Retalhos polidos poemas

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ROBSON XAVIER DA COSTA

RETALHOS POLIDOS João Pessoa – Paraíba – Brasil Agosto 2008


CAPA: Baseada em detalhes da obra do artista Robson Xavier, “s/título”, acrílica s/tela, dimensões 100 x 100 cm, 2000, coleção particular.


As minhas filhas Bianca e Sarah e a todos os amigos, colegas e alunos que de uma forma ou de outra acreditam no meu trabalho, dedico.


“O Sentido e a essência não em algum lugar atrás senão em seu interior, no íntimo de todas elas”.

se das

encontram coisas,

Hermann Hesse


SUMÁRIO Sumário AMADA ............................................................................................................................................................ 7 VIDA ................................................................................................................................................................. 8 QUANDO EM MIM ........................................................................................................................................ 9 AMANHECER ............................................................................................................................................... 10 A TUA ESPERA ............................................................................................................................................ 11 ROSA FRIA .................................................................................................................................................... 12 FRUTA MADURA......................................................................................................................................... 13 ESPERA .......................................................................................................................................................... 14 SEM TEMPO ................................................................................................................................................. 15 PRIMEIRA FORMA DE AMAR ................................................................................................................. 16 ENTRELAÇADOS ........................................................................................................................................ 17 ILUSÃO .......................................................................................................................................................... 18 AO NOVO DIA .............................................................................................................................................. 19 ESQUEÇA TEU PESAR ............................................................................................................................... 20 QUE HISTÓRIA? .......................................................................................................................................... 21 CAIXA DE CORREIOS................................................................................................................................ 22 BOM DIA, SEU ZÉ! ...................................................................................................................................... 23 SOMBRA TÊNUE ......................................................................................................................................... 24 PASSAMOS .................................................................................................................................................... 25 ASSIM... .......................................................................................................................................................... 27 MEU CANTO ................................................................................................................................................. 28 VIVER ............................................................................................................................................................. 29 AMIGO ........................................................................................................................................................... 30 SONHOS DE VALSA .................................................................................................................................... 31 PENSO ............................................................................................................................................................ 33 O RISO ............................................................................................................................................................ 35 BEIJO AMARGO .......................................................................................................................................... 36 AMANHÃ ....................................................................................................................................................... 37 EMBRULHO .................................................................................................................................................. 38 MÃE ................................................................................................................................................................ 39 PEQUENA ...................................................................................................................................................... 40 DESCANSO .................................................................................................................................................... 41 AUSENTE DE MIM ...................................................................................................................................... 42 SUMIU ............................................................................................................................................................ 43 PITANGUEIRA ............................................................................................................................................. 44 RELICÁRIO .................................................................................................................................................. 45


AMADA João Pessoa, dezembro de 1999.

Deitado nas serpentes dos teus braços Todo água, todo terra, todo fogo, A me queimar nas entranhas desse gozo Ao sabor das maçãs coradas.

Da fruta do conde traz a baga A maciez da manga espada E o gosto temperado da goiaba Na salada escaldante da minh’alma.

Te como... com a loucura dos que nunca foram Nos cajueiros pintados de sol E na pele tostada do teu beijo.

No prato que me serve, me lambuzo Com a iguaria de um orixá Emaranhado em um mar de pêlos.


VIDA Dezembro de 1999.

O teu semblante se assemelha ao mundo Tão pálido e tão profundo, Que é impossível ser tocado, Sem mover teu corpo em um segundo.

Vida, vibra em movimento No cabelo colorido pelo tempo Está escrita tua longa história Feita de grandes obras e breves momentos.

Frondosa árvore de folhas ao vento Espalha por mim teus pensamentos Como um livro para o mundo.

Enquanto és Arte, és semente Ao cultivar nas novas mentes Alegrias, afetos, conflitos e acertos.


QUANDO EM MIM João Pessoa, Abril de 2000.

Quantos de mim Está assim distante Se avoluma No peito doravante A dor que a saudade não esquece.

Aquele que de mim lembrar No livro de contos popular Na história de glórias e tormentos Para meu contentamento Reflete a vida a chegar.

