Campina Século e Meio - Volume 1

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Volume Campina Grande - PB, Maio de 2014

1864 NOSSO “ANO ZERO” NO BRASIL E NO MUNDO

EXCLUSIVO:

DISCOGRAFIA DA RAINHA DA BORBOREMA

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OS ÍNDIOS CARIRIS NAS RAÍZES DA CIDADE

SAIBA COMO VIVE CORBINIANO, O ESCULTOR DOS PIONEIROS

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EDITORIAL

A MAIOR COMEMORAÇÃO DO MUNDO

E

ssa cidade tinha tudo para sumir do mapa: ausência de mananciais locais para abastecimento de água; terreno íngreme, muito irregular; área geográfica do município limitada (só para citar uns exemplos, Monteiro, Barra de Santa Rosa, Sumé, São José de Espinharas e São João do Cariri são muito maiores que Campina), políticas públicas discriminatórias que ao longo dos anos da ditadura sufocaram economicamente as cidades para privilegiar as capitais... Enfim, aqui tinha tudo para dar errado. Mas Deus, em sua infinita bondade, compensou essas adversidades colocando aqui

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um povo aguerrido, batalhador, empreendedor, de uma fé admirável. O resultado é essa cidade-surpresa que quando menos se espera, renasce das cinzas qual Fênix da Borborema. A riqueza de uma cidade não se mede apenas pelo número de edifícios construídos nela como equivocadamente acreditam alguns. A riqueza real de uma cidade se mede pelo número de corações que batem apaixonadamente por ela, em Campina são mais de 400 mil! A cidade querida tem sim sabido viver ao longo desses 150 anos, e cresce bem acima da média das congêneres justamente porque é cultuada, venerada e adorada por

seus filhos naturais ou adotivos. Não é demais constatar que se outras cidades da Paraíba tivessem o mesmo apoio massivo do seu povo como Campina Grande tem, a realidade do nosso pequenino estado seria bem diferente. Campina é exemplo, é modelo e parafraseando o poeta, não quer abafar ninguém, só quer mostrar seu valor também. Vida longa para a nossa Cartago, como já comparava o jornalista João Mendes em 1925, para nossa Nova York na analogia poética de Gilberto Gil, para a Rainha da Borborema no dizer do nosso povo. Em termos de eventos de grande porte, nesse ano de 2014 vamos ter a mais que anunciada Copa do Mundo (em pleno São João) e as ainda obrigatórias eleições majoritárias, mas, sem desmerecer nada nem ninguém, para nós o que importa mesmo é o Século e Meio da cidade, e os foguetões começam a ser espocados. A revista “Campina Século e Meio” propõe uma comemoração ampla dos 150 anos e o faz revisitando nosso passado, nossos personagens, nossos cenários, nosso jeito de ser. Aqui você encontra fatos, textos e imagens para uma história da cidade amada, é um material para ler, guardar e consultar. Aos parceiros que tornaram possível essa publicação nosso maior agradecimento, são pessoas como vocês que fazem essa cidade grande. Botamos o nosso bloco na rua porque acreditamos que uma efeméride desse porte não pode ficar limitada ao mês de outubro, na terra do Maior São João do Mundo por que não a Maior Comemoração do Mundo? Campina pode. E merece.

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O MARCO ZERO

MDCCCLXIV

(1864)

F

oi nesse ano que morreu, vítima do naufrágio do navio francês Ville de Boulogne na costa maranhense, o poeta Gonçalves Dias. A Guerra do Paraguai, maior conflito bélico internacional ocorrido na América do Sul, começou em dezembro de 1864. A vigésima eleição para a presidência dos Estados Unidos foi realizada e o presidente Abraham Lincoln foi reeleito em meio à Guerra Civil que dividia americanos do norte e do sul em seu próprio território. Em Paris, Alan Kardec publicou o seu “O evangelho segundo o espiritismo” e Jules Verne lançou “Viagem ao centro da terra”. Ainda na França, neste mesmo ano, nasceram o famoso pintor pós-impressionista que registrou as noites boêmias da capital francesa no final do século 19, em particular as noitadas do Moulin Rouge, Toulose-Letrec, e Louis Lumière, irmão mais novo de Auguste, os dois criaram o Cinematographo, considerado como o invento “pai” do cinema. No dia 11 de junho de 1864, exatos quatro meses antes da emancipação de Campina Grande, nascia em Munique, Alemanha, o compositor Richard Georg Strauss, cuja música mais tocada e conhecida é sem dúvida “Also sprach

CAPA “Viagem ao....”

Zarathustra”, que teve sua difusão bastante ampliada depois que o diretor Stanley Kubrick a incluiu na trilhasonora do filme “2001, uma odisseia no espaço”, de 1969. Nesse ano de 1864, a família real brasileira comemorou o casamento da princesa Isabel com Luiz Felipe Maria Fernando Gastão de Orleans, mais conhecido como Conde d!Eu... E aqui na então Parahyba do Norte, no dia XI de outubro deste mesmo ano, era

DESSA HISTÓRIA

O ano em que Campina Grande deixou de ser oficialmente Vila e passou ao status político de Cidade foi marcado por fatos importantes no Brasil e no mundo. sancionada a lei provincial nº 127 que extinguia a Vila de Campina Grande (antiga Vila Nova da Rainha) e criava a cidade de Campina Grande, mantendo esse mesmo nome. A referida lei provincial foi registrada no livro competente, junto à Secretaria do governo da Parahyba, pelo Sr. Joaquim Gonsalves Chaves Filho, 2º Oficial do Governo Provincial, três dias depois de sancionada (em XIV de outubro).

DIZ O TEXTO ORIGINAL:

“1864” NA TELEVISÃO

“Carta de lei pela qual V. Exc. manda publicar a resolução d’assembléa legislativa provincial, que sanccionou, elevando á cathegoria de cidade a villa de Campina Grande, conservando a mesma denominação. Para V. Exc. ver Joaquim Gonsalves Chaves Filho, a fez.

