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Pluralidade

A água fervente escorre pelo coador e atravessa o pó escuro. Instantaneamente, todo o ambiente é tomado por um aroma único que desperta as mais diversas sensações em quem entra em contato com ele. Do outro lado, na xícara, o café está pronto para ser tomado – sem açúcar, como Levy diz preferir. O jovem intercambista, vindo do arquipélago de Cabo Verde, na África, sorri ao afirmar que, hoje, nada o descreveria tão bem quanto o café. Cada aluno que chega à UFU poderia fazer parte do mesmo processo, a diferença é que, para alguns, o amargor do café seria pouco percebido à boca. A Universidade é a produtora, que, em um deslize, pode fazer com que esses alunos evadam do ambiente universitário ou tenham uma experiência pouco saborosa.

Mesmo que prefira o líquido sem açúcar, Márcio Albertino Levy Gomes Teixeira (23), Levy, como é chamado por seus colegas, conta que sua experiência como aluno estrangeiro poderia ter sido mais palatável. Ao chegar na UFU, em 2016, para realizar o curso de Biomedicina, seu primeiro contato com a Universidade teve certo grau de estranhamento.

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“Solicitei o calendário acadêmico para preparar minha ida para o Brasil, mas, em seguida, veio a greve na Universidade e o calendário foi mudado em uma semana. Por não ser informado, quando cheguei, fiquei dois meses sem aulas”, conta o estudante.

Mariamou Traore (25), estudante senegalense de Relações Internacionais, chegou na UFU em 2019 e diz que sentiu falta de acolhimento da Universidade durante seu tempo de adaptação: “Quando eu cheguei na UFU, não tinha um monitor que me recebesse.

Tive que andar pela universidade perguntando onde ficava cada coisa.” Da Colômbia, Frank Blanco (28) e Yeyner Carrillo (26), pós-graduandos em Engenharia Mecânica pela UFU, chegaram na Universidade em 2019 e 2021, respectivamente. Em meio ao processo adaptativo, os colombianos também provaram o amargor de se inserir em um novo espaço. Os estrangeiros explicam que, quando precisavam de informações, acabavam sendo encaminhados de um setor a outro, sem saber quem deveria ser responsável por ajudar: “No final, ninguém faz coisa alguma. Devia ter algo mais claro, até para apresentar e ter um centro específico. Mas eu não conheço e já estou aqui há mais de um ano”, afirma Yeyner.

Os olhos de quem fornece Mas, para quem produz o café, a história parece trazer sabores mais adocicados. Responsáveis pelo acompanhamento administrativo da vinda de estudantes de outros países para Uberlândia, a Diretoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais (DRII) garante que há uma atenção minuciosa aos estrangeiros desde o momento em que eles são selecionados.

Em conjunto com a Diretoria de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (DICULT/UFU) e a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PROAE/UFU), são garantidos por parte da Universidade: eventos de integração, auxílio financeiro para alunos baixa renda e assistência psicológica. Ações de acolhimento, como o Programa de Apadrinhamento de Estudantes Estrangeiros, o “Mentor para Integração Global da UFU” (MINGUFU), existe com a intenção de estudantes brasileiros contribuírem com a recepção, a integração e o acompanhamento de estrangeiros que chegam ao país. Mas, então, o que tem deixado o solo tão inóspito?

Em 2019, Levy fez parte de uma comissão em conjunto com a PROAE para melhorar a assistência fornecida aos estudantes vindos de outros países. Foi o único aluno estrangeiro nas reuniões, compostas por professores e técnicos que não conheciam a fundo a realidade vivenciada por eles. Segundo ele, as decisões implementadas não se mostraram muito efetivas.

“Eu fiquei responsável por avaliar editais de diferentes faculdades sobre assistência à intercambistas e dar sugestões de melhorias. Algumas foram