Arquiteturas Anfíbias - Expaço da Cultural no Marajó

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Arquiteturas Anfíbias

espaço da cultura no marajó


01 — Textos 1.1 Arquiteturas Anfíbias Betânia Barbosa 04 1.2 Arquitetura Anfíbias no Marajó Relatos e considerações Luis Octavio de Faria e Silva 06 1.3 Simplicidade e Contradição Explorações na arquitetura amazônica Domenico Potenza 18 1.4 Expedição Tunico 26

02 — Mapas 34

03 — Macapá 3.1 Fotos 48 3.2 Desenhos 52 3.3 Desenhos Coletivos 54

04 — Afuá 4.1 Fotos 56 4.2 Desenhos 60 4.3 Desenhos Coletivos 64

05 — Chaves 5.1 Fotos 68 5.2 Desenhos 72 5.3 Desenhos Coletivos 76

06 — Arapixi 6.1 Fotos 80 6.2 Desenhos 84 6.3 Desenhos Coletivos 88


07 — No barco 7.1 Fotos 88 7.2 Desenhos 90 7.3 Desenhos Coletivos 90

08 — Investigações positivas 8.1 Desenhos finais 96 8.2 Desenhos grupo 1 106 8.2 Desenhos grupo 2 108 8.2 Desenhos grupo 3 200

09 — Caderno Paulo Von Poser 118

10 — Caderno Domenico Porenza 152

11 — Caderno Marajó 200


01 — Textos

1.1. ARQUITETURAS ANFÍBIAS

Betânia Barbosa, presidente da ONG Cururuar Fluvilab

Quando eu era criança tive meu primeiro contato com a Ilha de Marajó, e o município de Chaves. Um lugar isolado dos centros urbanos, com localização geográfica muito especial, encravado na contra costa da Ilha de Marajó, mais exatamente no encontro de dois poderosos: o rio Amazonas e o oceano Atlântico. Meu pai nasceu no Marajó e, por esse motivo, minha vivência na ilha sempre foi intensa, me fazendo absorver muitos hábitos dessa cultura, que, ainda hoje, é essencialmente regida pela natureza. Eles ainda pescam e caçam para comer, escrevem cartas para se comunicar, acedem velas para os santos, dormem e acordam no horário determinado pelo cair da noite e nascer do sol. O prazer de fotografar intensificou ainda mais essa relação, me fazendo compreender quão essencial é o fazer coletivo para a sobrevivência humana, pois ainda que a ilha possua vasta área territorial, predominam os latifúndios com atividade pecuarista, ocasionando baixa densidade demográfica e, consequentemente, o isolamento entre as comunidades marajoaras, sendo raros os investimentos na agricultura familiar. Esses fatores ocasionam a escassez de alimentos e tornam a atividade extrativista, a

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principal fonte de alimento e renda da maior parte da população. Considerando que tal atividade sofre forte influência sazonal, é possível compreender que em períodos de estiagem, ou durante as grandes cheias – época em que os peixes se refugiam nos campos marajoaras para se reproduzirem –, que compreendem cerca de seis meses do ano, a dificuldade de obter alimentos é ainda maior, sendo esses os momentos de maior necessidade de integração coletiva entre as pessoas que lá vivem. É comum após o retorno do “mato”, com a caça em mãos, o pai de família dividir o alimento excedente entre seus vizinhos, pois até a capacidade de armazenamento de generos alimentícios, é comprometida em função de, pelo menos no município de Chaves, a maior parte da população não ter acesso a energia elétrica. Também, por essa razão, é alto o consumo de produtos enlatados e afins, que, com passar dos anos, tem elevado o número de pessoas com doenças como diabetes e hipertensão. A partir da constatação dessa realidade, surge o desejo de promover ações no campo da cultura, educação e meio ambiente, capazes de auxiliar no desenvolvimento sócio-econômico do município, fazendo


surgir a Ong Cururuar Fluvilab, que busca mediar a interação entre instituições como a Escola da Cidade, a Prefeitura Municipal de Chaves e as comunidades ribeirinhas do Marajó, em processos que ocasionem a melhoria da qualidade de vida das pessoas que habitam o arquipélago. O Arquiteturas Anfíbias se configura como uma das primeiras investidas dessa relação, uma espécie de expedição, onde nos empenhamos na promoção da troca entre o saber acadêmico e o saber tradicional marajoara. Essa experiência propiciou aos expedicionários da Escola da Cidade vivenciarem uma realidade bastante adversa ao que estão habituados na cidade de São Paulo. Navegar na contra costa do Marajó, na maioria das vezes, exige coragem e preparo físico para suportar o vertiginoso agito das águas do rio Amazonas próximo ao seu encontro com o mar. A pacatez das localidades ribeirinhas do Marajó nem de longe lembra o alvoroço da grande São Paulo. Por outro lado, foi justamente o domínio da natureza no fluir temporal, que provocou encantamento no olhar entusiasmado dos viajantes. Esse entusiasmo passou a ser refletido nos olhos de cada marajoara que participou da vivência, lançando luz na forma de ver a si e seu próprio lugar.

esse pensamento e a ressignificá-lo, constituindo valor aos recursos locais, bem como, ao conhecimento gerado pela própria natureza, que esculpe de forma laboriosa o terreno da ilha. A partir de então, pensando sempre em conjunto, foram projetadas diversas soluções viáveis sobre a construção de aparelhos públicos, enriquecidos pelo uso inteligente dos recursos naturais da região. O resultado apresentado na sede da prefeitura de Chaves, aos gestores e membros da câmara de vereadores do município, foi uma gama de projetos de estruturação do núcleo central de Chaves, com base na realidade local e respeito ao fluxo da natureza, que denotam quão preciosa pode ser a união entre academia e administração pública. Após o período de vivência no Marajó, o Arquiteturas Anfíbias nos deixa o sentimento de que o encontro da boa vontade política, com a curiosidade científica e uma boa pitada de sonhos, é suficiente para realizar políticas públicas humanizadoras, capazes de atuar de forma eficaz e significativa na vida das pessoas. Obrigada a Escola da Cidade, a Prefeitura Municipal de Chaves e a todos os que contribuíram na realização desse processo.

É importante observar que, por diversas vezes, pessoas que habitam lugares demasiadamente isolados, costumam sentir abandono e descaso, por parte do poder público e da sociedade como um todo. Na maioria dos casos, essa sensação acaba gerando a deturpação de valores mediante sua própria cultura e seu modo de vida. Cria-se a concepção de que o bem-estar reside no concreto armado das construções, nas camadas de asfalto das vias urbanas, nos medicamentos das drogarias, etc... A experiência vivida durante o Arquiteturas Anfíbias gerou inúmeras reflexões que permitiram aos participantes questionarem

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1.2.ARQUITETURAS ANFÍBIAS NO MARAJÓ - RELATOS E CONSIDERAÇÕES

Luis Octavio de Faria e Silva

“Sempre observamos a Natureza, apenas ela nunca foi a mesma.” LENOBLE, Robert Esquisse d’une histoire de l’idée de Nature, 1969, pág. 29, tradução do autor

A viagem/oficina “Arquitetura Anfíbias – espaço da Cultura no Marajó”, realizada no mês de Julho de 2018, ação combinada da Plataforma habita-cidade e curso de Pós-graduação Habitação e Cidade, da Associação Escola da Cidade, junto com a Prefeitura Municipal de Chaves, no Marajó, PA, representa uma consolidação da aproximação entre as instituições envolvidas, no âmbito de um acordo que une a capacidade de avançar com pesquisas e desenvolver saberes associados à transformação antrópica da paisagem, prerrogativa da Escola da Cidade Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mantida pela Associação Escola da Cidade, e o Poder Público em um município da Amazônia, bioma que representa um grande desafio para a perspectiva de um projeto humano brasileiro que possa deixar para trás a série de equívocos a que se tem submetido nos últimos tempos a maior extensão tropical florestada do planeta. A proposta da viagem/oficina foi a de um reconhecimento de possibilidades de projeto no estuário do rio Amazonas, sobretudo no que diz respeito aos seus

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espaços de Cultura, objeto de reflexão desde a preparação da vivência até durante a mesma, já que a relação Cultura-Natureza, questão básica que se traz à tona, é essencial de forma geral, e contundente no caso da região visitada, onde os ritmos e ocupação são marcadamente estabelecidos pelos ciclos naturais, sobretudo a dinâmica das águas – as chamadas “marés”. Ao se refletir sobre a Cultura, vem à tona a relação de um grupo humano com as condições naturais onde este está localizado. Cultura pode ser entendida como essa relação com a Natureza, que ora parece ser de confronto e ora de “negociação” contínua. O significado de Natureza, no entanto, está associado a uma condição ou visão culturalmente definida. Culturas humanas primevas nela “procuravam entender a vontade dos deuses (...); Aristóteles, uma hierarquia de formas organizadas; Decartes e os modernos, as alavancas de uma máquina (...); e nós procuramos equilíbrios matemáticos na matéria que só se unem (...) nas leis do engenheiro do século XIX.” (LENOBLE, 1969, pág. 28 tradução do autor)


A viagem/oficina, embalada nessa reflexão, foi organizada de modo a permitir a observação dos tempos/espaços nas bordas das águas do caudaloso rio Amazonas e, como consequência, da relação entre Culturas ribeirinhas e a Natureza, entendendo aquelas como relacionadas a ecossistemas com especificidades e, portanto, diversas quanto às bases onde buscam lançar âncora e que reverberam. Descobre-se, assim, também, algo da diversidade dos ecossistemas no bioma amazônico, por muito tempo equivocadamente apresentado como homogêneo ou como um deserto verde (AB’SÁBER, 1996, Pág. 131-2). Como, na condição atual, é a relação entre Cultura e Natureza? Será moderna nossa experiência, no sentido de mergulhada na aventura de emancipação em todos os níveis? Seríamos realmente modernos? Até que ponto não somos profundamente tradicionais? “(...) não podemos mais assinalar a flecha irreversível do tempo nem atribuir um prêmio aos vencedores. Nas inúmeras discussões entre os Antigos e os Modernos, ambos têm hoje igual número de vitórias, e nada mais nos permite dizer se as revoluções dão cabo dos antigos regimes ou os aperfeiçoam.” (LATOUR, 1994, pág. 15) A condição moderna promoveria uma “mistura entre gêneros de seres completamente novos, híbridos de natureza e cultura, (...) [mas também uma distinção marcada entre] duas zonas ontológicas inteiramente distintas, a dos humanos, de um lado, e a dos não-humanos, de outro”. (LATOUR, 1994, pág. 16) Estariam conectadas, assim, “em uma cadeia contínua a química da alta atmosfera, as estratégias científicas e industriais, as preocupações dos chefes de Estado, as angústias dos ecologistas (...) [e, por outro lado, se estabeleceria] uma partição entre um mundo natural que sempre esteve aqui, uma sociedade com interesses e

questões previsíveis e estáveis, e um discurso independente tanto da referência quanto da sociedade”. (LATOUR, 1994, pág. 16) O que vemos seriam, assim, esforços paradoxais de hibridização e demarcação de limites entre Cultura e Natureza? A experiência moderna deveria ser considerada ilusória ou, se entendida como efetiva, esforços no sentido de aplacá-la serem empreendidos? “Teria sido melhor não tentar acabar com a exploração do homem pelo homem? Teria sido melhor não tentar tornar-se mestre e dono da natureza? Nossas mais altas virtudes foram colocadas a serviço desta tarefa dupla, uma do lado da política, outra do lado das ciências e tecnologias.” (LATOUR, 1994, pág. 14)