Se de mim também esqueço Quero sempre um recomeço Uma nova forma de amar.


AMANHECER João Pessoa, novembro de 2000.

Sair da escuridão para a penumbra No clarear incestuoso do dia Reviver minha glória e agonia No assombroso exercício da vida.

Quando a alma acordar mansamente Avoluma-se o meu lume crescente Na existência paranóica do crente Num coração cardíaco a bater.

O conjunto de carnes e ossos Move-se freneticamente Por impulso gutural engole Consome a permanência da prole Renovando o prazer de viver.


A TUA ESPERA João Pessoa, novembro de 2000.

Vem, vem, Caetana eu te espero Arrebate-me da vida viril, Para o espasmo dionisíaco da hora Que os vermes consumam minha aurora.

Num banquete hediondo de Sísifo O sangue espesso e nojento Com músculos, órgãos e ossos Será o repasto dos vermes Que hora me espreitam famintos.

Deitado naquela cama escura Meu corpo alimento da ruína Esquece que um dia foi teu.

Nas garras afiadas que trazes Jazem pedaços de carne E um olho que um dia foi meu.


ROSA FRIA João Pessoa, janeiro de 2001.

Tu és a alegria das noites sem sono O afagar ofegante medonho Da hora que ninguém espera Mas que chega e fica agora.

Tu és o perfume da rosa mimosa Da cor pétrea da aurora Na alegria que a vida desperta No peito cada dia que chora.

Tu és aquilo que estás Na penumbra a sombra do cais Na luz o ofuscar áureo do belo.

Tu és aquela carne macia Cheirosa pétala molhada Orvalho de uma noite fria.


FRUTA MADURA Joรฃo Pessoa, 11 de fevereiro de 2001.

Carne de jambo macia Doce jabuticaba Fruta de muita massa Suave sabor de desgraรงa.

Espero-te a cada dia que passa Imaginando que gosto terรก A pele macia e dourada Suada do beijo que dรก.

Quero estar contigo agora Desejo teu colo na cama O sabor do teu beijo da hora O dia chegando sem demora.

Vem, vem comigo, Prova a fatia que podes Sente o ardor do meu beijo Queimando de amor e desejo.


ESPERA João Pessoa, 12 de fevereiro de 2001.

Espera de doze e poucas horas Minutos que não passam mais Espera! Ai que demora. Do tempo que não volta mais.

Tic, tac, passa lento, passa rápido, Tudo é um vão momento Uma espera, um acalanto Um espanto!!

Espero, à noite chega, O dia nasce O sol brilha em tua face No infinito deste instante.

Não te esqueças, te espero Linda, louca e bufante Ardendo é que te quero Com tua tez errante.

Mulher és o Diabo Carrega contigo o tempo E nada passa, nada fica Sem o teu consentimento.

Estou aqui só mais um minuto, Estou aqui só mais um instante, Estou aqui, nesta hora, Vem logo sem demora.


SEM TEMPO João Pessoa, 15 de fevereiro de 2001.

Não há tempo Tenho tempo, quero hora Cada minuto uma aurora Uma busca, uma demora.

Vivo sem tempo Para encontrar meu querer Sem querer agora Um minuto a sofrer.

Não quero embromar Numa conversa sem hora Uma demora danada Com tanto tempo lá fora.

Dá-me um minuto Um momento, um segundo, Um instante que seja Pra lhe dizer sem mais hora Que estou sem tempo agora.


PRIMEIRA FORMA DE AMAR João Pessoa, 28 de fevereiro de 2001.

Quero ler teus pensamentos Quero ter os teus tormentos Quero sentir na minha pele A ilusão de quem bebe A paixão de quem ama A dor de quem tem rancor Quem poderá lhe amar Quem contigo estará Quem novamente fará A vida rodar na noite A clareza virar açoite A luz me iluminar Quem esqueceria algum dia Aquela grande alegria Quem dera voltasse Na noite do desenlace Da primeira forma de amar.


ENTRELAÇADOS João Pessoa, 28 de fevereiro de 2001.

