardas-andróides que me levariam para a tal mina. Chegando lá reconheço o local. Foi ali que Ventus Malus descobriu o isótopo antirrium, e criou o protótipo de seus óculos de força há alguns séculos atrás. Ficamos de tocaia, até que Gladion avisa pelo rádio que Ventus Malus está se aproximando. Os andróides ficam à espreita e eu decolo em direção ao furacão. Ele fica realmente assustado ao me ver, pois achava que eu não tivesse mais o anel, segundo teria lhe contado Karontino. - Vejo que continua com o Dýnamis Érrion garoto. Foi com ele que veio parar aqui em Rôfega? - Foi sim. Eu fiz amizade com o pessoal daqui, e vim fazer uma visita ... 129


Ele deve ter achado que eu abri um portal com meu anel, pois disparou um raio potente para acabar comigo. O furacão já sabia que um portal consome grande energia e me julgou enfraquecido. Como não costuma perder tempo, Ventus Malus já tentou resolver tudo na base da porrada. Mas o Sup..., quer dizer Dinâmico Erre estava bem energizado e revidou na hora. Começamos a brigar como nos velhos tempos, e um show de luzes podia ser visto nos céus de Cidade Rôfega. Ventus Malus estava bem mais poderoso, e seus raios me atingiam com mais força. Fiquei meio zonzo e ele se aproveitou para me agarrar e me arremessar contra o portão da mina. Nesse instante a guarda rofegana resolveu intervir, e saiu disparando contra ele, mas não adiantou muito. Com um só disparo ele pulverizou três robôs e deixou os quatro restantes danificados. Eu me levantei e parti para cima disparando os raios de meu anel. Não consegui fazê-lo recuar como antes, mas pelo menos mostrei que estava em boa forma. O furacão fez cara de desdém, e deu outro disparo em mim. Dessa vez voei longe, e só fui parar perto da praia, alguns quilômetros adiante. Mesmo tendo um campo de força me protegendo, eu já estava com o corpo dolorido e o uniforme rasgado, mas levantei vôo novamente e voltei para a mina. Quando cheguei lá não vi sinal do furacão. Como o portão ainda estava fechado (só havia a marca de meu corpo nele!), conclui que ele tinha ido embora. Mas isso não era nada bom, pois ele podia comunicar Karontino e os outros comparsas e estes se vingariam nos conselheiros. Fui direto para a Acrópole e encontrei Gladion e Erriana, que continuavam com os guardas do lado de fora da sala de reuniões. Contei o que houve e Gladion ficou preocupado. Passou o comando para um robô e me levou para a sala de armas. Erriana veio atrás e disse que queria enfrentar o furacão também, mas foi Gladion que mostrou-se mais disposto. Ele vestiu uma armadura e disse que nós iríamos começar uma caçada. Ele ainda pegou sua velha metralhadora, mas a pôs de lado rápido. Nossa presa era um ser gasoso, e para enfrentá-lo, precisaríamos da arma adequada. Ele pega um canhão de plasma, uma substância no estado mais quente da matéria. Erriana e eu tentamos pegar 130


uma também, mas ele não deixa, e aponta para os anéis. Só vamos poder usar o que já conhecemos. Saímos os três para pegar Ventus Malus. Do lado de fora da Acrópole, a criatura já nos aguarda. Ele olha para nós e ri. - Vocês são patéticos. Eu só preciso dar um sinal para que meus homens executem os conselheiros. - Seus homens são apenas três terrestres covardes, que só trabalham para você por medo! - E é por me temerem que eles podem fazer tudo o que eu mandar. Entreguem-se ou cumprirei minha promessa. Ficamos os três estáticos. Eu olho para Gladion, pois ele é o chefe nesta missão. O rofegano acaba atendendo o pedido do vilão, e joga sua arma no chão. Eu percebo na hora que não foi uma boa idéia, pois Ventus Malus levanta o braço direito e aponta para Rogher. Ao mesmo tempo que ele dispara, eu me jogo na frente dele, mas o impacto nos joga contra a parede. Eu me levanto, mas vejo que meu amigo se machucou. Peço a Erriana para tirá-lo de lá, pois está na hora de resolver esse impasse. O furacão começa a dar gargalhadas, diante de minha atitude autoritária, e só me deixa mais irritado. Ergo meu punho e disparo com força, para logo em seguida sair socando seu nariz. Há muito tempo eu queria acertar Ventus Malus de jeito, mas não adiantava socar em seu corpo, por isso tinha que ser em algum ponto sólido dele. Dei uns quatro diretos, mas mudei o alvo, quando olhei em seus olhos. Sua fonte de poder eram os óculos que irradiavam a energia do antirrium. Passei a socar ali e notei que ele se ressentiu. Fui jogado para o lado, mas não perdi tempo e disparei na cara dele. O furacão caiu para trás e disparou alguns raios sem direção. Continuei a socá-lo, e por fim retirei os óculos dele. Na mesma hora comecei a me sentir mal, e joguei aquele negócio para longe. Ventus Malus me derrubou e foi direto para os óculos, mas eu atirei neles e uma grande explosão aconteceu. A frente do prédio ficou destruída e eu não fiquei diferente. Olhei em volta e só vi destroços. Um pouco mais adiante estava o furacão esparramado no chão. Perto de sua garra estava alguma coisa deformada que deveriam ser seus óculos. Fui chamar os guardas e eles o removeram de lá. Depois 131


fui ver como estava Rogher e o encontrei em uma enfermaria com Erriana. Contei que venci o furacão, e ele pulou da maca. Queria voltar logo para a entrada da sala de reuniões. O líder dos guardas comunicou que Karontino estava exigindo a presença de Gladion, e este falou pelo interfone que estava lá. E também contou que Ventus Malus já havia sido capturado. O vilão exigiu uma prova e eu disse para ele abrir a porta e ver o que eu tinha em uma pequena caixa de chumbo. O que se abriu foi um visor ao lado da porta e Karontino pôde ver o que restou dos óculos. Eu pude ver o temor em seus olhos, mas ele ainda soube agir. Exigiu um tanque para que ele pudesse fugir com os outros e não queria ser seguido. Como a vida dos conselheiros ainda estava em perigo, acabamos aceitando. Eles saíram pela porta de emergência da sala de reuniões e estavam com apenas um conselheiro sob a mira de uma pistola. Os outros foram deixados a salvo na Acrópole. Os bandidos entraram no tanque, e rumaram para a região da cratera, mas não tinham aonde se esconder. Fui voando atrás deles somente para observar, e eles pararam próximo à mina. Karontino devia estar sentindo falta da N.T.E. nesse momento, e depois de algumas horas acabou desistindo e se entregou, junto com Camaleon e Senhor Erro. O conselheiro que eles mantiveram como refém estava bem, e era o representante da Rafolândia. O homem mostrou-se muito agradecido a todos nós, e ainda prometeu me fazer cidadão honorário de seu país. Com o problema resolvido, voltamos todos para a cidade para concluir a missão. Operários robôs já cuidavam da restauração da fachada da Acrópole, e médicos conferiam o estado de saúde dos outros conselheiros. Erriana pediu para eu ficar mais alguns dias em Rôfega, e assim realmente conhecer o planeta, e eu topei na hora. Enquanto isso, os bandidos foram presos assim como Ventus Malus, que estava em uma cela especial. Nós ainda fomos acompanhar o embarque deles em um avião que os levaria para a ilha de Kropi-Rava, onde estava o maior presídio do planeta. A prisão de segurança máxima da ilha Penal.

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24 - KROPI - RAVA Ilha Penal , julho de 1994 O avião chegou algumas horas depois, e os prisioneiros foram direto para um tribunal. O julgamento não demorou muito pois as evidências dos crimes eram claras, e eles foram condenados a uma pena de setenta anos de detenção. Os terrestres estavam inconformados, principalmente Camaleon que já havia sido preso em outra oportunidade. Ventus Malus esteve calado durante todo o julgamento, e foi para sua cela na área dos bandidos mais perigosos sem demonstrar nenhuma reação. Seus capangas não conseguiam entender a atitude do furacão. O Sr. Erro foi o primeiro a lembrar que eles erraram em aceitar os serviços que Ventus Malus havia proposto. Foi ele, e não Aristarco, o autor da idéia de usar um meteoro de rofegnum para destruir a cidade do Cruzeiro. - Mas foi ele quem consertou a nave rofegana para nós, também. Se não fosse isso estaríamos presos naquela ilha invisível até hoje. - Karontino achou um argumento pouco eficiente. - Antes tivéssemos ficado lá. Pelo menos estaríamos livres, e em nosso planeta! - Camaleon estava irritado, e foi questão de tempo para os dois começarem a brigar. O Sr. Erro ainda tentou separá-los mas desistiu. Foi preciso um guarda entrar na cela para dar um fim no quebra-pau. Com isso os dois foram para a solitária em seu primeiro dia de prisão. Na cela de Ventus Malus estava tudo muito quieto. O furacão estava sentado, e encarava o seu vigia através da parede de vidro. O homem mostrava-se inseguro com aquela situação e acabou saindo. Sozinho em sua cela, Ventus Malus começou a fazer força e suas garras começaram a ganhar um brilho vermelho. Seus olhos também brilhavam, e ele soltou um urro que foi ouvido por todo o presídio. Após tanto tempo usando aqueles óculos para dominar as energias do isótopo do rofegnum, e de duas viagens por um portal de teleporte sem qualquer proteção, ele acabou absorvendo a energia em uma grande escala. Seu corpo já não era mais o de um anemóide comum há muito tempo, mas só 133


agora a transformação ia se completando. Ele continuava gasoso, mas entre os ventos que corriam em suas entranhas, havia um poder que nenhuma outra criatura poderia suportar. Sentindo-se tão poderoso, ele sabia que não ficaria preso ali por muito tempo. Mesmo isolado e sem os óculos para abastecê-lo constantemente, ele continuava sugando energia das lâmpadas que iluminavam o complexo e eram mantidas por uma usina atômica cujo combustível era o antirrium. No setor dos antropóides, o Sr. Erro jantava, e voltou a ter a companhia de Karontino e Camaleon, que já tinham voltado das solitárias. Os três sabiam que não eram muito populares entre os outros presos. Ninguém em Rôfega acreditava na existência de alienígenas, e por isso achavam que eles eram algum tipo de aberração genética. No dia seguinte, quando os presos foram levados para um pátio para pegar sol, quer dizer, pegar rôlfus (o nome da estrela que ilumina Rôfega), começaram a hostilizar com os terrestres. Quando um deles chamou Camaleon de refugo de laboratório, provocou uma grande briga. Alguns presos até ajudaram os três, mas o resultado foi mais de vinte pessoas nas solitárias. Quando foram soltos, Karontino, Camaleon e Sr. Erro foram levados até o diretor de Kropi-Rava, e advertidos a não se meterem em novas confusões. Não foi bem isso o que aconteceu. Os outros presos adoravam fazer piadas sobre aqueles que julgavam ser aberrações, e não davam sossego a eles. Apenas Ventus Malus estava totalmente isolado. O vigia até pediu transferência, mas não foi atendido. Seu medo diante do furacão era percebido por todos, mas ninguém da direção se importava. O passatempo do vilão passou a ser uma guerra psicológica com o pobre vigia. Este estava sempre uma pilha de nervos, e chegou a prometer que acabaria matando o furacão se tivesse oportunidade. Ventus Malus apenas sorria, esperando provocá-lo ainda mais. Quatro dias já se passaram, até que o furacão resolveu ameaçar a família do homem. Este ficou desorientado e saiu, para voltar logo em seguida com um canhão de plasma. Um pouco mais de provocações e o homem abre a cela, disposto a atirar, e o faz. 134


O furacão move-se com rapidez e o tiro só pega de raspão. Ele derruba o vigia, e antes que este possa disparar de novo, é atingido em cheio por um raio que sai das garras do furacão. Ventus Malus se aproxima do homem que agoniza de dor, e começa a modelar seu corpo gasoso até copiar as feições do vigia. Pega suas roupas, mas procura esconder o rosto para não mostrar a cara sem uma máscara. A vontade dele era pulverizar o guarda, mas suas forças ainda não estavam no auge. Ele precisava dos óculos para absorver com mais rapidez a energia e por isso foi até os laboratórios da prisão. Perguntou ao vigia aonde ficavam, e depois o trancou na cela. Ele sabia que demoraria bastante até alguém entrar lá de novo, e por isso agiu com tranqüilidade. No laboratório encontrou uma capa de borracha que serviu para fazer a pele sintética que completaria seu disfarce. Depois saiu e foi procurar pela sua fonte de poder. Pedindo informações como se fosse um funcionário da prisão, ele descobriu que os restos do óculos estavam em um depósito bem protegido, do outro lado do prédio principal do complexo penitenciário. Sem perder tempo foi até lá, e quando foi impedido de entrar no depósito por alguns guardas, tratou de disparar contra eles também. Pegou a chave no bolso de um deles e entrou sem disparar nenhum alarme. O depósito era enorme, mas ele não levou nem dois minutos para achar o que queria, pois conseguia sentir qualquer traço de energia de rofegnum ou antirrium a milhares de quilômetros. Pegou a caixa de chumbo onde estava o que restou dos óculos e voltou ao laboratório. Trancou a porta por dentro e começou a trabalhar em sua invenção. Usando os aparelhos que tinha à sua disposição, ele não só consertou, como também aperfeiçoou sua fonte de poder. Em algumas horas, estava tudo pronto.

25 - OS TERRESTRES ESTÃO CHEGANDO Mar de Katcharan, julho de 1994 Em Cidade Rôfega tudo voltou ao normal. Depois de resolvido o incidente, Gladion me contou que nada seria divulgado para não gerar um clima de insegurança na 135


população, e muito menos a minha existência poderia ser revelada, afinal alienígenas eram uma coisa absurda para os rofeganos. Erriana e eu fomos passear pela ilha, afinal ela disse que me mostraria o planeta. Iríamos voar apenas por alguns países mais próximos, pois eu precisava guardar energia para voltar à Terra, e seria impossível conhecer todo o planeta mesmo. Se bem que Rôfega é um pouco menor que a Terra, mas eu nem conhecia direito o meu planeta. O fato foi que saímos escondidos da Acrópole, com a conivência de Gladion. Escolhemos o país mais próximo, Katcharan do Sul, a terra de Caixinha Mágica. Descemos em Trifenpos, capital do país e cidade de C.M. Nossa primeira providência foi comprar um par de óculos escuros para disfarçar meus olhos humanos, assim como Rogher fez na Terra. Difícil era disfarçar os cinco dedos nas mãos. Depois procuramos em uma lista telefônica o endereço de nosso amigo, e achamos facilmente. Kassion Filopantos, esse era o nome verdadeiro de Caixinha Mágica, cujo apelido ele ganhou por causa dos truques que costumava fazer com seus amigos. Chegamos de surpresa à casa dele, e quem atende a porta é sua mãe. Quando ele aparece está no seu tamanho normal, que como já disse antes, não era muito grande. O baixinho faz a maior festa, e nós passamos a tarde relembrando as aventuras na Terra. Depois de conhecer sua família, nós três saímos para conhecer melhor a cidade e conversar. Ele me conta que desde que voltou, sua vida sofreu algumas mudanças, pois o S.C.Rof. exigiu dele segredo absoluto sobre a Terra, e eles mantinham um grupo em constante vigilância. Mesmo assim a vida dele estava uma maravilha. Ele agora era uma celebridade, pois a explicação oficial para seu sumiço de cinco anos foi que ele esteve perdido em uma estação experimental, junto com Gladion, em Akóliton, o satélite de Rôfega. Andando pela cidade vejo seres de diferentes espécies rofeganas. Mesmo estando em um país katcharóide, por aqui circulam pessoas de vários pontos do planeta, e por isso eu passo despercebido, sendo confundido com um antropóide. De repente começa a chover, e nós voltamos rápido para a casa dele, pois já estava até relampejando. 136


Quando eu achava que teria um pouco de sossego, aparece bem no meio da chuva, um outro conhecido nosso. É Relâmpego que voltou para seguir seu programa-base: ficar me perseguindo. Eu e Erriana ativamos os anéis e procuramos nos defender. Embaixo de um abrigo de ônibus, Caixinha vibra com a oportunidade de ver a luta entre heróis e vilão. A chuva pára logo, para sorte do andróide, pois água era a minha arma preferida para derrotá-lo. O jeito foi partir para o corpo-a-corpo e começa mais uma luta. Como sempre eu procuro levar os confrontos para área afastadas e vou empurrando Relâmpego para o litoral. Erriana volta para levar C.M. para casa, enquanto eu começo a disparar raios e receber outros de volta. Com os impactos, logo estamos sobre alto-mar. Eu ainda tento convencer o andróide a parar mas ele só obedece as ordens que Ventus Malus colocou em sua memória. Não demora muito e Erriana vem me ajudar, e ela já chega disparando raios potentes em Relâmpego. De fato funciona, e ele começa a cair; mas detém a queda antes de chegar ao mar, o que seria o seu fim. Ele é bem rápido e acertar a nós dois com um disparo bifurcado. Como os anéis não estão com carga total, fica dificíl vencê-lo, por isso eu armo um plano meio arriscado. Digo a Erriana para abrirmos um portal direcionado a algum ponto no espaço para jogar Relâmpego dentro dele. Talvez dois anéis combinados consigam fazer isso. Com a palavra  abrimos o portal, mas sem saber para onde ele leva. Depois eu disparo contra ele, mas o andróide não é bobo e solta uma descarga forte dentro do portal, que começa a aumentar de tamanho. Erriana perde o controle sobre ele e o portal se posiciona nos céus. Eu ainda olho para dentro dele, e vejo que ao invés de levar, ele está trazendo alguma coisa enorme. O tamanho do portal é tão grande que até uma ilha poderia passar por ele. E não é que isso acontece? Uma grande massa de terra atravessa não sei quantos milhões de anos-luz e se coloca no meio do mar de Katcharan. Já havia anoitecido, mas o clarão do portal era tão intenso que parecia dia. Eu até perdi Relâmpego

6 Komidzomai (transportar, também em grego)

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de vista, que deve ter ido embora ou se afogado, pois o que aumentou o poder do portal foi a energia dele. - Estava demorando para aparecer alguma coisa bem absurda ! - Você está falando do teleporte da ilha? Que nada, isso é até normal, se compararmos com o resto ! - Será que você consegue algo mais ? Quando a ilha assentou sua estrutura no fundo do mar, e se estabilizou em um ponto fixo, fui até lá com Erriana. Um verdadeiro terremoto abalou as construções, devolvendo o aspecto de ruínas à ilha Afanésia. A ilha rofegnosa, que ficava invisível na crosta da Terra foi teleportada graças à grande quantidade de rofegnum em seu solo, que foi atraído para outra grande massa do metal, que é este planeta. O portal já estava direcionado para a Terra, pois foi lá que o usamos da última vez. Com a sobrecarga do disparo de Relâmpego, o portal se alargou e serviu para puxar uma massa de rofegnum para outra, afinal este metal também é magnético. Voamos até Errionópolis, e encontramos Mestre Beta e alguns líderes de vila, que estavam em reunião, muito assustados com o acontecido. Eu explico o que aconteceu, e deixo muita gente revoltada. A idéia de ser teleportado pelo espaço não foi bem recebida. De fato, passar por um portal sem proteção costuma ser fatal, mas esse foi um caso diferente. Eu não sei como, mas talvez a energia de Relâmpego, que era apenas eletricidade pura, criou um campo de força que protegeu as pessoas. Ou não! Como estava todo mundo bem, eu achei melhor voltar para Katcharan e me despedir de Caixinha, para depois voltar à Ilha Capital e comunicarmos o inesperado acontecido. Eu só espero que a presença da ilha não cause problemas aos rofeganos e aos afanésicos. No palácio de Errionópolis, alguns líderes começam a ter idéias mirabolantes. Giovanni Deliota acredita que Rôfega pode ser um lugar muito rico em recursos minerais, ou seja, rofegnum, raciocínio correto aliás, mas que o leva a uma idéia pouco inteligente. Como a Sociedade do Ressurgimento usou seus fundos para equipar um exército afanésico com armas de 138


última geração da Terra, talvez os afanésicos pudessem dominar a situação e colonizar o planeta inteiro. Eles já tinham invadido o planeta mesmo, e agora só faltava dominá-lo ! As tropas foram colocadas a postos, e sabendo que o Mestre Beta iria proibir tal empreendimento, trataram de tirá-lo do poder. Mais uma revolta na agitada história afanésica acabara de ocorrer, e desta vez os ideais eram bem loucos. Uma série de aviões caça F-16 decolam de Afanésia rumo à ilha Capital, seguindo a mim e Erriana. Quando olhei para trás percebi o que ocorria, e voltei para tentar impedi-los, mas não deu resultado. Um dos caças dispara um míssil contra mim, mas este explode antes com um tiro do anel de Erriana. Nós dois vamos logo para Cidade Rôfega para impedir uma guerra, mas ela já era inevitável. Descemos na praia, mas nossos anéis já estavam muito enfraquecidos, e à noite não teriam como se recarregarem. Só pudemos observar a batalha de longe, sem fazer nada. A ousadia dos homens da Sociedade era muito grande, mas não era proporcional à inteligência. Em questão de horas, os aviões foram derrubados pela Força Aérea Rofegana, e os pilotos foram aprisionados logo em seguida. Imediatamente um encouraçado saiu do porto e foi em direção à ilha recémchegada. Quando chegamos à Acrópole depois de uma longa caminhada a pé, fomos atrás de Gladion e contamos a história. Ele nos olha com cara de reprovação e dá a entender que estamos enrolados. Com a presença da ilha, será impossível ocultar a origem de vida extra-rofegana, ainda mais depois desse ataque sem sentido por parte deles. No mesmo instante os auto-falantes convocam a nossa presença na sala de reuniões do Supremo Conselho Rofegano.

