TCC arqurbuvv - A CIDADE E A CULTURA: PROPOSTA DE CIRCUITO CULTURAL NA PRAINHA, VILA VELHA - ES

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UNIVERSIDADE VILA VELHA

RHAQUEL SOUZA DE PAULA

A CIDADE E A CULTURA: PROPOSTA DE CIRCUITO CULTURAL NA PRAINHA, VILA VELHA - ES

VILA VELHA 2020


UNIVERSIDADE VILA VELHA

RHAQUEL SOUZA DE PAULA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador(a): Prof.ª. Dr.ª Larissa Letícia Andara Ramos.

VILA VELHA 2020


RHAQUEL SOUZA DE PAULA

A CIDADE E A CULTURA: PROPOSTA DE CIRCUITO CULTURAL NA PRAINHA, VILA VELHA - ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Profa. Dra. Larissa Letícia Andara Ramos. Aprovado em 09 de dezembro de 2020. COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Larissa Letícia Andara Ramos Universidade Vila Velha Orientadora

Ma. Cláudia Inez Resende Melo Universidade Vila Velha Avaliadora

Profa. Dra. Simone Neiva Loures Gonçalves Universidade Vila Velha Avaliadora


AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais. Este trabalho é todo dedicado a eles, que batalharam muito para que eu tivesse uma educação de qualidade, além de sempre me incentivarem a ter dedicação nos estudos. A minha irmã por ser a típica irmã mais velha, geralmente me dando conselhos e me orientando na vida adulta. A viagem que fizemos juntas me fez ter ainda mais apreço pela cultura, e todos os museus e casas que visitamos ficarão para sempre na minha memória e coração. Ao meu namorado, sou grata pelo apoio que me ofereceu em todos os momentos difíceis e que pensei em desistir. Você é meu maior incentivador em tudo que faço. E gostaria de agradecer a minha orientadora por todos os conselhos e ensinamentos passados ao longo do curso. Sempre disponível a compartilhar seus conhecimentos e tirar dúvidas, não importando elas quais sejam. Meu muito obrigada a todos!


LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Vista panorâmica do Circuito Liberdade, Belo Horizonte, MG. ............................. 21 Figura 2 - Parque Biblioteca Fernando Botero por G Ateliers Architecture ............................ 22 Figura 3 - Mapa atualizado do Circuito Liberdade................................................................... 26 Figura 4 - Praça da liberdade antes da reforma de 1920. ......................................................... 28 Figura 5 - Foto atual dos jardins no estilo francês da Praça Liberdade. ................................... 28 Figura 6 - Mapa de localização do Circuito liberdade.............................................................. 30 Figura 7- Mapa de implantação do Circuito Liberdade ............................................................ 31 Figura 8 - Ponto de parada entre os edifícios MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal e o Memorial Minas Gerais Vale ................................................................................................... 32 Figura 9 – Fachada principal do Palácio Liberdade ................................................................. 34 Figura 10 - Fachada principal do Arquivo Público Mineiro. ................................................... 35 Figura 11 - Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais ........................................................ 36 Figura 12 - Fachada lateral do Museu Mineiro ........................................................................ 36 Figura 13 - Fachada principal do Centro de Arte Popular – CEMIG. ...................................... 37 Figura 14 – Acesso principal do Cefart Liberdade ................................................................... 38 Figura 15 - Braço cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. .......................... 38 Figura 16 – Fachada do Espaço Cultural da Escola de Design UEMG ................................... 39 Figura 17 - Fachada Digital do Espaço do Conhecimento UFMG........................................... 39 Figura 18 - Fachada do MM Gerdau ........................................................................................ 40 Figura 19- Vista do Memorial Minas Gerais Vale ................................................................... 41 Figura 20 - Fachada do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) .......................................... 41 Figura 21 - Vista da Casa Fiat de Cultura ................................................................................ 42 Figura 22 - Vista da Academia Mineira de Letras e seu novo anexo. ...................................... 42 Figura 23 - Fachada do Centro Cultural Minas Tênis Clube .................................................... 43 Figura 24 - Mapa de localização da área de estudo e intervenção ........................................... 47 Figura 25 - Vista da Gruta de Frei Palácios e ao lado a entrada da ladeira da Penitência. ...... 49 Figura 26 - Vista do Convento da Penha .................................................................................. 50 Figura 27 - Vista da Praça da Matriz na década de 1920 ......................................................... 51 Figura 28 - Imagem do aterro da Comdusa nos anos de 1970 ................................................. 52 Figure 29 - Visão geral Parque da Prainha em 1990 ................................................................ 53 Figura 30 - Projeto Parque Estadual da Prainha por FEU Arquitetura ..................................... 54 Figure 31 - Projeto do Parques Estadual da Prainha por ASEVILA ........................................ 55


Figura 32 - Mapa de uso e ocupação do solo do Sítio Histórico da Prainha ............................ 56 Figura 33 - Mapa com as diversas atividades culturais da Prainha .......................................... 59 Figura 34 - Vista do Palco da Festa da Penha no estacionamento do Parque em 2018 ........... 60 Figura 35 - vista do evento Rua das Artes ................................................................................ 60 Figura 36 - Vista da Praça Otávio Araújo com bares e restaurantes atrás. ............................... 61 Figura 37 - Rua de acesso ao Convento da Penha com seus comércios locais ........................ 62 Figura 38 - peixarias existentes na categoria Comércio Local. ................................................ 62 Figure 39 - imagens dos espaços públicos mapeados............................................................... 63 Figura 40 – Museus e espaços culturais mapeados .................................................................. 64 Figura 41 - Edificações com interesse de preservação ............................................................. 64 Figure 42 – Murais e grafites mapeados. .................................................................................. 65 Figura 43 - Mapa síntese .......................................................................................................... 71 Figura 44 - Detalhe Largo da Matriz ........................................................................................ 74 Figura 45 – Perspectivas da paginação de piso com padrão indígena nas Praças Otávio Araújo .................................................................................................................................................. 75 Figura 46 – Perspectiva do Mupi com temática indígena ........................................................ 76 Figura 47- Perspectiva Praça Almirante Tamandaré ................................................................ 76 Figura 48 – Perspectiva da Placa Relatos da Vila na Praça da Igreja ...................................... 77 Figura 49 - Detalhe QRcode ..................................................................................................... 78 Figura 50 - Planta de implantação do Circuito Cultural ........................................................... 79 Figura 51 - Mapa de fluxos de entrada da Prainha ................................................................... 80 Figura 52 - Configuração proposta para a Rua Antônio Ataíde ............................................... 81 Figura 53 – Perspectiva da proposta do aquaviário com mural da artista Taiza Ammar ......... 82 Figura 54 - Perspectiva do novo Museu da História do Espírito Santo .................................... 83 Figura 55- Perspectiva bondinho e mural artístico .................................................................. 84 Figura 56 - Perspectiva novo Museu de Arte Sacra ................................................................. 85 Figura 57 - Banner do Projeto realizado em grupo durante a disciplina de Técnicas Retrospectivas ........................................................................................................................... 85 Figure 58 - Perspectiva nova fachada da Casa da Memória. .................................................... 86 Figura 59 - Perspectiva mostrando os eixos marcado na paginação de piso. ........................... 86 Figura 60 - Configuração proposta para a Rua Vasco Coutinho .............................................. 89 Figure 61 - Perspectivas área aberta para eventos no Parque da Prainha ................................. 90 Figura 62 - Configuração da área do cais e pescarias............................................................... 91


Figura 63- Mobiliário para o Pocket Park ............................................................................... 93 Figura 64 - Mobiliário para o Largo da Matriz ........................................................................ 93 Figura 65 - Perspectiva mostrando a marcação da antiga linha do mar ................................... 95 Figura 66 - Perspectiva do Pocket Park .................................................................................... 95 Figura 67 - Perspectiva mostrando os estabelecimentos comerciais e os murais artísticos ..... 96 Figura 68 – Perspectiva de murais expondo obras de Dino Faria ............................................ 96 Figura 69 - Perspectiva Praça Cais dos Padres ......................................................................... 97 Figura 70 - Mapa esquemático dos caminhos do circuito ........................................................ 98


LISTA DE TABELAS Tabela 1- Trilha histórica ......................................................................................................... 69 Tabela 2 - Diretrizes e ações..................................................................................................... 72 Tabela 3 – Tabela de possíveis artistas locais para parceria..................................................... 87 Tabela 4 - Tabela de possíveis parceiros privados ................................................................... 88 Tabela 5 - Calendário de eventos fixos na Prainha .................................................................. 89 Tabela 6 – Especificação de paisagismo proposto ................................................................... 91 Tabela 7 - Especificação de mobiliário proposto .................................................................... 92


RESUMO Desde a década de 1980, tem-se observado diversos projetos de intervenção em centros urbanos históricos ou em áreas degradadas. Além de apresentarem a premissa de valorização local e proteção ao patrimônio, visam o crescimento econômico das cidades, ampliando seus investimentos e as situando no mercado cultural e no eixo do turismo nacional. Dessa forma, a cultura é distribuída sob a forma de circuitos culturais, envolvendo uma série de equipamentos tais como museus, bibliotecas, teatros e centros culturais de qualidade arquitetônica, possibilitados graças às iniciativas públicas, assim como parceria público privadas. Considerando esse cenário, esse trabalho tem como objetivo desenvolver uma proposta de intervenção urbana, a partir de um circuito cultural para o município Vila Velha - ES, mais especificamente na região do sítio histórico da Prainha, de modo a incentivar a identidade local e valorizar a cultura e a história capixaba.

Para realização deste estudo, foi necessário

levantamento bibliográfico e análise de um estudo de caso, buscando auxílio para as futuras propostas e diretrizes. Também foi necessário mapear a área de intervenção da Prainha, a fim de identificar os equipamentos e manifestações culturais existentes. A escolha da região justifica-se tendo em vista seu grande potencial cultural, com a presença de edifícios históricos, atividades gastronômicas e artísticas bem como a frequência de manifestações sociais e religiosas que necessitam de ações que visem integrá-las de forma que a história e a arte local sejam evidenciadas. Acredita-se, assim, que intervenções mediadas pela cultura, quando aprofundam suas análises no planejamento e valorizam a cultura da população, contribuem para a promoção de identidade local e sentimento de pertencimento dos indivíduos.


ABSTRACT

Since the 1980s, several intervention projects have been observed in historic urban centers or in degraded areas. In addition to presenting the premise of local appreciation and protection of heritage, they aim at the economic growth of cities, expanding their investments and placing them in the cultural market and in the national tourism axis. In this way, culture is distributed in the form of cultural circuits, involving a series of facilities such as museums, libraries, theaters and cultural centers of architectural quality, made possible thanks to public initiatives, as well as public-private partnerships. Considering this scenario, this work aims to develop a proposal for urban intervention, based on a cultural circuit for the municipality of Vila Velha ES, more specifically in the region of the historical site of Prainha, in order to encourage local identity and enhance the capixaba culture and history. To carry out this study, it was necessary to survey the literature and analyze a case study, seeking help for future proposals and guidelines. It was also necessary to map the Prainha intervention area, in order to identify the existing cultural equipment and manifestations. The choice of the region is justified in view of its great cultural potential, with the presence of historic buildings, gastronomic and artistic activities as well as the frequency of social and religious events that require actions that aim to integrate them so that history and local art are highlighted. Thus, it is believed that interventions mediated by culture, when they deepen their analysis in planning and value the culture of the population, contribute to the promotion of local identity and the feeling of belonging of individuals.


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12 1.1

Contextualização e Justificativa do tema ................................................................... 12

1.2 Objetivo geral ................................................................................................................. 13 1.3 Objetivos específicos ...................................................................................................... 13 1.5 Metodologia .................................................................................................................... 14 1.6 Organização dos capítulos .............................................................................................. 15 2. A CULTURA E A CIDADE ................................................................................................ 17 3. REFERÊNCIA PROJETUAL .............................................................................................. 25 3.1 Circuito Cultural Liberdade - Belo Horizonte, MG ....................................................... 25 3.1.1 A praça Liberdade ................................................................................................... 27 3.1.2 Implantação e relação com o entorno ...................................................................... 30 3.1.3 Os espaços culturais e seus usos .............................................................................. 33 3.1.4 Considerações sobre o estudo de caso ..................................................................... 43 4. ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................ 46 4.1 Localização ..................................................................................................................... 46 4.2 História da área ............................................................................................................... 47 4.2.1 Início da colonização (1500 a 1550)........................................................................ 47 4.2.2 Início do século XX até 1950 .................................................................................. 50 4.2.3 A partir dos anos de 1930 a 1970 ............................................................................ 52 4.2.4 Anos de 1980 até os dias atuais ............................................................................... 53 4.3 Uso e ocupação do solo .................................................................................................. 55 4.4 Mapeamento cultural ...................................................................................................... 57 4.4.1 Panorama Vila Velha ............................................................................................... 57 4.4.1 Panorama Sítio Histórico da Prainha ....................................................................... 58 4.6 Considerações finais ....................................................................................................... 65 5. A PROPOSTA DE UM CIRCUITO CULTURAL .............................................................. 66


5.1 Diretrizes projetuais ........................................................................................................ 67 5.1.1 Mobilidade ............................................................................................................... 79 5.1.2 Uso do solo .............................................................................................................. 82 5.1.3 Socioeconômico....................................................................................................... 87 5.1.4 Sociocultural ............................................................................................................ 89 5.1.5 Socioambiental ........................................................................................................ 91 5.2 Mapa esquemático do circuito ........................................................................................ 97 6. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 100 7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 101 8. APÊNDICES ...................................................................................................................... 106


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1. INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização e Justificativa do tema O conceito de cultura é amplo e de vários significados. No âmbito das ciências sociais -universo em que este estudo se enquadra - a cultura é considerada como sendo todos os aspectos construídos em sociedade e compartilhados, preservados ou modificados em ambiente coletivo. A cultura pode ainda sofrer distinções, apresentando-se como cultura erudita, aquela reconhecida pelas instituições; a cultura popular, criada pelo povo; e a cultura de massa, que faz parte de um sistema industrial em desenvolvimento e que se baseia no consumo (COELHO, 1986). A cultura de massa é considerada prejudicial a criação, informação e disseminação da cultura local de um grupo. Com a globalização, todas essas características locais são apagadas pela homogeneização da cultura, em que surge a padronização dos estilos de vida e dos produtos culturais em qualquer local do mundo. A cultura é vista também como um produto que fomenta o mercado global das cidades para atração turística e arrecadação de recursos. Consequentemente, por meio da cultura são atribuídos projetos de intervenção em centros denominados históricos ou em áreas classificadas como degradadas. Tais intervenções, muitas vezes só são possibilitadas através de políticas culturais e de parcerias público privadas, a partir do interesse de empresas privadas na promoção da cultura. Seguem, ainda, tendências acompanhadas de duas estratégias: a preservação de edifícios considerados patrimônio histórico e cultural, e da arquitetura símbolo criada por arquitetos renomados. Surge assim, a necessidade de análises e estudos com foco no planejamento e em intervenções de centros históricos ou áreas degradas. Além de equipamentos culturais de qualidade, é válido o emprego de outras estratégias e elementos de identidade, tais como mobiliários e arte pública. Cria-se um circuito cultural composto de diversas instituições culturais como: museus; bibliotecas; centros culturais; juntamente com espaços públicos, mobiliários e a arte pública, e sendo complementado com o desenho urbano. Busca-se transformar a qualidade de vida dos moradores e usuários, além de enaltecer a diversidade social da cidade e tornar visíveis grupos sociais antes invisíveis pela padronização, e com isso, contribuir para a promoção de identidade local e sentimento de pertencimento dos indivíduos.


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Tendo em vista esse contexto, o presente trabalho de conclusão de curso visa propor um circuito cultural para o município de Vila Velha - ES, mais especificamente na região do sítio histórico da Prainha. Optou-se por esse recorte em virtude de carregar em seu território uma porção de significados, uma vez que é considerado o berço da colonização do solo espíritosantense.

E por ser uma área urbana, passou por diversas transformações, acumulando novos signos e perdendo outros. Em razão disso, observa-se atualmente certa desconexão na espacialidade desses variados elementos culturais, de modo a passar a sensação de que cada um representa um recorte histórico isolado, sendo que todos fazem parte do processo de formação do que hoje conhecemos como a Prainha. A desconexão espacial pode ocasionar o esquecimento e desvalorização do potencial cultural da área.

