A vida sob o olhar da poesia

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A VIDA SOB O OLHAR DA POESIA

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A VIDA SOB O OLHAR DA POESIA Wainer Teixeira Souza

Rio de Janeiro 2015

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Copyright © 2015, WAINER TEIXEIRA SOUZA Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei9.610/98)

Revisão Tipográfica Waldyr Dufrayer de Oliveira

Capa e Editoração Eletrônica e Ilustração Paulo Santoro A ilustração de capa desta obra procura retratar, literalmente, o perfil do autor e a sua visão lúdica da vida, perpetuando os seus momentos mais marcantes e significantes, traduzidos através da poesia. 6


AGRADECIMENTOS Obrigação de agradecer deveria se regra geral, com a convicção e dever de todos, mas por desleixo é prática de poucos, pedir, exigir e cobrar, caminho largo viciado, expandido pela gordura do ser e do ter. Agradecimento, ato simples, recheado de complexidade, cuja vertente se concentra no esquecimento, derramado no perigo da ingratidão. Direciono o meu ato de gratidão, ao universo amplo do coletivo. A Ele cujos nomes são meras questões semânticas; Deus, Tupã, Oxalá, Arquiteto do Universo e outros, não importa, Sua Unicidade e Superioridade encontram-se acima de tudo. Meus reconhecimentos a grande família universal, pelos meus versos já registrados, aos ausentes e presentes, posicionamento puramente dimensional. Asábia Arte da Poesia, que me proporciona este inestimável momento, não tenho como deixar de dizer, obrigado! WAINER TEIXEIRA SOUZA 2015.

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APRESENTAÇÃO PELO AUTOR Este livro de certa forma segue as mesmas diretrizes da minha primeira obra, ”Uma Vida em Poesias”. Procuro mostrar que a vida em todos os seus olhares pode ser vista sob o prisma da poesia, até mesmo nos momentos amargos. Em a “A Vida sob o Olhar da Poesia”, procuro traduzir os meus versos inspirados no cotidiano que nos cerca, onde apesar de existirem múltiplas abordagens, as fases e os temas referenciados apresentam-se bem definidos, com pensamentos coerentes e bem lineares quanto aos conteúdos. E estes estão diretamente ligados às peculiaridades dentro de determinados momentos da minha vivência, e posicionamento diante do dia a dia. Isto posto, endossado por doses de ironia, críticas, saudosismo, satisfação, exaltação e até mesmo de amor, mesmo que um pouco acanhado, talvez por timidez quanto ao assunto, mas nunca por ausência deste sentimento. O livro é apresentado tal qual o primeiro, de forma cronológica, com o intuito de tornar mais fácil o entendimento aos amigos leitores o porquê da poesia dentro do espaço e do tempo vivido. Deixo a critério dos leitores amigos, os cuidados da liberdade de apreciar, comentar e criticar o presente trabalho. Por um acaso, se houver um contradito de minha parte, não me queiram mal, será apenas uma reação instintiva, corrigida em seguida pela voz da razão. Até por que ninguém é o dono da verdade, pois ela é relativa e não absoluta, variando no tempo e no espaço. A sequência cronológica não segue cegamente os conjuntos dos temas abordados na obra, algumas vezes as variações fazem parte do cotidiano inesperado. No que concerne à crítica, podemos identificar clara e implicitamente a presença da ironia, tanto no aspecto social, quanto no político. No segmento político, a ironia transcende a crítica por si só, pela falta de ideologia, pelas falcatruas e pelo grande mercado, onde só se estabelece quem compra parte dos eleitores ignorantes e necessitados. Esclarecendo que existem muitos políticos sérios. Neste segmento encontramos; Tudo pelo Social, 8


2008; A Dita que Dura, 2009; Crônica de um Candidato, 2010; Ideologia, 2011 e; Logo Ali, não Muito Distante Daqui, 2013; Neste viés pode ser observada também a Crítica Social, que na realidade encontra-se como fruto da política, como; Mercado da Fé, 2009; Asas a tua Liberdade, 2011; Ave Gonçalves Dias, 2011; Indiferença, 2014; Promessas, 2010; Regulação da Arte, 2011; O Humano e o Trabalho, 2011; O Pão Bolorento, 2011; e os Mercenários, 2012. Na poesia Por Que, Porque, Porquê e Por Quê, além de uma pequena crítica social existente, ela está mais focada no aspecto gramatical do o porquê. Apesar de todas as poesias evoluírem ao cotidiano, algumas caracterizam realmente este tema, como; O Trem da História e o Dito Popular, 2012; Afortunados e Aventureiros, 2011; Coisa Boa, 2009; Conversa Fiada, 2011; Forrobodó, 2011; Na Calçada, 2008; A Feira de Domingo, 2009; O Bêbado e o Cachorro, 2010; Porre Original, 2011; Se Beber não Beije 2010; O Carrilhão, 2010; e O Show da Vida, 2009. Até mesmo quando me reporto aos temas que podemos até considerar mórbido ou angustiante, eu procurei dar um tom de comicidade traduzindo para poesias. Foi um período que estive com câncer, andei na corda bamba, e consegui flertar com a morte através da poesia como; A Grande Viagem em, 2008; Sem Mistério, 2009; A Saga de um Paciente, 2009; O Espectro da Guerra, 2010. Mais tarde ao fazer uma reflexão de tudo que passou em seu todo, e me senti ameaçado de novo, escrevi Felicidade, 2009; e Em Busca do Tempo Perdido, 2013. O tema homenagem está quase sempre preso a datas, pessoas e locais que me dizem muito como; A Mulher de Adão 2010, A Mulher, 2014; Mulher Hoje Amanhã e Sempre, 2013; Chile, 2011; Canto aos Irmãos da África, 2009; Manuela, 2011; Mandela, 2013; O Educador, 2014; O Jurisconsulto e a sua Kroon, 2011; Pedro que não é Pedreiro, 2009; São Sebastião e Oxóssi, Só Muda o Cenário, 2012; Tributo ao Amigo, 2014; Saudades do Amigo, 2011; Portugal, 2014; e Vicenzo, 2014, e Natal 2012. Em Hoje me Sessento, não se trata propriamente de uma auto-homenagem, mas sim de uma satisfação de poder traduzir em poesia toda mi9


nha caminhada com meus amigos em um amplo sentido. No que concerne ao saudosismo, às vezes pode parecer que eu me expresse com um ar de angústia, mas muito pelo contrário, a satisfação é grande, pois foi este passado que muitas vezes alavancou minha razão de ser, de saber que a vida precisa e deve ser partilhada, ela é sistêmica. Aqui temos como conteúdo um cotidiano forte passado; A Rua Onde eu Nasci, 2009; A Magia da Chuva,2010; O Quintal da Civilidade, 2011; Remédio Caseiro,2011; e Refletores no Passado,2011. No referente à abordagem do amor em si, escrevi timidamente Amo-te Mulher, 2010, mas com uma dose bem fortificada de sentimento. E me sinto a vontade de dizer que em todos os trabalhos apesar de não existirem este tema diretamente, uma boa gama de amor existiu, pois se assim não fosse eu haveria escrito nada. Tomei a liberdade e com muita satisfação de transportar quatro poesias do outro livro para este, por razões óbvias e gratificantes; Bangu, 2005; Armazém do Preto, 2005; Jorge o Nosso Amado, 2004; João Vitor, 2005; e Cidadão João Honorato, 2008. E com orgulho e como forma também de mostrar que a poesia está ao alcance de todos, postei a poesia de meus dois filhos na idade de adolescência; Amar Pomar de Vítor Wainer; A Arte da Música de Raquel Rodrigues Souza. Acrescento ainda também com satisfação a poesia de minha sobrinha de13 anos Anna Beatriz, Um Dia. Caros amigos, longe de querer alcançar o topo da glória com este trabalho, me sinto feliz em poder dividir com vocês os meus pensamentos através da poesia, e que possa de certa forma ser pelo menos um pouco útil a quem se interessar.

Todos podemos poetizar, mesmo nos momentos amargos.

Meu E-Mail para qualquer comentário, o que me deixará muito feliz, e servirá de aprendizado. wainerbg@hotmail.com 10


APRESENTAÇÃO Este não é apenas mais um livro do amigo e irmão Wainer Teixeira Souza. Quem o conhece de perto sabe bem que estas páginas reúnem o que ele tem de mais singular: sua inquietação diante dos movimentos da vida. Essa inquietação faz com que sejamos apresentados a cada obra com interpretações e questionamentos que nos fazem (re)olhar o mundo sob suas possibilidades. Observador e criativo, Wainer nos oferece em seus versos, acima de tudo, um testemunho de sua existência indagadora. Admiro-o por sua coragem de tornar público o que lhe é tão particular, seus pensamentos, suas experiências de vida e certezas, seus valores morais, seus afetos e desafetos, seus medos e temores – enfim, seus mais variados sentimentos e reflexões. Admiro-o também pelo cuidado com os amigos, seus leitores mais próximos, ao procurar selecionar, organizar e garimpar dentro de tantos escritos, aqueles que ele considera mais significativos em sua caminhada, compartilhando, dessa forma, sua busca para o entendimento do que vai além daquilo que se vê. Assim, nessa pluralidade de percepção que o autor nos apresenta em mais uma coletânea, vimo-nos também, diversas vezes, provocadas e/ou recriados em nossos mais íntimos sentimentos. Este livro é com certeza mais um passo no percurso do nosso querido amigo como pessoa e como autor, assim como mais um ato de generosidade – dos muitos que estão por vir – desse nosso autor com todos nós seus leitores. Silvia Nascimento.

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INTRODUÇÃO Quando o Wainer procurou-me e pediu que escrevesseuma introdução deste seu segundo livro; dois sentimentos assaltaramme de pronto: O primeiro foi de orgulho pela escolha; afinal de contas, só se pede uma coisa dessa a quem se tem estima e consideração. O segundo fez-me sentir o peso da tarefa, pois ele é conhecido pela atuante competência e dedicação em tudo que faz. As experiências adquiridas ao longo tempo de uma vida se somam até que você sente a necessidade de compartilhá-las. A sede de conhecimento faz com que você se esmere cada vez mais em aprender, sempre mais e mais, ampliando o alcance de seus objetivos e direcionando sua criatividade para realiza-las. Houve um período em sua vida de grande desgaste emocional devido ao seu afastamento, a pedido da vida policial militar, provocado por motivo de foro íntimo. A esta situação, juntou-se uma grave doença adquirida, mas seu espírito de luta e a vontade de vencer não o deixaram esmorecer. Neste livro, o autor através da poesia vai desenhando imagens pitorescas sobre o cotidiano de sua vida e de seu entorno, principalmente no que concerne ao bairro onde reside, Bangu, pelo qual demonstra ter muito carinho. Entusiasmado, fala de maneira muito carinhosa sobre sua família, presta uma justa homenagem a Mandela e faz um comentário sobre as belezas de Portugal e Chile. Como contumaz que é, não poderia deixar de ironicamente fazer seus comentários sobre a desastrosa Política Social de Governo, no que tange a Saúde, a Segurança, ao Ensino e ao Transporte. Entretanto, trata como ninguém, e é capaz de fazê-lo de maneira imaginosa as características da vida banguense; desde a “Feira de Domingo”, atéo” Armazém do Preto”, não esquecendo“O Pedro que não é Pedreiro”, “o Bêbado e o cachorro”, “O Cidadão João Honorato, Companheiro Júlio” dentre outras situações. É realmente “A Vida Sob o Olhar Da Poesia”. Ao Wainer, com muita estima e respeito. Parabéns! Waldyr Dufrayer de Oliveira 13


