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"Para inovar, não precisa ser novo"

Diretor da Federação das Empresas Juniores explica o impacto de soluções inovadoras no movimento

POR MATEUS BATISTA E SAMIRA BATALHA

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O Movimento Empresa Júnior (MEJ), empreendimento formado por alunos da graduação de universidades do mundo todo, tem como objetivo formar empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil. Além de fomentar o mercado da região por meio das metas de faturamento, inclusão e colaboratividade entre membros.

Anualmente na Reunião Regional das Empresas Juniores do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, temas relacionados à gestão organizacional, vivência empresarial e planejamento estratégico são explicados e debatidos. Este ano, o evento ocorreu nos dias 27 e 28 de maio no Campus Santa Mônica (UFU) e contou com cerca de 300 congressistas, incluindo parceiros do mercado sênior, como Ambev, Algar, Sebrae e Stone.

Para explicar melhor sobre esse universo, o Senso (In)comum entrevistou Heitor Bravalieri, antigo membro da ConsultEQ (empresa júnior de Engenharia Química da UFU) e atual Diretor de Desenvolvimento da Rede na FEJEMG (Federação das Empresas Juniores de Minas Gerais).

Senso (In)comum: Qual o impacto do Movimento Empresa Júnior na sociedade?

Heitor Bravalieri: O MEJ é utilizado como uma ferramenta de empreendedorismo para os jovens, e como potencializador disso dentro das universidades. Ele é a busca por aprendizados e melhorias na totalidade dentro das instituições. Além de possibilitar que os alunos aprendam sobre seus cursos na prática, colocando em ação o que viram em sala de aula, e oferecendo um produto de qualidade abaixo do preço do mercado sênior, auxiliando pequenos e médios empreendedores.

Senso (in)comum: O que é o PlanejamentoEstratégicodarede?

Heitor Bravalieri: O Planejamento Estratégico da Rede (PE) é cíclico e focado em atingir os objetivos específicos de cada período. O primeiro foi feito no começo da década de 2010, e a partir de então começou a guiar todo o caminho que o Movimento Empresa Júnior iria trilhar, se tornando muito importante. Iniciamos esse PE no ano passado (2022) e ele vai ser trabalhado até 2024. Da mesma forma que empresas seniores têm planejamentos trienais, que às vezes duram 10 anos, o MEJ também precisa de uma estratégia para alcançar suas metas ao fim de cada três anos.

Senso (in)comum: Por que os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estão dentro do MEJ?

Heitor Bravalieri: As ODS partiram da ONU objetivando até 2030 acabar com a inquietude, buscar igualdade de gênero, erradicação da pobreza, tentar evoluir negócios como infraestrutura, questões ambientais, como vida na água, vida terrestre e a busca pela paz. Para que uma solução seja inovadora, ela precisa atingir uma ou mais ODS. Assim, as EJs trazem isso como uma resposta para ajudar nessa luta internacional e como uma forma de gerar mais impacto em coisas que precisam ser melhoradas ou erradicadas na sociedade.

Senso (in)comum: O que caracteriza uma solução inovadora no Movimento?

Heitor Bravalieri: Esse termo foi desenvolvido juntamente com o último Planejamento Estratégico da Rede. Ela é uma forma de medir o impacto que determinado projeto está causando na sociedade como um todo, como a empresa júnior está conseguindo transformar aquela solução em um core business (“núcleo de negócio” em português, ou seja, a principal atividade da empresa) vendê-la e torná-la rentável.

Senso (in)comum: Quais são os indicadores que metrificam uma solução inovadora?

Heitor Bravalieri: O primeiro

Satisfaction Score ou “Pontuação de Satisfação do Cliente” em português) que mede a satisfação do cliente, sendo a solução inovadora quando atinge 70% de coleta. O segundo indicador é o Impacto nos ODS, que reforça o impacto positivo da solução na sociedade. Já o terceiro é o Índice de Adequação de Mercado, que é um cálculo feito para analisar a profundidade dessa solução. Por fim, o último indicador é a Representatividade da Meta, ou seja, se uma EJ tem uma meta de 10 mil reais, para atingir o indicador ela tem que vender uma só solução com esse preço. Quando esses quatro indicadores são contemplados, a EJ tem uma solução inovadora.

Senso (in)comum: Qual o impacto de uma solução inovadora na sociedade?