26 - O SUPREMO CONSELHO ROFEGANO Cidade Rôfega , julho de 1994 Entramos os três na sala onde é decidido tudo que diz respeito ao Planeta Rôfega. A cara das pessoas sentadas à grande mesa não é muito amistosa. Nem parece que salvamos

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suas vidas há poucos dias atrás. Infelizmente a situação era bem grave para termos tratamento de heróis. Um grande telão na cabeceira da mesa mostra um rosto digital, que fala conosco. Ele é o Supremo Conselheiro, membro principal do conselho e maior autoridade do planeta. Sua identidade é mantida em segredo até mesmo dos demais conselheiros, e poucos rofeganos conseguiram ver ao menos o telão ligado. Ele começa a falar com um tom áspero, querendo nos culpar pelo acidente e exige uma solução para aquela ilha intrusa. Eu fico sem saber o que dizer, afinal como poderia levar Afanésia de volta se meu anel mal podia me levar? Erriana ainda tenta me defender mas o Supremo Conselheiro protesta contra as desobediências que ela cometeu ao deixar a Acrópole por várias vezes. E ainda exige uma explicação para os anéis, que foram omitidos por Rogher em seu relatório. Vendo que sobrou para ele, Gladion pede uma chance para explicar, mas é impedido de falar. Os outros conselheiros ficam calados, e não intervém em nada. Eu resolvo pedir ajuda ao conselheiro rafolandense, e este finalmente toma a palavra. - Este garoto nos salvou uma vez, e mesmo sem saber sua origem sei que podemos confiar nele. Este novo incidente não pode ter sido provocado propositadamente por ele ou por Erriana. - Mesmo sem intenção, ele causou isso. Como iremos explicar a origem daquela ilha? - Por que não contamos a verdade. Se esse garoto veio de um outro planeta e é um herói, por que devemos ocultar isso dos rofeganos ? - Esse é um assunto delicado demais, e o senhor conselheiro está se deixando levar pelo fato de ter sido salvo por ele. Devemos agir com imparcialidade neste caso! Como o Supremo Conselheiro estava muito irredutível, Gladion apelou e disse que havia partes do seu relatório que ele não tinha mostrado aos outros conselheiros. Uma discussão começou, e os conselheiros foram convidados a deixar a sala por alguns instantes. Ficamos apenas eu , Erriana e Gladion com o líder rofegano.

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Quem assumiu um tom áspero dessa vez foi Gladion, que mostrou-se revoltado com as muitas descobertas que fez na Terra. - Os Supra-rofeganos não passam de alienígenas, que vieram para cá apenas para continuar com um reino que já havia se extinguido na Terra. Enganaram o planeta todo para se manterem no poder. O rosto no telão mostrou preocupação. Seu funcionário sabia de muita coisa, e estava certo, mas suas acusações iam contra o povo supra-rofegano. Eles assumiram uma pose de nação neutra apenas para desempenhar o comando do Supremo Conselho, mas sabiam que se fossem mesmo de origem alienígena, perderiam todo o respeito por parte das outras nações, e isso desestabilizaria as relações internacionais. - Permita a permanência dos afanésicos aonde estão, pois não há como eles voltarem. A energia que temos serve apenas para reabastecer o anel de Erre para ele voltar. Se você oferecer cidadania rofegana aos humanos eles com certeza vão concordar em ficar! - Isso é absurdo. As outras nações rofeganas não vão aceitar, e ainda por cima vão me questionar sobre a origem desse povo. - Pois então ache uma solução sozinho. Os dois garotos estavam apenas se defendendo de um andróide que obedecia ordens de Ventus Malus. As palavras de Rogher conseguiram preocupar o homem por detrás do telão. Os outros conselheiros estavam esperando do lado de fora e exigiriam respostas concretas. Usando de sua autoridade, o Supremo Conselheiro disse que atenderia a sugestão de Rogher, mas nós deveríamos confirmar o que ele dissesse aos conselheiros. Gladion respondeu por nós e concordou. Tanto eu quanto Erriana discordávamos do trato, mas não tínhamos como nos opor. E ainda teríamos que explicar ao Conselho tudo sobre os anéis Dýnamis Érrion. Quando os conselheiros retornaram, mostraram sua indignação com nossa reunião particular e foram direto ao assunto. Queriam respostas. Através do telão começou a aparecer um filme mostrando um pequeno planeta, e este estava sendo atraído 141


para dentro de sua estrela. O Supremo Conselheiro conta uma história: "Esse planeta foi destruído, mas antes disso acontecer, o Dinâmico Erre usou seus poderes e abriu um portal para trazer a ilha com a população para cá e com isso se salvarem. Infelizmente alguns desses alienígenas derrubaram o governo legítimo e trataram de nos atacar, mas essa não era a intenção do garoto ou de seu governo original. Como nossas tropas já dominaram a ilha, o Dinâmico Erre sugeriu que o antigo governo fosse reconduzido ao poder e constituísse a décima sétima nação rofegana, com a devida aprovação do Supremo Conselho Rofegano." Ele conseguiu bolar essa história em poucos minutos e ainda montou aquelas imagens na tela. Já havia sido informado da segunda parte do que contou, pois fora aquilo mesmo que ocorreu, e com isso montou uma história, e ainda jogou a possível culpa em mim. Gladion olhou para mim e sugeriu que eu concordasse. Acabei fazendo, mas não gostei nem um pouco. O conselheiro de Katcharan do Norte perguntou se eu era realmente um alienígena, e como eu encontrei Rôfega. Quem respondeu foi o Supremo Conselheiro que "revelou" que foi o meu extinto planeta o local visitado por Gladion e Caixinha, e não o satélite Akóliton como eles achavam. As mentiras iam se acumulando mas o homem do telão demonstrava sangue frio, e levava tudo adiante com firmeza. Quanto aos anéis, Gladion acabou mostrando seu relatório na íntegra para o conselho, mas ao exibir as cópias das fitas que estavam com Erriana, houve uma pequena alteração e no monitor da sala, aparecia o planeta inventado pelo Supremo Conselheiro no lugar da Terra. Ele obviamente conseguiu fazer isso através de seus aparelhos. No fim das contas, a mentira que ficou foi a explosão do tal planeta e a conseqüente impossibilidade do retorno da ilha. Os conselheiros acabaram se convencendo, e trataram de pôr em votação a minha suposta sugestão: transformar Afanésia em um novo país rofegano. Para isso trouxeram os líderes da ilha para a sala de reuniões. Mestre Beta, Aristarco, Giovanni e Nicanor estavam algemados, mas foram soltos pelo guarda-robô. O monitor da sala demonstrou a situação 142


enquanto os conselheiros se retiraram para conversar sozinhos. Mestre Beta foi aconselhado por Gladion a aceitar a história e divulgar isso para seu povo quando retornasse à ilha. Mestre Beta concordou. Os conselheiros entram mais uma vez e apresentam o resultado de sua reunião. Por um resultado de 12 votos contra 4, foi negado a Afanésia o direito de se estabelecer como país. Ganharia apenas a condição de território autônomo. Mestre Beta voltava a ser o chefe de governo, e os responsáveis pelo ataque à Ilha Capital seriam julgados pelo Tribunal Internacional. Assim decidiu o Supremo Conselho Rofegano.

27 - FUTEBOL ALIENÍGENA Cidade Rôfega , julho de 1994 Tudo foi resolvido e nós fomos liberados. O Conselho nem exigiu a apreensão dos anéis como eu cheguei a temer. Pelo contrário, recuperei o status de herói e fui convidado a assistir um grande evento do planeta naquele ano. Durante o mês que se passou, esteve sendo disputado na parte aberta de Cidade Rôfega o SUPER TORNEIO ROFEGANO DE NAÇÕES. Em Rôfega também tinha futebol e era tão importante quanto para nós terrestres, em especial brasileiros. Gladion me explicou as regras e como ele já havia assistido jogos do nosso futebol, conhecia bem as diferenças entre os dois. Eram diferenças muito sutis, e se referiam às penalidades. Tempo, número de jogadores e forma de disputa eram iguais. Até parecia que alguém esteve na Terra e trouxe o esporte para cá. - Mas é incrível como homem gosta de futebol! Até em outro planeta! - É realmente o esporte mais popular da galáxia ! Segundo Gladion a origem do jogo era muito confusa e haviam várias versões, mas o jogo acabou ganhando caráter mundial com a criação deste torneio que é disputado desde 1910. O nome obviamente era outro, e em rofeganês futebol se chama . 7 KALTCHIO (inspirado em calcio, futebol em italiano)

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Perguntei se poderia chamar Caixinha Mágica para assistir os jogos conosco, pois sabia que ele gostava também. Quando esteve na Terra até se tornou torcedor do Botafogo por minha causa. Gladion permitiu e foi avisar o Supremo Conselheiro. Meu anel estava com boa carga e abri um portal para ir até Trifenpos. Percebi nesse momento que o Dýnamis Érrion estava se recarregando com mais velocidade, mas não dei muita atenção para isso. Entreguei uma roupa anti-radiação para ele e voltamos pelo portal. Na hora do jogo fomos ao Estádio Mundial de Cidade Rôfega e nos encontramos com Gladion e Erriana. Eles estavam na tribuna de honra junto com os conselheiros dos quatro países semifinalistas. A competição já estava em sua reta final, e dos dezesseis países, sobraram apenas quatro para decidir a 22ª edição do torneio. A primeira semifinal seria entre PINATOM X KATCHARAN DO SUL e a partida seguinte seria RAFOLÂNDIA X PIPERAN. Após noventa minutos saí frustrado por que torci pelo país de Caixinha Mágica e ele foi derrotado por 2X1. O baixinho ficou inconsolável e acabou se consolando com Erriana que ficou abraçando-o por um tempão. Gladion ainda chegou perto de mim e ficou fazendo gracinhas, mas fiquei calado. Será que ele achava que eu estava com ciúmes? Voltamos ao estádio no dia seguinte para ver o outro jogo. Dessa vez era o time de Gladion que ia jogar, e eu fiquei sendo assediado pelo conselheiro rafolandense para torcer pela Seleção Rafolandense de Kaltchio. Concordei e ganhei uma camisa nº10 do time deles. No fim dei um pouco de sorte e a Rafolândia venceu por 3X2 nos pênaltys após o empate de 0X0 no tempo normal. A decisão seria disputada dentro de dois dias entre RAFOLÂNDIA X PINATOM. Foi o terceiro jogo que assisti, e sem dúvida o mais emocionante. As duas seleções eram as melhores do torneio e prometiam um grande espetáculo. Depois de ter assistido ao tetra-campeonato do Brasil há algumas semanas, esse jogo conseguiu me empolgar quase na mesma medida. Logo aos 13', Pinatom marcou um gol com Plildo mas a Rafolândia empatou com uma bomba de Rofésio três minutos depois, e virou com um gol de Gorgulho aos 25'. Aos 34' 144


Copengildo driblou toda a defesa rafolandense e marcou um gol de placa empatando a partida. No segundo tempo Pinatom veio mais disposto e aos 15', em uma cobrança de falta, Zeca Pinório pôs o time na frente de novo. A Rafolândia passou a pressionar mas só conseguiu chegar lá aos 32'. Nova cobrança de falta e Rofilius empata a partida. O jogo vai caminhando para uma disputa de pênaltys quando o atacante Zé Chute é derrubado na área aos 42'. Penalidade máxima cobrado pelo capitão Rafincha, e é GOOOOOOL. A partida termina com o placar de 4X3, e a RAFOLÂNDIA é campeã rofegana de kaltchio pela sexta vez. Assim como aqui, lá também tem invasão de campo e eu acabo indo nessa. Abro um portal e vou para lá comemorar com os jogadores. Passada a euforia eu volto para a tribuna, e tento me explicar com os outros, mas fica por isso mesmo. Diante do meu entusiasmo o conselheiro rafolandense, que já tinha gozado bastante da cara do conselheiro pinatomense, resolveu levar adiante a promessa que havia me feito. Fomos para o campo onde fui condecorado cidadão honorário rafolandense. Foi a oportunidade encontrada para o S.C.Rof explicar o caso Afanésia a todos os rofeganos. Com o clima de festa, muitos acharam legal, e só depois os rofeganos se tocaram de que realmente existiam alienígenas, e que agora estariam vivendo entre eles. Misturar esporte com outros assuntos era comum pelo visto, e ficou por isso mesmo. 28 - SUMIDO

NO COSMOS Cidade Rôfega , julho de 1994

De volta à Acrópole resolvi perguntar pela minha passagem de volta, e fomos para um laboratório para tratar disso. Um dos tecnólogos que estava de plantão pediu meu anel e eu passei para ele. O Dýnamis Érrion foi colocado em um compartimento que para mim parecia mais um forno de microondas. A máquina foi acionada e em um monitor podia ser visto um gráfico que indicava o nível de poder no anel. Naquele momento o poder estava em apenas 40%, mas após o processo, ele absorveu energia solar, que foi transmitida pelo que 145


chamaram de Canalizador Energético, e atingiu o estoque máximo de energia; algo equivalente à capacidade da usina de Itaipu. Eu fico até com medo de colocar uma coisa poderosa desse jeito no dedo, mas pego assim mesmo. Pelo que me disse o tecnólogo, o anel nunca havia alcançado a capacidade máxima, e agora ele poderia abrir portais que alcançariam até o outro lado da galáxia. Eu fico muito satisfeito, e pergunto porque não fazem o mesmo com o anel de Erriana, e ele diz que a máquina também precisa de tempo para acumular energia. Já que estou com energia de sobra, resolvo levar o pessoal para um último passeio antes de ir embora. Caixinha, Gladion e Erriana sobem em uma pequena aeronave comigo e eu uso o anel como turbina para fazermos um pequeno "tour" pelo planeta Rôfega. Agora dava para conhecer muito mais lugares. Visitamos quase todos os países, e depois voltamos para Cidade Rôfega. Já estava na hora de voltar para a Terra, por isso me despedi do pessoal. Ainda fui levar Caixinha Mágica em casa e só depois fui para o alto de uma montanha onde abriria o portal. Ao ficar sozinho acabei dando oportunidade para uma emboscada. Dei tantas voltas pelo planeta que meu rastro energético ficou espalhado por aí. Era o suficiente para ser encontrado por Ventus Malus. Ele acabara de fugir da Ilha Penal e veio atrás de mim. Estava furioso e já chegou disparando com toda força. O furacão estava ainda mais forte do que da última vez, e podia muito bem cumprir suas promessas agora. - Meus poderes estão cada vez maiores! Seu anel não me satisfaz mais, e você passou a ser apenas um pequeno incômodo. - Ele falava e disparava ao mesmo tempo. Eu já tinha aberto o portal, mas me lembrei do confronto com Relâmpego e tentei fechá-lo na hora. Parti para o revide e uma nova luta começou, tendo como palco a Cordilheira de Katcharan. Os raios que lançávamos escapavam com facilidade e destruíam muitas formações minerais. Eu também sofria com os coices dos disparos e era atirado contra paredões de rocha pura, o que aliás doía um bocado. A força de Ventus Malus era muito maior, e eu não sabia como usar todo o potencial do anel. Resolvi usar a minha tática 146


mais comum e voltei a abrir o portal para tentar pegá-lo por trás; mas com o poder no auge, perdi a direção dentro dele. Do lado de fora, o furacão teve a percepção de que eu estava com problemas e me ajudou a piorar a situação ao disparar um raio no portal que se fechava. O impacto me empurrou para mais longe ainda, e com uma velocidade que tornava impossível guiar-me dentro do portal. Dessa vez nada foi arrastado para Rôfega, mas eu estava sendo lançado para o ponto mais distante que um portal sobrecarregado poderia alcançar. Era justamente o que eu temia.

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ï€ PARTE V

A JORNADA

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29 - PONTO DE ENCONTRO Estação Espacial de Antares ( Sco) , agosto de 1994 - Espere um pouco para eu virar esta fita. Pronto pode prosseguir. Dentro do portal pode-se ver um show de luzes devido à velocidade alcançada, que deixa as estrelas como um risquinho apontando para trás. Após algumas horas viajando próximo à velocidade da luz, comecei a ter vertigens e acabei apagando. Fiquei muito tempo desacordado, e quando me levantei, o portal já tinha se desativado. Eu estava em uma plataforma enorme com alguma naves estacionadas e ninguém por perto. Fiquei meio desorientado por alguns minutos e me sentei no chão mesmo, para pensar um pouco. Ainda não tinha usado o portal para grandes distâncias, e estava enjoado como marinheiro de primeira viagem. Só depois de meu estômago voltar ao normal, pude raciocinar direito. Quando entrei no portal tive que lidar com a energia em sua amplitude máxima e perdi o controle. Ventus Malus percebeu e com um disparo ele fez o portal entrar em pane e me jogar em algum ponto da galáxia. Só não sei aonde! O brilho do anel que estava tão intenso depois que foi recarregado, diminuiu bastante. Devo ter usado energia suficiente para iluminar uma cidade inteira, seja lá quanto isso for. No grande estacionamento em que estava não tinha ninguém, mas podia ouvir uma zoeira danada perto de onde estava. Fui para lá em busca de alguma forma de vida. O lugar era um tipo de bar, e estava cheio de alienígenas das mais diferentes espécies. Com o anel ligado esperava que o tradutor funcionasse, mas isso não ocorreu e eu tentei me comunicar com gestos. Ninguém nem olhava para mim, e continuavam a beber e fazer uma farra daquelas. Fui até o barman e perguntei por Rôfega, mas ele fez cara de que não entendeu. Fico sentado esperando que o tradutor resolva trabalhar, e depois de uma meia hora ele começa a funcionar. Pergunto novamente ao barman aonde fica o planeta Rôfega ou o planeta Terra: - Nunca ouvi falar nesses lugares, mas aquele cara de pele roxa ali pode ajudar. 149


Fui até o tal cara, mas antes de chegar perto de sua mesa, esbarrei em um grandalhão com cinco olhos e três braços, que era muito mal-encarado. Ainda me desculpei mas nem adiantou e ele me pegou pelo pescoço e me jogou pela janela. Voltei pelo mesmo buraco que abri e fui tirar satisfações. Ele não gostou de novo e arremessou a mesa em cima de mim. Para me defender disparei com o anel e pulverizei a mesa na hora. Foi quando chamei a atenção do pessoal. O dono do bar pega uma espécie de bazuca e resolve me ameaçar, assustando um outro alien, que reage e dá início a uma grande confusão. Como é comum nessas situações, o lugar fica destruído e quem consegue sair inteiro vai para casa como se nada tivesse acontecido. O único que se manteve isolado da confusão foi o tal cara de pele roxa, que estava na única mesa intacta, tomando alguma coisa no único copo inteiro do bar. Com o fim da briga, pude chegar perto dele e pedir a informação que queria, mas ele também não conhecia nem Rôfega, nem a Terra. Sai de lá muito revoltado, e nem dei atenção ao dono do bar que ficou me xingando de coisas que eu nem sabia o que eram. De volta ao estacionamento vi um outro alienígena encostado em um poste. Fui pedir ajuda a ele e acabei descobrindo um tipo de taxista interplanetário. Eu não queria abrir o portal para me perder mais ainda, mas também não podia confiar em um estranho, ainda mais em um lugar barra pesada como este. Ele tentava me convencer de que seu "táxi" era o mais seguro daquela estação, mas eu nem tinha dinheiro para pagar a corrida. O cara era bem insistente, e disse que aceitava alguma coisa de valor em troca. Eu não tinha nada assim e desisti de ir com ele, mas o cara era bem legal e vendo que eu estava em dificuldades, meu deu um cartãozinho. Ele disse que aquilo era um bilhete para o próximo transporte coletivo que sairia em cinco minutos. Agradeci o presente e sai correndo para não perder o "ônibus". Consegui chegar a tempo de perguntar ao motorista para onde ia a condução e ele disse que aquela linha era a Grande Circular, que passava em todas as estações daquele sistema solar. Fiquei com vergonha de perguntar em que sistema estávamos e entrei assim mesmo.