INDICE CRONOLÓGICO TÍTULO

NA CALÇADA TUDO PELO SOCIAL A GRANDE VIAGEM PEDRO QUE NÃO É PEDREIRO FELICIDADE SEM MISTÉRIO O SHOW DA VIDA POR QUE, PORQUE, PORQUÊ E POR QUÊ ? MERCADO DA FÉ A SAGA DE UM PACIENTE CANTO AOS IRMÃOS DA ÁFRICA COISA BOA A FEIRA DE DOMINGO A DITA QUE DURA SE BEBER NÃO BEIJE, SE BEIJAR NÃO BEBA CRÔNICA DE UM CANDIDATO A RUA ONDE EU NASCI PROMESSAS AMO-TE MULHER A MULHER DE ADÃO O CARRILHÃO O ESPECTRO DA GUERRA O HUMANO E O TRABALHO O BÊBADO E O CACHORRO A MAGIA DA CHUVA CONVERSA FIADA MANUELA REGULAÇÃO DA ARTE REMÉDIO CASEIRO PORRE ORIGINAL IDEOLOGIA CHILE SAUDADES DO AMIGO 14

ANO 2008 2008 2008 2008 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011


INDICE CRONOLÓGICO TÍTULO

ANO

2011 O JURISCONSULTO E SUA KROON 2011 O QUINTAL DA CIVILIDADE 2011 ASAS À TUA LIBERDADE 2011 FORROBODÓ 2011 AVE GONÇALVES DIAS 2011 AFORTUNADOS E AVENTUREIROS 2011 O PÃO BOLORENTO 2008 NA CALÇADA 2008 TUDO PELO SOCIAL 2012 OS MERCENÁRIOS SÃO SEBASTIÃO E OXÓSSI, SÓ MUDA O CENÁRIO 2012 2012 O TREM DA HISTÓRIA E O DITO POPULAR 2012 REFLETORES NO PASSADO 2012 NATAL 2013 LOGO ALI, NÃO MUITO DISTANTE DAQUI 2013 MULHER, HOJE, AMANHÃ E SEMPRE 2013 MANDELA 2013 O EDUCADOR 2013 EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO 2014 A MULHER 2014 VICENZO 2014 HOJE ME SESSENTO 2014 TRIBUTO AO AMIGO 2014 INDIFERENÇA 2014 PORTUGAL 2005 JOÃO VÍTOR 2004 JORGE O NOSSO AMADO CIDADÃO JOÃO HONORATO, COMPANHEIRO JÚLIO 2008 2005 ARMAZÉM DO PRETO 2005 BANGU A ARTE DA MÚSICA Raquel Rodrigues Souza AMAR POMAR Vítor Wainer UM DIA Anna Beatriz 15


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NA CALÇADA Sentado na calçada, a vida mostrou-se descortinada. No princípio parecia nada, na verdade significava tudo. Não foi criado um mundo de contradição, mas oportuno, uma vida de reflexão. pessoas passam significativas, é difícil compreendê-las, é fácil percebê-las. Senso crítico, comentários avulsos, pensamentos por impulsos; insanidade, maldade ou leviandade? Nenhum feeling para avaliar, pura humanidade, projeção espelhar. Sou o que sou, e quero que os sejam. WAINER – Setembro 2008.

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TUDO PELO SOCIAL É tempo de eleição, horário gratuito eleitoral, gratuito? Que ironia. Tudo em tempo integral televisão, rádio e a rua, imposição mais do que tirânica, pura tortura mental. A massificação na pornografia auditiva e visual flagela nosso lar. A comicidade, hipocrisia, tragicomédia e perturbação, invadem nossa privacidade, um festival de besteirol, verdadeira boca de latrina. Abraços, beijos, simpatia e promessas, tudo registrado. Perguntas inexplicáveis e incompreendidas, milagre na multiplicação dos reais, gasta-se muito mais do que se vai ganhar. O mundo encontra-se em crise, que crise? Justificável! Elementar caro eleitor! Amor à pátria, tudo pelo social. Os dedicados candidatos, no mais puro bom propósito, asseguram um pedacinho do céu. É de causar inveja aos mais santos dos homens, Até Dele mesmo, que foi crucificado. Horário eleitoral, mentira imposta. Tudo pelo social; Deles. WAINER - Outubro 2008. 18


A GRANDE VIAGEM No meu funeral, que haja um cortejo natural sem honras de rei morto, posto que já é posto. Que não haja numeral, nem mais um, nem menos um. Que haja pragas, apenas isoladas. Que haja lamentos, pensamentos funestos, apartados de tormentos. Que haja saudades de boas recordações, disciplinas formais, indisciplinas naturais, onde haja choro, risadas e gargalhadas. Que as amizades sejam reconhecidas, E as mágoas esquecidas. Entrar para história é pretensão, pelo menos ser lembrado. De tudo uma boa sensação, que passei pela e com a vida. E que haja alguém a dizer, muitos alguéns, sem modéstia ou ufanismo, diga-se, siga em paz. Com muita gratidão quero ser um morto vivo, e nunca um vivo morto. Após despedida sem cinzas poluídas, uma comitiva de recepção com preces, missa e orações. De tudo uma boa lição, só se leva da vida, a vida que se leva; sem gavetas. Deixe-me prosseguir. WAINER - Dezembro 2008. 19


PEDRO QUE NÃO É PEDREIRO Pedro que não é pedreiro, e um dia já foi verdureiro, chamado Pedro Couve, transformou-se em Pedro do peixe. Profundo conhecedor em culinária. Em seu modo peculiar extrovertido, Doutor em relacionamento interpessoal possuidor de uma criatividade imaginária, orador de um vocabulário exuberante de eloquência extravagante, coloca bem distante a figura de arrogante, sua voz soa além de um berrante. Pedro um profícuo comerciante. Bronco Pedro! Só da boca para fora, seu estabelecimento não tem aborrecimento, a todos, tratamento com distinção, tão grande é o seu coração. O restaurante ultrapassa o sucesso da alimentação, a limpeza adquire grande sensação, esse conjunto consagra a boa premiação. O boletim falado de boca corrida faz girar mundo esse marco de gastronomia. Fixado em solo familiar, Pedro sem camisa não entra no recinto, ordem estabelecida. Não tem batuque no salão, ritmo compassado só na cozinha, o serviço completo agrada aos mais exigentes. Em um ambiente de complexa simplicidade, a comida preparada em tempero familiar, pratos qualificados de primeira, iguarias tratadas com esmero, qualquer bebida é pedida complementar. Na simplicidade se imprime marca registrada, 20


nem o cardápio traz nomes sofisticados; Peixe frito ou cozido, pastéis de entrada variados, camarão, caldeirada, pirão, frutos do mar e tudo mais. Refeição de salivar e camarada. A sobremesa é completa de sorriso e satisfação. A cada pedido uma atenção especial, prato por prato com ternura, como se fosse pessoal e único. No conteúdo, amor e fartura. Esse é o Pedro que não é pedreiro, que já foi verdureiro, e que hoje é Pedro do peixe. WAINER – Junho 2009.

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FELICIDADE Procurar ser feliz, e não deixar marca em ninguém, eis a questão! Não é conseguir o sobrenatural, nem alcançar o imponderável, tem e precisa ser natural. Não há de se ter vida bandida, bloquear a moral escondida e levar uma vida perdida. O caminho a percorrer pode ser simples, não emblemático, termo da moda, luxúria vocabular, para expressar tudo, e não dizer nada. Procurar ser feliz, é busca contínua, objetivos sempre a alcançar. Um tombo daqui, outro dali, está capitulado no contexto. Procurar soluções desajustadas, não é pretexto para ser feliz, e cicatrizar alguém.

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WAINER - Julho 2009.


SEM MISTÉRIO Quando ela vier me visitar nada há que se apavorar, deixem-na entrar, não dificultem seu acesso, que seja bem vinda. Ainda que paradoxal, talvez sua visita seja de cortesia, ou quem sabe de advertência para nos despertar prudência. E se for de cobrança, não tem que se desesperar, nem tampouco fenecer. Ela só tem o aspecto lúgubre, sua missão é mistificada, se apresenta de algumas maneiras; repentina de surpresa aparece, quem não a espera, de pranto padece. Prevenida previamente avisa, gradativamente aos poucos a dor ameniza. A partida anunciada não é intransitiva, não se define no fim dos túmulos, nos faz crescer através de acúmulos. É viagem de caráter transitivo naturalmente necessita de complemento para crescer. Esse tema soa macabro, em meu coração mais que respeitado, no Romantismo já foi estilo de época. Não é pensamento meu deixar esse templo sagrado, mas se for feita a hora, não existe desagrado. Deixem-na entrar, quero terminar minha vigília, ter um sono equilibrado, cessar esse paradigma equivocado, e despertar em sábia lucidez. WAINER - Junho 2009. 23


O SHOW DA VIDA A vida é mais que um palco, é um cenário real, onde cada qual faz seu trajeto, delineia seu show, traça sua participação, escolhe seu personagem, personifica a ficção. Investido de autor. opta por comédia, drama, aventura e o que mais puder, escreve sua obra. Vivendo o público, paga a entrada e assiste ao espetáculo. Se manifesta em vaias, se completa em aplausos, ou se entrega em apatia. Encarnado em autor, representa seu papel, é ovacionado, é apupado. São consequências de sua apresentação. A toda ação sucede-se uma reação, e o show não pode parar.

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WAINER - Junho 2009.


POR QUE, PORQUE, PORQUÊ E POR QUÊ? Por que se faz complicado? Porque ninguém se entende. Cada um escreve seu próprio idioma dentro da própria língua, em busca de uma comunicação, e a procura de sua razão. Tudo tem um porquê, mesmo definido pelo indefinido, não importa se junto ou separado, e diferenciado com ou sem acento. Os porquês são eloquentes em todas as situações se fazem presentes. Qual a hora de usá-los? Eles não se autodefinem, por quê? Porque está contido no manual, prevalece no contexto o individual, e a razão está contida no final, em um emaranhado de explicações, onde o fim justifica o meio. As diferenças se cruzam harmônicas, os porquês se posicionam sem vaidades, a gramática os colocam nas normas determinadas, justificados apresentam a intenção do conteúdo, este é o caminho por que explicar, e não há mais por que contestar. Por enquanto, esta é a maneira de aceitar. WAINER - 2009.

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MERCADO DA FÉ A cada canto uma igreja, adentrada em inúmeras seitas denominadas de religiões, o nome Dele segue em vão. Poucos são os templos sagrados, nomes pomposos e extravagantes, promessas mirabolantes, barganha com um deus inventado como se Ele fosse mercenário. Uma bagunça arrumada. Muitos são os pregadores articulados tais quais vendedores, camelôs profissionais, de produtos falsificados. Quem oferece mais, mais graça recebe e a farsa não se percebe. Vendilhões da palavra, comerciantes da fé, sanguessugas da miséria alheia, não se dão conta, que essa não é a Boa Nova, e caminham a passos largos a uma profunda cova.