FIGURA 1. Vista do Amazonas a partir do Forte de São José de Macapá FIGURA 2. Vista da praia em Macapá

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Início da viagem exploratória, o canal norte do rio Amazonas quando este deságua no Atlântico foi observado a partir de Macapá, onde o forte de São José de Macapá é referência básica, com seus baluartes de defesa da boca de entrada do grande caminho d’água, pelo que se tem notícia uma obra eventualmente extemporânea e/ou talvez desproporcional ao que se propunha, em nenhuma situação (felizmente) tendo sido acionados de fato seus equipamentos de balística. Também os trapiches e pontos de atracagem da cidade de Macapá, relacionados com a grande amplitude das marés, que ora trazem ondas que se batem contra a orla recentemente recomposta com destreza quanto ao desenho dos espaços públicos e ora desnudam uma larga praia lamacenta, com espécies vegetais adaptadas às condições de sobe-e-desce das águas, lugar de brincadeiras e jogos por parte da população local, onde ciclistas por vezes se aventuram1. A travessia do rio Amazonas a partir de Macapá foi, na viagem/oficina “Arquiteturas Anfíbias”, o começo de uma série de navegações, em diversos tipos de barcos, experiência essencial para a compreensão da ocupação humana naquela região, onde estar sobre as águas é uma condição básica. Série aquela que se inicia na viagem de Macapá a Afuá e, depois tem sequência nas viagens para Chaves, dali para o Arapixi e volta para Afuá e Macapá, completando-se, assim, o ciclo pretendido. A ida ao Arapixi, vila na grande ilha do Marajó, substituiu a ida inicialmente programada a uma localidade na ilha da Caviana (a expectativa era a de se explorar a localidade de

FIGURA 3. Plantas que sobrevivem sob as águas nas bordas de Macapá FIGURA 4. Saída de Macapá FIGURA 5. Navegação próxima ao Arapixi FIGURA 6. Redes montadas durante navegações

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1. Os participantes da viagem/ oficina “Arquiteturas Anfíbias” encontraram em Macapá uma aluna da Escola da Cidade nascida e criada naquela cidade que, quando questionada sobre sua relação com o rio Amazonas, disse que não era seu hábito tomar banhos ali em função de as águas estarem poluídas nas áreas urbanas, mas que brincar com a lama da praia era um programa constante e era também nas praias quando das marés baixas que seu pai jogava futebol com amigos, terminando todos enlameados.


Ubuçutuba ou de Tachipucu, onde havia indicações da presença de vestígios de antigos quilombos, objeto de investigação do secretário da Cultura de Chaves), entre outras razões, por conta da inquietação quanto às marés e eventual desconforto dos navegantes quando da atracagem noturna da embarcação. O sentido da ida à Caviana era também a de conhecer áreas, por assim dizer, mais rurais do município de Chaves, sendo aquela ilha origem de boa parte do seu rebanho de gado branco (como é chamado ali o gado não bubalino). A alteração do destino é resultado de interação com os conhecedores das dinâmicas das marés e de relações entre os navegadores (na região, chamados de “marítimos”) com organizadores da vivência, que em conjunto com todos os participantes decidiram pela mudança que resultou na viagem ao Arapixi, vila historicamente importante do município, exemplo significativo de comunidade ribeirinha, estabelecida junto ao rio de mesmo nome, entremeada por dois igarapés e com uma relação com as águas que se poderia indicar como intermediária entre aquela que se perceberá em Afuá e a que se observa em Chaves-Sede. A ilha da Caviana, de onde são muitos daqueles com quem se conviveu durante a viagem/ oficina, que se percebeu constantemente no horizonte no rio Amazonas a partir de Chaves e a respeito de onde se comentaram muitas histórias e curiosidades, permaneceu para os participantes como um mistério ou como algo na frequência dos sonhos. Nas navegações, em uma profusão de redes armadas umas praticamente sobre as outras, num convívio intenso entre os participantes da vivência, e também com os marinheiros (marítimos), sobretudo estes sempre compartilhando visões e memórias, deixando o estuário do Amazonas e suas bordas povoarem as conversas e silêncios. Momentos especiais foram vividos enquanto se esperava a maré apropriada e com os movimentos

randômicos tanto da navegação como dos tripulantes e marítimos, rápidos no fechar das lonas quando das chuvas repentinas, surpreendentes no abri-las para a estiagem súbita, misteriosos quando da abordagem de pequenos barcos de onde vinham novos companheiros de viagem e alguns víveres. Durante toda a viagem/oficina, o balanço das águas esteve presente, mesmo em terras supostamente firmes. A relação com as águas naquela região amazônica é, assim, nas navegações, determinante e intensa. Partidas estão sempre condicionadas à maré, que, esperase, permitirá atracagem e embarque/ desembarque, algo que se estima através de tabelas, mas que somente quando das viagens é que se pode ter segurança quanto à viabilidade efetiva destas – há, inclusive, a possibilidade de marés ditas “mortas” que impedem a movimentação de embarcações em função de não permitirem determinados calados por atingirem níveis d’água menores do que o esperado. Depende-se da maré de onde se sai e do lugar onde se pretende chegar, sendo as viagens estabelecidas em função de sua duração e relação com a dinâmica das águas. Por um lado, isso representa fonte de angústia para aquele que procura estabelecer uma dinâmica descolada dos ciclos naturais, por outro, é uma lembrança da necessidade de diálogo com seus ritmos, diante dos quais a presença humana se demonstra singela e dependente. Convite a uma atitude respeitosa e de enlace, distante da afirmação ilusoriamente dominadora como nas ações humanas confiantes em bases tecno-mecanicistas que têm sido recorrentes em muitos de nossos processos de ocupação, e que percebemos fadados à ruína. A Amazônia tem sido palco de muitos desses processos - a ferrovia MadeiraMamoré, iniciada no final do século XIX junto à fronteira com a Bolívia, podendo ser considerada como arquetípica e trágica experiência nesse sentido (HARDMAN, 1988).

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Em Afuá e no ecossistema onde esta vila se instalou, com rios, furos ou bocas (ligações entre rios), ilhas de vegetação exuberante, áreas relativamente protegidas da “maresia”, como são chamadas as situações de água revolta pelos fortes ventos alísios que varrem a região do estuário amazônico, seguiu-se a observação da relação entre a Natureza e a vontade de permanência humana, sua Cultura, sua interação com os ciclos naturais, seus objetos construídos e transformações na paisagem, seus instrumentos e rituais. Afuá se estrutura através de caminhospontes, em concreto armado nas áreas mais centrais, e em madeira nas suas bordas – nesses caminhos, alguma infraestrutura urbana – tubulação para distribuição de água tratada e cabos de eletricidade. Ao menos em uma esquina movimentada de Afuá, percebe-se também, quanto à rede de comunicação, um roteador para conexão pública de internet. A questão do saneamento das águas servidas é ali delicada, algo recorrente na região e no Brasil, não havendo tratamento, ainda que se possa perceber, em função da relativamente pequena população em números absolutos, uma razoável capacidade de processamento dos dejetos por parte dos rios com seu grande volume d’água. Chama a atenção em Afuá o cuidado com os espaços públicos, de forma geral plataformas em madeira com bancos, áreas cobertas para eventos de vários tipos, estruturas de apoio. Há, inclusive, na orla da vila, uma rampa longa, também em madeira, que é utilizada como praia de rio – “praia de madeira”, é como alguns a ela se referem. A circulação se dá na vila por caminhadas ou com bicicletas. Chama a atenção um edifício público interessante – o “lagostão”, que serve de apoio para bailes e eventos da comunidade. Ocasionalmente, algumas marés altíssimas, chamadas “lançantes” (originalmente em ciclos de quatro anos, hoje, em função de

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FIGURA 7. “Praia de Madeira” em Afuá FIGURA 8. Caminhos pontes de madeira em Afuá FIGURA 9. “Lagostão”, salão de eventos da comunidade


mudanças climáticas, sem a regularidade anterior) acabam por cobrir os caminhos em Afuá quando, inclusive, inundam as casas da vila; mas o que poderia ser visto como contratempo ou problema é encarado como oportunidade ou momento para se brincar – nessas situações, os habitantes passeiam pela vila inundada, brincando com a água, e, inclusive, em pequenas embarcações navegam nessa condição excepcional. Revela-se, assim, resiliência urbana na forma de festa. Podemos dizer que Afuá está debruçada sobre as águas - há, ali, vários estaleiros, atracadouros de barcos de pesca, entre outros. Diferente de Chaves, para onde o grupo da viagem/oficina “Arquiteturas Anfíbias” se deslocou na sequência. Sede do município de mesmo nome, com o qual a Associação Escola da Cidade firmou Acordo de Cooperação Acadêmico Científico e Cultural, a chamada cidade de Chaves está instalada em uma duna junto ao canal sul do rio Amazonas, na grande ilha do Marajó, que na verdade é um conjunto de ilhas justapostas que está associado a outras ilhas que compõem o chamado arquipélago do Marajó, na região do Marajó/ Breves - Bocas (AB’SABER, 1996), onde também está Afuá, em ilha fluvial que representa certa continuidade em relação à grande ilha do Marajó, mas que de fato está justaposta a ela, separada por furos/ bocas, mas de certa maneira parte dela, em uma relação caprichosa estabelecida pela geomorfologia e hidrografia local. Em Chaves, a ligação com a água é mais estreita no Miri, igarapé a oeste do aglomerado humano, onde há estaleiros e onde ancoram barcos de pescadores e daqueles que conduzem gado, atividade muito realizada na região. A maior parte de Chaves, no entanto, está em um nível significativamente mais alto (algo em torno de quatro metros) do que a praia, cujas características fazem pensar em alguma

