Folhear edição número 2

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eu estive na reitoria e no governo, nem enquanto presidente. Então, o que fez? Botou Antônio Carlos para me substituir. Isso era um problema para a política da Bahia, porque ele iria tentar destruir tudo que eu tinha feito. Procurando atenuar isso, o que pude fazer foi me candidatar a eleições partidárias para governador. Fui derrotado, diante do poder enorme que Antônio Carlos havia angariado. Mais tarde, quando me demiti do Ministério da Saúde e voltei para Salvador, Sarney me nomeou para representar o Brasil na Organização Mundial da Saúde (OMS). Fiquei por quatro anos e gostei muito dessa atividade internacional. Findo aquele período, voltei a Salvador e me candidatei a deputado federal. Fui eleito com a maior votação dos candidatos de oposição e exerci o mandato por quatro anos. y Contrariado? Sim, porque a pessoa se mexe muito e não produz nada mais sólido. Vi que não era conveniente para alimentar o eleitorado para continuar os mandatos e encerrei a carreira. y Sua biografia é marcada por várias criações institucionais efetivas. Uma delas é o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, implantado quando o senhor era o governador, e cuja decadência começou logo depois. Haveria certo interesse em reativar essa instituição pioneira? Como governador, pude refletir no exercício do cargo a minha formação. Daí nasceram iniciativas como a criação do Museu de Ciência e Tecnologia. Eu visitara vários desses museus nos períodos em que vivi no exterior e daí me surgiu a ideia de que precisávamos fazer na Bahia algo similar. Não seria um museu histórico nem artístico, mas didático, e o primeiro da América do Sul. Trouxemos um dos diretores do Museu de Ciência e Tecnologia de Londres, Keohane, e ele teve aqui um papel extraordinário, por sua capacidade de organizar as táticas de um museu didático e pela competência científica em apontar caminhos para a demonstração de princípios das ciências básicas de forma lúdica para as crianças das escolas de ensino fundamental. y O museu foi implantado dentro do Parque de Pituaçu, certo? Sim, dentro do parque, já na periferia, com espaço previsto para ampliação. A topografia do Parque de Pituaçu permitia o uso de pedalinhos nesse pequeno lago, equipamento que insistimos em instalar pensando nas crianças. y Lembro-me de uma réplica de uma torre de petróleo no museu. A Petrobras, entre 1975 e 1979, nos ajudou muito. E talvez as peças mais caras do material de exposição fossem as moléculas em três dimensões de produtos do Polo Petroquímico. Eram modelos específicos que incluíam produtos intermediários da indústria petroquímica, muito complexos, com informações tanto sobre as matérias-primas usadas para fazê-lo quanto sobre produtos de consumo resultantes do trabalho em torno delas. Outra coisa que despertava bastante interesse era o trabalho de um ana22 | julho/agosto de 2014

tomista das faculdades de Medicina e de Odontologia da UFBA, Aldemiro José Brochado, que injetava corantes no sistema vascular. Parte foi feita em adultos e outra parte, em fetos, em modelos reais depois das autópsias. Ele usava um produto que fazia o que chamavam “diafanização” tanto no músculo cardíaco quanto no tecido que forma os pulmões, e por esse processo de tornar diáfanas essas massas de tecidos era possível trabalhar as peças distintas com diferentes cores. y Algo parecido com as técnicas usadas naquelas grandes exposições do corpo humano que vieram dos Estados Unidos nos anos 2000? Exatamente, essa técnica representa um avanço do que conseguimos aqui em 1975. Quanto à torre de petróleo, sim, tinha um modelo que a Petrobras nos facilitou. Já a Secretaria Estadual de Transporte providenciou camadas de estradas e trajetos, desenhos de estradas em diferentes épocas, desde os tempos mais remotos, passando pela Idade Média, chegando ao começo do uso do asfalto, até finalmente as estradas asfaltadas contemporâneas. A Aeronáutica nos ofereceu um pequeno avião e a então Rede Ferroviária Leste Brasileiro nos forneceu uma locomotiva e vagões de estrada de ferro, em tamanho real. y O museu foi inaugurado em 1979, quando o senhor estava prestes a deixar o governo do estado. Isso. Depois houve um empenho do governo do estado em dificultar as coisas para o museu, até que entre 1992 e 1996 ele ficou fechado. Conseguiu-se reabri-lo, adiante foi entregue à Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que instalou áreas de trabalho de ordem burocrática nas salas onde antes havia experiências. Mais recentemente surgiu um debate entre vários órgãos do governo estadual a respeito da destinação daquele espaço. y Em que pé está hoje o museu? Praticamente fechado, com o espaço disputado e numa situação de incerteza. Os equipamentos sumiram quase todos. y Parece-lhe haver alguma possibilidade de reativação do museu? Tem havido um empenho. O museu foi oficialmente transferido para a SECTI por decreto do governador Jacques Wagner no final da gestão do secretário Paulo Câmera, que se empenhou por essa transferência. A secretária Andrea Mendonça, que o substituiu, já demonstrou interesse em dar prosseguimento à iniciativa. y O senhor acredita que há condições hoje favoráveis na Bahia para que a produção do conhecimento científico e a capacidade de inovação tecnológica consigam um status decisivo e socialmente reconhecido no processo de desenvolvimento deste estado? Essa é minha expectativa e a minha esperança. Continuo trabalhando para isso na Academia de Ciências da Bahia. w


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