Quando a lua brilha o céu A noite perfuma o dia Restamos alma e alegria Entrelaçados num clarão sem sombra.

No brilho da lâmpada nova Reza na alcova Um terço longo de uma noite fria.

Teus negros pelos No leite dos lençóis salgados Borrifam um orvalho doce Enlameados na saliva quente Borbulhando num fervor sem tréguas.

Teu calor é sempre o que me queima Na cama fria que te vai distante De uma noite que a lua brilha Num tempo a muito errante.


ILUSÃO João Pessoa, 27 de março de 2001.

Quando estiveres assim tão sem vontade De ser, de ter e de estar Lembra-te das noites bem dormidas Dos raios de sol na tua vida.

Quando o inverno ameaçar te engolir Procura sempre ao teu lado Um guarda chuva quebrado Há de te acudir.

Não estranhe teu medo Mas guarda em segredo A ilusão de existir.


AO NOVO DIA João Pessoa, 27 de março de 2001.

Debaixo da tua manta cobre de cera Descanso o afagar medonho da feira Na epiderme tosca de sonhos.

Abria as pálpebras molhadas de lágrimas Num tic-tac enfadonho Da nova hora que chega um desespero risonho.

Sinto o lambido úmido do banho Acordar o bicho peçonho De uma noite brejeira Na neve branca do ninho.

Serei mais um como outros A caminhar sem descanso Na laje fria do canto De uma vida canseira.


ESQUEÇA TEU PESAR João Pessoa, 29 de março de 2001.

Quero dormir no mais tardar da noite Em meio a beijos orvalhados A anunciar o raio que já brilha De um novo dia cheirando a armadilha.

Quando um de nós por fim despertar Abrir a casa e deixar a luz entrar Adormecidos continuaremos Até que a noite esta pantera, Escureça o mundo com seu manto.

Estou vendendo os ossos A alma longe medita... Acreditando no dia que desperta.

A hora chega bem devagar Abarrotado de impulso me levanto Em meio a sonhos, necessidades e tormentos.

No lupanar de cores esmaecidas Vejo com clareza teu olhar Olhos meigos, mansos, A espiar pedindo meu encontro.

Quando enfim desperto Esqueço que em mim mora Tua febre de amar.


QUE HISTÓRIA? João Pessoa, 15 de outubro de 2005.

Leva-me Vento afora sem demora Para outras paragens Outras histórias.

Quando em mim Não mais restar desejos Estarei pronto Partida inevitável.

Parto chegando a algum lugar Lupanares da torre nova Farol cintilante ao luar.

Cheiro de café fresco Barulho d’água Os pássaros cantam Começa uma nova história...


CAIXA DE CORREIOS João Pessoa, 06 de novembro de 2006.

Chegam sempre No crepúsculo morno, Brancas ou pardas Estreitas ou largas Empacotando sonhos.

Guardam alegrias Ou tristezas vãs, Sempre surpresas Em boca metálica.

Falas com linhas Em papéis diversos A pagar, Ou recebidos, Negócios incontidos.

Penso em ti À tardinha O que guardas pra mim? Estarás sempre lá, Quando eu voltar cansado da luta.

Dia novo, Novas promessas, Surpresas! Talvez... Possibilidades... Certamente a ti terei.


BOM DIA, SEU ZÉ! João Pessoa, 10 de novembro de 2006.

- Bom dia! - Quem é? - Porque isso? - Bom dia, só isso! - Como assim? - É brincadeira? - Tô ocupado! Que canseira. - Bom dia, que besteira. - Calma amigo! Só quis ser fino. - Bom dia, o que camarada! - Desculpa, não foi nada. - Tudo bem. Sigo a estrada, bom dia, seu Zé!


SOMBRA TÊNUE João Pessoa, 12 de novembro de 2006. Sinto um calafrio Uma dor aguda varre minha perna Cabeça louca Febre tísica.

Espero partir Antes que a criatura me veja Sou sombra tênue Em contradição maldita.