Deverá estrear em dezembro em emissoras de TV da França, Alemanha, Noruega e Suécia, uma minissérie com oito capítulos intitulada “1864”. Já considerada como a produção mais cara da TV dinamarquesa, a minissérie aborda fatos (em forma dramatizada) ocorridos no período da 2ª Guerra de Schleswig contra o Reino da Prússia (atual Alemanha), também conhecida como a Guerra dos Ducados, episódio histórico que ocorreu no ano em que Campina, em plena paz, passou a ser cidade de direito, porque já era de fato. A minissérie ainda não tem data de exibição no Brasil.

Foi sellada e publicada a presente resolução nesta secretaria do governo da Parahyba, em 11 de outubro de 1864. Joaquim Maria Serra Sobrinho” Referência bibliográfica: - O PUBLICADOR, Jornal. Ano III, Nº. 641. ed. José Rodrigues da Costa. Edição de sexta-feira, 21 de outubro. Parahyba do Norte: 1864

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CAMPINA

SÉCULO E MEIO

ÍNDICE 5 1864 Que mais aconteceu neste ano tão importante para nós?

10 DISCOGRAFIA Material exclusivo e inédito reúne todas as músicas feitas sobre/para Campina

14 FAMÍLIA STEINMÜLLER

26 CAMPINA E OS ÍNDIOS Nossa homenagem ao pesquisador José Elias Borges (in memoriam) que produziu este importante documento que reproduzimos neste volume 1 da revista.

Retrato de uma família que veio de longe para contribuir com o nosso progresso.

18 JARBAS BARBOSA O campinense que, como produtor de vários filmes, ajudou a formar uma identidade no cinema nacional.

22 INSTITUTO HISTÓRICO “Casa Elpídio de Almeida” é um marco na preservação da memória da cidade e desenvolve trabalho de alto nível no resgate da história.

34 CAPITÃO TONY Uma mostra do que era o centro da cidade nos anos 40,50 e 60. Um passeio pelo passado do entretenimento popular em Campina.

36 NOSSO HINO

33 CORBINIANO Escultor do Monumento aos Pioneiros ainda trabalha em seu ateliê aos 90 anos de idade, em Recife.

Letra completa do hino oficial, escrita pelo radialista, escritor e poeta Fernando Silveira em 1975. É para aprender e cantar no dia 11 de outubro.

38 CHICO MARIA Nosso cronista maior esparrama lirismo sobre a nascente campina e seus heróicos tropeiros.

CAMPINA, SÉCULO E MEIO Volume 1 · Maio 2014 · EDITOR · REDATOR · JORNALISTA: Romero Azevêdo (DRT-PB -617) · PESQUISA E APOIO: Fernando Azevêdo (Badu) · ASSISTENTE DE EDIÇÃO: Isis Azevêdo · COLABORADORES: Chico Maria, José Elias Borges (in memoriam) · PROJETO GRÁFICO · DESIGNER: Mário Miranda · AGRADECIMENTO ESPECIAL: Maria Ida Steinmüller, Nilson Feitoza IMPRESSÃO: Epgraf · Distribuição Gratuita Dirigida · CONTATO: revistaseculoemeio@gmail.com · “Só Deus é bom” (Mar., 10-18)

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O SHOPPING DE CAMPINA SE RENOVA PARA TORNAR-SE AINDA MAIS COMPLETO

E

m comemoração aos seus 15 anos, festejados em abril, o Boulevard Shopping Campina Grande prepara muitas novidades. Além da expansão, que segue a pleno vapor, o shopping será o primeiro dos oito empreendimentos do grupo Partage a passar por uma mudança na identidade visual. Já a partir desse mês, a marca Partage Shopping Campina Grande rebatizará o mall, acompanhando o processo de revitalização da empresa.

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A origem do nome Partage vem do idioma francês, que significa partilhar. Alinhado com o slogan da empresa “Transformando cidades e pessoas”, a inclusão da marca empreendedora no nome do shopping materializa o compromisso da Partage com Campina Grande e acompanha o processo de maturação do shopping. A Partage vem ampliando seu portfólio no segmento de shopping centers, priorizando investimentos

em cidades carentes de centros comerciais. Mais que uma estratégia de negócios baseada no potencial de consumo das regiões onde as unidades da empresa estão instaladas, a chegada da Partage a uma cidade representa uma nova oferta de cultura, lazer e serviços para a população local. No Partage Shopping Campina Grande estão sendo investidos 120 milhões na expansão do mall, gerando cerca de três mil empregos diretos e indiretos. A expectativa é de incrementar em 35% o fluxo de pessoas no mall - que atualmente é de 20 mil pessoas por dia - a partir do início da operação da nova área. As obras já começaram com a construção do Deck Park, que ampliará a oferta em mais 1.500 vagas de estacionamento, em seis andares, acompanhando o incremento da demanda. O espaço físico vai dobrar de 22.313 m² de área bruta locável (ABL) para 43.317 m², somando mais de 130 mil m² de área total após todas as etapas da expansão. Cerca de 70 operações serão incorporadas, totalizando pelo menos 180 lojas no Partage Shopping Campina Grande. O projeto prevê, entre as novas operações, três âncoras, três megalojas, três operações de serviços e nove lojas de fast food. A captação de marcas está em andamento, já com a confirmação da Le Biscuit e de duas novas âncoras, C&A e Renner, que se juntarão à Riachuello e Marisa.

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47 ANOS APOIANDO E VIABILIZANDO O CRESCIMENTO DE CAMPINA GRANDE, DA PARAÍBA, DO BRASIL

A

ATECEL® é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, fundada por professores da antiga Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba em 05 de agosto de 1967 e cujo nome é uma homenagem ao Professor Ernesto Luiz de

Oliveira Júnior. A finalidade básica da ATECEL® é apoiar e viabilizar os programas de Pesquisa e Extensão de Universidades e Institutos de Pesquisa, principalmente na Paraíba. Todavia, também presta serviços de consultoria, elaboração de projetos e treinamento de pessoal nas diversas áreas do conhecimento. Toda e qualquer interação pode ser viabilizada

através de convênios e contratos de serviços. Os processos de articulação proporcionam a oportunidade, para que os vários setores da Universidade desenvolvam programas de pesquisas e de prestação de serviços, desta forma melhor capacitando-os e viabilizando a Universidade para cumprir o seu papel com a sociedade. Pelos inúmeros serviços prestados, a ATECEL® foi declarada de Utilidade Pública pela Lei Estadual No 3.738 de 20.12.1974 e pela Lei Municipal No 03-D/74-GP de 15.03.74. A ATECEL® é marca registrada e membro da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica Industrial (ABIPTI). Rua Aprígio Veloso, 882 Caixa Postal, 10082 CEP 58429-140 Campina Grande - PB 83 3333.1064 83 3333.1080 www.atecel.org.br atecel@atecel.org.br

