Revista aw@re 2013 7

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ISSN 2179-3506

AW@RE REV. ELET., v3, n.1, 2013

AW@RE 2013/02

ENTREVISTA Com Prof. Dr. Georges Daniel Janja Bloc Boris

SUPERVISÃO DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA Por Angela Schillings

Angela: Como você iniciou a atividade de supervisão de alunos de graduação em psicologia clínica? Georges: Tornei-me professor da Universidade de Fortaleza, por meio de seleção, em 1985, sendo responsável por disciplinas de cunho humanista, fenomenológico e/ou existencial. Após alguns semestres, quando os primeiros alunos chegaram ao período de estágio na área clínica, foi uma consequência que eu me tornasse supervisor em gestaltterapia, já que tinha formação nesta abordagem. Desde esta época, tenho acompanhado estagiários de clínica em gestalt-terapia. Angela: Quais são os fatores mais importantes no processo de escolha na seleção dos estagiários? Georges: Já há algum tempo, na UNIFOR, os professores, infelizmente, não selecionam seus estagiários, pois os alunos apenas optam pelo referencial clínico (humanista, psicanalítico, comportamental etc.) em que preferem estagiar, sendo direcionados a um professor que os orientará. Anteriormente, os alunos se inscreviam para estagiar com um determinado professor, conforme seu contato prévio com ele e com o referencial. Geralmente, eu escolhia alunos que já tinham contato prévio com a gestalt-terapia ou com as abordagens humanistas, a partir de grupos de estudo ou de sua própria psicoterapia, mas, de fato, poucos faziam um investimento prévio, o que gera(va) algumas dificuldades, que descreverei adiante.

Angela: Qual é o seu “estilo” de ser supervisor? Georges: Creio que a supervisão se configura como uma atividade situada entre o ensino da teoria e a própria psicoterapia. Assim, busco que as orientações incluam sempre a articulação entre a fundamentação teórica e a discussão dos casos clínicos. Com este objetivo, tento utilizar o método das versões de sentido, conforme proposto por Mauro Amatuzzi, por meio do qual o estagiário, logo após as sessões, registra sua experiência vivida. Não se trata de um registro nem mesmo um resumo da sessão, mas breves apontamentos sobre sua vivência pessoal (sentimentos, sensações, impressões, temores, expectativas). Acredito que este é um material importante para a supervisão, indo além da discussão das sessões e dos casos, focando o principal instrumento do processo psicoterapêutico: a (inter)subjetividade do próprio psicoterapeuta. Também peço que o estagiário faça registros semelhantes com os textos lidos e com a própria supervisão. Desta forma, busco ter acesso à experiência vivida dos estagiários, bem como lhes proporciono um instrumento rico de reflexão e de acesso à sua própria vivência com cada paciente. Angela: Quais as dificuldades mais frequentes com que os alunos se deparam no estágio em psicologia clínica? Georges: Há vários anos, elaborei um artigo em que trato desta questão. Creio que muitos alunos chegam ao final do curso sem conhecimentos

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básicos ou experiência mínima quanto ao universo clínico, muitas vezes nem mesmo tendo se submetido a seu próprio processo psicoterápico, como se o estágio fosse apenas mais uma disciplina, que, cumprida, lhes proporcionaria o suficiente para se tornarem psicoterapeutas. Também observo que, terminado o estágio, apenas alguns psicoterapeutas iniciantes buscam formações específicas nas linhas teóricas que escolheram, e, infelizmente, quando elas terminam, a maioria deixa de acreditar que a supervisão de um psicoterapeuta mais experiente seja um recurso valioso e imprescindível na trajetória de qualquer psicoterapeuta. A formação de um psicoterapeuta é contínua e sistemática, persistindo ao longo de sua vida profissional e devendo ser sempre condizente com sua vida pessoal e as diversas opções e experiências que ele faz e vivencia. Não é, portanto, pontual e circunstancial, uma situação que se resolve apenas num único momento difícil, mesmo que determinante,

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