Revista Rumos nº 267

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a ciência mundial versidade e a empresa. Está em outro conceito, as questões de resultado no curto. médio e longo prazo que se pode obter. Além disso, há o risco da incerteza, não se podendo perder de vista o cenário da competitividade, do mercado externo. Hoje, por exemplo, há crédito facilitado, prazos razoáveis de carência, juros extremamente baixos, vantagens e ambiência para construir o processo inovativo. Rumos – Então, por que ele não ocorre? Elias – Não é porque falta ciência. O país hoje tem ciência produzida no mesmo patamar, na mesma dimensão, na mesma capacidade de outros países. Existe um gargalo no setor industrial e ele precisa ser identificado. O fórum não pretende responder a isso completamente, mas objetiva responder como o avanço da ciência poderá permitir o fortalecimento da cooperação; como o avanço da ciência proporcionará a redução das assimetrias, da inclusão social; o que, na verdade, esse elemento da ciência pode contribuir efetivamente para a educação, ou seja, para formar a sociedade. Rumos – A meta do governo é chegar a 2015 aplicando 1,8% do Produto Interno Bruto em C&T, bem como estimular um incremento da participação privada, hoje no patamar de 0,4%. Sediar o Fórum contribui com esse cenário? Elias – Com certeza. Brevemente a presidenta Dilma Rousseff lançará um robusto programa para inovação. Ele cobre todas as instituições, cria e demonstra ao empresário uma ambiência favorável e permite que se tenha uma visão clara de todo os instrumentos já à disposição como crédito com subvenção; os projetos corporativos universidade/empresa; produz ou melhora algumas possibilidades de dedução de custos eventuais, dá trato diferente a despesas relacionadas à P&D, e algumas perspectivas da Lei do Bem no tocante ao tópico de pesquisador na empresa. O governo está fazendo o seu dever de casa no tocante à inovação e pretende cada vez mais fazer o seu dever de casa no tocante à ciência. Rumos – Estamos seguindo o caminho já trilhado por outros países? Elias – Não existe nem um país no mundo que se desenvolveu sem ciência. Tanto que no último programa do presidente Obama visando a melhorar a competitividade da economia norte-americana, ele cita três pontos chaves, que considera centrais para que os Estados Unidos retomem o seu processo de crescimento. Não é só a redução de sua dívida, não são só as questões relacionadas a balança comercial ou ao câmbio, mas ressalta a ciência. Portanto, o primeiro ponto é que o país se fez por ciência, ou seja, os EUA são o que são hoje pelas grandes universidades que têm e pela possibilidade de gerar conhecimento, que transborda para a sociedade. Dois, a educação. É preciso que os EUA retomem o processo de formar mais mão de obra. O país está percebendo que existem alguns setores com gargalo muito profundo, alguns na fronteira do conheci-

mento. E três, a infraestrutura. Os EUA têm uma logística de infraestrutura invejável que quer melhorar cada vez mais, isso para escoar a produção, para facilitar para o empresário, diminuir custo de transação. Desta forma o presidente Obama está gerando externalidade, que é positiva para que se aumente a competitividade e, certamente, melhore os custos de produção das empresas e é isso que estamos fazendo no Brasil. Olhar a ciência na sua perspectiva maior, interiorizar, integrar o território brasileiro. Essa visão nós já temos há alguns anos, quando projetos dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação se expandiram para o interior do país, das universidades. Se isso é um fato, o laboratório permitirá que se eleve conhecimento. É a ciência no eixo dinâmico nesse processo, ou seja, gerar conhecimento. Rumos – Um dos reflexos seria a geração de patentes? Elias – Outra questão que falo sempre e que também é um equívoco. Universidade não precisa fazer patente, ela precisa disseminar conhecimento. Em minha opinião isso é um equívoco. Os EUA e alguns outros países têm uma visão correta desta questão. Rumos – A patente ficaria por conta dos empresários? Elias – Sim. Quanto mais patentes nas universidades mais se cercea o conhecimento. A patente é um monopólio.

Rumos – Isso significa que precisamos reformular a mentalidade do empresariado? Qual a dificuldade em convencê-lo? Elias – Exato. Para que ele possa gerar mais conhecimento, mais cooperação, pagar por isso, ou seja, investir e não considerar isto um custo. Os Marcos Legais são mais difusos e talvez, eu diria, eventualmente mais complexos para a universidade, no sentido de que possa integrar, internalizar os recursos e conseguir gerar produtos, diferentemente do que é para o empresariado. Hoje, a ambiência no Brasil é extremamente favorável. Temos instrumentos, à semelhança dos produtos internacionais. Em 2003/2004 fizemos um levantamento. Tínhamos na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), dentro do que se chama Campo da Inovação, dois instrumentos, que eram a TJLP mais 5% e a Lei de Informática. E hoje temos mais de 10, 12 instrumentos, compras governamentais, com margem de preferência de 25%, a Lei do Bem, que este ano deve superar os R$ 4 bilhões, o aprimoramento da Lei de Informática, a Lei de Inovação, a ambiência para que o empresário se entenda direto com a universidade; as deduções que podem ser auferidas. Temos ainda a parte relacionada a alguns setores considerados estratégicos, como a área de petróleo e gás, enfim, as deduções fiscais que são feitas, as exonerações agora em áreas centrais como a de software para tecnologia de informação e comunicação. Isso é decisivo para que o empresário tenha mais capacidade de resposta e inclusive diante de uma crise internacional. Desta forma, a ambiência no Brasil hoje é extremamente favorável. 

RUMOS - 23 – Janeiro/Fevereiro 2013


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