Mourinho r o c k s t a r 1

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querer continuar com Ancelotti só para poder xingá-lo, fosse em particular ou em público. Quantas vezes não o ouvimos desfazer de seu treinador? “Perdemos o título por culpa do Ancelotti”; “Em muitos jogos ele não usou a tática adequada”; “Temos bons dribladores e devíamos basear nosso jogo nessa habilidade, mas fizemos o contrário”. Noutras ocasiões, o magnata italiano disse que Ancelotti estava jogando com apenas um atacante quando devia utilizar dois homens de frente. Tentava montar o time, tentava escalar os onze. E Ancelotti, um homem que venceu duas Champions a serviço do Milan, parecia aguentar tudo, aturar todos os desaforos do seu patrão. Alguma vez isso aconteceria com Mourinho? A resposta é fácil. No início da quarta temporada no Chelsea, Abramovich quis contratar Ballack e Shevchenko contra a vontade do português. O russo ignorou seu técnico e levou os dois jogadores para Londres. Começou aí a se desenhar um divórcio irreversível. Mourinho chegou a um acordo com o clube para sair em setembro. Mais tarde admitiu que seu único erro foi não ter saído em junho, no final da temporada anterior. Para trás, deixou um vestiário de lágrimas. Homens-feitos, que tinham se tornado campeões com ele, devastados pela partida de seu líder. Um sentimento que se torna ainda mais fascinante numa indústria supersônica como o futebol de alta competição, com laços superficiais e muito efêmeros, em que jogadores e técnicos podem rumar para outras paragens a qualquer momento. Esse tipo de ligação é cada vez mais raro. Mas acontece com Mourinho. O próprio Frank Lampard admitiu isso mesmo: “É difícil imaginar a vida sem ele, mas o futebol é assim. Desde o primeiro minuto, criou um espírito e uma atmosfera que são necessários. Não tínhamos uma mentalidade particularmente vencedora antes, e ele trouxe isso. É por isso que temos tido sucesso nos últimos anos. É um grande técnico e adoro ser treinado por ele por várias razões. Deu-me muita confiança e tem sido fantástico para a equipe. Para mim é uma alegria trabalhar com ele e temos uma grande relação pessoal”. Essa afetividade não se limita ao Chelsea. Tem sido uma marca de Mourinho em quase todos os clubes por onde passa. No livro Mourinho: A descoberta guiada (2011), de Luís Lourenço, Jorge Costa vai mais longe. O capitão do Porto, que conquistou a Liga dos Campeões com Mourinho, fala em amor para descrever a relação que o técnico consegue com seus jogadores: “Como é que ele provoca isso? Não sei… você sente. É quase como quando uma pessoa se apaixona por alguém, e o amor é difícil de explicar, não é? No fundo, são relações tão puras, tão naturais, que a explicação se torna complicada”. Um amor recíproco. Mourinho também sente (veja-se o abraço


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