FIGURA 10. Troncos na praia de Chaves-Sede FIGURA 11. Tronco na praia de Chaves-Sede FIGURA 12. Praça da prefeitura de Chaves-Sede

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semelhança com a de Macapá. Também em Chaves a amplitude entre água alta e baixa é enorme, resultando em praia larga em certos momentos e em outros as ondas batendo diretamente nos barrancos da elevação onde estão as construções e caminhos. Barrancos também percebidos em Macapá junto ao Forte de São José, estabilizados ali por projeto de caminhos, praças etc. Em Chaves, o rio Amazonas é particularmente intenso: em suas praias o rio deposita frequentemente troncos de árvores arrancadas, sobretudo pela força das pororocas, fenômeno em que uma grande onda se forma em função de a força das águas oceânicas circunstancialmente vencerem a força do rio-mar Amazonas e avançarem rio acima, revolvendo as suas margens, removendo terras, assoreando e modificando as áreas litorâneas - trata-se de fenômeno recorrente no canal entre as ilhas Mexiana e Caviana, pertencentes ao município de Chaves, (chamado, inclusive, de canal perigoso), que tem uma de suas bocas diante da cidade sede, cujas praias em função dessa condição, são onde encalham o que é levado pela verdadeira enxurrada das pororocas. Troncos de árvores de dimensões importantes espalham-se, assim, pela praia de Chaves, ora isolados, ora em profusão em função de caprichos das marés. A faixa de praia em Chaves é, assim, um lugar onde há coisas que encalham e desencalham sucessivamente. Os barrancos que a ladeiam são constantemente escavados pelas águas e por esses trocos vindos com a maré. Assim sendo, o limite das águas ali é instável e muda constantemente. Reforça essa impressão de faixa de coisas encalhadas alguns equipamentos abandonados junto à parte alta dos barrancos. Como a arte poderia lidar com esse duplo movimento de deposição, por parte de ciclos naturais e pelos habitantes daquela borda d’água?

FIGURA 13. Chegada na vila do Arapixi FIGURA 14. Praça da igreja no Arapixi FIGURA 15. Caminho e casas no Arapixi

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Os muros de contenção junto aos barrancos de Chaves-Sede, esforço de conter a força das águas, construídos, sobretudo junto à área central da cidade, já demonstram que não terão jamais capacidade de reverter o que parece ser destino traçado de transformação contínua das margens marajoaras. Já houve quarteirões que se desmancharam ao longo do tempo algo a que se referem alguns moradores antigos e que está presente na memória da cidade - o edifício do correio, por exemplo, é sempre lembrado como um daqueles que desapareceu em função de o local em que estava ter sido engolido pelas águas. A praça da prefeitura, antes circundada por edifícios, hoje se abre para o Amazonas, sendo separada da praia apenas pelo desnível do barranco, parcialmente estruturado por muros de arrimo em maior ou menor medida desmontados pelas marés. Como imaginar transformações que resultem em belas ruínas, destino aparentemente certo do que se estabelece nas margens daquele trecho do Amazonas? Essa parece ser uma questão colocada pelos ciclos da Natureza naquela região onde é inevitável imaginar que, eventualmente, em algum dia a cidade ali estabelecida terá que mudar de lugar, aceitando essa relação com águas tão monumentais, que já modificaram a paisagem no período de vida de muitos dos antigos moradores: quarteirões sumiram, um canal paralelo ao rio Amazonas, protegido por uma barra que atenuava as ondas na costa da cidade de Chaves, desapareceu como resultado de movimentos das águas - as muitas construções em madeira, passíveis de serem desmontadas e reaproveitadas, podendo ser vistas como espécies de barcos parados (algumas casas antigas têm, inclusive, nomes como os barcos…) - serão indícios de uma maneira de ocupar aquelas bordas d’água? De Chaves, a viagem/oficina seguiu para a vila do Arapixi, em função de alteração do roteiro inicialmente estabelecido, algo já

relatado acima. A navegação para aquela localidade segue paralela à costa, onde há belas praias entremeadas por igarapés. Há forte maresia, pois já se está a caminho da chamada costa do Marajó, onde está a ponta do Maguari e o litoral do município de Soure. Há relatos sobre o quanto são mais próximas pela costa, ainda que relativamente perigosa e desconfortável a viagem, a baía do Marajó e Belém - o litoral de Chaves, mas também da borda que se volta para a capital paraense, é, por oposição, chamado contracosta. Viagens pela contra-costa são mais seguras - entre Afuá e Breves, município no sudoeste da grande ilha, há inclusive a expressão “água morta” já que a navegação não conta com maresia alguma - é mansa, com ritmo marcado apenas pelas curvas sucessivas dos rios e canais meândricos. A vila do Arapixi, que não fica na beira do Amazonas, mas rio Arapixi acima, que é um curso d’água afluente do grande rio, com meandros que são intermitentemente abandonados em favor de outros canais, alguns deles abertos pela força de marés altas, até pouco tempo atrás era utilizada de fato apenas nos domingos e dias de festa, algo comparável como que ocorria em antigas vilas caipiras no interior de São Paulo. Aqueles que para o Arapixi acorriam nos dias festivos eram moradores de fato em sítios ribeirinhos distantes uns dos outros e da vila, para onde se deslocavam de barco ou montaria. Atualmente esses sítios são visitados para questões de trabalho e a moradia permanente é na vila, ainda que algumas casas aparentemente desocupadas façam pensar que a velha prática não esteja totalmente abandonada. Mesmo instaladas em terras acima do nível das águas altas, as casas do Arapixi são construídas um pouco elevadas do solo e é perceptível que os espaços entre as construções são frequentemente encharcados - grandes cheias são insinuadas como razão das pequenas

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palafitas e fica a impressão de terras eventualmente alagáveis, transformadas intermitentemente em charcos. Nada comparável às áreas no interior do Município de Chaves, onde localidades estão ora em terras secas, ora em verdadeiros lagos, mas a generalização cíclica da condição de charcos no Arapixi se evidencia. As formas de ocupação nas bordas do estuário do Amazonas, assim, mostramse diversas, sendo a experiência de Afuá distinta do Arapixi e daquela de ChavesSede, que possui algumas semelhanças quanto a Macapá, mas na capital do Amapá não se percebem reflexos da pororoca como naquela região que recebe de frente tudo aquilo que é arrancado e revolvido durante o impressionante fenômeno da onda oceânica amazônica. São recorrentes notícias de canais que foram assoreados, como o do Bem Te Vi, que antes separava e agora, como campo, conecta as ilhas de Cavianinha e Viçosa, assim como de desmonte gradual ou violento de bordas d’água, como o caso sobre o qual nos referimos em ChavesSede. A vontade de permanência humana naquelas condições naturais é, portanto, constantemente desafiada e a aceitação da inconstância da relação entre as águas e as terras parece tanto a mais inteligente como, no fundo, a única que não entra em luta perdida de antemão.

FIGURA 16. Desenho da orla de Chaves

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Por que lutar com as águas se elas são a essência daquele lugar? Esse foi o princípio básico das intuições de projeto que foram desenvolvidas pelos integrantes da viagem/ oficina “Arquitetura Anfíbias” no que se refere aos espaços públicos de ChavesSede. Acessos para a praia, sombras e apoio para lazer na proximidade das águas, além de estratégias para configurar piscinas intermitentes foram pensados de maneira a que possam ser remontados quando desfeitos pelas marés e também relocados. Na área central, arquibancadas e recepção da cidade se reconfiguram de maneira a se tornarem mais efetivas como quebra-marés, com geometria apropriada e com usos combinados de escadas e sombreadores, ainda que não esteja descartada a ideia de que em algum dia se tornarão ruínas (alguns trechos caídos do muro já apresentam esse aspecto e poderiam ser absorvidos e tratados como tal). A ideia de uma acrópole como a ateniense vem à mente, com suas pedras caídas, com suas escadas e rampas interrompidas, com o Propileu que em Chaves é acessado pela praia e também pelo trapiche, de onde se descortina a Prefeitura, que faz as vezes de Parthenon, a igreja de Santo Antônio - Erecteion? - e a velha escola que se propõe que seja convertida no que se decidiu chamar de Casa da Memória, lugar onde se poderá recontar as coisas da região e que um dia, quiçá, será reabsorvido pelo Amazonas que está na origem de tudo o que ali se percebe e recebe.


Também junto às casas chaveenses, entremeadas de águas empoçadas como no Arapixi, a ideia é a de garantir charcos com a função de jardins remediadores, componentes de uma rede sanitária que mais cedo ou mais tarde terá que ser enfrentada. Defende-se que esses canais serpenteiem os quintais das casas, facilitando também a entrada dos ventos alísios tão presentes na orla, deixando-a fresca, e que poderá também melhorar as condições de conforto nas áreas mais interiores, hoje frequentemente abafadas. Aponta-se para um raciocínio renovado sobre a infraestrutura em Chaves, combinando caminhos existentes, com algumas redes, e sistema sanitário remediador de quintais verdes e produtivos. Nos caminhos centrais, onde está o comércio local, sugere-se a cobertura dos mesmos com pérgolas de madeira, que poderão receber coberturas de lonas para sombreamento, como acontece em cidades no sul da Espanha, e plantas trepadeiras. A área no entorno da cidade, equivalente ao que seria antigamente um rossio, foi imaginada como base para produção de alimentos e retiros de gado vindo tanto do interior como das ilhas, com produção de leite e derivados, mas também com agroflorestas associadas ao sistema sanitário, que terão nelas um destino adequado para vários insumos atualmente descartados de maneira inapropriada. Segmentos produtivos (talhões) que se propõem conectados por caminho parque, com recantos para descanso e encontros. Junto ao Miri, igarapé a oeste da cidade, valorização dos pontos de atracagem como marinas associadas a áreas de comércio, com passeios e pérgolas ajardinadas, estímulo a estaleiros e empreendimentos relacionados à pesca, ao extrativismo consciente e à artesania. A margem esquerda do Miri (e também a margem

direita junto à foz) convertida em Parque produtivo e educativo, o canal existente na margem direita consolidado e ampliado para permitir movimentação de pequenas embarcações, sendo associado à rede de jardins remediadores acima referida. A série de propostas aqui sintetizada tem a perspectiva de configurar um projeto educativo. Assim, a cidade ensina através de seus espaços públicos e da inteligência associada à sensibilidade que nela se materializam em estruturas para permitir a presença humana, sempre em uma interação profunda com os ciclos naturais, até mesmo com a consciência da finitude da existência. Os festivais nas aglomerações humanas visitadas no Marajó - Festival do VaqueiroPescador em Chaves, Festa de Santo Antônio no Arapixi, Festival do Camarão em Afuá - deram um novo tempero à experiência da viagem/oficina. De origem religiosa, evidenciada atualmente apenas no nome da festa do Arapixi, os festejos compõem atividades ligadas ao cotidiano dos lugares - corridas de cavalos, rodeios e pescarias em Chaves, a lembrança da fartura do camarão em Afuá (que paradoxalmente não tem muito camarão nos seus restaurantes durante o evento), dividem a atenção com apresentações de cantores e músicos de ritmos da região do Pará e mesmo de outras partes do Brasil, com um aspecto que faz pensar nos carnavais de rua, com muita embriaguez e pouco cuidado. É uma Amazônia pop que se desvela, sobretudo em Chaves e em Afuá, com produtos de camelôs em profusão, música excessivamente alta mesmo quando não há o menor sentido para tanto, clima de frenesi, exceção talvez para o evento no Arapixi, de menor escala e talvez por isso menos transformado pelos meios de comunicação de massas, ainda que não imune a eles. Até que ponto essas festividades são resistências de uma forma intrínseca da Cultura local? Será

