Ricky Bols por Ricardo Irigoyen Bolsoni

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ÍNDICE 2 a 28.....................Biografia do artista 29...........................Parado 30 a 52...................Anos 70 / Pinturas 53...........................Conto e poesia 64 a 79...................Ilustrações, jornal, livro, revista 80 a 87...................Anos 80 / Pinturas, ilustrações, 88 a 96...................Company 97...........................Penso. 98 a 104..................Gilberto Gil / Extra 105.........................Cartazes, Marcas e Folders 106 a 110.................Gilberto Gil / Raça Humana 111..........................Ilustrações 112 a 113.................Capas de Disco 114/115....................HStern 116..........................Chopper 117/118....................Impressos 119/120...................Ilustrações e impressos 121..........................Anos 90 122/123...................Capas de Disco 124/125...................Colagens 126/127...................Painéis e cenários 128 a 139.................Ilustrações 140 a 143.................Kromak e outros 144/145...................RBS 146 a 153.................Anos 2000 / ilustrações e painéis 154/155...................Quintana Braile / Lili inventa o mundo 156 a 159.................Retratos 160/161...................Ilustrações e Capas de Disco 162/163...................Clube dos 13 164/165...................Abstratti 166/167...................Ilustrações 168/169...................Six 170 a 175.................Anos 2010 / Ilustrações 176 a 178.................Poesia 179.........................Agradecimentos 180..........................Ficha Técnica e ISBN

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Nasci em Santana do Livramento, em 4 de julho de 1952, na Rua dos Andradas - a três quadras do Uruguai, em casa dos tios Hugolino e Lolô. O quarto em que nasci depois foi transformado em sala de jantar, por isto a música dos Mutantes tem tanto significado para mim: “Estas pessoas na sala de jantar são preocupadas em nascer... e morrer”. Meu pai, Odilo, e minha mãe, Susana, já tinham o Jorge. Alguns meses depois, nos mudamos para Porto Alegre, indo morar com a Vó Gomercinda, na Rua dos Andradas. Enquanto isto a casa era construída na rótula da Protásio Alves com a Carlos Gomes - lá na roça, como se dizia. Em maio de 53 nos mudamos para a casa nova: na frente podia se ver o Morro da Polícia e, à direita, o Guaíba. Aquele pôr do sol maravilhoso na nossa cara. Atrás, atravessando a Carlos Gomes, era só campo, com o Aeroporto Salgado Filho lá embaixo. Minha mãe dizia que a geladeira era uma caixa grande com gelo que meu pai tinha que trazer. Logo a casa do meu tio ficou pronta, e ele veio morar ao lado. Havia mais duas casas na rua, o resto era campo. O tio já tinha dois filhos, e logo as famílias foram crescendo. Ele teria nove, e o pai, sete - de 1950 a 1964. E assim fomos crescendo naquela que eu considero uma das melhores infâncias que uma criança poderia ter. Sem pressões, sem violência, com muita amizade entre os primos. Num lugar em franca expansão, mas devagar como a época mostrava. Íamos ao colégio público juntos, descendo a Iguaçu até a Montenegro, à igreja, no fim de semana. Meus pais eram católicos nem tão fervorosos, mas meus tios eram. Então, todo o domingo, missa! À tarde tinha as matinês do Ritz, e durante a semana muito futebol na rua, que era de paralelepípedo. Só a família já montava os dois times. Entre alguns momentos, lembro de 1961, quando a Yeda Maria Vargas, que era minha vizinha na Palmeiras, ganhou o Miss Universo, fizeram um palanque na Praça Bonita para ela receber as chaves da cidade. Lembro do chororô pela morte do Kennedy, em 63. Lembro de ter mandado uma carta pro Walt Disney e ter recebido um baita envelope cheio de fotos e um autógrafo do próprio. Lembro de estar em cima duma árvore que ficava no meio do quarteirão, um cipreste, e ver passando, na Carlos Gomes, os tanques em direção ao Aeroporto, isto em 64. Do meu pai em cima do telhado ajeitando a antena do rádio prá escutarmos a copa de 58. Das viagens de carro a Livramento, a Montevideo prá visitar a família da mãe e à serra, em Veranópolis, ver onde o pai havia nascido. Dos veraneios em Tramandaí, depois Atlântida. Às vezes com as duas famílias inteiras, mas sempre com uma coleção de amigos e amigas. Nossa casa sempre foi assim, aberta a todos os amigos. Quando a família aumentou, o pai aumentou a casa também e, no verão, ligava o ar condicionado no quarto dele, e ia todo mundo dormir lá: todo mundo queria dizer mais uns dez. Não lembro exatamente quando comecei a desenhar, mas deve ter sido nos cadernos do Colégio Anchieta, onde estudei o ginásio e o científico. Nos armários de casa, eu lembro, copiei os desenhos dos Beatles que ficavam no disco “Magical Mistery Tour”, feitos por Bob Gibson. Lembro de, a partir de 1968, copiar os autocontrastes de Jimi Hendrix e Robert Plant, meus heróis da época. Foi aí que comecei a melhorar meu desenho, mas ainda não criava. Não sabia. O melhor que tinha, em termos de aula de desenho, era com o Bittencourt, porque eu estava na turma da Arquitetura e teria que fazer o pré-vestibular de desenho com carvões, miolo de pão e folhas de desenho. Metade da turma era da Engenharia, a outra parte, da Medicina e, somente 3 alunos, em 3 turmas de 45, iam prá Belas Artes ou Arquitetura. Esferas, cubos e cones, eram o máximo que nós fazíamos.

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Susana Irigoyen Bolsoni 1949

Odilo Santo Bolsoni 1949

Nossa casa sendo construida 1952

Jorge, Odilo e eu 1953

Jorge, eu, Paulico, Martinha e Susana

Bolsonis em frente de casa

Pai e mãe com os cinco

Férias em Atlantida familia de 3 Bolsoni reunida

Paulico, eu e Jorge 1957


Biografia do artista

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Eu 1957

Eu 1958

Eu 1964 Colégio Anchieta

Foto de Braulio Brandelli

Eu 1967 Formatura do Ginásio Colégio Anchieta

1970 Daniel, Paulico, Jorge, Martinha, eu, Susana, Cako, Laurinha e Odilo Foto de Odilo Bolsoni

Lá estava o Alziro Azevedo, o único da Belas Artes, mas um grande incentivador do meu desenho, mais pela qualidade do seu desenho do que por amizade. Ney Rosauro e Sérgio Mazzali me ajudavam muito na troca de figurinhas que fazíamos, desenhando nos meus cadernos. Nesta época meu irmão, Jorge, estudava no Colégio de Aplicação, e um dia apareceu lá em casa o Edgar Vasques, seu colega. Como eu tinha duas lindas irmãs, Marta e Laura, ele já saiu rabiscando o retrato da Martinha, me deixando de queixo caído pela rapidez e perfeição do retrato. Sem querer, ele estava sendo um dos mentores do eu artista. Mas minha experiência na época limitava-se a copiar. Não havia descoberto a minha capacidade criativa no desenho. Esta veio em julho de 1970, numa viagem de férias à Vila Oliva, do Colégio Anchieta. Sem fazer apologia e, sem querer, fazendo, numa noite à beira da piscina, meu grande amigo até hoje, Nei Rosauro, me apresentou o não tanto popular à época, baseado, maconha. Minha vida de desenhista e criador mudou a partir dali. Após fumarmos, fomos para o dormitório no sótão da grande casa de Vila Oliva. Com um jogo de canetinhas Hidrocor e um monte de folhas, comecei a desenhar. Parecia que havia ligado um fio que estava solto há muito tempo, conectando minha mão ao cérebro. O que eu imaginava saía rápido e claro no papel. Pequenas pessoas, que pareciam desenhos do Keith Hering, bichos, casas... Havia descoberto onde estava minha imaginação, como usála, como crescer no desenho deixando a mão livre para exercitar o que me vinha à mente. Minha veia surrealista, alimentada pelos pintores que naquele começo de anos 70 faziam a minha cabeça, como Dali, Magritte e Max Ernst, aflorava e me dizia que caminho seguir. Meus planos de seguir a faculdade de Arquitetura, ali, foram por água abaixo. Lógico que a maconha ajudou. Eu, que nunca tirei menos do que 11º lugar numa turma de 45 em meus sete anos de Anchieta, passei a dar mais atenção ao rock, à pintura, aos amigos cabeludos, “os magrinhos”, à Tropicália, às gurias que não se encaixavam em modelos da sociedade atual. Passei a conviver com o pessoal da música em Porto Alegre, a ir a shows, a rodar pela cidade - um dos meus melhores esportes até hoje em dia. Aqui começo um relato duma fase que norteou minha vida durante pelo menos uns sete anos, que foi o convívio com as drogas. Eu vinha duma família muito bem estruturada, seis irmãos, Jorge, eu, Paulo, Marta, Laura, Carlos e Daniel, meus pais, Odilo e Susana, morávamos ao lado dos meus tios, Mario e Terezinha, e seus nove filhos, em Petrópolis desde 1953. Uma infância maravilhosa, com viagens ao Uruguai, Livramento - onde nasci; fazendas, acampamento de escoteiros, soltando aeromodelos, enfim, uma vida simples, porém cheia de brincadeiras, choradeiras, esfolados, muito futebol de rua, matinês de cinema, trocando revistas... Estudei em colégio público. Mas, quando cheguei ao ginásio, meu padrinho - na época capitão do Exército, Mareu Ferreira, depois que eu não consegui passar no Instituto de Aplicação, me garantiu os sete anos de estudo no Colégio Anchieta. Aí, nestes sete anos, em turmas de 45 alunos nunca fui menos que um decimo-primeiro, chegando a ser o quinto da minha turma. Era um CDF, gostava de estudar, gostava de ler. Quando me preparava para escolher uma carreira fiz um teste vocacional que deu Escola Superior de Física. E de repente começo a me encantar com o desenho. A música já era um fator novo e extremamente revigorante na minha vida.

1966 Eu, Daniel e Cako e Paulico e o Oldsmobile


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Brandelli Braulio de Foto Brandelli Braulio de Foto

e

Daniel

Brandelli Braulio de

Paulico

Foto

Laurinha,

Brandelli

Martinha,

Braulio

eu,

de

Jorge,

Foto

Vivíamos uma ditadura cruel e sanguinária, em casa meu pai sempre nos alertava para os cuidados que devíamos ter ao emitir nossas opiniões. Então a única saída era viver um momento espiritual diferente, que nos levasse para longe daquela paranoia existencial. Aí, quando alguém dizia que aquele comprimidinho fazia a gente sair daquela realidade, a gente mandava prá dentro: a pergunta era “Que barato que dá?”. A maconha era a principal, difícil de encontrar e jogando a gente num mundo bem marginal de esquinas duvidosas. Os comprimidos eram anfetaminas, xaropes contra a tosse... Qualquer coisa que deixasse a gente diferente funcionava. E assim andávamos pelas ruas, nós “os magrinhos” como éramos chamados. O que nos identificava eram os cabelos e as roupas cheias de penduricalhos, hippies da cidade. Mas mesmo os cabelos já começavam a ser usados compridos por boa parte da juventude. O diferencial eram os cuidados, os nossos eram sempre descabelados e encaracolados. Assim andávamos noite adentro... Uma época, o barato era subir e descer a Independência, dando uma quebradinha pelas ruas adjacentes prá fumar um. E ali nos encontrávamos e trocávamos ideias e informações, mostrávamos nossos últimos desenhos, conhecíamos gente diferente. Músicos, poetas, escritores, artistas, artesãos, muitos que depois se tornaram artistas conhecidos, perambularam pelas noites da Independência. E a volta prá casa no meio da noite eram os 5 km até minha casa no Alto Petrópolis, aliás, onde moro hoje. Assim começou também meu gosto por caminhar. Na época meus instrumentos de desenho eram as peninhas de nanquim e as hidrocores. Usava lápis de cor de vez em quando. Através do meu irmão, Jorge, passei a frequentar a faculdade de Arquitetura, na Oswaldo Aranha. Um dos primeiros que ele me apresentou foi o Mutuca, que ao ver alguns de meus desenhos me convidou prá fazer umas ilustrações pruma revista que eles imprimiam em serigrafia: a “Virabosta”. Tinha um caderno especial chamado “Sangria”, sobre rock e contracultura. Fiz a capa e alguma outra ilustração. Ali fui apresentado ao pessoal que mais sabia de desenho, afinal eram os representantes da nossa “contracultura” ou “underground”. Por ali circulavam e agitavam Mário Maciel, LP Gallina, Gérson Scherer, Evandro Schebela, Bety Wiener, Carminha e Zé Mauro, Beto Prado, Claudio Levitan, Mário Honhelt e Milton Kurtz. Era época do Pato Macho, um Pasquim gaudério sem ranço tradicionalista e de muito bom humor, se eu não me engano lá estavam o Ivan Pinheiro Machado, Claúdio Ferlauto, Cris Burger, e Nilo Paim Soares, era o pessoal do estudo. Das ruas vinham os melhores: Marco Pilar, Danilo “Jacaré”, Luiz Eduardo Fontoura, o “Peixe”, Júlio “Flash” Viega, todos muito ligados no que de melhor se fazia em desenho no mundo. A troca de informações era mais rápida e segura que a internet de hoje. Não se cultuava quem não valesse a pena, literalmente. Acho que foi por ali que conheci o Chaminé, que além de gostar de desenhar era um ótimo contrabaixista. A gente nunca sabia realmente o que eram profissionalmente as pessoas, pois todos sem exceção estavam experimentando o que viriam a ser. Havia os poetas, mas que trabalhavam em banco, os músicos que eram vendedores em loja. Comecei a pintar umas camisetas com os ídolos do rock e a tentar vender meus desenhos no único lugar possível, a Feira Hippie da Praça Dom Feliciano, na frente da Santa Casa. Cheguei a vender várias com Jimi Hendrix, Robert Plant, Janis... Aí veio o vestibular e, apesar de estar bem preparado, rodei. Alguns dias depois, com o dinheiro das camisas, parti para Viña del Mar, onde anunciavam no festival os shows de Santana e os Mutantes.


Jejo de Foto

No

Jardim

Botânico

no

Testore

Rio

Schmidt

de

Batista

Bruno

Eu

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artista

Foto

Anunciavam vírgula, porque naquela época o rock ocupava no máximo umas páginas de fotos na revista Manchete. Sabia-se de tudo no boca a boca. Fomos uns oito, e pé na estrada, de carona. Íamos em dupla e marcávamos encontro na próxima capital, Montevideo, Buenos Ayres e assim por diante. A viagem de ida e volta levou um mês. Lembro dos amigos até hoje, o Peixe, o Bruno e a Sibele. Chegando lá, quem tocava no festival era Jair Rodrigues e os Originais do Samba. Entramos num cinema e fomos ver Woodstock com as legendas das letras das músicas todas em espanhol. Na volta, viemos eu e o Bruno, fomos obrigados a subir os Andes inteiros a pé, pois ninguém dava carona. Chegando ao topo, um quilômetro antes do túnel, um fusca de São Paulo, graças a Deus, nos levou ao outro lado. Em Buenos Ayres não gastávamos dinheiro, pois pedíamos comida e água. Eram “outros tempos”, apesar de sermos cabeludos, as pessoas eram, em geral, bondosas com a gente... A não ser uma velhinha, em Viña, que, tendo perguntado de onde vínhamos, e Bruno respondido: We came from London! respondeu: London nadie, ustedes son hippies, brasileños, mugrientos! Na subida dos Andes paramos um carro e pedimos comida, nos deram dois bifes à milanesa, que juntamos a um melão e àquela água maravilhosa que descia em corredeiras pelas montanhas. Ah! Era verão, de dia um calor intenso, de noite um frio imenso. Ao chegarmos a Buenos Ayres, de volta, fomos ao apartamento de Adriana, namorada de Bruno. Depois de uma noite em que saímos e curtimos uma noitada de blues e canções tocadas por dois ligadíssimos guitarristas, Luis Alberto Spinetta e Pappo, a situação iria mudar. Ao passearmos, e aí estávamos em cinco, fomos detidos pela polícia e levados à delegacia. Descobrimos, tardiamente, que no apartamento havia 2 kg de maconha. Até meus pais descobrirem e conseguirem nos livrar, foram 45 dias em Villa Devoto, a temida prisão argentina, palco de “O Beijo da Mulher Aranha”. Não tomei um banho sequer neste tempo, e o que livrou a nossa “cara”, para não dizer outra coisa, foi o fato do Peixe tocar todas as músicas do Roberto Carlos e dos Beatles e eu desenhar muitas mulheres nuas. Hoje falo com naturalidade do episódio, mas certamente não foi uma “aventura”. Assim começou 1971. Na minha rua tinha um amigo, Braulio Brandelli, três anos a menos que eu, que era fotógrafo. Ele sabia tudo de fotografia, fazia pôsteres, filmava casamentos em Super8 e 16 mm. Com ele fiz vários curtas de animação, filmamos casamentos, etc.. Se não o tivessem internado numa clínica, o cara, hoje, seria um baita profissional. Esse foi um ano de muita experiência, em todos os sentidos. A Arquitetura tinha ficado para trás, tudo o que envolvesse desenho me interessava. Os amigos ajudavam na coleta de informações, me apresentando pintores, desenhistas, músicos. Bruno Schmidt era um grande incentivador no meu aprendizado das artes. Costumava frequentar a casa na Quintino, onde passávamos tardes desenhando. Comecei a usar a aquarela, com a qual tive uma afinidade instantânea. Nas ruas, os amigos iam se somando, músicos, artistas plásticos, poetas, bailarinas, atores, formávamos um bando. À porta dos teatros, bares, livrarias e faculdades, íamos nos encontrando, trocando ideias, namorando e aprendendo. A Ditadura comia solta. Como, na maioria, éramos cabeludos e usávamos roupas coloridas e fora do normal, sermos parados pela polícia ou por gente que nos insultava de graça era uma constante. Nós não ligávamos muito para isso, mesmo nos sentindo incomodados com a pressão. A sensação de liberdade falava mais alto em nossos corações. Aquela “beleza” do que estávamos fazendo ou nos tornando valia mais que a mais dura crítica.

do

Cornelsen

Biografia

e

Bruno

Schmidt

São

Paulo

1973


Foto de Braulio Brandelli Foto de Evandro Schebela

As drogas eram o meio mais rápido e rasteiro de nos escondermos naquela espécie de concha artística, mas elas sempre foram um meio de botar para fora o que era considerado inútil e perda de tempo. Não havia onde aprender a criar, pois a própria criação era ensinada dentro de padrões estéticos atrelados a padrões históricos e morais para os quais não manifestávamos o mínimo interesse. Enquanto o mundo inteiro explodia em cores, sons e amores, nossa realidade era crua e amarga. Nesta época começaram as experiências com o LSD. Não foram tantas assim porque não era fácil de conseguir. O que posso dizer é que cinema em 3D é brinquedinho de criança perto do que a mente era capaz de produzir. Claro que houve as “good”e as “bad trips”. A “bad trip” era uma viagem para dentro de si, uma concha onde a gente se fechava por não estar se sentindo bem. Foram poucas, duas ou três, e nelas ficava difícil conversar, chegar nos amigos, era um clima tenso e sombrio. Mas, a boa viagem ficava marcada na nossa memória, o mundo explodindo em cores lá fora nunca mais seria o mesmo. Costumava-se viajar no mínimo durante dez horas seguidas e, às vezes, no outro dia a viagem voltava. A gente procurava lugares especiais para viajar e, neste ponto, Garopaba era um paraíso. Lembro de deitar na grama e de repente o barulho dum barco ecoar na minha cabeça, olhava pro mar e este explodia em cores. Uma vez olhando minha namorada Lycia, nas pedras lá embaixo, ela espantou com as mãos uma abelha, que veio em círculos em minha direção... A abelha foi ficando enorme e, quando chegou à minha frente, me senti entrando prá dentro do meu olho - que criou uma janela, na qual ela bateu e continuou seu voo - me deixando ali, maravilhado com a cena, encostado naquela vidraça. Este tipo de alucinação era comum durante uma “viagem” e, como seria muita “bandeira”, como se dizia na época, “viajar” em meio a pessoas que estavam normais, “excursionávamos” em grupos e em lugares afastados. Lembro uma vez, nas dunas de areia do Siriú... Estando no meio delas, o cenário parecia um Saara, e as areias pareciam chocolate esparramado por onde corríamos e dançávamos. Meu desenho era a soma de tudo isto. Pessoas perdidas num mundo de cor e imagens surrealistas. Comecei a observar que o que desenhava estava intimamente ligado às minhas descobertas de vida, que havia algo até mediúnico no meu desenhar. A aprender que podia desenhar melhor, mais real. Como havia descoberto sozinho a minha vocação, a necessidade de aprender sendo ensinado sumiu por completo do meu mundo. Tudo se resumia a experimentar: ‘Are you experienced?’ já dizia Hendrix, morto há um ano. Quando aprendia, tocava em frente. Ali comecei a gostar de tocar violão, o que faço até hoje, de uma forma só minha. Não consigo decorar nomes de notas e, principalmente, nem quero. Carona era a forma de viajar. Uma bolsa grande, um cobertor dobrado, às vezes o violão, e vamos embora. No final de 1971 fui pro Rio com meu irmão Jorge e Márcia, sua namorada. Andávamos dum lado ao outro de Copacabana, Ipanema e Leblon, pedindo dinheiro na rua para comer. Á noite, ou dormíamos na praia ou alguém oferecia pousada. Numa noite, fomos parar num apartamento, na Fonte da Saudade, acolhidos por um maluco beleza que depois soubemos ser maestro, professor de percussão na faculdade. De manhã cedo, a polícia irrompe no apartamento e leva os 13 prá 14ª no Leblon. O delegado era Nelson Duarte, paladino da luta contra as drogas. Ao chegar à delegacia, junto com síndico e moradores, o delegado diz que vai voltar ao apartamento para fazer uma revista geral.