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30 - NOSSA PEQUENA GALÁXIA Em algum lugar do espaço , agosto de 1994 Depois que o ônibus saiu fiquei pensando se não estava indo para mais longe ainda e finalmente perguntei ao cobrador aonde estávamos. O nome que ele me deu é impronunciável em nosso idioma, mas serviu para me localizar em um mapa estelar que um passageiro consultava no banco da frente. Fiquei olhando por cima do ombro mais baixo dele, e acabei irritando-o. Eu sei que é chato ficar lendo com alguém espiando por trás, mas eu precisava muito me orientar. O alienígena fechou o mapa e foi se sentar longe de mim. Tive que insistir, e dessa vez pedi com a maior educação possível. Consegui pegar o tal mapa, mas estava muito confuso, com nomes totalmente desconhecidos por mim. A nomenclatura por eles usada era diferente da Terra, e eu passei a procurar por planetas azuis. O mapa abrangia uma área enorme e só havia um planeta de tamanho pequeno com essa cor circulando ao redor de uma estrela amarela. Perguntei como eles chamavam aquele lugar e me responderam que era um lugar desconhecido. Se eu quisesse ir para lá teria que descer um pouco antes do ponto final e arranjar alguma carona. Era minha única alternativa e fiz exatamente isso. Como o ônibus estava vazio, pude escolher um lugar na janela e deixar que a luz da estrela dessa região da Galáxia recarregasse meu anel. Desci em uma região desértica, e fui voando para o planetinha azul. Eu tinha quase certeza de que era a Terra.

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31 - REFAZENDO A HISTÓRIA Um planeta parecido com a Terra , agosto de 1994 Pousei no satélite do planeta, e era exatamente igual à lua. Eu já tinha assistido a vários programas sobre viagens do homem à lua e achava que entendia do assunto. Só estava preocupado com a reentrada na atmosfera, pois não sabia se o anel poderia me proteger do atrito com o ar. Para voltar com segurança seria melhor abrir o portal e me teleportar para lá, mas ainda tinha um pouco de receio de não ser jogado para longe de novo. Acabei arriscando e abri o portal. Em poucos minutos cheguei ao planeta, mas não sabia bem em que parte. Era uma floresta densa, com uma vegetação meio esquisita, que eu não conhecia. Eu podia estar em qualquer país, por isso levantei vôo para poder ver a região. Sem encontrar nenhum sinal de cidade por perto, comecei a sobrevoar o lugar. Desci quando vi uma aldeia no meio de uma clareira. Foi quando tomei o maior susto, pois o pessoal que habitava o lugar tinha toda a pinta de homens pré-históricos. A existência desse pessoal não podia ser possível em pleno século vinte. Comecei a ficar preocupado, e com medo de encontrar a estátua do Cristo Redentor em uma praia, enterrado até a cintura! Esperei o tradutor automático analisar a linguagem daquele povo rústico, mas o anel demorou demais, e acabei partindo para mais uma comunicação através de gestos. Mais uma vez não deu resultado, e achei melhor esperar no alto de uma árvore. Acabei cochilando. Quando acordei, quase caí do galho onde estava. A aldeia havia sumido e em seu lugar havia um grande deserto. A árvore estava toda seca, e ao seu redor não havia mais nenhum outro sinal de vida. Desci e comecei a andar pelo local, quando então avistei uma construção. Era uma pirâmide. Ela ainda estava sendo construída, e em volta dela havia um monte de gente empurrando enormes blocos, para montar a obra. O sol era tão forte que meu anel ficou com força máxima e o tradutor funcionou mais rápido. Fui até próximo de alguém que deveria ser um escravo e perguntei para quem eles estavam construindo aquela pirâmide. O homem falou com a maior reverência que era para o faraó Quéops. Eu só pude chegar à conclusão de que tinha 152


voltado à Terra, mas voltado no tempo em alguns milênios. Só fiquei em dúvida com a rápida passagem do tempo, pois enquanto dormi passaram-se milênios. Como isso seria possível? Enquanto eu conversava com o escravo, um dos vigias chegou perto e me mandou voltar ao trabalho. Ele deve ter me confundido com algum escravo, mas tentei esclarecer. Ele nem quis me ouvir e sacou um chicote, que me acertou bem nas costas. Graças ao campo de força do anel, não senti nada, e ainda deixei o povo espantado. Recebi outra chicotada, e só para tirar onda, não fiz nada, a não ser lustrar as unhas na camisa. O vigia saiu correndo, e os escravos me ergueram e começaram a fazer a maior festa para mim. Deviam me considerar uma divindade, e me levaram para o palácio do faraó, onde eu já era aguardado. Fui recebido pelo próprio Quéops e a família real, que se mostraram bem simpáticos comigo. Pediram para eu dar alguma demonstração de meu poder, e eu comecei a perceber o perigo da situação. Eu poderia causar alguma confusão na história ao me meter com personagens históricos. Mas eu também estava com fome, e eles estavam oferecendo um banquete em minha homenagem. Fiz então um truquezinho simples para agradá-los, e liguei o feixe de luz do anel. Isso sempre impressiona a quem não conhece o Dýnamis Érrion, e assim pude comer alguns dos pratos que me serviram, mas não tudo, afinal eu não tinha coragem de pôr qualquer comida na boca. Eles tinham alguns pratos esquisitos para o meu paladar ocidental, e fiquei só com pães e bolos mesmo. Com o estômago forrado, acabei caindo no sono. Acordei de repente e me vi em um lugar escuro e muito quente, sem nenhuma ventilação. O calor era insuportável, e eu resolvi abrir caminho pela parede usando o raio do anel. Quando achei a saída, vi que estava dentro da pirâmide, mas ela já estava completa e não havia ninguém por perto. O palácio do faraó estava com uma aparência bem mais velha, e só pude concluir que avancei no tempo mais uma vez. Resolvi levantar vôo, mas sai sem rumo, e acabei descendo em uma ilha perto da península itálica. Eu estava na Sicília, mas não sabia em que época, e fiquei andando pela cidade de Siracusa, para dar tempo do anel analisar o idioma 153


local e traduzir para mim. Quando comecei a compreender a língua, me aproximei de uma moça e perguntei a ela na maior cara de pau, em que época estávamos. Ela riu, e achou que eu estava tentando paquerá-la, mas não era bem isso. Mesmo assim ela se mostrou simpática, e passamos a tarde conversando, e contei a ela minha história. Consegui impressioná-la, e ela sugeriu na hora, para irmos até a casa do tio dela, Arquimedes, o pai da ciência experimental! Vibrei com a notícia, pois talvez ele ajudasse a me explicar melhor o que estava acontecendo. Chegamos à casa de Arquimedes, e ela era tão cheia de inventos e livros, que me lembrou a casa do Dr. Rupert. Quando ele apareceu, foi logo abraçando a sobrinha, e só depois reparou que eu estava lá. A garota contou a ele a minha história, mas só o fez rir, e eu tive que provar a verdade usando o feixe de luz com o símbolo de Érrion. Arquimedes não ficou impressionado, e eu usei outro truque para provar que falava a verdade, e comecei a voar pela sala da casa. Foi o suficiente para convencê-lo de que eu era poderoso e que estava falando a verdade. O cientista começou a olhar em alguns livros, mas não sabia encontrar uma resposta para a minha situação, restando então teorizar sobre isso. Segundo ele, eu teria regressado no tempo e passado por uma metamorfose devido à grande velocidade imposta pelo portal, e com isso meu metabolismo ainda estaria acompanhando a velocidade enquanto eu estivesse inconsciente, ou seja, dormindo, mas ao acordar eu entraria em sincronismo com o planeta. A idéia era muito confusa para mim, e perguntei como poderia voltar para minha época. Ele me aconselhou a dormir e esperar chegar minha era, para então tentar resolver o problema metabólico com a tecnologia do futuro. Mas como eu teria alterado meu metabolismo? - Há mais mistérios, no céu e na terra, do que possa imaginar sua vã filosofia. - Eu conhecia essa frase, e sabia que seu autor nem tinha nascido ainda. Como nada fazia mais sentido mesmo, acabei nem dando importância. Eu já não tinha mais nenhuma noção de tempo, então resolvi acelerar o processo, e pedi que ele me desse alguma coisa para dormir. Ele trouxe uma jarra enorme com um potente

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sonífero. Olhei para a jarra e fiquei com medo de só acordar após o Juízo Final. - Não seja tolo. Tome um pouco e durma por alguns séculos. Quando acordar novamente, tome mais um pouco até chegar à sua época. - E se eu acordar em algum período posterior ao meu? - Esse é um risco que você deve correr. Procure controlar seu sono. Tente acordar na hora certa como se fosse acordar de manhã cedo para ir para escola! Eu ia tentar, mas sempre que fiz isso chegava atrasado na aula! Fomos para uma área afastada da cidade, no meio de uma floresta e ele armou uma plataforma em cima de uma árvore, onde me deitei. Tomei um copo do sonífero, e ficamos conversando até o fim da tarde quando comecei a mostrar sinais de sono. Ele se despediu de mim, e sua sobrinha esperou ele se afastar para me dar um beijo de boa noite. Acordei não sei quanto tempo depois, e desci da árvore para olhar ao redor. Resolvi ir para Roma e descobrir em que época estava. Cheguei à cidade e fiquei andando por lá para tentar descobrir a data atual. Demorou mas descobri que já estava na época das Cruzadas, pois passei bem em frente à Catedral de São Pedro e perguntei a um transeunte. Eu sabia que a Idade Média tinha uma fama muito ruim de Idade das Trevas, e não quis conferir se era mesmo verdade. Voei para um lugar afastado e tomei outro gole de sonífero. Eu já estava zonzo de tanto beber aquilo, e voltei a dormir, mas quando acordei estava no parapeito da torre de alguma catedral. Nem sei como fui para lá, e ainda estava com uma ressaca daquelas. Sem conseguir me equilibrar, acabei rolando até cair no chão. A queda deve ter sido de mais de 20 metros. Só continuei vivo graças ao campo de força do anel. Minha cabeça doía tanto que eu nem podia raciocinar direito. Um homem chegou perto de mim, e achou que eu havia me jogado, mas notou que não havia sangue ao meu redor. Quando me levantei, dei o maior susto nele, mas antes dele sair correndo o peguei pelo braço e quis saber aonde e em que época estava. Mesmo tonto notei que ele falava português, e ele contou que estávamos em Lisboa no ano de 1498. Só faltava um pouco menos de quinhentos anos para 1994, mas eu não agüentava beber mais nada e nem dormir. Vendo o meu estado, o tal homem perdeu um pouco do medo e 155


me carregou com ele. Eu não esboçava reação, e fomos até um navio; mas se eu já estava de ressaca, velejar então ia acabar comigo de vez. Não adiantou muito tentar reclamar, e eu só ouvi o português dizer ao seu almirante que eu era uma pessoa muito forte e poderia ser útil na viagem. O almirante olhou para mim, e começou a rir. Como um garoto "bêbado" e com roupas esquisitas poderia ser poderoso? O outro, que era marinheiro, disse que me viu cair do alto de uma torre, sem me machucar, e que deveria estar tonto por isso. Como o navio já estava saindo, o almirante acabou me deixando ficar, mas quem não queria ir era eu. Só que eu não estava em condições de reagir, e fui levado para o alojamento dos marinheiros onde um cozinheiro me deu uma outra bebida, essa para curar meu estado. Foi a coisa mais horrível que já bebi na vida, mas me deixou bonzinho de novo. Na mesma hora me deram roupas de marinheiro, e mandaram eu começar a trabalhar. Aquele seqüestro não me deixou nem um pouco satisfeito, e fui até a ponte de comando aonde estava o almirante. Eu queria tirar satisfações, mas não queriam me deixar chegar perto dele. Os marinheiros tentaram me segurar, mas o anel estava com boa carga e me livrei deles facilmente, jogando-os para o lado. Cheguei junto do líder do navio e perguntei : - Quem você acha que é para me raptar e me obrigar a trabalhar em um navio? - Eu sou Vasco da Gama, almirante da marinha portuguesa, ora pois! Só me faltava essa. Fui raptado pelo grupo do homem, que serviu para inspirar um clube de futebol rival ao meu! Era demais para mim, e perdi a paciência. Resolvi impôr moral: - Pois eu sou o Conde de Botafogo, e exijo um tratamento mais digno. - Nunca ouvi falar de vossa pessoa. Por acaso estás querendo ludibriar-me ? Eu devia estar sob efeito daquelas beberagens, porque comecei a agir inconseqüentemente. Inventei um monte de histórias, dizendo que eu era um enviado do rei, e que minha missão era assumir o comando do navio, e escolher o melhor percurso para o destino escolhido. O almirante protestou e tentou me jogar ao mar, mas eu reagi e dei um leve disparo em 156


seu chapéu. Com o chapéu no chão, soltando fumaça, Vasco da Gama se encolheu todo, e Botafogo tomou conta da situação. Eu assumira o comando do navio. O caminho para as Índias foi descoberto; mas eu acabara de modificar a História! Foi só depois que aportamos em Calicute, que comecei a ficar enjoado, e nem esperei os marinheiros descerem. Saí correndo para procurar por um banheiro, pois estava bastante enjoado, mas fui para o meio do mato mesmo e pus para fora todo o lanche que fiz no Egito Antigo. Ainda tentei voltar para encontrar o navio, mas estava me sentindo tão mal, que voltei a apagar, e avancei alguns séculos no tempo. Acordei embaixo de uma árvore, mas minha dor de cabeça já tinha diminuído bastante. Resolvi me levantar e ir para um outro lugar, por isso saí voando e voltei para a Europa. No meio do caminho, quase fui atropelado por um avião. O piloto ficou muito assustado, e perdeu a atenção indo na direção de uma montanha. Fui atrás dele e consegui deter a colisão. Descemos em uma área plana, e tirei o homem de dentro do avião, pois ele havia desmaiado, e quis colocá-lo em uma posição mais confortável. Nesse momento vi o símbolo que ele trazia em uma braçadeira; a cruz suástica! Com o movimento de aviões a toda hora conclui que estava na época da Segunda Grande Guerra. Pensei em voltar a dormir, mas me veio uma idéia, que já deve ter passado pela cabeça de muitas pessoas pelo mundo afora. Eu poderia impedir o início das atrocidades cometidas por Adolf Hitler e dar um novo rumo à história. Eu já havia feito isso antes mesmo, ainda que de modo um pouco heterodoxo, e poderia fazer de novo. Eu nem sabia qual a conseqüência da descoberta do novo caminho para Índias por alguém desconhecido, mas acho que o máximo que poderia ocorrer era a não fundação do Vasco. Mas um pensamento que sempre tive, foi o de que a história não é guiada pelo destino, mas sim pelo homem. Se eu tivesse a oportunidade de evitar uma tragédia em minha época eu faria. Por que agir diferente em um ano como 1942. Resolvi entrar em ação; até para me reparar pelo erro de 1498, e rumei para Berlim, disposto a deter o homem responsável pela morte de milhões. Eu só deveria capturá-lo e entregá-lo para as forças aliadas, e assim permitir que ele fosse

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julgado antes de sua morte. Com os poderes do Dinâmico Erre, seria fácil penetrar no lugar em que ele estivesse. Consigo facilmente entrar na sala em que ele se reúne com seus generais. Usando o portal, me posicionei embaixo da mesa deles, e esperei pelo melhor momento. O anel já estava traduzindo a conversa em alemão, e ouvi que os generais iam sair, e ele ficaria sozinho na sala. Era a minha chance. Saí debaixo da mesa e o surpreendi. Ele pegou uma pistola e atirou em mim, mas só caí por causa do impacto, e me levantei para tomar a arma da mão dele. Só para fazer pressão, contei que vinha do futuro e que os nazistas seriam derrotados, mas que eu iria levá-lo a julgamento antes dele tentar mudar a situação. Hitler acreditou em mim pois eu demonstrei que tinha poderes, e tomou a atitude mais louca possível. Correu para a sala ao lado e disse que ia lançar um míssil nuclear sobre Londres e iniciar a ofensiva atômica. Eu arregalei os olhos, mas disse que era apenas um blefe, pois pelo que me consta a Alemanha não tinha uma bomba pronta durante a Guerra. Ele deu um sorrisinho e apertou o botão. Alguma coisa ele deve ter lançado, e tentei sair para impedir o tal míssil, mas ele foi rápido e me acertou com uma pesada barra de ferro. Meu campo de força não segurou esse impacto, e voltei a cair desacordado. Acordei no meio de um monte de asteróides, em pleno espaço. Procuro ir para um lugar próximo e abro um portal, indo imediatamente para a lua. De lá só consigo ver um enorme cinturão de asteróides. Procuro pela Terra e não consigo avistála. Meu estômago começa a ficar frio, e eu caio chorando na poeira fina do satélite. O planeta Terra havia sido destruído por uma guerra atômica! Sem ar eu ia morrer ali, por isso abri o portal novamente e parti para longe dali. Com certeza, o míssil que Hitler lançou sobre Londres provocou uma contra-ofensiva dos aliados e a Segunda Guerra Mundial transformou-se na última guerra da humanidade. Claro que se eu não tivesse tentado interferir, a história teria seguido seu curso normal, mas com minha mania de superherói, acabei condenando o meu planeta. Eu não apertei o botão, mas provoquei o homem mais insano de todos os tempos a fazê-lo, e por isso sou indiretamente responsável. Depois de 158


tanto trabalho para continuar com o anel, volto a ter dúvidas se, realmente, eu mereço ficar com ele.