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MUSA MUSICAL

DISCO GRAFIA DE UMA CIDADE C ampina Grande é uma cidade privilegiada no campo da música. Se não bastasse seu belo hino oficial, ganhou da dupla Rosil Cavalcanti e Raymundo Asfora um verdadeiro hino paralelo, a toada “Tropeiros da Borborema” interpretada nada mais, nada menos que por Luiz Gonzaga. O outro pilar de sustentação da música popular nordestina, Jackson do Pandeiro, exaltou a cidade que amava na antológica “Forró em Campina” e, além disso, incluiu no seu repertório exclusivo aquela

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GENIVAL LACERDA Selo do LP “O senador do rojão”, onde está gravada a música “A menina de Campina Grande”, o ano é 1968.

que é considerada como o “hino moderno” dessa terra: “Alô Campina Grande”. Jackson ainda canta Campina em “Forró de Zé Lagoa”, “Bodocongó” e “Lei da compensação”, um luxo só. Mas, outros artistas não menos importantes igualmente homenagearam Campina Grande, entre eles Marinês, João Gonçalves, Dominguinhos, Elba Ramalho, Zé Calixto, Genival Lacerda, Geraldo Correia e Biliu de Campina. Isso sem falar nos milhares de versos improvisados por nossos repentistas e que infelizmente não foram registrados.

Dezenas de discos gravados por diferentes artistas e em diferentes anos trazem em suas faixas essas músicas cujo tema central (ou indireto) é Campina Grande. Uma curiosidade nesta discografia é a música “Campina Grande” feita e interpretada ao piano (não tem letra) pelo compositor carioca Marcos Valle. Segundo relato do próprio Marcos, o irmão dele era piloto de avião e sempre pousava e decolava no “João Suassuna”, um dos aeroportos nordestinos mais movimentados nos anos 60. De tanto o irmão falar sobre Campina Grande, o compositor de estilo bossanovista fez esse “baião” em homenagem à cidade. Num levantamento minucioso e inédito em publicações, a revista “Campina Século e Meio” compartilha com seus leitores a relação integral das músicas que tem como tema a cidade, nomina seus compositores, intérpretes, o disco em que está gravada e o ano de lançamento. Não é uma discografia definitiva, mas é um documento atual para ler, guardar e consultar. As músicas grafadas em vermelho são regravações.

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“PEBA NA PIMENTA”

“LUAR DE CAMPINA”

José Batista/João do Vale/

– (José Ferreira) – Jacinto

Adelino Ribera) – Marinês –

Silva – É caco pra todo lado

Vamos xaxar - 1957

- 1969

“SAUDADES DE CAMPINA

“FORRÓ EM CAMPINA”

GRANDE” – Rosil Cavalcanti –

(Jackson do Pandeiro) –

“FORRÓ EM CAMPINA

Bahia/ Paulinho Camafeu)

“CAMPINA GRANDE” (José

Marinês – 78 rotações -1958

Jackson do Pandeiro – O

GRANDE” –(Pedro/Bacural)

Chiclete com Banana – É

Orlando) –Marinês – Canta a

“MINHA CAMPINA

dono do forró - 1971

– Os filhos do Nordeste – No

festa – 1997

Paraíba – 2006

GRANDE” – (Zito Borborema/

“FORRÓ EM CAMPINA

balanço do forró – 1983

“O SÃO JOÃO DE

“SAUDADE DE CAMPINA

Zé Pereira) – Zito Borborema -

GRANDE” (Zé Calixto) Zé

“CAPITAL MUNDIAL DO

CAMPINA GRANDE” (Zé

GRANDE” (Rosil Cavalcanti/

Forró Paraibano -1960

Calixto – Hoje tem forró

FORRÓ”- (Capilé/Nino)-Capilé

da Ema/Marrom/Miguel)

Maria das Neves Coura

“FORRÓ EM CAMPINA

- 1971

–Campina Grande capital

– Os filhos do forró – O

Cavalcanti)-Marinês –Canta a

GRANDE” – (Zé Calixto) – Zé

“CAMPINA GRANDE”

mundial do forró -1985

xodó de vocês – 1998

Paraíba -2006

Calixto – Zé Calixto e sua

(José Orlando) – Marinês –

“A JACKSON, REI DO

“OS HOMI DA PARAÍBA”

“FORRÓ EM CAMPINA”

sanfona de oito baixos -1960

Canção da fé - 1972

RITMO” (Capilé) –Capilé

(Arlindo/João Tavares)

(Jackson do Pandeiro) Biliu de

“LEI DA COMPENSAÇÃO”

“HOMENAGEM A

– Campina Grande capital

– Trio Forrozão –Trio

Campina – Se toque... no forró

(Rosil Cavalcanti) – Jackson

CAMPINA GRANDE”

mundial do forró - 1985

Forrozão -1998

- 2009

do Pandeiro – Alegria da casa

(Pedro Sanfoneiro) – Pedro

“SAUDADES DE CAMPINA

“FORRÓ EM CAMPINA”

“LEI DA COMPENSAÇÃO” (Rosil

-1962

Sanfoneiro – O quente dos

GRANDE” (Rosil Cavalcanti)

(Jackson do Pandeiro)

Cavalcanti) Biliu de Campina – Se

“FORRÓ DE ZÉ LAGOA” –

8 baixos - 1973

– Marinalva- Marinalva e sua

Cascabulho (ao vivo) – O

toque... no forró - 2009

(Rosil Cavalcanti) – Jackson do

“CAMPINA DE OUTRORA”

gente - 1987

melhor do forró no maior

“FORRÓ EM CAMPINA”

