Rizoma.net - Recombinação

Page 51

51

ENTROPIA SOCIAL E RECOMBINAÇÃO Bifo (Franco Berardi) A ressurgente questão dos intelectuais esconde o problema contemporâneo do "O que fazer?"(1), o problema da auto-organização do trabalho cognitivo. ............................................... A questão dos intelectuais recupera espaço na discussão da esquerda italiana. Mas a questão está mal posta, e a própria palavra (intelectual) elabora de maneira muito inadequada a geografia sócio-mental contemporânea. Lênin relacionou à figura do intelectual o problema do que fazer, da direção política da ação coletiva. Os intelectuais não são uma classe social, eles não têm interesses sociais específicos para sustentar. Eles são geralmente a expressão do ganho parasitário e podem realizar escolhas "puramente intelectuais", fazendo-se vias da consciência revolucionária. Neste sentido, eles são o que há de mais semelhante ao puro devir do espírito, ao desenvolvimento hegeliano da auto-consciência. Por outro lado, os operários, enquanto portadores de um interesse social homogêneo, não podem passar da fase puramente econômica (o "em si" hegeliano do ser social) para a fase política consciente (o "por si" da autoconsciência) somente através da forma política do partido, que incorpora e transmite a herança filosófica (o proletariado como herdeiro da filosofia clássica alemã).

Em Gramsci a reflexão sobre os intelectuais torna-se mais articulada, e se aproxima de uma formulação materialista do caráter orgânico da relação entre o intelectual e a classe operária. O partido, de qualquer modo, é concebido, em toda a tradição comunista, como o intelectual coletivo. O intelectual da tradição moderna (aquele que ainda não foi posto a serviço da rede digital) só pode ter acesso à dimensão coletiva através do partido. A ruptura produzida pelo operaísmo italiano (que eu prefiro chamar de composicionismo, pelo relevo que é dado à questão da composição de classe) se funda sobre um abandono da noção leninista do partido como intelectual coletivo, e da própria noção de intelectuais que é substituída por aquela (marxista, mas não engelsiana nem leninista) do general intellect (2). Não me parece que uma reflexão satisfatória sobre a superação da noção leninista de partido e da noção gramsciana de intelectual tenha sido conseguida. Se quisermos definir hoje um "o que fazer" para nossos tempos, devemos concentrar a atenção na relação entre a função cognitiva no trabalho social complexo e movimentos que organizem formas de autonomia produtiva e comunicativa. Ao livro de Hardt e Negri (3) (declaradamente) falta uma teoria de ação, e esta é uma limitação dele. A noção de "multidão" não tem, (IMHO) (4), um poder ativo, organizador, menos ainda uma função "subjetivante". A noção de multidão descreve a tendência dissolutiva, a entropia que se difunde em todo sistema social, e que torna impossível (“assintótico”,


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.