Rasgos Culturais: Consumo Cinéfilo e o Prazer da Raridade

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me diferencio pode me oferecer. Participar do Dissenso foi em alguma medida “lembrar que nós cidadãos somos também consumidores [nos levando] a descobrir na diversificação dos gostos uma das bases estéticas que justificam a concepção democrática da cidadania” (CANCLINI, 1999, p. 58). As opções individuais são, em todas as circunstâncias, limitadas por dois conjuntos de restrições. Um é definido pela agenda de opções: o conjunto de alternativas efetivamente disponíveis. Toda opção implica escolher uma coisa dentre outras e raramente o conjunto de coisas a escolher depende daquele que escolhe. Outro conjunto de restrições é definido pelo código de escolha: as regras que indicam com base em quê se deve preferir uma coisa a outras e quando a escolha é adequada ou não. Os dois conjuntos de restrições criam o quadro em que opera a liberdade de opção individual (BAUMAN, 2000, 78-79).

Seguindo ainda a mesma linha de raciocínio, o interesse por cinema permitido por certo ócio-burguês-devaneio na internet faz com que as nossas opiniões estejam carregadas de opiniões prévias, críticas, comentários, polêmicas, de forma que sempre que vamos assistir a um filme, geralmente já chegamos com alguma pré-disposição. Às vezes nem leram nada especificamente, mas a própria formação nesse ambiente cinéfilo já os posiciona de uma ou outra maneira diante da nova obra do diretor X ou Y. Estão cada vez mais longe de uma - idílica - experiência estética pura, mas conseguem se desprender da pureza sem dramas nostálgicos (afinal seria uma nostalgia falsa e demagógica). A sessão surpresa é uma forma de se esquivar desse excesso de informação: de ali, diante daquela sequência de imagens em movimento cujas referências lhes escapam, emitirem uma opinião livre dos academicismos, de Deleuze, dos conceitos instrumentalizados e das frases formuladas – talvez aí uma opinião mais honesta que as outras que desprendem geralmente. Óbvio que essa situação gera o risco de manterem o debate apenas na superficialidade, planando e nunca se envolvendo sobre o que realmente é importante, afinal muitas vezes falta o contexto, as cotações dos críticos renomados, tudo, de forma que se enxergam diante de outro semblante: o risco do erro. Como o colecionador, o cinéfilo procura se dá ao prazer, raro

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