Heitor Bravalieri: O Triângulo Mineiro é uma das regiões mais ricas do estado, e o MEJ é fortalecido pelas duas cidades que são polos da região: Uberlândia e Uberaba, onde estão grande parte das empresas juniores. Somando o faturamento de todas as EJs federadas atualmente à Rede Triângulo, elas faturam mais de um milhão de reais. Esses projetos têm um impacto muito grande na sociedade porque estão entregando melhorias para as pessoas e contribuindo para a

“Enquanto aluno e pesquisador, nunca fui alcançado por nenhuma política institucional específica para proteção às pessoas negras dentro da UFU”, admite o historiador, professor e mestre em História, Flávio Muniz, após quase 11 anos de vida acadêmica corrente na mesma instituição. Enquanto estudante, afirma que as bolsas de alimentação e transporte contribuíram significativamente para que pudesse permanecer na universidade e concluir o curso. Pesquisador das africanidades brasileiras e defensor de políticas que favorecem a abertura e permanência de estudantes negros nas universidades, Flávio atualmente é formando do curso de direito na UFU. Além disso, é fundador do projeto Escola Da Vida, iniciativa que promove ações de inclusão no ensino superior para jovens da periferia. Coordenador do Curso de Formação para as Relações Étnico-RaciaisERER, promovido pelo NEABI UFUPONTAL (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas), em todas as suas conquistas profissionais e acadêmicas, confessa que percebe ser uma exceção em seu grupo sociorracial.

O acesso de pessoas negras às universidades é prejudicado pela falta de políticas de permanência compatíveis com suas realidades. “O aluno não é visto como um ser integral. Apesar de a universidade pretensiosamente ter isso no nome, de ser universal, ele é visto apenas como um ser isolado, como estudante, não como uma pessoa.” Flávio aponta ter acompanhado diversos ca- sos de pessoas que, sem tempo até mesmo de ir ao RU, precisam ir rapidamente da universidade para o trabalho. Situações como essa causam impacto na produtividade e qualidade da formação desses estudantes.

Desde que completou 34 anos de federalização, em 2012, a UFU iniciou a implementação de políticas de cotas no vestibular de graduação somente a partir das diretrizes da Lei nº 12.711/2012 (Lei de Cotas). Essa lei é uma conquista fundamental na promoção da representatividade e diminuição da desigualdade no acesso à universidade pública no Brasil. Uma ferramenta poderosa para combater injustiças históricas e ampliar oportunidades para grupos sub-representados, contribuiu significativamente para o aumento do número de alunos negros matriculados nas universidades do país, que foi de 41% em 2010, para 52% em 2020, segundo dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e do Inep.

Em sua primeira experiência como estudante da UFU, em 2013, Flávio fez parte das primeiras turmas contempladas pelo recém-criado sistema de cotas. No entanto, ao invés de ouvir comemorações pelo início do progresso contra anos de negligência pública, Flávio conta que as falas de alguns professores reduziam as cotas a um espaço de culpa:

“Ouvi professores falarem aqui, por exemplo, que depois que os alunos cotistas entraram na faculdade, o nível de ensino havia caído. Entendeu? Como se nós fossemos responsáveis pela queda do ensino. Eu terminei a graduação, terminei o mestrado e agora estou me formando em Direito na mesma universidade. Eu não sou uma exceção dentro da universidade. Mas infelizmente sou uma exceção dentro do meu grupo sociorracial".

O crescimento da inserção da população negra nas universidades evidencia mudanças no cenário social, porém, há ainda certa disparidade entre o número de estudantes ingressantes e a quantidade de formandos, o que levanta questionamentos a respeito dos mo- tivos da evasão. Cenários como este expõem a urgência da necessidade de manutenção da Lei e dos cuidados no processo de revisão, além da implementação de políticas de apoio socioeconômico e cultural aos estudantes beneficiados. Dessa forma, com diretrizes atualizadas, espera-se ser possível diminuir as taxas de evasão e proporcionar a mais jovens negros a possibilidade de se formar.

Para fortalecer o debate sobre o tema, o Senso (In)comum conversou com Flávio Muniz a respeito de questões específicas das políticas de acessibilidade estudantil.

Senso (In)comum: Por que a revisão da Lei de Cotas - PL 5384/2020 é importante e de que forma esta pode afetar o acesso e permanência dos estudantes negros nas universidades públicas?

Flávio Muniz: A Lei de cotas já prevê uma revisão a cada dez anos. Assim, temos que analisá-la para entender se esta é eficaz e se continuará vigente. Concordando tanto com Nelson Mandela quanto com Paulo Freire, a educação é a ferramenta mais poderosa para transformar o mundo. Quando você nega à pessoa o direito ao acesso à educação, também nega o direito de mudar sua própria realidade. O nome já diz, é um processo seletivo. Algumas pessoas nascem dentro do estádio, na marca do pênalti, e outras nascem do lado de fora. A ideia da lei é colocar todos no estádio e pelo menos reduzir a desigualdade e aumentar a possibilidade de acesso à universidade pública Outro problema é: se a lei resolve o problema do acesso, não garante a permanência desses ingressantes. Não existe, no texto, nada em relação à permanência ou auxílios. Assim, falta entender por que permanecer na faculdade é importante e, para isso, é preciso ter infraestrutura. A revisão precisa incluir uma questão de justiça histórica, sobretudo porque a essa população foi negado o direito à educação durante mais de 100 anos. A lei de cotas só existe porque tivemos um