Pandeiro – Forró do Zé Lagoa

(João Gonçalves) João

“MINHA CAMPINA

São João do Mundo -

(Jackson do Pandeiro) –Arlindo

-1963

Gonçalves – Trambique da

GRANDE” (Zito Borborema/

2000

Moita – Jackson, pra você eu tiro

“TROPEIROS DA

boutique – 1975

José Pereira) – Fúba –Na

“BOM DIA CAMPINA

o meu chapéu -2010

BORBOREMA” (Rosil

“MUSEU DO ALGODÃO”

pisada do forró -1987

GRANDE” (Zé Calixto/D’

“FORRÓ DE CAMPINA

Cavalcanti/Raymundo Asfora)

(Glorinha-Rita Gonçalves)

“FORRÓ DE JUAZEIRO A

Castro) Zé Calixto – 40

GRANDE” (Antonio Costa) –

Luiz Gonzaga – Campina

João Gonçalves – Pescaria

CAMPINA GRANDE” (Renato

anos de forró - 2000

Antonio Costa- Saudade do rei

Centenária - 1964

em Boqueirão 1976

Leite) – Renato Leite – O

“BODOCONGÓ”

-2010

“CAMPINA GRANDE

“ALÔ CAMPINA GRANDE”

sanfoneiro do povo - 1988

(Humberto Teixeira/Cícero

“FORRÓ BOM DIA CAMPINA

CENTENÁRIA” (Onildo

– (Severino Ramos) –

“LEI DA COMPENSAÇÃO”

Nunes) Elba Ramalho (ao

GRANDE” (Zé Calixto – Castro

Almeida) – Marinês – Campina

Jackson do Pandeiro - Um

(Rosil Cavalcanti) Biliu de

vivo) – O melhor do forró

Addaf – João dos 8 Baixos)-

Centenária -1964

nordestino alegre -1977

Campina – Tributo a Jackson e

no maior São João do

Raimundo dos 8 Baixos & João

“CAMPINA CENTENÁRIA-

“HOMENAGEM A

Rosil - 1989

Mundo -2000

dos 8 Baixos – Vol. 3 Forró

DOBRADO” (Nilo Lima)

CAMPINA GRANDE”

“CARUPINA – CARUARU

“BALANÇA E

Dançante - 2011

Filarmônica Epitácio Pessoa

(Severino Medeiros/Brito

– CAMPINA GRANDE”

ARREBENTA” (Gavião/

“SAUDADE DE CAMPINA

(“Sá Zefinha”) -78 rotações

sabino) – Manoel Serafim

(Alcymar Monteiro/João Paulo

Jurandir di Castro) –

GRANDE” (Severino Cândido/

- 1964

-1977

junior) Alcymar Monteiro –

Gaviões da Serra –O

Severino Ramos) – Toinho do

“DE CAMPINA A

“BODOCONGÓ” (Humberto

Forró brasileiro - 1990

rebolado dela -2002

rojão –Não quero quiabo crú –

CABEDELO” – (Rosil

Teixeira/Cicero Nunes)

“ORGULHO DA PARAIBA”

“CAMPINA GRANDE”

S/D (sem data)

Cavalcanti/Oscar Barbosa) –

– Elba Ramalho – Ave de

(João Gonçalves-Cerny

(Benedito Rojão) Benedito

“TE AMO CAMPINA” (João

Adolfinho – Forrobodó -1964

Prata - 1979

Furtado) João Gonçalves –

do Rojão – Benedito do

Gonçalves- José Moysés) João

“FORRÓ CAMPINENSE” –

“DE ALTAMIRA A

Mulher faixa preta - 1991

Rojão - 2003

Gonçalves – Pare de fumar – S/D

(Geraldo Correia) – Geraldo

CAMPINA GRANDE”

“FORRÓ EM CAMPINA

“SÃO JOÃO EM

“UM MUNDO DE SÃO JOÃO”

Correia - Um baixinho e seus

(Dominguinhos) –

GRANDE” (Chico Pessoa/

CAMPINA GRANDE”

(Biliu de Campina) Biliu de

oito baixos - 1964

Dominguinhos – Apôs tá

Aroldo Araújo) – Chico Pessoa

(Aluízio Cruz/Expedito

Campina – Forrobodologia

“ADEUS CAMPINA

certo - 1979

– Nordestinamente - 1993

Duarte) –Trio Araripe –

– S/D

GRANDE” (Geraldo Correia) –

“CAMPINA GRANDE” –

“OS HOMENS DA PARAIBA”

Forró balanceado -2004

“CAMPINA E SALVADOR” –

Geraldo Correia - Um baixinho

(Marcos Valle) – Marcos

(Arlindo/João Tavares) – Os

“TROPEIROS DA

(Amazan) – Amazan – S/D

e seus oito baixos -1964

Valle - Vontade de rever

3 do nordeste – Bandeira do

BORBOREMA” (Rosil

“VELHOS TEMPOS DE

“BODOCONGÓ” (Humberto

você – 1980

Forró -1994

Cavalcanti/Raymundo

CAMPINA” (José Moysés/João

Teixeira/Cícero Nunes) –

“SÓ GOSTO DE TUDO

“SÃO JOÃO EM CAMPINA

Asfora) Biliu de Campina

Gonçalves) João Gonçalves –

Jackson do Pandeiro – O cabra

GRANDE” (Adolpho de

GRANDE” (Aluisio Cruz/

– Ao vivo de miguelito –

Burro zabumbeiro - S/D

da peste - 1966

Carvalho/Adélio da Silva)

Expedito Duarte) – Trio Sabiá

2006. Detalhe importante:

“LEMBRANDO CAMPINA

“REVENDO CAMPINA

Marinês – Bate Coração

- 1995

Nesta regravação, Biliu

GRANDE” (Agostinho Ribeiro)

GRANDE” (Adauto Mattos) –

- 1980

“CHEGUEI EM CAMPINA

canta a letra original de

Agostinho Ribeiro e seu conjunto

Noca do Acordeon - Coração

“CAMPINA, CIDADE

GRANDE” (Zé Calixto/Altino

Asfora que foi alterada

–Na paraíba forró é assim - S/D

de artista - 1966

RAINHA” (Capiba)

de Oliveira) – Quinka dos 8

nas gravações de Luiz

“FORRÓ EM CAMPINA”