Fagundes Varella 1972

Foto de Carteira de Trabalho

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Biografia do artista

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Fotos da matéria do jornal “O Dia” Rio de Janeiro 1971 Foto de Jorge Irigoyen Bolsoni

Encontram vários saquinhos de maconha, plantados pelos mesmos (se tivesse alguma coisa no apê, teríamos fumado, e ninguém tinha nada). À noite ele nos avisa que, no dia seguinte, seríamos entrevistados no programa Flávio Cavalcante, onde ele fazia um segmento de combate às drogas. Nos ameaçou, se não respondêssemos positivamente às perguntas, ‘o pau ia comer’. À noite, uma menina foi levada e estuprada pelos policiais. No outro dia, luzes e televisão: ninguém responde afirmativamente. Graças a meu pai, que foi avisado (e a um tio capitão na Aeronáutica), à noite dois milicos entram e chamam “os Bolsoni” e nos levam dali para a casa do meu tio. Márcia fica e, depois, como era menor, seu pai que morava no Rio a leva. Duas semanas depois, na casa do Peixe, ao passar na sala da televisão, sorte que ninguém estava prestando atenção, me enxergo dizendo não ao Nelson Duarte. Por alguns anos minhas aventuras policiais felizmente terminam. Passei praticamente o verão seguinte e o de 1972 em Garopaba, Santa Catarina, na época meu paraíso sobre a terra. Uma semana em Porto, conseguindo “algum” e pé na estrada, duas semanas em Garopaba. Na pasta 007, a coleção de Ecoline, pincéis, etc... Já havia tido uma breve experiência de estágio na MPM Propaganda, mas enchi meu saco de ficar colando Letraset vencida e em uma semana desisti. Mais uma experiência na Honório Lemos Propaganda, a qual foi bem mais proveitosa, trabalhando com Omar “Matico” Barros e Chamaco. O ano de 1973 viria a ser “mágico”. Influenciado pelo Bráulio Brandelli, já fotografava meus desenhos, quase sempre em slides, quando me convidaram prá fazer um visual dum show no Teatro de Câmara. Tocariam o Liverpool e várias outras bandas. Não havia muitas. A maioria eram bandas de baile, mas o Liverpool tinha um som diferente. Já os tinha visto, anos antes no Teatro Leopoldina: “Sounds and Sons” com a participação especialíssima do Claudio Vera Cruz. Neste show teve uma canja do Claudio, que tocava teclado e, no meio duma música, passou a bola pro Morongo... Ali estava começando uma banda que daria asas à minha imaginação. Convidado por Claudio e Morongo, começamos a criar “Eugeny, História de um sonho”, uma ópera-rock. The Who havia criado Tommy, Procol Harum e Frank Zappa também faziam as suas, e a Saudade Instantânea começou a dela. O nome da banda eu dei, baseado num desenho meu, saudade sempre foi um tema inspirador. Tínhamos seis datas agendadas em julho no Teatro São Pedro. Paulo Buffara escrevia, Morongo, Claudio, Gata e Neno ensaiavam as músicas, e eu criava a parte visual, ilustrando as canções e criando a forma como apareceriam no palco. Foram 4 a 5 meses de preparação. Usava dois projetores de slides, um semiautomático e o outro, tipo canhão, com o qual fazia efeitos de zoom em cima de slides pintados com cola e aquarela - tentando imitar os efeitos visuais psicodélicos dos acid test da Califórnia, da flower power. Conforme as músicas e os efeitos especiais pré-gravados rolavam, vários estilos de apresentação foram criados. Uma coleção de fotos em alto contraste do Roberto Renner pintadas com aquarela dava um clima urbano para uma passagem. Noutra parte, uma coleção de slides do Mario Maciel, com comunidades hippies, nudez e um clima Haigh Ashbury ilustravam uma atmosfera psicodélica. A bateria também tinha uma frente trabalhada com estrelas e plásticos coloridos. E o som tinha como principais influências o Yes e Pink Floyd. Os shows, todos lotados, foram um sucesso, guardadas todas as proporções que sucesso pudesse significar na nossa provinciana e alegre Porto Alegre.

Braulio Brandelli, eu, Lycia Cordeiro e Marcia Cordeiro Garopaba 1972

Saudade Instantânea Neno, eu, Morongo, Maira, Gata, Cláudio e Cristina Foto da matéria do jornal Zh


Foto de Burchardt Foto de Salomão Scliar

São Paulo 1973

Eu na Barros Cassal dos Scliar Foto de Arthur Franco

Com o dinheiro que ganhei pelo trabalho fui para São Paulo, onde fiz vários contatos, mas nada que rendesse algum retorno. O pessoal da Arquitetura estava por lá batalhando, e o Magro Nilo fazia alguns trabalhos na Band. Numa visita me pediram para gravar um sketch, no mínimo, curioso, me acharam parecido com o Jack Stewart, das corridas de Fórmula Um da época. Seu maior rival era Emerson Fittipaldi. Me botaram um boné de escocês, e eu atuando meio míope: Jack Stewart non estar com nada, Fittipaldi is good! Fiquei um mês por ali. Fui passar um fim de semana no Rio e conheci Jejo Cornelsen. Ficamos grandes amigos! Abri minha pasta cheia de aquarelas no seu apartamento da Fonte da Saudade e acho que me tornei uma boa influência pro trabalho do Jejo - sem contar com minha figura que na época era de um rock star: calças boca de sino, blusas coloridas... Andava sempre com um chapéu boliviano onde pendurava de tudo, desde canetinhas de nanquim, lapiseiras, colheres de plástico, canudos coloridos, enfim era uma tralha de cores. Jejo tinha acabado de passar uma época em Portugal, estudando Arquitetura junto do Lolô, seu pai, um arquiteto renomado. Passei uma semana ali e voltei para Porto Alegre. No final do ano voltei com a família toda de férias. Tinha uma namorada na época, Lycia, que trabalhava na TV Globo, e ela me conseguiu uma entrevista com Federico Padilha, chefe da cenografia da Globo. Ele olhou minhas aquarelas e disse: faz três semanas de estágio, sem grana, se eu gostar do teu trabalho te contrato. A família voltou e eu fiquei hospedado no belo apartamento com vista para a Lagoa, dos Cornelsen. Hospedado, pois lembro de passarmos a arroz com ovo, pois não tínhamos um tostão. Nesse tempo um dos meus trabalhos foi criar e desenhar os elementos cênicos dum programa que deveria estrear no ano seguinte, 1974: Fantástico, o Show da Vida. Terminado o estágio, Padilha me deu o emprego, a partir de março. Voltei de carona até São Paulo e lá minha tia Suzana me pagou a passagem de volta para Porto. Juntei minhas poucas coisas e me mudei pro Rio. Grande época: a ditadura comendo solta, o rock’n’roll na cabeça, aquelas praias lindas, aquela sensação de liberdade de estar fazendo a minha vida com aquilo que eu tinha de melhor: meu trabalho. Mas, nada era fácil, não tinha moleza. Jejo havia ido para Londres, e eu não tinha referência nenhuma na cidade, alguns parentes, mas, sempre parentes. Morei em pensão de nordestinos (estavam começando o Metrô no Rio), fui hóspede em apartamentos de amigos, estava sempre mudando. O trabalho era bom, simples, e me davam bastante liberdade para criar, o que fazia melhor. Meu ídolo era o Juarez Machado, com seus sketches para o Fantástico. Fazia Satyricon, Chico City, Planeta dos Homens - com Agildo Ribeiro; fiz dois Roberto Carlos Especial, enfim toda a linha de shows da Globo. Trabalhava no Teatro Fênix, na Lagoa, entre meus colegas Mauro Monteiro, Abel Gomes, Sorensen... Eu ia de chinelinho de dedo e com minha vasta cabeleira. Muita praia, Posto 9, dunas da Gal, Gabeira, Jorge Mautner. Costumava conversar com a Sandra Bréa, mas sempre fui muito tímido, então não me enturmava muito. Lembro dum grupo que o Jejo me apresentou, a Barca do Sol, eu ia nos ensaios deles e levava meu violão Di Giorgio Signoriña. Quando eles terminavam, tocávamos uns Rolling Stones e Chuck Berry: Nando Carneiro, Muri Costa, Jacques Morelembaun, Marcelo Costa e eu, roqueiro, ali com eles. Coisas da vida. Um dia o Sérgio Batista, dos Mutantes, veio conversar comigo prá eu desenhar um cenário para eles, mas eu não tinha ainda o espírito empreendedor que nesta profissão é essencial para o progresso.

Eu e o Neni Scliar na frente da Santa Casa

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Foto deIto Cornelsen

Quer dizer, ser criador é fundamental, mas se você não tiver o pique de empresário, de aglutinar pessoas que trabalhem com e para ti, de correr atrás de novos trabalhos, de novos clientes... E eu, com meus 21, 22 anos certamente não tinha. Mas, o fato de estar vivendo na capital cultural do país me fazia nem ligar para isto. Passei a morar em Ipanema, com a secretária do Padilha... “Vai prá casa Padilha!” Tinha ótimos amigos, como Ezequiel Neves, com quem mandava umas linhas de cocaína, e ficávamos ouvindo e comentando sobre as últimas dos Rolling Stones. Trocava umas notas musicais com Alceu Valença, na cobertura em frente ao meu apê, na Barão da Torre. E volta e meia aparecia algum amigo gaúcho - como o Bebeto Alves que, ao conseguir uma audição na Som Livre, ainda quis ensaiar umas músicas comigo. Ainda bem que eu desisti, minha qualidade musical não era prá tanto. Vez que outra ia prá frente do Bob’s, em Ipanema, e ficava tocando meu violão, desfiando uns rocks. Numa destas conheci uma menina que cantava muito, a Eliane, e passamos a fazer uma dupla. Um dia, estávamos na avenida na beira da praia e vem a melhor amiga dela Luiza Maria, que cantou aqui no Festival da Primavera no Araújo em 1975, acompanhada de ninguém menos que Jim Capaldi, baterista, cantor e compositor do Traffic. Pararam, conversamos, mostrei meus desenhos para eles, minha pasta debaixo do braço era marca registrada. Luiza me pediu para dar um desenho pro Jim, e eu não dei. C’est la vie! Tem dias que dava desenhos como quem dá uma bala, e eu não dei um pro Jim Capaldi. Meu trabalho continuava sem muitas mudanças, eu era uma peça na engrenagem criativa da Linha de Shows. Quando tinha o que fazer, era rápido e eficiente, mas nem sempre tinha trabalho. Aí o Padilha me dizia: vai prá praia Ricky! Vai a um cinema! Um namorico aqui, outro ali, os gays se atiravam em cima de mim, mas eu levava na boa, tinha uma ótima convivência com a tchurma. Frequentava o Teatro da Praia, onde atuavam os Dzi Croquettes. A Globo também era um paraíso de plumas. Conhecia o pessoal das gravadoras. Na Warner tinha o Paulo Pilla e a Neca Jahn. Com o Paulo cheguei a morar quase um mês quando tivemos que entregar o apartamento da Barão da Torre. Um gentleman que, apesar de jogar no outro time, sempre me tratou magnificamente. E estava ficando difícil ter meu canto nestes dois anos de Rio de Janeiro. De repente, numa roubada, contraí uma Hepatite B, e a única forma de curar era passar um mês de cama. Peguei uma licença de saúde e voltei prá Porto. Instalado em casa da mamãe e com uma namoradinha linda aos pés da cama, Lucinha, só não podia transar que a HepB era contagiosa, fui me recuperando e decidi não voltar pro Rio e ficar por aqui. Meus pais sempre foram nota mil, muito afetuosos e dando toda a força do mundo, o que não incluía dinheiro, mas também quem tem sete prá criar dá o que pode. Desde meus 18 anos que comecei a aprender a ganhar algum em pequenos trabalhos e bicos. Já curado, reatei as amizades, conheci novos amigos e principalmente corri atrás de trabalhos. Não queria trabalhar em agência de publicidade, pois achava que meu trabalho era muito mais amplo que só publicidade. Já tinha tido as experiências na Honório Lemos e na MPM. Na área de exposições a situação era complicada, meia dúzia de galerias, dois ou três comandavam as vendas. A música novamente era a saída prá mostrar minha arte.

Foto deIto Cornelsen

Biografia do artista

Jejo Cornelsen Hyde Park Londres 1975

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Eu e Jejo Cornelsen no apartamento da Resedá - Fonte da Saudade

Paulo Pilla e Bruno Schmidt

Foto de amigo da ZH

Fizemos os shows do Utopia, na Arquitetura. Tinha toda uma efervescência musical em Porto. Eu e meu amigo Neny Scliar varávamos os dias e as noites desenhando sem parar, além da parceria musical. Abrimos dois shows do Utopia no Clube de Cultura, eu no violão e voz e o Neny na harmônica, flauta e sax. Alguns blues, rock’n roll e umas baladas nossas era o repertório. Com minha experiência da Globo, pintaram vários convites prá cenário, mas era tudo um amadorismo só nessa área. Fizemos um cenário pro Vivendo a Vida de Lee, que caiu antes do começo do show, pois nos contrataram para pintar, não chamaram pessoal especializado em montagem de estruturas e, na hora, exigiram que montássemos uma estrutura prá levantar o cenário. Resultado: no money. Carlinhos Hartlieb nos convidou, e fizemos o pano de fundo de M’Boitatá. Eu corria atrás e sempre pintava um free, um logo, um folheto. Aí veio a exposição na Galeria Sete Povos, na frente do Instituto de Belas Artes. Foi uma linda exposição, mas não consegui vender nenhum quadro. Aí já estava fazendo experiências pictóricas, como os desenhos feitos a lápis, de papel vegetal e colados sobre um fundo em aquarela sobre papel Fabriano. Pareciam desenhos antigos ou, como disse Luiz Carlos da Cunha no convite: bem na linha dos “flangs” ingleses ou dos “doujourt” franceses. Eu já havia exposto na GFU, em 1972, naquela que foi minha primeira exposição, na Arquitetura, no Belas Artes, no Rio - no Jardim Botânico, na casa do Deco, pintor e ilustrador que fez as primeiras capas dos Mutantes pós Rita Lee. Aquela foi minha primeira exposição de verdade. Não foram tantas. Coquetel com champanhe e sorvete, na época eu não bebia quase, meu negócio era e sempre foi Coca-Cola. Na festa, depois, na casa do Salomão e Berta, consegui reunir alguns de meus melhores amigos como Neny, Jejo e o Ney Rosauro. Mutuca tava lá também. Éramos um bando, como dizia o Bebeto Alves, e como um bando fizemos algumas publicações que hoje em dia são consideradas “cult”. Desta época é o “Araruta“, uma espécie de zine alavancada pelo Danilo Jacaré, cujo apelido vinha pelo seu personagem principal, um jacaré. Participaram deste alguns dos melhores desenhistas da época: Danilo, Mario Maciel, Carlos Asp, Antonio Carlos “Bola” Harres, Neny Scliar, Bruno Schmidt, Mario Rohnelt, Milton Kurtz, Luis Eduardo “Peixe”, Julio “Flash” Viegas, Marco Pilar. No final, estávamos fugindo da Polícia Federal que queria saber quem era o responsável por aquela apologia às drogas, aquele festival de psicodelia. E olha que só a capa era colorida. Nesta época ainda costumava varar as noites ligado de anfetamina, desenhando sem parar dois dias seguidos. Não tomava anfetamina se não fosse para desenhar, tomar por tomar não me satisfazia, mas quando sabia que ia poder estar só ali com meu amor maior, então, arrumava a mesa, com as ecolines, lápis aquarela, potinhos, água, pincéis, principalmente os super fininhos Kolinsky. Ao lado do toca-discos, aquela coleção de Lps do melhor que tinha o rock e o blues e, já naquela época, dum jazz que me seduzia, o jazz fusion. Aprendi a escutar através do Salomão Scliar, fotógrafo, editor, cineasta e que em casa, na Barros Cassal, tinha uma aparelhagem quadrifônica. Ele servia um copo enorme de Campary, colocava um Weather Report, um Santana, um Miles Davis e dizia “só levanta a bunda daí depois de terminar o disco”.

Cenário Utopia DAFA Arquitetura 1975

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Foto de Salomão Scliar

Eu, Neni e Bertha no quintal da casa da Barros Cassal Foto de Luiz Avila

Juro que nunca me preocupei de querer sair dali. Era um louco genial. Tanto o pai como o filho, Neny ou Berta, a mãe. O James, o outro irmão, desenhava muito bem. Costumo dizer que foram meus segundos pais. E assim ficávamos, às vezes ali, em casa ou em casa de amigos. Tínhamos este costume, nós os desenhistas quando estávamos juntos e isto era bem frequente. Fazíamos desenhos a 5, 6 mãos em que cada um ficava um tempo com o desenho e depois passava para o outro. Quando digo que assim aprendi a desenhar e pintar não estou fazendo apologia às drogas, estou dizendo que para mim aquilo foi essencial na minha formação como artista. Nunca estudei desenho, pintura, ou o que fosse, na minha área. Aprendi tudo motivado por interesse e curiosidade. Vivia numa época de castração cultural, com tudo estourando no mundo, e no Brasil, a censura, a injustiça oficial comendo solta. Tinha começado com o pé esquerdo na minha formação acadêmica. Se não fosse eu a aprender tudo o que podia e queria, quem iria me ensinar? Ainda hoje é assim. Com certeza uma decisão superpessoal. Minhas aquarelas foram se tornando mais limpas e diretas, mas sempre com uns toques de non-sense, psicodelismo e surrealismo. Éramos todos agitadores culturais de primeira linha, tanto na área da música como do teatro e da literatura. Posso dizer que, guardadas as proporções, estava fazendo exatamente aquilo que me propunha como ilustrador. E aprendendo aonde aquilo tudo iria me levar. Nesta época começa o meu interesse pelo uso do aerógrafo ou airbrush. Já conhecia o trabalho de vários ilustradores estrangeiros como Alan Aldridge, que fez um livro sobre Beatles e trabalhos comerciais que via em revistas. Mas era um material muito difícil de encontrar e comprar. Um amigão, Antonio Carlos “Bola” Harres, que trabalhava na editoria de polícia da Zero Hora faz uma matéria sobre meu trabalho e me acenam com a possibilidade de um emprego, mas antes disso meu último confronto com a polícia ainda viria a acontecer. A Esquina Maldita, na frente da Arquitetura, era o ponto de encontro das cabeças pensantes, e muitas noites da semana para lá íamos. Numa noite, com minha enorme pasta de desenhos embaixo do braço, lá estava eu. Cheio de gente na rua e dentro dos bares, de repente, a Polícia Federal tranca tudo - com carros fechando as duas esquinas. Eu guardava uma baganinha de maconha dentro duma latinha, no bolso e não pude jogar fora. Resultado: me jogam no camburão e vamos prá PF, da Av. Paraná. Vários conhecidos estão juntos, mas a gente faz que nem se conhece. Pegam minha pasta e me deixam sentado num corredor, esperando. Enquanto isto, um amigo numa sala envidraçada ao lado é pelado e torturado enquanto eles passam dizendo: tu és o próximo. São seis policiais, que me enchem de pancada durante mais de duas horas: pontapés, telefone, socos na barriga e nas costas. Tenho que entregar alguém, é o que eles querem. Agora, o que um cara que guarda uma baganinha dentro duma caixinha tem prá eles? Esta era a ditadura e suas consequências, o bater por prazer, para mostrar quem é mais forte. Mas os disparates não param por aí. Moído de tanto apanhar, me levam prá cela para dormir e, de manhã cedo, volto à salinha. Estão olhando meus desenhos, vários foram roubados, e me dão lápis e papel e cada um daqueles que tinha me enchido de porrada é retratado por mim.