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WAINER - Junho 2009.


A SAGA DE UM PACIENTE Seria cômico se não fosse sério, uma tragicomédia só assim definindo. E não se trata de hipocondria, um patético caso de descaso, temperado com uma grande dose de irresponsabilidade. Um simples procedimento corriqueiro o irresponsável retratou-se à sua casa, conduziu o fato ao chiqueiro. Sem rancor ou ressentimento, merecia um bom chute no traseiro. Cidadão sem nome, também não o merece, mas um suíno verdadeiro. O que parecia um mês de recuperação, transformou-se em um biênio de forte emoção, de pura adrenalina e constante pesadelo. Do nosocômio, sócio já sou contribuinte com frequência constante, e em grande requinte. Nesta epopeia de dois anos contínuos, paciente me tornei lendário dez cirurgias realizadas. Do hospital, tendência a ser sócio proprietário. e a saúde que me era cara, hoje vale menos que um tostão, é dificuldade de fácil solução, quando tudo parece calmo, desloca-se para o hospital para nova operação. Lá vem os homens de verde, luz, câmera, ação, e outro corte. Rotina estressante nada interessante. Anestesia, sonda, soro, cirurgia, soro sonda, sonda, soro antibiótico, e assim por assim... Se não fossem meus anjos guardiões, aqui e lá, seria o massacre do bisturi elétrico um bestseller, transformado em filme de terror com recorde de bilheteria. Seria cômico se não fosse sério. WAINER - Maio 2009. 27


CANTO AOS IRMÃOS DA ÁFRICA Meus irmãos de origem, bendito sejam vocês, que vieram do continente africano. Aqui vai meu canto, transformado em encanto de agradecimento e reconhecimento. Trazidos à nossa terra, ao longo de uma viagem em braseiro no fétido porão do negreiro, em um mar de longo tormento, embalado num canto de lamento, alcançaram o nosso terreiro. Grande Pai seja louvado, que em sua infinita plenitude, permitiu através deste padecimento que esses irmãos chegassem ao nosso berço. Nus, famintos, e de pés no chão, ao longo do tempo, calçaram, agasalharam e alimentaram nosso grande coração. A catequese surgiu em todos os sentidos tentando castrar suas raízes, mas não conseguiu destruir a eterna luz, quando muito, adaptação se fez achegar. O batuque na senzala grande com certeza todos querem participar. Saravá quem aqui está. Saravá quem há de chegar. seus gritos não foram em vão, suas lágrimas fertilizaram o chão, corpo e alma nosso coração. A mãe África irradiou vida através dos sete mares, mesmo que se conteste, todos os cantos respiram seus ares. Bendito sejam vocês. WAINER - 13 de maio de 2009. 28


COISA BOA Um programa tradicional, excursão farofada de feriado, realizada com tudo que tem direito, farnel completo, e muita diversão. Um passeio ecumênico bem religioso, todos pagadores de promessas. Modelo de religião, aspecto irrelevante, Católicos, Espíritas e Protestantes, havia alguns até simpatizantes. A amizade e a fé, objetivos mais importantes. A sucessão dos fatos no caminho perfeito, oração referenciada em hora apropriada. A Santa Sagrada, em seu altar foi consagrada. A credulidade se firmou presente contagiando a todos, até o mais ausente. A diversão ganha seu lugar, que nunca perdeu. O impossível se torna possível, com todo respeito, uma excursão farofada arrumada, um passeio ecumênico bem religioso, com direito a gostosas risadas. WAINER - Junho 2009.

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A FEIRA DE DOMINGO A feira é curta no espaço e longa no tempo, maior ainda no seu entorno. É programa de domingo. mais do que necessidade, alguns vão para comprar, outros para passear, muitos para prosear, e muitos outros para bebericar, e todos a participar. Tem até roupa nova, que veste a vaidade, o que faz parte de nossa verdade. Já quase oitentona, quem sabe até mais, desfilou por algumas ruas, mas sempre no centro das atenções. Acolhida por gerações, assegura fidelidade, que perdura hereditariedade. Na feira de domingo, não tem barracas de frutas, legumes ou verduras, são pontos nominais, com aspecto caseiro. Barraca de Pedro, barraca do João, e barraca da Maria. Barracas para comprar e falar do dia a dia. A frequência é cobrada em ritual de hora marcada, cada falta, em tempo é registrada. A nossa feira, com satisfação, é um programa de domingo. WAINER - julho 2009. 30


A DITA QUE DURA A dita que diziam dura, é nada mais, que pura candura, diante da nobre Democracia, enriquecida de senões, em um atro véu de ilusões. Como já foi exaltado, é proibido proibir; do povo, para o povo e com o povo, a presença da restrição num processo de alienação. Na rua de bem comum, o público é particular para transitar só com permissão, nem todos podem passar, as casas não permeiam com a via pública, existem fronteiras de divisão; concertinas, cercas elétricas e cacos de vidro. Na supremacia prolongada de segregação, uma realidade nua e crua. A lei seca para coibir, o uso da razão, o povo bem longe da educação, vale mais o chicote na mão. Parece pouco! Big brother não é programa de televisão, nossa privacidade vivida, por imposição é dividida e desprovida de um próprio sentimento. Em cada canto, até no banheiro, tácito e expresso monitoramento. O charme do cigarro hollywoodiano 31


a grande restrição, nem aqui, nem ali, nem lá e nem acolá. Pare! Cuidado com os quebra- molas a indústria gananciosa do trânsito, política educativa! Triste ilusão, tudo na contramão. Radares, pardais que não são pássaros conotam aves de rapina, instrumento de extorsão. É proibido proibir, a dita que diziam dura, é nada mais que pura candura. Nobre Democracia; do povo, para o povo e com o povo, só Demagogia. Infelizmente, essa não é apenas, uma mera poesia.

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WAINER - Novembro 2009.


A RUA AONDE EU NASCI A rua onde eu nasci, é filha de um bairro proletário, nascido e desenvolvido por uma fábrica; de tecido estabelecida. Mãe de muitas outras ruas importantes, não mais que a minha significante, Estampadores! Cada uma com seu nome referencial; Fiação, Tecelões, Tintureiros, Limadores... Inúmeras casas, e uma única família. A dor de cada um, doía na alma de todos. O amor de todos, refletia a alegria em cada um. Meu quintal de casa zincada, cercado por brincos de princesa, despertava com o apito da fábrica e se achegava com a Ave Maria. Na rua onde eu nasci, de pé no chão eu me criei, vivenciei brincadeiras de criança; Lateiro, pique, bola de gude, bandeirinha e outras que brinquei. As dificuldades apresentadas na compreensão eram superadas. Nenhum trauma adquirido, hoje sonho boas recordações. Logradouro onde dei meus passos iniciais, articulei minhas primeiras sílabas, construí frases, gradualmente me diplomei. Alcancei mundo, construí família, mas guardo bem na memória, a rua que eu nasci. Que em doces recordações, sempre vivi. WAINER - Junho 2009. 33


SE BEBER NÃO BEIJE, SE BEIJAR NÃO BEBA Um beijo cinematográfico, gênero desconhecido, amor, terror ou comédia? Não era tradicional, bem falando nem normal, lábios com lábios, mas boca com boca. Uma briga travada de tempo indeterminado, em combate de linhas duras, onde se ouvia em perfeito som, o ranger de dentaduras. Apaixonante, sufocante, ou agonizante? Ambiente bucólico, propício a um romance alcoólico, casal em um amor profundo escorado no balcão do bar fazia o equilíbrio no fundo da garrafa, dando asas ao momento insano, um espetáculo dantesco, capaz de abalar Vênus em seu Olimpo, e desestruturar seu filho Cupido, que se estonteia a forte cena, e arremessa sua flecha com destino aos amantes, todos errantes, acerta uma nova garrafa, que de imediato se apaixona, e assim por diante. A plateia não solicita seu aparte, mas calorosamente se manifesta, nada distante, até participante, chega a um grande delírio, de uma Coisa que acima de ser Cômica, é por demais aterrorizante. WAINER - Agosto 2009. 34


CRÔNICA DE UM CANDIDATO Por terra nunca dantes visitada, em lugar completamente ignorado de visão periférica, e de conceito preconceituoso, impregnado de achismo e senões, aonde antes não havia ido, e num lampejo de humanização, lá se acha ele, pomposo e faceiro feitio de um bom moço, todo brejeiro de traje frajola só falta a cartola, está mais para um embusteiro. Eloquente no discurso delinquente nos propósitos conveniente em seu curso, verdadeiro cara de pau, trapaceiro por inteiro. Desempenha com excelência a função de falsário, artista na atividade de mercenário, seu programa favorito, vale tudo por dinheiro. Seus diletos seguidores, são todos inocentes interesseiros. sarcasmo a parte, para obter resultados, lança o povo no bueiro. WAINER - Julho 2010.

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PROMESSAS Reza firme, reza forte, Ave Maria pela tua sorte. Sonhar não custa nada, virou até carnaval já foi poetizado sem ser profetizado. Ceticismo a parte, caminhar ainda, só com os pés no chão. A fé é cega, remove montanhas, sem ipsiletteris, precisa haver razão, que se faça a nossa parte para não morrer no nascedouro. Promessas, uma vela, duas velas... Um cruzeiro todo iluminado. o livro de estudo sob o travesseiro revela um filme sem roteiro, sem mensagem ou mensageiro, solução de embusteiro. Orações, vigílias, rezas, preces... faça a tua parte irmão, porque no outro lado não há mercado, leva-se o que se faz, fica o que se pensa ter. Cuidado com essa escada sem corrimão, é uma estrada que têm duas mãos, pelo menos agradecer. A religião é salutar, nos ajuda a viver e reverter, aposte no credo, mas não transfira tua obrigação. O traçado do homem ao homem pertence. WAINER – Junho 2010. 36


AMO-TE MULHER Amo-te mulher na minha estranha maneira de ser, um ser complicado, muitas vezes indelicado, e por elevar a tua paciência à minha insana intransigência. Amo-te mulher dentro da mais pura poesia, na suavidade romântica dos versos repletos e libertos, das rimas de emoção dos temas do coração. Amo-te com toda minha força do meu tênue espírito, de não saber dizer, eu te amo. Amo-te mulher na praticidade da verdadeira prosa, num mundo natural e corrido. Assim o faço, ainda combalido, mas com uma latente libido pois, diante de ti, me sinto fortalecido, no delicioso vício de sua carne onde me ufano, me sacio, me realizo e me completo nesse afã pleonástico do meu mundo profano. Amo-te mulher da tua poesia à tua prosa, da brandura de tua alma á escultura do teu corpo, ainda que não seja de Vênus reinante em seu olimpo. Mas com certeza, que tu reinas, mesmo que não saibas, no meu mundo onde sou teu súdito de corpo e alma. 37

WAINER – junho 2010.