“NORDESTE PRA FRENTE”

Expedito Baracho

baixos – Um 8 baixo moderno

Gonzaga. O verso da

(Josélio) –Josélio- 20 anos de

(Luiz Queiroga/Luiz Gonzaga))

Capiba, ontem, hoje,

- 1995

primeira estrofe, “Estala

forró 100% pé de serra – S/D

– Luiz Gonzaga – Canaã –

sempre - 1982

“CAMPINA DE HOJE” (João

relho malvado/embora

“FESTEJO NORDESTINO”

1968

“SAUDADE DE CAMPINA

Gonçalves-Zé Duarte) João

a burrama gema” foi

(Josélio) –Josélio – 20 anos de

“A MENINA DE CAMPINA

GRANDE” (Severino

Gonçalves – Sou doador -

alterado por Gonzaga

forró 100% pé de serra – S/D

GRANDE” (Genival Lacerda/

Manoel da Silva) – Bibiu de

1997

que gravou assim: “Estala

“FORRÓ NA SERRA” (Josélio) –

Elino Julião) - Genival Lacerda

Caruaru – Se Maria quizesse

“MENINA DO CATERETÊ” –

relho malvado/ Recordar

Josélio – 20 anos de forró 100%

– O senador do rojão - 1968

eu quería -1983

(Bell Marques/ Chocolate da

hoje é meu tema”.

pé de serra – S/D.

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CANAÃ DE LEAIS FORASTEIROS

O “ALEMÃO”

QUE VEIO DA ÁUSTRIA

U

ma característica de Campina Grande é a abertura para receber pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. No inicio do século XX um gringo dinamarquês, Cristiano Lauritzen, governou os destinos da cidade por dezenove anos seguidos (de 14 de novembro d e 1904 até 18 de novembro de 1923). Depois vieram chineses, gregos, árabes, húngaros, espanhóis, italianos, libaneses, portugueses, argentinos, holandeses, indianos, coreanos e mais recentemente os moçambicanos, guineenses, angolanos, caboverdianos... Foi numa dessas levas de “leais forasteiros”, como bem definiu o poeta Fernando Silveira, que chegou em Campina no ano de 1954, oriunda da Áustria, a família Steinmüller. Aqui montaram a primeira (quiçá única) fábrica de embutidos da cidade e uma choperia no estilo europeu (o histórico “Chopp do Alemão”). Sessenta anos depois da chegada do casal de austríacos, Ida Steimuller, filha nascida em Campina Grande, relata de próprio punho suas memórias de família. É um depoimento inédito, rico em detalhes que só uma pessoa de

dentro da família poderia revelar. A partir de agora, a palavra é de Ida: “Wilhelm Gustav Steinmüller (Willy) nasceu em Viena, Áustria, no dia 08 de agosto de 1917; faleceu, aos 49 anos, dia 11 de agosto de 1966, em Campina Grande, deixando viúva Margareth, com 39 anos, e oito filhos: Renate (16), Helga (14), Viktor (13), Ida (11), Otto (10), Roberto (7), Elisabeth (3) e Franz Joseph (10 meses). Willy chegou ao Brasil em agosto de 1953; Margareth, com os três filhos vienenses - Renate, Helga e Viktor desembarcaram em Recife no dia 12 de novembro de 1953. A chegada em Campina Grande como endereço definitivo foi no dia 12 de maio de 1954. Fundação do Chopp do Alemão: 12 de novembro de 1955 (completará 60 anos em 12 de novembro de 2015). Não se tem conhecimento de sua preferência por Futebol e qual time simpatizou aqui em Campina Grande. Não comentava, pelo menos em casa, de assuntos políticos. Lembro que na campanha de Newton Rique para Prefeito fornecia produtos da Salsicharia e por várias vezes o

Willy com os filhos e a esposa na porta da fábrica/ choperia nos anos 60

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acompanhei na entrega para o Palacete da Rua João Tavares; Dona Rosa Rique e Dona Janete eram freguesas assíduas e mamãe as atendia no balcão do Chopp do Alemão. Ficava encantada com a elegância das senhoras, com vestidos e joias belíssimas, além dos automóveis de alto luxo.

Outra freguesa que me encantava pela beleza, os gestos e o sotaque era a Dona Lourdes Pinto, carioca da gema, esposa do Médico Oftalmologista Doutor Francisco Pinto. Estudávamos - as meninas - nas Damas, e os meninos, Instituto Pax e Alfredo Dantas, e nesse quesito Dona Margareth foi perfeita; economizava em tudo, aliás essa sempre foi a palavra de ordem em casa e que nos acompanha nas nossas vidas, para nos oferecer a melhor educação. Livraria Pedrosa era visita obrigatória para comprar as novidades na literatura infanto juvenil, compra do material escolar tudo muito bem equacionado e alguns itens coletivos para uso dos estudantes. Caixeiros Viajantes passavam com frequência no Chopp e mamãe adquiria as Coleções que eram nossos verdadeiros tesouros e oportunidade de descobrimentos do mundo. Geralmente no meio da tarde mamãe me escalava para “tomar conta” do Chopp junto aos empregados do turno mas sempre com uma tarefa extra: limpeza ou arrumação de algo e de olho em um irmão menor com o carrinho de bebê. Avistei um freguês que entrava e escolheu o “Trem da Alegria” para se acomodar; estava acompanhado de uma jovem e bonita mulher. Chamou o garçom e como este não lhe respondeu, tomei coragem e fui até a mesa. E qual a minha surpresa de ver o rosto conhecido das capas de disco long play que mamãe colocava para escutar na vitrola hi fi: era Altemar Dutra, com seu violão, por sinal foi muito simpático e até brincou comigo dizendo que ele “não sabia que tinha poderes celestiais, pois um anjinho estava na frente dele”.... anjinho, sei não, mas cabelo loirinho aí sim, ele tinha razão. Dedilhando seu violão cantou O Trovador; desde então gravada em minha mente e me arrisco a