Foto de Salomão Scliar

Biografia do artista

Eu e Bebeto Alves na Redenção

Capa de Esquina Maldita de Paulo Cesar Teixeira, o livro é novo e conta como foi esta época.

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Eu tinha na carteira a foto duma amiga, um contato, menor que 3x4, e a pose dela sugeria que estava fumando. Me colocam num fusca, me levam à casa dela e, de lá, a levam para a PF. O disparate é que os agentes foram fumando um baseado na ida. A menina era menor e, quando chegamos na PF, um repórter da ZH vem me peitar dizendo que vai acabar com a minha vida por eu ser um corruptor de menores. Logo mais aparece meu pai, que na época era diretor da Carteira de Hipoteca e Habitação da CEF, o que lhe dá a chance de negociar minha saída. Aí eu já havia levado na manhã um murro dum agente, que havia aberto a minha boca. Questionado pelo meu pai, ele disse que eu havia “me exaltado”. À noitinha, me liberaram - não sem antes me oferecerem um emprego de retratista falado com um salário de 5000. Graças a Deus essa foi a última complicação que eu tive com a polícia na minha vida. Duas semanas após o ocorrido, por iniciativa do Armando Burd e do Juarez Fonseca, eu estava empregado na Zero Hora ganhando 2500 por mês. No meu primeiro dia fiz questão de cumprimentar o colega da Editoria de Polícia, aquele que “ia acabar com a minha vida”. Meus pais, que sempre me apoiaram em tudo na vida, principalmente em relação às decisões que eu tomava, me pediram para consultar com um psiquiatra. Fui umas três vezes - em que ele sempre batia na tecla que eu fumava maconha como uma forma de agressão aos meus pais. Ao saber o valor das consultas, convenci meus pais a acabar com aquela besteira. Naquela época eu estava até sem fumar, traumatizado pela violência da polícia. O trabalho no jornal era muito interessante, e eu estava gostando muito da nova experiência. Eles me usavam muito bem. Tinha dias, principalmente nos fins de semana, que numa edição chegava a ter vinte ilustrações minhas. Adorava chegar, aos domingos, na redação, para fazer a edição de segundafeira e ver o meu trabalho na edição dominical. Passei a fazer capas do Caderno de Sábado e da Revista de Domingo. Adorava sair da redação, na sexta após a meia noite e ir para a Esquina Maldita encontrar com os amigos. Graças à repercussão de minhas ilustrações, fora do meu horário, que ia das 17 às 22, pipocavam outros trabalhos. O Eduardo Azambuja era um apaixonado pela palavra escrita e pela música brasileira. Veio com a ideia de fazermos um livro que nós mesmos ilustraríamos e faríamos a impressão. Começou a juntar textos de todos os malditos da época, e lá estavam Caio Fernando Abreu, Luiz de Miranda, Dedé Ferlauto, Eduardo San Martin, Delmar Marques, Juarez Fonseca, mais os ilustradores, fotógrafos, etc. Depois de reunido todo o material, passamos uma semana montando, ilustrando, fazendo vinhetas. E imprimimos, nós mesmos, numa Multilith que tinha numa casa aqui em Petrópolis perto da minha. Chamou-se “Pedra Mágica”. Não ganhamos um tostão pela empreitada, mas essa não era a ideia. Consegui comprar um aerógrafo e um pequeno compressor e comecei meu aprendizado nesta técnica, que mais adiante viria a ser meu carro chefe. Naquela época o aerógrafo era usado principalmente para fazer o que chamavam de “retoque americano” em fotos. Para pintar exigia materiais que aqui não existiam ou eram muito caros. Pintava-se usando tinta acrílica, que nem era fabricada aqui. Continuava numa atividade frequente com a comunidade artística da cidade, fazendo cartazes para shows, cenários, convites. A publicidade em si não me atraía muito.

Eu na redação da ZH 1977

Eu na loja da Cléria Finocchiaro 1977

Eu na exposição de 1979 Eucatexpo

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Biografia do artista

Era um pessoal difícil de lidar, de difícil negociação (o que descobri que nunca iria mudar): ou eu negociava tudo na saída ou ali adiante a rasteira vinha. Mas, uma coisa ali eu também fiquei sabendo: que eles não fazem contrato. Hoje em dia quando me dizem “mas tu não fizeste um contrato”, eu respondo: minha experiência sempre me mostrou que bons clientes são aqueles que vêm atrás de ti e não tu atrás deles, bons clientes se revelam no primeiro trabalho. Os maus também, mas não passam dele. Saí de casa, indo morar com o Beto Portela, meu futuro e atual cunhado. Tínhamos uma turma muito boa de amigos e já aí a cerveja era uma bebida habitual. Até então eu só tomava Coca Cola. Numa ida a GFU, conheci minha futura esposa, Lorice Finocchiaro e, após um namoro de menos de um ano, casamos na Igreja São Sebastião, a mesma da minha infância, na frente do Ritz, em Petrópolis. Foi um casamento sui generis, 24 padrinhos e madrinhas, todos cabeludos. Lembro bem do Bill Harrington, americano, namorado da Lucinha que foi de pés descalços. A trilha sonora era “Greensleaves” tocada por Jeff Beck, só liberada pelo padre Alfredo depois do pedido do Pedro Simon, que era tio da Lory. O padre não queria deixar tocar, pois a música era da época do Henrique VIII, considerada profana pela igreja. Lory era música e uma artista de mão cheia. Costumávamos passar as noites com os amigos tocando muito rock’n’roll. Com o aerógrafo passamos a criar estampas de camisetas, vestidos, tendo aí uma nova fonte de renda. E eu como trabalhava mais à noite ainda tinha muito tempo prá me dedicar aos meus desenhos e pinturas. Comecei uma coleção de desenhos unindo o lápis ao aerógrafo. Era uma nova fase de vida que eu, como bom canceriano, estava apostando tudo. Ter minha casa (alugada, claro!), família... O trabalho no jornal me dava certa notoriedade no mercado. Assim que prá culminar aparece o Ricardo, meu filho, que na minha vida é um marco, uma mudança de atitudes, uma nova forma de ver e viver a vida. Não vou dizer que foi fácil, mas foi muito bom, foi muito positivo. E logo depois do seu nascimento fiz uma exposição que iria encerrar com minhas expectativas em relação a ter uma carreira como artista plástico. Meu trabalho a esta altura era muito falado e elogiado, mas vender, que seria bom, nada. O mercado era dominado por tubarões, aliás, acho que até hoje. Te chamavam a participar, te elogiavam nos jornais, mas ficavam com a maior fatia do bolo. Fiz essa exposição, na Galeria Eucatexpo - na Av. Independência, ao lado do Rosário. Foi uma bela mostra. Nas paredes, o melhor dos meus desenhos, tanto em aquarela, como em técnica mista. Numa mesa enorme ao centro, envidraçada, o melhor de minhas ilustrações para jornais e revistas. No showroom preparei um slideshow com o melhor da minha produção. Vendi um quadro para a mãe do Beto, Leonor Portela Nunes, que sempre me incentivou. E mais nada. Resumo: gastei um bom dinheiro para montar e não recuperei nada. Depois dali participei de mostras, ganhei um prêmio de melhor desenho no Salão de Pelotas em 1979; vários salões do Jovem Artista, pelo interior do RGS; Califórnia da Canção Nativa, enfim, sempre muito ativo, mas sem a menor expectativa de transformar aquilo em subsídio para a minha vida.

Eu e Lory

Eu e Lory no casamento de minha irmã Laura

Eu e Lory no Farol de Santa Marta 1977

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Hoje em dia quando me apresento é sempre como artista gráfico, pois acho a profissão de Artista Plástico uma piada. É necessária uma vida de puxação de saco, babação de ovo, bajulações, etc., prá criar uma carreira de artista plástico. Hoje em dia então... Graças à Prefeitura, através do FUMPROARTE, estou conseguindo colocar nestas páginas o melhor da minha produção. O trabalho no jornal ia “de vento em popa”, várias publicações me pediam colaboração de ilustrações - às quais eu correspondia, por serem meus amigos, entre elas o Paralelo, Tição; livros com participação de vários escritores e ilustradores, como Teia, Entre vinhos e adivinhos... Mudamos, eu, Lory e Ricardo, para uma casinha na Vila Conceição, onde Lory pode começar seu trabalho como música, ensaiando com sua banda. A vida conjugal não ia lá muito bem e, num determinado dia lá em 1981, decidimos nos separar. Saio de casa e vou trabalhar na Zero e, lá chegando, me chamam no Departamento Pessoal e comunicam minha demissão. Tudo no mesmo dia! Há um mês, Marco Aurélio, o chargista, tinha sido nomeado Editor de Arte, e o babaca aqui, quando o Marco vinha me dizer como eu devia fazer a capa da Revista de Domingo, com suas ideias ”geniais”, ficava reclamando lá com os guris da montagem do jornal as idiotices do cara. Resultado: não durei um mês mais no jornal. Foi bom, afinal tudo nesta vida tem um motivo, um por quê. Mudanças na minha área são essenciais para o crescimento profissional. Arrumei um emprego na Intelligentia Propaganda e toca a vida. Tudo ficou mais complicado porque tinha o Ricardo e um apartamento prá cuidar, mas dava para jogar meu futebolzinho, tocar meu violão e continuar desenhando. O trabalho na agência, como Diretor de Arte, era bom e sem sobressaltos, mas não era o que eu queria e também não durou muito. Em dezembro me demitiram, e eu resolvi que tava na hora de voltar pro Rio. Fui passar uma semana com meu amigo Jejo Cornelsen, lá na Fonte da Saudade. Numa tarde, no Arpoador, cruzo com um amigo da antiga Roberto Renner de Araújo, que me convida a trabalhar com ele no seu estúdio no Caxinguelê, no Jardim Botânico. Esta seria uma mudança crucial na minha vida, pois ali eu iria aprender como ganhar a vida sendo criativo e comercialmente produtivo com as lições que o Roberto me passaria. A Lory já sabia muito bem como lidar com o aerógrafo, então arrumo um trabalho com um sócio do Roberto que pintava biquínis e, juntos, nos mudamos. A mãe dela aluga um kitinete no Catete, e lá vamos nós tentar a vida no Rio. Ao lado do estúdio do Roberto tem uma creche muito boa, e matriculamos o Ricardo lá. O trabalho é intenso, variado, mas eu gosto. Começo a fazer coisas que não tinha a mínima ideia de que pudessem dar dinheiro. Trabalhávamos em três mais o Roberto que, tendo agora um desenhista criativo e autossuficiente, começa a usar mais o seu tempo correndo atrás de trabalhos. Fazíamos de tudo: desde criação de estampas para camisetas, biquínis para a sociedade que ele tinha num estúdio de pintura em airbrush (onde a Lory trabalhava), logotipos, programação visual de confecções, stands para feiras, vitrines de lojas, anúncios de revistas e jornais. Nossos clientes eram os melhores do Rio de Janeiro: Ziggy, Dijon, Fiorucci, Blue Man, Waymea, do surf à moda mais chic, o airbrush estava em alta, e nós éramos os melhores.

Jorge, Cako, Catita, Susana, Martinha, Beto, eu e Lory

Eu e Lory no apartamento da Luiz Só em 1979

Ricardo em 1979 na casa da Vila Conceição

Ricardo e Lorice

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Ricardo em Copacabana

Ricardo em Itacuruça

Foto de maquina automatica

Eu e Ricardo 1981 na casa do Salomão,Bertha e Neni

Foto de maquina automatica

Em poucos meses saí do apartamento e fui morar no Studio, queria ter a minha vida, difícil, mas minha. Fazíamos no Studio stands inteiros das feiras de moda que pipocavam no Rio. Tinha uma equipe de cupins (como os chamávamos) que trabalhavam a madeira, recortando, finalizando para que nós pintássemos com nossas artes. Usávamos muito tinta automotiva, que tinha uma variedade intensa de cores apesar de o nariz reclamar. Meu relacionamento com o Roberto era muito bom, apesar de ele usar o chicote às vezes como todo patrão, mas raríssimas vezes tivemos alguma rusga. Fizemos vários trabalhos de altíssimo nível como o novo logo da Globo para o Hans Donner. E vários outros para a mesma emissora. Trabalhávamos com imagens colocadas em displays de acrílico assoprado, com volume. Num fim de semana montamos três lojas no novo Barra Shopping. Era comum virarmos três noites trabalhando num dos grandes shoppings do Rio, montando lojas. Enfim, este período com o Renner foi meu mestrado em marketing no meu desenho. Mas nada é para sempre, então depois de um ano ele resolveu fechar o Studio. Continuamos trabalhando como freelancer. Tive que sair do Studio, mas consegui alugar uma kitinete na Rua Voluntários da Pátria, no Humaitá. A esta altura já saia com minha pastinha fazendo contatos por tudo quanto é canto do Rio, de Copa até a Barra, do Centro até a Tijuca e do Meyer até o Jacarezinho. Meu pai e minha mãe, ao me visitarem, me deram um compressor - ferramenta essencial para o meu trabalho. Guardava no banheiro... Tinha que fechar tudo e proteger o chão da vibração, pois o barulho era capaz de me arranjar confusão com os vizinhos. Parentes eu tinha poucos no Rio. Curtia mais minha prima Kuki, que me ajudava me apresentando a clientes dela. Ela era paisagista e, entre seus clientes, me apresentou a um que seria minha âncora nos próximos seis anos: Mauro Taubman, dono da Company. Comecei trabalhando devagar para ele. Ele viajava muito e, pelos cantos de New York, Paris, Londres, Bali etc., ele trazia pequenas artes que lhe interessavam (e este faro ele tinha aguçado), e eu copiava, modificava, acrescentava, conforme sua direção. Mauro não dava mole nos acertos de preço e pagamentos, mas era um cara correto e honesto e, principalmente, um cliente de mão cheia. Com o passar do tempo começou a me dar muitos trabalhos. Na hora de pagar diminuía sempre uns 30% no meu orçamento, mas a quantidade supria este corte. A Company investia muito em acessórios com marca. Aliás, foi quem lançou esta estratégia de marketing: uma confecção de surf e moda jovem vendendo agendas, cadernos, blocos, bottons, displays e uma variedade enorme de pequenas peças que se encarregavam de difundir a marca muito além das roupas. Uma de minhas artes, o C pintado com o espectro de todas as cores em dégradée, viraria um must como adesivo para carros e referência nas escolas de design. Fazia propagandas para o Jornal do Brasil, o Globo, Vogue, Interview... Criava a referência para a programação visual de coleções inteiras e, a partir daí, a aplicação disto em todas as peças e acessórios de divulgação. Neste meio tempo, saí da kitinete e fui morar com uns amigos na Sá Ferreira, em Copacabana, num apartamento grande - nossa república gauchesca. Ali permaneci por três anos, morando a maior parte do tempo com Luis Fiori, estudante de arquitetura e companheiro de atividades desenhísticas, e Paulo Casarin, músico e tecladista do Pepeu Gomes. Foi uma boa época, a qual comecei sozinho e terminei já com a guarda do Ricardo. Numa briga, aliás, a última com a Lory, ela voltou para Porto Alegre e levou o Ricardo com ela.

Foto de Salomão Scliar

Biografia do artista


Foto de Jejo Cornelsen Foto de Cristina

Eu no cenário de Canecão 1983

Eu e Jejo, pintura a quatro mãos. Foto de Jejo Cornelsen

Através do Bolinho, que era iluminador do Pepeu e da Baby e do Gilberto Gil, pintou para mim e para Jejo - sempre meu companheiro de futebol, de vida e de trabalhos - um painel de fachada do Canecão para o show Pepeu & Baby. Nesta época costumávamos jogar futebol na Lagoa, com um time que tinha Pepeu, Moraes, Casarin, o pessoal do Bixo da Seda, Vinicius Cantuária e no Caxinguelê. Através do Juarez Farinon, também iluminador, batíamos uma bola com o pessoal de Minas: Toninho Horta, o pessoal de novelas da Globo... Eu e Jejo fazíamos uma boa dupla de trabalho e, volta e meia, nos juntávamos em algum projeto: capas de disco, alguma vitrine de loja... Eu estava muito bem de trabalhos nesta época, além do telefone tocar e sempre pintar algum, eu tinha meu portfólio e mostrava o que fazia prá muita gente. Neste ponto o Rio de Janeiro é uma cidade extremamente acolhedora. Por ser uma cidade turística e ter um mercado de trabalho enorme, pessoas com vontade e capacidade são muito bem acolhidas. Lembro de ter ligado pro Hans Donner... Eu já havia trabalhado para ele com o Renner, mas ali eu não aparecia... Ele me recebeu, ficou meia hora olhando meu portfólio, elogiou alguns trabalhos. Então era assim, eu ia montando uma agenda de visitas a agências de propaganda, gravadoras, produtoras, confecções, gráficas. Enfim, entre um trabalho e outro ia plantando essas sementinhas que, volta e meia, rendiam algum trabalho. Neste período trabalhei com um ex-colega do Hans, Rudi Böhm, que fazia principalmente assinaturas de comerciais e aberturas de filmes. Daí pintou o convite do Gil prá eu e o Jejo criarmos o cenário do Extra. Nos reunimos com ele e o Bolinho num hotel em Ipanema, onde ele nos falou de suas ideias – aliás, eram só fragmentos que nós tratamos de colocar vida. Duas semanas depois apresentamos vários esboços: o disco iria se chamar FráGil e o mote seriam animais em fase de extinção, o que rapidamente transformamos numa colagem dentro duma paisagem de praia e vegetação. Um dos personagens, inclusive, serviu de inspiração para uma canção que ele criaria em Roma - para onde estava indo. Aprovado nosso projeto, passamos à execução e criação do cenário. Duas semanas fazendo a arte e, quando Gil viu, na mesma hora, quis que fosse o disco em capa dupla com nossa arte no centro. Ai vinha a logística do cenário, teria que ser facilmente desmontável e apto a ser carregado num caminhão daqueles enormes. Fiz os desenhos da estrutura no caminhão para facilitar o processo, e o Quincas e Bolinho se encarregaram da parte de marcenaria. Seriam vários painéis de madeira, com uma estrutura na parte superior para ajudar na colocação de parte da iluminação. Ainda, alguns painéis centrais, aonde iria escrito “Gilberto Gil”, teriam luz e cores para acender durante o show. A esta altura, o show já teria mudado para “Extra”, mas nossas ideias todas persistiram.Prontos os painéis, eu e Jejo passamos uns três dias em Jacarepaguá, no sitio do Gil (ele nos emprestara para fazer o trabalho). Ali projetamos os desenhos nos painéis pintados de branco. E pintamos todo o céu de fundo com o dégradée do sol se pondo ou nascendo. Esse trabalho me deu um problemão na coluna de tanto carregar, eram 11 painéis e tinham que ficar montados encostados à garagem, quatro por vez. Passei três dias sem poder me levantar da cama, mas um acupunturista japonês resolveu meu problema e, em poucos dias, eu estava novo em folha. Chamamos uma amiga do Jejo, a Cristina, prá trabalhar com a gente, e ainda tínhamos assessoria do Renatinho, que ajudava em todos os momentos. Arrumamos todo o cenário de pintura, cabiam dois painéis por vez dentro da garagem, o céu básico estava pintado.

Eu e Renatinho, nosso contra-régra

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Foto de Jejo Cornelsen

Cristina, Jejo Cornelsen e eu

Foto de Jejo Cornelsen

Pali Cornelsen, filho de Jejo e Luanda.