A MULHER DE ADÃO Lá vem a mulher formosa das pernas exemplarmente ditosas, muito bem torneadas, maravilhosamente distribuidas em seu todo, traz consigo seu corpo flamejante e mostra aguçado seu lado amante, sem contudo, ao sagrado afrontar. Projeta seu corpo afora sem proclamar o fogo do abismo, em um mosaico escultural de um arcabouço perfeito, de um monumento divinamente mortal, provocante sem qualquer projeção imoral, e vislumbra anseios pecaminosos. É a maçã do pecado perdoado. Vestido delineado no corpo, projeta uma cintura ajustada casada a uma anca virtuosa, balança ao mundo sinuosa, projeta movimentos simétricos, sem simétricos querer ser. Seus lábios se mostram carnudos tão lindos quanto os de Iracema de Alencar, que pautado em uma constante, colocam-se ávidos de desejos num fogoso ardor de beijos. Seus seios despertam fartos e volumosos, imponentes ao natural, encontram-se detidos em uma cadeia de pudor, resistem rígidos e eretos e se resguardam lindos e formosos a procura de suas vontades. Liberdade! Eles só procuram sorrir, viver e fazer viver. 38


Lá vem a mulher formosa, com seus glúteos apoteóticos que completam a arte, uma verdadeira cavala, tipo puro sangue, calçada em seu salto, traz consigo o balanço da provocação. De uma elegância inconteste, cruza passo a passo o pensamento do homem, sua passagem é de hora marcada. Ela encontra-se entre o real e o imaginário, desperta desejos e volúpias delirantes, apoteose de minutos, permanece em tempo indeterminado, símbolo de grandes homenagens. Majestosa dama! rainha da beleza, dos prazeres ocultos, atentado pecaminoso à libido, do desejo proibido, do ego vetado e tolhido pela lei da moral social, de não poder explodir e gritar. Maravilhosa! WAINER - 2011.

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O CARRILHÃO O carrilhão toca, religiosamente todos os dias, nas mesmas horas, e soa uma melodia sagrada. O carrilhão não tem religião, automático desperta atenção de qualquer ser passante, mesmo o de pouca sensibilidade, que em um momento de despertar, automático empreende uma concentração. Idealiza-se uma apoteose decifrada em um sincretismo respeitoso, agrega-se uma melodia definida de um autor desconhecido. Cada espaço da rua, aonde a melodia é sentida transforma-se em um templo sagrado, que inconscientemente, as pessoas se tornam devotas ao Deus que não tem religião, e que se apresenta nesse momento onipresente. De repente, em segundos, estabelece-se um pacto de comunhão. WAINER - Junho 2010.

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O ESPECTRO DA GUERRA Já fui guerreiro em muitas guerras, lutei em muitas frentes, enfrentei diversas batalhas, foram guerras dignas de guerrear. Muitas venci, outras perdi e muitas outras pensei haver vencido, ou que fui derrotado, foi pura ilusão todos fomos perdedores. Todas as vitórias ou derrotas são efêmeras, vale mais um armistício, mas nunca deixei de lutar, mesmo nas guerras inesperadas venci o gigante Adamastor, venci os Leviatãs que surgiram fortificados pelos pensadores acadêmicos. A luta é árdua, o inimigo poderoso, o campo de batalha é amplo estrategicamente minado. Eis que surge o espectro do medo, Trouxe consigo o temor, Mostrou-me o pavor da própria altura o inimigo do próprio corpo e a vaidade como aliada, perversa e estrategista, que faz uso da arma biológica. e não se trata de medo difuso, é um fato concreto, tão real quanto à vida. O inimigo despótico impõe sua vontade pura tirania da realidade. Subterfúgios são meros aplicativos, que metabolizam paliativos e me ensejam lampejos de reação. porém, ele dita ordens, o tempo, senhor do verdadeiro poder, tirano implacável, juiz do veredicto final, o grande senhor das armas, indelével nesta arte bélica. Wainer - Junho de 2010. 41


O HUMANO E O TRABALHO A produção do trabalho é um diferencial do humano, um jeito inato de ser, onde o tempo atropelou a razão de ser em prioridade para querer ter. O trabalho esculpido com arte dele já não faz mais parte, no desmembramento das funções, restou-lhe apenas uma pequena parte. Do artesão engenhoso, de uma habilidade criativa, morada de uma mente livre pouco se sobrou, em prisioneiro robótico se engendrou. Alienou seu pensamento fez esquecer seu talento, a arte o vento levou. e o que era firmamento diluiu-se com a pressa do tempo. O calçado formatado com nome próprio, da escolha do couro, à ultima costura do solado, arte pela arte, sem artificialismo parnasiano, criação moderna, no mais puro estilo romântico o esmero criativo se concluía. Oficial sacerdote da costura, doutor alfaiate! Sem plástica ou silicone, e com natural magia, fazia surgir uma empatia na perfeita trilogia, homem, trabalho e confecção. A qualquer um brotava uma formosa feitura, 42


ajustada em elegante postura, única e indivisível, impressão digital, vestimenta apessoada sem igual. A colher do pedreiro não falava sozinha, ao seu grande mestre de mão engenhosa e competente obedecia ciente. Sem nostalgia ou saudosismo, nem de especular a morte do mecanismo, o futurismo dominado pelo pragmático, apresenta-se enigmático. O humano talvez um dia, venha acordar no automático.

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WAINER - Julho 2010.


O BÊBADO E O CACHORRO Abraçados, o cachorro e o bêbado demente, comunicam-se pura e simplesmente em um latido referente. Ambos se encontram num mundo diferentes. O cachorro se liga ao bêbado, o bêbado se liga ao cachorro em um resistente elo de corrente, mais tênue que um barbante mais forte que qualquer rompante, um não foge do outro. Demonstram um sentimento sólido e abundante e prosseguem num tortuoso caminho dançante. Dividem o osso da rua, o desprezo do passante, a arrogância do farsante em uma verdade nua e crua. Perambulantes de pontos marcantes, rateiam uma migalha de fidelidade em um alimento de igualdade, onde não existe espaço para vaidade. Andrajos de ambas as partes, cobrem seus corpos, vivem na boca do lixo, com a virtude de um sentimento de luxo. Nesse relacionamento racional, não se distingue o irracional, questionando o que é normal, O cachorro melhor amigo do homem? Ou o homem melhor amigo do animal? WAINER - Junho 2010.

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A MAGIA DA CHUVA A chuva cai fina o charuto arde com serenidade a taça de vinho é sorvida com suavidade, o pensamento viaja pela vida, o meu corpo está sentado na varanda. Cristo de braços abertos me cuida, posso não ser merecedor, mas pelo momento, que eu imponho esse sentimento, sua luz ampara meu espírito, que reflete fundo em minha alma, preenche os hiatos entristecidos, fala-me da beleza da vida, afugenta minha tristeza, e socorre-me na raiz. Sinto-me um pouco indeciso, mas me encontro liberto e feliz. Sei que não é nostalgia ou tristeza, é lição de amor e sabedoria ensinamento da natureza. Outro gole do vinho, mais um trago no charuto, que são apreciados, são cúmplices deste agora. A chuva continua a cair, e me faz entender que é como o sol a brilhar. A beleza é a mesma, olhos de querer ver, sentimento de poder entender.

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WAINER - Junho 2010.


CONVERSA FIADA Isto é papo de botequim, promessa de virar mundo, achar, pensar e ter certeza que o outro vai concordar em aceitar de corpo e alma a intenção de incorporar relevante sua ideia mirabolante. De combinar o irrealizável, como se fosse o mais viável, extirpar do mundo o indesejável. Protagonizar a ordem no seu mais puro sentido, solucionar o insolucionável, iniciar a caminhada daquilo que nunca saiu do lugar. Isto é papo de botequim, ficar embriagado em palavras ébrias, encontrar razão no irracional, no vira-vira emocional, selar os acordos nos mais dignos contratos em um celebre aperto de mão. Palavra de homem! Abre outra, e mais outra, do que mesmo estava-se falando? Ignora-se o combinado. promessa de político ao eleitor. Lágrimas, sorrisos e desabafos comovidos em um raro momento de sanidade, aí mora a verdade curto espaço de tempo. Mentiras, fantasias e grandezas, em havendo algum pedido, imaginado em dinheiro, surge logo dificuldade 46


seu Gastão se manifesta. Semana passada já gastei um dinheirão. O garanhão se faz presente, cavalo inteiro. Silêncio! Palavra frase, faz até juramento. Esta semana saí com um tremendo avião, cinco horas direto, perdi até o tempo. Coitado, nem ultraleve quebrado, afora o grande fardo na cabeça. De médico e louco todo mundo tem um pouco, deveras antigo, mas sempre atual. As receitas são extraídas sem qualquer preconceito, Alopatia, Homeopatia ou Floral de Bach, receituário a escolher aviado em papel de conta. Pode tomar o remédio, é pura garantia, não faz mal, a tia da prima da irmã do carteiro, que mora na esquina lá de casa, tomou o remédio, foi tiro certeiro, eu garanto. Garantia de álcool, logo se evapora. Então, fica assim combinado, fica o dito pelo não dito. Isto é papo de botequim, Terapia ocupacional. WAINER - Janeiro 2011. 47


MANUELA Dois faróis reluzentes, dotados de cores exuberantes, traçaram o céu em uma noite de estrelas brilhantes. Uma trombeta no infinito soou, o mundo clareou. Silêncio! Atenção! É chegada a hora! Um novo astro surgiu, exalou-se no universo um aroma de infinita ternura. Na terra expectativa! cruzou mares, rios e florestas, saudou a tudo, a todos e foi saudada, mais uma centelha divina acabou de chegar, em nosso mundo aportou. Mostrou-se ativa e afetiva, de alegria, entremeados em sorrisos, chorou e fez chorar. É ela, serena, decidida e bela, a nossa princesa Manuela. WAINER - 2011.

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REGULAÇÃO DA ARTE A regulação da Arte é tirânica, castradora da emoção limitativo da criatividade. Temas padronizados, pensamentos regrados. Versos contados, capacidade escravizada. Não há por que a Arte regular, ela vive a fluir, deslizar no imaginário pela realização do concreto. Ela não estabelece meta sua vida não é uma reta nem se resume em uma constante, não se trata de uma ciência exata, apresenta-se dinâmica o bastante para se mostrar linda e liberta. A genuína Arte de ser Arte, busca uma percepção em cada racional pela emancipação do seu emocional e pelo jugo das asas de seu imaginário.

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WAINER - Maio 2011.


REMÉDIO CASEIRO A noite se arrastava sombria sem princípio de começo, nem presságio de fim. Os problemas telúricos se avolumavam com soluções inatingíveis de posses impossíveis. A dor maior provinha da alma, que vagava em espaço vazio. Em meio a um sono semiconcluído o corpo jazia pesado em uma cama de conforto de um espaço desconfortável. Mais um filme de horror, os fantasmas me assombravam sem qualquer dose de piedade, eis que num lampejo, surge uma solução divina, um remédio caseiro, dotado de forças extraordinárias com uma abordagem de suavidade, vô, vô, vô! Parecia poesia de criança, mas era história de gente grande, conversa rápida e serena, um sono bom se fez chegar, tenro e suave, solucionando o irremediável.

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WAINER - Maio 2011.