Portanto, a proposta de um circuito busca integrar os espaços culturais, através do desenho urbano de forma a estimular o enaltecimento de aspectos culturais do patrimônio material e imaterial presentes na área, bem como favorecer a identidade e a história capixaba.

1.2 Objetivo geral Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geral desenvolver uma proposta de intervenção urbana, a partir de um circuito cultural para o município Vila Velha - ES, de modo a incentivar a identidade local e valorizar a cultura e a história capixaba. 1.3 Objetivos específicos Para alcançar o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos são necessários: a) Compreender sobre a cultura urbana, suas relações com a sociedade e seu papel como norteadora na transformação da cidade e promotora da vitalidade urbana. b) Analisar referência projetual de intervenção urbana mediada pela cultura tais como os circuitos culturais, de modo a compreender as estratégias de desenho urbano utilizadas. c) Compreender o panorama histórico cultural do município de Vila Velha, a partir da identificação e mapeamento de equipamentos culturais.


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d) Analisar e assim compreender o panorama cultural do sítio histórico da Prainha através do mapeamento das diversas formas de cultura existentes. e) Propor uma intervenção urbana em forma de circuito cultural mediante desenho urbano e auxiliada por diretrizes projetuais que visem incentivar os aspectos histórico-culturais da área da Prainha. 1.5 Metodologia Esta é uma pesquisa aplicada, que gerou um ensaio projetual em forma de circuito cultural, com o intuito de incentivar um novo olhar para os aspectos histórico-culturais do Sítio Histórico da Prainha, Vila Velha - ES A metodologia utilizada a fim de alcançar os objetivos específicos foram divididas em quatro etapas: contextualização do tema, referência projetual, diagnostico da área e proposta. Na primeira etapa destinada à contextualização do tema, foi destinada ao levantamento bibliográfico em livros, artigos, teses e dissertações, visando auxiliar no entendimento teórico necessário para o desenvolvimento deste estudo. Tendo como principais autores: Ramos (2008), Neves (2013), Andrade, Veloso (2014), Sanchez (2003) e Melo (2019). Na sequência, em uma segunda etapa, realizou-se o estudo do referencial de projeto com ênfase no “Circuito Cultural da Liberdade”, em Belo Horizonte – MG, de modo a embasar a elaboração de futuras propostas e diretrizes projetais para a área de estudo. A escolha desse estudo de caso é por ser o único projeto nacional que carrega o título de circuito cultural, além de ser feito por meio de parcerias público-privadas. Desta forma, analisou-se nessa etapa o contexto histórico, a forma de sua implantação e seu desenho urbano, e o funcionamento do circuito. Na terceira etapa foi desenvolvido um diagnóstico da área a ser estudada, descrevendo sua localização e limite urbano, assim como seus aspectos histórico-culturais e funcionais, como o uso do solo. Posteriormente, foi realizado um mapeamento cultural identificando os equipamentos culturais existentes no município de Vila Velha, de forma a compreender como se panorama cultural da cidade. Logo após, foi realizado um mapeamento mais específico da região da Prainha ao elencar os diversos equipamentos e manifestações culturais presentes. Os mapeamentos foram realizados no programa de georreferenciamento ArcGis, a partir de dados disponibilizados pela prefeitura municipal, imagens de satélites e visitas locais, confirmados com a ajuda de plataformas online de mapeamento.


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E na quarta e última etapa, buscou-se na elaboração de tabelas o auxílio necessário para lançar decisões de projeto na área de intervenção. A primeira tabela faz um resgate cultural ao resumir as transformações do passar do tempo na Prainha e destacar as figuras importantes para a construção da cultura local. Na segunda tabela, foram agrupadas todas as informações coletadas no mapeamento cultural e durante visitas físicas e online. A tabela divide as informações em cinco categorias: mobilidade, uso do solo, socioeconômico, sociocultural e socioambiental, destacando potencialidades e fragilidades da área, de maneira a facilitar a proposição de diretrizes, e consequente a etapa de projeto. Por fim, é a partir dessas diretrizes é que se alcança a etapa projetual com desenho urbano, e assim o projeto é explicado seguindo as categorias da segunda tabela, e através de planta de implantação e perspectivas 3D, de forma a ajudar na compreensão de toda a proposta. 1.6 Organização dos capítulos A estrutura do trabalho é organizada da seguinte forma: No primeiro capítulo busca-se entender o que é a cultura segundo as ciências humanas e suas distinções descritas como cultura erudita, cultura popular e cultura de massa, além de elucidar sobre o cenário atual da cultura nas cidades. O capítulo dois aborda uma referência projetual, de forma que venha a auxiliar no projeto de intervenção cultural que será realizado. O terceiro capítulo apresenta o panorama cultural da cidade de Vila Velha, buscando identificar, mapear e analisar as manifestações e equipamentos culturais existentes na cidade. E após o desenvolvimento dos capítulos citados, foram realizadas as considerações finais apontando os resultados obtidos com o estudo realizado. O quarto e último capítulo aborda toda a etapa de concepção da proposta, passando por pesquisa histórica, análises, diretrizes e finalizando em ações de projeto ilustradas em planta de implantação e perspectivas.


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2. A CULTURA E A CIDADE O termo cultura possui vários significados, a depender da área de estudo e da época em que é analisado uma vez que o termo possui amplo sentido etnográfico. Sendo assim, neste estudo é apresentado o conceito de cultura na perspectiva das ciências sociais e humanas - sociologia, arquitetura, antropologia, comunicação - na qual, sua definição é entendida como sendo todos os aspectos construídos em sociedade e compartilhados, preservados ou modificados em ambiente coletivo (THOMPSON, 2009). Tal conceito reafirma o que enfatiza Ramos (2008), ao descrever que a cultura é um processo, um bem simbólico que é produzido no meio social e está em constante transformação. Essa visão de cultura, entendida como produto da sociedade urbana, sofre ainda uma divisão que hierarquiza a cultura em três distinções: a) cultura erudita, que é reconhecida pelas instituições; b) cultura popular, criada pelo povo; e c) cultura de massa, que faz parte de um sistema industrial em desenvolvimento e que se baseia no consumo. Segundo Teixeira Coelho (1986), a cultura erudita é vista como a arte pura e nobre, e está associada a elite institucional e acadêmica. E por estar vinculada às grandes instituições e academias, e prover de uma técnica artística esteticamente mais elaborada, é considerada uma forma de produção cultural supostamente superior. Resume-se este tipo de cultura como sendo criada pela elite e apreciada pela elite (PORFÍRIO, acesso em 14 abr. 2020). No entanto, essa visão é passível de criar um certo preconceito cultural e diminuir o valor estético da cultura popular, que é entendida como a soma dos valores tradicionais de um povo, apresentados de forma artística, como danças e objetos (RAMOS, 2008). A cultura popular, como sendo produzida pela sociedade, pode envolver elementos como a literatura, a arte, as músicas, as festas, as manifestações religiosas, as feiras de rua, a gastronomia e o artesanato. A partir dos elementos culturais citados acima, é possível compreender a relação entre a cultura popular e os patrimônios culturais, sejam eles materiais ou imateriais. Os bens culturais são integrantes da cultura popular e são tipicamente transmitidos de uma geração para a outra, compartilhados entre a população. Sendo assim, a partir da distribuição e conservação destes bens que a memória coletiva é preservada, colaborando simultaneamente para a valorização da identidade e da cultura local. Fato este observado na própria definição de Patrimônio Cultural presente na Constituição de 1988, artigo 216. “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


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imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Ademais, a valorização da identidade contribui para o sentimento de pertencimento do indivíduo perante sua comunidade e sua cidade. O indivíduo sente-se como parte de determinado local e ao mesmo tempo que esse local o pertence, desse modo é produzido a ação, a partilha de valores, costumes e uma memória comum entre os membros. A última categoria de cultura mencionada, a cultura de massa, nasce a partir da junção dos avanços tecnológicos, do crescimento do capitalismo e do desenvolvimento dos meios de comunicação, que conduziram o crescimento do mercado de consumo de bens. Segundo Hall (1997), assistiu-se a uma verdadeira “Revolução Cultural”, principalmente, a partir da segunda metade do século XX, em que as atividades, instituições e práticas culturais expandiram-se, aumentando os meios de produção e a circulação cultural através do avanço tecnológico. A importância dessas mudanças culturais, ocorridas no final da segunda metade do século passado, está presente no grau de impacto e na escala global em que ocorreram. Com a globalização, surgiu a tendência de homogeneização da cultura, uma padronização dos modos de vida e dos produtos culturais iguais em qualquer local do mundo, apagando as características locais (RAMOS, 2008). Todavia, ainda de acordo com Ramos (2008), no Brasil, a partir da década de oitenta, as políticas públicas dinamizadoras da produção cultural ganham força ao utilizá-las em favor da sociedade, pois nesse contexto de globalização cada vez mais passa a ser necessário valorizar as culturas locais e populares. Essas políticas culturais são conceituadas por Coelho (1997, p.293) como: “[...] programas de intervenções realizadas pelo Estado, entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas” No Brasil, tais políticas tornam-se uma realidade, a partir da concepção de um ambiente favorável para a produção e divulgação de cultura, como a criação do Ministério da Cultura, em 1985, e a Lei Rouanet de incentivos fiscais, em 1991. Criado em 1985, o Ministério da Cultura trata-se de um órgão público responsável pela gestão de políticas culturais do país. Entre as suas principais atribuições, estão a proteção do patrimônio histórico, artístico e cultural e a regulação dos direitos autorais. Atualmente, o ministério foi extinto e reduzido a Secretaria da Cultura, sendo parte integrante do Ministério do Turismo.


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A Lei Rouanet continua existindo, apenas seu nome foi alterado para Lei de Incentivo à Cultura e tem como objetivo principal a promoção à cultura no país. Por meio dela, empresas e pessoas físicas podem patrocinar espetáculos – exposições, shows, livros, museus, galerias e várias outras formas de expressão cultural – e abater o valor total ou parcial do apoio do Imposto de Renda. A seleção do projeto cultural é realizada com base em critérios técnicos e depois de aprovada a proposta, o proponente é autorizado a buscar apoio financeiro diretamente junto aos investidores culturais (pessoas físicas ou jurídicas), visando a execução do projeto (SECULT, 2020). A partir do estabelecimento do Ministério da cultura e leis de incentivo fiscal, diversas outras políticas culturais foram sendo elaboradas e empregadas nos âmbitos nacionais, estaduais e municipais, acompanhando o aumento da profissionalização e especialização entre os trabalhadores da área, além de transformar o setor cultural em competitivo e priorizar o diálogo entre o poder público e privado para a elaboração de estratégias para a captação de recursos visando a entrada ou permanência no mercado cultural (RAMOS, 2008). Sendo assim, cria-se na cidade um contexto de marketing cultural, em que se observa a efervescência dos inúmeros projetos de intervenções urbanas realizadas pelo Estado em conjunto com a iniciativa privada, acompanhadas da revitalização de núcleos urbanos centrais obsoletos ou áreas consideradas degradas, retomando a vitalidade desses lugares e os tornando símbolo da cidade renovada. As áreas centrais são privilegiadas devido ao seu conteúdo histórico composto pelo patrimônio material e imaterial, e são requalificadas de maneira que alteram a imagem da cidade onde estão localizadas e a introduzem ou fomentam sua posição no mercado competitivo global (COLCHETE FILHO, 2020). Todavia, a recuperação estratégica das áreas centrais das cidades pode acarretar o processo de supervalorização do espaço urbano e turistificação do patrimônio cultural, ao visar o lucro dos setores financeiros e imobiliários. Assim, a cultura como mercadoria passa a integrar a agenda política, sendo instrumento de captação de recursos entre o poder público e privado, e vista como algo que se deve investir para renovar a “imagem” da cidade (NEVES, 2013). Soma-se a isso, o uso de ícones arquitetônicos para a promoção da nova imagem da cidade, sendo estes ícones em forma de novos espaços culturais como museus e centros culturais.


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Segundo Neves (2013), o centro cultural emblemático, muitas vezes monumental, passa a ser elemento transformador, um ícone midiático capaz de também atrair investimentos. A autora afirma que: [...]considerado pelas cidades modelos mais do que uma qualificação, são considerados ícones midiáticos, transformando-a em um local ideal para negócios. No entanto, alguns projetos são apenas cenários para um “público não existente”, ou seja, um público fictício, que recebe alto investimento em obras monumentais justificado pela ideologia de criação dos locais públicos (NEVES, 2013, p. 9). Os projetos de intervenção urbana lançam “tendências” de centros culturais geralmente projetados por arquitetos renomados e por estarem localizados nessas áreas centrais e estratégicas, visam o crescimento da cidade e o fácil acesso a edificação, proporcionando melhorias em conjunto com as revitalizações de locais considerados obsoletos ou degradados. Transforma a arquitetura como monumento e em atração, tanto cultural quanto turística, prevêse assim forma antes da função (NEVES, 2013). Percebe-se então que a cultura na cidade passa a ser realizada por meio da capitalização, em que são realizadas estratégias como: intervenções nas áreas centrais, acompanhadas da preservação de edifícios considerados patrimônio histórico e cultural, e da arquitetura monumental criada por arquitetos de grande renome. Tais estratégias são símbolos que representam as ações de intervenções urbanas (SÁNCHEZ, 2003). Entretanto, as intervenções na cidade norteadas pela cultura não devem envolver apenas essas estratégias, mas devem ser carregadas de outras táticas e elementos de qualidade e identidade caracterizados pelos mobiliários e a arte pública. Além de alterarem a paisagem, as intervenções buscam trazer benefícios para o local de intervenção, tanto no âmbito econômico como social, a partir da reapropriação cultural e pública do espaço (JACQUES; VAZ, 2001). A arte pública tem potencialidade para manifestar as múltiplas identidades urbanas, assumindo dessa maneira o desafio de retratar a diversidade social da cidade e tornar visíveis grupos sociais urbanos. E o conjunto de mobiliário dos espaços públicos igualmente possui propriedades que podem colaborar com a identidade em áreas urbanas, promove relações de memória afetiva que envolvem o espaço e o indivíduo como usuário, assim como apoio para atividades (MORONI 2008). Logo, cria-se todo um circuito cultural, composto de diversas instituições culturais como: museus; bibliotecas; centros culturais; juntamente com os elementos de apoio como as praças


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e os equipamentos como mobiliários e a arte pública. Busca-se transformar a qualidade do local para os seus moradores e usuários. A concepção desses circuitos culturais visa promover a interação entre os espaços culturais existentes no local, além de democratizarem a cultura, facilitando o seu acesso. As instituições culturais integrantes desses circuitos proporcionam diversas atividades e manifestações culturais como: festas, feiras e sarais que envolvem arte, dança, música, artesanato, literatura e gastronomia, geralmente em espaços públicos próximos, tais como praças e parques. Tais circuitos culturais podem ser vinculados às instituições privadas, ou podem ser realizados pela própria comunidade em parceria com o Governo. Fato esse confirmado por Andrade e Veloso (2014), em que descrevem as duas principais características dessas intervenções culturais e urbanas, como sendo primeiramente, o uso de equipamentos culturais para promover a cidade, e a segunda, o emprego de parcerias público-privadas centradas na promoção da cultura. Exemplo disso é o Circuito Cultural Praça da Liberdade (CCPL) na cidade de Belo Horizonte em Minas Gerais (fig. 1). Foi criado após a transferência da sede administrativa para a região norte da cidade, uma vez que os antigos edifícios se tornaram inadequados para abrigar a ampliação e modernização do sistema administrativo, logo esses foram adaptados para o a nova vocação cultural do espaço. A intervenção visou projetar a cidade, a partir do apelo cultural, para além das fronteiras de Minas Gerais (ANDRADE, VELOSO, 2014). Figura 1 - Vista panorâmica do Circuito Liberdade, Belo Horizonte, MG.