Que seja fim da minha hora, Amigo Caronte! Onde me levas ainda em vida? Para mim mesmo?

Sou eu com medo Medo de mim mesmo Encontro libidinoso e tacanho Guerra de um horror medonho Em um caldeirão de tripas mexidas.

Não quero mais tua ajuda Deixa, agora eu resolvo Quero de mim apenas A armada carcaça caliciforme Mergulhada na fécula disforme Do verme mais novo da prole.

Sou pasto fresco O Carcará a sombra espreita Vago a esmo no deserto da vida tosca.


PASSAMOS João Pessoa, 15 de novembro de 2006.

Que aflição é essa? Toca o fundo d’alma. Coração errante Amalgama rubro negro.

Estou só... Roendo os ossos descarnados De memórias parcas. Imaginário, louco e soberbo, Espasmo verborrágico da alma.

Silêncio!!! Escuto vozes. Distantes estão, mas cá comigo. Dentro de mim nas sombras moram Abutres holográficos da sorte.

Tenho medo!!! Do vazio sem hora Da terra ocre na fronte Do abraço da água quente Da língua úmida do verme.

Sou eu!!! Em mim encarnado Em diálogo profundo com o tempo Memória viva Vida morta.


Reflexo de um tempo remoto Refluxo amargo Engodo tosco Carcaça humana.

Mais um dia Perspectiva vã Os olhos pensam As alegrias passam Nós também passamos, Enfim...


ASSIM... João Pessoa, 17 de novembro de 2006.

Mais um tempo se vai, No encalço de um dia novo. Velhas histórias, No velho Sol amarelo Esmaecido pelo céu emplumado.

Tudo assim Flocos flutuam No imenso azul ultramarino intenso.

Pinto novas cores No dia pastel que escapa. Já vai tarde amigo! Com teu gosto amargo de fel.


MEU CANTO João Pessoa, 17 de novembro de 2006.

Quero ficar quieto Na sombra de minha sombra Na alegria de uma dor Na febre de teu querer.

Quero apenas... Esperar o tempo passar. Estou quieto e penso... Penso nada... perco tempo.

Deixe-me aqui. Sozinho com minha multidão interior. Diálogos de sussurros, Ruídos sonoros, Imagens toscas, Nada mais.

Não quero nada mais! Será?


VIVER João pessoa, 19 de novembro de 2006.

Viver é engasgar-se nos sonhos É ser alegremente triste É estar faminto E eternamente fascinado.

Surpreender-se com a rosa aberta Com o orvalho sobre o carro novo Com o perfume sensual da fêmea Com o ouvido atento ao sussurro rouco.

Deliciar-se com o prato quente Com o beijo gelado do sorvete Com o aroma forte do instante Com o café fervendo escaldante.

Aceitar o convite Do Sol brilhante Da Lua cheia Da mulher ardente Do sonho indecente Do livro novo Da roupa quente Inutilmente...

Acordar de novo Mais um beijo. - Levanta amor! - Olha a hora.


AMIGO João Pessoa, 19 de novembro de 2006.

Amigo, Não quero te dar conselhos, Não quero te falar de sonhos, Não quero contar problemas, Nada de dores, Nada de amores, Nada de temores, Nunca falar de injúrias, Nunca comentar desgostos, Nunca contar do carro, Esquecer a cidade, Esquecer as festas, Esquecer as noites, Só quero amigo... Uma coisa... Deixar-te sozinho infinitamente Em seu túmulo novo.


SONHOS DE VALSA João Pessoa, 23 de novembro de 2006.

Olha o passarinho! Se aprumava formosa A melindrosa. E o rapaz na brilhantina, Convidava-a para um mate gelado Na matinê próxima.

Fina flor, Com seu perfume de sempre Alma de flores. E o rapaz... Com o sapato lustroso, Ostentava um perfume De Lancaster novo.

O tornozelo... Libidinosamente a mostra Despertavam olhares curiosos Imaginário fértil Sonhos eróticos.

No domingo... A roupa nova, Roupa de missa. Homens de um lado, Mulheres de outro, Olhares perdidos, Sermão antigo.