PORRE ORIGINAL A ressaca de segunda-feira pertence ao porre original de um início sexta, a um prolongamento sem fim. Um desafio permitido a todo mortal reconhecido como normal, seja lá de onde for, professor, engenheiro, gari, médico, arrendador... incluindo-se o cansado funcionário público, e o sobrevivente inaposentado sem direito de se aposentar. Este, coitado! na própria denotação da palavra. Até mesmo o vagabundo sonhador, desta ressaca sente dor, dor na alma, dor na matéria; da boca amarga, da cabeça grande, do corpo doído, da preguiça malvada, do espírito arrasado, do sono atrasado, do chefe incompreensível e do mau humor imperado. Internado na sua masmorra, embalado por uma pachorra dorme o homem acordado a espera do longo dia terminar. Quando um feriado surge, o mesmo espírito se emana não adianta se insurgir, é a própria segunda-feira sem eira nem beira, muito além da ressaca da bebedeira. WAINER - Janeiro 2011. 51


IDEOLOGIA Um passo longo à direita, meia volta volver, outro passo longo à esquerda retornar ao ponto de partida sem qualquer identificação. Conduzir pelo lado esquerdo e voltar ao lado direito. Última forma em tudo, estabelecer-se no centro, jura de amor eterno jura de fidelidade, tudo no plano do bem estar social. No resguardo de cada propósito, farinha pouca meu pirão primeiro. Reverência ao grande Stanislaw Ponte Preta, verdadeiro Samba do Crioulo Doido. Marcha no mesmo lugar invólucro de ideologia, conteúdo de oportunidade. Ontem verde, hoje vermelho, amanhã amarelo e depois, quem sabe, quase sempre, um grande matiz, efeito camaleão, cores que não se definem, mudam de acordo com a ocasião, sem necessidade de valores, são contas de chegar em contos de bem estar para nada mudar. Roupa nova em corpo viciado, em sendo para meu bem estar e que nada vai mudar, minha ideologia mora e ancora aonde o arco-íris terminar, em um pote de ouro. WAINER - Janeiro 2011 52


CHILE Uma felicidade desmedida desfilada em poucos dias consagra cada movimento vivido, em um afã de viver desmedido. O início em asas no ar a conduzir jovens velhos aventureiros em terra nunca dantes conhecida, mas por amor sempre dantes cobiçada. Numa comunhão perfeita entre estrangeiro, do coração aberto do visitante ao receptivo calor do anfitrião. Uma terra histórica e hospitaleira protegida pela mão da natureza; oceano, deserto, e uma linda cordilheira, de uma subida curvada, sessenta e oito vezes contadas, repousa o Vale Nevada, o coração andino. Um desafio premiado a qualquer ventura com um aclive acentuado, permeiam lados escarpados. A tensão precede a ascensão, numa conspiração perfeita de beleza e emoção. Cada metro conquistado turbilhonam milhões de palpitações, pequenos detalhes agigantam o caminho, o toque divino de magia se apresenta, um pouco fora de época, os primeiros pingos de neve se fazem chegar, e muitos outros, e muitos e muitos mais, tudo dentro do combinado, da harmonia entre os estrangeiros. Os sorrisos um pouco envelhecidos, até então apreensivos, ressoam em alvas gargalhadas, que contagiam toda cadeia. É o aninhamento na terra do condor. WAINER - Maio 2011. 53


SAUDADES DO AMIGO Hoje acordei com vontade de escrever, não sei exatamente o quê. O estímulo trouxe-me uma resposta instantânea, encontrei cumplicidade em meu caminho, posicionei-me junto às palavras, deixei o lápis conduzir o pensamento, o papel se fez receptivo, mas o cenário não estava completo, pensei em você meu caro amigo, a partilhar estes escritos por leitura, uma saudosa comunicação sem qualquer pretensão de ser Literatura. Uma dúvida surgiu, a vontade de prosseguir, ou por você a incerteza de parar. Todo meu intento amigo, é tudo neste solene momento, menos o decepcionar, nem sequer o entediar. A caneta continuou a se comunicar, não nos queira mal, vamos continuar, talvez estas palavras não traduzam o seu merecimento, mas não podemos nos furtar a este momento, esperamos agradá-lo, porém, se assim não acontecer, nada de nostalgia, nada de se aborrecer, nem ao menos rebeldia, procuramos escrever para enobrecê-lo. Com toda veracidade, um Bom Dia. Nossas palavras, Saudades. WAINER - Julho 2011. 54


O JURISCONSULTO E SUA KROON Quando menos se espera, lá vem eles, não tem dia nem hora, é questão do agora da necessidade apresentada, sem qualquer liberdade violada, nem chuva atrapalha; o Jurisconsulto da Kroon, ou a Kroon do Jurisconsulto, A ordem dos fatores não altera este genuíno produto, formam almas gêmeas, eles se completam, não por necessidade, mas por identidade de afinidade. São amigos absolutos em momentos resolutos, e sem traição, fidelidade a toda prova. O jurisconsulto e a Kroon são protagonistas de várias histórias, vividas em momentos épicos, sortidas de aventuras equilibrantes, muitas vezes hilárias, mas nunca trágica. A cumplicidade propicia uma boa união, ambos possuidores de uma boa competência, que é desenvolvida em tenra paciência. Tudo caminha para o correto, visão Comtista, puro Positivismo, é questão de espera, um filme de final feliz. WAINER - Julho 2011.

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O QUINTAL DA CIVILIDADE Aquele quintal se mostrava um mundo, um mundo mágico familiar orquestrado por uma harmonia toda peculiar. Personificado em vida própria protagonista no cenário de uma história, contemporizador de todos os gêneros literários, coadjuvante de luxo quando necessário, aonde vários atores estabeleciam relações. Árvores postadas em seus devidos espaços desempenhavam papéis específicos dentro de um objetivo geral. Pássaros canoros felizes gorjeavam naquela flora de vida enriquecida, cada galho protegido dos arvoredos em acolhido lar se estabelecia. Nós representávamos neste mundo, quase um papel de pano de fundo, só assim não éramos, porque seguíamos o mesmo rumo a procura de falar àquela língua, daquele que ditava as normas, de um padrão organizado de civilidade. Isto foi um dia, saudades. WAINER - Fevereiro 2011.

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ASAS À TUA LIBERDADE Asas à tua liberdade, tu desdenhas o que te és oferecido deixas por ignorância passar desapercebido, a cultuar com orgulho desmedido, teu arcabouço vazio e decadente, aprisionado em tua mente doentia, na verdade, em um eu contraído, de futilidade cultivada em contos de fadas de quimeras. O mundo cada dia te norteias às estradas sem tormentas, a teu êxito caminhos são desvendados, por gestos, palavras, olhares e, por pequenos frascos iluminados, mas tu te enxergas, cevado no adubo da divergência, onde cada desperdiçado instante, semeias constante a decadência. Teu orgulho, a tua cegueira. Tua gula, a tua fome. O jogo da vaidade que te consomes, suicídio de inanição do veneno de tua tara. O teu respeito traduz as tuas palavras na proporção direta de teus atos. Tu não feres a ninguém, a não ser teu próprio espelho em uma batalha constante de consciência. A hora chega a todo o momento, e tu encarceras as asas à tua liberdade desmedida em qualidade e intensidade. Aquieta-te criatura vislumbres o horizonte da verdade, traces teu caminho sem iniquidade. Asas à tua liberdade. WAINER - Maio 2011. 57


FORROBODÓ A manhã desperta fagueira anuncia o dia que será festeiro o sol se apresenta faceiro, as pessoas passo a passo começam a chegar, o ambiente principia a fervilhar em um só. Vizinhança faladeira, logo forma-se um alarido, fofoca, coisa séria e fala besteira. Os vizinhos afastados são convidados, logo chegam para brincadeira a grande família está formada, uma imensa casa sem porta. A festança já corre solta, mais logo vai ter um arruaceiro. O dia se oferece brejeiro, nada tem hora marcada, tudo acontece em uma ordem avizinhada, comunhão de compadres e comadres. tem comida a dar de pau, bebida nem precisa falar, o cospe grosso solto vai rolar, pode-se beber até cair, mas sem fazer besteira, é uma ordem bem maneira, está falada e consagrada, não precisa estar registrada. Bota já o disco na vitrola para tocar deixa a criançada brincar; pião, bola de gude,lateiro e bandeirinha, se houver tempo, ciranda de roda e amarelinha, o arrasta-pé mais tarde vai se verdadeiro, compadre Chico vai trazer o violeiro, a furdunçada está formada, ninguém vai ser servido, todo mundo é dono da festa, 58


reverência só ao mais velho, não tem ninguém preferido, quem chegar lá é bem chegado, é de casa e não é ilustrado, serve-se à vontade, uma bagunça arrumada, é forrobodó até o dia clarear.

WAINER – julho 2011.

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AVE GONÇALVES DIAS Canta, canta passaredo até o dia anunciar, o Sabiá no primeiro cortejo chama à vida a despertar. E surge o bem-te-vi em alto estilo, que traz consigo o Sanhaço, o Beija-flor enriquece o cenário, suavemente baila no ar mostrando sua bela coreografia. Outros ilustres visitantes se achegam, que maravilha eu ainda ter que contar, que minha terra tem Palmeira e Sabiá e muito mais a admirar. Ave Gonçalves Dias! até quando eu não sei, esta grande reverência, a mãe natureza pode sustentar. Canta, canta passaredo canta alto e harmonioso até o homem despertar. A sinfonia é pujante neste pequeno espaço verdejante. Canta, canta passaredo faça de tua linda cantilena um grande toque de magia. E com suas notas de emoção chame o homem à razão.

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WAINER - Janeiro 2011.


AFORTUNADOS E AVENTUREIROS A cruzada do batente se inicia cedo seu gladiador já se encontra aposto, de muito já perdeu o medo, de digladiar por sua labuta. O trem dá início a mais uma jornada a percorrer os trilhos sinuosos. No balanço das ondas trilhadas, o guerreiro surfa em sua prancha de aço no equilíbrio do seu corpo martelado. E haja perna! E haja braço! Parada na próxima estação, saltam alguns afortunados, entram vários aventureiros. Olha o jornal! Quem vai de jornal? O salário mínimo vai dobrar. Que mentira, que lorota boa. Volta o trem a trilhar, bananada, bala Juquinha, bala de tamarindo, um pacotão a um real, três por dois. Trem parado no desvio. Está chegando o dia do juízo final só o sangue de Cristo salva, quem não aceitar, vai arder no fogo do inferno, e para sempre. Sinal verde, o comboio retorna ao seu destino até o próximo desatino. Volta o trem a chocalhar e na prancha de aço o artista volta a se equilibrar. Olha o veneno de rato, este não é do Paraguai, 61


não é falsificado, é verdadeiro e mata na hora. Mas o viajante é imorrível, é o bêbado e o equilibrista na corda bamba, capaz de sobreviver muitos anos neste samba. Próxima parada, estação loucura, menos afortunados e mais aventureiros. Atenção senhores passageiros! a composição ficará parada, apenas por alguns minutos, alguns, pronome indefinido, à espera de outra que ocupa a linha. É retomada a partida, o cine aventura continua, entremeado em tragicomédia. Água mineral, água mineral, esta não é da bica, refresco de caju. tem troco para cinco? As paradas se sucedem. Joga, é a sua vez, preste atenção, o trunfo é espada. Amendoim torradinho, com casca ou sem casca. É quase hora da estação final, o início do dia que parece anormal, naturaliza o dia a dia como normal. Olha a volta às aulas, lápis, caneta, borracha e caderno espiral, cinquenta, cem, duzentas folhas, só não estuda quem não quer, mais um engodo. É dada a hora da chegada, descem todos aventureiros, a sonhar que um dia serão afortunados. WAINER - Fevereiro 2011. 62