Foto de Jejo Cornelsen

As tintas, as latas de coca cola com as misturas, as reproduções do original prá servir de guia, e todo o aparato auxiliar de mascaras de papel poliestireno, pesos de metal, panos, água e o som... Bem, trabalhar sem música não dá! Tinha levado meu som e centenas de discos escolhidos a ouvido. O trabalho era constante, eu havia feito uma estimativa de tempo para cada seção, e seguimos o cronograma. Começávamos às 10 da manhã, lá pelas 13h o Jejo ou a Cristina atacavam na cozinha, e eles eram bons nisto, comida natural da melhor qualidade. E íamos até às 10 da noite, todos os dias. Em um mês folgamos num fim de semana, o resto era trabalho direto. Ao acordar eu fechava os baseados, e mete bronca que ninguém é de ferro. Muita música e pintura. Prá se ter uma ideia, tinha uma piscina maravilhosa na qual não tomamos banho um dia sequer tal a intensidade do trabalho. Volta e meia aparecia algum músico ou o próprio Gil prá apreciar o trabalho. O Rubão Sabino, baixista, que morava ali perto era figura frequente, antes de partir para os ensaios passava ali prá estourar um com a gente. Ás vezes, a Luanda, esposa do Jejo, vinha com o Pali prá nos visitar. Foi um mês e ficou pronto. A estreia seria no Palace, em São Paulo, um mês de shows e depois a excursão pelo Brasil, 80 shows. Fomos a Sampa, convidados pela produção: hotel, entrevistas para a rádio, televisão... Agora, a parte melhor: ao receber o pagamento final, num Bradesco da Av. Jardim Botânico (meu banco Itaú era do outro lado da rua), o caixa me aconselhou a receber um cheque administrativo. Perguntei quanto custaria... 1% disse ele. Mas, para! Aquilo pagava um mês do meu aluguel. Peguei o dinheiro, enfiei na calça, nos bolsos, dentro da camisa, aonde deu e atravessei a rua. A vida continua, com a Company sempre presente. Contatos e mais contatos. O primeiro show de Gil seria no dia 4 de julho em Porto Alegre. De lá, meus parentes me avisavam da necessidade de eu buscar o Ricardo para morar comigo, já que a mãe não conseguia segurar a barra. E aí veio uma mudança crucial na minha vida. Eu tinha espaço, os guris em casa me davam, eu tinha trabalho, eu tinha tempo, porque não? Voltei, participei de alguns programas, entrevistas e, com uma advogada, ganhei a guarda do Ricardo, sem brigas. O show foi sensacional, pulei muito lá no meio do povaréu, e voltei levando o Ricardo comigo. Coloquei meu filho na mesma creche em que ele havia estado, mas eram 45 minutos prá ir e 45 prá voltar, todos os dias, de segunda a sexta: três horas perdidas diariamente. Com o tempo consegui uma Kombi que pegava ele em casa, reduzindo esse tempo para hora e meia. E fomos levando a vida. Morávamos num dos quartos do nosso imenso apartamento, perto da praia de Ipanema, Posto 9, Arpoador. As namoradas vinham e iam, nenhuma ficava. Ser pai solteiro peca pela mesma razão de ser mãe solteira: todo mundo foge, acham uma gracinha - mas fogem. Mas, dava prá levar. Fim de semana era grudado direto no filho o tempo todo. Ricardo chegou com 4 anos e nunca mais voltaria prá mãe. Nesta época apareceu lá por casa o José Alfredo Correa, o Zé Alfredo. Tornar-se-ia uma espécie de assistente e principalmente um grande vendedor do nosso trabalho, tinha uma lábia que eu não tinha. Os trabalhos sucediam-se. Logo o Gil voltou da excursão e prá fazer o show no Canecão teríamos que executar o cenário novamente, pois o Canecão não tinha altura suficiente. Atacamos, eu o Jejo, e o Zé aparecia prá ajudar de vez em quando.

Foto de Ito Cornelsen

Biografia do artista

Bolinho na lida.

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Foto de Jejo Cornelsen

José Alfredo Correa, amigo e parceiro.

Foto de Jejo Cornelsen

Gilberto Gil em Raça Humana

Gilberto Gil em Raça Humana no Canecão 1984 Foto de Jejo Cornelsen

O tempo mudou, tínhamos duas semanas, mas tínhamos a prática, então suprimimos algumas imagens. Criamos algumas recortadas em madeira para dar um aspecto tridimensional no cenário, e fomos felizes novamente. Fim de ano, lembro de ter passado a noite de Natal na casa do Gil, com toda a sua família e amigos. Neste meio tempo eu e Jejo fizemos algumas capas de disco. Com o Zé, várias vitrines de lojas. Trabalho não faltava. Tenho até uma historinha engraçada em uma das lojas: tinha que passar a noite pintando estrelinhas num teto curvo de uma loja em Copacabana. Estavam colocando os tapetes, pois a loja abriria pela manhã. Vários obreiros, na maioria, nordestinos, faziam a colocação com aquela cola de borracha que deixava a gente levitando... Eu, em cima do andaime, dálhe a pintar estrelinhas com aerógrafo, algumas com stencil, outras só na mão mesmo. Os empregados passaram a noite me perguntando: “aí, gaúcho, quanto tu tá ganhando prá fazer isto?”, a noite toda. Quando estava quase no fim, cedi aos apelos deles e contei: com o aerógrafo... tshhhhh... uma cerveja... tshhhh... uma cerveja. Quase me bateram, afinal havia passado a noite pintando estrelinhas. Meu trabalho com aerógrafo era assim: um operário especializado muito bem pago. No ano seguinte, também fomos chamados a criar o novo cenário do show “Raça Humana”, a única e crucial diferença é que o Bolinho tomou conta da produção do cenário. Este seria totalmente diferente do “Extra”. A ideia era criar elementos cenográficos que fizessem climas para as músicas. Tinha uma música que falava de Risca de Giz, o grafitti que começava a tomar conta das ruas das cidades, havia a capa já pronta com ilustração do Roberto Renner - um olho dentro de um triângulo riscado a giz. Começamos, eu e o Jejo, a pesquisar e tivemos a ideia de grafitar o Canecão inteiro com citações que começavam na pré-história e chegavam aos tempos atuais. Muito pesquisei na Biblioteca Nacional, principalmente porque minha amiga Maia Sprandel trabalhava lá e me ajudava nas pesquisas. A seguir, passamos a elaborar os stencils para grafitar. Duas semanas desenhando, cortando e montando a infra para começar a grafitar. Enquanto isso, criávamos os elementos cênicos. Jejo desenhou, a partir dum desenho pré-histórico, uma “criação do mundo” que foi transformada em um imenso e caro neon - ocupando todo o fundo do Canecão. A partir dos olhos do Renner, mandamos construir quatro grandes slides aplicados a caixas de luz (que entravam no escuro, por meio de cabos de aço e, em determinado momento acendiam bem em cima do Gil), aqueles quatro grandes olhos luminosos. Atrás da bateria do Pedro Gil, outro olho psicodélico mudava de cores automaticamente. Ainda havia um céu de estrelas como outra opção de fundo. Passamos, eu e Jejo, quase duas semanas dentro do Canecão fazendo os grafitti. Quando terminamos, na hora da prestação de contas, o Bolinho veio nos dizer que estávamos devendo 500000 pelo cenário, disse que havia um valor fixo e nós havíamos excedido este valor. Claro que ele ainda faria uma excursão e mais o mês do Canecão recebendo pela iluminação, mas nós estávamos devendo.

Grafitti na parede do Canecão

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Grafitti na parede do Canecão Foto de Jejo Cornelsen Foto de Jejo Cornelsen

Grafitti na parede do Canecão

Olhos cenográficos no Canecão, arte de Roberto Renner

Foto de Jejo Cornelsen

Coisas da vida: ainda bem que não cobraram um quinto olho que não existia e escapamos desta, recebemos mesmo por pintar em cima da estrutura do “Extra” o neon da criação do mundo, e isto quer dizer que tapamos toda nossa pintura com azul. (o desenho da criação do mundo em forma de neon). Enfim, o trabalho foi muito elogiado, e toca prá frente que atrás vem gente. Isto foi em 84. Já em 85 aconteceu o Rock in Rio. Nesta época, junto com Luiz Fiori, fizemos uma discoteca chamada Metrópolis - no final de São Conrado. Foi a época das bandas de rock estourarem por todo o Brasil: Paralamas, Barão Vermelho, Blitz, etc., a moda era o high tech. O Luiz, que estudava arquitetura, fez o projeto e a criação da fachada baseada no filme. Mas, a situação era assim, às 17:30 eu tinha que sair correndo prá pegar o Ricardo na creche, não importava onde eu estivesse. Ganhei do Bolinho um passaporte para ir todos os dias ao Rock’n’Rio, e só pude ir num dia porque não tinha com quem deixar o Ricardo. Nosso apartamento era o Recanto dos Gaúchos, recebíamos todos com o maior prazer, principalmente as gurias. Na frente do Rock’n’Rio tinha um shopping ao ar livre onde, na semana que antecedeu o acontecimento, eu e o Luiz fizemos vários stands. Depois ainda faríamos um stand da Taurus na Feira do RS, no São Conrado Fashion Mall. Como todo casamento, não que fosse um, meu relacionamento com os guris estava já ficando desgastado, quando, de repente, meu amigo Bebeto Alves me acena com a possibilidade de dividir com ele sua casa em Santa Tereza. Me mudo com o Ricardo, malas e bagagens. Minha vida ali melhorou bastante. Bebeto tinha duas filhas, a Luna e a Mel, que de vez em quando ficavam com ele, então tinha outra visão de vida inclusive no convívio com filhos. A situação melhorou bastante. Santa Tereza era o subúrbio, aonde as crianças iam a pé para a escola, as janelas convidavam para o exterior, os morros e o bondinho. As crianças ficaram na mesma escola, ainda que não fossem lá prá casa todos os dias, pelo menos nos víamos diariamente, e o Ricardo, com 6 anos, podia até ter a chave de casa. Para a saúde física era uma beleza, pois para ir ao supermercado tinha que descer e subir uma ladeira grandiosa, cheia de curvas e paisagens que descortinavam. Para o meu trabalho, Santa Tereza ficava no meio entre Zona Norte e Zona Sul então era um ponto estratégico. Tinha ainda a proximidade do Centro, minha casa ficava ao lado da Lapa, e lá tinha um tesouro escondido que eram os sebos de discos. Era o ano do lançamento do CD, e eu recém havia comprado um discman Sony, mas os Lps ainda mandavam no mercado. Eu tinha uma mania, quando executava um bom trabalho pegava 10% da grana e descia no Centro prá gastar em discos. Passava uma tarde zanzando por aquelas ruelas, já sabia onde estavam as melhores lojas, sempre escondidas. O carioca é do samba, mas o carioca da grana também é do jazz e, com o advento do CD, eles estavam se desfazendo de suas coleções, e a minha, aumentando. Minha parceria com o Zé Alfredo ia “de vento em popa”, ele trazia muitos trabalhos, principalmente decoração de lojas. Morei ali em Santa durante cinco anos. Na primeira semana ainda usava o bondinho para subir até o Largo dos Guimarães, de onde descia a Ladeira do Castro, onde morava. Naquela semana fui assaltado duas vezes, dentro do bondinho, mas não me levaram nada porque estava com o Ricardo, e eles tiveram peninha de mim. Depois, nunca mais. Nessa casa tinha espaço para manter o equipamento de pintura funcionando, então tinha uma facilidade maior em fazer trabalhos de pintura de painéis e lonas. Também com a parceria do Bebeto, comecei a sair mais. Antes, nunca tinha com quem deixar o Ricardo, ali, volta e meia o Bebeto me dava um salvo conduto, e eu podia encontrar as gurias. Continuava trabalhando a mil na Company.

Foto de Jejo Cornelsen

Biografia do artista

Cenário em neon da criação do mundo no Canecão


Era até engraçado, o Mauro (quando ia encontrá-lo na loja de Ipanema, na Garcia D’Ávila) costumava me esconder numa salinha e dizia que era prá que os fornecedores não me descobrissem e me tirassem dele. Era comum eu me sentar ao lado da Monique Evans, Ligia Duran, enfim as musas da Company. Na época estava fazendo direto os anúncios do Jornal do Brasil, então, volta e meia era eu que levava o anúncio até o jornal e, nessa ai, consegui pegar uns freelas de ilustração para o jornal. Fazia também prá um jornal de música, o Via. Outra vantagem de trabalhar para a Company é que tinha desconto de 50% em todas as roupas, os amigos então se esbaldavam. Jejo, meu amigão, estava morando em Santa, havia se separado e morava ali perto, no caminho do Largo das Neves. Fizemos alguns trabalhos malucos naquela época, como um cenário prá um festival em Nova Iguaçu: pintamos um cenário em que subíamos nuns andaimes com mais de 10 metros de altura sem nenhum equipamento de segurança. Ficávamos lá em cima pintando com o aerógrafo, fazendo malabarismos a mais de 10 metros de altura. Tinha também a Manchete, com a novela Ana Raio e Zé Trovão, prá quem eu trabalhei. Uma época sem limites, na qual meu telefone não parava de tocar. Até o Bebeto veio trabalhar comigo, ele sempre teve afinidade com desenho. De repente, o Bebeto resolve se mandar pros Estados Unidos, e eu fico de dono da casa. Prá mim estava ótimo, pois àquela altura eu já tinha uma empregada (dia sim dia não) que, às vezes, ficava em casa cuidando do Ricardo. A vida não estava tão presa, pois o Ricardo ia dormir nos amigos, os amigos vinham dormir em casa, e eu estava começando a namorar a Adriana. Eu já era amigo da tchurma da Adriana há algum tempo, ela havia namorado o Luiz Fiori, e eu havia namorado a Solange, amiga dela. E tinha irmã, amigas e amigos tudo gente finíssima. Churrasco lá em casa e festinhas de fim de semana... Às vezes, íamos prá Itacuruçá, numa ilha onde nem energia elétrica tinha, mas era um paraíso. Lembro duma vez de levar o Julio Venturella, e era assim: eu e Adriana e suas oito amigas - uma mais linda que a outra. O Julio até hoje me agradece pelo presente. Outras vezes íamos prá Cachoeira de Macacu, onde a Vânia tinha uma propriedade cheia de pequenas cachoeiras e água descendo pelas pedras numa sinfonia da natureza. Bebeto volta dos Estados Unidos já namorando a Cristina Bins Ely, mas em poucos meses resolve voltar prá Porto Alegre e retomar a carreira que neste momento estava em grande fase de novas composições, mas precisando fazer shows e gravar. E aí eu fico de dono da casa mesmo. Depois de um ano de namoro, eu e Adriana resolvemos morar juntos e fazemos um casamento simbólico, pois eu não era divorciado. Mauro Taubman resolve me colocar de sócio numa gráfica que ele havia comprado, no Estácio, e que viria a se chamar “Caligraf”. Ficava perto de casa, então ali comecei a fazer a minha parte, que era cuidar das artes e fotolitagem dos impressos. Era uma gráfica antiga, com poucos equipamentos modernos de impressão. O forte dela era a impressão de embalagens de remédios, então a proposta do Mauro, que era imprimir os materiais de divulgação de marca, meio que ficou comprometida, pois não havia qualidade para isto. Fiquei na gráfica por seis meses e devolvi minha parte para o Mauro - para não perder o cliente, pois ali estava um retrocesso no que eu me propunha. Já trabalhava para diversas gráficas, fazendo cadernos, agendas, arquivos, agendas de telefones, estava conhecendo o começo da Zona Norte com a palma da minha mão. Da Lapa, ao Meyer, da Tijuca a São Cristovão, Engenho de Dentro, Jacarezinho, era tudo minha área.

No estudio da Ladeira do Castro

Eu e ao fundo á esquerda, minha casa na Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro

Eu e Ricardo em Santa Catarina

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Biografia do artista Época do sucesso do rock carioca: Blitz, Paralamas, Barão Vermelho, Cazuza, Kid Abelha. Circo Voador pegando fogo na Lapa todos os fins de semana. Tinha um amigo de Santa, o Ivo Setta, que conheci jogando futebol no Caxinguelê. Ele era gerente do Circo Voador, então a partir da quinta era meu telefone tocando, e as amigas da Adriana atrás de ingressos. Como os trabalhos estivessem começando a diminuir, resolvi arrumar um emprego. Me convidaram prá trabalhar na Fjord, que usava a grife Chopper. Comecei trabalhando em meio turno, mas no terceiro mês já me aumentaram carga horária pro dia todo, com direito a almoço com a diretoria. Ali fazia toda a programação visual, desde tags, marcas, bordados, anúncios, criava padrões de tecidos, estampas, vitrines... Lembro duma vez ter ido à Fenit, em Sampa - a Chopper tinha uma loja finíssima na Oscar Freire-, e pintar in loco o stand da Chopper. Fiquei hospedado no Maksoud Plaza, saí de lá de manhã, num alvíssimo macacão branco e, à noite, quando voltei estava uma sujeira só. Resolvi entrar pela garagem prá não dar bandeira, mas estava tão cansado que apontei o saguão e nem me preocupei com a pinta. Nestes tempos comprava muita roupa da fábrica a um preço inacreditável, tipo, um blazer que na loja custava 70 alguma coisa, eu pagava 2. Com um pingo do meu salário enchia duas malas de roupas da melhor qualidade. Adriana estudava Decoração de Interiores no Fundão, então como tinha uma grana guardada, comprei meu primeiro e único carro, uma Brasília branca, para que ela pudesse ir todos os dias para a faculdade. Em menos de um mês, roubaram o carro e nunca mais o recuperamos. Este emprego durou mais ou menos um ano e meio. Era uma época dura de inflação mensal de 30%, uma recessão da fábrica me custou o emprego. Também minha profissão é uma das que menos estabilidade dá no emprego. A necessidade de novas linguagens visuais faz com que a rotatividade nesta profissão seja grande. E as novidades na vida também vinham a galope: Carmel fora encomendada e já já a família aumentaria. Um cliente de peso apareceu neste ano: como minha pintura de airbrush se adaptava a vários modelos, uma encomenda da HStern me abriu a porta deste cliente. As vitrines da HStern eram e sempre foram muito sofisticadas, aliás, eram todas produzidas num prédio de 12 andares em São Cristovão e, dali, enviadas para todas as lojas do Brasil. Comecei fazendo pinturas em acrílico imitando vidro jateado - que era uma técnica caríssima para ser usada em vitrines. Durante quase dois anos sempre aparecia algum trabalho da HStern e era uma beleza, pagamento na hora em dinheiro. Fiz vitrines para lojas do Fashion Mall, várias lojas do Rio e de outras partes do país. Arrumei outro emprego, na Anonimato, uma cadeia de lojas grande, tinha umas vinte lojas e sua especialidade eram as t-shits. O dono era outro Mauro, um cara loucão que não tinha respeito por nada. Ali eu fazia as vitrines das lojas e comandava a equipe de estamparia. Era uma fábrica antiga em São Cristovão. Lembro que durante o ano que ali trabalhei fui chamado para fazer um cenário duma cena do filme “A grande arte” de Walter Salles Jr. Inventei uma doença e passei uma semana nos estúdios no Cais do Porto pintando dois painéis de 12X8 e 8X8, que retratavam o que se enxergava de dentro de um cortiço na subida de Santa Tereza, ao lado dos Arcos da Lapa. Jejo e Zé Alfredo lá estavam participando do trabalho comigo. Com a grana que ganhei ali poderia pagar o parto da Carmel na Casa de Saúde São José, onde ela nasceu. Graças a Deus não precisei gastar, pois quando entrei na Anonimato fizeram um plano de saúde empresarial, que cobriu o parto.

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Cristina Bins Ely, Bebeto Alves e eu Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro

Lauro, Therezinha, Adriana, eu, Susana e Odilo. Casamento na Adalberto Aranha Tijuca

Ricky e Adriana


A Anonimato logo dançou, e eu continuei correndo atrás, fazendo freelas por tudo quanto era lado. Um dia respondi a um anúncio de jornal da Marisol, de Santa Catarina, procurando um programador visual que residisse no Rio. Chamado a São Paulo para avaliação, ganhei o trabalho. Trabalhando junto com Sálvia, estilista que também morava no Rio, íamos uma vez por semana a São Paulo - onde ficava o Marketing da empresa. O trabalho era fazer toda a criação da Criativa, grife feminina da Marisol, passávamos a principio alguns dias em Sampa, visitando os Bureaus de moda onde montávamos apresentações de tendências para a próxima coleção A partir da aprovação deste começávamos a criar a coleção em si, não sem antes preparar um show que era apresentado em um hotel para vendedores de todo o Brasil. A partir dai começava a montagem da produção, com uma semana de trabalho na fábrica principal, eram 14, em Jaraguá do Sul. Ali começava a produção e escolha de cores para as peças, com bandeira de cores para impressão em uma variedade enorme de tecidos. Cada peça tinha pelo menos 15 cores diferentes, e as estampas mudavam de cor de acordo com a cor do tecido. Isto numa época sem computador, ou seja, eram tabelas e mais tabelas de cores. Trabalho difícil, pois éramos os únicos “estrangeiros” na fábrica, e os empecilhos eram criados a todo instante. A fábrica tinha acabado de adquirir um jogo de impressoras Schenkel de serigrafia que possibilitava a impressão em quadricromia nas peças. Quando tentamos criar estampas que usassem esta técnica, fomos veementemente podados. Mas mesmo assim, devido à qualidade do desenho, tanto na elaboração das peças que a Sálvia era expert quanto nos meus desenhos de estamparia e tags, deu tudo certo, e a primeira coleção passou com louvores. Nossas ideias para estamparia em quadricromia foram usadas na coleção da Marisol. Quando iniciamos a segunda coleção, fui convidado para fazer as artes da coleção infantil que estava iniciando, a “Lilica Ripilica”, junto com Cristiane Donini. Era um trabalho bastante prazeroso, tanto pela formatação das coleções como pela liberdade que eu tinha no ir e vir. Toda semana, uma reunião em Sampa: eu pegava um ônibus de manhã cedo e voltava à noite de avião, assim como as idas à fábrica em Jaraguá e às apresentações de coleção. Numa delas em Itapema, além de fazer a criação dos painéis com as peças, com as tendências daquela coleção, ainda colaborei com a projeção de slides e a trilha sonora do desfile. Rolava o ano de 1990, na política o “caçador de marajás” enganou todo mundo e de uma canetada ficou com o dinheiro do Brasil inteiro. Naquela época, com inflação de 30 a 40% ao mês, todo mundo era “obrigado” a deixar o dinheiro que tinha na poupança ou ele dançava. O ultimo mês do Sarney deu 82% de inflação, e ele ignorou isto, deu calote e depois ainda roubou a poupança do Brasil inteiro. Eu com dois filhos e mulher para sustentar, graças a Deus não tinha ninguém doente, passei do jeito que deu. Lembro de, depois de ter retirado acho que lá pelo terceiro mês a minha cota de 500000, fui ao banco Itaú e ao ver meu saldo tinha 50000 disponíveis, fui no caixa com o cheque e o cara foi verificar, voltou dizendo que como eu já havia retirado a minha cota não poderia retirar. Argumentei que estava ali disponível, e ele respondeu que se eu retirasse poderia ser acusado de crime. Eu disse prá ele “qual é seu fdp, tá me chamando de ladrão?

