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protagonistas conseguem se fazer notar apenas pelos seus antagonistas diretos (4), até aquele que conseguem uma visibilidade global, como os zapatistas, o MST e os movimentos anti-globalização. O Uso Político do Espaço Além da questão da visibilidade, as manifestações são práticas concretas para se atingir determinado objetivo. Logo, uma manifestação não tem apenas o objetivo de se alcançar uma visibilidade, mas também de atingir objetivos concretos, como reivindicações por melhorias nos equipamentos urbanos, suspensão do uso de alimentos transgênicos, aumentos salariais, demarcação de terras indígenas e de quilombolas, etc. Ou seja, as manifestações têm objetivos concretos, almejam conseguir ganhos sociais para os seus protagonistas e não apenas a visibilidade social. Seguindo essa formulação, uma questão crucial se coloca: como os movimentos sociais conseguem ter visibilidade? Que estratégias são utilizadas para conseguir atingir seus objetivos específicos e concretos? Analisando o material empírico (as cronologias dos anos de 2000/ 2001/ 2002 da revista do OSAL), construímos uma classificação para os tipos de manifestações que ocorriam. Essa chave conta com dezesseis (16) tipos de manifestações diferentes. No entanto, em nada menos do que em quinze (15) o espaço é o elemento primordial para a análise teórica e condição de realização prática das ações. Isso significa dizer que o uso político do espaço é fundamental para os processos de luta (LACOSTE, 1998). Qualquer que seja a natureza sócio-geográfica do conflito ou do protagonista, no momento em que ele se coloca em ação, é necessária a sua inscrição no espaço. Podemos dizer que essa seria a inscrição/grafia dos protagonistas não só no espaço como na sociedade, na medida em que a formação social se dá paralela à construção espacial, elas são complementares. Toda sociedade (re)constrói, simultaneamente consigo mesma, o espaço. Essa inscrição no espaço vai depender das estratégias

espaciais criadas pelos protagonistas para conseguir ter visibilidade e alcançar ganhos concretos, ou seja, seus objetivos. A questão da visibilidade está associada à ocupação do espaço. Todo protagonista almeja que sua luta se torne pública, conhecida e para isso ele deve ser visto, deve se tornar público. Tornar-se público, tornar-se conhecido não é necessariamente ocupar o espaço público stricto senso - ruas, praças, avenidas, alamedas, etc. -. Tornar-se público é realizar uma ação em algum lugar, em algum espaço e ser conhecida pela sociedade. Nesse sentido, a mídia desempenha um papel fundamental na questão da visibilidade dos protagonistas, pois ela pode ressaltar ou esconder determinadas questões. Em uma análise superficial do papel da grande mídia dentro das questões aqui elucidadas, poderíamos dizer que ela seria um antagonista direto dos movimentos sociais também citados. Porém, por mais contraditório que possa parecer a grande mídia desempenha um papel fundamental para esses atores socais. Uma mesma manchete que destaque uma manifestação ou uma greve, em determinado lugar, pode ser uma lança de duas pontas, pois ao mesmo tempo em que ela critica e desqualifica as reivindicações dos protagonistas, ela está permeando essas atuações por lugares distintos e distantes. A interpretação a que é dada a esse mesmo fato abordado é que será o diferencial para se interpretar quais são os papéis sociais que os protagonistas (movimentos sociais) e a grande mídia assumem hoje na América Latina.

Saber como e qual espaço ocupar é um fator estratégico e político fundamental. LACOSTE (idem), nos ensina que é preciso saber pensar e utilizar o espaço para nele saber combater. Além da busca por visibilidade, temos que pensar acerca dos objetivos concretos e imediatos dos protagonistas. São esses objetivos/motivos dos conflitos que vão orientar a ação dos protagonistas e evidentemente os


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