O PÃO BOLORENTO O carrancudo e mal-humorado, acorda para variar sempre desagradável, como de costume traz consigo o pesadelo para assombrar e perturbar a todos com seu modelo. O seu desjejum, dois copos de vinagre, acompanhados de um bom bocado de azeitonas virgens, porém antes uma boa briga com o espelho. O começo da jornada azeda e amarga realiza-se sem bom dia ou coisa parecida, apenas algumas rosnadas. O brilho de satisfação no olhar da carranca reluz, quando ele se interpõe à luz e promove com satisfação a festa da escuridão, mais um processo de confusão. Desagregar é o seu verbo dileto, inimigo número um do ambiente saudável, intromissão obtusa na vida alheia é o passatempo desta coisa feia, que nutre em seu pensamento a figura daninha. Ele está mais para um trambolho social, parte de algo escangalhado, rascunho de espírito pelo avesso, tem origem desconhecida, ou talvez nas proas das navegações antigas, objeto raro de estudo sociológico próprio a ser preservado no zoológico, mas com o mister de ser castrado. O semeador do caos, não tem vaga na Arca de Noé, para que não haja perigo de procriar. O carrancudo e o mal-humorado mergulhado em um mar de inveja, vomita sempre o que quer sem preocupação de quem possa atingir. 63


Na arte de provocação é contundente, sua língua saliva como serpente, serpente das mais venenosas, acha-se vítima quando retrucado, age como um pobre coitado, lágrimas de crocodilo. Competidor avarento, vale menos que um pão bolorento busca sempre a pole position no seu processo contínuo de mesquinharia, onde procura humilhar os menos favorecidos, e explorar uma minoria que dele ainda se apieda, mas chega sempre como retardatário. Desculpem meus raros leitores, por minha rabugice pleonástica, não posso deter minhas palavras, pois esta coisa é objeto raro, mas infelizmente existe. Cuidado! WAINER - Março 2011 .

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OS MERCENÁRIOS Os ímpios, os impuros e os ímprobos, São substantivos comuns, São mentiras concretas, Encontram-se em qualquer lugar, Comunicam-se em todas as línguas E buscam o desequilíbrio moral. Pensam que tudo está a venda, onde o mundo é um grande mercado E se abaixa as suas rendas. Máquinas mortíferas versadas no mal, Mercadores de almas, Almas coisificadas, Infelizes e moribundos, Dos corpos rotos. Os ímpios, os impuros e os ímprobos, Voam em espaços vazios Em busca de tudo, Na ambição do quero ter. Amigos do nada, Nada de amigos, Vorazes mercenários, Da vida, puros falsários. Insaciáveis devoradores. Desintegrados da verdadeira verdade, Cavaleiros malditos do apocalipse, Vândalos predadores, Protagonistas de filmes de horrores. Aves de rapina sem natureza, Vendilhões do templo, Verdugos na inquisição do povo, Sugam se suas vítimas até a última gota de suor, Que se deixam abater no âmago da dignidade.

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WAINER


SÃO SEBASTIÃO E OXÓSSI, SÓ MUDA O CENÁRIO Desperta a cidade com alvorada festiva, uma salva de fogos anuncia o dia, o Padroeiro governa a cidade, São Sebastião está todo iluminado preparado para deixar o altar e se posicionar no andor. Do seu trono comanda a procissão ainda flechado, os fieis seguem em ladainha exaltando o vermelho, quer na roupa, em uma fita ou outro assemelhado, todos caminham hipnotizados arrastam-se pelo caminho por força da reza. A disputa é grande para conduzir o mártir, status fiel de quem pode fazê-lo, critérios de mistério designam o poder, a flecha ninguém pensa em tirar, é o ícone da realização. E caminha se arrastando a procissão. é um choro, uma reza, um processo de lamento, lágrimas, rogos, promessas e agradecimentos, que traduzem alentos, longas velas acesas nas almas conduzem e afastam tormentos. A noite ocupa o dia, já se faz tarde e a fé continua, apenas troca-se o cenário da liturgia, os personagens se repetem. Os tambores e atabaques agora falam mais forte, canto no terreiro. Oxóssi anfitrião bravo guerreiro, das caçadas, grande justiceiro. Batuque ou procissão um processo de comunhão, é a festa do Santo Guardião, dois caminhos e uma só louvação. Flecha no peito do Santo, Oxóssi caçador flecheiro. A procissão reza a dor, agradecimento e a esperança, na mesma direção o batuque agita o terreiro. Amém, Saravá! WAINER - Janeiro. 2012. 66


O TREM DA HISTÓRIA E O DITO POPULAR O trem da história passa em regime diuturno religiosamente, postando o seu destino e o seu trajeto na frente, ele se mostra de luxo ou de lixo, a opção é do passageiro. Por mais que possa parecer lotado, a composição reserva lugar para todos, embarque sem claudicar, tem acomodação para viajar sentado, aqui todos são os escolhidos e acolhidos, ninguém é preferido ou preterido, você é seu dono, e produz a sua história. O que passou, passou, não adianta chorar sobre o leite derramado. Embarque na próxima estação desprovido de qualquer tensão, aprenda todas as regras e transgrida algumas, faz parte do roteiro da viajem, não confie só no destino, o triunfo nasce da luta, porque não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe se cair, do chão você não passa, não estamos aqui apenas para passear, nem tampouco nos acomodar. Não espere a sorte lhe alcançar, encaminhe-se de encontro a ela. Sinal de alerta! Nunca puxe o tapete dos outros, afinal você também pode estar em cima dele, e a queda é livre, porque quem semeia vento colhe tempestade. Todos têm um sério compromisso, um livro na história para assinar, ou até mesmo com orgulho deixar a digital, 67


não precisa ser letrado, não faz mal. É melhor prevenir do que remediar, o preço cobrado é o mesmo, não existem desculpas a se argumentar, um homem prevenido vale por dois, não se pode nem se deve passar em branco com possibilidade de se repetir o ano. Pelo menos plante uma árvore, ou aprenda a cantar o hino nacional demonstre parecer ser um ser normal mesmo possuidor de algum defeito, ou vários, afinal de contas, quem não os têm? Construa ou participe de algo de efeito. Perfeito! Não precisa ser corretamente certo. O tempo está passando... e o calendário não retrocede, nem sempre quem espera sempre alcança, não conte com o ovo dentro da galinha para não escrever outra coisa. O sinal de alerta está aceso o trem vem no trilho certo apitando, seu caminho anunciando. Quem sabe esta possa ser a última oportunidade. É tudo uma questão de vontade não há que se pensar duas vezes antes de agir, o tempo urgi, mais vale um pássaro na mão do que cem voando. Depois não se ponha a lamentar, porque Inês estará morta. Na cama que você apronta, nela você se deita. E barata que tem juízo não atravessa galinheiro. WAINER - Abril 2012. 68


REFLETORES NO PASSADO Refletores no passado que clareiam o presente e focalizam o futuro. Nada se cria, tudo se copia como o feito agora, ou se transforma. Os altares ontem projetados hoje um pouco esquecidos no sagrado muito lembrados na arte, às vezes focados profanos descansam deuses esculturais. Verdadeiras obras de arte materializadas em sagrados rituais. Na arquitetura moderna, o flash é redivivo, metaforicamente no mesmo alento, fatos geradores do mesmo pensamento em estruturas modernizadas de um passado sempre presente, apenas nominações diferentes em sequência da mesma vertente. É o rio fluente, que sempre deságua no mar. Nos altares idênticos, santos, anjos e arcanjos são eternecidos na continuidade dos mesmos valores de propósitos relevantes. Refletores no passado que reluzem no presente e projetam o futuro. Nada se cria tudo se copia como o feito agora, ou se transforma. 69

WAINER - Março.


NATAL Uma manifestação de amor, ultrapassa as barreiras das religiões, os limites das certidões. Os quatro ventos sopram o ar da fraternidade, cumpre-se um armistício geral e natural, paira no ar um sentimento de igualdade, ainda que passageiro, mas neste momento se mostra verdadeiro. Não importa o valor comercial, cada um traça o seu perfil, e vivifica o seu astral. O homem aflora sua lucidez, o ateu floresce a sua fé, graças a Deus, e num lampejo de reflexão elabora uma prece, a Deus, a Alá, a Oxalá, a todos os deuses do amor, um só. Porque hoje é Natal! Aniversário do Grande Mestre. Nascer e renascer todos os dias, fora da cruz, Sem o peso de qualquer pecado.

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WAINER - 2012.


LOGO ALI, NÃO MUITO DISTANTE DAQUI Do outro lado da rua, não muito distante daqui, moram aquelas pessoas, elas não possuem endereços os números encontram-se ilegíveis e as calçadas estão descalças protegidas pelo esquecimento crescido e tem o descaso como vizinho. A comunicação tão perto não se fez presente, o carteiro não conhece as ruas, as placas encontram-se nuas, nenhuma carta recebida ou enviada. Ali, logo ali, a telefonia fixa não foi implantada, e o celular não tem chip, o telefone só é lembrado no pé da orelha. Do outro lado da rua sem cadastro, com muita fartura abunda a bolsa necessidade, que com facilidade enche o bolsão de miséria, e não tem sopa de letras, encontra-se distante de PAC, UPP, UPA, PEC, e tal e coisa. Do outro lado da rua, não tem roteiro de turista nem laje para bronzear-se, o zinco não suporta o peso da pobreza, porém, todos possuem nobreza, e os impérios são respeitados, onde não há disputa de territórios. Ali, logo ali, do outro lado da rua, o nome não tem sobrenome, é preenchido por apelido, não existe qualquer tipo de certidão, somente o abandono é certificado. Lá, a justiça é realmente cega, 71


a ampla defesa encontra-se aniquilada, todos s達o impostos culpados, julgados sumariamente e condenados, o martelo j叩 bate sacramentado, n達o existe recurso a impetrar. Do outro lado da rua, n達o muito distante daqui, parece o fim do mundo.

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WAINER - Maio 2013.


MULHER, HOJE, AMANHÃ E SEMPRE A todas as mulheres lindas Lindas de corpo e de alma, Todas! Sem exceção, porque todas assim as são, minhas sinceras reverências, e com total eloquência. Ser gerador do amor, carrega o peso da vida, detentora do pecado imaginário, mais saborosa que a própria maçã, tem o perdão natural. Alma viva da existência, nos mais duros embates de tormentos em seu posto posicionada, sempre vigilante se posta. Brava guerreira da resistência, Sua luta não tem hora marcada, estipular data para seu ser não é mera formalidade, é reconhecimento da mais pura verdade. Obrigado MULHER! WAINER - 8 de março 2013.

