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ser a melhor estratégia. AÇÃO ENTRE AMIGOS – O plano foi discutido, a estratégia de ação muito bem pensada. Reuniões de cúpula na Toca dos Carcarás – nome dado ao local que abrigou os latinos de sangue quente – levantavam questões ideológicas e operacionais. Mapa do itinerário pronto, tinta fresca na bagagem. Alguns, tomados pela “síndrome do amarelismo”, abortaram antes do ataque. “Melhor assim”, disseram alguns. Aquela madrugada pertenceu ao deserto. No céu cinza, uma semi-lua era a única em vigília. O clima era protetor porque não tinha olhos, mas a calma das ruas sem gente provocava uma sensação de vulnerabilidade. O medo veio porque havia também outras viaturas: policiais federais e militares estavam em atividade. A primeira bomba que atingiu o Citibank da Rua Miguel Calmon, no Comércio, e que deveria ser silenciosa como planejado fez um estrondo alto. Pernas bambas titubearam. Sorte a ronda da Polícia Federal que estava na área ter mais o que fazer naquele momento. Da mesma forma com os homens da viatura da Polícia Militar ocupados em espancar dois homens em outra esquina e nada viram. Uma prostituta entretia a guarda de outra viatura na Manoel Dias e o coletivo pôde agir sem problemas no BankBoston, último banco-alvo da ação. Enquanto cumpriam a missão, um advogado aguardava o pior, preparado. Eles alegariam protesto e desobediência civil, mas por estar dentro de uma ação política integrada, provavelmente seriam

enquadrados em crime de vandalismo e formação de quadrilha. O plantão insone foi dispensado quando todos se reencontraram ainda com bombas armadas-não detonadas e com todos os alvos atingidos. Aliviados, alguém do grupo levantou o fato de nenhum deles nunca ter participado de uma ação clandestina. Só naquele momento, eles avaliaram o perigo de uma bala ter sido disparada ou um policial ter perseguido os carros. As moças acharam melhor não irem direto para casa: voltaram à cena do crime como boas criminosas para fotografar e flagrar dois vigias e dois cães, todos de guarda dormindo relaxados, bem de frente para a fachada iluminada do Citibank da Barra, tingida de tinta ainda quente. (1) Esta matéria foi escrita com base em relatos dos participantes que preferiram não se identificar. 16 de abril de 2003 Fontes: Centro de Mídia Independente (www.midiaindependente.org). Jornal A Tarde (www.atarde.com.br).


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