Desenvolvimento e empreendedorismo afro-brasileiro

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uma questão crucial para a compreensão da evolução social e econômica do país. Se for verdadeiro esse nosso ponto de vista, e os elementos discutidos até aqui nos parecem demonstrar isso, há outra questão profunda a ser retomada pelas pesquisas no campo da história econômica e das políticas de desenvolvimento: qual foi efeito dessa visão de mundo de Furtado sobre as políticas brasileiras de desenvolvimento, em especial, as de desenvolvimento regional gestadas sob sua batuta a partir de 1959? 4. CONCLUSÃO: A REINTERPRETAÇÃO DA QUESTÃO DA MÃO DE OBRA COMO NOVA AGENDA DE PESQUISA Formação Econômica do Brasil foi, é e continuará sendo uma das obras basilares para a compreensão do processo de desenvolvimento econômico brasileiro. Contudo, há um grave problema a ser rediscutido, em sua construção analítica, que é a compreensão do autor sobre os motivos que levaram à exclusão socioeconômica da parcela da população, e toda a sua descendência, remanescentes do regime escravocrata. As tensões e contradições no seu próprio discurso são patentes e, por si só, já demandariam uma profunda revisitação de suas proposições. Mais do que isso, ao atribuir quase que exclusivamente aos antigos escravos e aos seus descendentes a responsabilidade pela sua própria exclusão social e econômica, devido a um “rudimentar desenvolvimento mental limitador de suas necessidades”, e também por todo o subdesenvolvimento brasileiro na primeira metade do século XX, Furtado parece revelar as principais limitações do mode160


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