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MANDELA Nosso orbe encontra-se de luto. Atenção! Completo silêncio! Uma justa homenagem, um grato reconhecimento. Na contrapartida de sentimento, a comunidade celestial encontra-se em tenro alarido, prepara-se para receber mais uma estrela brilhante, um filho pródigo, que retorna ao seu lar radiante, com a certeza do dever cumprido. Quase um século de luta, mais de duas décadas em forçada clausura, que se postou vil, injusta e preconceituosa. Pouco, muito pouco! Vindita reles, não se fez suficiente para calar seu grito de luta, que jamais ecoou por vingança, mas por uma justiça de verdade, onde as barreiras a serem transpostas, não observam cor, credo ou comunicação diferenciada; uma luta desprovida de qualquer apartheid. Este grande astro reluzente, que acaba de cometear pela terra, aqui deixa seu legado de luz bem semeado, onde nem todos ainda, encontram-se capacitados e aptos, A recebê-lo e vivenciá-lo devidamente. Mas a semente é de boa cepa, mesmo tendo sido cultivada em solo árido, e até então impróprio, ela se projetou forte e fértil, rompeu o chão inóspito e a barreira do ódio, e se propagou timidamente ainda, mas com firmeza de sustentação, pelo mundo afora. Madiba! WAINER - Dezembro 2013. 74


O EDUCADOR Através de seu olhar, o mundo se ilumina, o fantasma da ignorância cala-se, e o conhecimento se propaga. Ele é a chave-mestra do nosso elo perdido, estabelece a tradição do saber aprender para ensinar, propaga o legado do conhecimento aos quatro ventos, ignorando as tempestades bestiais encontradas. Arquitetou e construiu culturas milenares, assentando símbolos sobre símbolos, palavras sobre palavras, pergaminhos sobre pergaminhos, e livros sobre livros, em uma estrutura sólida , na construção de um universo de complexidade. Por sua dedicação incomensurável, fez da escola um templo sagrado. Ele explica o passado, vivencia o presente, e prepara o futuro. Por sua tenaz paciência, muitas vezes caminha por retas tortuosas, no entanto, sem perder o rumo. Ele não fez da sua profissão um negócio, exerce sua função através do sacerdócio. Através de seu precioso olhar, conquistamos nossa verdadeira Liberdade. WAINER - Outubro 2013.

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EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO Hoje sim, não existe arrependimento, mas, uma boa dose de lamento, do tempo passado, onde ele cruzou célere. Em um momento disperso, enganosamente pensei haver sido dono do mundo, despertei meio que confuso, e agora me dou conta do que perdi, e que não o aproveitei o suficiente, dentro da utilidade que o pedia. Me posicionei um pária profissional, fiz muito barulho e pouco disse. Em um confuso labirinto social, marchei muito tempo no mesmo lugar, pequei por omissão, mas com certeza não por deixar de fazer, laborei apenas uma pequena parte, de um todo que se mostrava bem maior. Muitas vezes troquei o livro certo, por uma máquina mortífera, que até hoje me assombra, e que de certa maneira, como canto da sereia, ainda me fascina. Nem tempo para orar encontrei, petrifiquei minha alma no mundo do mercado, não chegou a ser uma calamidade moral, mas um lapso de percurso, bitolado em trilhos irregulares. Acredito que águas passadas, no vai e vem da chuva, conseguem mover qualquer moinho, em busca do tempo perdido. Por favor! Mais um livro. WAINER - Novembro 2013. 76


A MULHER Mulher! Criação divinal perfeita, pleonasmo proposital e providencial. Da costela do homem; pura fantasia, ela por si só anda sozinha. Me desculpem os fervorosos se for heresia, também não me importo, me sinto mais feliz exaltando-a, e me sentiria castrado se assim não o fizesse. Porque todas as mulheres são lindas, lindas de corpo e alma. Todas! Sem exceção. Mulher! Com total eloquência, ofereço minhas sinceras reverências. Detentora do erro imaginário, se posiciona mais saborosa que a própria maçã, tem o perdão natural, do pecado originário que nunca existiu. Mulher! Estipular data para homenageá-la, não e mera formalidade, é reconhecimento da mais pura verdade. WAINER - 2013/2014.

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VICENZO A noite ressoa com o tilintar do Cristal, paira no lar planetário a suavidade mágica do perfume de criança, é o trombetear de mais uma joia rara que se anuncia, o seu destino, o planeta azul, o planeta das águas, da minha mãe Iemanjá. A noite prossegue seu caminho personificando-se em ser ativo, o firmamento aos poucos sorrir pelas estrelas, e a lua tonaliza a luz da poesia. O Astro Rei não está ausente do grande espetáculo, Com sua majestade, conduz o acontecimento a outro lado, e como sentinela guardião da terra, deixa vivo o seu calor paternal da vida. Tudo se posiciona simetricamente alinhado, o dia anunciado já foi data estampada, também cristalizado em outro V de vitória. A espera é ansiosa, faz- se sentir eterna e nos deixa apreensivos, mas uma corrente de amor se alinha ao infinito, alcança o menino Cristal, que já deu sinal de alegria e esperança. Ele chegou! Mais uma faísca divina, Seja bem vindo Vicenzo! WAINER - Abril 2014.

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HOJE ME SESSENTO Sessento-me sem qualquer lampejo de recalque, caminho junto ao tempo sem abandonar a identidade, as condições climáticas são favoráveis, e me proporcionam o advento de um novo show. Caminho no limite das condições etárias, sem me foguear num afã ilusório, sou um idoso consciencioso, nenhuma extravagância inadequada me desafia. Na leitura caminho meu dia a dia, procurando apartar-me da ignorância omissa. Cada espaço é preenchido sem para trás deixar nostalgia, nem tampouco arrependimento. Não, não existem nebulosidades nem dúvidas, as dívidas fazem parte do cotidiano, aos poucos procuro saldá-las. Nenhuma gota de leite derramada, que eu possa chorar ou lamentar. Alguns abusos perpetrados no caminho existiram, outros tantos senões imprevistos também, o tempo compassado em bom tempo curou. Nada de me posicionar em um altar santificado, nem de me ilustrar de bom idoso, não teria cabimento, encontro-me vivo e atuo no âmbito de nosso orbe, sou mundano e diferente não poderia ser. Nesta competição constante, Me sessento feliz, pois, o mundo mais uma vez acabou, acabou de começar. WAINER - 07 de maio de 2014.

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TRIBUTO AO AMIGO Amigo, o sol brilhou, e naquele dia esplêndido você me abraçou. A tempestade surgiu e me atormentou, pensei estar perdido e isolado, ledo engano da imaginação, lá se encontrava você de sentinela, e no campo de batalha me amparou. Amigo, nem mesmo o significado da distância, exerce o poder de apartar esta força, que por si só, não é abstrata, é concreta, possuidora de um conteúdo forte e poderoso, que se alicerça nos pilares da autenticidade, onde você é a grande verdade, sem a expressão dúbia da relatividade, onde o amigo encontra-se no campo do absoluto. Amigo, às vezes posso parecer ingrato, um corpo sem alma, ou até mesmo um alienígena, talvez até o seja, mas nunca para você. Até nas discórdias, há compreensões, mesmo que sejam às turras ou tardias. nossos acertos convergem ao bom senso, e nunca a fragilidade do senso comum. Amigo, capitulado na primeira pessoa do plural. WAINER - 2014.

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INDIFERENÇA AGUDA O dia começa a nascer, rapidamente vai crescendo, criando forma, até certo ponto amorfa. As portas vão se abrindo, as pessoas surgindo e o formigueiro humano cresce agitado em alarido. Os veículos disputam espaços com as pessoas, a condução transformou-se em um mero meio de penitência, que superlotado esmaga a massa humana, e no empurra- empurra conduz o dia. Neste cenário de paradoxo, o homem aleatório ao seu redor se mostra vazio, não tem bom dia, não vai ter boa tarde, nem tampouco terá boa noite. Ele corta as ruas, sobe e desce, entra e sai. O trabalho virou meio de sobrevivência, e haja paciência! E segue o ser no seu automático, de posse de seu órgão central, o corpo sem alma alimenta-se de vários aplicativos e programas; Face, E-mail, Twitter, Whatsapp e outros que virão e coisa e tal, não tem hora nem local. A máquina é o essencial, emprega o alienado de carteira assinada, liberal até o informal. E todos com pose singular de intelectual, numa perfeita masturbação mental, transportam-se em uma viagem ao mundo da lua, como se toda esta indiferença fosse natural, deixam-se sofrer uma mutação radical, em um transforme mental, produto empestado de uma máquina virtual. WAINER - Junho 2014. 81


PORTUGAL Cá estou a deleitar-me nesta terra de estratégia peninsular, protegida por fortalezas medievais, e amparada por belezas naturais. De Norte ao sul, do Douro ao Além Tejo, as sábias águas fluviais, cumpliciam-se em um casamento perfeito com o mar receptivo como porta de entrada do Velho Continente. Neste esplêndido cenário aconchegante, a Literatura não se fez omissa, através do tempo e dos fatos, ela perpetuou uma épica História, envolta em um lirismo encantador, onde Camões nos eternizou versos, submetendo o Monstrengo Adamastor, e embelezou em seus sonetos, o que falamos de amor. Posicionado pois, deparei-me com uma grande identidade familiar, ligeiramente diferenciada, talvez por alguns rasgos linguísticos ou semânticos. Mas o espaço partilhado é o mesmo, não existem colonizadores ou colonizados. Em cada canto, em cada rua, em cada sítio, em cada tasco de terra produtiva, uma verdade consagrada, um fruto se projeta a alimentar. Sob o comando das oliveiras, os vinhedos se propagam ao mundo, ordenando em tom de excelência, os sagrados vinhos e azeites seculares. Cá estou, encantado pois, e bem identificado. WAINER - 2014. 82


JOÃO VÍTOR Anunciaram o João, lá vem o João, João está para chegar. Epa João apressado! Chegou adiantado, olhe que menino arretado. João de Bangu, João do Rio, João do Brasil, João do Mundo, João que é de Deus. Ele traz consigo, não sabemos exatamente de onde, um Vê maiúsculo, um Vê de Vítor, um Vê de Vitória. João campeão, terá a altivez de aprender a perder, e de tirar do limão da derrota, a boa limonada de um bom perdedor. Vamos crescer juntos, Aprender a driblar as artimanhas da vida, aprender a amar e ser humano, amar e ser nós, amar a beleza da natureza, a luz do Sol, o azul do Mar, e o verde das Matas. A compreender e aceitar as necessárias intempéries do tempo da força das Águas e da escuridão da Noite. João você chegou, fazendo um gol de placa, um gol de raça o gol da taça. João com Vê da Vítor, com Vê de vitória, João o grande Campeão. WAINER - 2005. 83


JORGE O NOSSO AMADO Vai Jorge, por entre várias línguas Amado pelo mundo navegando pelo Mar que na plenitude de sua vida, nunca foi Morto. Vai Jorge, que não é Santo, mas tem dentro dos seus grandes feitos, uma soberba Tenda dos Milagres. Vai Jorge, um ser Amado que nos encanta pelo canto de magia e rebeldia. Atravessando o Cacau, embanhado no Suor, sempre em pleno Carnaval, exportando acima de tudo, alegria, embrenha-se no agreste ou navega pelo mar, onde Iemanjá, sua Diva, de diversos nomes, de vários cantos, de muitas magias e de um sublime encanto, é sua pura devoção. Vai Jorge, Amado pelo povo exilado pelo humor da verdade e eternizado pelas palavras e pensamentos, deixa espiritualizado um grande legado em choro e riso, de dor e alegria, mas sempre de esperança. Vai Jorge, um grande vitorioso viajar com sua medalha de ouro rumo à eternidade. 84

WAINER - 2004.