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essa excitação uma sobrevivência de algo que, quanto às festividades na América do Sul, diz um viajante italiano que percorreu a Amazônia e o vale do Orinoco no final do século XIX: que durariam dois a três dias e quando do dia final, dia do “enterro” (ou “enterro dos ossos”, como se diz em São Paulo), dia em que o hábito seria o de acabar “com as provisões que porventura tenham sobrado dos dias precedentes, (...) [haveria] pessoas que se sentiriam diminuídas caso não pudessem se embebedar em dia tão solene” (STRADELLI, 2009, pág. 85). Percebe-se, de qualquer maneira, o quanto são importantes os festivais como manifestações locais, palco de exposição de anseios e valores.

ilusão da imposição de vontades humanas desconectadas da natureza: “(...) é possível perceber, nesse trânsito sutil entre natureza e cultura (...), o fascínio que advém do espanto, os atrativos secretos da escuridão e do medo, a força primitiva de lugares inomináveis, os sentimentos solitários ante a infinitude ‘natural’, a surpresa permanente como nova rotina (...)” (HARDMAN, 1988, pág. 100).

Quando acabam as festividades, o sossego retorna e o transe de esquecimento dá lugar ao ritmo dos ciclos naturais ilusoriamente abafados pelo tumulto.

HARDMAN, Francisco Foot Trem Fantasma, a Modernidade na Selva São Paulo: Companhia das Letras, 1988

As revoadas de andorinhas, então, voltam a ser protagonistas, assim como o vai-evem de barcos, o sobe-e-desce das marés, a chuva que não deixa tempo de se proteger, as sementes que o rio leva, as árvores como a incrível Samaúma chamada de muralha em Afuá (cujas raízes criam espaços uterinos gigantes) ou as belas palmeiras aqui e acolá - açaí, buçu, miriti e tantas outras. Como pensar o espaço da Cultura no Marajó, na Amazônia? O artista plástico e professor Paulo Von Poser, que foi um dos professores envolvidos na viagem/ oficina (foi, inclusive, definido como o seu “braço”, ou seja, alavanca da produção - produção de desenhos individuais e coletivos, numa apreensão sempre generosa da essência dos lugares), nos últimos momentos da vivência, declarou - e aqui deixo registrado - que o lugar da Cultura é todo o lugar e lugar nenhum, provocando a lembrança de que a Cultura está nas pessoas, nos ritmos, no inesperado. Acabou por reverberar uma reflexão sobre a construção da ferrovia Madeira-Mamoré já aqui referida como trágico momento de

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Referências Bibliográficas AB’SÁBER, Aziz Nacib A Amazônia: do Discurso à Práxis São Paulo: EDUSP, 1996

LATOUR, Bruno Jamais fomos modernos Rio de Janeiro: Editora 34, 1994 LENOBLE, Robert Esquisse d’une histoire de l’idée de Nature Paris: Éditions Albin Michel, 1969 STRADELLI, Ermanno Lendas e Notas de Viagem São Paulo: Martins Editora, 2009


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1.3. SIMPLICIDADE E CONTRADIÇÃO, EXPLORAÇÕES NA ARQUITETURA AMAZÔNICA

Domenico Potenza

“Fazer arquitetura é sempre um ato histórico-crítico, envolvendo e questionando o que o arquiteto aprendeu a imaginar e a detectar através de sua relação com a vida e com as coisas: a força e o valor de seu contato com a arte dependem sempre da ‘qualidade’ de sua consciência histórica”.1 Este é o texto na contra capa da tradução italiana de “Complexidade e Contradição em Arquitetura” (Robert Venturi 1966) publicado pela Daedalus em 1980. Uma síntese que reflete, em parte, as considerações expressas por Vincent Scully em seu texto de apresentação e que destaca a estreita relação entre a função da arquitetura e a força de suas formas resultantes, retomadas, com ênfase, a partir da evolução histórica dos edifícios do passado (que para Robert Venturi está diretamente relacionada à complexidade da vida cotidiana). A complexidade a que se refere a leitura crítica de Venturi é aquela da cidade italiana 1. Robert Venturi, Complessità e contraddizioni dell’architettura, edizioni Dedalo, Bari 1980

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e sua arquitetura do setecentos, que o autor tinha estudado a fundo em cursos de história da arte na Universidade de Princeton e na longa estadia em Roma (a partir de bolsa de estudo da Accademia Americana in Italia). Uma análise feita a partir da condição de arquiteto que faz uso da crítica e não de crítico que se ocupa da arquitetura, decompondo os elementos técnico-construtivos e funcionais dessas obras, para além do léxico da consciência coletiva que os gerou. Isso nos revela - ainda hoje - a necessidade de rever as transformações do passado, imaginando o significado e as razões que levaram às modificações, para além do estilo que as formas fizeram imaginar. Esta é uma condição a se adotar, sobretudo, na exploração dos territórios onde é forte o elo com a tradição dos lugares. Uma tradição, neste caso a amazônica, enraizada e em grande parte preservada das contaminações contemporâneas que agora se espalham a uma velocidade incontrolável. Toda a enorme extensão da ilha do Marajó preserva condições de escassa acessibilidade


que protegem seu equilíbrio natural original, exceto nas áreas onde a presença de assentamentos humanos recém-construídos é maior. Nestes territórios, a simplicidade dos assentamentos tradicionais é sobreposta pelas contradições de uma modernidade agora completamente globalizada, que anulam a harmonia dessas paisagens, até torná-la totalmente desvinculada das próprias razões que a geraram. “Existem muitos ecossistemas que já são habitáveis e ​​ existem muitas civilizações que os utilizam: a própria imagem do Jardim do Éden nada mais é do que um ecossistema habitado sem esforço de adaptação. O paraíso apresenta-se, na verdade, como uma imagem de uma morada humana perfeita: aqui não é necessária proteção climática e, portanto, nenhuma construção, nenhum trabalho para produzir alimentos, não há necessidade de defesa, sendo uma imagem que se mantém com grande sucesso, dos jardins imperiais do Oriente ao Club Mediterranée. Mas o Jardim do Éden é uma instituição frágil: basta introduzir um novo objeto, um novo conhecimento ou usar objetos existentes (por exemplo, uma folha de figo) de uma nova maneira, e o processo de deterioração começa. E é completamente impossível prever uma expansão: no Jardim do Éden, a explosão demográfica leva apenas à expulsão. O Jardim do Éden é, portanto, um ecossistema habitável antes do pecado original. Após a intervenção humana, torna-se um ecossistema melhorado, mas esta melhoria é, ao mesmo tempo, o primeiro estágio de um processo de decadência. Não se melhora um ecossistema (no que se refere à habitabilidade) sem pagar um preço, o de acelerar o processo de destruição de tal sistema”.2 2. Yona Friedman, L’architettura di sopravvivenza – una filosofia della povertà, Bollati Boringhieri, Torino 2009. Explicita Friedman: “... há muitos exemplos de destruição de ecossistemas por civilizações, destruição que chamamos pelo nome de desertificação. A maioria dos sistemas de irrigação em larga escala em regiões agrícolas intensivamente exploradas de civilizações

Esta é a razão pela qual a contaminação desses lugares a partir de novas práticas importadas de outras culturas aparece como o começo da destruição do equilíbrio existente originalmente. A evolução, através de diferentes códigos genéticos, traz consigo uma alteração nos lugares e modos de vida de seus habitantes tanto na forma quanto nas ideias; isso é indiscutível, mas há um limite dentro do qual as transformações não são mais apenas impactadas nas condições naturais originais, mas que passam a incluir sacrifício dos seres humanos. Como reitera o próprio Friedman, o Homem deve tentar adaptar o seu comportamento à natureza e não vice-versa, caso contrário perde-se o equilíbrio milagroso que é o ecossistema. As principais cidades do planeta são um exemplo significativo de como este equilíbrio tende fortemente em favor da adaptação dos lugares ao nosso comportamento e, sobretudo, em detrimento das condições ambientais. Uma violência que cobrará seu preço. Não é possível transferir para todo lugar as condições de vida que acompanham o homem, sem alguma forma de adaptação de seu

altamente urbanizadas leva diretamente à desertificação da terra. Assim, a Mesopotâmia, a ‘Dust Bowl’ americana, as ilhas gregas, tornaram-se cada vez menos facilmente habitáveis. Então, como pode um ecossistema ser habitado sem que este seja destruído? Como fazê-lo a partir de um esforço mínimo? Qual é o ecossistema que requer uma intervenção menor? ... habitar um ecossistema sem destruí-lo significa limitar as intervenções dentro dele: não construir, cultivar ou substituir plantas existentes por novas plantas “ (“…vi sono molti esempi della distruzione di ecosistemi da parte delle civiltà, distruzione che indichiamo con il nome di desertificazione. La maggior parte dei sistemi di irrigazione su larga scala delle regioni agricole a sfruttamento intensivo delle civiltà altamente urbanizzate conducono direttamente alla desertificazione del suolo. Così la Mesopotamia, il ‘Dust Bowl’ americano, le isole greche, sono diventati via via sempre meno facilmente abitabili. Allora come si può abitare un ecosistema senza distruggerlo? Come farlo al prezzo di uno sforzo minimo? Qual è l’ecosistema che richiede l’intervento minore? ... abitare un ecosistema senza distruggerlo significa limitare gli interventi al suo interno: non costruire, dissodare, né sostituire con nuove piante la vegetazione esistente”).