32 - ENTOMÓPIDUM Entomópidum , agosto de 1994 O portal me levou para algum lugar de nossa galáxia. Com o uso sucessivo, ele se esgotou, e ia demorar bastante para se recarregar até poder abrir um outro portal. Eu ainda podia voltar para Rôfega e viver lá, mas o sentimento de culpa me impedia de rever os amigos rofeganos. Decretei um exílio para mim mesmo, pois eu era de algum modo, responsável pela destruição da humanidade. Eu havia chegado ao fundo do poço, pois não tinha a menor noção de tempo, e graças a uma “bebedeira” interferi em fato históricos, que culminaram com a destruição do meu planeta. Eu merecia uma punição, mas quem poderia me julgar, se matei toda a minha espécie? Pois a justiça nem sequer tardou. Alguma coisa toca em meu ombro, e quando me viro, vejo um grilo de dois metros de altura, de pé, apoiado em duas patas. Eu já tinha visto muitos alienígenas, mas aquele era o mais feio de todos! A criatura soltou alguns ruídos estranhos, mas o tradutor precisava de um tempo para analisar e transmitir para mim. Com um medo danado daquele bicho, achei melhor me afastar, mas apareceram outros e eu não resisti a tantas emoções seguidas, e registrei um novo desmaio. Acordei em uma jaula; e algumas joaninhas vestindo jalecos me observavam. Enquanto estive desacordado, o tradutor trabalhou, e já passava para mim a conversa das criaturas. Eles eram um grupo de biólogos, e eu estava em um tipo de laboratório universitário. Os professores estavam intrigados com a estranha forma de vida aqui, e pretendiam me dissecar para melhor me analisar. Na mesma hora disparei um raio contra a grade da jaula e saí correndo. Cheguei na porta, mas dois besourões, que deviam ser seguranças, barraram minha passagem. Eu precisava distraí-los e atirei em uma mesa com produtos químicos, que explodiram, fazendo a maior confusão. Atirei na janela também e sai voando para fora. Quando achei 159


que estava livre, acabei esbarrando em uma borboleta enorme, e fomos os dois ao chão. Eu já ia saindo de novo, quando percebi que ela estava gemendo muito, e pediu para ajudá-la, pois sua perna estava quebrada. Pensei que insetos não se machucassem com quedas, mas como eles eram bem diferentes dos que haviam na Ter..., naquele outro planeta, quer dizer, no monte de asteróides... Uma das asas me acertou em cheio, e parei de divagar. Perguntei à borboleta o que eu poderia fazer, e ela pediu para chamar algum médico, mas como os cientistas já estavam vindo ao meu encalço, disse para pedir auxílio a eles e saí voando. Eu estava com um azar tão grande, que já me sentia mais vilão que herói. E agora era caçado como um animal por insetos pretensamente inteligentes. Parei para pensar, e agora eu estava sendo racista também. Seria mais justo eu me entregar, e virar um menino empalhado em algum museu de história natural, como o último da raça humana. Era estranho, pois eu só tinha dezesseis anos, e já mostrava sinais de "stress" e depressão profunda. Nunca me senti assim, e resolvi retomar o velho bom humor, de superherói brincalhão e despreocupado com pequenos problemas. Para honrar a espécie humana, eu deveria lutar pela minha sobrevivência, e saí do alto da árvore para tentar encontrar um jeito de deixar esse planeta antes de ser pego por algum outro inseto. Mas se existe alguma criatura que se encontra em todo lugar, são os insetos. Um grupo de percevejos caçadores de recompensa me encontra, e sai atirando em mim. O brilho do anel está bem fraco, e o dia está tão nublado, que evito usar o vôo e disparo alguns raios para depois sair correndo. Minha situação é tão desesperadora, que tomo algumas medidas drásticas e atiro em um veículo depois que passo por ele. Com a explosão atrás de mim, evito a perseguição, e ainda sou jogado alguns metros mais a frente. Sem perder tempo, continuo correndo como um louco e vou até a beira de um barranco. Lá embaixo parece uma vila residencial. Como os percevejos podem me alcançar a qualquer momento, resolvo descer, mas o barranco é muito íngreme e acabo rolando ladeira abaixo, até alcançar a vila. Fiquei todo sujo, com poeira até dentro do boné, a capa rasgada e o orgulho ferido. Com as ruas vazias, posso andar com um pouco de 160


tranqüilidade, mas sou atingido por uma pedrinha. Um grupo de filhotes de formiga me ataca com estilingues. Formiga não tem filhotes; tem larvas! E eu sei também que insetos do tamanho de uma pessoa não podem sustentar o próprio peso em suas patas. Eu já assisti programas sobre insetos e cheguei à conclusão de que nada daquilo podia ser real. Mas uma pedrada na cabeça, me diz que não. Eu já estava irritado com esses bichos, e comecei a correr atrás daqueles pivetes de seis patas. Eles não eram muito corajosos e saíram correndo para longe. O quintal da casa onde estavam ficou vazio, e eu fui olhar pela janela. Uma formiguinha estava escondida debaixo de uma mesa, e parecia bem assustada. Achei que ela estava sendo atacada pelas outras, e como a janela estava aberta, resolvi entrar. Cheguei perto, e disse que espantei os moleques. Ela ainda não tinha me visto, mas pedi para não me olhar. Todo mundo me achava um monstro, e ela poderia se assustar também, mas não foi bem assim. Eu já havia aparecido na televisão deles, e todos sabiam como eu era. Ela não demonstrou medo, e até foi bem gentil. Ela estava sozinha em casa, e pediu para me sentar perto da mesa. Contei a ela minha história, e fiquei sabendo um pouco sobre o planeta dela. Eles chamavam de Entomópidum, e lá viviam todas as espécies de insetos possíveis. A formiguinha era boa aluna de ciências e me disse que a estrutura deles era diferente dos insetos pequenos, que também existiam por lá. Eles não passavam por metamorfose, e saiam dos ovos já parecidos com os adultos. Suas patas eram bem musculosas e suportavam seu corpo tão bem quanto um ser humano. O cérebro também era desenvolvido, e eles tinham até pulmões, ao invés de traquéias. Eu pedi a ela uma sugestão para deixar o planeta, e ela falou que todos os meses, uma nave chegava na base militar da cidade par comercializar vários produtos, e que ela passava por vários planetas dessa região da galáxia. Eu só tinha que esperar alguns dias. Nesse período fiquei escondido no porão da casa, escondido dos pais dela. A formiguinha devia ter uns seis anos, e me tratava como se fosse seu mascote. Eu não podia reclamar, afinal estava protegido dos biólogos. Havia o problema da comida que ela me dava, que era horrível, e também o do anel, que no escuro de um porão, não ia 161


se recarregar nunca. Pedi a ela para deixá-lo no telhado, e comecei a rezar para não ser pego sem ele, senão seria meu fim. Chegou o dia da nave chegar, e a formiguinha trouxe o anel de volta. Pus no dedo mas não ativei. Ela abriu a janelinha para eu sair, e foi para fora pela porta de casa. Depois de me espremer todo, esperei no quintal. Ela saiu e me deu uma coisa que devia ser uma bicicleta para insetos. Tentei me equilibrar, e por fim aprendi a usar aquela coisa. A formiga subiu na garupa e me indicou um caminho rápido e vazio para a base espacial. Chegamos na cerca da base, e desço da "insetocleta". Daqui em diante vou sozinho, e me despeço da formiguinha. Só não nos abraçamos, porque um achava o outro feio demais. Liguei o anel e com um forte brilho, ressurgiu o uniforme do Dinâmico Erre! Levantei vôo e passei por cima da cerca, para depois ir pulando de telhado em telhado até chegar perto de uma plataforma de aterrissagem. Os soldados que vigiam a base são maribondos, e estão fortemente armados, por isso agi com muita cautela. Depois de algumas horas, "assando" no telhado de uma casinha, vi a nave enorme chegar. Os funcionários começaram a descarregar várias caixas e levar outras para dentro da nave. Abri um portal para chegar perto dela. Fui até o setor de embarque e destapei uma caixa vazia, colei uma etiqueta qualquer na tampa, entrei e me fechei por dentro. Fiz um pequeno orifício com o raio do anel, e pude ver que me levaram para dentro da nave. Fiquei bem no fundo do bagageiro, e como alguns funcionários iam ficar no compartimento, não havia perigo de me esconder em um lugar sem condições de me manter vivo. Pouco tempo depois, percebi que a nave decolou, e as caixas estavam tão bem arrumadas, que nem senti a trepidação. Só estava um pouco encolhido, mas não era muito desconfortável. Só faltava descobrir qual seria meu destino. Estaria eu sendo levado para um lugar ainda pior que Entomópidum, onde fui caçado, ou para um planeta onde pudesse exercer a profissão de super-herói e recomeçar minha vida? A viagem deveria ser longa, então achei melhor dormir, esperando não acordar em algum outro lugar desagradável de nossa galáxia!

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33 - AIMAKOG, A COLECIONADORA Espaço Sideral , agosto de 1994 A viagem foi até rápida, pois paramos algumas horas depois. Já era hora de sair daquela caixa, então esperei os funcionários irem para outro compartimento e levantei a tampa. Ao meu redor havia um verdadeiro carregamento de equipamentos dos mais variados. Passei pela porta e fui andando por um enorme corredor. A nave era tão grande que parecia uma estação espacial. Como eu não podia ser visto, achei melhor me disfarçar e assim peguei um uniforme de funcionário que estava disponível no setor de cargas. As criaturas dessa nave são tão diversificadas, que eu poderia me passar como um alienígena, tal qual os outros. Meu teste de fogo foi passar por um grupo deles sem ser notado, e tive êxito. Fiquei circulando pela nave para descobrir mais sobre eles, e acabei chegando à cabine de comando. Havia alienígena de todas as espécies, mas achei melhor sair dali, e ir investigar em outro lugar. Foi quando me virei e topei com um grandalhão, de três braços e cinco olhos. Era o mesmo cara que armou a confusão comigo no bar. Ele me reconheceu e me agarrou pelo pescoço como da primeira vez. Tem alienígena que não aprende a lição. Enquanto ele era jogado para longe pelo raio de meu anel, eu fui me afastando e fiquei pensando em como ele poderia estar na mesma época que eu. Se bem que quando estive no planeta dos insetos, não fiquei avançando no tempo enquanto dormia. Ou será que ele não morreria nunca e estava vivo desde a primeira vez que nos encontramos? Afinal eu o tinha encontrado, e depois fui parar na Terra pré-histórica, e fiquei avançando no tempo. Achei que ele tivesse ficado no passado, mas se ele estava na mesma época que eu, só podiam haver duas possibilidades. Ou ele era imortal, ou eu nunca viajei no tempo. Mas e os acontecimentos históricos que presenciei? Será que eu ia ter que conviver com essas dúvida para sempre? Eu descobriria logo em seguida, pois outros funcionários apareceram e me renderam. Fui levado para a cabine de comando, e apresentado à comandante da nave. Se eu tinha achado o povo de Entomópidum feio, essa criatura batia 163


todos os recordes. Parecia um gárgula cheio de pequenos chifres no rosto e com uma voz de taquara rachada. Se não tivessem me dito, eu nem desconfiaria que era uma fêmea. Ela pergunta de onde eu vim e eu digo que sou de um planeta que explodiu aqui perto. O grandalhão de três braços conta que eu estive na estação de Antares, e que sou algum ser poderoso que solta raios do corpo. Aimakog, esse é o nome da comandante, fica me observando, na certa duvidando que eu seja poderoso, e manda eu demonstrar meu poder. Eu me recuso, mas sou ameaçado por uma lança que jogam na minha direção, e é pulverizada por mim. Consegui satisfazê-la, e ela diz que quer uma lembrança da poderosa criatura. Cheguei a achar que ela queria o anel, e já ia me preparando para lutar, mas não era bem nisso que ela mostrou interesse. Foi em uma peça do meu vestuário; o meu boné ! Não entendi direto, e ela contou que colecionava objetos exóticos, e meu boné era um artefato jamais visto por ela, enquanto que "adornos digitais" eram muito comuns. Mas se eu estava disposto a lutar pelo anel, pelo meu boné então nem se fala. Ele sempre foi meu objeto de estimação. Ele é tão especial, que nem a reestruturação molecular, que forma meu uniforme de Dinâmico Erre, é capaz de fazê-lo desaparecer. Aimakog porém, estava irredutível, e queria meu boné de qualquer jeito. Como eu era um clandestino em sua nave, teria que ser obrigado a obedecer suas ordens, mas eu me recusava terminantemente a entregar meu boné sem luta. Acabei dando a idéia a ela. Nós iríamos lutar, e se ela ganhasse ficaria com meu boné como troféu. E como eu estava perdido e sem rumo, poderia usar os instrumentos da nave, para saber aonde e em que época eu estava, no caso de vitória. Concordei com o combinado, mas ela ainda acrescentou que, se eu perdesse, também ficaria para sempre, como escravo dela em sua nave. Tentei recusar essa última parte, mas a criatura era muito teimosa, e tive que aceitar. Eu poderia usar uma academia para treinar, e dormiria por lá mesmo, mas não teria direito a refeição ou a uma orientação sobre o tipo de luta. Minha situação era bem complicada!

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Fui para a tal academia, escoltado por Cinco Olhos, (o nome da criatura era esse mesmo) e vi que Aimakog não estava afim de colaborar. Na academia só havia alguns pesos e uma corda de pular toda esgarçada. Fui trancado lá, e como aqueles equipamentos não iam ajudar em muita coisa, achei melhor descansar e dormir. Chegando a hora do combate, fui acordado por Cinco Olhos, e levado para uma arena. Toda a tripulação estava lá para torcer por sua comandante, e eu era visto como um simples participante. A vitória de Aimakog era tida como certa, e ninguém podia contar com a vitória de um garoto sem planeta. Com o início da luta; que só tinha uma regra: não há regras; eles puderam ver que o garoto não estava de brincadeira. Eu fiquei meio constrangido de bater em uma mulher, mas o bicho era tão feio, que eu até me esquecia do sexo da criatura. Foi uma luta feia, e Aimakog apelava para os golpes baixos a todo minuto. Não cheguei a usar os raios, mas levantava vôo e a atingia com toda velocidade. A luta era bem cansativa, mas depois de uns quarentas minutos, consegui nocautear a comandante da nave. Com Aimakog estendida no chão achei que poderia desfrutar de meu prêmio, mas a arena foi invadida pelos funcionários de Aimakog. Alguns demonstravam alegria com a derrota do monstro, mas a maioria era fiel a ela. Principalmente Cinco Olhos, que tentou me atacar mais uma vez. Foi só um soco e o pus para dormir, bem longe de mim. Comecei a ser perseguido, e fui correndo para o compartimento de cargas, trancando-me por dentro. Eu não poderia enfrentar todos de uma vez, então teria que abandonar a nave, e para isso eu precisaria de um tanque de oxigênio. Comecei a revirar as caixas, e achei o que queria. Vesti a máscara de oxigênio e abri uma janela, para poder escapar. Assim me joguei no espaço, e se me livrei daquelas criaturas, arranjei um outro problema. Eu precisava achar algum lugar com oxigênio para pousar, antes que acabasse o conteúdo de meu tanque.

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34 - EPISKYROS , O DEUS DO FUTEBOL Espaço Sideral , agosto de 1994 Fiquei flutuando no espaço enquanto via a nave se afastar. Olhei ao meu redor e só havia o vácuo, sem nenhum asteróide para eu pousar. Tive que agir rápido, pois o anel até podia me manter vivo no espaço, mas por pouco tempo. Abri o portal e fui para o ponto mais próximo possível. O portal se abriu em um enorme campo gramado. Eu levei uns três minutos para chegar lá, então calculei que não me afastei muito da nave. Fui caminhando e avistei uma enorme criatura. Um ser azul, com mais ou menos sete metros de altura, que estava parado com as mãos na cintura, olhando fixamente para algum ponto distante. Ele recuou dois passos, e deu uma corridinha para chutar alguma coisa. Tive que levantar vôo para ver melhor, e descobri que ele acabara... de chutar uma bola em cobrança de falta. E ainda marcou um golaço. Cheguei perto dele e fui visto. O gigante mostrou-se contente em me ver, e eu fiquei sem entender. - Érrion, que bom que você apareceu. Quer uma revanche? Ele estava me confundindo com Érrion Pontíarkes, o criador do anel, e contei a ele que eu era apenas um, "herdeiro" de Érrion. O gigante ficou chateado ao saber que seu amigo já havia morrido, e foi pegar a enorme bola que estava no fundo das redes. Ele se sentou e me chamou para conversarmos um pouco. Seu nome era Episkyros, e ele conheceu Érrion, durante uma viagem espacial do primeiro Super Capitão. Os dois ficaram amigos, e constantemente disputavam o jogo por ele criado, na modalidade de um contra um. Na hora achei que era brincadeira, mas ele disse esteve em quase todos os planetas da Via Láctea, e que por onde passou, deixou a semente para o desenvolvimento de um jogo, que mesmo ganhando regras diferentes, nos diversos planetas, era um esporte universal. O gigante azul estava me dizendo que era ele, o verdadeiro inventor de um jogo tão famoso em Rôfega, quanto na Terra! O esporte mais popular de meu planeta era invenção de um alienígena. Episkyros era o "deus do futebol"!

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De fato ele parecia um jogador de futebol, pois usava um uniforme completo. Tinha camisa, calção e meias, tudo com cor negra e detalhes em dourado; e nas costas não havia um número, mas o símbolo do infinito (). Ele não se lembra bem de quando foi que criou o jogo, pois nasceu a muito tempo, mas sabe que foi logo após a humanidade dominar a Terra. Ele faz parte de uma espécie de criaturas de vida muito longa, que costuma vagar pela galáxia, e não tem moradia fixa. A maior parte do tempo, ele passa nesse planetóide, onde montou um campo, para ficar treinando. Seu nome verdadeiro, ele também já esqueceu. Episkyros, é o nome que os gregos deram ao seu jogo, e como ele esteve na Terra várias vezes, adotou o nome que lhe deram por lá. Eu acabo me interessando, e conto a ele que seu jogo tornouse o esporte principal da Terra, sendo disputado em praticamente todos os países do mundo, e que eu vim do país que melhor pratica o jogo, que lá é conhecido como futebol. Mas ao falar na Terra, lembro do que aconteceu, e fico quieto. Ele pergunta o que houve, e digo que fui responsável pela destruição do planeta. Episkyros me olha nos olhos, e... começa a gargalhar. Fico bravo na hora, mas ele conta que eu estive, foi em um planeta parecido com a Terra. Ele e Érrion descobriram aquela cópia da Terra, que apesar de ser muito idêntico, tinha um detalhe diferente: a velocidade da rotação e translação. Os dois iam para lá constantemente para fazer experiências com os acontecimentos mais marcantes do planeta. Depois de um ciclo, tudo voltava ao início, e repetia-se infinitamente. - Mas como é possível existir outro planeta com mesmos fatos e pessoas? - Há mais mistérios, no céu e na terra, do que possa imaginar sua vã filosofia. - Quem me disse isso, foi Arquimedes. Por acaso, você esteve me vigiando? - Eu pensei que você fosse Érrion, e por isso acompanhei seus passos naquele planeta, mas você sumiu depois que acordou no meio dos destroços, e não o vi mais, desde então. Ele realmente era um ser poderoso, pois podia vigiar alguém, estando a quilômetros de distância. E se a minha Terra, a verdadeira Terra não explodiu, então já está mais do que na 167


hora de voltar para lá. Faço o pedido em nome do velho Érrion Pontíarkes, mas ele conta, que sempre que seu amigo pedia algo, eles disputavam um joguinho antes. Eu realmente gosto de futebol, mas como jogador, sou um ótimo torcedor. Quais seriam as minhas chances então, diante do criador do jogo? - Vamos logo. Se quiser carona para a Terra, vai ter que disputar comigo! - Eu já estava meio saturado de torneios, mas tive que topar. Episkyros estalou os dedos, e em um instante ficou do meu tamanho. Depois pediu para eu escolher qual o tipo de futebol que iríamos jogar, e escolhi o gol a gol. No gol a gol, cada participante fica na área e chuta para o adversário, tentando marcar. Se a bola não entrar, o outro chuta tentando o mesmo. É um modo de jogar, sem muito esforço físico, onde conta mais a mira e a sorte. Pois foi na base da mira e da sorte que venci o próprio deus do futebol por 2X1. Ele mostrou indiferença com a derrota, e apenas exigiu uma revanche para qualquer dia desses. Depois voltou a seu tamanho normal e me levou para a beira do gramado, na borda do planetóide, que por sinal era plano e retangular. Disse que deveríamos esperar por uma nave que passava periodicamente por ali, e era usada como condução por ele. Pensei que fôssemos direto para casa, mas o deus do futebol não tinha uma nave para se deslocar pela galáxia, e só se locomovia através de caronas. Ficamos jogando futebol de botão enquanto não passava uma nave, e após uma meia hora, chegou nosso transporte. Com milhões de naves cruzando a Via Láctea, aparece justamente a que faz comércio com diversos planetas, a nave de Aimakog! Eu ainda tento desistir e ir embora voando mesmo, mas Episkyros garante que com ele não haverá problema, e os dois serão muito bem recebidos na nave da colecionadora. A nave desce, e uma grande rampa é estendida até nós. Na outra ponta estão justamente os tripulantes da nave que mais me detestam: Cinco Olhos e a comandante Aimakog. Eu engulo seco e vou entrando; mas com Episkyros indo à frente. Lá dentro, presencio a maior demonstração de cara de pau da galáxia, com Aimakog me tratando como um convidado especial.