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Daniel, Paulo, Carlos, Marta, Laura, Ricky e Jorge 1987

13 de outubro Casa de Saúde São José Humaitá Rio de Janeiro Carmel Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro

Anonimato São Cristovão Rio 1989

No tempo da Marisol o cabelo tinha que estar sempre amarrado.


Biografia do artista

Chama o gerente que eu quero meu dinheiro agora”. Ele foi obrigado a me dar o dinheiro, e lá em casa a situação folgou um pouco, mas imagino os milhares de velhos, doentes, gente que tinha que pagar uma cirurgia, um remédio, pelo Brasil afora... Pessoas que não tiveram a mesma sorte e certamente faleceram pela falta de recursos. Depois com o impeachment do Collor numa canetada só ele se livrou de toda a culpa. Meu contrato com a Marisol durou menos de dois anos, com o fechamento da unidade de Marketing de São Paulo - que nos contratava, dançou este trabalho. Mas a “banda nunca parou de tocar” e, através de amigos, fui com a Adriana numa reunião no apartamento do Nelson Motta, em Ipanema. Ali fechamos um acerto de trabalho, e eu comecei a fazer todos os painéis do “Noites Cariocas”, no Morro da Urca. Foi quase um ano pintando em casa ou direto no local e também um ano de muitas idas ao Morro. Os amigos ligavam sempre atrás de ingressos, que eu conseguia com relativa facilidade graças ao Duda e ao Rutílio, da administração. Nesse meio tempo, com a Carmel novinha, resolvemos nos mudar de Santa para a Tijuca, aliás, em frente à casa dos meus sogros. Foi uma escolha errada, principalmente porque eu sabia que quando a gente sai de casa do papai e da mamãe a melhor escolha é manter certa distância. Meus sogros, Lauro e Terezinha eram nota mil, sempre nos ajudando no que fosse possível. Ai a situação foi piorando, os trabalhos minguando, não só para mim, em todo o Brasil. Meu sogro, com uma remuneração de anos de trabalho recebeu um dinheiro e resolveu abrir uma padaria no quarteirão onde morávamos, e nós abraçamos a situação, pois seria a melhor forma de lutar contra a recessão. Passei de artista gráfico a gerente de padaria, fazendo desde o trabalho de compras ao atendimento no caixa. Durante os sete meses que ali trabalhei, acordava às 5 da manhã todos os dias, abria a padaria e, no final da manhã, ainda ia ao centro fazer as compras de produtos no Saara. Nesta época, meu irmão Paulico estava morando conosco. Ele atacava na padaria à tarde até fechar, pois tinha um deck onde as pessoas iam tomar cerveja no final da tarde, e ele acabava fechando depois das dez. Neste meio tempo meu casamento foi pro espaço, normal né, enquanto a luta tá dando certo tudo funciona. Quando ela fica difícil todo o resto fica difícil. Conversando com meu pai, ele me deu a dica, manda o Ricardo prá cá nas férias e vai te preparando. Como eu não tinha outra saída, fiz o que podia, arrumei minhas malas e voltei prá casa do pai. Neste ponto eu sempre me dei muito bem com meus pais, fazia muito tempo que levava a vida sozinho, mas o apoio deles estava sempre no ar, presente. Juntei uma parte das minhas coisas, matériais de pintura, meus discos e livros o que deu prá botar no ônibus e dei adeus a mais uma tentativa de ter uma família. Meu irmão ainda ficou um ano por lá, trabalhando na padaria até quase ela fechar. E eu, treze anos depois, de volta a Porto Alegre... Casa, comida e roupa lavada e ainda com o Ricardo e seus 14 anos. O começo foi mais difícil. O primeiro inverno depois de 13 anos, consegui que o Ricardo ficasse na escola pública onde eu havia estudado quando criança. A qualidade da escola pública no RS, apesar dos pesares, dá de dez na do Rio. Mesmo que Leonel Brizola, nos dois mandatos, tenha investido em seu carro chefe - os CIEPS, a maioria das escolas públicas foi deixada de lado.

Eu & Carmel na Adalberto Aranha, Tijuca

Um aninho com 39 graus de febre

Na porta do edificio da Adalberto Aranha, Tijuca

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Os bandidos decidiam quando a escola abria ou não. Aqui a qualidade do ensino melhorou a capacidade de aprendizado do Ricardo, e já no segundo ano eu conseguia pagar uma escola particular para ele. Demorei um bom tempo até começar a trabalhar. O gaúcho não tem a vivência do carioca, acostumado como cidade turística a conviver com gente de todo o Brasil. Aqui pegava minha pasta e batia aqui e ali e só o que ouvia era passa daqui a um mês que agora estamos muito ocupados. Os diretores de criação e de arte morrem de medo de perder seus empregos, então, a maioria não te atende, numa troca que prá mim era uma importante forma de atualizar seu trabalho. No Rio, onde trabalhei sempre fiz questão de receber novos artistas e aprender com eles o que de novo se estava criando. Mil novecentos e noventa e três trouxe para mim a ferramenta que acabou com o valor que tinha meu trabalho anterior, a computação gráfica iria jogar todo mundo dentro de um mesmo saco, os geniais e os medíocres. E as agências souberam como aproveitar isso. Os salários na área tiveram uma desvalorização que chegou a mais de 500%. Mas, eu não podia ignorar e me atirei de cabeça na nova ferramenta. Meu irmão, Cako, tinha uma firma de sonorização, e eu ia lá pro escritório dele e passava horas aprendendo a mexer com o Corel e o Word, que eram os programas que mais se usava. Tentei nessa minha volta à cidade dar um up na minha carreira de pintor, fiz uma exposição na Cervejaria nº1 e, logo a seguir, na Casa de Cultura Mario Quintana – onde, atrelado à exposição, tentei dar um curso de aerógrafo. Mas, a divulgação feita pela CCMQ não me trouxe aluno nenhum, e o curso não saiu. Interessante foi, durante a exposição, receber as turmas de crianças de escolas e responder às suas perguntas sobre como que eu executava aqueles desenhos. Este tipo de recepção eu não estava acostumado a ouvir, então por esse lado foi muito interessante. A arte comercial é toda baseada em uma resposta rápida e rasteira: gostei e meu público gostou. Se não houver essa resposta, pode parar e procurar outra área. Você não vai ter trabalho! Na pintura, não como negócio, é claro, pois aí eu nunca tive uma resposta positiva, sempre tem a opinião de todo o tipo de público, desde os mais cultos aos totalmente incultos, e isto cria outro tipo de parceria - que parece que o dinheiro não está envolvido. Passei este pouco tempo após minha volta a Porto Alegre me dedicando a aprender a nova ferramenta: computador. Logo veio a morte da Lory, mãe do Ricardo, que era esperada, pois ela tinha Aids desde 89 e, infelizmente, naquela época não havia ainda o coquetel de drogas que mantem vivos os portadores. Nessa aí foram vários amigos, como Caio Fernando Abreu, Mauro Taubman e outros que por alguns anos teriam escapado com vida desta doença. A esta altura já havia aprendido a lidar com os programas de computação e aluguei um espaço na nova sede da Vento Norte, do meu irmão Cako, onde eu teria como lidar tanto com o computador como pintar grandes painéis. Fiz vários cenários para o Centro de Sports Gaúcho, do Ricardo Barroso. Calé criava uns cenários mirabolantes, que na maioria das vezes eram destruídos ou rasgados em cena. Dali, fui trabalhar na Kromak, de Marcus Luconi, onde desempenhava um papel triplo: era diretor de arte, atendimento ao cliente e construtor de cenários. Fazíamos catálogos de moda para quase todas as confecções da área de malharia, como Hering, Malwee, Marisol, Sul Fabril. A partir dum briefing eu criava os cenários, muitos construídos a partir de material de demolição que eu também buscava com a equipe de produção.

Carmel, Adriana e eu no primeiro aniversário

Finocchiaro Ferreira Bolsoni Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro

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Meu canto de pintura na Kromak

Ilha do Papagaio 1996

Foto de Claudio Cauduro

Construía e pintava os cenários. Aí tomava um banho e subia prá sala de computação, onde nos Mac criava e montava os catálogos, normalmente com alguém da fábrica nas minhas costas palpitando sobre tudo. Às vezes era mais interessante, pois viajamos com a equipe toda e ficávamos em algum resort ou hotel fotografando e criando o catalogo. Nessas viagens, como não havia cenários a montar, eu ajudava fazendo o still das peças e escolhendo ambientes para as fotos. Às vezes ainda trabalhava como Polaroid Man, quer dizer, como não havia como identificar as fotos, eu sentava durante as sessões e desenhava a situação toda para identificar os modelos. Foi uma boa época, tendo feito mais de 40 catálogos, além de cenários para fotos da Playboy. Paralelo à Kromak, continuava com meu estúdio junto à Vento Norte. Aqui já estamos pelo ano de 1996. Fiz mais alguns freelas para Marco Andras, outro fotógrafo, e continuava pintando telões com minha técnica de aerógrafo. Lá por 97 fiz uma pintura grande para o Felipe Helfer, que fazia os cenários da RBS, e esse me abriu uma porta de trabalho que me manteria mais alguns anos. Com uma grande mudança no cenário do Jornal do Almoço da RBS, peguei o trabalho de pintura do novo cenário. Foram vinte e poucos cenários pintados para todas as retransmissoras do JA que tinham material local no ar. Os cenários de Porto Alegre e Florianópolis foram pintados nos locais. Os outros, pintei no meu estúdio. A partir dali cheguei a ter 80% dos cenários da RBS pintados por mim. Foram os novos cenários da TVCOM, do Teledomingo, da nova redação na Zero Hora, cenários das Eleições. Em 1999 ainda fiz aí com minha criação o Bom Dia Rio Grande, foram 28 cenários pintados por mim com a ajuda de meu irmão Paulo e depois ainda, com uma equipe da RBS, montamos os 26 cenários por todo o RS e SC. Neste período perdi meu espaço na Vento Norte, que havia se mudado para outro depósito onde não poderia haver pintura, então passei a fazer minhas pinturas na minha casa mesmo. Ricardo agora havia começado a fazer Jornalismo na PUC. Continuávamos morando com o pai e com a mãe e com o Paulo que havia voltado do Rio em 94. Infelizmente, em casa a situação começou a ficar complicada, meu pai descobriu um câncer praticamente incurável prá quem a vida toda fumara de 2 a 3 carteiras de cigarros por dia. Descobriu-se o câncer em março e, em agosto, depois de idas e vindas ao hospital, ele veio a falecer. Isto foi em 2000. Eu continuava a fazer meus freelas, algumas capas de disco, cenários para o evento de entrega do Troféu Açorianos, capas de livro, etc. Em 2003 mais uma má noticia, minha mãe fora diagnosticada com Alzheimer, o que mostrava uma vida pela frente cheia de cuidados e atenções que ela antes, cheia de vida e de disposição, não precisava. Como eu e meu irmão morávamos ali, coube a nós esta tarefa. No mesmo ano ainda, ao fazer uns exames descobri que tinha Hepatite C, o que me fez na mesma hora parar de beber. Nunca fui um bebedor contumaz, mas gostava de tomar minhas cervejas, então a única decisão a tomar era parar definitivamente. Aliás, no momento que estou escrevendo, estou fazendo um tratamento no qual já zerei o vírus, mas tenho 10 meses de tratamento. Vou curar, mas serão ainda dez meses de um cansaço só causado pelos remédios. Tenho escrito de manhã e continuarei a montar este livro nesse horário, no qual me encontro em melhores condições, porque à tarde fica impraticável.

Foto de Paulo Jardim

Biografia do artista

Preparando um still para catálogo da Hering na ilha do Papagaio

Paulico, Xanda e eu na frente da casa do Olyntho Praia do Rosa 1999

Jornal do Almoço 1998 Florianópolis

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Nestes meus vinte anos, desde a volta do Rio de Janeiro, criei uma paixão pela bicicleta só interrompida pelo meu namoro com Rossana Sacco, pois os fim de semana passava todos com ela. Desde 1994, praticamente todos os fim de semana, e somente neles, saio de bicicleta a rodar pela cidade. Faço vários caminhos, desde sair da Zona Norte, ir até o Centro, dali - pelo Parque Marinha do Brasil até Assunção, de lá a Ipanema e voltando pela Cavalhada até a Salvador França. Em dias que não estou com tanta disposição, desço até a Redenção por vários caminhos, tanto pela esquerda - via Partenon ou pela direita - via Encol/Parcão/ Independência. De lá, pego a Usina/Marinha/BeiraRio e depois volto. São pedaladas de 3 a 4 horas por dia que, somadas às caminhadas que faço de vez em quando indo ao Centro e voltando, fazem de mim um semiatleta, me mantém em forma e com disposição. Sem falar da única briga feminina que eu disputo, que é com a minha barriga. Nesses vinte anos pedalando devo ter caído uma meia dúzia de vezes da bicicleta e, uma vez, descendo a milhão a Carlos Gomes, enquanto preparavam a Perimetral, eu, como tenho uma mania circense de andar sem as mãos me equilibrando na bike, fui tocado por uma van e me esborrachei no chão quebrando o punho. Aliás, minha única fratura numa vida toda. E o único acidente em 20 anos de pedal sem as mãos. Acho que estou no lucro. Em 2004 fui trabalhar uns meses em Uruguaiana, fazendo a campanha do prefeito local e sendo assessor do Bebeto Alves, que era secretário da Cultura. Era um vai prá lá vem prá cá danado no meio daquele frio que era Uruguaiana. Como resultado não valeu nada, pois roubaram meu violão Epiphone - o que me deixou com a pulga atrás da orelha, pois ninguém me ajudou em nada para conseguir meu violão de volta. Praticamente, troquei meu trabalho pelo roubo do violão. Lidar com animais políticos só pode dar nisto mesmo. Eu que sempre fui acostumado, ao fazer um trabalho, aos passos: criar, negociar, executar e receber, estava agora lidando com outras formas de trabalho. Enfim, mais uma experiência de vida.Em 2005 meu irmão Cako morre de ataque cardíaco aos 46 anos, uma perda terrível para a familia, assim de repente, apesar do destino mostrar mais uma vez a sua mão. Em 86 meu primo Foguinho morreu da mesma forma, durante um jogo de futebol e com a mesma idade. Aqui começo uma parceria com o Luiz Antonio Corazza e o Clube dos 13. Durante três anos fazemos o material gráfico e publicitário do clube. São kits promocionais para a venda do televisionamento dos jogos no Brasil para o mercado asiático e europeu. Revistas, folders, convites, sacolas, mimos com as marcas do Clube, tabelas de jogos. Meu trabalho com o airbrush ficou prá trás, vencido pelos plotters de impressão que baratearam muito o custo deste tipo de produto - sem falar que a qualidade agora era fotográfica. Lá por 2007, a Carmel vem morar comigo, agora prestes a fazer 18 anos. Foi muito bom, pois em um ano conseguiu vencer o atraso do colégio no Rio e, inclusive, seu primeiro vestibular fizemos juntos: Design de Produto na UFRGS: rodamos os dois. Eu tinha tentado, desde o tempo que namorava a Rossana, que aliás me deu muita força no sentido de procurar o que fazer agora que a época da aposentadoria se aproximava...

Everton Pires, Tuio Franco e eu

Eu, Rossana e Jakka no Rosa.2005

Meu mano Cako Bolsoni viajando mandou esta prá Carmel

Claudio Levitan, Flavio Chaminé e eu no Bar do Beto.

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Biografia do artista

Como eu não havia cursado faculdade, e para ser professor de alguma coisa não basta saber, tem que ter o canudo, então quando estava com ela fiz três vezes vestibular de Belas Artes, mas como não estudei nada tomei pau nos três, em Design de Produto não haveria de ser diferente. Hoje em dia não adianta ter 40 anos de profissão, ter trabalhado com os profissionais mais competentes do país, para as maiores empresas do país, sem o canudo você não pode ensinar ninguém e aí você passa por situações como uma que eu faço questão de contar aqui: convidado pelo meu amigo Kaplan, fui na Fischer, agência do Universitário para fazer um trabalho. Banco de uma hora... Sento à mesa com a atendimento e três guris de 20 a 25 anos. Eles olham meu trabalho, três posters imitando cartazes aquarelados de cinema dos anos 30. Ai me pergunta a atendimento se eu teria condições de fazê-lo, eu disse que sim. Eles foram embalar os layouts e levaram um cd com meu portfólio. Mais 30 minutos, voltam, e ela me diz que como não tinham visto nenhum trabalho similar se eu concordaria em fazer um teste. Não!, respondi na lata, eu poderia fazer um dos cartazes como teste, se aprovado faria os outros senão me pagariam 20% pelo meu trabalho. Disseram que me ligariam. Mentira, pois era sexta e o primeiro cartaz teria que ficar pronto na segunda. Então é isto, quatro guris que não sabem nem usar um lápis direito quanto menos pintar com aquarela, gouache ou seja lá o que for e que estão acostumados a montar layouts a partir de trabalhos de uma vida, escaneados, fotografados ou recolhidos da internet são teus juízes. A escala de valores virou de ponta a cabeça. E tudo com quatro anos de uma faculdade que pode ter sido feita, como se diz, nas coxas. Em universidades onde o que vale é o quanto tu paga por mês. Não é necessariamente uma indignação, pois eu tenho convivido com essa troca de valores com os anos. Uma faculdade você compra hoje, uma profissão você compra, um currículo você constrói escrevendo, um site você maquia como se sua empresa fosse a melhor. E mais de 40 anos de profissão, trabalhando com alguns dos clientes mais exigentes do mercado nacional num determinado momento não valem como aval de conhecimento e capacidade profissional porque você não cursou quatro anos de uma faculdade, que em muitos casos os professores são pessoas que nem tiveram uma experiência profissional completa. Às vezes, nunca tiveram um cliente que avaliasse suas criações. Aqui estou eu nestes últimos anos e tenho feito não o que eu poderia considerar um final de carreira, pois a qualquer hora aparecem novos trabalhos. De 2004 a 2011 minha vida ficou um tanto quanto dividida pela continuação do meu trabalho pelos cuidados que tivemos eu e, principalmente, meu irmão Paulico, em tomar conta de minha mãe - que o Alzheimer foi transformando de uma pessoa extremamente ativa e cheia de vida em alguém que não podia ser deixada sozinha pois algum acidente podia acontecer. Os dois últimos anos foram bem pesados, mas assim como meu pai, o que levou ela daqui foi um câncer do pulmão, como a gente diz aqui, graças a Deus. Do ponto de vista da minha mãe, principalmente, pois não chegou a sofrer tanto quanto meu pai, pois não tinha o conhecimento que estava sofrendo.

Eu e o meu Epiphone

Secretaria da Cultura Uruguaiana 2004

Ricardo & Carmel

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Aliás, detesto quando acham engraçado o esquecimento dos portadores de Alzheimer, chamávamos minha mãe do nome da pilha aquela que durava muito, Duracell, porque ela não parava quieta. Minha mãe tocava Mozart, Chopin, e quando o Alzheimer chegou, em três meses, ela só sabia tocar o bife. Então, porra, o que tem de engraçado nisso? Quando ela chegou ao grau 10 do Alzheimer, que começou a ficar prostrada na cama, em menos de um mês o câncer a levou. Permanecemos aqui em casa eu, Carmel e o Paulico. O Paulico logo se mudou para o Rosa e, enquanto não conseguimos vender a casa, eu, Carmel e Ricardo usufruímos os últimos tempos desta que sempre foi um símbolo de felicidade, gente cuidando de gente, portas abertas aos amigos, aos amigos dos amigos. Acho que conservamos o espírito de meu pai e minha mãe. Continuo trabalhando sempre dizendo que preferia trabalhar mais 70% e receber mais 100% do que consigo hoje em dia, mas é que também os tempos mudaram muito. As cobras estão cada vez mais soltas por ai, o momento político é todo o resultado da ditadura que se perpetua sem a tortura por motivos políticos, mas a pior, por motivos financeiros. Quem tem está garantindo não só o seu, mas duas ou três gerações familiares. Então dá prá notar o que vem pela frente. Minha criatividade está tão afiada quanto nos velhos tempos, e os novos recursos (que apesar de jogarem tudo num mesmo saco) tem as suas qualidades. Eu as tenho aproveitado, principalmente para fazer um reestudo da minha criação. Em vez de me aproveitar do trabalho dos outros, eu faço isto com o meu, recriando partes do meu mundo, afinal é isto que é 100% Ricky Bols.