Fonte: SECULT, 2020


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Andrade e Veloso (2014) afirmam que, embora tenha se tornado um forte elemento cultural para Belo Horizonte, a elaboração do circuito fomentou a elitização do espaço, e uma diminuição da diversidade, devido ao seu entorno já ser habitado por uma população de alta renda. A ação iniciou-se com a retirada das feiras, consideradas não atrativas visualmente para o novo cenário cultural, e se intensificou depois da reforma da Praça Liberdade (ANDRADE, VELOSO, 2014). Outro exemplo de destaque é a cidade de Medellín, na Colômbia, que se transformou em um exemplo mundial a ser seguido. Embora não tenha um local específico que reúne um conjunto de equipamentos culturais com o título de circuito cultural, desempenhou diversas intervenções urbanas mediadas pela cultura, com vistas a diminuir os altos índices criminais nas chamadas comunas¹. Com isso, as áreas mais carentes e consideradas como inseguras, receberam obras urbanísticas significativas como os parques-bibliotecas (fig. 2), com arquitetura arrojada, que efetivaram a transformação e difusão da imagem da cidade, bem como as diversas praças e parques planejados com qualidade no desenho urbano, equipamentos e mobiliário (DÍAS; JUNIOR, 2017). Figura 2 - Parque Biblioteca Fernando Botero por G Ateliers Architecture

Fonte: Archdaily, 2012

Vale ressaltar que as ações só foram possíveis a partir de um planejamento participativo, ao incluir a comunidade local na elaboração das propostas, através de “oficinas imaginativas” nas quais os moradores da comuna tiveram a oportunidade de imaginar alternativas e redesenhar onde eles moravam (DÍAS; JUNIOR, 2017).


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Percebe-se, portanto, que as intervenções urbanas quando consideram e atendem as necessidades da população local e valorizam as atividades cotidianas e as tradições e identidade locais, por conseguinte, promovem a cultura e a vida na cidade. Como afirma Teixeira Coelho (1886, p.113), “não existe uma cultura popular, ou uma cultura erudita. Existe a cultura viva e cultura morta, existe a cultura de consumo (de bens eruditos ou populares ou operários - e consumir é matar), e a cultura de produção pelo indivíduo em grupo, com bens seja de que origem for”.


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3. REFERÊNCIA PROJETUAL Como forma de buscar auxílio para a etapa de proposição de diretrizes e ações projetuais, analisa-se uma referência de projeto de intervenção urbana mediada pela cultura a partir da implantação de um circuito cultural. Com isso, neste capítulo será explanado o Circuito Cultural Liberdade, pois representa a inauguração de um novo cenário cultural para a cidade Belo Horizontina, assim como a preservação e valorização histórica da região. Ele foi elaborado a partir de parcerias público-privadas entre o Governo do Estado de Minas Gerais e a iniciativa privada de grandes empresas. E as análises foram elaboradas nesse trabalho são baseadas principalmente nos estudos de Andrade e Veloso (2015) sobre o Circuito Liberdade, realizados entres os anos de 2014 e 2015. 3.1 Circuito Cultural Liberdade - Belo Horizonte, MG O Circuito Liberdade, localizado na cidade de Belo Horizonte, foi inaugurado em 2010. Sua concepção foi realizada com a mudança de uso dos edifícios existentes no entorno da Praça Liberdade, praça esta que dá nome ao circuito. Esses edifícios, antes com uso administrativo e ocupados pelas secretarias e palácios do governo do estado, foram requalificados para abrigarem o novo uso cultural, dando espaço para museus e centros culturais (ANDRADE; VELOSO, 2014). A história do circuito tem relação com a própria história da capital Belo Horizontina, na qual a sede administrativa foi projetada para ocupar a Praça Liberdade, desde a fundação da cidade, em 1897. A praça representava o símbolo de poder da nova capital, assim como abrigou diferentes formas de ocupação ao longo da sua história, como a chamada feira hippie. Todavia, a ampliação e modernização do sistema administrativo evidenciou-se a inadequação dos edifícios públicos para abrigar as secretarias mas, sim, o potencial cultural que o local possuía, provocando a transferência da sede do governo para a região norte da cidade e a remoção das feiras de artesanato que ocorriam no interior da praça (ANDRADE; VELOSO, 2014). A configuração do circuito desenvolveu-se gradualmente, iniciando em 1938 com o Arquivo Público Mineiro que passou a ocupar um antigo casarão no entorno da Praça. E a partir disso, surgiram novas edificações criadas como a Biblioteca Pública no ano de 1954; o Museu Mineiro


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em 1982; e o Centro de informação ao visitante também na década de oitenta (CIRCUITO LIBERDADE, 2020). Atualmente, o Circuito Liberdade é composto por um total de dezesseis instituições, sendo oito mantidas diretamente pelo Estado de Minas Gerais e outras oito por parceiros privados ou instituições públicas federais (fig. 3). Figura 3 - Mapa atualizado do Circuito Liberdade.

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

O circuito tem como objetivo agrupar espaços culturais de diversos usos e atividades, explorando a diversidade cultural, em um mesmo espaço físico de grande valor simbólico, histórico e arquitetônico da cidade mineira. Foi viabilizado graças às parcerias entre instituições públicas e privadas, ao aplicar recursos na recuperação e manutenção do patrimônio histórico presente, oportunizando que empresas participassem e contribuíssem com o desenvolvimento cultural da cidade (GONÇALVES; SOUZA; ABJAUD, 2015).


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A criação do circuito vai além da inauguração de um novo cenário cultural em Belo Horizonte, representa o resgate histórico da região. Além disso, o projeto do Circuito reforça a imagem da cidade para além dos seus limites físicos, podendo atrair turistas e empresas, assim como situar a cidade no atual mercado econômico competitivo (ANDRADE; VELOSO, 2014). 3.1.1 A praça Liberdade O coração do circuito, a Praça Liberdade, foi implantada na cota mais alta daquela região da cidade, possuindo uma área de 35.000 m² com terreno plano e sem desníveis. E o entorno da praça é caracterizado por edifícios com grande diversidade de estilos arquitetônicos devido à passagem dos séculos e quando ainda abrigavam as Secretarias de Estado. A praça é dividida longitudinalmente pela Alameda Travessia, em duas partes ladeadas por palmeiras imperiais, criando um eixo visual e de passagem que a conecta com o Palácio da Liberdade1. Em seu centro, encontra-se em destaque o coreto em estrutura metálica e, espalhados por toda sua extensão, pode-se encontrar monumentos, esculturas e fontes. O desenho original dos jardins que possuíam características dos jardins ingleses foi obra do arquiteto paisagista Paul Villon (fig. 4). Já em 1920, o desenho foi substituído pelos traços dos famosos jardins franceses e que permanece até os dias atuais (fig. 5) (LEMOS JUNIOR, 2016).

“No final do século XIX, a cidade de Belo Horizonte foi planejada para ser a nova capital do Estado. O Palácio da Liberdade foi construído para ser a sede e o símbolo do governo. Sua inauguração aconteceu em 1898 e, tendo sido palco de importantes acontecimentos políticos que marcaram a história de Minas Gerais e do Brasil, hoje é um dos principais cartões postais da cidade, despertando o interesse dos visitantes do Circuito Liberdade.” (CIRCUITO LIBERDADE, 2020). 1


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Figura 4 - Praça da liberdade antes da reforma de 1920.

Fonte: Site do Circuito Liberdade, Acervo IEPHA/MG, 2020.

Figura 5 - Foto atual dos jardins no estilo francês da Praça Liberdade.

Fonte: Site do jornal O Tempo, 2020.

A praça representa o espaço público mais importante simbolicamente para a cidade de Belo Horizonte. Planejada desde a fundação da cidade, a praça é um dos principais locais de atração turística, devido a sua centralidade, uma vez que está situada em local privilegiado, entre o centro tradicional e a região da Savassi, uma nova centralidade surgida nas décadas de 1960 e 1970 (ANDRADE; VELOSO, 2014).


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A importância da Praça está ligada ao seu valor histórico, político e sociocultural, por ter sido a sede do poder administrativo; e por ter se caracterizado como um espaço público marcante na vida da cidade, e foi cenário de diversas formas de sociabilidade e cultura. Entre tantas, destacase, a feira de arte e artesanato aos domingos, que ficou conhecida popularmente conhecida como feira hippie. No início, a feira era um local de exposição de obras de arte, roupas e objetos artesanais.

Entretanto, com o tempo novos produtos passaram a ser comercializados e a praça deixou de ser um local com característica alternativa com feiras de artesanato, para um lugar de consumo de produtos industrializados, fato que atraiu turistas e comerciantes de diferentes regiões do Brasil. E assim, aumentou-se o número de feiras, o que acarretou a distribuição das feiras em dias distintos da semana e que, de certa forma, segundo Andrade e Veloso (2014), essa falta de controle público influenciou na descaraterização do praça.

Logo, a partir da década de noventa, iniciou-se o projeto de reforma da praça da Praça Liberdade, adaptando-a ao novo cenário cultural previsto para o local, ocorrendo a remoção das feiras de artesanato presentes na praça para outras áreas da cidade. Surge assim o primeiro passo para a concepção do circuito cultural, que viria a se concretizar anos depois como um projeto do Governo do Estado.

No novo Circuito, os museus e centros se voltam para a praça, onde fazem sua entrada principal. Forma-se então um cenário de espetacularização e consumo por um público ou um “segmento de mercado cultural” que se utiliza de um conjunto de valores, tornando-se a fórmula dos espaços de intervenção: prédios antigos restaurados, museus, cafés e espaço público providos de valores e atividades culturais. Fato que fez essa região ainda mais nobre, sobretudo com a valorização imobiliária (ANDRADE, VELOSO, 2014).

Todavia, Andrade e Veloso (2014) afirmam não ter ocorrido uma gentrificação do espaço, já que a região já era habitada por pessoas de alta renda, e que permanecem ali. O perfil dos frequentadores durante a semana são os próprios moradores dos bairros próximos, e os turistas majoritariamente durante os finais de semana. Nos finais de semana acontecem também manifestações culturais, como shows de música e peças de teatro, e outros eventos realizados com o patrocínio de grandes empresas em parceria com o governo do Estado e prefeitura.


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Entretanto, usuários considerados indesejáveis, como ambulantes e pessoas em condição de rua, são afastados do local da praça com rondas policiais durante o dia. Tais grupos fazem uso do espaço somente a noite, quando o policiamento é menor. Pode-se, então, concluir que o Circuito incentivou diretamente a uma maior elitização do espaço, já que seu entorno é composto por uma população de alta renda, e uma diminuição da diversidade, ação iniciada com a retirada das feiras de artesanato e que se intensificou depois da reforma da Praça Liberdade.

3.1.2 Implantação e relação com o entorno O complexo do Circuito Liberdade está localizado na parte alta da cidade, mais precisamente no Bairro denominado Savassi, bem próximo ao centro histórico de Belo Horizonte (fig. 6). Logo, sua localização é de centralidade, pois está entre o centro tradicional e a região do bairro Savassi, que é uma centralidade consideravelmente nova, surgida nas décadas de 1960 e 1970 (VELOSO; ANDRADE, 2014). Figura 6 - Mapa de localização do Circuito liberdade

Fonte: elaborado pela autora a partir da organização de arquivos do portal BHmap.


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O circuito encontra-se, na interseção de duas vias, a Avenida Bias Fortes e a Avenida Brasil, em que surge a Praça da Liberdade como um símbolo, juntamente com os edifícios ao seu redor (fig. 7). Segundo Faria (2016), o desenho do circuito é justificado no projeto original da cidade de 1894, em que possui um traçado geométrico, similar a um tabuleiro de xadrez e que no cruzamento das grandes vias é que surgem os espaços públicos como marcos urbanos propositais da cidade. Figura 7- Mapa de implantação do Circuito Liberdade

Fonte: elaborado pela autora a partir da organização de arquivos do portal BHmap.

O paisagismo do circuito é reforçado então pela Praça Liberdade que é enquadrada pelos edifícios históricos em seu entorno como uma pintura (VELOSO; ANDRADE, 2014). Criamse, então, duas vias paralelas a praça em que ambas são chamadas de Praça da Liberdade, elas fazem o acesso principal aos prédios, além de serem abastecidas com pontos de transporte coletivo, o que facilita o trânsito de pessoas de outras partes da cidade que queiram frequentar o circuito. De acordo com o que foi verificado nas referências bibliográficas sobre o circuito, e confirmado por meio de programas de mapeamento online, não há nenhum elemento que


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conecte os edifícios do circuito, seja por meio de placas ou pisos indicativos, o que pode dificultar a leitura dos espaços formando um grande percurso em circuito por parte dos visitantes. E o circuito é abastecido de mobiliários apenas dentro da Praça, pois no percurso da calçada em frente às edificações não existem mobiliários, podendo passar a impressão de passagem aos visitantes e usuários e não reforçar a identidade do circuito como um espaço cultural. Há apenas um ponto de parada, situado entre os edifícios MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal e o Memorial Minas Gerais Vale (fig. 8). Figura 8 - Ponto de parada entre os edifícios MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal e o Memorial Minas Gerais Vale

Fonte: Google Maps, 2019

Em relação aos de mobiliários urbanos, o local é abastecido com lixeiras, postes de iluminação no nível do pedestre, pontos de ônibus, paraciclos, assim como equipamentos de segurança e proteção do pedestre como semáforos e faixas de pedestres em ambas as extremidades do circuito. Quanto aos arredores do circuito, o bairro Savassi é conhecido por sua variedade de bares e restaurantes e ser sede de muitas empresas de base tecnológica de Belo Horizonte. É considerado um ponto de referência para negócios inovadores, contando com espaços de coworking (CAMPOS, 2017).


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Todo esse cenário do bairro, faz parte do projeto Savassi Criativa. Um projeto de parceria público privada e apresentado no Conselho Regional CDL Savassi2 em 2014. Tem como objetivo o desenvolvimento da qualidade de vida do bairro levando em consideração sua importância histórica e cultural, seu ecossistema criativo e sua população diversa (MORAIS; DUARTE, 2019). 3.1.3 Os espaços culturais e seus usos A partir de 2015, o Circuito passou a ser gerido pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) e nos dias de hoje, encontram-se abertos 15 espaços para visitação (CIRCUITO LIBERDADE, 2020). A seguir está uma breve descrição, de acordo com o próprio site do Circuito, sobre cada um desses espaços e as atividades que cada um promove. (I) O Palácio da Liberdade: o edifício foi inaugurado em 1897 e é descrito como de estilo arquitetônico eclético (fig. 9). Abrigou a sede administrativa do governo do Estado até o ano de 2010. É tombado pelo IEPHA/MG através do Decreto Nº 16.956, de 27 de janeiro de 1975, e seu inventário foi catalogado em muitas categorias, nas quais se incluem peças de mobiliário, objetos de iluminação, esculturas, prataria, relógios, tapeçarias e uma variedade de pinturas. Possui entrada gratuita e oferece os seguintes serviços: encontro com educadores, visitas escolares, e visitas públicas, todas realizadas mediante agendamento.

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Os Conselhos Regionais da CDL/BH são fóruns de discussão, voltados para assuntos de desenvolvimento das principais regiões comerciais de Belo Horizonte. O objetivo é diagnosticar, debater e agir de forma proativa em ações que contribuirão para a melhoria dessas áreas e do comércio local (CDL/BH).


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Figura 9 – Fachada principal do Palácio Liberdade

Fonte: Acervo IEPHA - MG, 2020

(II) O Arquivo Público Mineiro: essa instituição é responsável pela gestão, recolhimento, e preservação e acesso ao acervo arquivístico do Poder Executivo estadual e aos documentos privados de interesse público (fig. 10). Em seu acervo, os visitantes encontram milhares de documentos, que remontam desde os períodos colonial, imperial e republicano. Conta com fotografias, mapas, documentos e um conjunto de curtas e documentários sobre a história do estado mineiro. É considerada a instituição cultural mais antiga de Minas Gerais, pois foi criando em 1895 quando Ouro Preto ainda era a capital. Todavia, foi transferido para Belo Horizonte em 1901 ocupando um antigo casarão residencial no estilo eclético, mantendo-se assim até os dias de hoje. A entrada é gratuita, porém para o recebimento de visitas técnicas, é necessário ser agendamento online, mediante e-mail.


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Figura 10 - Fachada principal do Arquivo Público Mineiro.

Fonte: Acervo IEPHA - MG, 2020

(III) A Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais: edifício em estilo arquitetônico modernista foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, durante o governo de Juscelino Kubitscheck, e inaugurado em 1961. O prédio possui um teatro, salas para cursos e uma galeria de arte, além de um acervo com aproximadamente mais de 570 mil exemplares, incluindo obras raras tanto de autores nacionais quanto de estrangeiros, além de audiolivros e acervo em Braille. A entrada é gratuita e não é necessário agendamento para a realização de visitas (fig. 11).