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comportamento. A Globalização, que agora se espalhou por todos os cantos do planeta, começa a mostrar suas fraquezas (a nova pobreza, como alguns a ela se referem), algo que será difícil redimir.

assim, novos modos de habitar; buscar formas alternativas para o habitat humano, como um momento de reflexão partilhada entre a realidade dos lugares e as ações conjuntas das comunidades que os habitam.

O trabalho do workshop itinerante organizado pela Escola da Cidade, em colaboração com a Prefeitura de Chaves, na ilha do Marajó, teve como objetivo principal o estudo das transformações antrópicas da paisagem na região amazônica, caracterizada por essas grandes fragilidades. Um desafio ousado e impenetrável no sentido de explorar em campo as complexidades e contradições presentes na maior extensão de florestas tropicais do planeta. Uma tomada de consciência que se iniciou em Macapá (local de partida da viagem), para depois passar por Afuá (primeira etapa) e pousar em Chaves (centro principal do aprofundamento da pesquisa) e Arapixi, uma pequena vila no interior do estuário cheio de articulações do Rio das Amazonas, para empreender leituras que se pretendem úteis no sentido de recuperar os lugares e espaços para novas políticas relacionadas a cultura, educação, meio ambiente.

Aqui a água se apresenta como uma extensão generalizada do solo, uma imensa infraestrutura ambiental a ser atravessada, tendo a floresta em silhueta como pano de fundo ao longo de todo o seu perímetro. Uma margem frágil, nunca definida, entre a força de fluxos e a resistência de suas bordas. Elemento principal de reflexão em torno do qual pensamos para construir novas oportunidades de projeto; um projeto singular, uma arquitetura anfíbia (tal como previsto no programa do workshop), um princípio fundamental (a arquitetura) capaz de se adaptar (como fazem os anfíbios) a diferentes presenças não só da terra, fixa e imóvel, mas também da água, fluida e elusiva.

Qual é o significado de tal experiência, num território onde coexistem as culturas das grandes narrativas (o Rio das Amazonas e o território que atravessa) e da vida quotidiana (a dispersão de aldeias e comunidades que habitam estas águas), com todos os possíveis nuances entre estas duas condições que se sobrepõem? A principal razão colocada refere-se à relação decisiva e crucial entre os grandes sinais da natureza por um lado e as transformações contínuas do artifício por outro. É precisamente sobre essa relação (muitas vezes difícil e de oposição) que se estabelece o workshop; na oportunidade de o Homem encontrar um equilíbrio possível com os ciclos biológicos da região. Imaginar,

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A ideia de aceitar a natureza e a força do rio que quando transborda sempre subtrai algo para o artifício das comunidades que ali vivem, e que, quando se retrai, acaba por reconstruir suas margens, também a partir do que traz. Uma margem indeterminada, na qual o tempo representa sempre a última palavra. O tempo como material de construção, como ponto de encontro entre as formas de arquitetura e as modalidades de uso dos espaços, entre o construir e o habitar. Infelizmente, essa é hoje uma dimensão ausente, uma espécie de amnésia atrás da qual se posiciona a contemporaneidade e que agora perdeu suas relações com o rio e a floresta; e mesmo naquelas raras ocasiões em que os artifícios urbanos tentam restabelecer um diálogo com os elementos da natureza, estes acabam sendo alheios (como nos grandes muros de contenção da margem fluvial habitada de Chaves). A natureza original desses lugares não está


em harmonia com a cultura, aquela da tradição histórica, que contém em si a percepção do passado não só como o que já foi, mas também presente, aquela que nos obriga a medir-nos com a consciência do próprio tempo, mas também com a consciência de sua sedimentação. A ideia de que, mais uma vez, os elementos da natureza podem participar nos processos de requalificação do assentamento humano. Corredores ecológicos que acolhem a força explosiva das águas das cheias, construindo novas oportunidades de relacionamento com a floresta; construção de um sistema de domesticação das margens do rio que limita a força das inundações, mas que ao mesmo tempo constrói oportunidades para a reconfiguração da vista para as águas. Um novo espaço público retorna à cidade, espaço de cultura a que os pedidos da comunidade residente se referem. A hipótese do projeto, na verdade, apenas incide sobre a interface entre terra e água, onde a floresta aceita ser invadida pelo rio e recebê-lo, domesticado, dentro de espaços urbanos, mas ao mesmo tempo se estende para conquistar espaços de pouso com seus tentáculos artificiais que estão distribuídos ao longo de suas margens. Margens fluviais indefinidas, que permitem a modificação ao longo do tempo e nas formas, bordas precárias como os materiais que constroem esses lugares e formas adaptativas que podem dialogar com as forças da natureza do rio. Um projeto variável, necessariamente variável é a geografia desses lugares.

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Semplicità e Contraddizioni, esplorazioni nell’architettura amazzonica

domenico potenza

“Fare architettura è sempre un atto storico-critico, che coinvolge e mette in discussione ciò che l’architetto ha appreso a immaginare e rilevare attraverso il suo rapporto con la vita e con le cose: la forza ed il valore del suo contatto con l’arte dipendono sempre dalla ‘qualità’ della sua consapevolezza storica”.1

È questo il testo riportato nella quarta di copertina della traduzione in italiano di Complessità e contraddizioni dell’architettura (Robert Venturi 1966) pubblicato per i tipi della Dedalo nel 1980. Una sintesi che riprende, in parte, le considerazioni espresse da Vincent Scully nel suo testo di presentazione e che mette in evidenza lo stretto rapporto esistente tra la funzione dell’architettura e la forza delle forme che ne derivano, riletto, con particolare attenzione, dalla evoluzione storico degli edifici del passato (che per Robert Venturi è direttamente collegata alla complessità della vita di ogni giorno). La complessità cui fa riferimento la lettura critica di Venturi è quella delle città italiane e delle sue architetture del ‘700, che l’autore aveva studiato a fondo nei corsi di storia dell’arte a Princeton e nella lunga permanenza a Roma (offertagli dalla borsa di studio dell’Accademia Americana in Italia). Un’analisi fatta a partire dalla propria 1 Robert Venturi, Complessità e contraddizioni dell’architettura, edizioni Dedalo, Bari 1980

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condizione di progettista che si serve della critica e non da critico che si occupa di architettura, scomponendo gli elementi tecnico-costruttivi e funzionali di quelle opere, oltre a quelli lessicali della coscienza collettiva che li ha generati. Questo ci mette di fronte - ancora oggi - alla necessità di ripercorrere le trasformazioni del passato, immaginando il senso e le ragioni che ne hanno determinato le modificazioni, al di là dello stile che ne ha immaginato le forme.

È questa la condizione con la quale bisogna porsi soprattutto nell’affrontare l’esplorazione di territori dove, forte, è il legame con la tradizione dei luoghi. Una tradizione, in questo caso quella amazzonica, radicata ed in gran parte preservata dalle contaminazioni contemporanee che si diffondono ormai ad una velocità non più controllabile. Tutta l’enorme distesa dell’isola di Marajò conserva condizioni di scarsa accessibilità che ne tutelano l’originario equilibrio naturale, a meno di quelle aree dove maggiore è la presenza di insediamenti umani di recente realizzazione. In questo territorio, alla semplicità delle tradizionali organizzazioni abitative, si sovrappongono le contraddizioni di una modernità ormai del tutto globalizzata che stravolge l’armonia di questi paesaggi, fino a renderla del tutto estranea alle ragioni stesse che l’hanno generata. “Esistono molti ecosistemi che sono fin da ora abitabili e vi sono molte civiltà che li utilizzano: la stessa immagine del giardino dell’Eden non è nient’altro che un ecosistema abitato senza sforzo di adattamento. Il paradiso si presenta infatti come un’immagine dell’abitazione umana perfetta: la protezione climatica qui non è necessaria, e quindi nessuna costruzione, niente lavoro per produrre cibo, nessuna


necessità di difesa, è un’immagine che continua ad avere un grande successo, dai giardini imperiali dell’Oriente al Club Mèditerranèe. Ma il giardino dell’Eden è un’istituzione fragile: è sufficiente introdurvi un nuovo oggetto, una nuova conoscenza, o usare in modo nuovo gli oggetti esistenti (per esempio la foglia di fico), e il processo di deterioramento ha inizio. Ed è del tutto escluso prevederne un’espansione: nel giardino dell’Eden l’esplosione demografica conduce solo all’espulsione. Il giardino dell’Eden è dunque un ecosistema abitabile prima del peccato originale. In seguito all’intervento umano, esso diventa un ecosistema migliorato ma questo miglioramento è, allo stesso tempo, la prima tappa di un processo di decadimento. Non si migliora un ecosistema (sul piano dell’abitabilizzazione) senza pagare un prezzo, quello dell’accelerazione del processo di distruzione di tale sistema.” 2 È questa la ragione per cui la contaminazione di questi luoghi con le nuove pratiche importate da altre culture, si presenta come l’inizio della distruzione dell’originario equilibrio esistente. L’evoluzione, attraverso codici genetici diversi, porta con sé una alterazione ai luoghi ed ai modi di vivere dei suoi abitanti sia nelle forme che nelle idee; questo è indiscutibile, ma esiste un limite entro il quale le trasformazioni non sono solo a 2 Yona Friedman, L’architettura di sopravvivenza – una filosofia della povertà, Bollati Boringhieri, Torino 2009. Precisa Friedman nelle stesse pagine “… vi sono molti esempi della distruzione di ecosistemi da parte delle civiltà, distruzione che indichiamo con il nome di desertificazione. La maggior parte dei sistemi di irrigazione su larga scala delle regioni agricole a sfruttamento intensivo delle civiltà altamente urbanizzate conducono direttamente alla desertificazione del suolo. Così la Mesopotamia, il ‘Dust Bowl’ americano, le isole greche, sono diventati via via sempre meno facilmente abitabili. Allora come si può abitare un ecosistema senza distruggerlo? Come farlo al prezzo di uno sforzo minimo? Qual è l’ecosistema che richiede l’intervento minore? ... abitare un ecosistema senza distruggerlo significa limitare gli interventi al suo interno: non costruire, dissodare, né sostituire con nuove piante la vegetazione esistente”.