Susana e eu em 2008

Rossana e eu nos meus 55 em 2007

Fenavéia 2012 no Portinho do Rosa Sul

No Rosa Norte em 2013

Meus pais Odilo e Susana a quem dedico este livro

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Parado

Então é isso. Vamos escrever. Qualquer coisa. Amores, horrores, o que passar pela cabeça. Tens dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Ou quer viver muito mais. Se atirar em alguém como se este alguém fosse uma tábua da salvação ou um galho onde se pudesse agarrar para não cair. Que falta que faz uma mulher na vida de um homem. Para admirar, para odiar, para amar E não uma coisa que se tenha, é alguém para respeitar e ser respeitado. Puta que o pariu como é dificil.. Acho que não é nada de idealismo. É só uma figura, para quem desenha como eu. Eu amo. Não quero mudar nada. Quero conviver. Quero empurrar. Quero ser empurrado. Não prum abismo, prá cima, prá baixo, pros lados , prá dentro, prá fora. Fora deste mundo. Me grudar feito superbonder. E ainda querer mais. Ficar feito noite escura de fogos de artificio tudo estourando. Ensurdecedor alívio. Não quero elogios. Troco por dinheiro. Não quero dinheiro, troco por beijos. Toda hora. Não troco por nada nadar. Nem que tenha que carregar. Sou forte. Magrinho e forte. Nunca dispensei de ajudar. Só um pensamento. Vontade de chorar. Como em qualquer imagem de pais e filhos, de amores perdidos. Bonecos frágeis que nós somos. Sólidos como rocha no orgulho de sermos homens frágeis como papel no ceder para não sonhar. Vai acreditar nos sonhos vai. Só nos acordados. Enquanto o tempo passa e nós vamos pensando em nós mesmos. Tem que ser egoista nesta terrinha pô. Mas será que tem que dar a mão, o braço, a perna, o pau, o desejo que não realizou , a pedra que não atirou, a musica que não cantou, o charme que não encantou. Será que tem que dar. Sou um, chato,bobo,quieto,que fala prá si. De si. E não sabe uma nota de música.Prá não se incomodar. E aí? Tem uma certeza nisso,tem coragem, tem desprezo? Não tem mais o que fazer. Quando é que vai dar.E entre todas as opções fico esperando que caia do céu quando já está aqui na minha cara a única, a que sempre esteve, como um beco sem saída, morno, sujo, verde e gosmento.

Parado. No ar. Sinto o chão sumir, com nuvens no céu duma ventania só. Tento acordar e só vento só vento. Sonho danado, diferente daqueles em que vôo como num planador silencioso e rasgante. Sonho bisexto como 31 de fevereiro. Como desaniversário. E de todos a melhor parte é o se atirar como se não soubesse o que iria acontecer. Tenho ganas. Sofro o risco. Peço bis e não desisto. O tempo é curto. O vôo é longo. O espaço é justo. Talvez um pouco. E dentre todas as minhas manias a pior é não esquecer. Ou guardar. Folhas e folhas. Rabiscos e riscos. Notas e recibos. Devo, nego e tenho certeza que já paguei. Com a vida. Com o esforço de ser só. Um Ritz Tardes de verão trocando revistinhas na frente do cinema Noites de inverno olhando através das escadas jogadores no cassino Manhã de primavera o sol batendo na cara pelo canto da janela Entardecer de outono, jogando bola até escurecer e sumir a bola. Circus dancing Onde canto danço Onde não tem ranço Onde não encanto Pedaço dum canto Palhaço durango Poema de merda Quem toca É que come É o que... nunca ... Dançou por dançar Estúpido cupido numa época de desamores cansei de esperar sentado joguei a pedra da sorte e nem esperei o resultado.

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Pompa e circunstância

Hidrocor

Dois perdidos numa gota sobre o oceano

Hidrocor e aquarela

That’s the Montagem com desenho de Bruno Schmidt, lápis de cor e lápis

Eles estão vindo Perdido na selva

Aquarela Supermelancolia

Lápis e lápis de cor

Hidrocor e aquarela Queda de nuvens

Visão crítica

Lápis,aquarela e lápis de cor

Butterflies

Desenho a lápis e hidrocor

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Sing this all together

Pena de nanquim

Construção

Hidrocor e aquarela

Desenho a lápis e pena de nanquim


Anos 70 / Pinturas

Doces

O intruso

PĂŠ de flor

Pena de nanquim e aquarela

Exterminador

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

Sua mente deixou seu corpo

Ou pula ou bato

Indio

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e lĂĄpis de cor

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

Voando

Montagem com foto e aquarela

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Yes

Pena de nanquim e aquarela


Solitário

Procurando

Aquarela e hidrocor

Soluções

Pena de nanquim e lápis de cor Remendo urbano

Pena de nanquim e lápis de cor

Pena de nanquim e lápis de cor

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Meliante na esquina

Dilema da higiene dental

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e lápis de cor e aquarela


Anos 70 / Pinturas

Por ali ou por aqui?

Feira do Som ou The seca is over

Pena de nanquim e aquarela Televisão ou?

Nanquim e lápis de cor

Show com apresentação de slides

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Sonho psicodélico

Pena de nanquim e acrilico


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Babydelycia no campo de criquet

Pena de nanquim e Aquarela


Down and down in high society

Pena de nanquim e Aquarela

Anos 70 / Pinturas

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Ei! Voce viu meu sorvete que estava aqui?

Boneco estoura cor

Viva!

Pena de nanquim e aquarela

Caneta de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

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Papagaio

Aquarela


Anos 70 / Pinturas

Parabéns!

Pena de nanquim e aquarela Cowboys em descanso

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

Sem direção de casa

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38

Vovรณ Lilia ao piano

Pena de nanquim e Aquarela


Sonho de uma tarde de verĂŁo

Pena de nanquim e Aquarela

Anos 70 / Pinturas

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A força do coração na mão

Escrita de desejo

Na bola 8

Aquarela Lado a lado

Aquarela O gênio da caneca

Aquarela Na piscina

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Aquarela

Aquarela

Aquarela


Anos 70 / Pinturas

123

Aquarela

Saudade Instantânea Pulando o mundo

Aquarela e aerĂłgrafo

Por ali..

A familia real recebe visita de aliens

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

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Pena de Nanquim e Aquarela


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Da Amazônia à Patagônia

Aquarela


No parque de diversĂľes do tempo

Aquarela

Anos 70 / Pinturas

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Prainha de Garopaba 1972

Aquarela sobre Fabriano

Aquarela sobre Schoeller

O leitor

O tempo nĂŁo espera por nĂłs

Aquarela sobre Fabriano

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Anos 70 / Pinturas

O homem

Passaro

Fagundes Varella

Aquarela sobre Fabriano

Aquarela sobre Fabriano

Aquarela sobre Fabriano

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Machine dance

Aquarela sobre VergĂŠ


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Ao Vento Norte tanto faz a fĂŠ quanto a sorte

Aquarela


Cio da terra

Aquarela

Anos 70 / Pinturas

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Virgem

Espacial momento

Aquarela sobre Fabriano

Aquarela e colagem

O bom e o mau na balanรงa

Vinhetas para o Fantรกstico

Aquarela

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Vinheta para o Fantรกstico

Pena de nanquim e aquarela

Aquarela


Anos 70 / Pinturas

Duplo olhar

Auto retrato

Aquarela e pena de nanquim

Art Nouveau

Aquarela

Caixa de surpresas

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Aquarela sobre VergĂŠ

Pena de nanquim e aquarela


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Lamento Africano

Aquarela


Psico

Aquarela

Anos 70 / Pinturas

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A bela no campo

Ludwig

Gente feliz

Aquarela e Photoshop

Aquarela

Fumando

Com o destino nas mรฃos

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

Aquarela

Passeando no jardim

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Babydelycia e seu unicรณrnio

Pena de Nanquim e Aquarela

Aquarela


Conto e poesia Pulo por cima da varanda e caio num gramado verde bem verde cheio daquelas florzinhas que a gente só ve nos campos de Garopaba.Parecem flocos de neve caindo num céu azul de uma cidade suiça no verão com tiroleses passeando por pontes entre dois desfiladeiros que dividem um vale enorme cheio daquelas casinhas com telhados enormes e altos para não se carregarem de neve. E assim eu ia passeando com minha cabeça dando voltas e voltas ou era eu que virava? De repente (e tudo acontece assim por mais previsões que eu possa fazer , há sempre uma diferença no que vai acontecer, só que não cabe a mim decidir se ela foi prá mais ou prá menos) . Tão grande como a cara da Marilyn aparecia nas telas eu cresci até um limite muito maior do que a minha própria altura, que eu não acho que seja aquela que me medem quando faço um alistamento ou um exame médico, só que ninguém podia notar isto pois meus olhos não diziam absolutamente nada, a minha boca que costuma falar. Um gato que estava num canto,debaixo da mesa do espelho, porém, o notou. Eu vi quando seus olhos se arregalaram e seus bigodes subiram, tanto que, no momento seguinte ele correu da sala e sumiu da minha vista. Minha tia , surpresa com o susto do gato, perguntou-me se eu havia visto o que havia assustado o pobre animal, mas eu fiz que não a havia ouvido. O tempo passava agora cada vez mais devagar, eu notava o ponteiro dos segundos passando de marco a outro cada vez mais lento. Agora no tempo que eu levava prá cantar um rock n`roll eu cantaria uma ópera inteira mas os sentimentos não estava para uma ópera naquele instante nem os que se seguiram depois. O que eu queria nem eu mesmo sabia só podia mudar cada vez mais ou eram as coisas que mudavam ao meu redor? É acho que eram... Sentei então num sofá cheio de listras azuis e cor de rosa, era como sentar num plano que se perdia no horizonte com mil listras que se chocavam num ponto final. Entre uma destas listras havia um buraquinho por onde se enxergava um mar cor de vinho.Um mar daqueles que a gente vê ao entardecer, quando as cores começam a ficar mais escuras e vivas ao mesmo tempo. Eu, como gosto muito de tomar banho já sai muito alegre para um refrescante banho ao anoitecer. Qual não foi minha surpresa quando tudo sumiu assim como as nuvens ao enfrentar um vento forte e ali estava só um buraquinho num sofá cheio de listras. As coisas agora aconteciam como quando eu fechava os olhos, uma coisa bem aberta aos meus sentidos que como a escuridão sumia com tudo. Uma boca de chiclete de goma que estoura e some, uma explosão em que o tempo não importava e sim o momento, o instante só. Uma lágrima transparente corria pelas folhas cheias de orvalho da manhã, diferenciavase das outras pelo brilho azul que as outras não tinham. Uma espécie de estalo,uma cor a mais no verde daquela manhã como uma cortina psicodélica que desce sobre meus olhos, ela passou na minha frente e foi beber aquela gota pequena. Uma borboleta vinda de trás, só a senti quando um vento fraquinho como nada balançou a minha orelha e tocou um sino que havia dentro dela. O som ficou e continuou com o lindo desenho que eu estava vendo. Virei a folha, a seguinte estava em branco e a outra também até a numeração havia sumido da ultima folha. Nesta havia uma ampulhetinha. O pózinho caia tão devagar que podia ver grão por grão. Às vezes caiam reto, aos pouquinhos. Ficavam voando no ar ao sabor do tempo e depois aterrisavam num monte de eles até que ficassem um ele só. Os ponteiros dos segundos iam agora mais depressa.Opa! Não tanto, por favor. Giravam tão rápido que eu parei o relógio desligando da parede, mas aí tudo apagou e a sala ficou as escuras. Minha tia correu a buscar uma vela. Eu ouvi quando ela passou por mim, sua saia roçou meu pés. Algo pegou fogo no escuro e tudo começou a tremer.Quando a luz apareceu na porta minha tia parecia mais moça, acho que foi porque desliguei o relógio, pensei. As coisas relmente ficam mais jovens quando a preocupação do tempo some dos olhos. Tudo tremia como se estivesse sendo visto por um óculos de grau tão forte como o de Clark Kent. Puff! Escuridão novamente. A vela se apagara e não havia mais fósforos na casa . Agora nada se via e tudo era sentido na cara. Eu não conhecia a casa direito e em tudo tropeçava. Era como andar num trem fantasma numa noite com chuvas e trovões.Tudo parecia que andava e andava roçando no meu corpo. Às vezes era como se me sentisse num poço onde mil coisas flutuavam no ar. Outros brilhos enormes surgiam a minha frente como num espetáculo pirotécnico duma noite de São João sem contudo se revelar o que havia aquém dos brilhos. Uma luzinha pequenina baloiçava aumentando como se chegasse perto de mim. Estiquei a mão e como ela não sumiu, puxei e senti que havia pego algo. Era um vagalume. Sua luz apagava e acendia. Às vezes mais forte as vezes mais fraca. De repente sumiu. A escuridão voltou novamente e aí mais nada aconteceu até a hora em que o pano subiu e um aplauso contínuo revelou a presença de uma mulher na platéia.Ela sorriu pra mim e fechou os olhos.O pano do palco desceu e a escuridão tornou a mim.

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mini continho quarenta horas após seu despertar primeiro, o liquidificador parou. O silêncio fez cosquinhas na cabeça das pessoas e a calma desceu as escadas do sótão para parar em cima das cabeçinhas molhadas. o trem da uma e trinta partiu deixando quatro passageiros muito ocupados em colocar as sobras das roupas(mangas, cordões,lapelas) que haviam ficado para fora das malas. cinco crianças brincavam de pular corda lá no fim da estação quando o trem atrás fazia uma grande curva, por entre os milharais soltando uma fumaça branca e limpa como as nuvens daquela tarde. minha prima não parava de tocar piano quando chegaram as visitas. Cada um subiu rápido pela escada e logo o palco fechou como um olho que se fecha e diz boa noite.

um camaleão, apesar de mudar de cor, não deixa de ser o camaleão que ele é.Na procura de sua marilyn mosca ele vai mudar de cor milhares de vezes.Por entre quadros e quadros: retratos, sonhos desejos, papagaios. Ele sabe escolher os lugares onde parar de acordo com as cores em que ele pode se transformar.A pompa e a circunstância estão contidas em meus desenhos assim como a água.O que acontece quando eu começo a desenhar é que uma saudade instantânea faz com que eu desenhe algo que me motive e às vezes saudade motiva desejo, ou vontade, ou qualquer coisa.

Escrevendo seu nome numa pedra sem futuro perpetuando por um pouco mais nesta o tempo era uma brincadeira de namorados nas árvores, juras eternas de amores perfeitos E o dia em que a natureza novamente os reencontrassem aí sim, mente e corpo assinariam.

Em pedaços cada vez maiores penso em quantas vezes teria considerado o peso duma insolência ou será que isto nem existe mais. Foi numa tarde ensolarada de um mês sem sobresaltos que, depois de carregar toda aquela areia, seu caminhãozinho ficou atolado e não saia mais do lugar. Lugar tentador aquele, não era o paraiso e me prendia daquela maneira. Até gostava.Quando cheguei nem esperava ficar,quando saia sentia saudades quando voltava como se alí fosse meu lugar uno, alguém que nunca deveria ter deixado.Posso? Devo? Não, volto mais tarde Ensolarada

RAW Crú como só. Raw como rude. Esguicho de seiva em casca de árvore. Borracha de pele na relva molhada. Sacode e aquieta, enerva e excita. Grita que ama o que não pode. Recita teu nome...


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Muddy Waters

Aquarela


A Criação

Aquarela e aerógrafo

Anos 70 / Pinturas

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Rita Pavรฃo, Ricky Bols e Neny Scliar

A marca do sexo

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela

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Esperando por ela

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela

O mau e o bom

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela


Anos 70 / Pinturas

Jimmy e Marilyn

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela

Jeff Beck

Luz del Fuego

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela

Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela

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The boss

Aquarela e montagem

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Anos 70 / Pinturas

Sailor

Aquarela

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Ginasta (detalhe)

Pena de nanquim e aquarela

Our house

Pena de nanquim e aquarela

Pontes

Garoto (detalhe)

Ladies & Gentlemen

Estourou a represa! (detalhe)

Pena de nanquim e aquarela

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Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela

Pena de nanquim e aquarela


Anos 70 / Pinturas

Borboleta

Pena de nanquim e aquarela

Para onde vamos, de onde viemos?

Picolé de coração

Flor

Pena de nanquim e Photoshop

Aquarela

Pena de nanquim e aquarela

Apple & Norma Jean

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Aquarela


Na redoma

Aquarela

Sonâmbula

Pena de nanquim e aquarela

By the pool

Aquarela

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Anos 70 / Pinturas

Pine-Top Blues

Pena de nanquim, lรกpis,e aquarela Na praia

Lory F em seu mundo, sua vida

Pena de nanquim e pintura em Photoshop

Aquarela

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DelĂ­rios gauchescos

Caneta de nanquim e Photoshop


Ilustrações, jornal, livro, revista

Ilustrações para jornal, revista e livro

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Caneta de nanquim

Lápiis


Lápis

Zero Hora

Lápis

Zero Hora

Sopro do mundo

Ilustração para “As pulgas” de Rogério Ruschel

Ritchie

Caneta de nanquim

Caneta de nanquim

Caneta de nanquim Ilustrações para jornal, revista e livro

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Capa com Neny Scliar

Caneta de nanquim


Ilustrações, jornal, livro, revista

Jornal de Música

Caneta de nanquim

Zero Hora

Zero Hora

Zero Hora

Caneta de nanquim e lápis

Caneta de nanquim

Caneta de nanquim Ilustrações para jornal, revista e livro

Em Mãos

67

Caneta de nanquim


Ilustraçþes para jZero Hora

Caneta de nanquim

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Ilustrações, jornal, livro, revista

Ilustrações para Zero Hora

69

Caneta de nanquim


Ilustraçþes para Zero Hora

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Caneta de nanquim


Ilustrações, jornal, livro, revista

Ilustrações para

Zero Hora

Caneta de nanquim

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Capas para Revista de Domingo e Guia de Sรกbado em Zero Hora

Caneta de nanquim, lรกpis e montagem fotogrรกfica

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Ilustrações, jornal, livro, revista

Capas para Revista de Domingo e Guia de Sábado em Zero Hora

Caneta de nanquim, lápis e montagem fotográfica

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Ilustrações para Revista de Domingo e Guia de Sábado em Zero Hora

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Caneta de nanquim, lápis e montagem fotográfica


Ilustrações, jornal, livro, revista

Capas para Revista de Domingo e Guia de Sábado em Zero Hora

Caneta de nanquim, lápis e montagem fotográfica

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Retratos em Zero Hora

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Caneta de nanquim


Ilustraçþes, jornal, livro, revista

Retratos em Zero Hora

Caneta de nanquim

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Retratos em Zero Hora

Lรกpis

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Ilustrações, jornal, livro, revista

Retratos em Zero Hora

Lápis

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Paulo Lumumba

“Homenagem” ao governo Geisel

Garota e casas

Aerógrafo e lápis

Aerógrafo e lápis

Amor

Aerógrafo e lápis

Sob o sol

Aerógrafo e lápis

Espantalho

Aerógrafo e lápis

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Aerógrafo , lápis e Photoshop


Anos 80 / Pinturas, ilustrações,

Força e pensamento

Aerógrafo e lápis

A mosca no prato

Aerógrafo e lápis

Violência na pintura

Aerógrafo e lápis

Tortura

Aerógrafo e lápis

Mulher e cidade

Aerógrafo e lápis Mina Fusão

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1º Prêmio Salão de Desenho de Pelotas 1979

Pena de nanquim


Camelo

Aerógrafo e lápis

Super Homem a Festa

Penhasco do Rosa Norte

Caneta de nanquim e aerógrafo

Pena de nanquim e Photoshop Bebeto Alves no Araújo Vianna

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Caneta de nanquim e foto


Anos 80 / Pinturas, ilustrações,

Malas

Ilustração para capa de Revista

Nadante

Gouache, acrilico e aerógrafo

Caneta de nanquim e Photoshop

Pena de nanquim e aquarela e Photoshop

Caneta de nanquim e Photoshop

Ilustração para capa do Guia de Sabado

Ricardo

Gouache, acrilico e aerógrafo

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Pepeu Gomes

Lápis,acrilico e aerógrafo


Jazz

Letras

Aerógrafo e lápis

Aerógrafo com acrílico

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Espirito índio sobre as Missões