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cantá-lo mesmo que desafinada. Papai falava o idioma Francês com fluência e adorava cantar musicas românticas especialmente as interpretadas por Edith Piaf. Gostava também de preparar comidas “diferentes” e lembro de uma espécie de Gelatina à base de carne; foi difícil a degustação, mas sob pressão dos olhares severos dos pais quem ousaria não provar. Lembro também das pequenas tinas de madeira onde eram colocados folhas de repolho picado para a fabricação de Chucrute, aí sim, era divertido, pois os filhos podiam colocar a “mão na massa”....o sabor agridoce não me esqueço. Sua paixão foi Automóveis e Corridas de carros esportivos. Lembro dos carros que possuiu - camionetinha Ford 29, com a propaganda da Salsicharia Vienense na carroceria, outro Ford, um sedan, não lembro o modelo (!) e as famosas Kombi, pau para toda obra, e nesta eram realizados os nossos passeios para o litoral e as visitas periódicas ao Convento Ipuarana para o encontro com os Frades Franciscanos e as Madres Filipina e Madre Urbana que cuidavam da Porciúncula. A safra das laranjas cravo eram desejadas todo o tempo por nós filhos que tínhamos a “permissão” de colher as frutas diretamente dos pés, com direito a roupa suja, por vezes rasgadas, para o desespero da Dona Margareth. Papai ficava muito feliz com podia sair com os filhos. Viktor foi o mais apegado ao pai e, desde cedo, o acompanhava nas lidas da Salsicharia e logo aprendeu o oficio. Eu, traquina, fazia minhas incursões na fábrica para “ajudar”...e uma “marca” na mão esquerda de faca pequena, afiadíssima, que servia para desossar a carne não me deixa esquecer o pequeno acidente. De outra feita foi o intoxicamento com salitre que quase pôs fim a minha vida, mas fui salva pelas mãos de Deus e a assistência do Doutor João Marinheiro, cujo Laboratório ficava em um primeiro andar da Rua Maciel Pinheiro. Os dias de fabricação eram bem movimentados com papai trazendo

do Matadouro os quartos de boi, ele mesmo carregando nas costas e descendo as escadas para o porão onde tinha a fábrica já estava tudo limpo e higienizado para o início da produção com ajudantes, dentre eles, Ernesto que lhe foi fiel após a sua morte e continuou ajudando a mamãe e Otto já participava das tarefas. O maquinário era muito bem cuidado e tudo funcionava em perfeita harmonia; quando havia muita produção papai até nos convidava para ajudá-lo na fase final do enchimento das salsichas dando o ponto de linha para separação dessas. Dava gosto de vê-las repousando no varal para em seguida irem para a estufa. Papai foi um empreendedor e visionário; acho que dele herdei algumas dessas qualidades, claro, não para a produção de salsichas e outros embutidos, mas pors onhar e desejar realizar, sempre para o bem de todos. Aliás, pouco usufruía do seu trabalho, embora tenha conseguido amealhar alguns bens materiais e nos oferecer o modesto conforto nas nossas moradias. Papai voltou uma única vez para a Europa no ano de 1963, exatamente 10 anos após sua saída de lá. E fotos da tourada que assistiu em Madrid e cartões postais são as lembranças que guardo em minha História de Vida. E foi no Aeroporto dos Guararapes quando todos o acompanhamos para sua partida que tive um encantamento que poderia ter mudado a minha vida: ver no pátio a aeronave que o conduziria até a Europa e me decidir que seria AEROMOÇA quando crescesse; aí é outra história. A saudade dele é permanente; a beleza de papai era transcendental, ora irradiando uma alegria contagiante, ora o observador, pensativo...todos aprendemos com os pais e tudo começa em casa!” (Maria IDA Steinmüller, primogênita brasileira, paraibana, campinense, nascida na Maternidade Elpídio de Almeida e no Dia da Bandeira.)

Renate, “frau” Margareth e Maria Ida. Em pé: Elisabeth, Helga Teresa, Roberto e Otto. Ausentes: “Herr” Willy e Franz Josef ( falecidos) e Viktor (mora na França).

“Um buquê de edelweisses para a família Steinmüller” por Romero Azevêdo As ligações do Brasil com a Áustria estão engastadas há séculos na nossa história. Foi no ano de 1817 que chegou no Rio de Janeiro a princesa Leopoldina, vinda de Viena, com apenas 20 anos de idade e já casada com dom Pedro I. A união entre esses dois países da Europa e América até hoje está gravada nas cores da nossa bandeira, onde o verde representa a corte portuguesa-brasileira (Orleans - Bragança) e o amarelo simboliza a corte austríaca (Habsburgo-Lorena), naquela época era comum esse tipo de homenagem nos símbolos nacionais para celebrar as uniões matrimoniais entre nobres de casas reais diferentes (com a proclamação da República, as cores foram mantidas na nova bandeira mas a interpretação foi modificada). A independência do Brasil se deve de fato à imperatriz Leopoldina, no dia 2 de setembro de 1822 (cinco dias antes do “grito” de dom Pedro I) ela, que estava exercendo a regência por causa da ausência do príncipe-regente que fora a São Paulo, assinou a carta da independência separando definitivamente o Brasil de Portugal. A Áustria eterna de Mozart, Wagner, Strauss e de Elisabeth, a inesquecível imperatriz Sissi , faz parte de nossas ancestrais raízes. Foi dessa mesma Áustria, especificamente de Viena, que chegou em Campina Grande no ano de 1954, um jovem casal de imigrantes com três filhos menores e as malas abarrotadas de sonhos e esperança. Era a família Steinmüller que até hoje permanece entre nós e é um símbolo do empreendedorismo, da superação e da força do trabalho para concretizar ideais. Conheci essa família no verão de 1965, ficávamos em casas vizinhas em praia Formosa (quando essa praia ainda merecia o substantivo que a identifica) e meu pai tinha uma relação cordial com “herr” Wilhelm. Duas famílias numerosas, do nosso lado 4 meninos e duas meninas; do deles 4 meninas e 4 meninos. Guardo boas recordações daqueles idílicos dias ensolarados, ao som da nascente Jovem Guarda, entremeados de saques e cortadas no vôlei e mergulhos refrescantes no verde mar. Quase um ano depois desse verão uma tragédia se abateu sobre aquela família feliz: a morte de “herr” Wilhelm de forma voluntária e intempestiva. Mas, o que poderia ser uma justificativa para o total desmoronamento da família, não foi. “Frau” Margareth, viúva com apenas 39 anos, oito filhos e uma empresa para levar adiante sozinha, aguentou firme o rude baque do destino e transformou o que poderia ser uma causa eterna de lamentações, choros e queixas numa motivação extra para conduzir sua família de forma firme, honrada, sem perder o rumo em momento algum. O luto metamorfoseado em luta. Passado esse terrível episódio, que acompanhamos de perto, eu segui noutro destino e já não estava tão próximo deles, já não ia à casa de Bodocongó e trilhava por outros caminhos, mas nunca os esqueci e mesmo longe admirava a fibra, a coragem, a temperança de “frau” Margareth na educação e encaminhamento de seus filhos. Hoje todos eles estão bem situados e refletem em suas vidas dignas a educação que tiveram dos pais, especialmente da mãe. “Herr” Willy (era assim que era chamado carinhosamente) e “frau” Margareth um dia atravessaram o oceano e atracaram o barco de suas vidas aqui, eles trouxeram esse toque vienense para Campina ajudando a cidade a ser menos provinciana e mais internacional em suas relações humanas, para eles o nosso agradecimento e a nossa singela homenagem na forma desse “ buquê” de edelweisses para a família Steimuller. Bravo !

