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geral. Essa perspectiva especula que para haver produção imaterial, o Capital precisa não só do controle do tempo-medida, mas da comunidade, fundamentalmente. "A subsunção da comunidade" na lógica capitalista é a subsunção dos elementos lingüísticos, relacionais, sexuais que a definem, visto que é na comunidade que se expropria o que é colocado no trabalho: comunicação e linguagem. É o que Negri & Lazaratto denomina de maiscomunidade. "A autonomização do trabalho não só reduz custos e flexibiliza a produção, mas captura as ‘externalidades’ positivas produzidas pela cooperação". No âmbito da organização, essa captura ocorrerá por meio da gestão participativa (e todos os seus dispositivos de controle dos processos subjetivos), da política autoritária da expressão ("alguém tem de falar!") e do enrijecimento da comunicação (presa a uma forma e um conteúdo). São essas as estratégias que visam codificar a subjetividade operária para fomentar as necessidades de produção. Se a subjetividade torna-se uma forma de valorização do capital, ou seja, se a produção capitalista invadiu toda a vida, a comunicação torna-se produtiva, porque de um certo modo produz produção. Diante disto, só nos resta o desalento de assistir o despertar de um novo mundo? Ao contrário, se consolida a máxima de Marx (quando se refere à lógica contraditória do capital): as mesmas forças produtivas e relações sociais que mantêm a base do capital, tornam-se, ainda mais, condições para explodi-las. Isto porque "é o trabalho que define o capital e não o contrário"; e o processo de produção de subjetividade se constitui "fora" da relação de capital. Para Negri, a cooperação não é determinada pelo econômico, porque se trata da própria vida da sociedade. Os elementos criativos, da inovação, são ligados àqueles que só as formas de vida produzem. O econômico pode só se apropriar das

formas e dos produtos dessa cooperação, normatizá-los e padronizá-los, gerir e regular as atividades do trabalho imaterial: criar dispositivos de controle e de criação do público através do controle das TIC´s e seus processos organizativos. Quando o trabalho se transforma em trabalho imaterial e o trabalho imaterial é reconhecido como base fundamental da produção, este processo não investe somente a produção, mas a forma inteira do ciclo "reproduçãoconsumo": o trabalho imaterial não se reproduz (e não reproduz a sociedade) na forma de exploração, mas na forma de reprodução da subjetividade. A "intelectualidade de massa" se constitui sem ter a necessidade de atravessar a "maldição do trabalho assalariado". A sua miséria não é ligada à expropriação do saber, mas, ao contrário, à potência produtiva que concentra no seu interior, não apenas sob forma de saber, mas, sobretudo enquanto órgão imediato da práxis social, do processo da vida real. A "abstração capaz de todas as determinações", segundo a definição marxiana, desta base social, permite a afirmação de uma autonomia de projeto, ao mesmo tempo positiva e alternativa (Negri & Lazaratto, 2000, p.11). Emerge, como afirmamos anteriormente, uma forma de trabalho que gera um novo enfrentamento político, uma força de trabalho alternativa e não dialética ao capitalismo, já que sua genealogia é externa ao modo de produção capitalista. Preferimos ler o "tempo libre" e as "atividades culturais, relacionais, cognitivas, etc." não como uma exterioridade dada às relações de mercado e espaço que deveríamos defender contra "a extensão a todos os âmbitos da economia capitalista de mercado", mas como novo terreno de enfrentamento político. A exterioridade ao capitalismo necessita ser construída através de formas de recusa, de cooperação e de organização


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