A garota no trem paula hawkins

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TARDE

Eu dormi à tarde. Acordei febril, em pânico. Culpada. Eu me sinto culpada. Só não o suficiente. Pensei nele indo embora no meio da noite, me dizendo de novo que essa era a última vez, a última vez mesmo, não podemos mais fazer isso. Ele estava se vestindo, colocando a calça jeans. Eu estava deitada na cama e ri, porque foi isso que ele disse da última vez, e da penúltima vez, e da antepenúltima. Ele me lançou um olhar. Não sei como descrever esse olhar, não foi de ódio, exatamente, nem de desprezo — foi de alerta. Sinto um certo desassossego. Ando pela casa; não consigo ficar parada, tenho a sensação de que alguém mais esteve aqui enquanto eu dormia. Não há nada fora do lugar, mas a casa parece diferente, como se as coisas tivessem sido tocadas, mudadas ligeiramente de lugar, e, enquanto ando pelos cômodos, sinto como se houvesse outra pessoa aqui, o tempo todo se esquivando do meu campo de visão. Verifico três vezes as portas francesas que dão para o jardim, mas estão trancadas. Mal posso esperar para que Scott volte para casa. Eu preciso dele.


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