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GENTE DE CAMPINA

FIQUE SABENDO: O produtor que revolucionou o cinema brasileiro nos anos 60 nasceu em Campina Grande e está enterrado aqui, no cemitério do Monte Santo.

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arbas Barbosa nasceu em 1927, era o irmão mais novo de Abelardo “Chacrinha” Barbosa (este nascido em Surubim, Pernambuco) e de Gessi Barbosa, ex- gerente do banco Bradesco aqui na cidade. Os irmãos Barbosa passaram grande parte da infância em Campina; Abelardo e Jarbas foram para o Rio de Janeiro e lá se profissionalizaram na vida artística, cada um ao seu modo. Jarbas começou no cinema em 1956, no Rio de Janeiro, como cinegrafista da equipe do produtor Herbert Richers. Em 1960 se associou ao ator e produtor Ronaldo Lupo e fez a comédia “Só naquela base”. A partir daí se dedicou exclusivamente a produzir filmes e soube diversificar bem os gêneros das películas produzidas por ele. Por um lado dava total apoio aos jovens cineastas do chamado cinema novo, por outro fazia filmes policiais baseados em fatos reais (o que era garantia de bom público) e comédias musicais que sempre renderam uma boa bilheteria. Foi nesse

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ritmo que Jarbas promoveu a estreia de Cacá Diegues com “Ganga Zumba, rei dos Palmares” em 1963. Ainda nesse mesmo ano, Barbosa fez um “thriller” que obteve uma boa acolhida do público “Crime no Sacopã”, baseado num rumoroso episódio policial ocorrido no Rio de Janeiro em 1952, o filme foi dirigido por Roberto Pires. Um pouco antes desse filme, Jarbas comprou ao ator Jece Valadão a cota de produção do filme “Boca de Ouro”, baseado na peça de Nelson Rodrigues e dirigido por Nelson Pereira dos Santos (cineasta tido como o “pai” do cinema novo), passando a ser produtor do drama que tinha ainda no elenco, Odete Lara. No ano seguinte ele produziu dois filmes para o grupo do cinema novo, “Os fuzis” do moçambicano Ruy Guerra e aquele que seria considerado como o maior clássico do cinema brasileiro em todos os tempos: “Deus e o diabo na terra do sol”, dirigido por um jovem cineasta de apenas 23 anos, Glauber Rocha. Há 50 anos (1964), Jarbas Barbosa esteve pessoalmente

em Campina para promover no Cine Capitólio uma sofisticada pré-estreia de “Deus e o diabo...”, essa sessão teve a chancela do Lions Club e contou com a presença da então “alta sociedade” local. Parte da renda obtida com a venda dos convites especiais foi destinada para obras de filantropia do clube de serviço. Em 1965 foi a vez de “Entre o amor e o cangaço”, aventura ambientada no nordeste com Milton Ribeiro (o cangaceiro “padrão” do cinema nacional) baseada no romance “Sangue da Terra” escrito pelo paraibano Péricles Leal (filho do jurista Simeão Leal que dá nome a uma das ruas de Campina). No ano de 1966, em pleno domínio musical da Jovem Guarda, Jarbas produziu dois filmes aproveitando a onda da música jovem que dominava o País: “007 e meio no carnaval”, tendo como protagonista o irmão Chacrinha é uma paródia musical aos filmes do agente inglês James Bond que faziam sucesso na época e “Na onda do iê,iê,iê”, filme que lançou no cinema a dupla Renato Aragão e Dedé Santana que mais tarde seriam “Os trapalhões” na TV. Fechando esse ano de 1966, a comédia/chanchada “Nudista à força” com Costinha. Em 1967, mais dois filmes tendo como base a música: “Adorável trapalhão” com Renato Aragão (uma curiosidade: é a primeira vez que a palavra “trapalhão”