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35 - VOLTANDO PARA CASA Espaço Sideral , agosto de 1994 Foi só a porta se fechar, para os capangas dela caírem em cima de nós distribuindo socos e pontapés. Episkyros não entendeu o motivo da agressão, mas soube se defender muito bem, e devolveu tudo na mesma medida. Cinco Olhos veio mais preparado e estava usando uma armadura, o que não dificultou muito meu trabalho. Em poucos minutos só havia eu, meu parceiro e a dona da nave. O deus do futebol, que já havia pego carona com ela antes, exigiu uma explicação e Aimakog disse que estava apenas querendo se apossar do objeto que ela mais desejava no Universo; o meu boné. Eu só não falei um palavrão porque era uma mulher, mas fiquei muito revoltado com essa mania dela. Ela já havia descumprido o acordo de me ajudar se eu a derrotasse, e agora se achava no direito de nos espancar, só para ficar com o que queira. Nós íamos sair para pegar outra carona, quando ela ainda pulou em cima de mim e me tomou o boné, mas Episkyros mostrou o quanto era poderoso e a derrubou como se estivesse jogando rúgby. Pegou meu boné, e me puxou para fora da nave, deixando a monstruosa criatura derrubada no chão, fazendo o maior escândalo. Esperamos por mais uma hora, quando então apareceu um outro conhecido. Era aquele taxista que encontrei na Estação Espacial de Antares. Demos sinal, e Episkyros pagou a corrida. Chegamos à Lua algumas horas depois. Desci no satélite terrestre, pois dali o táxi não podia passar, e agradeci a ajuda dos dois. O deus do futebol ainda disse que ia querer uma retribuição; a marcação de um jogo entre atletas da Terra e algum outro planeta, como Rôfega, que também não conhecia muito bem os alienígenas. Seria o início da participação dos dois no campeonato galáctico. Talvez algum dia isso aconteça, mas acho que ainda vai demorar um pouco, e ele me lembra que tem todo o tempo do mundo. O táxi dá marcha à ré e vai embora, enquanto eu abro o portal e me preparo para voltar ao meu planeta Terra. - É o suficiente. Hoje trouxe mais fitas e ainda assim você conseguiu preenchê-las por completo.

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- Parabéns, foi a primeira vez que pude falar e você não me interrompeu. - Para falar a verdade, eu já desisti de tentar convencê-lo, mas meu chefe disse para deixá-lo falar o que quisesse. - Você se refere àquele cara que esteve conosco na Praça dos Três Poderes? Quem ele é afinal? - Acho melhor perguntar a ele pessoalmente. - Olá, Dinâmico Erre. Tem contado sua história direitinho para ela? - Aonde você ouviu falar sobre Dinâmico Erre ou Dýnamis Érrion? - Não importa. Quero que continue, pois está indo muito bem. - Quer dizer que ele está contando a verdade? - Vocês dois não estão aqui para perguntar, e sim para responder. Vão para casa, pois já está tarde, e voltem a se encontrar amanhã, no Anfiteatro da UnB. Quero encerrar isso até sexta-feira. - E porque acha que vou obedecê-lo? - Porque você é curioso o suficiente para continuar com isso, e tentar descobrir quem eu realmente sou !

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PARTE VI

A GUERRA

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36 - VIDA DE HERÓI Cruzeiro , agosto de 1994 - Bom dia. Vamos começar ? - Ainda não. Acho melhor você me contar mais sobre aquele cara. - Eu não sei muito. Apenas trabalho para ele, mas não tenho acesso a todas as informações. - Que informações? Vocês são de alguma agência? - Ele vai chegar daqui a pouco. É melhor você continuar com a história. - Tudo bem, ligue o gravador. Cheguei à Terra sem a menor noção de quanto tempo estive fora. Fui até a casa do doutor Rupert para conferir, e pude vê-lo pela janela. Bati no vidro e chamei sua atenção. Ele se aproximou, mas ao invés de me cumprimentar, atirou em mim com uma pistola de chumbinhos. Fui para cima do telhado, sem entender o motivo da agressão, mas descobri o que acontecia, ao olhar para o céu. Era R-2.1, que estava sobrevoando a casa, como se fosse um urubu. Voei até ele, e mais uma vez fui atacado, mas desta vez revidei, e acertei um raio em cheio. Ele caiu no quintal de Rupert, que saiu com John para ver o que acontecera. Pousei perto dos dois e pedi uma explicação. Eles ficaram surpresos em me ver, e tive que contar toda minha jornada pela galáxia antes. Ficamos sentados no quintal, e ainda fiz um lanche. Depois foi a minha vez de ouvir, e fiquei sabendo que o robôclone havia começado a agir sem controle, desobedecendo a programação básica. Ele fez uma roupa de Dinâmico Erre, e tentou me imitar, mesmo sem ter muita perícia. Acabou causando alguns desastres, mas nada de grave. Foi quando Rupert concluiu que ele não era eu, e tentou desligá-lo. Desde então, R-2.1 ficou atacando, tentando intimidar o doutor. Eu fico fora por apenas dois meses, e tudo fica bagunçado. Mas agora só tenho que desligar o robô de uma vez por todas e nunca mais usá-lo. Mas quando me aproximo para retirar sua bateria, ele se levanta e me acerta um soco, levantando vôo e sumindo nos céus.

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Ainda tentei persegui-lo, mas ele foi rápido demais, e desapareceu. Voltei até meus amigos e disse que iria resolver isso logo, mas antes eu precisava conferir o que R-2.1 aprontou no meu lugar, lá em casa. Minha situação era meio delicada, pois o robô estava se comportando de um modo diferente do meu, e meus pais já estavam desconfiados há muito tempo. Quando cheguei, chamei os dois para conversar, e acabei convencendo-os de que estive atravessando uma fase difícil, coisa de adolescente, mas que já havia passado. Eles ainda fizeram uma cara de quem não se convenceu, mas acabaram aliviando. Com esse ponto importante resolvido, fui para a escola, pois tinha que compensar o tempo que R-2.1 ficou no meu lugar. Quando fiquei sabendo das notas nas últimas provas, quase tive um troço. Aquele robô estúpido conseguiu jogar minha média na lama, e agora eu teria que me recuperar do prejuízo com as próximas provas. Estudei como louco, e dei uma folga ao Dinâmico Erre. Enquanto isso, ele continuou azucrinando Rupert e John, e tentando agir como um super-herói. Assim que terminei de fazer as provas que já estavam marcadas, voltei a ativa, e fui caçar, o robô. Fiquei sobrevoando a cidade por horas, quando vi um incêndio no cerrado. Era um palpite, mas achei que o encontraria lá. Não houve erro. Ele tentava apagar o fogo, mas estava jogando algum material inflamável, e aumentando as chamas de maneira incrível. Liguei para os bombeiros, mas tive que fazer alguma coisa antes, para evitar uma tragédia maior. Acertei o robô por trás mesmo, para desligá-lo por hora, e fui até o Lago Paranoá. Chegando lá, enchi um latão com água, e carreguei até o fogo. Fiz isso umas dez vezes, mas consegui controlar o incêndio. Depois peguei o robô e o levei para a casa de Rupert. O doutor já esperava por mim, pronto para desmantelar o andróide. Antes que ele se reativasse sozinho mais uma vez, retiramos sua bateria, e separamos todas as suas peças. Rupert ainda quis destrui-lo de vez, mas achei melhor guardá-lo em uma caixa e deixá-lo no sótão. Pusemos a caixa bem no fundo, por trás de outra coisas que estavam no alto da casa, esperando ter posto fim a este problema. John ficou mais aliviado, pois o robô havia arranjado encrenca até com a namorada dele. Infelizmente, quem levaria toda a fama seria eu, não fosse um jantar às minhas custas, para 173


servir de desculpas e reconciliar o casal que havia brigado, por "minha causa".

37 - ENQUANTO ISSO ... Planeta Rôfega , dezembro de 1994 Minha situação na Terra logo se normalizou, e não tive que passar por outros problemas que necessitassem da intervenção do Dinâmico Erre. Com isso fiquei mais tranqüilo, e pude me dedicar mais à escola, pois eu já estava no terceiro ano do segundo grau, e queria prestar o vestibular. Enquanto eu estudava, o planeta Rôfega passava por algumas mudanças marcantes, na área política. Dêifritan, seu país mais pobre, passava por uma revolução, que culminou com a derrubada do governo e a implantação de um regime ditatorial por parte de um membro do antigo governo, o ministro da Ciência e Tecnologia; Dálfrus Defraghirus. Como é norma básica do Supremo Conselho Rofegano, não houve uma interferência nos assuntos internos do país. O novo governo foi reconhecido, enquanto que o antigo monarca e sua família, foi exilado para Kartésia. Em poucos meses, Dêifritan passou por um processo de modernização, com o emprego de novas tecnologias criadas pessoalmente por seu ditador, que era um tecnólogo de fama reconhecida. Esse crescimento, a princípio não incomodou as grandes potências; mas causava estranheza um progresso tão significativo, em tão pouco tempo. O país cresceu principalmente em uma indústria bastante estratégica; a indústria bélica! Um grande arsenal era produzido, e a origem dos projetos era atribuída ao próprio Dálfrus. Alheia a essas questões internacionais, Erriana estava cada vez mais habilidosa no manejo do anel, e contava com a ajuda de Gladion, sempre que precisava. Certa vez ela deteve um grupo de terroristas que tentaram invadir a Acrópole, e nem precisou do auxílio da Guarda Rofegana. O S.C.Rof. concedeu uma maior liberdade de ações para ela, e pôs fim ao regime de internato a que ela estava submetida. Mas ainda assim, sua verdadeira origem deveria permanecer como um segredo de estado, não havendo nenhuma divulgação 174


de seus feitos, fosse na ilha Capital ou em qualquer outra parte de Rôfega. Quem aproveitou o talento da garota foi Gladion, que resolveu tirar férias, e ainda chamou Caixinha Mágica para ir com ele. Os dois amigos foram para a ilha da Estrela Solitária, um paraíso tropical, pertencente à Rafolândia, e ficaram lá por várias semanas. Havia um certo clima de preocupação, por causa do novo governo deifritaniano, mas nada que estragasse as férias de alguém. Por outro lado, aqueles que desfrutavam de uma temporada no presídio de Kropi-Rava, não vinha nenhuma diferença nas novidades alardeadas pelos jornais. Os terrestres Karontino, Camaleon e Sr. Erro continuavam alvo das gracinhas dos presos rofeganos, e eram constantemente transferidos de cela. Já o prisioneiro mais ilustre, era mantido em um esquema de segurança máxima, desde que escapara, dois meses atrás. Ventus Malus era mantido incomunicável, e apenas robôs da Guarda Rofegana tinham acesso a ele. Com toda essa limitação, o furacão mantinha-se tranqüilo, pois acreditava que logo estaria livre novamente, para dominar o planeta como sempre quis. Erriana ainda chegou a ir até a Ilha Penal para conferir as condições de encarceramento do furacão, e ganhava cada vez mais, prestígio entre os membros do Conselho. Quando o novo representante de Dêifritan foi tomar posse, ela foi convidada a participar da festa, que foi oferecida pelo órgão máximo do planeta. Na Ilha da Estrela Solitária, Gladion e Caixinha curtiam a vida adoidado, passando por algumas aventuras e mantendo uma certa distância dos problemas de seus patrões. Patrões dos dois, pois Caixinha Mágica foi contratado como auxiliar de Gladion, e representante juvenil do Supremo Conselho em Katcharan do Sul. Como se vê, tudo seguia um curso normal, com alterações comuns na vida de pessoas que iam atrás de seus objetivos. Eu também continuei com minha vida, recuperando minhas notas na escola, e cuidando de minha cidade nas horas de folga, como Dinâmico Erre. John já havia largado a namorada, e Rupert passou a dar aulas de ciências para o 1º grau, em uma escola do Cruzeiro. 175


O ano foi chegando ao fim, e consegui concluir meu Segundo Grau. As poucas semanas que faltavam para o reveillon foram tranqüilas, e eu esperava novas emoções para o ano que estava chegando.

38 - OS CONTESTADORES Planeta Rôfega , janeiro de 1995 Dêifritan seguiu seu processo de modernização, e começou a se tornar mais atuante na política internacional rofegana, quando assinou um tratado de ajuda mútua com Tachlan e Termônia. Esses também eram países pobres, nas mãos de ditadores, e que almejavam maior destaque entre as nações rofeganas. A assinatura de tratados entre países era comum, mas os países envolvidos neste, pediam maior atenção por parte do S.C.Rof., pois eram nações com conhecidos planos de controle do planeta e que eram constantemente advertidos pelo Conselho. Os três países aliados mostraram que tinham força, e comunicaram a desfiliação do Conselho. Tal atitude causou grande espanto na comunidade internacional, pois abandonar o S.C.Rof significava perder todas as garantias de uma nação soberana e reconhecida pelas demais. Pois se todos achavam que eles recuariam em sua decisão, acabaram enganados. A aliança dos três países recebeu dois apoios de peso. Katcharan do Norte e Zambrânia filiaram-se ao grupo, que foi agora batizado de União Contestadora. Os dois novos membros receberam um ultimato por parte do S.C.Rof., e seguiram o exemplo dos aliados, pedindo a desfiliação do órgão. A perda de Katcharan do Norte foi muito sentida, pois o país era um dos quatro membros fundadores, e desempenhava papel importante nas decisões do Conselho, sem contar que era deles o maior exército do planeta, com um contingente muito superior ao do segundo maior exército, que era o de Pinatom. Com a pressão do S.C.Rof. para o desmanche da União Contestadora, abriu-se o precedente para um conflito. Alegando que navios da Guarda Rofegana vigiavam seu litoral, Dêifritan lançou uma bomba no maior navio daquela frota. Foi o estopim para o conflito, pois tropas rofeganas se instalaram na fronteira entre Katcharan do Sul e Dêifritan, e o segundo viu nisso outra 176


ameaça, e lançou novas bombas em território estrangeiro. Katcharan do Sul revidou e Katcharan do Norte partiu para a defesa do aliado, invadindo o país vizinho. A guerra havia começado. Com a agressão entre mais de duas nações, o Supremo Conselho passou a agir, e enviou novas tropas da Guarda Rofegana. Termônia tratou de enviar aviões para deter a Guarda, e Tachlan mandou navios para perto da área de conflito. Procurando um ponto para atracar, os navios tachlanianos ultrapassaram o mar territorial de Kartésia, que enviou seus exércitos para auxiliar Katcharan do Sul. Os dois porém foram expulsos facilmente do território deifritaniano, que reverteu o quadro e passou a invadir o território katcharaniano com ajuda de seus aliados. A invasão de uma nação filiada ao S.C.Rof, forçou a participação dos outros membros fundadores, e sob o comando do Conselho, Rafolândia, Pinatom e Piperan enviaram tropas para o continente deksiano. Ao enviar um grande contingente, Pinatom desguarneceu sua retaguarda e facilitou uma invasão de Tachlan pelo oeste. Exércitos de Eklânia ainda tentaram interferir, mas também foram rechaçados pelas forças da União Contestadora. Poucos eram os países não envolvidos diretamente com a guerra, mas alguns desses sofreram tentativas de invasão, por se encontrarem em pontos estratégicos, como Vuzditch e Bludia. Outros assinaram um pacto de não-agressão e neutralidade ante o conflito, nesse caso específico, Anemon e Kriósia. Os demais acabaram se envolvendo, para evitar um ataque surpresa por parte dos contestadores. Em apenas uma semana, quase todo o planeta estava envolvido em uma guerra das mais marcantes na história do planeta. Quatorze dos dezesseis países oficiais lutavam por causa daquilo que o homem mais pode cobiçar: poder total! Fatalmente, o vencedor dessa guerra, ganharia força para impor seu controle sobre os demais países, e os contestadores queriam isso a todo custo. Para eles, o maior inimigo do planeta era o Supremo Conselho Rofegano, e cabia a eles, desmantelar o órgão, mas para isso teriam que enfrentar os países que davam todo apoio ao S.C.Rof e ao Supremo Conselheiro. Os ideias eram bem claros; os contestadores queriam o fim do Conselho, maior 177


espaço na política e economia mundial e a abertura da misteriosa Cidade Rôfega, habitada pelos Supra-rofeganos, o povo responsável pela escolha da maior autoridade do planeta.

39 - ORGANIZAÇÃO ANTI-ERRE Planeta Rôfega , janeiro de 1995 O foco da guerra era no continente Deksion, e justamente no país de Caixinha Mágica. Quando ficou sabendo do conflito, ele pediu para voltar e Gladion comprou a passagem de volta. Eles já estavam no porto, prontos para embarcar, quando um navio de guerra com a bandeira de Katcharan do Norte atracou e rendeu todo mundo. Por ser um ponto estratégico, muito próximo de países fortes como Rafolândia e Piperan, a ilha foi tomada de surpresa pela maior frota de Rôfega. A marinha rafolandense foi mobilizada para recuperar o território invadido, e uma grande batalha naval foi travada. Piperan ainda enviou alguns porta-aviões, mas a marinha katcharânia era muito mais poderosa e impôs uma derrota aos dois países, e manteve o controle da ilha. Todos os habitantes foram mantidos sob regime de prisão residencial, e Gladion e Caixinha ficaram presos no hotel. Os Contestadores começaram a se apossar de outros pontos estratégicos, e o ponto alto foi a tomada da Ilha Penal de Kropi-Rava. Frotas de Katcharan do Norte e Tachlan conseguiram dominar a Guarda Rofegana e ter acesso ao arsenal estocado em um depósito próximo ao presídio. Seguindo instruções do ditador de Dêifritan, eles libertaram os presos, que concordaram em auxiliar os Contestadores em sua luta contra o Supremo Conselho Rofegano. Quando soldados penetraram na área de segurança máxima, um prisioneiro em especial teve sua grande oportunidade. O comandante das tropas foi pessoalmente até ele e abriu a cela. Ventus Malus estava livre de novo. Ele seria levado para Dêifritan, e conheceria o ditador Dálfrus, que tinha muitos planos para ele. O furacão concordou em ir, mas pediu que levassem junto, seus três capangas, pois ainda tinha planos para eles. Karontino, Camaleon e Sr. Erro foram levados em um navio de 178


carga, enquanto Ventus Malus foi a bordo do navio do comandante das tropas. Chegando em Kirós, capital de Dêifritan, os quatro foram levados à presença de Defraghirus. O ditador sabia da existência de um garoto portador de um grande poder, a serviço do Conselho, e que Ventus Malus já havia enfrentado este garoto antes. Ele queria informações para poder derrotar este garoto, quando este entrasse em ação. O furacão sorriu, e demonstrou seu plano: - Eu posso derrotar o moleque, sem dúvida, mas tenho maior interesse nos seus projetos bélicos. Selecionaremos um grupo de combatentes para cuidar dele, e eu lhe ajudarei a criar armas nunca antes imaginadas neste planeta. - De fato sei que você é um grande projetista, mas conto com os melhores de Rôfega. Meu único interesse em você é a derrota desse tal garoto. - Pois eu já tenho uma lista com os maiores criminosos de Kropi-Rava, que estão ansiosos por demonstrar suas habilidades. Eles se prepararam muito bem para esta missão, enquanto eu fiquei em uma cela, sem a menor chance de exercitar meu poder. - Está bem. Convoque esses presidiários, e crie novas armas. Mas saiba que quem está no comando sou eu! - São as regras do jogo, ditador Defraghirus. Vou com elas até o fim. O primeiro da lista não era um prisioneiro, mas sim Relâmpego, que estava no fundo do mar, desde a teleportação da ilha Afanésia para Rôfega. Um submarino de Katcharan resgatou o andróide, que foi levado para Kirós e posto novamente em funcionamento por seu mestre. Ele comandaria o grupo de bandidos que ficariam aguardando o Dinâmico Erre. Apenas os seres mais grotescos do presídio foram convocados. Carbonex, possui um equipamento capaz de dominar estruturas feitas com carbono, e modificá-las como quiser. Ganxi, um tipo de pirata, com garras de caranguejo no lugar das mãos. O Chama, louco incendiário de Termônia. Monka, um réptil peludo, com grande força e agilidade. O Gosma, de origem provavelmente alienígena, seu corpo é composto de uma substância viscosa e extremamente corrosiva.

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Os cinco, sob comando de Relâmpego começam um treinamento intensivo nas instalações do presídio, enquanto Ventus Malus trabalhava em projetos de novas armas para os Contestadores, que iam conquistando cada vez mais territórios, e desestabilizando o S.C.Rof.