Caneta de nanquim, aerógrafo e Photoshop


Anos 80 / Pinturas, ilustrações,

Arara e Tucano ao luar

Jagger

Aerógrafo com acrilico e gouache

Caneta de nanquim e Photoshop

85

Paraquedista

Moça passeando com golfinho

Lápis

Lápis e aerógrafo


Aerógrafo sobre madeira

Stand da Cordoaria São Leopoldo

Vitrine em madeira recortada para Fiorucci

Arte para fábrica de modelos cabine dupla

Quarto de criança

Aerógrafo na parede

Aerógrafo sobre madeira

Pintado em madeira com 9 m / Logo em madeira com 16 m

Aerógrafo

Painéis em acrilico

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Aerógrafo


Anos 80 / Pinturas, ilustrações,

Cadeira vintage

Fachada de locadora

Pintura de deuses Hare Krishna

Decoração de loja

Pintura acrilica com aerógrafo

Pintura acrilica com aerógrafo

Decoração de stands

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Pincel e aerógrafo sobre madeira

Pincel e aerógrafo sobre madeira

Pincel e aerógrafo sobre madeira

Decoração de vitrine Pintura acrilica com aerógrafo sobre madeira recortada


Caderno de Notas

Natal85

Aquarela e Aerógrafo

ContraCapa Revista de Domingo JB

Criação,montagem e arte final Matéria Revista de Domingo JB

Capa de Caderno Anúncio em ““Interview”

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Aerógrafo e Acrilico


Company

Bolsa de papel

Capa de Caderno

Material promocional

Aerógrafo e Acrilico

Aerógrafo e Acrilico

Arte em aerógrafo, gouache e acrílico

Arte em aerógrafo, gouache e acrílico

Material promocional

89

Anúncio em nanquim


ContraCapa Revista de Domingo JB

Capa de Caderno

Aquarela e Aer贸grafo

Aer贸grafo e Acrilico Capa de Caderno

Contracapa Revista de Domingo JB

Aer贸grafo e Acrilico

90

Aquarela e Aer贸grafo

Natal de 1986

Aquarela e Gouache


Company

Arte-Final

Adesivo

Arte-Final

Adesivo

Adesivo

Adesivo

Arte-Final em aerógrafo

Adesivo

Anúncio em Interview

Arte-Final

Acrilico e aerógrafo

Arte-Final

Página dupla em Interview

Caneta de nanquim e Montagem

91

Anúncio em Interview

Gouache, acrilico e aerógrafo

Arte para artigo promocional

Acrilico e aerógrafo

Arte para artigo promocional

Acrilico e aerógrafo


Anúncio em Revista de Domingo JB

Anuncio na Revista de Domingo

Aerógrafo e acrilico

Contracapa em Revista de Domingo JB

Aerógrafo e acrilico Contracapa em Interview

Aerógrafo e acrilico Anuncio em Revista de Domingo JB

92

Montagem e aerógrafo

Aerógrafo e acrilico


Company

Anúncio em Revista de Domingo JB

Anúncio em Interview

Anúncio em Revista de Domingo JB

Aerógrafo e acrilico

Anúncio em Interview

Aerógrafo e Acrilico

93

Xerox, Aerógrafo e Acrilico

Xerox, Aerógrafo e Acrilico


Contracapa Interview

Aerógrafo e acrilico

Matéria da Revista de Domingo do JB

Anúncio Interview

Aerógrafo e arte-final

Pintura em aerógrafo e arte-final

94


Company

ContracapaRevista de Domingo JB

Contracapa Interview

Sing this all together

Aerógrafo e acrilico

Contracapa em Interview

Aerógrafo e acrilico

Cartão Postal

Aerógrafo e acrilico

Aerógrafo e acrilico

Pena de nanquim

Régua promocional

95

Aerógrafo, gouache, acrilico e lápis de cor


Anúncio da Revista de Domingo

Anúncio em Interview

Montagem sobre obras de Barrão e pintura a lápis e gouache

Acrilico e aerógrafo

Anúncio da Revista de Domingo JB

Caneta de Nanquim, Acrilico e aerógrafo Anúncio da Revista de Domingo JB

96

Caneta de Nanquim, Acrilico e aerógrafo


Penso.

Penso agora no que poderia ter sido. E aconteceu! Claro... Lembro sempre como foi. Talvez um momento só. Mas foi bem mais que isso. Alguns anos. Voltar atrás poderia transformar alguma coisa? Talvez. Quando viajantes no tempo voltam costuma-se dizer que tirando Uma folha do seu lugar pode-se impedir que, no futuro, um presidente Seja eleito. E que diz que voltando no tempo aquilo que fiz poderia ser reparado. E como ficaria meu futuro? Não sei. Ë a diferença entre o orgulho e a confiança. Palavra difícil é autêntica. Original. Faca de dois gumes que separa o ordinário do talento. Eu e você ou tu e eu. Como é bom... nós. Não é a toa que também pode ser uma coisa amarrada. Algo preso.Algo necessário à uma solidez. Como um navio preso ao cais. Como um cavalo ao poste. Sempre duas visões, do bem e do mal. Fácil distingui-las. Nem sempre.Fácil é ver suas diferenças. Difícil é escolher uma delas. Nos nossos sonhos conseguimos ir por um ou por outro caminho sem traumas, A não ser o suor ao acordar. No dia a dia , até à noite, os resultados são mais imprevisíveis. Ah! Se eu pudesse voltar. Essa é boa. Ou colocar uma venda e vamos em frente.Seriam iguais? Impulsivos ou tímidos. Seriam os encontros iguais? Acho que os desencontros são iguais. A mágica está no encontro. Numa esquina dum ponto onde passa um bonde chamado desejo. Num beijo. Hoje seria um bom dia. Amanhã poderia ter sido. Depois blau blau. Ficar esperando. Sentado. Cair do céu. Só se for um anjo de asas quebradas. Difícil recuperá-las. Procura-se wanted. Recompensa de mil dólares a quem encontrar qualquer pista. Recompensa-se regiamente quem der.

97


Capa Interna Dupla do album “Extra” de Gilberto Gil / Jejo Cornelsen & Ricky Bols

98


Gilberto Gil / Extra

Gouache, Acrilico com Pincel e Aerรณgrafo

99


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil

Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira

100


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen

Gilberto Gil / Extra

Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira

Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil

101


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil

Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira

102


Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil

Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen

Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira

Gilberto Gil / Extra

103


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen

Gilberto Gil / Extra

Cenário

Jejo & Ricky Cenário do Canecão 1983

Cenário Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Cenário

Pintura em madeira com aerógrafo

104

Cenário

Pintura em madeira com aerógrafo

Repolho no Canecão


Cartazes, Marcas e Folders

Arte em aerรณgrafo arte de Roberto Renner

Arte Final

Arte Final

Arte em aerรณgrafo arte de Roberto Renner

Arte Final

105

Arte em aerรณgrafo arte de Roberto Renner

Arte Final

Arte em nanquim arte de Roberto Renner


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Cenário

Criação e arte-final de néon

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Cenário

Criação e arte-final de néon

106

Cenário


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen

Gilberto Gil / Raça Humana

Cenário

Cenário

Criação e arte-final de caixas de luz com slide Arte-final de Roberto Renner

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Criação e arte-final de néon

107

Cenário

Criação e arte-final de néon


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Gilberto Gil

Foto de Jejo Cornelsen

Grafitti

Grafitti

Grafitti

Grafitti

Spray e aerógrafo Grafitti

Spray e aerógrafo Grafitti

Spray e aerógrafo

Spray e aerógrafo

Spray e aerógrafo

Grafitti

Spray e aerógrafo

Spray e aerógrafo

Grafitti

Gilberto Gil

Grafitti

Spray e aerógrafo

108

Spray e aerógrafo

Foto de Jejo Cornelsen


Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen

Gilberto Gil / Raça Humana

Gilberto Gil

Foto de Jejo Cornelsen

Grafitti

Spray e aerógrafo

Grafitti

Grafitti

Grafitti

Spray e aerógrafo

Grafitti

Grafitti

Spray e aerógrafo

Spray e aerógrafo

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Spray e aerógrafo Gilberto Gil

Spray e aerógrafo

109

Grafitti

Foto de Jejo Cornelsen

Spray e aerógrafo


Gilberto Gil / Raça Humana

Grafitti

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Grafitti

Spray e aerógrafo

Grafitti

Spray e aerógrafo

Grafitti

Spray e aerógrafo

Grafitti

Grafitti

110

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Spray e aerógrafo

Spray e aerógrafo

Spray e aerógrafo


Ilustrações

Chuteiras imortais

Montagem e pintura em Photoshop

Sex Trumpet

Flor na areia Caneta de Nanquim e pintura em Photoshop

Xerox e aerógrafo

Fellatio

Caneta de Nanquim e pintura em Photoshop Chuteiras imortais

Sem direção

Pena de nanquim e Photoshop

111

Xerox, caneta de Nanquim e Photoshop

Trabalhadores

Caneta de Nanquim e Photoshop


Capa de disco

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Capa de disco

Jejo Cornelsen & Ricky Bols

Pintura de ambiente com aerรณgrafo e Lettering

Pintura de ambiente

Capa de disco

Capa de disco

112

Desenho a lรกpis , foto e lettering

Pintura de ambiente


Capas de Disco

Capa de disco

Criação e Arte-final em aerógrafo

ContraCapa de disco

Capa de disco

Capa de disco

Montagem e pintura em aerógrafo

Criação e Arte-final em aerógrafo

Arte-final em aerógrafo

Capa de disco Jejo Cornelsen & Ricky Bols

113

Arte-final em aerógrafo

Capa de disco

Capa de disco

Retratos em nanquim

Arte-final em aerógrafo


Vitrine HStern

Vitrine HStern

Pintura em acrilico com aerรณgrafo

114

Vitrine HStern

Acrilico jateado em aerรณgrafo

Pintura em acrilico com aerรณgrafo


HStern

Vitrine HStern Parati

Vitrine HStern

Acrilico jateado em aerรณgrafo

Vitrine HStern

115

Chapas de Acrilicopintados em aerรณgrafo e pincel

Acrilico jateado em aerรณgrafo


Programação Visual Fjord

Tags, Cartões, Tecidos

116


Ilustrações e impressos

Agendas, Capas de Caderno , Capas de Pastas

Programação Visual Imprimo / Continental

117


Agendas, Capas de Caderno , Capas de Pastas

Programação Visual Imprimo / Continental

118


Foto de Ito Cornelsen

Ilustrações e impressos

Criação e pintura de onibus para catalogo Volvo / com Jejo Cornelsen

Cartaz de Teatro

Pintura em madeira

Arte para lançamento Shopping Iguatemi Metrópolis São Conrado criação de Luis Fiori

Pintura em acrilico com aerógrafo

Pintura de fachada em acrilico com aerógrafo

119

Arte em aerógrafo com Roberto Renner


Arte Final Painel Chopper

Criação e arte Hans Donner e Roberto Renner

Pintura em acrilico sobre madeira com aerógrafo

Aerógrafo e acrilico

Arte para Agenda

Painel Chopper

Pintura em acrilico sobre madeira com aerógrafo

Arte para Agenda

Aerógrafo e acrilico

Arte para Agenda

Criação e arte Roberto Renner

Arte Final

Aerógrafo e acrilico

Arte Final

120

Criação e arte Roberto Renner

Arte Final

Criação e arte Roberto Renner

Arte para Agenda

Aerógrafo e acrilico


Anos 90

LayOut para cartaz “As 7 Vampiras”

Sentado

Lápis e Photoshop

Caneta de Nanquim e Photoshop

Aerógrafo e acrilico

Pintura Casa Olyntho Praia do Rosa 1998

Caneta de Nanquim e Photoshop

Peruano

Ao som

Caneta de Nanquim e Photoshop

Montagem e pintura em Photoshop

Pôr do Sol em Santa Tereza

121


Encarte do disco montagem e pintura em Photoshop

Capa do disco montagem e pintura em Photoshop

Montagem de foto em Photoshop

Montagem de foto em Photoshop

Bolacha do disco montagem e pintura em Photoshop

Capa do disco desenho a lรกpis, foto e montagem

Capa do disco desenho a lรกpis, foto de Irene Santos e Ricky Bols e montagem Encarte do disco montagem e pintura em Photoshop

Montagem de foto em Photoshop

122


Capas de Disco

Capa Flávio Chaminé

Montagem e arte em Photoshop e Corel Draw

Encarte Flávio Chaminé

Montagem e arte em Photoshop e Corel Draw

Contra Capa Flávio Chaminé Montagem e arte em Photoshop e Corel Draw

CapaSergio Boré

Montagem e pintura em aerógrafo

Capa Bixo da Seda

Pintura em aerógrafo com participação de Marco Pilar

123


Jazz

Interior

Montagem de foto em Photoshop

Cavaleiros do tempo

Montagem de foto em Photoshop

124

Sax twins

Desenho a lรกpis, montagem de foto e pintura em Photoshop

Montagem de foto em Photoshop


Colagens

Sete de Setembro com Uruguay

Montagem de foto em Photoshop

Sex piano

Paracaidas en regalia

To In Rosa Sul

Montagem de foto em Photoshop

Gouache, lรกpis, montagem e pintura em Photoshop

Montagem de foto em Photoshop

125

Caranguejo das Arabias

Montagem de foto em Photoshop


Estação SP ( Estação Antiga de Bondinho) Noites Cariocas Morro da Urca Painéil em aerógrafo

Porto Seguro Noites Cariocas Morro da Urca

Painél em aerógrafo

Noites Cariocas Morro da Urca

Pizzaria Via Morano

Expo China

Expo China

Painéis Indicadores

Painéis Indicadores

Expo China

Expo China

Painél em aerógrafo

Painéis, mesas, bancos

Painéis Indicadores

Entrada

Expo China

126

Entrada

Expo China

Painéis Indicadores


Painéis e cenários

Sex on the Beach Praia da Ferrugem

Painél em aerógrafo

Cenário Centro Gaúcho de Esportes

Painél em aerógrafo

Via Morano Praia da Ferrugem

Painél em aerógrafo

Cenário Atlântida Festival

Painél em aerógrafo

Cenário Centro Gaúcho de Esportes

Cenário Garotos da Rua

Painél em tecido com aerógrafo

Sex on the Beach Praia da Ferrugem

127

Painél em aerógrafo

Painél em tecido com aerógrafo


Ariariara Pintura em acrilico sobre tela, montagem e pintura em Photoshop

Butterflywoman

Novo mundo

Aquarela

Fred Astaire

Aquarium gota

Desenho em nanquim

Desenho a lรกpis e pintura em Photoshop

Desenho a lรกpis, montagem de foto e pintura em Photoshop Bols em bolas e cubos

128

Montage de fotos em Photoshop


Ilustrações

Asas sobre nuvens

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Aviso 21Fev99

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Carnaval

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Pintura em Photoshop Mamma’s Alien na Independência Desenho a lápis, montagem de foto e pintura em Photoshop

Aura

Totem

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

129


Cubo icone de site

Totem

Montagem em CorelDraw e pintura em Photoshop

Desenho a lรกpis e pintura em Photoshop

Explode cor!

Mรกscara

Desenho a lรกpis e pintura em Photoshop

Dedo -duro

130

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Ilustrações

Búfalo Retrato de autor

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Montagem sobre foto, pintura em Photoshop

Cavalo

Palhaço

Bass player

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

131

Canto de casa

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim, aquarela, montagem e pintura em Photoshop


Touro

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Bússola

Pintura em Photoshop Audio Visual e Cartaz Homenagem á Chaminé

Splash!

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Entre Anjos & Grilos Programação visual sobre desenhos de Zorávia Bettiol

Duo

Deu Bols na linha

Cenário Prêmio Açorianos de Música 2002

Pintura de aerógrafo sobre tela

Aerógrafo

Logo mailing em Photoshop

Roller

Aerógrafo

Caneta de Nanquim

132

Águia

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Ilustrações

Pirulito

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Boss

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop Comemoração

Criança brincando em riscos

Garota sketch

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Alado

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

133

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Kiss the sky

Montagem em Photoshop sobre foto minha

Surfin Brasil

Montagem e pitura em Photoshop

Máscara sobre o mundo

Desenho a lápis, montagem e pintura em Photoshop


Child of the moon

Aquarela, montagem e pintura em Photoshop

Estabanada

Coeur

Atômicos humanos

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Aquarela e montagem em Photoshop

134

Educação sexual

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Ilustrações

Triste concha

Concha , medusa y el mar

Na paz o rapaiz

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Jóia

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Noel na estrada

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim, montagem de foto e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

135


Logo Pintura em Painter

Garota com flores

Maquiagem

Montagem em Photoshop sobre foto minha e de Bebeto Alves

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Duo do farol

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Entrevinhos ilustração Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Hippo

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop Títeres

136

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Mouse Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Ilustrações

Bússola Pintura em Photoshop

Os cinco sentidos

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Construção Desenho a nanquim e lápis sobre verge e pintuta em Photoshop

Desenho em lápis e pintura em Photoshop Lua triste

Olhar sobre as ondas

Lion Desenho em nanquim

Face out

Surfin’

Montagem em Photoshop Cavaleiro

137

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho em lápis e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Garota com flores

Aquarela e montagem em Photoshop

Gewoman

Gata em ferro e bronze

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

De paraquedas sobre campos de girassóis Montagem em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Gattopardo Convite

Jesus

Garota Atômica

Aquarela e pintura em Photoshop

138

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Montagem em Photoshop

Gaúcho

Desenho a lápis e pintura em Photoshop


Ilustrações

A praia, o seio e o parangolé Desenho a lápis e pintura em Photoshop Ilha do Papagaio

Ilha do Papagaio

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Ilha do Papagaio

Ilha do Papagaio

Ilha do Papagaio

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Ilha do Papagaio

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

139

Ilha do Papagaio

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Cenário para catálogo de moda

Cenário para catálogo de moda

Cenário para catalogo de moda

Cenário para catálogo de moda

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura

Criação, montagem e pintura

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura

Criação, montagem e pintura

Criação, montagem e pintura

Criação, montagem e pintura

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura

Cenário para catálogo de moda

Criação, montagem e pintura Cenário para comercial

140

Criação, montagem e pintura


Kromak

Catálogo de moda Catálogo de moda

Catálogo de moda

Criação, ilustr ações e arte final

Criação, still e arte final

Catálogo de moda

Criação, ilustrações, still e arte final

Catálogo de moda

Criação, ilustrações e arte final

Criação, ilustações e arte final e criação e pintura de cenários

Catalogo de moda Criação e arte final e pintura de cenário

Criação e arte final

Catálogo de moda

Criação e arte final Catálogo de moda

Criação e arte final Catálogo de moda

141

Criação e arte final

Catálogo de moda

Criação e arte final


Catálogo de moda

Criação e arte final

Catálogo de moda

Catálogo de moda

Catálogo de moda

Criação e arte final

Catálogo de moda

Criação e arte final

Catálogo de moda

Criação e arte final

Catálogo de moda

Criação e arte final

Catálogo de moda

Catálogo de moda

Criação e arte final

Criação e arte final

Criação e arte final

Criação e arte final

142

Catálogo de moda

Criação e arte final


Kromak / Marco Andras

Catálogo de moda

Catálogo de fábrica

Criaçáo, montagem e pintura de cenário

Criação e arte final do catalogo e criaçáo, montagem e pintura de cenário

Criaçáo e pintura de cenário

143


Pintura de cenário do Bom Dia Domingo

Pintura com aerógrafo

Pintura de cenário da TVCom

Pintura de cenário do Bom Dia Domingo

Pintura com aerógrafo

Pintura de cenário da TVCom Pintura de cenário do Bom Dia Rio Grande

Pintura de cenário do Bom Dia Rio Grande

Pintura com aerógrafo

Pintura com aerógrafo

Pintura com aerógrafo

Pintura com aerógrafo Pintura de painel para Eleições TVCom

144

Pintura com aerógrafo sobre tela


RBS

Pintura com aerógrafo sobre tela

Pintura com aerógrafo sobre madeira Pintura de cenário do Jornal do Almoço

Pintura com aerógrafo

Pintura com aerógrafo sobre madeira

Pintura de cenário do 24h

Pintura com aerógrafo

Pintura com aerógrafo sobre tela Pintura com aerógrafo sobre tela

Pintura de cenário do 24h

Pintura com aerógrafo

Pintura de cenário do 24h

145

Pintura com aerógrafo

Pintura com aerógrafo sobre tela


Carlinhos Hartlieb abertura de Um risco no cĂŠu

Jungle beat

Aquarela e pintura em Photoshop

Aquarela e pintura em Photoshop

Luz del Fuego

146

Lupicinio Rodrigues

Caneta de Nanquim e Photoshop

Desenho a lĂĄpis, montagem e pintura sobre foto em Photoshop


Anos 2000 / ilustrações e painéis

Michelangelo no Japão

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Revolto

Landscape

Pampa

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Pintura acrilico sobre tela 2,40 X 1,40