carico delle condizioni originarie della natura ma, devono portare con se anche il sacrificio degli uomini. Come ribadisce lo stesso Friedman, l’uomo deve provare ad adattare il proprio comportamento alla natura e non viceversa, altrimenti si perde quell’equilibrio miracoloso che è l’ecosistema. Le principali metropoli del pianeta sono un esempio significativo di quanto questo equilibrio sia fortemente sbilanciato in favore dell’adattamento dei luoghi ai nostri comportamenti, anche e soprattutto a danno delle condizioni ambientali. Una violenza che da qualche parte dovrà pur pagare il suo prezzo. Non è possibile trasferire ovunque le condizioni di vita che accompagnano l’uomo, senza alcuna forma di adattamento dei suoi comportamenti. La globalizzazione, ormai diffusa in ogni angolo del pianeta, inizia a mostrare le sue debolezze (le nuove povertà, come le chiama qualcuno) che sarà difficile riscattare. Il lavoro svolto dal laboratorio itinerante organizzato dalla Escola da Cidade, in collaborazione con la prefettura di Chaves nell’isola di Marajò, ha posto come obiettivo principale della ricerca, lo studio delle trasformazioni antropiche del paesaggio, nella regione dell’Amazzonia caratterizzata da queste grandi fragilità. Una sfida audace ed impervia per esplorare sul campo le complessità e le contraddizioni, presenti nella più vasta area boschiva tropicale del pianeta. Una presa di coscienza partita da Macapà (luogo di organizzazione del viaggio), per poi muoversi verso Afuà (prima tappa) ed approdare a Chaves (centro principale dell’approfondimento della ricerca) e ad Arapixi, piccolo villaggio all’interno dell’articolato estuario del Rio delle Amazzoni, per elaborare letture utili a restituire luoghi e spazi per nuove politiche legate alla cultura, all’istruzione, all’ambiente. Qual è il senso di un simile esperimento in un territorio dove coesistono la cultura

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delle grandi narrazioni (il Rio delle Amazzoni e i territori che attraversa) e quella della vita quotidiana (la dispersione dei villaggi e delle comunità che abitano queste acque), con tutte le possibili sfumature tra queste due sovrapposte condizioni? La principale ragione va ricercata nel rapporto deciso e determinante tra i grandi segni della natura da una parte e le continue trasformazioni dell’artificio dall’altra. È proprio su questa relazione (spesso difficoltosa e contrapposta) che si è misurato il laboratorio; sulle opportunità dell’uomo di assecondare un possibile equilibrio con i cicli biologici di questa regione. Occorre immaginare nuovi modi di abitare; ricercare forme alternative per l’habitat umano, come momento di riflessione condivisa tra la realtà dei luoghi e le azioni congiunte delle comunità che li abitano. Qui l’acqua si presenta come estensione diffusa del suolo, un’immensa infrastruttura ambientale da attraversare, con lo sfondo della foresta stagliato lungo tutto il suo perimetro. Un margine fragile, mai definito, tra la forza del suo fluire e la resistenza dei suoi argini. Elemento principale di riflessione intorno al quale abbiamo ragionato per costruire nuove opportunità al progetto; un progetto singolare, una architettura afibia (come previsto dal programma di lavoro), un principio fondativo (l’architettura) capace di adattarsi (come fanno gli anfibi) alle diverse presenze non solo della terra, fissa ed immobile, ma anche dell’acqua, fluida ed inafferrabile. L’idea di accettare la natura e la forza del rio che con le sue esondazioni finisce sempre per sottrarre qualcosa all’artificio delle comunità che lo abitano provando, quando si ritrae, a ricostruirne il margine, anche a partire da quello che lascia. Un margine indeterminato, sul quale è il tempo a dire ogni volta l’ultima parola. Il tempo come materiale da costruzione,

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come luogo dell’incontro tra le forme dell’architettura e le modalità d’uso degli spazi, tra il costruire e l’abitare. Purtroppo questa è oggi una dimensione assente, una sorta di amnesia che la contemporaneità si porta dietro e che ha ormai perso le sue relazioni con il rio e la foresta; ed anche in quelle rare occasioni in cui l’artificio urbano prova a ristabilire un dialogo con gli elementi della natura, queste finiscono per esserle estranee (come i grandi muri di contenimento dell’argine abitato di Chaves). La natura, quella originaria di questi luoghi, non è in armonia con la cultura, quella della tradizione storica, che contiene al suo interno la percezione del passato non solo trascorso, ma anche presente, quella che ci obbliga a misurarci con la coscienza del proprio tempo ma anche con la consapevolezza della sua sedimentazione. L’idea che, ancora una volta, gli elementi della natura possano partecipare ai processi di riqualificazione dell’insediamento umano. Corridoi ecologici che accolgono la forza dirompente delle acque di esondazione costruendo nuove occasioni di relazione con la foresta; costruzione di un sistema di addomesticamento degli argini fluviali che limitano la forza delle piene ma che, nello stesso momento costruiscono occasioni per la riconfigurazione dell’affaccio sull’acqua. Un nuovo spazio pubblico restituito alla città, quello spazio per la cultura alla quale fanno riferimento le richieste della comunità residente. Le ipotesi di progetto, infatti, si concentrano proprio sull’interfaccia tra terra ed acqua, laddove la foresta accetta di essere invasa dal fiume e lo accoglie, lo addomestica all’interno degli spazi urbani ma nello stesso momento si distende a conquistare spazi di approdo con i suoi tentacoli artificiali che si distribuiscono lungo i suoi argini. Argini indefiniti, che consentono la modificazione nel tempo e nelle forme, argini precari


come i materiali che costruiscono questi luoghi e forme adattive che possano dialogare con le forze della natura del rio. Un progetto variabile, come necessariamente variabile è la geografia di questi luoghi.

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1.4. EXPEDIÇÃO

Tunico

1.4.1. INTRODUÇÃO Muito antes, o começo de tudo, o projeto Cururuar Fluvilab. Meus caminhos no Marajó começaram em Breves (Pará) em 2016, lá aprendi a amar os barcos marajoaras e os rios, aprendi a esperar a maré e a sentir o sabor da viagem, a olhar e sentir a imensidão. No final do ano anterior fui convidado para participar como produtor do projeto Cururuar Fluvilab (www.cururuar.org). Não era bem um projeto na verdade, era um grupo de amigos em São Paulo que resolveram ministrar oficinas de fotografia em cinco vilas ribeirinhas no interior do distante município de Chaves, na contra costa do Arquipélago do Marajó. Revirando minha memória afetiva encontrei um rascunho de Manifesto e de uma Declaração de Princípios, onde eu desenhava meus afetos poéticos naquele momento:

MANIFESTO

[ Manifesto Cururuar ]

Não somos só isto ou aquilo, somos tudo, plenos, iguais e famintos. Em nós um verbo,

Cururuar

(transitivo sempre) NORTE e SUDESTE ou antes rio antigo que nos encontra cururus.

Somos todos origem.

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DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS

[o DIÁLOGO ESSENCIAL cururu com o mundo jamais poderá deixar de ser amoroso e gentil ] Navegando dentro da possibilidade sincera e amorosa de uma filosofia cururu da ação, de intervenção e transformação: Arte-ação

Toda possibilidade de (transforma)ação é Arte-ação;

Arte-ação é a compreensão de que somos iguais e aprendizes da cultura do outro;

Arte-ação é aberta, tem compromisso com a liberdade do ser;

Projeto poesia em ação é Arte-ação;

Arte-ação esta na contramão da fabricação cultural.

Apenas o Manifesto foi publicado. 1.4.2. O ENCONTRO COM A ASSOCIAÇÃO ESCOLA DA CIDADE OU O SONHO QUE SONHAMOS JUNTOS o primeiro rascunho (janeiro / fevereiro de 2018). PERCURSO E CRONOGRAMA “ARQUITETURAS ANFÍBIAS”

1. São Paulo / Macapá 2. Macapá / Afuá aproximadamente 4 horas de viagem no navio (ou na balsa de linha). 3. Afuá / Chaves (Sede) aproximadamente 4 horas no BM Orvalhindo & Filhos. 4. Chaves (Sede) / Chaves - Ilha Caviana - Igarapé Turezinho / no Tachipucu(ou Taxipucu segundo o Valdo) aproximadamente 2 horas no BM Orvalhindo & Filhos. (há sempre algo de vago na definição dos lugares, talvez algo relacionado ao movimento e a mudança constante da paisagem sob a ação da natureza). 5. Chaves - Ilha Caviana - Igarapé Turezinho - Tachipucu / Chaves (Sede) aproximadamente 2 horas no BM Orvalhindo & Filhos. 6. Chaves (Sede) / Macapá (aproximadamente 8 horas em barco a motor amazônico de linha).

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7. Macapá / São Paulo Cronograma: DIA 16, segunda-feira - Chegada da Expedição “Arquiteturas Anfíbias” em Macapá. Primeiro contato com Macapá. DIA 17, terça-feira – Primeira vivência em Macapá. - Reconhecimento da Orla de Macapá; - Vivência na Fortaleza São José; - Partida para Afuá (maré da noite do Rio amazonas) – 04h no Navio Virgem da Conceição IV - Chegada em Afuá Dia 18, quarta-feira - Vivência em Afuá. DIA 19, quinta-feira – Vivência em Afuá. DIA 20, sexta-feira – Vivência em Afuá. DIA 21, sábado - Vivência em Afuá e partida para Chaves (Sede) no BM Orvalhindo & Filhos. - Chegada em Chaves (Sede). - Conduzir os expedicionários para a hospedagem solidária DIA 22, domingo – Vivência em Chaves (Sede) e encontros DIA 23, segunda-feira - Vivência em Chaves (Sede) e preparação para a viagem para a ilha Caviana com BM Orvalhindo & Filhos. - Vivência na orla de Chaves, se possível Igarapé Miri e no Teso. DIA 24, terça-feira - Vivência Ilha Caviana. DIA 25, quarta-feira – Vivência na Ilha Caviana e retorno para Chaves (Sede) Chegada e Vivência em Chaves (Sede) DIA 26, quinta-feira - Vivência em Chaves (Sede) DIA 27, sexta-feira - Vivência em Chaves (Sede) - possivelmente um dos expedicionários deve voltar para Macapá em BM de linha, verificar qual está disponível.

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DIA 28, sábado – Retorno dos expedicionários para Macapá em barco de linha. DIA 29 domingo – retorno feliz dos expedicionários para São Paulo. (sei , rascunho escrito ficaria mais bonito, mas o vento e a maré Delta do Rio Amazonas levou....)