40 - DE VOLTA À RÔFEGA Cruzeiro(BR), Atenas(GRE) e Rôfega , janeiro de 1995 Na sede do S.C.Rof só se via desolação. Os conselheiros dos países fiéis ao órgão estavam cientes da gravidade da situação, mas não tomavam uma atitude mais firme, por medo das consequências imprevisíveis. Erriana andava pelos corredores muito impaciente. Ela queria ir pessoalmente resgatar seus amigos, e dar um fim a essa guerra sem sentido, mas sabia que sozinha não tinha chances. A vontade de chamar o Dinâmico Erre existia, mas para isso ela ia gastar uma quantidade de energia muito grande de seu anel. A alternativa era usar a N.T.E., mas a nave estava guardada em um depósito, e proibida de ser usada. As ordens do Supremo Conselheiro não faziam sentido para ela, e num ato de insubordinação, achou melhor desobedecer o líder máximo do planeta. Abriu um portal, e foi até o depósito. Não havendo ninguém do lado de dentro, ela abriu a porta da nave, e entrou. Conferindo a energia acumulada, constatou que dava para ir até a Terra. A volta teria que ser feita, combinando as energias de seu anel com o meu. Sem pensar duas vezes, ela ligou a máquina, e um raio se projetou à frente da nave, que entra no portal intergaláctico, e poucas horas depois chega ao planeta Terra. Estacionando dentro do Parque da Cidade, ela vai voando para a casa de Rupert, e conta tudo ao velho cientista. Ele diz que pode me chamar com facilidade, pois projetou um tipo de sinalizador, que só pode ser visto por quem estiver usando o anel de rofegnum. Um facho de luz é emitido, e eu, que estava voando pela cidade, consigo avistar um grande erre dourado nas nuvens. É o chamado do doutor, e vou direto para lá, reencontrando a garota rofegana. Fico a par da situação, e me disponho a ir com ela, mas sugiro que convoquemos mais ajuda. Minha idéia é chamar aquelas garotas gregas que participaram do 2º 180


Grammagon: as Novas Erínias. Peço a Rupert e John para virem também, pois assim conto com uma equipe ao qual já estou acostumado. Antes de irmos para a Grécia, passo em casa, e digo que vou viajar com uns amigos. Demoro um bom tempo, tentando explicar essa viagem repentina, mas como estou de férias, eles acabam permitindo. Achei melhor assim, pois usar o robô-clone seria repetir um mesmo erro. Pegamos o que era necessário e embarcamos na N.T.E., rumo à Europa. Logo após a nossa partida, um vulto pulou a cerca e começou a olhar a casa de Rupert. Ele esteve por perto o tempo todo, e só esperou que nós saíssemos. Depois arrombou a porta da frente, e foi vasculhar a casa. Fiquei sabendo que ele ficou lá dentro por umas três horas, e quando saiu, veio acompanhado. O tal indivíduo havia remontado R-2.1, e seu nome era Dimitri Bucvostróv. Alheios ao que acontecia no Cruzeiro Velho, chegamos à capital grega, e nos espalhamos pela cidade. Pelo que sabíamos, as Novas Erínias tinham uma vida dupla e trabalhavam em um escritório de contabilidade na parte nobre de Atenas. Quem acabou achando foi Erriana, e o escritório era de uma delas mesmo. Aleto Psalônikos era dona da firma, e responsável pela equipe de vigilantes. Desliguei o anel, e entrei no escritório acompanhado de Erriana, Rupert e John. A secretária disse que era preciso marcar hora, mas disse que o problema envolvia a Sociedade do Ressurgimento e os Alphestés. Na mesma hora apareceu uma delas, Megaira, a mais violenta das três. Fomos ao seu escritório e expliquei que precisava de lutadoras experientes para resgatar Gladion e Caixinha, presos em uma ilha do planeta Rôfega. - Não acredito que Aleto vá querer se meter em uma guerra que não nos diz respeito. - Mas se os Contestadores vencerem, irão submeter todo o planeta a um regime autoritário, que afetará também a ilha Afanésia. E aquela ilha era muito importante para seu o pai, não é mesmo? Quem entra de surpresa agora, são Aleto e Tisífone. A líder do trio vai direto ao assunto, e expõe sua motivação a nós: - Nosso interesse em Afanésia nunca diminuiu. Nós iremos para Rôfega, para ajudar a proteger a terra de nossos

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antepassados; e se possível, trazer a ilha de volta para seu lugar, que é em nosso planeta! Pouco tempo depois, as três entram na N.T.E., que fica toda abarrotada. Demoramos um pouco, para que elas pudessem fechar o escritório e dar férias aos funcionários, e também pegar seus equipamentos. Enquanto esperamos, notei um certo descontentamento por parte de Erriana, que não ia muito com a cara de Tisífone, mas como ela ficou calada, não houve motivo para uma discussão sem sentido. Esse tempo que ficamos esperando também foi o suficiente para sermos alcançados por Dimitri e R-2.1. O excampeão do Grammagon, esteve me procurando desde que foi expulso da ilha, e queria cumprir sua promessa de vingança. Ele descobriu o endereço de Rupert, e pôs uma escuta telefônica, com a qual ficou sabendo de nossas conversas, como a desativação do robô ou a teleportação de Afanésia para Rôfega. Ele veio disposto a nos seguir até o outro planeta, e trouxe um dos trajes anti-radiação que havia na casa do doutor. Quando finalmente entramos na nave e abrimos o portal, ele entrou por trás, junto com o robô, que o ajudou a nos alcançar. Dessa vez o portal foi aberto com as energias do meu anel e o de Erriana, mas a velocidade de teleporte era a mesma, e cerca de três horas depois, chegamos todos à Ilha Capital. Sem perda de tempo, organizamos nosso plano de resgate. Clandestinamente pegamos algumas micronaves, no hangar próximo à Acrópole, e partimos para a ilha da Estrela Solitária. Ao deixarmos o espaço aéreo da ilha, fomos interceptados por caças com bandeira de Katcharan do Norte. Revidamos ao fogo, mas nossas naves não eram páreo para aviões de guerra. Felizmente contamos com a ajuda da Força Aérea Rafolandense, que nos escoltou até a península próxima à ilha. Contamos nosso plano ao general do quartel aonde pousamos, mas nossa idéia não foi bem recebida. Empreender um grupo tão grande para salvar apenas duas pessoas não é uma boa tática de guerra. Realmente estávamos sendo meio egoístas, só pensando em nossos amigos, mas o general concordou que participássemos da frota que estava sendo preparada para a retomada da ilha da Estrela Solitária. Na ilha Capital, Dimitri e R-2.1 também roubam uma micronave, mas acabam sendo capturados pelos caças 182


katcharânios, e são levados às autoridades do lado inimigo. Dimitri tenta negociar e diz que tem a arma perfeita para derrotar o principal soldado do Supremo Conselho. O ditador de Dêifritan é comunicado, e manda levarem Dimitri e o robô até a sua presença em Kirós. Do nosso lado, a missão de resgate é bem sucedida. As forças rafolandenses, combinadas com a Guarda Rofegana e dois portadores de anéis rofegnosos, conseguem recuperar o controle sobre a importante ilha. E com isso libertamos toda a população, e mais dois turistas em especial. Gladion e Caixinha se engajam em nosso grupo, e o general sugere que organizemos um grupo de resgate, próprio para missões desse tipo. Os nove passam a compor o recémcriado Esquadrão Rôfega. Para o comando é escolhido o já experiente Gladion Rogher, Rupert fica responsável pelo contato com exército rafolandense, e os demais vão à luta. Como Aleto já havia demonstrado interesse em ajudar Afanésia, e nosso grupo contava com autonomia para as missões, fomos até a ilha, para libertá-la do controle dos Contestadores, que já dominavam quase todos os pontos estratégicos do planeta.

41 - UM NOVO DINÂMICO ERRE Errionópolis, janeiro de 1995 Chegamos em Afanésia, e usando as micronaves, penetramos na ilha com o maior cuidado para não sermos vistos. Meu anel ainda tinha força para abrir um portal e chegarmos de surpresa em Errionópolis, capital da ilha, e onde se localizava o comandante das tropas inimigas. Como os outros não dispunham de traje anti-radiação, eu e Erriana fomos na frente para fazer um reconhecimento. No palácio da vila, um pequeno contingente vigiava a sede do poder, e tanques estavam espalhados ao redor do prédio. Fizemos um reconhecimento da área, e descobrimos um pequeno arsenal nos aposentos do líder afanésico. Em um galpão no pátio, estavam Mestre Beta, e os dirigentes afanésicos. Achei melhor libertá-los. Pusemos alguns soldados para correr, e assim abrimos a porta. Com um disparo, Erriana abriu um buraco no muro, e o pessoal fugiu para o mato. Depois fomos inutilizar os tanques, e 183


receber o contra-ataque das forças inimigas. No meio da vegetação, os fugitivos encontraram o resto de minha equipe, e Gladion mandou John e Caixinha acompanhá-los até a base, perto do lago. Ele e as Novas Erínias portavam um pequeno arsenal, cedido pelo exército rafolandense, e o que surpreendeu a todos, foi o ataque das garotas gregas. Pela primeira vez pude ver Aleto, Tisífone e Megaira usando todo seu potencial. Elas usavam máscaras que lhes conferiam um visual tão macabro quanto Ventus Malus, e usavam asas mecânicas, que as fazia voar como as verdadeiras filhas de Urano, vingadoras do sangue parental. Ao invés dos chicotes porém, elas carregavam fuzis, metralhadoras e canhões de plasma, que destruíam sem a menor piedade as forças de nosso adversário. A nossa desvantagem numérica nem foi considerada, devido ao poder de fogo que apresentamos. Gladion também entrou no combate, depois de parar de babar com o desempenho de Aleto e as outra Erínias. Em poucas horas recuperamos o controle do palácio e nos apossamos das armas que estavam armazenadas por lá. Avisamos o alto comando rofegano, e eles enviaram tropas para capturar os soldados que fugiam da ilha. Caixinha e John trouxeram Mestre Beta e seus companheiros de volta para recompor o governo original. Já nos preparávamos para libertar outro local, quando uma aeronave cruzou os céus da vila. Saltando de pára-quedas, seis criaturas pousaram perto de nós. Era o grupo comandado por Relâmpego, a Organização Anti-Erre. Nem tivemos tempo de comemorar, e começamos uma nova batalha. As criaturas grotescas tiradas das celas de segurança máxima da ilha Penal estavam sob efeito de uma massiva campanha que me colocava como o pior dos seres que habitam nossa galáxia. Estavam ansiosos para ter a honra de levar minha cabeça até o líder deles. Como eu não estava sozinho, eles tiveram que sortear quem ia poder brigar comigo, e quem ia ficar com os demais. Até fiquei orgulhoso com essa preferência, mas parei quando fui golpeado de supetão por um pedaço de criatura. Tirei o visco dos olhos, e vi meu adversário. Era um ser todo deformado, com gel fluindo de seu corpo. Fiquei até com nojo, e para revidar, usei apenas os raios do anel, para poder manter uma distância saudável dele.

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Os outros estavam ocupados enfrentando seus adversários, e acho que fui o que pegou o pior dos seis. Eu não queria, mas fui atingido em cheio, e o ser conhecido como o Gosma, aproveitou e pulou em cima de mim. Era torturante ser agarrado por ele, e seu mal cheiro me deixou tonto. Consegui me soltar, mas com meu corpo todo cheio de visco, acabei escorregando ladeira abaixo, e fui parar em uma poça de lama. Era preciso lavar minha honra e meu uniforme, mas o tal do Gosma sabia lutar. Ele se arremessou contra mim, e fui golpeado várias vezes na cabeça. Foi demais para mim, e caí desacordado. Quando voltei a mim, estava cercado por um monte de gente, que me olhava com um ar de preocupação. Levantei e perguntei a eles: - Quem são vocês, e aonde estou? - Sem brincadeiras. Ficamos preocupados com você. Aleto me respondeu. - Sem querer ser chato, mas quem sou eu mesmo? Só fiquei sabendo dessa parte por que me explicaram depois. Eu havia sofrido uma perda de memória com as constantes pancadas na cabeça por parte do Gosma, e os demais interromperam o espancamento, depois de derrotarem os outros vilões. Segundo a médica das tropas, eu recuperaria minhas lembranças aos poucos, mas precisava de repouso. Gladion viu nessa minha parada um sério desfalque, e disse que eu precisava emprestar minha arma para alguém do grupo. Obviamente ele queria que eu passasse o anel para ele, mas como eu estava um tanto "avoado", perguntei qual era a arma. Quem estava mais perto de mim era Caixinha, e ele apontou para meu dedo. Olhei para ele, e sem a menor cerimônia, tirei o anel e lhe dei, para em seguida ir com a médica para o avião que nos levaria para uma base mais segura. Gladion ficou boquiaberto com minha atitude. Por outro lado, e não menos surpreso, Caixinha Mágica hesitava em por o anel no dedo, mas Erriana o incentivou. O jovem katcharaniano então colocou a poderosa arma, apertou seus botões e disse: - Dýnamis Érrion !

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42 - PAZ EM RÔFEGA Cidade Rôfega , janeiro de 1995 O Esquadrão Rôfega embarcou em suas micronaves, e rumou para a Ilha Capital. Segundo informações, a sede do poder mundial já havia sido invadida, e os conselheiros estavam mais uma vez sob a mira das armas dos capangas de Ventus Malus. O furacão devia estar com muita moral perante o ditador deifritaniano, pois conseguiu impôr aqueles três na chefia de uma missão tão importante. Meus amigos conseguiram atravessar o cerco inimigo com facilidade desta vez, pois contavam com um apoio maior agora. A situação do nosso lado ia melhorando, com a maior participação dos outros países, que também iam recuperando os pontos estratégicos tomados pelos Contestadores. Uma nova batalha se deu em frente à Acrópole, e para orgulho da equipe, Caixinha Mágica se saiu muito bem como Dinâmico Erre. Ele ainda não havia usado o anel, mas de tanto me acompanhar em aventuras, acabou aprendendo alguns macetes. Pouco tempo depois, eles conseguiram entrar no prédio, e foram penetrando na sede do Supremo Conselho. Enquanto isso, eu fui me recuperando. A médica que cuidava de mim era muito competente, e eu só sentia uma pequena dor de cabeça. Logo fui relembrando os fatos de minha vida. Eu já estava quase bom, quando ela sugeriu que eu fosse ver os prisioneiros, para terminar o processo de rememorização. Nas celas muito bem trancadas, estavam os monstros da O.A.R. e Relâmpego, que sofreu uma pane, durante seu combate com Gladion, e ficou desligado. Fiquei sozinho, e o responsável pelo meu lapso me chamou para conversar. Cheguei perto dele, e ele me revelou que nem sempre foi aquele monstro nojento. Eu já conhecia a história da família Joter. Sabia que o pai de John era astronauta, e que sumira no espaço, quando sua cápsula se abriu; mas minha memória ficou 100%, quando ele revelou que era esse astronauta perdido. O Gosma era o pai de John. Não era necessário mais nada para por meus neurônios em ordem agora. Fiquei chocado ao saber o que acontecera com o pai de meu amigo. O pior foi que o Gosma, ou melhor, Johann von Joter, me pediu que guardasse esse segredo. Para ele era 186


melhor que o filho achasse que ele já morreu, do que ver uma criatura alterada geneticamente por radiações cósmicas. Ele ficou nesse estado e depois foi encontrado por Aimakog, aquela mesma criatura que conheci meses atrás. Acabou largado em Rôfega e foi isolado pelo S.C.Rof, que escondia da população a existência de alienígenas. Achei melhor voltar para a luta, e se fosse possível, livraria o Gosma da prisão, depois da guerra. Peguei uma micronave, e fui para Cidade Rôfega, escoltado por alguns soldados da Guarda Rofegana. Mal pousei na ilha, e fiquei sabendo das últimas notícias. Uma grande fragata, formada por todos os outros países contrários aos Contestadores havia invadido as capitais dos países rebeldes. Eles tiveram que assinar a rendição, e a guerra havia terminado. Apenas o pessoal que lutava dentro da Acrópole desconhecia o fato. Vesti um colete à prova de lasers, e entrei correndo para avisar meus amigos. Quando os achei, vi que eles estavam em frente à porta da Sala de Reuniões do S.C.Rof. Os conselheiros continuavam reféns dos vilões, e dessa vez, quem comandava os bandidos era o próprio Ventus Malus. Os ferimentos deles eram poucos, e o pessoal estava pronto para invadir a sala se fosse preciso. Dei uma olhada para Caixinha e ele entendeu a indireta. Desligou o anel e jogou para mim. Apertei os botões e disse "Shaz...", quer dizer, "Dýnamis Érrion". Eu voltava à ativa. Pelo comunicador da sala dos seguranças, entrei em contato com Ventus Malus. Assumi o papel de negociador, e perguntei o que ele queira para libertar os conselheiros. A criatura falou, com sua voz cavernosa, apenas duas palavras: O anel ! Entregar o Dýnamis Érrion para ele, era dar o ouro ao bandido. O furacão já era poderoso com seus óculos, que emitiam a radiação de antirrium. Juntando o anel, ele seria invencível. Recusei a proposta, e vi que ele ia matar a representante da Bludia. Agi o mais rápido possível, e abri um portal, para chegar lá e tirar a mulher de suas garras. Lá dentro abri outro portal, e joguei o furacão dentro dele. Logo em seguida soltei um raio para arrombar a porta, e deixar que meus amigos entrassem, para me ajudar. Com o Esquadrão Rôfega na sala, os outros se acovardaram, e soltaram os reféns. Sem Ventus Malus, eles não 187


era nem um pouco perigosos. Camaleon e Sr. Erro foram algemados, mas na vez de Karontino, acabei mordendo a língua. O estelionatário estava perto da saída de emergência e empurrando um dos conselheiros em cima de Gladion, desviou nossa atenção e fugiu pela porta. Ele estava com um controle remoto, que abria e fechava todas as portas do complexo, e logo depois que passou por ela, conseguiu trancá-la. Usei o portal pela terceira vez seguida, e fui atrás dele. Dentro do túnel, que era muito escuro, só pude ouvir seus passos para a saída. Comecei a correr, e chegamos no hangar da Acrópole. O lugar estava deserto, e não tinha iluminação natural. Com as luzes artificiais, o anel não poderia se recarregar, e seu nível de energia acabara de chegar a quase zero. Vendo que tinha alguma vantagem, o bandido pegou uma espada-laser, que estava por perto, e era usada pela Guarda. Eu já ia ser fatiado, quando me lembrei de uma coisa que li no Manual do S.C.R. Havia uma última arma possível, em caso de pouca energia no anel. Apertei os botões e disse: ""8. Uma espada de luz sai do erre desenhado no anel, e começo o duelo. Eu desconhecia a habilidade de Karontino na esgrima, e comecei levando alguns toques, mas fui virando o jogo, e em um só golpe, tirei a espada de sua mão e o rendi. Ele xingou a mim, e a todos os meus antepassados, mas só o algemei e o levei para que fosse levado às autoridades Quanto à Ventus Malus, não sabia como ele seria preso, pois o portal que eu abri acabou facilitando sua fuga. Se bem que ele foi parar em lugar bastante inóspito. O furacão estava em algum ponto dentro da base espacial não concluída, em Akóliton, satélite de Rôfega. Se não estava preso em Kropi-Rava, pelo menos não tinha como voltar ao planeta.

8 GLADIUS (espada, em latim)

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- Já podem parar. Descansem um pouco e amanhã vocês terminam. - Você chega sem mais nem menos, e já vai dando ordens, é ? - Eu sou o chefe aqui. Faça o que eu digo, e não terá problemas. - Você se submete a esse cara, desse jeito ? - Eu sou paga por ele. Se ele quer que encerremos por hoje, é melhor fazermos assim. E eu estou um pouco cansada mesmo. - Que seja. Mas amanhã termino essa história, e vou querer todas as minhas respostas. Não tentem me enganar. - Acho que você ainda não percebeu. Você não está em condições de exigir nada. Se não for de meu interesse, você não saberá de nada. - É o que veremos. Encontre-me amanhã na Praça das Fontes, à tarde, e daremos um ponto final em tudo isso.