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Figura 11 - Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

Fonte: Site Circuito Liberdade, 2020

(IV) Museu Mineiro: o edifício que abriga esse museu foi sede do Senado Mineiro e está situado em um antigo casarão do final do século XIX. Suas características arquitetônicas seguem o mesmo estilo eclético padrão dos edifícios históricos da Praça da Liberdade (fig. 12). Seu acervo reúne aproximadamente imagens sacras, equipamentos litúrgicos, mobiliário, moedas, armas e achados arqueológicos. Inclui-se também o acervo da Pinacoteca do Estado, em que conta com obras de importantes artistas mineiros e renomados artistas brasileiros como Volpi e Di Cavalcanti. Figura 12 - Fachada lateral do Museu Mineiro

Fonte: SECULT, 2018


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(V) Centro de Arte Popular Cemig: o edifício possui de características ecléticas e é datado de 1920, foi construído originalmente para ser uma residência e posteriormente foi sede do antigo Hospital São Tarcísio. E no ano de 2012, a edificação foi adaptada para abrigar o espaço cultural, que possui um acervo com obras de arte popular de artistas de diferentes regiões de Minas Gerais, representando a pluralidade da cultura mineira (fig. 13). O centro conta com área de exposições permanentes e exposições temporárias, um auditório, uma sala para oficinas de arte e um pátio interior para um projeto de grafites. O espaço é gratuito e recebe eventos de artes visuais e cênicas, música e educação. Figura 13 - Fachada principal do Centro de Arte Popular – CEMIG.

Fonte: foto por Roberto Angel G. para o TripAdvisor, 2016.

(VI) Cefart Liberdade: o Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado. Está instalado temporariamente em uma edificação da década de 60. O centro é voltado para a música, composto de salas para aulas individuais ou para pequenos grupos, salas de ensino coletivo, sala de estudo multiuso e uma sala de ensaio. O espaço oferece cursos livres, profissionalizantes e de extensão para idades variadas, além de cursos em tecnologia do espetáculo voltados para as áreas de iluminação, sonorização, figurino e cenografia (fig. 14).


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Figura 14 – Acesso principal do Cefart Liberdade

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

(VII) BDMG Cultural: o Braço cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais é um instituto criado em 1988 e desde então realiza ações na área da música, das artes visuais e das artes cênicas, abrindo espaço para novos artistas (fig. 15). Figura 15 - Braço cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

(VIII) Espaço Cultural da Escola de Design UEMG: É um espaço considerado novo, tendo sido aberto ao público no final ano de 2018. O espaço é parte integrante da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, e foi incluída no Circuito visando mostrar aos visitantes a cultura material do design. O espaço apresenta eventos e atividades diversas como Cursos, Mostras, Exposições, Feiras, Palestras, Seminários, Rodas de Conversa, Exibições Audiovisuais e Aulas Abertas, todas mediante agendamento prévio ou seleção por editais e o acesso é gratuito (fig. 16).


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Figura 16 – Fachada do Espaço Cultural da Escola de Design UEMG

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

(IX) Espaço do Conhecimento UFMG: o espaço está situado em um edifício com características contemporâneas, cujo foi projetado por Josefina Vasconcelos. É produto da parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Governo de Minas, e integra o Circuito Liberdade objetivando “promover a divulgação científica e a cultura por meio de recursos tecnológicos e audiovisuais, de maneira lúdica e interativa”. Do lado de fora, voltada para a Praça da Liberdade, está a fachada principal e nomeada Fachada Digital, pois durante a noite são exibidas imagens ligadas à arte e a ciência (fig. 17). Possui ainda um planetário onde os visitantes observam o céu com a ajuda de equipamentos e orientação de especialistas em astronomia. Figura 17 - Fachada Digital do Espaço do Conhecimento UFMG

Fonte: Site UFMG, 2018


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(X) MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal: está instalado no Prédio Rosa, uma edificação inaugurada em 1897 para funcionar a Secretaria do Interior e da Educação, que posteriormente passou por período de restauro para o novo uso cultural (fig. 18). Apresenta de maneira dinâmica e interativa a história da mineração e da metalurgia. “Em 18 áreas expositivas, estão 44 atrações que apresentam, por meio de personagens históricos e fictícios, os minérios, os minerais e a diversidade do universo da Geociências”. No piso térreo estão localizados os cafés e as lojas, enquanto no primeiro pavimento está a exposição sobre as minas e, por último, no segundo pavimento está a exposição sobre a importância do metal. Figura 18 - Fachada do MM Gerdau

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

(XI) Memorial Minas Gerais Vale: a construção de estilo eclético foi projetada inicialmente para hospedar a Secretaria da Fazenda, de 1897. É definido como "museu de experiência", instigando o visitante a descobrir a história e os costumes mineiros com o auxílio de cenário reais e virtuais. Possui um total de trinta e um espaços que o compõem sendo seu acesso gratuito, além de um café que também funciona como espaço para exposições (fig. 19).


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Figura 19- Vista do Memorial Minas Gerais Vale

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

(XII) Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB): A edificação de estilo eclético, com influências neoclássicas e art déco, foi inaugurado em 1930 para sediar a Secretaria de Interior e Justiça. Todavia, a partir de uma doação feita pelo Governo do Estado de Minas Gerais ao Banco do Brasil, foi reinaugurado em 2013 com o novo uso cultural, sendo a quarta unidade do CCBB no país (fig. 20). No total são 8.000 m² abertos ao público, o que faz o centro receber eventos nas áreas de artes cênicas, cinema, exposições, ideias, música e educação. Seu acesso é pago e realizado mediante bilheteria no local. Figura 20 - Fachada do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)

Fonte: Site SouBH, 2015.


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(XIII) Casa Fiat de Cultura: Instalada na antiga edificação conhecida como Palácio dos Despachos (fig. 21), a instituição exibe gratuitamente exposições de Belo Horizonte. Já foram exibidas obras de artistas ícones da história da arte, como Caravaggio, Chagall, Rodin, Aleijadinho, Tarsila do Amaral, e artistas do cenário mineiro contemporâneo. Oferta ainda uma programação de palestras sobre arte, história, fotografia, design e atividades educativas como ateliês abertos ao público. Figura 21 - Vista da Casa Fiat de Cultura

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

(XIV) Academia Mineira de Letras: A primeira sede da Academia Mineira de Letras foi criada na cidade de Juiz de Fora, em 1909, por um de profissionais ligados à literatura e à cultura. Entretanto, em 1915, a instituição foi transferida para a capital Belo Horizonte e, em 1987, passou a residir o Palacete Borges da Costa de estilo neoclássico, ganhando posteriormente um anexo moderno e funcional para eventos e reuniões (fig. 22). O espaço abriga um acervo de título, exemplares, entre obras raras e únicas possíveis de visitação gratuita. Figura 22 - Vista da Academia Mineira de Letras e seu novo anexo.

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.


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(XV) Centro Cultural Minas Tênis Clube (CCMTC): é constituído por um Teatro, uma Galeria de Arte e um Centro de Memória. Foi inaugurado e aberto ao público em março de 2013 e a sua implantação é uma das ações integrantes do Plano Diretor do Minas Tênis Clube de 1998, concebida com a intenção de consolidar o aprimoramento dos serviços prestados pelo setor cultural do Clube e de estreitar os laços construídos entre o Clube e Belo Horizonte (fig. 23). Oferece uma programação diversificada para diferentes idades, desde crianças até idosos, na qual se incluem espetáculos teatrais, musicais, apresentações de dança, saraus, concertos e shows brasileiros e estrangeiros. Figura 23 - Fachada do Centro Cultural Minas Tênis Clube

Fonte: Site Circuito liberdade, 2020.

Ao fim, percebe-se que os eventos oferecidos e a programação de cada um dos espaços culturais citados são dinâmicas e variadas, portanto, as atividades e os horários de funcionamentos são descritos no site do Circuito Liberdade, com o seguinte endereço eletrônico: <www.circuitoculturalliberdade.com.br>. 3.1.4 Considerações sobre o estudo de caso Entende-se que o Circuito Liberdade é uma política cultural pública privada, na qual empresas privadas apoiam as iniciativas de recuperação de imóveis históricos e equipamentos visando o interesse econômico. Percebe-se, assim, a necessidade de um equilíbrio de interesses, uma vez que a qualidade de vida da população deveria ser o foco principal de qualquer intervenção mediada pela cultura. Fomentar e enaltecer os aspectos culturais de uma sociedade são ações de extrema importância, e a melhor forma de fazê-las é por meio da participação popular.


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De fato, os edifícios do Circuito têm uma adequada infraestrutura e dispõem atividades diversificadas, além de cumprirem com sua função de permitir e incentivar o livre acesso à cultura, uma vez que todas as entradas aos museus e centros são gratuitas. Entretanto, segundo os estudos de Gonçalves, Souza e Abjaud (2015), falta uma maior divulgação do Circuito, para que assim ele atinja um maior público e todas as classes sociais participem desses espaços de criação e informação. Os mesmos autores apontam, ainda, que uma maior divulgação poderia ser feita nos espetáculos teatrais ou através de vídeos promocionais antes das exibições de filmes nos cinemas, campanha em transportes coletivos e campanha nas escolas públicas e privadas. Destaca-se também o uso das redes sociais que podem alcançar públicos ainda maiores com campanhas disseminando as atividades e programações do Circuito. Finaliza-se observando que o circuito não oferece nenhuma marcação por placas ou pisos indicativos que possam conectar as edificações e deixá-las legíveis como integrantes de um grande percurso a ser feito pelos visitantes. Soma-se a isso, a escassez de mobiliários ao longo do percurso do circuito, uma característica negativa visto que esses elementos, quando presentes em espaços públicos, possuem propriedades que colaboram para a identidade dessas áreas, e promovem relações de memória afetiva entre o usuário e o espaço (MORONI 2008).


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4. ÁREA DE ESTUDO O motivo de escolha da área de estudo é explicado pela importância histórica que apresenta para o estado do Espírito Santo, sendo o berço da colonização capixaba. O patrimônio material e imaterial presente na área é de extrema relevância para a valorização da história local e memória, para que assim a própria população conheça e preserve a sua identidade. A região da Prainha quanto comparada à área do estudo de caso, se diferencia por apresentar uma escala menor e localização que permite acesso ao mar. Entretanto, há semelhanças: ambos os espaços possuem certa centralidade, mas que no passado isso foi mais evidente, uma vez que eram cenários administrativos de suas cidades. E com o passar do tempo, surgiram novos centros urbanos, ocasionando a perda das atividades administrativas nesses antigos e/ou tradicionais centros, assumindo agora uma nova funcionalidade, a cultural. 4.1 Localização A área da Prainha situa-se na região norte da cidade de Vila Velha, que integra a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) e pertence ao estado do Espírito Santo. A Prainha não é considerada um bairro, mas uma área de sítio histórico pertencente ao bairro Centro de Vila Velha, de acordo com a Lei de Abairramento n° 4.707 sancionada em 2008 (SOUZA, 2012). A região possui marcos de delimitação como os Morro Inhoá e Morro do Convento da Penha, importantes elementos naturais para a história da cidade e que abrigam em seu entorno, respectivamente: a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Espírito Santo (EAMES) e o 38° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro.

Há também marcos de referência para a área como o Convento da Penha, a Igreja do Rosário, a Casa da memória e o Museu Homero Massena. Esses e outros elementos compõem o cenário de patrimônio cultural da Prainha. Esse potencial histórico cultural fez com que área recebesse oficialmente o título de Sítio Histórico da Prainha com a Lei Nº 5.657 de 09 de outubro de 2015, tendo como objetivo a preservação do patrimônio cultural, histórico, religioso e paisagístico da região e direcionar as futuras ações referentes à proteção do patrimônio cultural do município (VILA VELHA, 2015).

E, segundo tal lei, a região da Prainha como sítio histórico tem seus limites iniciados na Rua Castelo Branco ao sul, e segue no sentido Baía de Vitória ao norte, a leste é limitado pelo Morro


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do da Penha e, por fim, a oeste pelas ruas Cabo Alysson Simões e Florêncio Queirós. Todavia, para esse trabalho foi agrupado outras partes para formar a área de estudo e intervenção (fig. 24), pois é considerada a região do Parque da Prainha e a continuação das vias de seu entorno, sendo elas: Rua Antônio Ataíde e Rua Bernardo Schneider.

Figura 24 - Mapa de localização da área de estudo e intervenção

Fonte: elaborado pela autora a partir da organização de arquivos da Prefeitura Municipal de Vila Velha.

4.2 História da área 4.2.1 Início da colonização (1500 a 1550) A área da Prainha é conhecida como o berço da colonização do estado do Espírito Santo, onde os colonizadores portugueses aportaram pela primeira vez em 23 de maio de 1535. O local foi selecionado para ser implantada a nova capitania, e Vasco Fernandes Coutinho escolhido como seu donatário, a partir da carta de doação de terras concedidas pelo então rei de Portugal D. João III (DAEMON, 2010).


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Fundou-se então a Vila do Espírito Santo, nome em homenagem ao domingo de Pentecostes, o dia que chegaram na Prainha. E com isso, seguindo a ordem de Vasco Coutinho, as primeiras moradias foram construídas e o desenvolvimento da vila iniciou-se: […] já construindo-se cabanas, já entregando-se ao plantio das sementes que trazia, já edificando-se um forte no lugar onde hoje se acha a fortaleza de Piratininga, como à construção de uma pequena capela. (DAEMON, 2010. Pág. 111).

E o termo capela utilizado, segundo Teixeira de Oliveira (1950), é referente a igreja conhecida atualmente como Igreja do Rosário. Apesar de na época ser reduzida em tamanho e não abrigar todos do povoado durante as missas, era ali que, além dos cerimoniais religiosos, eram difundidas as notícias das outras Províncias e do Reino de Portugal, e servia como cartório de registros (OLIVEIRA, 1950; SANTOS, 1999).

Com o passar dos anos, a vila passou, então, a ser a sede política da capitania, perdendo o título em 1551 quanto foi fundada a vila de Vitória. A mudança ocorreu devido a antiga capital apresentar certas dificuldades e reduzido número de colonos, o que ocasionou ao donatário, Vasco Fernandes Coutinho, retornar em meados ou fins de 1947 à Portugal, com a função de buscar mais colonos e recursos para a missão colonizadora.

Segundo Basílio Daemon (2010), nesse período e nos anos seguintes, mesmo com o retorno de Vasco Coutinho de Portugal, os ataques indígenas, caracterizados pelos índios Tupiniquins, Goitacazes e outros, eram constantes, em muitos dos quais morreram alguns dos povoadores. Assim, o donatário e seu povoado se estabelecem na ilha de Duarte de Lemos3, devido a vantagens topográficas: […] por ser a ilha rodeada por mar e haver abundância d’água, o que na vila do Espírito Santo faltava, e por ser mais fácil a defesa dos moradores, que se viam continuamente incomodados. Estabelecidos que foram, principiaram a chamar à nova povoação de Vila Nova, enquanto à do Espírito Santo denominaram de Vila Velha, nome que se conservou por muitos anos, como até hoje; […] (DAEMON, 2010. Pág. 111). 3

Ilha doada por Vasco Fernandes Coutinho em sesmaria, provavelmente em 1536 ou 1537, ao fidalgo português Duarte de Lemos


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De volta à Vila Velha, em 1558 desembarcou o frei franciscano Pedro Palácios que durante sua estadia pregou a religião católica para as pessoas da vila, excursionando algumas vezes pelas proximidades, em visita às aldeias indígenas. Primeiramente, abrigou-se em uma gruta ao sopé do morro da Penha, sendo até hoje conhecida como “Gruta de Frei Palácios” (SANTOS, 1999) (fig. 25). Figura 25 - Vista da Gruta de Frei Palácios e ao lado a entrada da ladeira da Penitência.

Fonte: jornal A Gazeta, 2020.

Junto consigo trouxe da Europa um painel de Nossa Senhora das Alegrias, e para abriga-lo, levantou uma ermida no morro, que com o passar dos anos e séculos sofreu ampliações, tornando-se o templo atual conhecido como Convento da Penha (DAEMON, 2010; OLIVEIRA 1950) (fig. 26). E por fim, no ano de 1569, a venerada imagem de Nossa Senhora da Penha desembarca em solo capixaba, solicitada por frei Palácios. Dessa forma, foi realizada primeira festa da Penha, datado no dia primeiro de maio de 1570.