1.4.3. DA EXPEDIÇÃO MACAPÁ FORTALEZA SÃO JOSÉ

AFUÁ

Figura – Limites territoriais do município de Afuá

CHAVES

Figura – Limites territoriais do município de Chaves

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Em novembro de 2016 fui convidado a participar da gestão pública municipal do município de Chaves, minha intuição me fez aceitar o desafio e me tomei posse da pasta de Turismo, Cultura e Desporto (a descrição é vaga, mas precisa) de Chaves em janeiro de 2017. O município é um imenso mistério de 13.084,755 Km², uma população estimada em 22.821 habitantes (estimativa do IBGE 2016) e uma densidade demográfica de 1.71 hab./Km² a mais baixa do Arquipélago do Marajó. Tabela 1 – Arquipélago do Marajó - População, Área Territorial (km²) e Densidade Demográfica - 2016

Estado/Município

População Estimada Total

Área Territorial km²

Densidade Demográfica

Pará

8.305.359

1.247.955,38

6,66

RI Marajó

541.165

104.139,93

5,20

Afuá

37.778

8.372,80

4,51

Anajás

28.012

6.913,07

4,05

Bagre

29.065

4.397,32

6,61

Breves

99.080

9.563,01

10,36

Cachoeira do Arari

22.786

3.100,26

7,35

Chaves

22.821

13.084,76

1,74

Curralinho

32.881

3.617,25

9,09

Gurupá

32.049

8.540,06

3,75

Melgaço

26.652

6.774,07

3,93

Muaná

38.616

3.763,34

10,26

Ponta de Pedras

29.700

3.363,75

8,83

Portel

59.322

25.384,96

2,34

Salvaterra

22.740

1.039,07

21,88

Santa Cruz do Arari

9.635

1.076,65

8,95

São Sebastião da Boa Vista

25.540

1.632,25

15,65

Soure

24.488

3.517,32

6,96

Fonte: IBGE

Há um Arquipélago do Marajó imaginário dentro de todos que, como eu, nasceram em ambiente urbano. Sou paulistano nascido no Brás (São Paulo / SP), criado no Grande ABC (Grande São Paulo) e trabalhando a mais tempo do que me lembro com produção cultural e políticas públicas de cultura, a fotografia chegou bem depois, sou muito preguiçoso para escrever um poema completo, se é que isso existe. Em meu imaginário Arquipélago do Marajó sonhei antes de chegar, ver macacos nas árvores, índios nas matas densas, cultura ancestral, cerâmica, sítios arqueológicos indígenas riquíssimos, o que aprendi (e não aprendi) nos livros. Em janeiro de 2017 fixei residência no real. Chaves, na sede do município imensidão e logo me matriculei no Grupo Escolar, ou para

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dar maior legitimidade aos fatos narrados, tomei posse como Secretário de Turismo, Cultura e Desporto, começou um amplo processo de alfabetização cultural e humana.

Figura Orla de Chaves

Acredito que para aprender muito é preciso desaprender sempre, sem as certezas cotidianas que a experiência profissional insiste em nos iludir. Assim que desembarquei no Trapiche Municipal “Alcindo Abdon” intui a imensa vocação turística do município (mal sabia o quanto estava enganado, mas esta é uma longa história que um dia vai ser contada).

Figura 3 Trapiche Municipal Alcindo Abdon

Os primeiros meses foram de busca, perguntava aqui e ali o tempo todo, onde estava isso, quem dançava aquilo ou fazia tal coisa de barro. Onde estavam os elementos da cultura material e imaterial marajoara em Chaves? Quanto mais perguntava menos entendia as respostas. Tornei-me um chato perguntador que não sabia ouvir as respostas. Em um determinado momento, todo cheio de dúvidas, resolvi parar de perguntar e começar a ouvir, a sentir, a ver e como estava sozinho, aprendi a

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abraçar as pessoas deixando de ser estrangeiro, dentro do abraço mora a compreensão de pessoas e lugares. Minha lição aprendida, para viver e trabalhar ( = transformar) em Chaves: é necessária uma presença essencial dentro do abraço (assim não é em todos os lugares?).

1.4.4. ABRAÇOS E ENCONTROS.

VALTER ABDON Em Chaves conheci mais pessoas que lugares. Valter Abdon foi o cerimonialista na posse do Prefeito e de sua equipe de Secretários Municipais no início de janeiro de 2018. Eu, o perplexo representante da pasta de Turismo, Cultura e Desporto, fui atropelado por Valter Abdon, sua presença nos faz respirar cultura. Dançarino, parteiro, ator, cerimonialista, compositor e professor, surpreende, atropelam e apaixona no primeiro contato. Intenso, teimoso defensor da cultura marajoara chaviense, a do vaqueiro e do pescador, mestre de ofício, contador de histórias, sabedor dos segredos de plantas e ervas medicinais, cavaleiro defensor do Boi bumba “Pingo de Ouro”. Convidei para compor minha equipe, em nosso abraço constante, sempre completava minhas frases e argumentos, uma de suas sabedorias, de alma livre e solta, fazia o quem entendia e sentia ser o melhor para a cultura do município de Chaves. Um Tesouro vivo.

AVE AMARELA (EVANDRO CASTRO) Em meus caminhos uma voz expressiva sempre ouvia “Ave Amarela!!! E de quando em quando uma saudação em francês, sempre um sorriso, entre uma fagulha e outra da sua solda elétrica, uma expressão característica, se referindo sempre a “vizinha”, curioso me aproximei e comecei a ouvir. Ave Amarela sempre me chamou de “Mestre” ou “Vossa Excelência “, eu menino do Grupo Escolar Magalhães Barata (um tesouro material que deveria ser transformado em centro cultural) ouvia atento. Falava de peixes com nomes sonoros, das marés, de lugares que ainda não conheci na ilha Mexiana, de suas aventuras, de redes de pesca, de como era possível consertar isto ou aquilo no telhado do ginásio poliesportivo Gicamor Pereira da Trindade, entre uma piada e outra contava de como tudo tinha mudado em poucos anos em Chaves. Um dia me convidou para subir no andar superior da sua oficina de serralheria, subi os poucos degraus de madeira e encontrei mais uma dimensão da cultura em Chaves, nas paredes esqueletos de animais, espadas, uma coleção de objetos desconhecidos ou transformados pelo tempo dos homens, um gabinete de curiosidades, ou na descrição de Frank Lestingan uma “oficina do cosmografo” ** Lestingant, Frank. A Oficina do cosmógrafo ou a imagem do mundo no Renascimento. Rio de Janeiro ; Civilização Brasileira, 2009. p.10

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Não foi meu primeiro contato com a diversidade cultural marajoara, contudo me surpreendeu encontrar um gabinete de curiosidades tão longe no tempo e no espaço e ao mesmo tempo tão próximo do Renascimento. Sentir a textura da vontade de saber renascentista enquanto um modo de ser deste ribeirinho que respirava a cultura humana em seu modo de falar tão expressivo me permitiu olhar de outra forma os espaços de cultura em Chaves, somos um todo em diálogo constante e infinito. Depois deste último abraço amigo, senti a necessidade de trilhar outros caminhos.

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02 — Mapas

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zonas

ARQUITETURAS ANFÍBIAS A Associação Escola da Cidade e a Prefeitura Municipal de Chaves, no Marajó, PA, assinaram um acordo de cooperação acadêmico, científico e cultural que representa uma importante aproximação entre as instituições: de um lado com a capacidade da Escola da Cidade, que tem a Associação de mesmo nome como mantenedora, de avançar com pesquisas e desenvolver saberes associados à transformação antrópica da paisagem, de outro o Poder Público em uma das regiões da Amazônia, grande desafio para a perspectiva de um projeto humano brasileiro que possa deixar para trás a série de equívocos a que se tem submetido nos últimos tempos a maior extensão tropical florestada do planeta. No âmbito do acordo se desenvolve a oficina “Arquiteturas Anfíbias” no mês de Julho de 2018, parte da série de oficinas “Modos de Morar” – organizada pelo curso de Pós Graduação Habitação e Cidade, através da Plataforma habita-cidade, na qual alunos e professores são convidados a pensar o habitat humano, no caso da edição deste ano, através da reflexão sobre o espaço da Cultura no estuário do Amazonas – em especial em localidades do município de Chaves (sobretudo Chaves-sede, mas também em outras localidades do município na ilha da Caviana), assim como em Afuá, no Marajó e em Macapá (AP).

ricado labicom infinia nem saí¬da m achar, nem ndo êle, no. das árvores, s. E porque

DIA 16 - Encontro em Macap

DIA 17 - Vivência em Macap DIA 18 - Chegada em Afuá

DIA 19 - Vivência em Afuá.

DIA 20 - Vivência em Afuá Chaves (Sede) no barco Orv

DIA 21 - Chegada em Cha noite.

DIA 22 - Vivência em Chave

DIA 23 - Vivência em Chave ilha Caviana com barco Orv

DIA 24 - Vivência Ilha Cav

DIA 25 - Vivência na Ilh Chaves (Sede)

DIA 26 - Vivência em Chave

DIA 27 - Vivência em Chave

DIA 28 - Retorno para Maca

DIA 29 - domingo – manhã e almoço

PROGRAMAÇÃO ARQUITETURAS ANFÍBIAS A Associação Escola da Cidade e a Prefeitura Munici- DIA 16 - Encontro em Macap pal de Chaves, no Marajó, PA, assinaram um acordo de Carta Solar Chaves cooperação acadêmico, científico e cultural que DIA 17 - Vivência em Macap representa uma importante aproximação entre as DIA 18 - Chegada em Afuá instituições: de um lado com a capacidade da Escola DIA 19 - Vivência em Afuá. da Cidade, que tem a Associação de mesmo nome como mantenedora, de avançar com pesquisas e desenvolver DIA 20 - Vivência em Afuá saberes associados à transformação antrópica da Chaves (Sede) no barco Orv paisagem, de outro o Poder Público em uma das regi- DIA 21 - Chegada em Cha ões da Amazônia, grande desafio para a perspectiva noite. de um projeto humano brasileiro que possa deixar DIA 22 - Vivência em Chave para trás a série de equívocos a que se tem submetido nos últimos tempos a maior extensão tropical DIA 23 - Vivência em Chave ilha Caviana com barco Orv florestada do planeta. No âmbito do acordo se desenvolve a oficina “Arqui- DIA 24 - Vivência Ilha Cav teturas Anfíbias” no mês de Julho de 2018, parte da DIA 25 - Vivência na Ilh série de oficinas “Modos de Morar” – organizada pelo Chaves (Sede) curso de Pós Graduação Habitação e Cidade, através da Plataforma habita-cidade, na qual alunos e DIA 26 - Vivência em Chave professores são convidados a pensar o habitat DIA 27 - Vivência em Chave humano, no caso da edição deste ano, através da DIA 28 - Retorno para Maca reflexão sobre o espaço da Cultura no estuário do Amazonas – em especial em localidades do município DIA 29 - domingo – manhã e de Chaves (sobretudo Chaves-sede, mas também em almoço outras localidades do município na ilha da Caviana), assim como em Afuá, no Marajó e em Macapá (AP).