CIDADÃO JOÃO HONORATO, COMPANHEIRO JÚLIO Em Santa Luzia das Pancas, dentro de uma prole numerosa veio ao mundo o capixaba João Honorato. Iniciou sua alfabetização na terra com a mão calejada, tendo como lápis, o cabo da enxada. No percurso de uma grande caminhada, traçada de pé no chão, cresceu em uma moralidade rígida, conheceu e viveu necessidades, por muito chamou a morte de você. Viveu em tenra idade, lágrimas de sofrimentos. cabra de espírito aventureiro, do coitado, ficou o bravo guerreiro. Dentro dos traços de experiências e verdades aprendeu a maior de todas as vergonhas, que passar necessidades e fome, neste país de farta riqueza, é coisa de vadio. Simplório no linguajar companheiro pouco letrado, e no âmbito da vida, amigo de boa cultura. Se projetou e conheceu a cidade grande. emérito contador de causos, perfeito degustador de uma aguardente, possuidor marcado de ditos populares, seu coração e maior que a cabeça, e olha que é coisa difícil, mas é verdade. João Honorato venceu dificuldades. Hoje Júlio, construtor e gesseiro, profissional requintado, propagou a bondade, 85


expandiu sua prole, tudo incluso, sem distinção aos agregados, que são por demais numerosos. João Honorato ou Júlio, não importa, desenhou em positivo sua trajetória pela vida.

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WAINER - 2008.


ARMAZÉM DO PRETO Ponto de encontro e desencontro, encontro obrigatório desencontro casual. Armazém à moda antiga, venda no varejo, com direito a gato dormir na prateleira, e sem qualquer aborrecimento, ou constrangimento, o freguês se acha sócio do estabelecimento, manuseia até o caixa, com permissão de quem de direito. Coloca até preço na mercadoria e pendura a conta na língua. Terror das incompreensíveis esposas, um point de grandes encontros e discussões, é só um minutinho para matar a sede, mas se transforma em horas, horas de prazer, horas de deleite, horas de relax, horas de refazimento, mesmo para qualquer aborrecimento. O armazém do Preto, sem preconceito, por natureza tem frequência aberta e seleta têm Mendigos, Cachaceiros, Médicos, Professores,Advogados, Engenheiros, Oficiais de todas as espécies, até Oficial de Construção e de Pedreiro, sem contar outros, Torneiros, Saqueiros e Gesseiros, talvez os melhores. E nossos diletos Comerciantes 87


são versáteis, uns são até Cozinheiros. Todos com certeza deixam bons legados, que são certificados pelos achegados, ilustres convidados, Vereadores, Secretários e Deputados. E os eméritos Pedintes, consumidores de Caninha da Roça, através de um ilustre representante, filosofou no maior estilo importante “Esta é uma Casa de Mãe Joana, Mas é bacana”. Todos entram, mexem, opinam e se arriscam no perde e ganha do Preto, só perdem, a balança e o dedo são cúmplices. O mercadinho às vezes parece um hospício, o ambiente se torna propício. As loucuras eloquentes, com discursos inflamados, com versos exaltados, uma grande divergência entre as partes. Mas por favor, nenhum estrangeiro peça um aparte, seja para que lado for, pois as divergências são familiares, e se tornam um todo, e o intrometido, é obrigado em seu desatino, compulsoriamente, procurar seu destino. São discutidos diversos assuntos, Política, Religião, Futebol, Economia, e muito mais, entre um copo e muitos outros, várias soluções encontradas, através de fraseados simples, períodos complexos. 88


Em tempo, ouvem-se também grandes pérolas gramaticais, que chegam estremecer de susto, o cachorro que se encontra a latir. Mas ninguém foge ao fio da meada, os assuntos são debatidos e rebatidos, e todos têm razão. Há quem afirme, com toda convicção, que o armazém é bom, a freguesia é das melhores, mas não é democrática não. E sabe que tem razão. O armazém não tem conforto algum, não tem acomodação, tira gosto, nem pensar, nem lugar para sentar, servir só no balcão. O cardápio é a cargo do freguês, nunca pelo dono. É o mais variado, de sanduba de alho com carne seca, a qualquer prato sofisticado. O preparo da comida, às vezes dura mais que uma vida, mas o seu consumo, é questão de minutos. Não existe comida fervendo, é só vendo, aparece o grupo da boca de amianto, e como por encanto, a comida vira vento. A turma mundana do Armazém, é o que falam alguns fariseus, não se acovarda, não se omite, não se cala, 89


procura sempre que necessário, oferecer em conjunto, o braço operário. Com cerveja, vinho, cachaça, genebra, cubra libre, ou qualquer outro saracutaco, pode apostar no taco, ninguém fica desamparado. Em nossa venda, é só fazer correr uma agenda, e o ofertório está concluído. Sem comprovante de venda, é a palavra e confiança no amigo. Nessa Casa, ter o olhar fraterno, é mais do que obrigação do freguês, é unir o útil ao agradável, sem gracejar, ou fazer demagogia, é motivo para festejar. Esse nosso grande salão de festa mesmo sem conforto, festeja as mais celebres datas, testemunha fatos jamais esquecidos. E tempos já vão idos, e memórias permanecidas. É certo que um dia, o armazém vai fechar, mas sua memória não vai se apagar, será uma grande História, contada por pequenas e belas estórias. até quem sabe, irá virar Literatura de Cordel, e não de Bordel, o que não importa, será cantada a cada canto com saudade e encanto, não haverá pranto, nem nostalgia, o Armazém do Preto, será sempre só alegria. WAINER - Junho 2005 90


BANGU De banguê no seiscentismo aportou Bangu amparado por um maciço. Paternalmente pela Pedra Branca protegido um grande bairro se fez ungido A fábrica um marco evolutivo, fez crescer sem Reforma Agrária, uma verdadeira vila operária. Um parâmetro de moda e beleza que ao mundo encantou. Em nosso bairro, uma grande família se formou, com José que era irmão de Dolores, que se apaixonou por Maria, que era irmã de João e que se casou com a prima da tia. Bangu de muito amor, fé e tradição, terra apadrinhada por Santa Cecília e São Sebastião. Dia 20 de janeiro, motivo para comemoração, é dia de muita comoção, sem preconceito de religião todos seguem ou esperam a procissão. Louváveis são os motivos e pedidos, mas nenhum é anormal, são todos valiosos. O leiloeiro procede ao leilão, do galo, do cabrito e do leitão. E com todo respeito a Bastião, é o início momesco, com todo aparato carnavalesco. As escolas, 91


por incrível que possa parecer Públicas! eram todas iluminadas, com a luz da competência, responsabilidade, dignidade e consciência. O Senhor Professor, um verdadeiro educador, do ensino, a supremacia. Disciplina rígida e de extrema valia, o educando sem trauma ou rebeldia alcançava o sucesso e vencia. As lembranças dos mais belos lances dos mulatinhos rosados, no canal 100 ficaram registrados, num cinema que era Moderno. A Vitória musicada, na tela em encarnada e branca era mostrada. Os clubes ornamentados, nos bailes tradicionais, nos grandes carnavais, ou mesmo nas domingueiras, sem se importar com as segundas-feiras, passo a passo os salões disputados, do pé de valsa no seu bailado, ao aprendiz no seu lado a lado, surgiam os beijos roubados, roubados numa boa, sem qualquer tipo de coação. E data vênia companheiros, com total permissão. Com todo respeito ao Natal, a festa da supremacia, o Carnaval! de todos, a folia, 92


nas ruas e nos salões a alegria. O Clóvis com sua bexiga, a língua do Diabinho, a Morte, a Nega Maluca, o Pai João, o Gorila sem confusão. A cada ano, o coreto uma história, ornamentado com certeza de beleza, a espera da vitória. Ocasião do tira teima de momento, mas alguns avançaram no tempo e renderam casamentos. E a grande família continuou. Bangu, nossas lágrimas, nossos sorrisos, grande parte de nosso todo, nosso Bairro, nosso Mundo.

WAINER - Setembro 2005.

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A ARTE DA MÚSICA Nesta tarde de primavera, cansei de ilusões que deixam só saudades. Após o por do sol em Ipanema, passeiam pela areia o bêbado e o equilibrista, e, até a garota de Ipanema. E a novidade veio dar na praia, as sombras rodeiam, criaturas da noite anunciam a chegada da lua, então, pego o trem das onze, um trem para as estrelas, onde as aparências enganam. E na busca à vida, troco esmeralda por pérola negra, tais detalhes me dão emoções... Já é fim de noite, e o barquinho navega ainda pelo oceano, com suas águas refletidas, pela luz do sol, que logo vem surgindo para servir de lanterna dos afogados. Meu erro foi acreditar que não tive uma linda juventude, mas nada é fascinação, tudo faz parte do show, pois a vida é um palco, onde são cantadas, as mais diversas canções. RAQUEL RODRIGUES SOUZA 1998.

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AMAR POMAR Meu destino foi legislado, e no pomar positivado. Uma pedra rude e quadrada, que por um morango foi moldada. De fantasia com purpurina e alegria! Um carnaval eterno no meu coração foi formado. Uma branca quase preta, fez mandinga que endoida a emoção. Não há desânimo viver você. Gostar é sempre o que sei fazer, aquele gostinho intenso tem um nome, minha preta, você! Amar-te é bom, amar-te é tudo, é patentear seus diversos sonhos, é fazer da distância, palco da saudade, é viver só para pensar em ter, é querer envelhecer com você. VÍTOR WAINER.

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UM DIA Um dia na maresia, encontrei você, uma pessoa especial, apaixonei-me. Pela primeira vez, passamos tempos juntos, dias inesquecíveis. Chegou ao fim o nosso conto de fadas, eu não posso fazer nada, só deixar o tempo passar, e a vida se levar. Certas coisas na vida, têm que ser feitas e ditas, mas o meu amor por você, é coisa infinita. ANNA BEATRIZ.

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O AUTOR

WAINER TEIXEIRA SOUZA, nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro, em 7 de maio de 1954, bairro onde além de ter nascido, sempre fez com muito orgulho sua moradia. Iniciou seus estudos no antigo curso primário na então Escola Fábio Luz; o então curso ginasial foi realizado no Colégio Estadual Professor Henrique de Magalhães, na época, anexo do Colégio Estadual Professor Daltro Santos, escola na qual concluiu o então curso secundário. Com o prazer e orgulho de ressaltar que todos os educandários foram de ensino de excelência, com a assinatura Pública. Fez 5 anos do curso de Inglês CCAA, em Bangu; no ano de 1978, formou- se na antiga ESFO, Escola de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, hoje APM, Academia de Polícia Militar D. João Vi. Concluiu também os cursos de Português- Inglês em 1980, o de Ciências Sociais em 2011 e o de Pós Graduação “Lato Sensu” em 2013,todos realizados na FEUC, Fundação Educacional Campo-Grandense. Tendo ainda no ano de 1990 concluído também na Faculdade Moacyr Sreader Bastos o curso de Direito. Aposentou-se com muita honra como um feliz e orgulhoso combatente da briosa Polícia Militar. E-mail wainerbg@hotmail.com

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