Revista Subversa

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O ditador dá uma gargalhada. - Pois então, será fácil. Como poderá ela resistir-me? - Sim, como poderá ela resistir-lhe…? Nesse mesmo dia, o ditador enviou um convite ao embaixador para uma festa dentro uma semana. Chamou o seu alfaiate para lhe fazer um fato novo, deixou que o barbeiro lhe aparasse as sobrancelhas e, pela primeira vez na vida, mandou comprar um perfume. Madalena apresentou-se com um vestido preto e uns sapatos de tacão alto. O seu cabelo parecia estar em chamas e os seus olhos cintilavam como pirilampos. O ditador achou-a ainda mais bela. Como o conselheiro fora encarregado de entreter o marido, ficou com o caminho livre. E desta vez não lhe faltou a coragem para a abordar. Convidou-a a sentar-se numa varanda com vista para o mar e ofereceu-lhe champanhe. Depois, conservou com ela sobre os seus temas favoritos: o governo do país, as medidas em prol dos cidadãos, o futuro da humanidade. Estava tudo a correr bem quando ela disse algo inesperado. - Se realmente deseja o bem do seu povo, deve libertar imediatamente os presos políticos. O ditador ficou perplexo. - Mas não existem presos políticos no meu país. Eu apenas prendo pessoas perigosas para a sociedade. Madalena levanta-se. A brisa espalha-lhe os cabelos. - Se não prometer que vai libertar essas pessoas, não poderei voltar a conversar consigo. O ditador abre os braços e entorna a garrafa de champanhe. - Está bem, prometo. Se isso a faz feliz, amanhã mando libertá-los. No fim da festa, o ditador estava radiante. Que importância tinha libertar aqueles patetas? Dali a uns tempos voltaria a prendê-los de novo. Por agora, o importante era agradar àquela deusa. Libertava até os poetas, se ela lhe tivesse pedido.

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