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Figura 26 - Vista do Convento da Penha

Fonte: jornal A Gazeta, 2020.

4.2.2 Início do século XX até 1950 Como visto, a vila perdeu sua força política no século XVI devido a fundação da Vila de Vitória4 e com a transferência da sede administrativa, e durante os séculos seguintes o cenário não se alterou. Somente em 1896, foi declarada como cidade5 de Vila Velha e posteriormente como município6. E a partir do início do século XX, o município foi foco de intervenções urbanísticas com o objetivo de modernizar o local. O principal marco de tal modernização foi em 1912 com a inauguração do meio de transporte coletivo por meio de bondes. O trajeto ia da praça da Igreja do Rosário, na rua Luciano das Neves até Paul, no oeste do município, onde a travessia para Vitória era feita por lanchas. Desta forma, a importância da Prainha foi reforçada como o caminho de acesso para a capital (MELO, 2019). De acordo com Santos (1999), tal modernização trouxe outras intervenções para a Prainha. Exemplo disso foi a desobstrução das ruas, em torno de 1918 e 1920 durante a gestão do prefeito

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Conhecida hoje como a cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo. Aglomeração de pessoas em perímetro urbano. É formada por casas e outros edifícios e contam com serviços que atendem necessidades básicas, como saneamento e eletricidade. 6 O município engloba o perímetro urbano e territórios rurais, contando com administração pública e jurisdição própria. 5


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Antônio Athayde, para o alargamento e implementação de saneamento da área, acarretando a demolição de diversas casas (GURGEL, 2010). E nesse mesmo período, iniciou-se o projeto de paisagismo no largo da Matriz, espaço que hoje compreende as Praças da Bandeira e Otávio Araújo7, indo da linha do mar até a rua vinte e três de maio, com a igreja de Nossa Senhora do Rosário ao centro. Nesse largo, mais especificamente em frente à igreja, atual Praça da Bandeira, foram construídos uma fonte e jardins (fig. 27). Enquanto na área atrás da igreja costumava localizar o cemitério local, porém este foi transferido para outra área da cidade, dando espaço para a Praça Otávio Araújo, como ainda é conhecida atualmente (SANTOS, 1999). Figura 27 - Vista da Praça da Matriz na década de 1920

Fonte: Site Morro do Moreno, Acervo Casa da Memória, 2013.

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nome da praça em homenagem ao engenheiro militar capitão Otávio Alves Araújo, que foi prefeito de Vila Velha no período de 1925 a 1927.


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4.2.3 De 1930 a 1970 Nos anos de 1930 a 1950, inicia-se o processo de descentralização da Prainha, com a transferência da sede da prefeitura para o novo centro da cidade. E a partir disso o crescimento da cidade passa a ser no sentido sul, sendo o único eixo possível de expansão e futuramente o se estabilizando como o “novo centro” (SANTOS, 1999). Ainda de acordo com Santos (1999), a descentralização da área é intensificada com o surgimento do Santuário de Vila Velha, e assim a antiga Matriz deixa de ser paróquia e perde a preferência dos fiéis moradores da área e até de bairros vizinhos. Outra medida que acarretou a redução de pessoas e atividades na Prainha, foi a construção de novas vias para a cidade, o que fez o transporte por bonde ser abandonado, dando lugar ao ônibus como transporte coletivo. É possível de dizer que essa perda de notoriedade do centro histórico da Prainha, possibilitou que o local permanecesse com o uso residencial e sua malha viária fosse mantida de acordo com a original. Não houve mudanças de funções e usos como ocorre em outros centros históricos no Brasil, como nas cidades de Vitória, Rio de Janeiro e São Paulo. Todavia, a área sofreu diversos impactos que descaracterizaram espacialmente a área. Foram realizados aterros, como o que ocorreu em 1950 para abrigar a Escola de Marinheiros do Espírito Santo (EAMES), que acabou com a Praia de Inhoá. E o mais impactante aterro ocorreu na década de 1970 e apagou a principal característica da Prainha: o contato com o mar. A enseada existente desde os períodos de colonização foi destruída para abrigar os resíduos de desassoreamento do canal em direção a Baía de Vitória (fig. 28) (SANTOS, 1999). O aterro ficou conhecido como aterro da Comdusa. Figura 28 - Imagem do aterro da Comdusa nos anos de 1970

Fonte: Site Morro do Moreno, 2011


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4.2.4 De 1980 até os dias atuais Somente no final da década de oitenta iniciou-se a elaboração do primeiro Plano Diretor Urbano de Vila Velha (PDU), Lei n° 2621/90 que estabeleceu critérios de ocupação e uso do solo na área de proteção urbanística do entorno do Núcleo de Fundação Histórica da Cidade (região da Prainha). Enquanto a área aterrada continuou sem qualquer uso, além de impedir a principal forma de lazer da população local, uma vez que o uso da praia ficou comprometido devido ao acúmulo de dejetos. Somente em 1988, foi inaugurado o primeiro projeto para o Parque da Prainha, que possuía um amplo programa de atividades, contendo espaços para prática de variados esportes, restaurantes, áreas de estar e eventos, um grande mercado de peixes, e serviços como um posto policial e uma administração para o parque (fig. 29) (SANTOS, 1999). Figure 29 - Visão geral Parque da Prainha em 1990

Fonte: Revista AU 27. Dez/1989-Jan/90

Porém, o extenso programa não era compatível com a demanda local, o que gerou novamente uma sensação de abandono na área. A partir de 2007, diversos projetos foram desenvolvidos para o Parque da Prainha, mas nenhum foi executado. Dentre os projetos, destacam-se dois: o Parque Estadual da Prainha e Uma Vila Moderna. O primeiro foi uma parceria pública privada


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entre a Prefeitura de Vila de Velha (PMVV) e a Fábrica Chocolates Garoto e não foi executado por apresentar proposições não compatíveis com a área, ignorar o sítio histórico atrás do parque, trazendo uma cultura forjada para o local. Em uma das proposições, previa-se a duas torres de vidro com nove metros de altura na entrada do parque (fig. 30), que não só iam ofuscar a Igreja do Rosário atrás, como não estavam de acordo com as legislações vigentes no Plano Diretor de Vila Velha (PDM VV), que impede projetos que reduzam a visibilidade de elementos tombados. Figura 30 - Projeto Parque Estadual da Prainha por FEU Arquitetura

Fonte: FEU Arquitetura, 2007.

O segundo projeto, Uma Vila Moderna, foi realizado pela Associação dos Empresário de Vila Velha (ASEVILA) em 2009, prevendo áreas para turismo, cultura e lazer. Além disso, objetivava-se a recuperação do sítio histórico da prainha. Previa-se um empreendimento portuário com dois pontos de atracação, um para o recebimento de enormes navios e para o sistema de transporte aquaviário com a cidade de Vitória, e outro ponto de marina para pequenos barcos e lanchas (ASEVILA, 2009) (fig. 31).


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Figure 31 - Projeto do Parques Estadual da Prainha por ASEVILA

Fonte: Associação dos Empresário de Vila Velha, 2009.

E, apesar de possuir objetivos importantes, o projeto contempla a revitalização da área somente pelo viés econômico, usando a cultura como fator intensificador para o turismo, mas sem se aprofundar na valorização da história nem dos moradores locais. Por fim, como dito, nenhum dos projetos foi executado e atualmente a área do parque permanece com grandes espaços ociosos, dando a sensação de descaso e abandono. Em algumas datas do ano o parque recebe atividades sazonais de lazer como shows e eventos gastronômicos, pois fora isso conta somente com uma quadra de futebol como equipamento fixo de lazer. Somente as peixarias locais, a Cooperativa de Pesca de Vila Velha (COOPEVES) e o posto policial são as partes remanescentes do projeto inicial do parque em 1988. 4.3 Uso e ocupação do solo O mapeamento do uso do solo foi realizado de acordo com os dados da prefeitura e confirmados com a ajuda de plataformas online de mapeamento (fig.32). Foram considerados os seguintes usos: residencial, comercial, serviço, institucional, administrativo e misto, quando há a junção ente os dois primeiros usos.


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Figura 32 - Mapa de uso e ocupação do solo do Sítio Histórico da Prainha

Fonte: elaborado pela autora a partir da organização de arquivos da Prefeitura Municipal de Vila Velha.

De acordo com o levantamento, percebe-se a predominância do uso residencial da área, sendo compatível com o sítio histórico, que valoriza a escala local e os edifícios históricas. Os usos comercial e de serviço são mais frequentes a partir da Rua Castelo Branco e seguindo para a direção sul. Enquanto que o uso misto é observado nos dois lados da Igreja do Rosário, que compreendem as vias Avenida Luciano das Neves e Rua Praça Otávio Araújo, e também nas ruas que ficam próximas a entrada do Convento da Penha.

Nota-se na área que os usos comercial e de serviço são caracterizados como um comércio mais local e de pequeno porte, composto por bares, restaurantes e lojas de venda de artigos artesanais e/ou religiosos apoiando o turismo local no entorno da entrada do Convento.

Evidencia-se também para o uso institucional representado pela Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo (EAMES), a Cooperativa de Pesca de Vila Velha (COOPEVES), a Associação dos ex-combatentes do Brasil, a Casa da Memória, o Museu Homero Massena, a Academia de Letras de Vila Velha, assim como a Igreja Nossa Senhora do Rosário e o Convento da Penha.


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Embora, a Prefeitura Municipal esteja localizada em outra área da cidade, há alguns edifícios administrativos identificados no local, são eles: o Fórum Municipal de Vila Velha, a Câmara Municipal de Vila Velha, o Centro Jurídico, a Promotoria de Justiça da Prainha, a Casa dos Conselhos e a Delegacia de Defesa da Mulher. Todos eles ocupam prédios públicos de acesso fácil para a população.

4.4 Mapeamento cultural 4.4.1 Panorama Vila Velha Inicialmente foi necessário mapear todos os espaços públicos e culturais do Município de Vila Velha, para que assim fosse possível avaliar o panorama cultural da cidade. E a partir do mapa elaborado (figura 33), ficou exposto a escassez de museus e espaços culturais. A região que mais contém espaços culturais é a Regional I, composta por dezoito bairros, e dentre eles está o Centro, onde está abrigado o Sítio Histórico da Prainha, logo é justificável que o local seja um aglomerado de espaços culturais. Sendo assim, todos esses espaços serão catalogados de forma específica no próximo tópico que tratará apenas do mapeamento do Sítio.

E de acordo com o mapa, ainda na Regional I, existe o Morro do Moreno, utilizado para a atividade de trilha, e o Farol de Santa Luzia, espaço cultural e histórico de visitação, sendo ambos bastante visitados e situados no bairro Praia da Costa. Já no bairro Cocal, está inserido o Parque Urbano do Cocal que possui um equipamento cultural de estrema importância para terceira idade, que é o Centro de Convivência do Idoso, que propõe atividades esportivas, culturais e de lazer.

E por fim, em todas as seis regionais juntas que compõem o município, foram encontrados um número mediano de espaços públicos, sendo estes praças ou parques de todas as formas e tamanhos. Todavia analisar tais espaços poderia fugir do foco cultural do trabalho, dessa forma apenas foram localizados no mapa.


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Figura 33 - Mapa panorama cultural de Vila Velha

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

4.4.1 Panorama Sítio Histórico da Prainha Para esse mapeamento foi necessário limitar a área da Prainha de acordo com o que foi estabelecido na Lei Nº 5.657 de 09 de outubro de 2015. A partir disso, foi possível catalogar diferentes formas de expressão de cultura que foram divididas em categorias, sendo essas: (a) Eventos Sazonais, (b) Atividades Religiosas, (c) Ateliês de Arte e Confeitaria, (d) Gastronomia (e) comércio local, (f) espaços públicos, (g) museus e espaços culturais, (h) edificações com interesse de preservação, e por último (i) murais (fig. 33) .


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Figura 33 - Mapa com as diversas atividades culturais da Prainha

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

A categoria Eventos Sazonais engloba as festas, feiras e shows que ocorrem na Prainha. A mais famosa festa é a Festa da Penha, considerada a maior manifestação religiosa do Espírito Santo (fig. 34). É celebrada em data móvel que ocorre oito dias depois do Domingo de Páscoa, normalmente no mês de abril. É acompanhada de shows e comidas típicas no Parque da Prainha, reunindo um grande público de fiéis para homenagear a Santa Nossa Senhora da Penha. Acontecem na área do estacionamento do parque, localizado na figura 33, eventos musicais e gastronômicos recentes como o Degusta Beer, Festival Canela Verde 360° e Oktoberfest, todos por enquanto sem data fixa.


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Figura 34 - Vista do Palco da Festa da Penha no estacionamento do Parque em 2018

Fonte: site jornal A Gazeta

Outro evento que reúne a população e atrai visitantes é a Rua das Artes, localizada na Rua 23 de Maio de encontro com a Praça Otávio Araújo (fig. 35). Nela são expostos os artesanatos e doces fabricados por moradores da região, com direito a música e atividades para o entretenimento de crianças. O evento é bastante divulgado nas redes sociais e serve também como forma de divulgação da cultura local. Figura 35 - vista do evento Rua das Artes

Fonte: Prefeitura de Vila Velha – foto por Félix Falcão, 2018.


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Atividades religiosas estão ligadas as edificações históricas que expressam a fé do povo capixaba desde o início da colonização até os dias atuais. São elas: a Igreja Nossa Senhora do Rosário, O Convento da Penha, e a Gruta Frei Pedro Palácios juntamente com o Portão da Ladeira da Penitência. Foram identificados na categoria Ateliês de Arte e Confeitaria diversos ateliês de artesanato e costura e de confeitaria de bolos, doces e tortas, mostrando a diversidade de ofícios que revelam a cultura popular da região. Os Bares e Restaurantes mapeados são de importância para a área devido à escassez de espaços de alimentação para visitantes dos principais pontos da Prainha, como o Convento da Penha. Os poucos que existem ocupam posição de privilégio, estando situados no eixo de entrada do Convento e no eixo de praças, antigo Largo da Matriz (fig. 36). Em Comércio Local, estão localizadas as lojas de artigos religiosos situadas na rua de entrada do Convento, nelas são vendidos esculturas, roupas e souvenires em geral para os turistas que por ali passam (fig. 37). Nesta categoria também estão localizadas as peixarias localizadas próximas a orla da Prainha (fig. 38). Figura 36 - Vista da Praça Otávio Araújo com bares e restaurantes atrás.

Fonte: acervo pessoal da autora, 2020.


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Figura 37 - Rua de acesso ao Convento da Penha com seus comĂŠrcios locais

Fonte: acervo pessoal da autora, 2019.

Figura 38 - peixarias existentes na categoria ComĂŠrcio Local.

Fonte: acervo pessoal da autora, 2020.


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Os Espaços Públicos mapeados são: Praça da Bandeira (1), Praça da Igreja do Rosário (2), Praça Otávio Araújo (3), Praça com o monumento de Tanque de Guerra (4) e o Parque da Prainha (5) que possui a maior extensão (fig. 39). Todos eles colaboram para a composição do cenário paisagístico da área, tanto natural quanto artificial. Além de servirem como espaços de lazer e contemplação para a população residente. Figure 39 - imagens dos espaços públicos mapeados

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Fonte: acervo pessoal da autora, 2020.

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OsraMuseus e Espaços Culturais são: a (1) Casa da Memória localizada na Av. Luciano das , Neves, o (2) Museu Homero Massena na Av. Antônio Ferreira de Queirós e a (3) Academia de 2

Letras de Vila Velha na Rua 23 de Maio (fig. 40). Os dois primeiros são espaços de visitação e 0

contemplação de obras, entretanto a Casa da Memória apresenta o diferencial de conter 1 documentos e artigos da história de Vila Velha e colonização espírito santense. Enquanto, 9 apesar de pouco divulgada, a Academia de Letras oferece atividades culturais, em forma de sarais e oficinas de teatro e música.