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ricado labicom infinia nem saí¬da m achar, nem ndo êle, no. das árvores, s. E porque não tivesse e filhos, a. aíbas, tanto uguêses, foi que viviam, o a grandes pudesse uma idas juntas. ha, sem habis, porém, em de fôsso, as sentinela, e

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PROGRAMAÇÃO

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Publicação feita anteriormente à viagem

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Chaves

Carta Solar


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Marajó e o tempo Por Celso Fioravante, 2018

A ilha dos Nheengaíbas, na Boca do Amazonas Por Padre Antônio Vieira, 1883

O TEMPO é uma característica fundamental para a compreensão do Marajó. Seja o tempo CRONOLÓGICO, medido em minutos, horas, dias..., mas também o tempo METEOROLÓGICO, regido não apenas pelo Sol e pelas chuvas, que determinam as duas únicas estações do ano na região (inverno e verão), mas também pela Lua e pelas marés, que determinam o tempo do trabalho, do lazer e do ócio. Outra relação fundamental se dá com a ÁGUA. A água determina o tempo do trabalho e o tempo do descanso e do lazer, pois eles são regidos pelas estações do ano e também pelas marés, pelo dia ou pela noite... Água e tempo caminham juntos e influenciam a comunicação, pois são determinantes na construção do vocabulário local. Em mais de 30 anos de vivência em Soure, nunca ouvi as palavras PRIMAVERA OU OUTONO, pois ali só existe INVERNO (janeiro a junho) e verão (julho a dezembro). Por isso seria inconcebível tentar aplicar ali o HORÁRIO DE VERÃO, pois ele coincidiria com o INVERNO... E deve ser difícil para eles ficarem ouvindo s telejornais falando de “horário de verão”...

É a ilha tôda composta dum confuso e intricado labirinto de rios bosques espessos, aquêles com infinitas entradas e saídas, êstes sem entrada nem saí¬da alguma; onde não é possível cercar, nem achar, nem seguir, nem a inda ver o inimigo, estando êle, no. mesmo tempo, de-baixo da. trin¬cheira das árvores, apontando e empregando as suas frechas. E porque êsse modo de guerra volante e invisível não tivesse o es¬torvo natural da casa, mulheres e filhos, a. primeira coisa que fize¬ram os Nheengaíbas, tanto que se resolveram à guerra com os Portuguêses, foi desfazer e como desatar as povoações em que viviam, dividindo as casas pela terra dentro a grandes distâncias, para que em qualquer perigo pudesse uma avisar às outras, e nunca serem acometidas juntas. Desta sorte ficaram habitando tôda a ilha, sem habitarem nenhuma parte dela, servindo-lhes, porém, em tô¬das, os bosques de muro, os rios de fôsso, as casas de atalaia e cada Nheengaíba de sentinela, e as suas trombetas de rebate.

Marajó e o tempo Por Celso Fioravante, 2018 ORGANIZAÇÃO O TEMPO é uma característica fundamental para a Luis Octavio de Faria e Silva – Arquiteto compreensão do Marajó. Seja oJosé tempo CRONOLÓGICO, medido em minutos,Agrônohoras, Maria Lena Correa Tavares (Engenheira dias..., mas também o tempodeMETEOROLÓGICO, regido ma) – Secretária de Educação Chaves/PA - secretanão apenas pelo Sol e pelas chuvas, que determinam rioeducacao@chaves.pa.gov.br as duas únicas estações do ano na região (inverno e verão), mas tambémBarbosa pela Lua e pelas (Engenheiro marés, que Giovani Rezende Ferreira determinam-oSecretário tempo do trabalho, lazer e do ócio. Ambiental) Adjunto dedoMeio Ambiente de Outra relação fundamental se dá com a ÁGUA. Chaves/PA - adjuntomeioambiente@chaves.pa.gov.br A água determina o tempo do trabalho e o tempo do descansoBarbosa e do lazer, pois eles são regidos pelas Betânia (Fotógrafa) – Associação Cururuar estações(Betânia do ano eB.também pelasCururuar marés, pelo dia ou Fluvilab / Projeto Fluvilab / pela noite... barbosabetania@hotmail.com) Água e tempo caminham juntos e influenciam a comunicação, pois determinantes construção do vocaAntonio Jorgesão Valério (Tunico,na Produtor Cultural) bulário local. Secretário de Turismo, Cultura e Desporto de Em mais de- 30 anos de vivência em Soure, nunca ouvi Chaves/PA aqueleolhardetunicoferreira@gmail.com as palavras PRIMAVERA OU OUTONO, pois ali só existe INVERNO (janeiro a junho) e verão (julho a dezemPROFESSORES bro).Octavio Por isso tentar Luis deseria Fariainconcebível e Silva (Escola da aplicar Cidade) ali o HORÁRIO DE VERÃO, ele coincidiria com o Paulo Von Poser (Escolapois da Cidade) INVERNO... E devedaser difícil para eles ficarem Rita Buoro (Escola Cidade) ouvindoMinghini s telejornais Victor (Escola dafalando Cidade) de “horário de verão”... Domenico Potenza (Università G. D’Annunzio di Chieti - Dipartimento di Architettura di Pescara)

A ilha dos Nheengaíbas, na Boca do Amazonas Por Padre Antônio Vieira, 1883 É a ilha tôda composta dum confuso e intricado labirinto de rios bosques espessos, aquêles com infinitas entradas e saídas, êstes sem entrada nem saí¬da alguma; onde não é possível cercar, nem achar, nem seguir, nem a inda ver o inimigo, estando êle, no. mesmo tempo, de-baixo da. trin¬cheira das árvores, apontando e empregando as suas frechas. E porque êsse modo de guerra volante e invisível não tivesse o es¬torvo natural da casa, mulheres e filhos, a. primeira coisa que fize¬ram os Nheengaíbas, tanto que se resolveram à guerra com os Portuguêses, foi desfazer e como desatar as povoações em que viviam, dividindo as casas pela terra dentro a grandes distâncias, para que em qualquer perigo pudesse uma avisar às outras, e nunca serem acometidas juntas. Desta sorte ficaram habitando tôda a ilha, sem habitarem nenhuma parte dela, servindo-lhes, porém, em tô¬das, os bosques de muro, os rios de fôsso, as casas de atalaia e cada Nheengaíba de sentinela, e as suas trombetas de rebate.

BARDI, P. M. (Ed.) Arte da Cerâmica no Brasil São Paulo: P. M. Bardi/ Banco Sudameris Brasil S.A., 1980

ORGANIZAÇÃO Luis Octavio de Faria e Silva – Arquiteto Maria José Lena Correa Tavares (Engenheira Agrônoma) – Secretária de Educação de Chaves/PA - secretarioeducacao@chaves.pa.gov.br Giovani Rezende Barbosa Ferreira (Engenheiro Ambiental) - Secretário Adjunto de Meio Ambiente de Chaves/PA - adjuntomeioambiente@chaves.pa.gov.br

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Cronograma das atividades atualizado

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03 — Macapá

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07 — No barco

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08 — Investigações positivas 8.1. — Desenhos Finais

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8.2. — Desenhos Grupo 1

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8.3. — Desenhos Grupo 2

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8.4. — Desenhos Grupo 3

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09 — Caderno Paulo Von Poser

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10 — Caderno Domenico Porenza

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11 — Caderno Marajó

O material produzido a partir da Oficina-Viagem que contou com aulas preparatórias na Escola da Cidade, em São Paulo, e viagem à Foz do Rio Amazonas iniciada em Macapá e com vivências em algumas localidades do arquipélago do Marajó, é o resultado de reflexões (textos, desenhos individuais e coletivos a partir de dinâmicas integradoras, fotografias) que se debruçam sobre condições ali presentes e investigações propositivas para os espaços públicos de Chaves, sede do município de mesmo nome, localizado no norte do arquipélago marajoara. A convocação inicial daquela Oficinaviagem foi a de se pensar sobre os espaços da Cultura no Marajó (a partir de demandas do município de Chaves, com o qual a Associação Escola da Cidade firmou termo de cooperação) - na medida em que amadureceu a compreensão sobre as realidades presentes na anfíbia condição da região marajoara, saltou à vista uma relação intrínseca entre Cultura, paisagem, natureza e cotidiano. A investigação sobre possibilidades para os espaços da Cultura, assim, foi entendida como referente aos espaços públicos e livres de forma geral. A escala amazônica se descortinou e passou a balizar os movimentos.

200 — Arquiteturas Anfíbias

Organizado de maneira a permitir futuras investigações sobre possibilidades para a região marajoara, na esperança de que possa servir de insumo e contribuição para fomentar ações condizentes com a grandeza e riqueza ali percebidas, o material está publicado digitalmente na página da Plataforma habita-cidade, promotora da Oficina-Viagem e que opera sob a Associação Escola da Cidade. A primeira proposta de edição desse material publicado digitalmente foi realizado por duas alunas da graduação da Escola da Cidade - Ana Clara Marin e Luísa Carrasco, participantes da viagem empreendida, sob a orientação do prof Luis Octavio de Faria e Silva: trata-se de uma delicada interpretação poética da Oficina-Viagem, com fragmentos de textos que podem ser encontrados na íntegra na publicação digital, seleção de desenhos e projetos, com inserções de alguns parágrafos escritos pelas autoras como balanço de suas percepções. O pequeno livro resultante traz uma edição sensível e está aqui publicado digitalmente no sentido de permitir o acesso por parte de um maior número de pessoas. A versão impressa do livro poderá ser solicitada e resultou em um belo objeto, cujo conteúdo se entende como fomentador de intuições quanto às extraordinária paisagem e Culturas encontradas.


MARAJÓ

MARAJÓ expedição a Ilha do Marajó

Arquiteturas Anfíbias — 201


organização luis o. de faria e silva diagramação três design foto capa annabel


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