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 PARTE VII

A CONCLUSÃO

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43 - O TRIBUNAL DE ERRIONÓPOLIS Errionópolis , fevereiro de 1995 - Onde está seu chefe? - Ele só chega mais tarde. Mas me diga uma coisa. Você é maluco? - Por que? - Desafiar o homem daquele jeito, escolhendo o local do encontro. Eu lhe disse que ele é perigoso. - Agora é tarde. Vamos começar. Com o fim da chamada Grande Guerra Rofegana, os principais responsáveis pelo conflito foram levados a julgamento. Para sede deste tribunal, foi escolhido um lugar neutro; a recém-chegada ilha Afanésia. Todos os prisioneiros foram levados para lá, e acomodados em celas provisórias, mas muito bem vigiadas pela Guarda Rofegana. O nosso Esquadrão Rôfega foi chamado para prestar depoimentos. Foram vários dias julgando líderes de Estados que usurparam ou abusaram do poder, bandidos que se envolveram, ou comandantes que infringiram os Direitos Rofeganos. A única ausência na lista dos réus, era Ventus Malus. O furacão conseguiu escapar desta corte, mas era só meu anel se recarregar, que eu iria buscá-lo. Até porque, muitas autoridades achavam que eu era responsável por essa fuga, e precisava reparar um erro. Vieram os julgamentos. Os líderes dos países rebeldes (Dêifritan, Katcharan do Norte, Tachlan e Termônia), foram sentenciados a vinte e cinco anos de prisão, e perderam seus direitos de chefes de Estado. O único absolvido, foi o presidente da Zambrânia, pois seu país mudou de lado , e deu uma contribuição para a virada dos aliados do S.C.Rof. Os países que tiveram seus líderes condenados, passaram a ser governados por juntas provisórias de três anos, que depois escolheriam novos líderes. Eles foram readmitidos no Conselho, mas durante esses três anos, não puderam indicar um conselheiro. Suas Forças Armadas foram reduzidas à 75%, e todos os componentes do alto comando militar dos Contestadores foram condenado a vinte anos de prisão. Os bandidos da Ilha Penal que colaboraram com eles, tiveram suas penas originais, dobradas, e as cumpriram na área 191


de segurança intermediária. Os membros da O.A.R. (Org. AntiErre), porém, ficaram na área de segurança máxima. Nesse momento tentei intervir a favor do prisioneiro denominado o Gosma, mas ele fez sinal para que eu deixasse ficar como estava. Olhei para John, e não tive coragem de desobedecê-lo, e voltei a me sentar. Fiquei quieto, durante o resto do julgamento, e só falava quando era chamado, mas não me conformava com a situação de Johann. Mesmo tendo brigado com ele, eu sentia pena de sua situação, afinal ele não havia cometido nenhum crime para ser jogado em Kropi-Rava. Ao chegar a vez dos capangas de Ventus Malus, fiquei mais atento ao julgamento. O primeiro a sentar-se no banco dos réus foi o Senhor Erro. Ele era acusado de cumplicidade nos crimes de seqüestro dos conselheiros por duas vezes, e colaboração com os autores da Grande Guerra. Sua pena seria de quinze anos, não fosse a intervenção de Rupert. O irmão do acusado acabou testemunhando em seu favor, alegando que Erik von Joter havia sido aliciado pelas promessas de Ventus Malus e Karontino. Os dois eram muito mais responsáveis do que seu irmão e Camaleon. O júri acabou concordando. Rupert já contava com algum prestígio perante a comunidade rofegana, por sua ajuda na guerra ao lado do Esquadrão Rôfega. Por unanimidade, Erik von Joter, e também Carlos Manos Léon, conhecido como Camaleon, foram condenados a prestar serviços à comunidade, em algum país que fosse melhor adaptável para eles. No caso, o país escolhido foi a Rafolândia. Os dois até comemoraram, pois detestaram a estadia na ilha Penal. Karontino não teve a mesma sorte. Ele era reconhecidamente, o maior colaborador de Ventus Malus. Sempre comandou as operações, quando seu chefe não estava presente, e ainda abusava do poder que tinha, mandando e desmandando. Nem tanto o Senhor Erro, mas Camaleon sofreu bastante nas mãos do parceiro, que por decisão do júri foi condenado a quinze anos de prisão, na área de segurança máxima da ilha Penal de Kropi-Rava. Nunca ouvi tantos palavrões seguidos, e foi preciso uns três guardas para conter o condenado. Ele foi levado para a cela, e ainda teve de passar bem em frente a seu ex-parceiro.

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De longe pude ver a enorme língua que o boliviano mostrou ao seu grande amigo, que foi para cadeia mordendo a gravata de tanto ódio. Rupert ainda foi falar com o irmão, e os dois acabaram fazendo as pazes. John também abraçou o tio, e se despediu dele. Camaleon estava tão contente, mas eu não sabia se era pela pena leve que pegou, ou pela punição de Karontino. Os dois últimos a serem julgados não eram esperados por ninguém. O ministro da Ciência e Tecnologia e o Ministro do Estado Maior das Forças Armadas, ambos da Rafolândia. Eles eram responsáveis pelo fornecimento de armas e projetos para Dêifritan, que só conseguiu um crescimento bélico graças a essa traição dos dois ministros. Os dois foram condenado a vinte anos, cada um, em celas de segurança intermediária em KropiRava. Esses cargos ficaram vagos no governo rafolandense, mas seria por pouco tempo. O juiz já ia encerrar os trabalhos, quando uma explosão se deu na entrada do tribunal.

44 - VENTUS MALUS CONTRA-ATACA Errionópolis e Akóliton , fevereiro de 1995 Com o assentar da poeira, todos puderam ver quem era o responsável. O andróide Relâmpego, que estava funcionando novamente. Ele já havia destruído quase todos os robôs da Guarda, que cercavam o prédio, e desativado os alarmes. Sua missão era capturar alguém influente para ser levado até Ventus Malus e servir de refém. Como não tinha muito tempo, ele agarrou quem se aproximou dele. Era Erriana que partiu para o ataque afim de proteger as autoridades. Seu anel estava fraco, mas ainda serviu para dar um disparo e afastar Relâmpego, que pegou outra pessoa, e saiu voando pelo buraco que fez. Era Caixinha Mágica, que estava do lado da garota, e nem teve chance de escapar diante da velocidade do inimigo. Saímos todos, para tentar alcançá-lo, mas já era tarde demais. Só pudemos vê-lo voando para uma nave, que tinha como piloto, um terrestre que pude reconhecer como Dimitri Bucvostróv. Tudo aconteceu muito rápido, e com meu anel sem energia, não dava para ir atrás deles. Erriana ainda tinha um 193


pouco mais de poder, e queria ir buscar Caixinha. Gladion achou melhor ir, mas com a N.T.E., que já devia ter carregado energia suficiente para chegar em Akóliton. Quando eles já saíam para pegar a nave, um telão se refletiu nas nuvens. Era Ventus Malus, falando diretamente da base akolitana. Segundo ele, a base possuía um ótimo laboratório bélico, onde dezenas de armas experimentais, e outras tantas já prontas, estavam ao seu alcance. Ele queria que evitássemos o uso dessas armas, capazes de destruir Rôfega, entregando a ele um único objeto. Caso contrário, ele dirigiria todo o arsenal para o planeta. Se alguém fosse até o satélite para detê-lo, teria que enfrentar seu andróide e mais um novo aliado, que carregava consigo, a melhor arma para destruir o Dinâmico Erre; e ainda colocaria em perigo, o refém que Relâmpego foi buscar. Gladion trouxe a nave, mas ia apenas com a garota. Eu me joguei dentro da N.T.E., e fomos os três até o satélite. Ainda ouvi uma bronca, por me intrometer nisso sem ter como me defender, mas já era tarde. Chegamos, e a nave nos teleportou para dentro da base. Gladion saiu primeiro, com a metralhadora em punho; e foi seguido por Erriana, com seu anel, bem enfraquecido. Eu levei o meu, mas não adiantaria nada, pois a base se localiza no lado escuro de Akóliton, e a luz do Rôlfus não chega até lá. Eu e a garota rofegana não teríamos como recarregar nossas fontes de poder, e Gladion não tinha como vencer o furacão apenas com sua metralhadora. Nossa situação era bastante complicada. Achamos melhor procurar por armas, pois iríamos precisar. Como estávamos bem no meio da base, não demoramos muito para achar um armário com equipamento leve. Ainda não dava para enfrentar o furacão; sem falar em Relâmpego e Dimitri, que segundo Ventus Malus, tinha uma arma capaz de destruir o Dinâmico Erre. Falando nele, ouvimos um grito de guerra vindo do corredor: - Enfrentem agora o KOMANDANTE YÁ, covardes !

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45 - CONFLITO

EM AKÓLITON Akóliton , fevereiro de 1995

O lutador russo estava com uma roupa vermelha, e segurava uma bazuca. Em seu peito havia um erre invertido, e ele demonstrava um ódio nos olhos ao me encarar, que não pude deixar de ficar com medo. Mas a curiosidade também era grande, e perguntei o que significava o "R" ao contrário. - Esta é Yá ( ), a última letra do alfabeto cirílico; e que escolhi para simbolizar a minha rivalidade com você, Super Capitão "R". - Agora é Dinâmico, mas eu continuo Erre ! Só pude avisar que mudei de nome, por que depois começamos a nos desviar das rajadas de sua bazuca. Sua arma feita especialmente para me destruir, disparava fragmentos de antirrium, o isótopo radiativo do rofegnum. Se os dois materiais entrassem em contato, haveria uma reação em cadeia, que desintegraria o que estivesse em contato. Como o anel estava descarregado, eu não chegaria a sumir, mas poderia ser afetado pelos efeitos radiativos do isótopo, e por isso mesmo, tratamos de nos proteger. Os corredores da base pareciam um labirinto, e nos separamos, para confundir o Komandante Yá. Avisei a Erriana, para não gastar seu anel com ele, pois ainda tínhamos Ventus Malus. Coube a Rogher deter o inimigo. Ele subiu em cima do beiral de uma porta, e esperou Bucvostróv passar, para depois se jogar em cima dele. A bazuca foi largada, e os dois começaram a brigar. Eu achei que Gladion iria vencê-lo, mas o russo era todo anabolizado, e acabou pondo nosso amigo a nocaute. Pensei levantar a tal bazuca, mas de tão pesada, mal consegui movê-la. Comecei a recuar, quando Erriana apareceu. Confiando mais na sorte, do que em qualquer outra coisa, ela pulou em cima do grandalhão como fez Rogher, mas foi atirada para o chão com força. Tentei evitar, mas não cheguei a tempo. Ele acertou um chute bem no estômago da garota. A fúria que tomou conta de mim foi inexplicável, e pulei para cima dele. Antes de desmaiar de dor, Erriana ainda conseguiu jogar seu anel para mim. Em uma questão de segundos, o anel se encaixou em meu dedo, e eu acertei um chute na cara de Dimitri.

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Quando cheguei ao chão, liguei o anel, apenas para ficar protegido pelo seu campo de força. Tive também a minha força física multiplicada por sete, e esmurrei o russo com vontade. Cai batendo com toda força, sem dar um minuto para ele, até nocauteá-lo. Só depois fui ver Erriana e Gladion. Eles estavam inconscientes, mas bem. Cabia a mim ir atrás do furacão. Fui correndo pelos corredores, e cheguei em um tipo de galpão, com teto transparente. Dentro de uma jaula, dependurado no teto, estava Caixinha Mágica. Sentado diante de um painel de controles, Ventus Malus, aguardava pelo resgate. Nem foi preciso dizer, o que ele queria em troca da vida do planeta. Ele se levantou da cadeira, e senti um frio na barriga. Seus óculos brilhavam com muita intensidade; como se ele estivesse no auge de suas forças. Deve ter usado antirrium para carregar, tanto a bazuca de Bucvostróv, quanto a sua fonte de poderes. Eu estava com os dois anéis no dedo, mas nenhum tinha força para enfrentá-lo em igualdade. Tentei dialogar: - Você já é poderoso. Por que quer tanto o anel assim. Não faz sentido! - Não faz sentido, é ficar preso por dois milênios e meio, esperando uma oportunidade de realizar seus desejos. Eu tenho esse poder, mas ele é muito limitado, se comparado ao que você carrega. - É impressão sua. Esse anel não é tão bom assim. - Não me venha com suas gracinhas. Eu sei que ele está sem carga, pois consigo sentir. Porém, uma vez carregado, em toda sua capacidade, não há limites para ele. Quando ele falou isso, vi que havia um daqueles canalizadoras energéticos no galpão. Devia ser do mesmo tipo que usei antes de me perder no espaço. Se ele recarregasse mesmo o anel, estaríamos enrascados. E ele estava radiante com sua vantagem: - Não existe a menor possibilidade de você me vencer sem seus poderes. Entregue-me o anel agora. Olhei para Caixinha, e dei o único disparo que era possível, para abrir sua jaula. O baixinho saiu, e joguei o meu anel para ele. Fiquei com o de Erriana, e fiz sinal para C.M. sair correndo. Como eu estava perto da porta, fechei depois que ele passou. Mostrei o anel em meu dedo ao furacão, e avisei:

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"Agora, é apenas entre nós dois. Dinâmico Erre contra Ventus Malus !"

46 - COMBATE FINAL Akóliton , fevereiro de 1995 Eu havia bolado um plano, meio suicida na verdade, mas que poderia ser a minha única chance. Era preciso colocar o anel no Canalizador Energético, para ter condições de me defender. Fingindo me entregar, fui me aproximando dele, bem devagar. Quando estava bem perto da máquina, ele notou minha real intenção, e disparou. O raio não pegou em mim, ou no Canalizador, mas abriu uma cratera no chão. Fui me esconder embaixo de uma mesa, e comecei a rezar, pois era quase certo que eu iria morrer. De repente não havia mais mesa; ela fora desintegrada por outro raio do furacão. Fiquei em pé, e já aguardava por um tiro de misericórdia. As garras de Ventus Malus se elevaram, brilhando com força. O raio foi disparado, mas não pegou em mim. Entrou por um portal, que surgiu bem na minha frente. Ele se fechou, e reabriu ao meu lado. Dentro dele saiu um homem vestindo uma armadura dourada; em seu peito havia o símbolo de Érrion, e cheguei a pensar que era o próprio, mas não. Quem usava a armadura era o Doutor Rupert, que tirou o capacete para me mostrar o rosto, e pôs de volta. Ele me puxou pelo braço, e entramos no portal. Aparecemos do lado de fora do galpão. Rupert saiu de dentro do traje metálico, e mandou eu entrar nele. Ele era o protótipo da arma que Érrion deveria ter entregue ao General Antirres, e que foi escondida por ser muito poderosa. Mestre Beta e Rupert conseguiram achá-la naquele túnel onde encontrei o Manual do S.C.R. Tratei de entrar nela, e com um portal, voltei para o galpão. A roupa era muito grande para mim, mas dava para me equilibrar nela. Por dentro havia um visor, com mostragem das funções, e um tubo para servir de respiro, no caso de viagens espaciais. Minha confiança voltou ao auge, e cheguei no galpão disposto a prender o furacão. A criatura com que me deparei não era um anemóide comum. Ventus Malus já era esquisito, mas depois que absorveu 197


toda energia do antirrium que tinha estocado; ficou simplesmente macabro. Estávamos no mínimo, com a mesma quantidade de energia; ou talvez, ele tivesse mais. Descobri do pior modo possível. Com um raio ele estourou a cobertura de vidro, e o vácuo nos arrastou para fora da base rofegana. Em um ambiente com gravidade nula, sem atmosfera e exposto às intempéries do espaço, achei que ia morrer, mas a armadura automaticamente ativou o sistema de suporte de vida. Eu não podia perder tempo. Sobre meus punhos havia um cano, por onde disparei poderosos raios. Sem o atrito do ar, fui jogado mais longe do que de costume. Voltei voando, mas fui atingido por uma verdadeira bomba. Fui arremessado por mais de quatro quilômetros. Revidei, e a cada tiro, eu me distanciava mais da base. Queria mudar de tática, mas não dava para ir a um combate corpo a corpo, com um ser composto 90% de gases. Se bem que eu poderia acertar nos dez por cento restantes, que eram sólidos. Alcei vôo e acertei um murro em seu nariz. Passei por dentro dele, e disparei no seu interior. Caí sentado, mas notei que o feri de jeito. Ventus Malus caiu, contorcendo-se de dor. Mantive distância, mas não adiantou. Ele apenas se virou, e disparou um raio que deve ter custado quase toda sua energia. O impacto foi tão forte, que voltei para a base, atravessando uma parede de 50 cm de espessura. Aterrissei todo arrebentado. O impacto conseguiu danificar os controles da armadura, e eu não conseguia me mover. Retirei o tanque de oxigênio, e sai de dentro da roupa. Ainda podia conseguir um pouco de energia, bastando para isso encostar o anel na armadura. Eu me lembro que quando encostei na N.T.E., na época em que conheci Caixinha Mágica, houve uma transferência de energia. Meu anel estava fraco, mas voltou ao normal rapidamente. Repeti a operação, mas não deixei o anel encostado por muito tempo. Ventus Malus parecia recuperado, e veio com toda a fúria do mundo. Recebi outro golpe, e voltamos para o galpão, aonde estávamos. O anel só tinha energia para sustentar o campo de força, e a espada laser. Ativei minha última arma, mas ela também era inútil. Fui golpeado com mais raios, e depois foram socos e mais socos. A mão de Ventus Malus já é do 198


tamanho de minha cabeça, imagine a força de um soco dele então. Nem o campo de força podia conter tantos impactos. Eu estava sendo espancado sem a menor piedade ! Eu fui trucidado. Não cheguei a quebrar nenhum osso, mas estava com hematomas por todo corpo. Doía até quando eu respirava. Eu queria reagir, mas meus músculos não obedeciam. Fui agarrado pelo pescoço, e levantado como se fosse um boneco. Minha mão direita foi segura, e ele puxou o anel. Jogar-me contra a parede foi até pouco, diante do que passei antes. Ficar de pé era tão difícil quanto voar sem o anel, que aliás estava sendo colocado dentro do Canalizador Energético. Uma energia de doze mil megawatts foi descarregada no pequeno adorno digital. Nessa hora, me lembrei do que disse o Komandante Yá. A energia combinada do antirrium com o rofegnum, era capaz de desintegrar qualquer coisa. Fui me arrastando para fora do galpão, e abri a porta, fechando-a logo em seguida. Rupert e os outros devem ter voltado para Rôfega, pois não tinha ninguém por perto. Se a tal reação acontecesse mesmo, não ia sobrar nem um boné para contar história. Eu não tinha condições de sair correndo, então sentei no chão e esperei. Um minuto depois, o portal se abre. A N.T.E. aparece e sua porta se abre, com Rupert e John saindo para me carregar para dentro dela. Sem perda de tempo, voltamos pelo portal. John me mostra em uma telinha, o galpão. Tudo que se passou por lá, foi transmitido para Rôfega. Eles só não me buscaram antes, porque a nave estava se recarregando. Chegamos na ilha Capital, e fomos observar o grande telão projetado nas nuvens. Ventus Malus fazia a maior cerimônia para colocar o anel. Por fim o ajeitou na unha, pois era muito pequeno para caber em seu dedo. Apertou os dois botões e disse a frase. A explosão que se seguiu deve ter destruído a base toda. Nem foi preciso olhar pelo telão. A noite já estava começando, e Akóliton estava bem visível para nós. Todo o planeta deve ter visto o clarão no satélite. Estava acabado; o furacão Ventus Malus estava morto.