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Figura 40 – Museus e espaços culturais mapeados

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Fonte: Site Terra Capixaba e Prefeitura de Vila Velha, 2019

E dentro do perímetro da Prainha, há ainda oito edificações que durante o mapeamento foram identificadas como de interesse de preservação em consequência de suas materialidades e estilos arquitetônicos marcantes (fig. 41). E, finalizando na categoria Murais, observou-se a presença de grafites e murais realizados por artistas capixabas em muros de algumas casas (fig. 42). Figura 41 - Edificações com interesse de preservação


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Fonte: acervo pessoal da autora, 2020. Figure 42 – Murais e grafites mapeados.

Fonte: acervo pessoal da autora, 2020.

4.6 Considerações finais A partir do mapeamento das atividades e manifestações culturais, pode-se observar a diversidade cultural que a Prainha possui, desde bens imateriais como eventos e manifestações com viés religioso ou artístico; e bens materiais representados pelos espaços públicos, edificações históricas e estabelecimentos comerciais. Portanto, apresenta identidades locais e apropriações artísticas que precisam ser integradas e enaltecidas, de forma a salvaguardar toda a memória afetiva da área. E tal quadro de diversidade cultural comprova que a área tem potencial para abrigar um grande circuito cultural de forma a promover a integração entre todos esses bens, assim como contribuir para a apreciação e maior divulgação da história e identidade de um povo, e consequentemente favorecer o desenvolvimento do turismo e da economia local. Tal proposta será explicada ao longo do próximo capítulo, como base nos estudos e análises apontadas no trabalho.


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5. A PROPOSTA DE UM CIRCUITO CULTURAL A proposta de intervenção urbana tem como objetivo enaltecer a diversidade cultural existente, valorizando a história da área de intervenção. A proposta consiste, de maneira básico, em um projeto urbanístico a partir de um circuito cultural focado em desenho urbano, busca-se integrar e conectar os elementos culturais existentes, e evidenciar os elementos possivelmente apagados como passar do tempo. Além de fomentar a identidade local de forma a possibilitar uma leitura do circuito como algo único. O sítio histórico inteiro é objeto de intervenção neste projeto urbanístico, uma vez que toda a sua extensão territorial é de extrema importância histórica. Todavia, o foco principal de desenho urbano a ser detalhado é o chamado Largo da Matriz, ou conhecido como eixo das praças em que está localizada a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Trecho esse que concentra um privilegiado eixo de visão do circuito cultural. 5.1 Diretrizes projetuais Através do levantamento bibliográfico e da análise do estudo de caso do Circuito Cultural Liberdade de BH, evidenciou-se que projetar apenas com o viés econômico, visando principalmente o turismo, transformaria o Sítio Histórico da Prainha em mais uma “cidade espetáculo”, que segundo Neves (2013), o termo significa a cultura entendida como uma mercadoria evidenciada pelo capitalismo, passando a ser viável investir nela como um negócio, tornando assim as cidades em “grandes vitrines publicitárias da cidade-espetáculo”. Utilizar-se de ações estratégicas como a preservação de bens patrimoniais e a construção de novos equipamentos urbanos como museus, bibliotecas, teatros e entre outros, apenas para o investimento da indústria cultural e consequentemente um lugar no mercado cultural de consumo, acarretaria uma possível gentrificação8 do espaço. Modificaria a cultura local em uma

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O termo gentrificação é a versão aportuguesada de gentrification (de gentry, “pequena nobreza”), conceito criado

pela socióloga britânica Ruth Glass (1912-1990) em London: Aspects of Change (1964), para descrever e analisar transformações observadas em diversos bairros operários em Londres. Refere-se a processos de mudança das paisagens urbanas, aos usos e significados de zonas antigas e/ou populares das cidades que apresentam sinais de degradação física, passando a atrair moradores de rendas mais elevadas.


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cultura de massa, padronizando a identidade do território, e significaria ainda ignorar os moradores presentes, a história e a escala local específica da área de intervenção. Portanto, observou-se que projetar um circuito cultural vai além das premissas iniciais de turismo e economia. Busca-se um resgate da história e individualidade do sítio, através da cultura ao evidenciar as manifestações locais, os monumentos edificados, juntamente com os personagens de toda a evolução histórica da área. Dessa forma, construiu-se uma trilha histórica cultural da área (tabela 1), elencando os principais acontecimentos e personagens a partir dos períodos históricos, baseada na pesquisa desenvolvida por Melo (2019). E quanto a história dos primeiros moradores da área, os indígenas, por ser pouco comentada nos livros de história do Espírito Santo, buscou-se auxílio bibliográfico em Loureiro (2019), uma das maiores especialistas a respeito do tema indígenas em terras capixaba.


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Tabela 1- Trilha histórica

PERÍODO COLONIAL – 1535-1822

PERÍODO PRÉ COLONIAL INDÍGENAS TUPINIQUINS

PORTUGUESES

Em 23 de maio de 1535 , sob o comando do donatário Vasco Fernandes Coutinho Segundo a Pesquisador Klítia Loureiro, desembarcaram os portugueses, na então Capitania os tupiniquins viviam em aldeias do Espírito Santo, com a finalidade de iniciar a compostas de 4 a 8 malocas medindo conquista do território. Foram recebidos por mais de cem metros de índios armados , dispostos a defender a terra que comprimento. Em cada maloca lhes pertencia , foi preciso disparar os canhões de podiam morar até 600 pessoas. modo a dispersá-los, para que os portugueses pudessem desembarcar (LOUREIRO, 2019).

RELIGIOSOS

PERÍODO IMPERIAL 1822 A 1889 ESCRAVOS

Segundo o historiador franciscano desta Província da Imaculada Conceição do Brasil, Frei Basílio Röwer, autor de “Páginas de Histórias Em 1551 chegaram à capitania os primeiros padres jesuítas com Franciscanas no Brasil”, o número de escravos a missão de catequizar , converter e propagar a fé cristã no “ultrapassava o de qualquer outro Convento”. Eles novo mundo , ou melhor , difundir de acordo com as novas atuavam nas lavouras do pomar, no cultivo dos regras , uma nova religião que agrupou distintas populações alimentos, cuidado dos animais, atividades da indígenas em aldeias onde , com maior facilidade , seriam pesca, encargos ligados à rotina diária dos dominadas e se constituiriam em força de trabalho ao projeto frades e ajudavam na manutenção da colonizador (LOUREIRO, 2019). construção. Fala ainda Frei Basílio, a existência dos escravos músicos “para solenizar as festas e acompanhar as procissões” (CONVENTO DA PENHA, 2019)

FATOS HISTÓRICOS LOCAIS

Segundo relatos de Levy Rocha, o imperador D. Pedro II chega a Vila Velha em 1860. E Melo (2019) revela que, naquela época a ida de Vitória a Vila Velha era feita por barco e existia, ao lado do portão de entrada do convento, um antigo barracão servindo de cais, conhecido como Cais dos Padres, recebendo uma ponte de madeira para o desembarque do imperador.

Em 1558 chega Frei Padre Palácios a Vila Velha (franciscano), trazendo consigo uma imagem da Senhora da Penha, à qual tinha muita devoção. E segundo a tradição local, o homem de Deus ter-se-ia estabelecido debaixo de uma saliência da rocha, situada ao sopé da montanha, junto à praia, local hoje conhecido como Gruta Frei Palácios (AGUIAR FILHO, 2016). A poesia, a música, a dança e o “vinho” permeavam toda a vida social dos Tupiniquim. Mas a mais honrada atividade era a guerra e os rituais de antropofagia contra seus inimigos que eram capturados (LOUREIRO, 2019)

Sobre os rituais de antropofagia = Comer o inimigo significava mais que a vingança e a preservação da memória dos antepassados e seus entes queridos mortos em combate, significava prestígio e respeito diante dos outros membros da tribo, uma imortalidade imediata, a conquista da maturidade.

Se instalaram em casas de taipa e térreas , cobertas somente com palma ’ protegidas por uma paliçada que os ajudasse a conter as investidas indígenas (LOUREIRO, 2019).

Foram os primeiros a entrar em contato com os invasores europeus (LOUREIRO, 2019) Os constantes e violentos ataques indígenas , bem como as ameaças estrangeiras , principalmente de franceses , ingleses e holandeses , levaram Vasco Fernandes Coutinho , por uma questão de segurança , a transferir em 1550, o núcleo populacional da Vila do Espírito Santo para a ilha de Santo Antônio, atual ilha de Vitória.

FATOS HISTÓRICOS LOCAIS

PESCADORES E MORADORES

PERÍODO REPUBLICANO 1950 a 2020 FATOS HISTÓRICOS LOCAIS

EVENTOS

Em 1890 ocorre a criação do município do Espírito Santo, atualmente a cidade de Vila Velha (MELO, 2019).

Segundo Santos (1999) , os pescadores viviam na Prainha de Inhoá, em frente a antiga ilha da forca, que viria a ser aterrada. Tinham forte Em 1950 inicia-se o segundo aterro da relação com o mar, de onde tiravam seu Prainha sustento e passavam para seus filhos os ensinamentos da pesca.

Desde 2017, ocorre o vento mensal a Rua das Artes , que tem a proposta de reunir arte e cultura na Prainha, com barracas de produtos artesanais, comidas e atrações musicais. O projeto é uma iniciativa de artistas locais com o apoio da Prefeitura Municipal de Vila Velha e o SEBRAE e acontece na rua 23 de Maio, nestes dias fechada ao transito de veículos. A praça Otávio de Araújo torna-se o palco das atrações culturais e musicais.

Em 1894, o engenheiro Antônio Athayde elabora a primeira planta cadastral da cidade do Espírito Santo (MELO, 2019). Atualmente possui uma rua com seu nome dentro do Sítio Histórico.

Segundo Setúbal (2010) existia ainda O Córrego Enserica, localizava-se embaixo do Morro de Inhoá, e servia para que mulheres lavassem roupas, e para o cultivo de hortaliças que abasteciam a região. Porém, de acordo com Melo (2019), não foi possível encontrar a data certa de quando o córrego foi canalizado e desde então permanece assim.

Em 1960 ocorre a inauguração EAMES (Escola de Aprendizes-Marinheiros do Espírito Santo) na área obtida através do segundo aterro da Prainha (MELO, 2019).

Desde 2017 ocorre anualmente no Parque da Prainha o Festival de Jazz e Blues. Além dos shows, o evento conta com área de alimentação e espaço para crianças e tudo com entrada gratuita.

Em 1970 Inicia-se o terceiro aterro da Prainha, devido ao aprofundamento da baía de Vitória, para depositar o material proveniente da dragagem. Este último aterro afastou de vez a linha do mar e as atividades de lazer dos moradores com o mar, dando origem a um imenso espaço vazio (MELO, 2019).

O festival de cervejas Oktoberfest ocorre anualmente no Parque da Prainha desde 2018, pior enquanto teve somente duas edições. A entrada é gratuita

Em 1562, Frei Pedro Palácios constrói a Capela dedicada a São Francisco de Assis, no local hoje denominado largo do Convento (Campinho). Em 1568, foi edificada, no cume do penhasco, a Capela que recebeu a imagem de Nossa Senhora da Penha, vinda de Portugal. Reza a lenda que o quadro sumiu algumas vezes e sempre aparecia no alto do morro, entre duas palmeiras. O frei então entendeu que ali deveria construir uma capela. A capela foi bastante ampliada nos anos seguintes, transformando-se no atual Convento da Penha (AGUIAR FILHO, 2016).

E devido ao dia do desembarque ser o dia do Divino Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, fazendo cumprir a Bula Papal, que determinava Em fins do ano de 1651, iniciam-se as obras do Convento da que, ao chegar ao local doado, deveria erguer uma Penha com o lançamento da pedra fundamental (AGUIAR igreja, para difundir a religião católica. Então, FILHO, 2016). assim foi feito e hoje a capela é conhecida como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (AGUIAR FILHO, 2015).

No final da década de 1540 , os Tupiniquim aliados aos Goitacás atacaram o núcleo populacional e mataram D . Jorge de Menezes que administrava a capitania em substituição a Vasco Fernandes Coutinho , que se encontrava em Portugal . Alguns meses depois , outro ataque levou à morte de D . Simão Castelo Branco , sucessor de D . Jorge de Menezes (LOUREIRO, 2019) .

PERÍODO REPUBLICANO 1890 a 1950

O calçamento da Ladeira da Penitência de pedras é produto do trabalho dos escravos, e o caminho permanece até os dias atuais (SILVA, 2017)

Em 1844 ocorre a Oficialização da Festa da Penha pelo Governo Provincial. Lei nº 7 declara, pela Assembleia Provincial, a data do evento como feriado para todas as repartições públicas (MELO, 2019)

Em 1912 ocorre a Instalação dos bondes. Atualmente um dos bondes utilizados na época permanece na Casa da Memória e foi recentemente restaurado para visitação. (MELO, 2019)

E a partir do segundo aterro, a Praia de Inhoá é ocupada pelo Ministério da Marinha com a construção da Escola de Aprendizes Em 1916-1920, ocorre o primeiro Marinheiros, o que fez com que a prefeitura Posteriormente, o terreno do aterro deu aterro da Prainha, por motivo de transferisse todas as famílias de pescadores para origem ao atual Parque Estadual da alargamento do raio da linha de bondes a rua Dom Jorge Menezes (Santos, 1999). Tal Prainha. (GURGEL, 2010) situação significou para estes pescadores a perda do seu local de residência, trabalho e lazer.

Segundo Melo (2019), existia o Cais dos Padres que foi construído para receber os materiais para a construção do Convento da Penha. Estava situado onde hoje é a guarita de entrada do 38º BI e existiu até 1960, quando foi aterrado. Esse cais tinha um pequeno barracão, onde os padres guardavam utensílios para a navegação, com canoas que utilizavam para ir e vir pela baía de Vitória.

Em 1643 é feita a Ladeira da Penitência dando acesso ao Convento. E O portão que leva à Ladeira da Penitência foi construído em 1774, ao lado da gruta de frei Palácios, ambos permanecem até os dias atuais (CONVENTO DA PENHA, 2019).

Em 1917, ocorre a transferência do 50º BC (Batalhão de Caçadores) para a cidade de Vila Velha, mais especificamente na área entorno do Forte São Francisco Xavier da Barra (MELO, 2019). O Batalhão permanece instalado na Prainha até os dias atuais, porém sob o título de 38º BATALHÃO DE INFANTARIA.

As obras do Convento da Penha foram terminadas no final do anos de 1660 (AGUIAR FILHO, 2016).

Fonte: elaborada pela autora, 2020

O Festival AssadorES é um festival de churrasco e cervejas artesanais que teve a edição de 2019 no Parque da Prainha, porém é um evento sem local fixo, podendo ocorrer em qualquer local. A entrada é gratuita.

O aterro serviu também para a construção do Terminal Aquaviário da Prainha, a fim de suprir a demanda por O Festival Canela Verde 360° teve transporte direto para Vitória, através da sua primeira edição em 7 de dezembro baía de Vitória. O Terminal funcionou de 2019 no Parque da Prainha por cerca de 20 anos, entre 1978 e 1998, quando foi desativado (FRANCHINI, 2016).


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Com o apoio dessa tabela identificou-se o cenário da Prainha no período colonial composto por indígenas tupiniquins, portugueses e posteriormente registra-se adiante chegam os religiosos da igreja católica com o intuito de propagar a fé cristã. Entretanto, pouco se sabe sobre os escravos trazidos para a Prainha, mas é conhecido que atuavam na área do convento juntamente com os religiosos, sendo assim a famosa Ladeira da Penitência, primeiro acesso ao convento, calçada de pedras carregadas por escravos. Ocorrem nesse período a construção das edificações mais características da Prainha, que são a igreja de Nossa Senhora do Rosário e Convento da Penha. Já no período republicano é que ocorrem as maiores transformações no cenário da Prainha. Cita-se os seguidos aterros sanitários como os principais elementos de mudança na paisagem local, uma vez que afastaram de vez a relação da comunidade com as águas. O segundo aterro, descrito como o que aterrou a Praia de Inhoá, representou a perda de residência, trabalho e lazer para a população de pescadores que ali viviam. Atualmente, nota-se no espaço do Parque da Prainha, obtido através do terceiro aterro, a ocorrência recente de diversos eventos, festas e festivais da cidade. Logo, percebe-se a importância de catalogar e analisar esses dados, pois servirão de inspiração para a etapa projetual de intervenção urbana pretendida. Sendo assim, após a elaboração da tabela de trilha histórica, e antes de propor ideias, foi necessário um mapa síntese (fig. 43) do estudo da área que elencasse as potencialidades e as fragilidades para ser transformado em tabela (tabela 2), e só então propor diretrizes e ações.