Desejos em calças de linho, Risca de giz,


Engomadas As dondocas, Nos seus vestidos rodados De cambraia bordada Exigindo sonhos de valsa.

Na primeira investida O mundo desaba. Dio como eu te amo.


PENSO João Pessoa, 23 de novembro de 2006.

Natureza parda sem vida. Esquece de mim por enquanto. Serei assim... Tão descrente?

Inútil tentar, Sempre novamente. Triste alegria, Alegre tristeza Vazio contido.

Penso! Logo sofro. Agonizo de um prazer imenso. Larva pútrida, Ranger de dentes, Doce veneno quente.

Quero-te... Na eternidade presente No instante vindouro No sofrimento novo.

Ser vítima... É a melhor das amarguras Saborosamente sentida Na primeira mordida.


Dentes fortes Abocanham sem pena A carne fresca A ferida aberta.

Quero ter todas as dores Agonizar em cada cĂŠlula Transpirar mil odores Em um ĂŞxtase pleno. A orquestra toca, Tudo brilha Estou profundamente embriagado Desse instante.


O RISO João Pessoa, 23 de novembro de 2006.

Espero a cada instante Sei que está cada dia mais próximo. Quero ver tua face, Esquálida e tenebrosa. Teu cheiro ocre, Teus maltrapilhos trajes. Quero encarar-te, Desafiando teu olhar medonho, Tu me queres? Eu te renego. Confronto inevitável Tudo foi feito... Nada levo. Carrego um saco de pecados Sobre um esqueleto manco. E tu... Desdenhosamente, Rirás por último!


BEIJO AMARGO João Pessoa, 24 de novembro de 2006.

Sinto minh’alma profundamente nervosa. Uma espiral completa, uma mandala.

Todos em nenhum. O todo no nada. Desejo não querer, E quero mesmo assim.

Estrutura errada Fofa e densamente soberba, Ruminando mágoas Deglutindo certezas.

Espero sentado, A sutileza do teu beijo amargo Suspiro, Suspiro, Suspiro, É o fim!


AMANHÃ João Pessoa, 24 de novembro de 2006.

Meu pai? - Quem és tu? Não te conheço! Sou teu filho, meu pai! - Filho? - Filho meu a mim espelha. - Tu, não és parelha. Pai sou eu? - Passa, mas que começo. Pai lembra... Do passeio na praça... Da bicicleta nova... - Lembro dos desgostos, das quedas, do desleixo. Sou teu filho pai. - Não tenho filho! Pai, não me deixa. - Nunca estive aqui! E como fico??? - Tomas mais um trago... Pai?! Pára com isso pai. - Homem não chora. Pai meu amigo... - Segue teu curso. Como fico? - Amanhã te digo.


EMBRULHO Homenagem a Manuel Bandeira João Pessoa, 24 de novembro de 2006.

Hoje vi um embrulho Na calçada da praia Pacote de trapos rotos E estampas descoradas.

Caminhantes passavam a esmo Sol a pique... Troço coberto de panos Figura amebóide de chita.

Chegaram homens fardados Cumprimentando com chutes A forma amorfa se move Seus olhos saltaram no lume.

- Levanta coisa! Com esforço verticaliza O embrulho de pé Era um homem.


MÃE Paródia ao poema “Perfil de mulher” de autoria de Américo Falcão. João Pessoa, 24 de novembro de 2006.

Já foi formosa essa mulher passada. Essa mulher que foi assim Carminha. Já me alegrou com sua enorme graça Com um sorriso que às vezes tinha.

Tua nobreza estava na raça No teu desejo de viver sozinha, Incomodando a multidão folgada Na portentosa figura que tinha.

Agora, vives na caixa. Mas na verdade em outra estada passa, E estás presente mais que tua ida.

Mas quando agora passas pela praça Não será uma formosa graça Mas a beleza que na vida tinhas.


PEQUENA João Pessoa, 27 de novembro de 2006.

Brilho no olhar, Sorriso frouxo, Solta ao vento Sem rapidez É meu rebento.