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47 - HERÓIS DE UM PLANETA Cidade Rôfega , fevereiro de 1995 Um certo alívio foi sentido pelos rofeganos, pois a fama dele havia se espalhado rapidamente. Eu não estava feliz com a morte de Ventus Malus, mas não senti pena também. Acho que essa era a conseqüência mais provável para ele e para Relâmpego; que também estava na base. A vida continua, e tratamos de nos preocupar com nossos outros problemas. Fui levado a um ambulatório, para tratar de meus hematomas, e depois recebi a visita de meus amigos. Eles não demoraram muito, pois eu seria submetido a um processo muito avançado da medicina rofegana. Entrei em um aparelho parecido com aqueles usados para tomografia, e uma hora depois sai de lá sem nenhum arranhão. Era tão milagroso, que nem pude acreditar. Até as dores haviam passado, e não se via sinal algum do espancamento por que passei. Pude sair logo depois, e fui até o pátio da Acrópole. Erriana e Caixinha estavam lá, e me aproximei dos dois. Ficamos lá de bobeira, até que John veio nos chamar. Nós iríamos participar de uma festa para comemorar o fim da guerra, e a salvação do planeta pela minha turma. Depois de nos arrumarmos, fomos todos ao salão nobre, e encontramos o resto do pessoal. Achei que seria uma daquelas festas bem formais, cheias de protocolo, mas descobri que os rofeganos não são muito ligados nisso. Foi uma das festas mais animadas que já vi. O ponto alto foi no final. Os nove integrantes do Esquadrão Rôfega foram todos condecorados, e os que eram terrestres, receberam a honraria de Cidadãos Rofeganos Honorários. Já era meu segundo prêmio aqui em Rôfega, e cada vez mais, eu me sentia um rofegano de verdade. Mas eu não era o único. Dr. Rupert foi chamado à tribuna, e o conselheiro rafolandense, que acabara de lhe entregar o título de cidadão rafolandense, também fez um convite. Queria que ele assumisse o cargo de Ministro de Estado da Rafolândia, na pasta da Ciência e Tecnologia. Todos ficaram de boca aberta, principalmente o cientista alemão. Se já era incomum, um estrangeiro assumir um alto posto em um governo nacional, quanto mais um

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alienígena. Esse convite me fez pensar na possibilidade, de ficar em Rôfega em definitivo. Foi apenas uma idéia, mas eu sabia que Rupert ia recusar, e não seria eu quem pediria para ficar. Aconteceu justamente o contrário. Ele pegou o microfone, e fez um discurso improvisado de meia hora, para depois dizer que aceitava o cargo. Eu fiquei de boca aberta mais uma vez. Logo em seguida tive que amarrar o queixo. Para o cargo de ViceMinistro (lá tem isso!), foi chamado, John Joter, que também aceitou. Eu não esperava voltar para casa sozinho. Só faltava as Novas Erínias arranjarem um cargo também. A atitude delas porém foi outra. Aleto tomou a palavra, e fez um pedido ao S.C.Rof. Ela queria que a terra de seus antepassados, fosse devolvida para a Terra. Todos sabiam que não havia sido idéia do Conselho, trazer Afanésia para Rôfega, mas ela queria que eles ajudassem a teleportar a ilha de volta. Antes do conselheiro se manifestar porém, outra pessoa foi ao microfone. Era Mestre Beta, líder dos afanésicos; que expôs sua posição. Com os antigos chefes da Sociedade do Ressurgimento presos em Kropi-Rava, a população afanésica sentia-se mais confortável. Agora que sua terra não era mais invisível aos olhos de outras nações, eles sentiam um desejo de se fixarem lá, como uma nação terrestre em Rôfega. Se o Supremo Conselho reconsiderasse sua posição, e admitisse um representante deles no órgão, Afanésia tornaria-se uma nação completa, como nunca antes aconteceu. Aleto não gostou da decisão, mas ela já havia sido debatida pelos afanésicos há algum tempo, e ela acatou o desejo do povo. Quanto à decisão do S.C.Rof.; somente com uma reunião extraordinária, que seria convocada em momento oportuno para se resolver a questão. Com o fim dos discursos, fomos todos para as mesas, pois já era hora do jantar especial. Seria servido o prato mais tradicional da culinária rofegana. Chamava-se  e era uma pasta feita com cenoura crua ralada, misturada com um creme bem parecido com maionese, e um pó semelhante à conhecida farinha de mandioca. Olhei meio desconfiado, mas acabei pondo um pouco na boca. Acabei comendo tanto que até 9 Guadzabulhio (mistura, em italiano)

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fiquei com a barriga estufada. Foi realmente uma festa digna para os heróis de um planeta.

48 - A DESPEDIDA ! Cidade Rôfega, Atenas e Cruzeiro , fevereiro de 1995 Logo pela manhã, tudo foi preparado para regressar à Terra. A N.T.E. passou a noite dentro de um Conversor Energético, e tinha energia suficiente para ir e voltar. Soldados da Guarda Rofegana trouxeram a nave, e a deixaram no pátio. Todo o grupo se reuniu, e chegara a hora das despedidas. Gladion mostrou-se o mais emocionado, mas disse que era apenas um cisco em seu olho. Rupert tentou me fazer entender sua decisão, mas não deixei ele falar, e dei-lhe um forte abraço. Caixinha Mágica ainda pediu para que eu ficasse, mas entendeu que eu também teria saudades de meu planeta. O abraço dele foi o mais demorado, e quem deixou entrar um cisco no olho, desta vez, fui eu. Erriana se aproximou e ficou me olhando, sem dizer nenhuma palavra. Eu também fiquei calado, e só aproximei meu rosto. Foi um beijo longo e gostoso, mas que terminou como começou. Sem palavras. Minhas pernas tremiam, e fui para dentro da nave rapidamente. Fiquei esperando as Erínias se despedirem. Quem sentou-se perto de mim foi Megaira. Aleto ficou atrás e Tisífone o mais longe possível. Eu percebi que ela não ficou nada satisfeita com o beijo de Erriana, mas foi melhor ficar quieto. Quem ia pilotar a N.T.E. era John. Apertamos os cintos, e um raio sai da ponta da nave, abrindo um portal à nossa frente. Ainda olho para a garota rofegana, e dou um leve sorriso. Dentro do portal, pode se ver um show de luzes e distorções visuais. A sensação que se tem, é de que você está dentro de um caleidoscópio. A viagem ocorre a uma velocidade próxima à da luz, mas não causa nenhum efeito no organismo. Com uma duração curta para a distância percorrida; cerca de três horas separam a Terra de Rôfega, fico pensando em qual é a distância real entre os dois planetas. Devem estar mais próximos do que se imagina. Ou quem sabe o planeta inteiro não está sob o mesmo efeito que estava Afanésia na crosta terrestre? Estaria Rôfega perto de nós, mas seria invisível para a população terrestre? 202


Chegando à Terra, nossa primeira parada é em Atenas. É a vez de nos despedirmos das Novas Erínias. Aleto, mantém sua posição austera, mas dá um forte abraço em mim e John. Megaira, com seu jeito sarcástico, me dá um beijão, no rosto e outro no piloto. Tisífone fala primeiro com ele, e depois me cumprimenta friamente. Puxo ela pelo braço, mas com o olhar lançado, permaneço calado. Volto para a nave, mas Aleto me dá seu cartão, para qualquer outra emergência. Lá dentro, ponho o cartão no bolso, e encontro outra coisa. É o "DÝNAMIS ÉRRION"! Erriana deve ter posto em meu bolso quando nos despedimos. John confirma, e diz que ela o avisou que faria isso, e que eu deveria ficar com o anel. Eu já nem esperava mais voltar a ser o Dinâmico Erre, mas com essa surpresa, fico até mais animado. A N.T.E. abre outro portal e rumamos para Brasília. Pousamos bem no quintal da casa de Rupert. John também veio para levar os objetos pessoais e rescindir o contrato do aluguel. Fico lá para ajudar a encher a nave com as bugigangas do doutor. O jovem norte-americano dá uma última olhada para a casa onde viveu os melhores dias de sua vida, e lembra que só faltava mesmo, era a presença de seu pai. Eu olho para o chão, e engulo seco. Prometi a Johann von Joter, que não contaria nada sobre ele, mas me sentia incomodado com aquele segredo. O sobrinho de Rupert entrou na nave e deu um último adeus. Fiquei sozinho no quintal, que foi ponto de partida para tantas aventuras, e olhei para o céu azul. Senti uma vontade de sair voando, e não pensei duas vezes. Pus o anel, apertei os botões e disse: "Dýnamis Érrion" !

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49 - ÚLTIMA MISSÃO Brasília , dezembro de 1995 Foi realmente um ano marcante. Eu acabara de prestar o vestibular, e vinha de um período de pura tensão; indo ao cursinho, fazendo provas simuladas e assistindo aulas até mesmo aos sábados e domingos. Felizmente, na sexta-feira passada, pude concluir essa etapa, depois de três dias, com provas de duração aproximada a quatro horas. Passei o sábado descansando, mas no dia seguinte, eu tinha um compromisso inadiável. Deixei o anel na janela para pegar bastante sol, pois eu ia viajar para a capital paulista. Mais uma vez tive que dizer que ia viajar, mas desta vez revelei o local. Para todos os efeitos, eu ia em um ônibus com alguns amigos. Mas como as passagens estão caras, é melhor usar um meio de transporte mais econômico. São 18h00, e saio voando rumo à São Paulo. Pouco tempo depois chego à maior cidade do país, e vasculho a área em busca de meu alvo. Não demora e consigo avistá-lo. É o Estádio Municipal do Pacaembu. Lá será realizada a decisão do Campeonato Brasileiro de Futebol de 1995, entre os times de SANTOS F.C. X BOTAFOGO F.R. Mais uma vez eu usava o anel de Érrion Pontíarkes para assistir um jogo ao vivo e de graça. Não era uma atitude muito adequada a um super-herói, mas quando o assunto é futebol, a paixão fala mais alto. Fiquei acomodado em cima de uma das marquises, aguardando o início da partida. O troféu é trazido para a beira do gramado. As torcidas vibram, e as equipes adentram o palco da peleja. O título máximo do futebol brasileiro ficaria com o vencedor do jogo. Em caso de empate, o campeão seria o BOTAFOGO, que venceu a primeira partida realizada no Maracanã pelo placar de 2X1. Muitos apostavam na virada do Santos, mas eu confiava na equipe alvinegra da Estrela Solitária. E a bola rola, o jogo começa e corações batem mais rápidos. Aos 23', uma cobrança de falta e a bola chega à área santista. O zagueiro sai na marcação a Donizete e tenta subir com ele. Inútil: o toque de cabeça encontra Túlio livre, e impedido, para matar com a direita e chutar com a esquerda. É GOOOOOOOOOOOOOOOOOL ! 204


No segundo tempo o time paulista consegue chegar ao empate, mas esse resultado ainda deixa o título com os cariocas. O jogo passa a ser pura emoção, com um gol santista anulado, e a constante pressão do adversário. Os lances vão se sucedendo, até que não resta mais nada. Fim da partida. O BOTAFOGO é CAMPEÃO BRASILEIRO de 1995 ! A festa que faço é indescritível. Eu estava com uma bandeira, e sai correndo pelas marquises, cantando o hino, gritando e soltando raios para os céus. Abri um portal, e cheguei ao campo para participar da volta olímpica. Estava todo mundo tão concentrado na festa, que nem perceberam como foi que cheguei. E todo mundo cantava alegremente: - Botafogo, Botafogo, campeão desde 1910 ! Depois de pular bastante, achei melhor voltar para casa. Já estava muito tarde. Passei a noite toda comemorando, e só cheguei a Brasília de madrugada. Ainda fiquei sentado no telhado de meu bloco, admirando o Cruzeiro, e pensando nos amigos que ficaram em Rôfega. Quando achei que não teria mais aventuras como antes, surge algo. Nesta vida de super-herói, já tive vários sustos, mas esse foi o maior. Andando por entre os blocos de quatro andares, um Lagarto Errante de 15 metros de altura surge como se procurasse por algo. Até eu tomar alguma atitude, uns quinze minutos se passam. Essa criatura não poderia estar aqui. Eles são originários de Rôfega, e mesmo assim foram extintos há mais de dois mil e quinhentos anos atrás. Mas não importava de onde ele veio, e sim o perigo que ele representava para minha cidade. Fui voando até ele, e fiquei na sua frente. Não tinha a menor idéia do que deveria ser feito, e tentei agradá-lo como se fosse um cachorro, passando a mão em sua enorme cabeça. Acabei levando um tapa, como se fosse um mosquito. Depois fui agarrado bem firme, e tentei me livrar dele, mas não consegui. Apertei o botão de vôo, e aos poucos fomos nos separando, do chão. Eu flutuava, mas ele não me soltava. Aproveitei para levá-lo a um lugar mais isolado, e fui até o campo ao lado da Feira Permanente. Eu continuava preso por ele, e nada de surgir uma boa idéia. Neste instante, um portal se abre bem à minha frente. De dentro dele sai um velho conhecido. É o robô-clone, R-2.1.

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Para variar, ele age como um vilão querendo vingança, e diz ter a arma perfeita para isso. Em seu dedo está o outro Dýnamis Érrion, o que pertence a Erriana, e que deveria ter explodido com Ventus Malus e a base em Akóliton. Meu maior medo é aparecer logo um outro vilão, e pergunto logo: - Por acaso, você está aqui a mando de alguém? - Não. Eu vim acompanhado apenas do nosso Aletessauro. Se acha que o furacão me mandou, fique tranquilo, pois ele realmente morreu em Akóliton. - E como você está com esse anel, se foi ele que causou a explosão? - O anel de fato causou a explosão, mas ele possui um dispositivo de segurança que ativa um portal com a energia de reserva, e o envia para longe, em caso de perigo. Ventus Malus absorveu a energia principal dele, e explodiu por isso. A reserva, porém, não poderia ser consumida por ele. - E como você trouxe esse Aletessauro para cá? Viajou no tempo? - Este animal estava congelado no Pólo Sul de Rôfega. Só tive que reanimá-lo, e trazê-lo para cá. Eu sentia falta de aventuras, mas nem me lembrava dos problemas que elas costumam trazer. O lagarto me joga contra o chão, e vem com a pata para me pisar. Tudo que faço é abrir um portal, e deixo que ele entre. Depois vou atrás de R-2.1. Esse andróide já me pertubou demais, e por isso acho melhor dar um jeito nele de vez. Abro um portal, e puxo ele junto. Nos transportamos para junto do Aletessauro, que está no meio do Lago Paranoá. Começa mais uma briga entre portadores de anel. Como não é um ser vivo, não poupo nas pancadas e faço miséria com ele. Para encerrar tudo, pego seu braço direito e arranco com toda a força. Sem o anel, e com uma pane em seus equipamentos, ele começa a cair. Deixo o braço na margem e vou apanhá-lo. Se ele caísse no Lago, poderia eletrocutar o lagarto, e por isso o pego e deixo em cima da Ponte das Garças. Enquanto isso, o Lagarto vinha nadando em nossa direção. Eu sabia que ia ter problemas, mas precisava me livrar logo de R-2.1, e abri mais um portal, que o levaria direto para o sol. Com o robô exterminado, fui cuidar do outro problema.

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A criatura já estava chegando na margem, e ia pisando no braço do robô, que estava com o outro anel, quando saí voando e o recuperei. Fiquei voando em torno dele, tentando distraí-lo, mas o bicho não se importava mais comigo. Foi rumando de volta para a cidade, onde causaria o maior pânico. Não tive outra escolha. Abri um portal, e o posicionei em frente ao lagarto. Mas antes tratei de direcionar seu destino para o lugar de onde veio: o Pólo Sul rofegano. O Aletessauro foi embora, mas tive uma complicação. Abrir um portal durante o vôo acaba com a energia em poucos segundos. Foi só fechá-lo para eu cair como um tijolo, bem no meio do lago Paranoá. Mergulhei fundo, mas voltei logo à superfície. Eu não chegava a ser um campeão olímpico, mas sabia nadar o suficiente para não me afogar. O detalhe era que eu já estava muito cansado, depois de tanta agitação, e não tinha mais forças para mexer os braços. Graças a Deus, surgiu uma pequena ilhota, formada pela vegetação que caía nas águas do lago, e se entrelaçava formando uma bóia perfeita. Cheguei à margem, e não resisti ao cansaço. Adormeci ali mesmo, e só acordei algumas horas depois. Com certeza eu pegaria um resfriado, mas o pior não foi isso. Olhei minha mão direita, mais precisamente no dedo indicador, e não havia nada nele. Arregalei os olhos, e comecei a procurar no meio da grama, mas não achava nada. Olhei para as águas do lago, e pensei na hora: "Eu acabo de perder, de uma vez só, os dois anéis de rofegnum, Dýnamis Érrion." Eu sabia que o lago era bem fundo, mas assim mesmo me joguei de volta. Foi puro devaneio. Retornei à margem e deixei o corpo cair no chão. Fiquei meia hora pensando no que acabara de acontecer. Definitivamente, minha carreira de superherói havia ido por água abaixo. Voltei para casa a pé mesmo. Não tinha dinheiro para pegar um ônibus, e nem sei se encontraria algum a essa hora. Caminhei uns dez quilômetros até voltar ao Cruzeiro. Dormi a manhã inteira, e à tarde voltei lá de bicicleta. Fiquei circulando pelo local, e por fim, me sentei na beira do lago. Seria impossível encontrar um anel no fundo de uma lagoa. Sem outro jeito, me levantei, sacudi a poeira, e toquei a bola para frente. Se eu não seria mais um super herói, pelo menos poderia alcançar outras metas. Eu tinha a vida toda pela frente. As 207


aventuras por que passei foram incríveis, mas eu ainda tinha muito a realizar. Queria aprender a falar italiano; ver o Botafogo ganhar o título de Campeão Mundial de Clubes; entrar na universidade; poder realizar algo pela minha cidade, e pelo meu país. Eu estava me sentindo como ele. Eu confiava em um futuro promissor, que tinha tudo para dar certo; tal qual o nosso BRASIL !

"SONHAR NÃO CUSTA NADA! OU QUASE NADA..." (Samba de Enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel, 1992)

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EPÍLOGO Brasília , abril de 2006 - Isso é tudo. Toda a trajetória do Super Capitão, e depois, Dinâmico Erre gravada em fitas. Os momentos mais marcantes de minha vida, registrados com você. E agora? - Eu... eu não sei. O meu chefe deve chegar a qualquer momento, e vai querer um relatório completo sobre sua história. - Ele já ouviu as outras fitas? - Apenas alguns trechos. Ele disse que vai ouvir tudo junto, de uma só vez. - Eu dependo de você. Se sabe algo sobre suas reais intenções; nem precisa me contar, mas também não entregue as fitas. Elas são muito importantes. - E o que eu digo para ele? - Não sei. Diga a verdade mesmo. Você não quis entregar, e pronto. - Claro. O mínimo que ele pode fazer, é me despedir. - Por que você trabalha para ele? O cara parece tão autoritário. Seria melhor afastar-se dele. - Eu já pensei nisso, mas não é tão simples. - Por acaso ele já ameaçou você? - Eu não quero falar sobre isso. - E o que iremos fazer? Esperar por ele? - Foi o combinado. Quem sabe ele queira negociar. - Negociar o quê, se você tem medo dele. - Não é medo. Eu apenas quero evitar problemas com meu patrão. - Que seja! Mas não concordo com esta situação. Você... - Só um minuto, meu celular está tocando. - Que cara é essa? O que foi que lhe contaram? - O meu chefe. Parece que surgiu algum problema de última hora. Ele teve que pegar um avião e foi para a Itália. Vai passar alguns meses em Turim. - Não sei o que dizer. - Pois eu sei. Estou livre. Aquele homem era um tormento em minha vida.

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- Acho que nem adianta eu perguntar sobre a razão disso, não é? - Você me contou tudo sobre você. Acho que é justo eu contar a minha história também. - Já anoiteceu. Será que você não quer jantar antes? - Tudo bem, eu vou; mas ainda estou um pouco preocupada. - Se ele vai ficar longe por uns tempos, não deve haver motivo para preocupações, certo? - É verdade... ; mas, e quanto a sua história? Quem sabe você não poderia publicá-la? Como se fosse um livro de ficção. - Não sei. Será que alguém iria gostar desta história?

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Planeta RÔFEGA  Dados sobre Rôfega: Idioma oficial: rofeganês. Capital : Cidade Rôfega (Ilha Capital) Moeda : Rulfir R$ População: 1.058.756.200 de hab. Diâmetro Equatorial: 10.978 Km Rotação & Translação: 24h00 & 360 dias

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Esquadrão Rôfega

Voando: Tisífone, Erriana, Dinâmico Erre. No chão: Dr. Rupert, Megaira, John Joter, Caixinha Mágica, Aleto e Gladion Rogher.

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Os vilões

Komandante Yá, Relâmpego, Ventus Malus, Karontino, Camaleon e Sr. Erro.

O Lagarto Errante (Aletessaurus sp.) 213


FIM ERE "NÃO IMPORTA SE O QUE FAZEMOS É PEQUENO OU POUCO; O IMPORTANTE É QUE NOSSAS AÇÕES E PALAVRAS CARREGUEM A FORÇA DE NOSSOS SENTIMENTOS." (Frase na parede de uma escola)

10 ESTE É O FIM (em rofeganês mesmo!)


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