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Figura 43 - Mapa sĂ­ntese

Fonte: elaborada pela autora, 2020.


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I. MOBILIDADE

Tabela 2 - Diretrizes e ações POTENCIALIDADES

FRAGILIDADES

Ruas e avenidas são largas e possuem velocidade segura de 30Km/h

Calçadas estreitas Falta de sinalização para o pedestre Pisos irregulares

(A) Priorização do pedestre

Presença de ciclovia próxima ao Sítio Histórico

Não há ciclovia dentro do Sítio histórico

(B) Incentivar o uso de transporte não motorizado

Oferta de transporte público e coletivo

Rota dos ônibus não valoriza o patrimônio histórico local (podendo causar trepidação)

DIRETRIZES

Pontos de ônibus precários

Colocar pontos de ônibus com estrutura de qualidade e que sejam únicos do circuito. (C)Incentivar o uso de transporte coletivo Mudança da rota do ônibus para se adequar ao circuito

IV. SOCIOCULTURAL

III. SOCIECONÔMICO

II. USO DO SOLO

Extinção do antigo terminal aquaviário Não há diferenciação dela para outras vias

(D) legibilidade espacial

Edificações de uso administrativo em boas condições

Uso não mais compatível com o local

(A) Adequar usos

Fazer da Rua Antônio Ataíde uma rua que seja característica de entrada do sítio histórico, possuindo ciclovia, arborização em trechos com maior insolação, calçadas padrão e cruzamentos elevados Mudança de alguns usos não compatíveis com a área, adequando-os ao potencial cultural.

Visibilização Não há integração entre os patrimônios

Grande acervo de residências históricas

Degradação e descaracterização

Grandes Lotes vazios

Espaços ociosos

(B) Valorização do patrimônio histórico edificado

(D) Maior vitalidade

Diversos ateliês de arte, artesanato e confeitaria

Pouco incentivo a artistas e comerciantes locais

(A) Incentivar a economia criativa local

Recebe quantidade significativa de turistas e visitantes devido ao Convento da Penha

Totens de sinalização das ruas e avenidas não agregam valor a área

(B) Incentivar o turismo

Criação do Museu do Negro em uma residência histórica, de forma a enaltecer os negros também presentes na história da Prainha. Restaurar as fachadas das edificações culturais existentes Introduzir iluminação e identificação por meio de MUPIs urbanos de todos os patrimônios históricos localizados no Sitio Histórico da Prainha Paginação de piso que busca integrar e conectar esses espaços Identificar residências históricas e estimular moradores a manterem as fachadas de seus imóveis com características originais por meio de tombamento e explicar aos moradores sobre a importância da preservação. Estimular uma maior vitalidade desses lotes com a oferta de serviço de hotelaria, com a criação de pousadas, hostels. Assim como estabelecimentos comerciais. Aproveitar certos lotes para estacionamento e recepção de visitantes Criação de um mapa exposto no circuito e também online com a identificação de cada ateliê e estabelecimento Criação de espaço de coworking, incentivar o setor de informática e comunicação, arte digital, fotos, a integrarem suas atividades Buscar parceria com grandes empresas para a o apoio financeiro da execução do Circuito e também apoio a atividades de Economia Criativa na área. Buscar parceria com artistas locais e expor suas obras Criação de um mapa de implantação de todo o circuito que será disponibilizado ao longo do circuito e também online por meio de QRcodes Incentivar bares, lanchonetes e restaurantes a manter certa unidade de fachadas

Conjunto de comércios de produtos locais, além de bares e restaurantes

Criação da Rua de pedestre Vasco Coutinho, onde estão concentrados os comércios de produtos e alimentos. Pouco incentivo à economia local

(C) Incentivar o comercio local Reabilitação do Mercado Municipal localizado na Rua Antônio Ataíde, com a reforma da fachada , e adaptação para servir quitutes típicos, assim criando também uma área de estar em frente para degustação dos quitutes.

Pouca divulgação Diversas festas e ventos

Criação de um calendário online para todas as manifestações (A) Valorizar as manifestações locais

Falta de espaço adequado para realização

Cultura da pescaria e seu consumo

Riqueza histórica Parque da Prainha

V. SOCIOAMBIENTAL

Implantação do terminal aquaviário que liga a cidade de Vila Velha a Vitória

Possui via única de entrada

Grande acervo de patrimônio histórico tombado

AÇÕES DE PROJETO Adotar o padrão calçada cidadã para todas as ruas do sitio histórico Criação de faixas e cruzamentos elevados Padronizar o piso para que seja acessível Conectar a ciclovia existente na avenida Champagnat a uma nova ciclovia criada na Antônio Ataíde, indo em direção ao Parque Municipal da Prainha Ofertar serviço de bicicleta compartilhada e patinetes em pontos estratégicos

Espaços sem qualidade para quem trabalha com a pesca Invisibilidade das pescarias Alguns personagens e elementos da história local foram esquecidos escassez de arborização grandes vazios gerando pouca vitalidade

Visuais importantes

sem demarcação

Grandes espaços públicos

Apresentam pouca atratividade iluminação precária Escassez de mobiliário urbano

Elementos naturais

Perda do contato com a água devido aos intensos aterros ocorridos

(B) Valorizar os pescadores

Selecionar espaços como como áreas abertas, ruas de lazer e de pedestre para a realização de todas as manifestações Área específica para a venda dos pescados e um cais para o ancoramento dos barcos Trazer as pescarias para um local mais visível

(D) Resgatar e contar a história

Criação de mobiliário informativo, Implantação de uma trilha histórica explicando toda a área

Introduzir mais árvores e áreas permeáveis Criar espaços de atividades para todas as idades, além de restaurantes e apoio a visitantes Embutir a fiação no subsolo eliminando o posteamento e a fiação suspensa. Assim como criar desenhos no piso que (b) Enaltecer eixos de visualização sinalizem esses eixos de visualização Trazer mais interação e atratividade por meio da criatividade (c) Trazer identidade conforto aos moradores Implantar iluminação no nível do pedestre e visitantes Criar mobiliário com identidade única para o circuito (a) Espaços livres de qualidade

(d) Retomar parte da relação com a água

Mostrar o antigo contato que moradores tinham com a água da região a partir da demarcação no piso da linha do mar. Criação da Praça Cais dos Padres, para representar o antigo local de desembarque dos religiosos. Demarcação do Córrego Enserica e sua valorização através de um Pocket Park localizado entre a Rua Inhoá e a Rua Deomar Duarte. Criar espaços de contemplação dos elementos naturais

Fonte: elaborada pela autora, 2020.


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A partir das análises obtidas com essa tabela e a tabela de trilha histórica ficou estabelecido que o conceito do circuito ficaria atado ao resgate histórico e cultural da área e a priorização dos eixos visuais. Por isso, o Largo da Matriz será explicado antes do projeto completo, pois tratase do eixo conector de todo o circuito ao abrigar um grande aglomerado de bens patrimoniais, como a Igreja de Nossa Sra. do Rosário, a Casa da Memória, as praças, o recente Centro Cultural Dom Quixote e agora o novo Museu da História do Espírito Santo (fig. 44).


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Figura 44 - Detalhe Largo da Matriz

Fonte: elaborado pela autora, 2020.


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Pretende-se contar uma história no Largo da Matriz, iniciando com a história dos indígenas tupiniquins, primeiros moradores da região da Prainha. Sendo assim, as praças Otávio Araújo são compostas de paginação de piso com desenhos remetentes ao padrão de pintura corporal tupiniquim (fig. 45) e mobiliário urbano interativo onde será contada a trajetória dos povos indígenas (fig. 46). Figura 45 – Perspectivas da paginação de piso com padrão indígena nas Praças Otávio Araújo

Fonte: arquivo pessoal.


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Figura 46 – Perspectiva do Mupi com temática indígena

Fonte: arquivo pessoal.

A seguir, na Praça da Igreja, os desenhos no piso convertem-se em cruzes remetentes a chegada dos religiosos católicos na Prainha, e por fim, na Praça Almirante Tamandaré está a cruz portuguesa juntamente com as esculturas de âncora e do primeiro donatário da sesmaria do Espírito Santo (fig. 47). Figura 47- Perspectiva Praça Almirante Tamandaré

Fonte: arquivo pessoal.


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No trecho da igreja até a cruz portuguesa, idealizou-se uma placa de metal no chão chamada Relatos da Vila (fig. 48), sendo constituída de frases, citações e até mesmo poesias de poetas capixabas sobre a região da Prainha. A ideia é que as pessoas criem um vínculo com a área, além de fomentar a interatividade com QRcodes ao lado de cada escrita para que os visitantes possam pesquisar e conhecer mais a respeito dos autores (fig. 49). Figura 48 – Perspectiva da Placa Relatos da Vila na Praça da Igreja

Fonte: arquivo pessoal.


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Figura 49 - Detalhe QRcode

Fonte: arquivo pessoal.

O projeto do circuito completo consta em forma de prancha no apêndice (pág 103), mas por motivos de melhor compreensão o projeto será explicado por partes a partir da planta de implantação (fig. 50), de acordo com a tabela de diretrizes, e seguindo as categorias: mobilidade, uso do solo, socioeconômico, sociocultural e socioambiental.


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Figura 50 - Planta de implantação do Circuito Cultural

Fonte: elaborada pela autora, 2020.

5.1.1 Mobilidade A priorização do pedestre se iniciou com a padronização de todas as calçadas do sítio histórico, as vias muito estreitas foram transformadas em ruas compartilhadas em que a pista de rolamento


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está no mesmo nível da calçada e por motivo de segurança os cruzamentos tornaram-se elevados na rua Antônio Ataíde. A rua em questão é a rua de entrada do sítio confirmado pelo mapa de fluxos (fig. 51) e por isso necessitava ser legível como via de entrada, para que visitantes percebessem que estavam adentrando uma área diferente da cidade. O que justifica a implementação de árvores em áreas específicas e a continuação da ciclovia existente na Avenida Champagnat. Tal via também foi alterada quanto a sua direção, tornou-se mão dupla, com rotatória para possibilitar que a rua Luiza Grinalda convertesse em rua de lazer, podendo ser fechada em finais de semana ou em eventos (fig. 52). Figura 51 - Mapa de fluxos de entrada da Prainha

Fonte: elaborado pela autora, 2020.


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Figura 52 - Configuração proposta para a Rua Antônio Ataíde

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Escolheu-se incentivar o transporte não motorizado com a distribuição de pontos de bicicleta e patinetes compartilhados de forma que haja interatividade com o local por parte de pessoas de várias faixas etárias. E para incentivar o uso de transporte coletivo e evitar possíveis trepidações na igreja do Rosário, o ponto de ônibus passou para o início do circuito, alterando sua rota agora para a rua 23 de Maio e seguindo normalmente para a Luciano das Neves. O antigo terminal aquaviário, inaugurado em 1978, é resgatado neste projeto, pois além de incentivar o turismo diversifica os modais existentes na cidade, além da possível atenuação do trânsito rodoviário para a travessia até a cidade de Vitória (fig. 53).


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Figura 53 – Perspectiva da proposta do aquaviário com mural da artista Taiza Ammar

Fonte: arquivo pessoal.

5.1.2 Uso do solo Por ser o centro da cidade de Vila Velha, a Prainha acumulou diversos usos administrativos e, porém com o tempo alguns foram transferidos para outras partes da cidade. Os que ficaram, o Fórum e a Câmara Municipal, não condizem mais com o potencial cultural da área, por isso preferiu-se por transformar a Câmara em um centro de convenções, enquanto o Fórum foi renovado virando o Museu da História do Espírito Santo, para dar apoio a Casa da Memória (fig. 54).


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Figura 54 - Perspectiva do novo Museu da História do Espírito Santo

Fonte: arquivo pessoal.

Sua estrutura é em vidro, concreto e madeira e está sobre pilotis, possibilitando um térreo livre para atividades artísticas do museu com a comunidade, sem ofuscar o patrimônio histórico ao lado. Decidiu-se por trazer um grande mural artístico com obras de Heidi Liebermann e o bondinho à vista, para que as pessoas o vejam, dando destaque para esse monumento que faz parte da história do local (fig. 55).


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Figura 55- Perspectiva bondinho e mural artístico

Fonte: arquivo pessoal.

Propõe-se também a criação do Museu do Negro em uma das residências identificadas como de interesse de preservação, a Residência da Família Shalders localizada na Rua Bernardo Schineider, n°50 (fig. 56). O projeto que engloba restauro e criação de um anexo para amparar a casa, foi realizado em grupo durante a Disciplina de Técnicas Retrospectivas no oitavo período do curso (fig. 57), com o intuito de ser expor artes sacras católicas. Todavia, percebese a exclusão do negro na história do país, logo buscou-se priorizar esse personagem de forma que tenham um espaço no circuito.


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Figura 56 - Perspectiva novo Museu de Arte Sacra

Fonte: arquivo pessoal, 2020 Figura 57 - Banner do Projeto realizado em grupo durante a disciplina de TĂŠcnicas Retrospectivas

Fonte: elaborado pelo grupo, 2019.


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Buscando valorizar o patrimônio histórico edificado, optou-se por restaurar as fachadas dos edifícios culturais como a Casa da Memória, que hoje em cor azul se mistura à paisagem local imersa em tons de azul e verde. Todavia, a nova cor escolhida contrasta na paisagem, dando destaque para a edificação (figura 58). Outra estratégia é introduzir iluminação adequada e identificação em todos os patrimônios, além de paginação de piso que destaque aos eixos, conectando e integrando assim os pontos a serem valorizados (figura 59). Figure 58 - Perspectiva nova fachada da Casa da Memória.

Fonte: arquivo pessoal. Figura 59 - Perspectiva mostrando os eixos marcado na paginação de piso.

Fonte: arquivo pessoal.


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E pretende-se dinamizar o uso dos lotes vazios, incentivando uma maior vitalidade a partir de hotéis, pousadas, hostels e estabelecimentos comerciais como restaurantes e lanchonetes, aproveitando-se também para localizar estacionamentos que recebam os visitantes de forma adequada. 5.1.3 Socioeconômico Como propósito de incentivar a economia criativa local, pretende-se criar um mapa com a identificação de cada ateliê, sendo exposto tanto nos mupis do circuito como online em sites como mapas.cultura.gov.br. Soma-se a isso, a alteração do uso do Centro Jurídico para um espaço de coworking, para que atividades de criação, informática e comunicação sejam priorizadas. Assim como a estratégia de buscar parcerias com artistas selecionados (tabela 3) e expor suas obras em mupis urbanos. Tabela 3 – Tabela de possíveis artistas locais para parceria NOME

BREVE DESCRIÇÃO

MÍDIA SOCIAL

TAIZA AMMAR

É artista plástica de formação, atuando na área de design de projetos especiais desde 2000. Painéis artísticos, estampas e design de superfície estão entre suas principais realizações atualmente, incluindo participação em exposições coletivas e mostras, como o Salão do Mar, Casa Cor e Projeto 027.

@taizammar

CLAUDIO VALDETARO "TRIPA"

Artista plástico capixaba, tatuador e skatista, expõe suas artes em muitos cantos da cidade Vila velha, principalmente na região da Prainha no Centro. Utiliza-se de muros e caixas de telefone como espaço de exposição.

@tripa_arts

DIDICO

É natural de Cachoeiro de Itapemirim, Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e Pós-doutor em Estudos Culturais, no Programa Avançado de Cultura Contemporânea, UFRJ. Publicou dois livros sobre seu trabalho, "Palimpsestos Gráficos", desenho sobre fotografia, e "Negro de Fumo", desenho a nanquim. Professor artista do Departamento de Artes Visuais da UFES há 26 anos, na linha de desenho, grafite e multimeios. Suas obras são produzidas a partir dos resíduos da sociedade de consumo.

@didicodesenho

DINO FARIA

É natural de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, mas reside em Vitória/ES há 30 anos. Multitalentos, o publicitário, escritor, artista visual, compositor e roteirista participou da Bienal de Artes de Vitória, em 2017. Em 2018, suas obras foram inseridas no terceiro volume do catálogo "Arte Brasileira na Contemporaneidade", editado pela Inn Gallery, São Paulo.