Quero-te mais do que tudo Teu nome é alegria Como brincadeira de roda Como uma lanterna no escuro Farol que ilumina meu mundo.

Moras comigo pequenina Alegria vespertina Na tua muita conversa A vida é uma festa Que dá gosto de ver.


DESCANSO João Pessoa, 10 de dezembro de 2006.

A noite chega, Sombras tristes. O silêncio me assalta A alma ferve.

O felino negro A flanar no muro Brilhantes olhos De amarelo ouro.

No gato... Toda a malícia No homem toda a preguiça. Domingo... Noite escura... Descanso.


AUSENTE DE MIM João Pessoa, 10 de dezembro d 2006.

O sino ao vento Clama uma música lenta Uma oração leve Pim! Pim! Pim! Pim-pim!

Na pele uma carícia doce Um toque sutil Pêlo de marta Um sopro quente.

A paz me assalta Tomo fôlego Mordo a alma.

Ausente de mim, Suspenso momentaneamente Absorto no turbilhão incessante desse instante.


SUMIU João Pessoa, 10 de dezembro de 2006.

O sol lambe o rosto Despertam os olhos Hora certa! Arrumo os panos Banho morno, essência, Roupa passada Café quente Primeiros olhares Conversas poucas Poeira, desordem, Tarefas mil, Uma certeza, Mais um dos dias, Sumiu...


PITANGUEIRA João Pessoa, 10 de dezembro de 2006.

Pitangueira Que aos meus pés reluz Teu brilho verde No retorcido e frágil corpo Convida a uma sombra leve.

Teu fruto azedo Meu sangue trás De muitas formas e cores Carmim dos meus amores Enfeites nativos Complementares.

Parceira de manhãs e tardes Balançando na brisa És única... No enclausurado olhar De muros cinza.


RELICÁRIO João Pessoa, 04 de novembro de 2006.

Pedra Polida no talho da prensa, Gravada em chumbo grosso. Itacoatiara nova, Grafismo delgado, Frágil símbolo ancestral.

Pedra... Pomes, lascada, lisa, Bruta, brilhosa, opaca, Pedra revivida, Arte nova, Menir eterno, Água tinta.

Escora porta, Rompe cabeças, Alicerça prédios, Encascalha o rio da vida.

Pedra xilogravada, Relicário vivo, Em cartas pintadas. Pedra em forno quente, Em pedaços encaixotados.


Livros de pedra Cuneiformemente gravados. Hist贸ria de cores Cuidadosamente escritas Em gavetas profundas.

Mini-pedras, Gravurinhas, Imagens de linhas Sulcadas na vida, Gravadas na pedra, Pedreira, Pedrosa.


Robson Xavier da Costa Doutor em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU/UFRN - 2014); Mestre em História (PPGH/UFPB – 2007); Especialista em Educação e TICs (UFPB – 2005); Especialista em Sociologia (UFPB/CEFET – 1997); Especialista em Educação Especial (UFPB – 1995); com Formação em Arteterapia (Clínica Pomar – RJ – 2004) e Licenciado em Educação Artística – Artes Plásticas (UFPB – 1993). Coordenador do Programa Associado de Pós Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Paraíba/Universidade Federal de Pernambuco. Professor Efetivo Adjunto I e Ex Chefe do Departamento de Artes Visuais (DAV/UFPB – 2004-2007). Professor do Curso de Pedagogia EAD UFPB. Ex bolsista pelo Programa Erasmus Mundus da União Europeia, Programa de Pós Graduação em Arquitectura (Universidade do Minho – Guimarães – Portugal – SET 2010 a SET 2012) e Ex bolsista da Fundación Carolina, na Universidad de Granada, España (DEZ 2014 a FEV 2015). Criador e ex-editor da Revista Intervenções: Artes Visuais em Debate (UFPB); Membro da Associação Nacional de Pesquisadores das Artes Plásticas (ANPAP); Criador e Coordenador do Laboratório de Artes Visuais Aplicadas e Integrativas (LAVAIs – DAV – UFPB). Email: robsonxcosta@yahoo.com.br



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