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Meu pai, forte, enfiava a faca no sovaco do porco, que dava uns gritos roucos e compridos, “uiim, quuiimmm, quiiim”. Depois a gente tinha chouriço, lingüiça e carne conservada nas latas de manteiga, na falta da geladeira. Gostava mais, mesmo, era quando meu pai chegava de viagem, aí era uma festa, porque ele trazia queijo de Ibiaí, o melhor de Minas, e também rapadura e fruta-do-conde. O que eu não gostava era quando passava caminhão na rua vendendo maçã muito cara; o pai comprava, mas a gente tinha que dividir, cada irmão sobrava só com metade. Eu comia a minha e jurava: “um dia eu vou ter dinheiro e vou comprar uma maçã e enfiar ela inteirinha na boca”. Com sete anos, eu tive minha primeira visão de uma morte matada. A gente viu, eu e meus irmãos, numa manhãzinha de domingo, na hora que a igreja tocava o sino pra primeira missa, um nosso vizinho morto na porta da nossa casa. Ele morreu porque se chamava José. Quem o matou foi o Cleantino, um fazendeiro que na noite anterior tinha ido a um baile e brigado com um rapaz de nome José. O fazendeiro foi em casa pra buscar a faca e cumprir a promes29


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