@artes_dino


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HEIDI LIEBERMANN

RODRIGO BRITO THEREZINHA BOTELHO DE AGUIAR

É uma artista plástica alemã, mas que reside na Barra do Jucú, Vila velha. Formada em ilustração e artes gráficas pela Armgardtstrasse em Hamburgo, mudou-se para o Brasil em 1974, ano em que realiza sua primeira exposição coletiva em São Paulo junto com artistas como Portinari e Di Cavalcanti. E no ano seguinte realiza sua primeira exposição individual em Vitória/ES. É natural de Belo Horizonte, mas reside em Vitória/ES há 36 anos. Multitalentos, o muralista, escritor, artista visual e publicitário, deixou sua marca no mural "Trabalha e Confia", no aeroporto de Vitória em 2018. Autor do premiado livro infantil "O Medo Do Mato", Brito reafirma ao longo dos anos sua brasilidade. Nascida em Vila Velha, pintou diversas obras sobre a Prainha, além de escrever poesias sobre o encanto que a antiga área possuía para ela. Fonte: elaborada pela autora, 2020.

@studioliebermann

@rodrigobrito.art

Outra estratégia é buscar parcerias privadas para a o apoio financeiro da execução do Circuito e apoio a atividades de Economia Criativa na área. Os parceiros selecionados (tabela 4) são grandes empresas que atuam no território capixaba e produzem serviços ou produtos que tenham certa afinidade com a proposta do circuito. Tabela 4 - Tabela de possíveis parceiros privados ARCELOR MITTAL

Fornecimento de material (barras e chapas de aço) para a fabricação dos mobiliários de informação.

EDP ESPÍRITO SANTO

Energia elétrica

EDP SMART

Energia renovável

CHOCOLATES GAROTO

Ministrar junto com a comunidade atividades dentro do circuito (fazer parte das corridas de rua)

TEMBICI

Oferta de bicicletas compartilhadas

V1

Oferta de serviço de transporte por aplicativo (pontos de parada específicos)

CLARO

Serviço de carregamento de celular no mobiliário localizado no eixo da matriz Fonte: elaborada pela autora, 2020.

Para o incentivo ao turismo, além de estratégias encontradas em todas as outras categorias, pretende-se criar um mapa de implantação do circuito, disponível fisicamente na área e online. E quanto ao comércio local, incentiva-se que mantenham certa unidade em suas fachadas, para que dessa forma contenha identidade específica de um circuito cultural. Na rua Vasco Coutinho, que conecta o Largo da Matriz ao acesso do convento, implanta-se uma rua de pedestre de


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forma a enaltecer a vitalidade que a rua já possui com diversos comércios de produtos e alimentos, e agora passará a abrigar a evento Rua das Artes (figura 60). Outra estratégia de projeto é recuperar o Mercado Municipal reabilitando sua fachada e o adaptando para servir especiarias e quitutes locais, de forma que o estabelecimento integre o contexto cultural. Figura 60 - Configuração proposta para a Rua Vasco Coutinho

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

5.1.4 Sociocultural Para valorizar as manifestações locais, buscou-se criar um calendário (tabela 5) de eventos ocorrentes na Prainha que será exposto online de maneira a informar tanto os turistas quanto moradores da cidade, bem como selecionar espaços abertos, para a realização de todos os tipos de manifestações, são eles: Rua de lazer Luiza grinalda vista na categoria de Mobilidade; e a Rua de pedestre Vasco Coutinho vista na categoria Socioeconômico; e a grande área aberta no Parque Municipal com luminárias no piso podendo mudar de cor de acordo com o uso desejado (figura 61) Tabela 5 - Calendário de eventos fixos na Prainha FESTAS, MANIFESTAÇÕES E FESTIVAIS FESTA DA PENHA RUA DAS ARTES OKTOBER FEST FESTIVAL CANELA VERDE 360°

DATA Evento anual - oitavo dia após o Domingo de Páscoa e Evento mensal – normalmente acontece no segundo domingo de cada mês Evento anual - mês de outubro durando de 3 a 4 dias Evento anual - 7 a 10 dezembro


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Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Figure 61 - Perspectivas área aberta para eventos no Parque da Prainha

Fonte: arquivo pessoal, 2020.

A valorização dos pescadores é uma das diretrizes decididas durantes as visitas realizadas na área, ao observar a precariedade em que seus locais de trabalho estavam. Logo, cria-se um cais para a atividade de pesca e uma edificação digna de abrigar e tornar visível os pescadores (figura 62).


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Figura 62 - Configuração da área do cais e pescarias

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

5.1.5 Socioambiental Idealizando espaços livres de qualidade, a proposta busca introduzir mais árvores e áreas permeáveis (tabela 6) no parque da Prainha, assim como implementação de atividades variadas paras todas as idades. Tabela 6 – Especificação de paisagismo proposto VEGETAÇÃO ARBÓREA NOME POPULAR

NOME CIENTÍFICO

PORTE

COPA

Pata-de-vaca

Bauhinia variegata

médio

6m

IMAGEM


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Resedá

Lagerstroemia indica

pequeno

5m

Chuva-de-ouro

Cassia fistula

médio

6m

Oiti

Licania tomentosa

médio

8m

VEGETAÇÃO ARBUSTIVA Espada de São Jorge

Sansevieria trifasciata

0,4 a 0,6m

Clúsia

Clusia fluminensis

2m

Ciclanto

Cyclanthus bipartitus Poit.

1m

Palmeira cica

Cycas revoluta

3 a 3,5m

VEGETAÇÃO RASTEIRA Gramaesmeralda

Zoysia japonica

0,10-0,15m

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Buscando trazer identidade e conforto, dispõe-se de equipamentos de iluminação no nível de pedestre e mobiliários em madeira (tabela 7), assim como mobiliário diferenciado iluminado por baterias solares em parceria com a EDP SMART, podendo ser configurado para mudar de cor de acordo com o uso pretendido (figura 63 e 64). Tabela 7 - Especificação de mobiliário proposto MOBILIÁRIOS Poste de luz Cigarette altura de 4m em metal cor preto

https://www.archiproducts.co m/pt/produtos/simes/postede-luz-cigarette_404554

Poste de luz Cigarette altura de 2,5m em metal cor preto

https://www.archiproducts.co m/pt/produtos/simes/postede-luz-cigarette_404554

POSTES


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Poste com luminรกria LED 4m

Poste Solar Fotovoltaico NeoSolar - LED 10W - 3 metros Banco Scala sem encosto - Madeira preta e tubos de aรงo inox

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BANCOS Banco Verano com encosto - Madeira preta e http://www.delazzari.com.br/ tubos de aรงo inox cubo-linea BALIZA DORES

Balizador Mince F em metal cor preto

http://www.delazzari.com.br/ mince

MESAS

Conjunto de mesa e cadeira em madeira e metal cor preto marca Nola

https://nola.se/en/products/hi gh-table/

Fonte: elaborado pela autora, 2020. Figura 63- Mobiliรกrio para o Pocket Park

Fonte: arquivo pessoal, 2020. Figura 64 - Mobiliรกrio para o Largo da Matriz


94

Fonte: arquivo pessoal, 2020.

E por fim, sabe-se que a área possui diversos elementos naturais, por isso, busca-se implantar espaços de contemplação e valorização deles. Assim como mostrar parte do contato com as águas perdidos devido aos seguidos aterros realizados, para isso, demarca-se no piso a antiga linha do mar (figura 65); a criação de um pocket park com fontes de água interativa onde parte do córrego Enserica passava e murais de exposição de obras como as do artista Dino Faria (figuras 66, 67 e 68); e a Praça Cais dos padres onde desembarcavam os padres na antiga Prainha, bem ao lado da Gruta Frei Palácios (figura 69).


95

Figura 65 - Perspectiva mostrando a marcação da antiga linha do mar

Fonte: arquivo pessoal, 2020.

Figura 66 - Perspectiva do Pocket Park

Fonte: arquivo pessoal, 2020.


96

Figura 67 - Perspectiva mostrando os estabelecimentos comerciais e os murais artĂ­sticos

Fonte: arquivo pessoal. Figura 68 – Perspectiva de murais expondo obras de Dino Faria

Fonte: arquivo pessoal.


97

Figura 69 - Perspectiva Praça Cais dos Padres

Fonte: arquivo pessoal.

5.2 Mapa esquemático do circuito De forma a expressar visualmente o projeto como um circuito, elaborou-se um mapa expressando a hierarquia dos possíveis caminhos a serem percorridos dentro da área de intervenção por visitantes (figura 70).


98

Figura 70 - Mapa esquemático dos caminhos do circuito

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Inicia-se no eixo das praças, ou Largo da Matriz, contanto a história dos três personagens: indígenas, religiosos católicos e portugueses. Seguindo o eixo do piso, segue-se para a praia para que as pessoas contemplem a vista para o mar e possam imaginar como era chegar na antiga prainha. Segue-se pela direita em direção ao aquaviário e pescarias, indo reto até a Praça Cais dos Padres, onde será contada a história dos escravos e da religião católica no sítio. Passa-se pela Rua Luiza Grinalda indo em direção ao Convento da Penha, incentivando a visita a esse secular patrimônio. E complementa-se que o circuito ainda apresenta fluxos secundários (setas pontilhadas) como a Rua Deomar Duarte indo em direção ao Pocket Park, a rua de pedestre


99

Vasco Coutinho rumo ao Convento da Penha; e a Rua Pedro Palรกcios sentido Museu de Arte Sacra.


100

6. CONCLUSÃO Durante a pesquisa percebeu-se o potencial que a Prainha tem para tornar-se um núcleo cultural da cidade de Vila Velha, ao conter uma mistura de bens materiais e imateriais importantes para composição da narrativa capixaba. Todavia, conforme apresentado nos capítulos anteriores, a análise do local mostrou que parte da história foi perdida ou apagada de certa forma. Logo, foi relevante conectar dois pontos: o resgate da memória e ao mesmo tempo valorizar as atuais atividades culturais da área.

Além disso, a pesquisa reafirmou que intervir em centros históricos urbanos torna-se uma tarefa complexa, pois deve-se pensar na qualidade de vida dos moradores e usuários, além de enaltecer a diversidade histórico-cultural, de maneira a contribuir para a promoção de identidade local e sentimento de pertencimento das pessoas pertencentes a área. A metodologia de mapeamento e pesquisa histórica foi de extrema relevância para a estruturação do projeto, a partir dela constatou-se que antes de propor qualquer ação de projeto é indispensável uma análise aprofundada da área de intervenção. E, embora esse trabalho tenha chegado apenas ao nível de estudo preliminar, a intenção foi atentar o olhar dos futuros leitores desse trabalho para o valor que a região da Prainha tem para a cidade de Vila Velha, e igualmente mostrar que o estudo projetual nunca termina, sempre é possível complementações e novas análises.


101

7. REFERÊNCIAS

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106

8. APÊNDICES


N

BAÍA DE VITÓRIA

LEGENDA EQUIPAMENTOS PROPOSTOS 1

RESTAURANTE COMIDAS TÍPICAS

2

TERMINAL AQUAVIÁRIO

3

PESCARIAS E COOPERATIVA DE PESCADORES

4

APOIO DE EVENTOS/ SANITÁRIOS

5

MUSEU DE ARTE SACRA

6

MUSEU DA HISTÓRIA DO ES

7

HOSTEL

8

ESTABELECIMENTO COMERCIAL

9

RESTAURANTE

TIPOS DE VEGETAÇÃO ARVORE DE GRANDE PORTE EXISTENTE PALMEIRA IMPERIAL EXISTENTE VEGETAÇÃO RASTEIRA PALMEIRA IMPERIAL A SER IMPLANTADA

10

APOIO ESTACIONAMENTOS/ SANITÁRIOS

11

CENTRO COMUNITÁRIO

EQUIPAMENTOS EXISTENTES MUSEUS E ESPAÇOS CULTURAIS

ÁRVORES DE MÉDIO PORTE A SER IMPLANTADA PATA-DE-VACA ÁRVORES DE MÉDIO PORTE A SER IMPLANTADA CHUVA DE OURO ÁRVORES DE MÉDIO PORTE A SER IMPLANTADA OITI

2

11. NOVO USO PROPOSTO: CENTRO ECONOMIA CRIATIVA E ESPAÇO COWORKING

1

EDIFICAÇÕES COM INTERESSE DE PRESERVAÇÃO

3

1

12. NOVO USO PROPOSTO COMO RECEPÇÃO DOS VISITANTES E CENTRO DE INFORMAÇÕES

ÁRVORE DE PEQUENO PORTE A SER IMPLANTADA RESEDÁ

ARBUSTO - CLUSIA ARBUSTO - ESPADA DE SÃO JORGE

4

ATELIÊS DE ARTE E CONFEITARIA ARBUSTO - ESPADA DE SÃO CICLANTO

GASTRONOMIA

RUA BERNARDO SCHINEIDER

13. NOVO USO PROPOSTO COMO RESTAURANTE 5

AL

A ED AM

.A SD

N TO NIL DE

COMÉRCIO LOCAL

DA AN MIR

TIPOS DE MOBILIÁRIO

ATIVIDADES RELIGIOSAS EVENTOS SAZONAIS

R. ANTÔNIO

F. DE QUEIRÓ S II

OMBRELONE COM MESA E CADEIRAS

+0.15

R. ANTÔNIO +0.15

F. DE QUEIRÓ SI

+0.15

7

INH OA

+0.15

A THA IDE

OZ QUEIR +0.15

8

RUA A NTONIO

RUA PEDR O PALÁ CIOS

RUA PEDRO PALÁCIOS

PISO CONCRETO MOLDADO IN LOCO COR NATURAL

RUA LUIZA GRINALDA

DE NCIO FLORE RUA

TIPOS DE PAVIMENTAÇÃO

6

RU A

PISO INTERTRAVADO PLACA 40X40cm COR NATURAL PISO INTERTRAVADO PLACA 40X40cm COR BEGE

9 RUA DEO MAR DUA

ARBUSTO - PALMEIRA CICA

14. NOVO USO PROPOSTO COMO SORVETERIA

PISO INTERTRAVADO PLACA 40X40cm COR CAMURÇA

RTE +0.15

PISO INTERTRAVADO PLACA 40X40cm COR GRAFITE

+0.15

RUA CEL. MASCARENHAS

BANCO ESPECÍFICO PARA O CIRCUITO RETANGULAR 130X50cm SEM ENCOSTO BANCO ESPECÍFICO PARA O CIRCUITO RETANGULAR 200X50cm COM ENCOSTO BANCO RETANGULAR DE MADEIRA SEM ENCOSTO BANCO RETANGULAR DE MADEIRA COM ENCOSTO TOTENS INFORMATIVOS SOBRE CADA RUA OU EXPOR MAPAS DO CIRCUITO

MUPIs URBANOS PARA EXPOSIÇÃO DE ARTE E IDENTIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO POSTES DE LUZ (h=250cm) POSTE DE LUZ (h=400cm)

RA CEL. FER RUA

PISO EMBORRACHADO

NHO Z COUTI

POSTES/BATERIA DE ENERGIA SOLAR PARA CARREGAR BANCOS PISO INTERTRAVADO RETANGULAR 10X20cm COR NATURAL

COUTINHO RUA VASCO +0.15

PONTO DE ÔNIBUS

+0.15

PISO EXISTENTE

INDICAÇÃO SENTIDO DA VIA +0.15 +0.15

RUA VINTE E TRÊS

DE MAIO

+0.00

+0.15

10

INDICAÇÃO DETALHE

10

RUA LUIZA GRINALD A

RUA DARC Í SCHNEIDER +0.15

RUA DOM JORGE DE MEN EZES

DE RGE D JO RUA

ZES MENE

+0.15

RUA D JORGE DE MENEZES

RUA LUC IANO DAS

SON SIM OES

UNIVERSIDADE VILA VELHA PROPOSTA DE CIRCUITO CULTURAL NA PRAINHA, VILA VELHA - ES

RUA CB AIL

AUTOR(A):

AVN CAST ELO BRANCO

RHAQUEL SOUZA DE PAULA A THA IDE

LOCAL: RUA A NTONIO

RUA PRE SIDENTE LIMA

NEV ES

11

PRAINHA, VILA VELHA - ES REFERÊNCIA:

PLANTA DE IMPLANTAÇÃO

PLANTA DE IMPLANTAÇÃO ESCALA:

ESC 1:3500

INDICADA DATA:

DEZEMBRO/2020

PRANCHA:

01/01


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