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

147

Down

Desenho am Manga Studio e pintura em Photoshop


Mosaico

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Na calma o surfista

Nadadora

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Ouro, água e saúde

Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Por alí

Paisagem sensorial

Paisagem

Aquarelas, foto, montagem e pintura em Photoshop

148

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Orchidae

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Anos 2000 / ilustrações e painéis

Montagem sobre fotos de Alfonso Abraham

Painel para o CEASA

Painel para o Memorial do Rio Grande do Sul

Tigre & Golfinhos

Desenhos a lápis e pintura em Photoshop

Little girl

Desenho a lápis e pintura em aerógrafo

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

149

Golfinhos

Desenho a lápis e pintura em Photoshop


Asas

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Pé na estrada

Tree

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis,montagem e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Independência

Vinheta

Sonhadora

Montagem e pintura em Photoshop

Sopro no tempo

Photoshop sobre foto

Estranho de asas

Desenho a lápis e pintura em Photoshop Relógio das palmeiras

150

Desenho em nanquim e pintura em Painter

Desenho a lápis e pintura em Photoshop


Anos 2000 / ilustrações e painéis

Pássaros & Liberdade

Pintando partes do velho

Terra, Lua & Olhos em campo de girassóis

Desenho a nanquim e pintura em Photoshop

Desenho a nanquim e pintura em Photoshop

Montagem e pintura em Photoshop

151

Suspiram blues

As horas

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Deco

A felicidade é uma arma quente

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis, montagem e pintura em Photoshop

Onda em círculo

Aquarela

Paisagem aérea

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Aquarelas e montagem em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho a lápis, montagem de foto e pintura em Photoshop

Praia do Rosa

152


Anos 2000 / ilustrações e painéis

Objeto na paisagem

Montagem e pintura em Photoshop

Aquarela e pintura em Photoshop

Só no pézinho

PoA Subs

Surpresas

Aquarelas, foto, subs de Ricardo Finocchiaro e pintura em Photoshop

Aquarelas, montagem e pintura em Photoshop

153

Tipos Bols

Aquarela, montagem e pintura em Photoshop


“As aquarelas” (*) de Ricky Bols foram encomendadas especialmente e ilustram o volume 3 “Lili inventa o mundo” do projeto “Coleção Mario Quintana para a infância” realizado e concebido em 2009 pela Aprata e patrocinado pelo Grupo CEEE, através da Lei de Incentivo à Cultura do RS-LIC/SIM. Mais informações: www.aprata.com.br/projetos/33 Aprata- Projetos / Coleção Mario Quintana para a Infância - volumes 1, 2 e 3 www.aprata.com.br

*Aquarela

*Aquarela

*Aquarela

*Aquarela

*Aquarela

* Aquarela

Ilustrações para o livro Lili reinventa o mundo Braille Quintana

154

*Aquarela

*Aquarela

*Aquarela


Quintana Braile / Lili inventa o mundo

*Aquarela *Aquarela

*Aquarela

*Aquarela *Aquarela

*Aquarela

* Aquarela

155

*Aquarela


Luiz Antonio Catafesto

Carmel Ferreira Bolsoni

Mutuca Weyrauch

Bruno Schmidt

Carlos Asp

Leo Ferlauto

Cristina AragĂŁo Portela Nunes Jaqueline Ferri

Cida Pimentel

156


Retratos

Jorge Irigoyen Bolsoni

Caio Fernando Abreu

Deborah Finocchiaro

Edgar Vasques

Kuki Band

Fraga

Renato Endres

157

Luczizz Dy Katransky

Cezar Pegoraro


Rossana Sastre Sacco

Nanche LasCasas

Maia Sprandel

Marco Pilar

Pablo Fabian

Sergio Mazzali

Ricky Bols

Claudio Siboney

158

DedĂŠ Ferlauto


Retratos

Luiz Talema

Ronaldo Morsch

Francine Aita

Jejo Cornelsen

Rossana Sastre Sacco

Maria Luiza Tisi

Santiago Ricky Bols

Neneca Parreira

159


Boneco d’água

Desenho em nanquim arte em Photoshop Onde está o boneco?

O bilhetinho

Michael

Desenho em nanquim arte em Photoshop Canoa à margem

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Boy

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Punta del Este

Pássaros Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

160

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

The Boss

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Ilustrações e Capas de Disco

Capa CD Vagalume de Claudio Vera Cruz

Elefantes & Golfinhos

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Coração de arvore

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Capa Caixa de 3 Cds

Bebeto Alves em 3D

Punta del Este

Mosteiro

Montagem e pintura em Photoshop

Redenção

Montagem de fotos em Photoshop

Jazz & The City

Floating face

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

161


Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para China

Cartão de visita

Calendário do Campeonato Brasileiro para 2007

Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para Dubai

Calendário do Campeonato Brasileiro para 2008

Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para Dubai

Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para Asia

Folder do Campeonato Brasileiro para 2007

162


Clube dos 13

DVD comemorativo aos 20 do Clube dos 13

Sacola para divulgação do Campeonato Brasileiro de 2007

Telefones Úteis

Folders para divulgação do Campeonato Brasileiro de 2007

Revista para divulgação do Campeonato Brasileiro em Singapura

Medalha comemorativa aos 20 anos do Clube dos 13

Livro divulgando o Brasileirão e os Estádios da Copa

163


Cartaz Outdoor para show

Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz Lambe-Lambe para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz para show

Cartaz Lambe-Lambe para show Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz Lambe-Lambe para show

Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Arte em Photoshop e CorelDraw

Arte em Photoshop e CorelDraw Cartaz para show Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

164

Arte em Photoshop e CorelDraw


Abstratti

Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz Lambe-Lambe para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz para show

Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz Lambe-Lambe para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz para show

Painel pintado sobre tecido Cartaz para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Cartaz Lambe-Lambe para show

Arte em Photoshop e CorelDraw

Arte em Photoshop e CorelDraw

165

Arte em Photoshop e CorelDraw

Pintura em acrilico: pincel e aerรณgrafo


Paisagem

Paisagem com fugazes

Nanquim mais pintura em Photoshop

ViolĂŞncia infantil

Montagem com aquarelas e foto em Photoshop

A bahiana

Migalhas

Bota coberta de mariscos na praia

Montagem e pintura em Photoshop

Desenho a lĂĄpis

e pintura em Photoshop

Nanquim mais pintura em Photoshop

Foto mais pintura em Photoshop

Retalhos de areia & allucinations

166

Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop


Ilustraçþes

PĂŠs

Montagem e pintura em Photoshop

Golfinhos

Pulando sobre cogumelos

Heart of Stone

Montagem em Photoshop

Ricky Bols e Maia Sprandel

Montagem em Photoshop

Ricardo Finocchiaro da Sindicatis Bando Pintura sobre foto de Danny Bittencourt Photoshop

Montagem com aquarela em Photoshop

Bela em aguas com medusa

Horse Power

Montagem sobre fotos em Photoshop

Montagem em Photoshop

167

Montagem com aquarelas e foto em Photoshop


Cartaz de Show

Banner

Cartaz de Show

Capela do Jazz Mural

Cartaz de Show

Logotipo CartĂŁo Postal Folder

Anilho de Charuto

Cartaz de Show

Cartaz de Show

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Six

Janelas do Jazz

Montagem em Photoshop

Painel do Rock

Montagem em Photoshop

Pintura de mesas em aerรณgrafo

Jimi Hendrix Pintura em Photoshop sobre foto

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Rio

Mulher

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

Aquarela e pintura em Photoshop

Rio

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

O Pequeno Príncipe

Rio de Janeiro

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Olhos diabólicos

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

Fenavéia 2012

Montagem e pintura em Corel Draw e Photoshop

Desenho, xerox e pintura em Photoshop

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Anos 2010 / Ilustrações

Pé no chão

Naked in the grass

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

Aquarelas e Montagem em Photoshop

Simpático

Desascelerando em paisagem

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

Mama ET

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

Aquarela, nanquim montagem e pintura em Photoshop

Arara Aportando em Imbituba

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop

Peixe

Pintura em Photoshop

Máscara facial

Montagem e pintura em Photoshop

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

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Na praia

Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop


Garota tocando no deserto

Desenho a lapis e pintura em Photoshop

PiĂŁo rodando na areia

Garoto, pitanga, mĂ­ssil, bota, escondido na selva Sketches on the sand

Tormenta em azul

Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop

Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop

Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop

Pintura em acrilico sobre telae montagem de aquarela em Photoshop

Areia

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Desenho em Manga Studio mais pintura em Photoshop


Anos 2010 / Ilustrações

Woman

Garota em riscos

Pintura em Corel Painter

Desenho a lápis

Idéia

Desenho em lapis e pintura em Photoshop

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Visão de criação

Desenho em nanquim e pintura em Photoshop


Paisagem

Yang& Yin

Desenho a lápis e pintura em Photoshop In another land

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Na onda Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop

Montagem co aquarela e pintura em Photoshop Seios

Pensadora

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Semeador Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop

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Caroneiro

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Guitar

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

Desenho a lápis e pintura em Photoshop

O giz e o mouse Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop


Anos 2010 / Ilustrações

Fingerprint percussion

Desenho nanquim e pintura em Photoshop

Capa Esquina Maldita de Paulo César TeixeiraEtra Sobre foto de Dulce Helfer e Design de Clô Barcellos

Fingerprinteyes Fingerprinteyes texture

Desenho nanquim e montagem em Photoshop

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Desenho nanquim e pintura em Photoshop


Em uma pequena casa, numa vila de pescadores, entre cães e gatos, a vista perdida prum mar desencontrado e barullhento. Chain lighting it feels so good. Compromisso não tinha. Se queria cumpria, senão passava ao largo e fazia de conta que entre conhecidos o que contava era o que se sabia um do outro. Mais que cúmplices, partners de nada, de mesma escada. Caminhava na areia, os dedões amassando, afundando, afastando no pesado as pegadas que ainda restavam. Sentou na rocha esverdeada de musgo e sal,olhou pro horizonte e foi aí que decidiu. Não que não estivesse pensando no assunto,aliás não lhe saia da cabeça. Já tava de saco cheio de pensar naquilo. O dia todo...já pensava em procurar sereias. Mordida? Não....Era mais fácil se arriscar com tubarões. O olhar se concentraria nos dentes afiados,seria mais fácil resistir. Desviar. Zunir. É..era isto. Pirelli é mais pneu. Saida pela esquerda. E rápido. As pegadas da areia indicavam o caminho. Futuro. Pesado. Incerto. Movediço. Com direito à paisagem. Menos mal. Subindo a estradinha no Sul ladeia-se o mar. Mais adiante a prainha. Parece uma cabeça deitada na grama espraiando-se ao sol. De cima o nariz até parece um escorregador, nem pensar em se mandar. A bunda na areia dura seria o mínímo.Também o que se pode fazer numa praia senão ficar com aquela linha ao fundo, água embaixo nuvens encima. E seja o que Deus quiser. É um dos poucos momentos pois ao dormir a cuca tá ali afiada, apontada e ali não...é tudo longe . Quase transpa. Pure feeling. Good vibrations. California dreamin’ dos meus sonhos. Golden slumbers. Fui. A ideia era aquela mesmo. O que importava não eram meus sonhos. Olhando pro dedão do pé o mar ao fundo vi o quanto um momento sutil esquenta uma paixão. Nem lenha nem papel. Acende com meu beijo.

Sucesso O que define a eletricidade que flui por cada poro Como um extase multiplicado em todas as facetas da pele Um mosaico de cores uma colcha de retalhos de sentimentos É pouca palavra Garantia do que previsão do que Sketch do que Layout do que Do que vamos fugir Não tem è só curtir e descer a ladeira Rebolando Roubando Do tempo a crença na sorte Guardado No bolsinho das moedas Como um talismâ de pitangas

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Poesias Ele é básico Vai do preto ao branco sujo. Suave como poucos, sutil feito fumaça. É precavido. Não menos arremete qual lança em direção ao papel, Deixando um borrão com um brilho incômodo sem concerto. Pra quem toca, é sempre um prazer deixá-lo deslizar o papel branco, Contornando as formas como um passeio por colinas um fim de tarde. Cria volumes onde forma não existia desde o começo da nossa vida. Poderia ser uma arma, mas raramente é visto como uma. Aqui é com esfuminho. É o que arrasta o grafite, o carvão pelo papel esfumaçando o branco. E me colocando no lugar. Vem, vem ver. Em desenho colocamos o risco como bailarino Joga uma perna prá lá mas até certo ponto e quando for... concentra nela meia alma. Não precisa nem saber porque mas..faça. É uma dança contida mas mesmo sem ter o mesmo esforço fisico, tem o mesmo gosto,reconhecido, relembrado. Pode ser um espelho ou só uma máscara de papiermaché Rindo ou fazendo um muchocho. Não tem nada prá achar...vê-se. Pode-se escrever um livro sobre cada curva ou só deslizar por entre elas. Às vezes parece um copo sendo cheio d’água na hora da sede noutras como se puxassemos uma vaca por uma corda colina acima. São só riscos,traços, linhas, pontos, resvalos dum tombo. Manotasso milimétrico a lápis. Possa com minha face aqui estampada ser rumo sem daqui sair ver-te toda sim olhando tudo em volta queimando em movimentos Arde na vista Fique esperto Por tudo que ouço sou rebelde do osso. Curto e aceso desde guri brinco Seco é o cuspe que tá preso na garganta O torto é o errado da vida que corre Onde não tem porto não tem cais Tem só correnteza na cabeça Molhar que é bom só no banho Este limpa e conforta Neste rio de gotas que guardam lágrimas O choro é uma máscara sem graça Um chato entre cabelos Que se agarra e não solta Flor que nasce nesta paisagem não teme o esplendor Não se esconde ou despetala Vira simbolo E marca

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Poesias

Sentado numa cadeira,tarde da noite , começo a escrever o que me vem à cabeça. Penso no dia de hoje, na correria atrás de trabalho, das pequenas coisas que ilustram e alegram a nossa vida. Um ônibus atrás do outro, até que os mesmos ônibus. Qualquer dia destes estou começando a cumprimentar os motoristas. Não demora muito. Naquele banco as ideias vem e vão rapidamente. Às vezes guardo, às vezes não. Até anoto noutras poucas. Grandes ideias. Outro dia acordei no meio da noite só prá escrever uma. Até agora não usei. Só podia ser uma coisa gráfica das letras irem mudando de cor à medida que o teor do texto também o fosse. Agora por exemplo seria laranja e a medida que o sono fosse chegando ficaria um azul bem vivo. Quando eu estivesse quase dormindo seria de um púrpura até pretear mesmo. E as luzes da máquina passariam a noite acesas como que esperando que o dia viesse a elas se juntar formando um flash espoucando nos meus olhos. Outro dia ,outros pensamentos, outro momento. Tempo de passar em revista os dias já vividos e colocar em pauta os que virão. Tento colocar um rumo nestes ponteiros sem deixar que para trás andem, sem deixar que caindo se quebrem. É um dia de andar. Caminhar,caminhar,caminhar... Prá onde até sei porque talvez no caminho descubra. Passo a passo, pé ante pé, uns atrás dos outros, como se o próximo fosse o ultimo e o anterior o primeiro. Que sensação! É como um bebe aprendendo a andar. Sem mãe. Sem pai. Um novo andarilho. Gosto desta imagem dum homem andando só no deserto. Ë uma imagem forte de dois outros fortes. Forte como um peso velho de um quilo todo enferrujado mas experimenta deixá-lo cair no dedão. Crisssssss.... Ufa. Certas coisas acontecem na vida da gente como que para testar-nos. Nada que fique guardado muito tempo na nossa memória. Só um momento. Importante. Crucial. Tipo segura esta. Já passei diversas vezes por isso. Experiencias fortes, emocionais,ternas e incertas. Vamos nos lembrar em instantes em que como se uma letra chave fosse pronunciada e disparasse um comando que obrigasse a recordação a se descobrir.

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Agradecimento

Gostaria de agradecer a voces: Odilo & Susana, Jorge e Rô, Paulico, Martinha e Beto. Laurinha e Ronaldo, Cako e Daniel, meus sobrinhos queridos, Tio Mario & Teresinha, Gio, Re, Tono, Neco, Marcio, Cris, Fonso, Tulio e Nanda, Tio Mareu, Hugo & Susana, Foguinho & Kuki, Maria Angélica & Alemão, Tia Dorita & Pedro, Diego & Iara, Maninho e Alejandro, Braulio, Milton, Sergio, Ney, Sylvio, Marcon, Fernando, Lúcifer, Brasa, tchurma da Bordini, Alziro, Bruno, Monica, Irene & Ruby, Dagui, Marquinho, Bocajão, Neca, Mutuca, Chaminé & Martha Helena, Lucrécia, Nega Lú, LP Gallina, Beti, Carminha & Zé Mauro, Magro Nilo, Vavau, Betinho, Uda, Edgar, Julio, Mario & Milton, Maciel, Danilo Nunes, Danilo Jacaré, Toninho, Ivan, Neca, Gerson, Sandra, Kátia, Ana, Lu, Harre, Morongo & Mayra, Roberto, Ricardo e Renato Renner, Chico Bomba, Gatinha, Claudio Vera Cruz, Mauricio, Sonia, Carlinhos, Zé Vicente, Magali, Deio, Felipe, Bebeco, Mitch, Alex, Frank, Lycia, Marcia & Liza, Sibelle, Zali, Nazaré, Peixe, Neny, Dedé, Tereza, Carlos Callage, Bebeto & Claudinha, Bebela, Zé Varella, Eduardo, Lucinha, Lidinha, Paulo, Buffara, Jejo, Ito, Bolinha,Consuelo, Lolo & Cleusinha, Salomão & Bertha, Verinha, Leda, Cirinho, Bere, Eliane, Barca do Sol, Lula, Duda Anisio, Paulo Pilla, Padilha, Helinho, Lorna, Alceu, Ivan Cardoso, Ezequiel, Sepe, Toco & Nizinha, Lontra, Blue, Juarez, Kiko, Keko e Brito, Sergio Bini, Alemão e Ana, Charuto, Zéio, Moita, Zézinho, Loma, Glórinha, Maia, Rogerio & Fernanda, Iris, Regina, Beleléu, Nora, Rosane, Rosana, Arlita, Silvio, Claudio, Joca e Sirui, Bill, Anelise, Ana, Toca, Rosane, Monica, Fabinho, Luisinho, Casarin, Jakka & Biba, Mimi, Marcão, Duda, Zé Alfredo, Edinho, Monica, Teresa, Cassia, Adriana, Lauro & Therezinha, Delfina, Beth & D, Maria, Guto, Shirlei, Katia, Vania, Chacrinha, Humberto, Martinha e Roberto, Grimaldi, Mauro, Ivan, Betinha, Samaya, Alice, Sarita, Maria Lucia, Mauro, Aline, Debi e Antonio, Daniela, Neneca,Fernando e Carmen, Karen e Katia, King Jim, Lena, Marcus e Nice, Jardim, Cauduro, Siboney, Ida, Corazza e Marcia, Felipe, Vicente, Calé, Cléria, Laura e Nino, Beth, Cris, Gabriel, Natasche e Marina, Nilo & Nenen, Sepeh, Zé Granja, Marcelo, Ivan, Homerinho e Kita, Henry e Karen, Marta, Olyntho, Fumaça, Papito, Thales, Melissa, Alcides, Lenita, Rossana, Pedro e Denise, Edgar e Dalila, Marcos e Ana, Claudio e Susana, Rogério e Lisia, Mariana, Paulinho e Ricardo, Plinio, Zed, Rosane e Zé, por terem participado da minha vida, em especial a meus filhos Ricardo e Carmel, por todos os momentos que convivemos e por terem sido inspiração prá eu tocar o bonde em frente.

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Ficha Técnica e ISBN Edição financiada pelo Concurso FUMPROARTE da Secretaria Municipal de Cultura/ Prefeitura Municipal de Porto Alegre tendo sido impresso na Gráfica Impresul engloba 44 anos de trabalho do artista Ricky Bols Trabalharam no projeto na elaboração, organização e gerenciamento, Rosane Furtado na revisão técnica e ortográfica, Glória Athanázio na criação, tratamento de imagens, artefinal, Ricky Bols Proibida a reprodução do conteúdo sem autorização expressa do autor

____________________________________________ Bolsoni, Ricardo Irigoyen Ricky Bols por Ricardo Irigoyen Bolsoni/ Ricardo Irigoyen Bolsoni- Porto Alegre: FUMPROARTE, 2014 180p:il ISBN: 978-85-917187-0 1.-2 1.Livro de Artes Gráficas 2. Cód. 760 _____________________________________________

Financiamento:

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