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JARBAS BARBOSA aparece associada a Renato) e “Carnaval barra limpa” contando de novo com a participação do irmão Chacrinha. Em 1967 Jarbas produz mais um filme do cinema novo “Proezas de Satanás na vila do Leva-e-Traz”, com música de Caetano Veloso e direção de Paulo Gil Soares foi o primeiro longa premiado no prestigiado Festival de Cinema de Brasília. Em 1968, novo retorno à música jovem com “Juventude e Ternura”, estrelado pela cantora Wanderléa com locações no Rio, Salvador e Recife; e fez ainda um drama baseado num romance de Carlos Heitor Cony (que inclusive é coautor do roteiro do filme): “Antes o verão”, com Jardel Filho e Norma Bengell. Em 1969 ele promove mais um lançamento no cinema, como protagonista, o do cantor Wanderley Cardoso no filme “Pobre príncipe encantado” que marca também a estreia do diretor Daniel Filho. Começando a década de 70, o produtor campinense faz “Os Herdeiros” sob a direção de Cacá Diegues. Em 1971, com a censura da ditadura militar apertando o cerco contra o cinema político e liberando as fitas de apelo sexual, o produtor roda “Soninha toda pura” com Adriana Prieto e Carlo Mossy. O ano de 1972 reúne pela primeira vez o quarteto dos trapalhões com Jarbas Barbosa

no filme “Ali Babá e os 40 ladrões”. Em 1973, quando as chamadas pornochanchadas dominavam as telas nacionais, Jarbas produz uma comédia neste gênero “Amante muito louca”, e dá continuidade à parceria com os trapalhões com “Aladim e a lâmpada maravilhosa”. Essa parceria de sucesso é encerrada em 1974 com “Robin Hood, o Trapalhão da floresta”. Ainda em 74, o produtor paraibano realiza “O filho do chefão”, filme que retorna ao gênero paródia tão recorrente na cinematografia nacional. Dessa vez o parodiado é “O poderoso chefão” de Francis Ford Coppola, no papel do “filho” do chefão está Flavio Migliaccio, a direção é de um expert neste tipo de comédia, o veterano Victor Lima. O último grande sucesso desse produtor que tinha um raro talento para essa difícil profissão, notadamente no cinema nacional, foi “Xica da Silva”, dirigido em 1976 por Cacá Diegues e com um elenco que reunia, entre outros, Zezé Mota, José Wilker, Stepan Nercessian, Walmor Chagas, Rodolfo Arena e Elke Maravilha. Embalada pela música-tema de Jorge Benjor, essa superprodução histórica conquistou o público e bateu recordes de bilheteria na época do seu lançamento. Aqui em Campina foi exibida no Cine Babilônia, com boa receptividade dos cinéfilos locais.

O FILME QUE NÃO CONSEGUIU FAZER Um dos sonhos acalentados por muitos anos pelo produtor não pôde ser realizado: a transcrição para o cinema do romance “Vingança não” escrito pelo padre e professor sertanejo da região de Sousa, Francisco Pereira Nóbrega, contando a história do pai dele (padre), o cangaceiro Chico Pereira. Jarbas convidou o cineasta Ruy Guerra para dirigir o filme, apresentou um projeto solicitando coprodução da Embrafilme, mas, inexplicavelmente, não foi aprovado.

O ÚLTIMO PROJETO Antes de sua morte, em 9 de dezembro de 2005 aos 78 anos de idade, Jarbas Barbosa preparava um documentário sobre o irmão, intitulado “Velho Guerreiro”, o cartunista Ziraldo fez até o cartaz deste filme, mas o projeto acabou assumido pelo diretor Nelson Hoineff e recebeu o título “Alô, Alô, Terezinha!” (já lançado em cinema e DVD). Jarbas morreu em Recife, mas foi enterrado em sua terra natal, no cemitério do Monte Santo.

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RESGATE DA HISTÓRIA

INSTITUTO HISTÓRICO Ação permanente para preservação da memória

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o dia 19 de abril de 2012, Campina Grande acompanhou, com ampla repercussão na imprensa, o surgimento da Casa de Memória Local, a partir das recomendações do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a mais antiga instituição cultural em atividade no País, fundado em 21 de outubro de 1838, sediado no Rio de Janeiro. A novel instituição teve seus Estatutos aprovados em Assembléia de Fundação, adotando como nome INSTITUTO HISTÓRICO DE CAMPINA GRANDE, sub denominado “Casa Elpídio de Almeida”, em homenagem a personalidade ímpar que se destacou como médico exemplar, prefeito por duas legislaturas, Deputado Federal, escritor, e, na derradeira fase de sua profícua existência, como historiador, dedicando-se a escrever sua maior obra que é a HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE, concluída em 1962 e lançada em 1964, no ano das comemorações do Centenário da cidade. A confiança e as propostas apresentadas para o plano de

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trabalho de resgate da memória dos homens e mulheres da cidade Rainha da Borborema, atraíram a presença de vinte e cinco personalidades, que se constituíram Sócios Fundadores advindos das universidades e da sociedade civil. O alto nível dos associados, fundadores, efetivos e correspondentes, do Brasil e do Exterior atestam a responsabilidade com o cumprimento dos deveres estatutários da instituição cultural, de direito privado e sem fins lucrativos, que terá como sede os Armazéns da Estação Velha, ao lado do complexo da Estação de Passageiros onde abriga o Museu do Algodão, ligado a Secretaria de Cultura do Município e seu atrativo da locomotiva, modelo Maria Fumaça, exposto em pátio aberto. Entusiasta desde a sua concepção, o IHCG tem a satisfação de contar com a destacada presença do Dom Carlos Tasso de Saxe Coburgo e Bragança, tri neto de D. Pedro II, residente em Portugal, grande entusiasta do IHCG desde a sua concepção. O trabalho realizado pelo IHCG também recebeu elogios do presidente do Instituto Histórico e

Geográfico Brasileiro, Doutor Arno Wehling, que no mês de junho do ano passado(2013) esteve em Campina Grande. “ “Exma. Sra. Maria Ida Steinmüller, presidente do Instituto Histórico de Campina Grande – Casa Elpídio de Almeida. Senhora Presidente: Escrevo para dar-lhe e à sua equipe os parabéns pelo excelente trabalho que vem realizando no processo de implantação do Instituto Histórico de Campina Grande. Pude testemunhar pessoalmente o empenho de todos e a receptividade de seu trabalho junto às autoridades e representantes da sociedade civil, região e estado. É de justiça destacar o excelente local das futuras instalações do Instituto, em local tombado e adequado às necessidades de entidade dessa natureza, que necessita realizar eventos científicos, educacionais e culturais, além de dispor de condições físicas capazes de acolher acervo museológico, arquivístico e biblioteconômico. Expressando-lhe melhor apreço e consideração, cordialmente, Arno Wehling, Presidente.” O Instituto é administrado por uma diretoria, conselho fiscal, conselho consultivo

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REUNIÃO Fundadores do Instituto Histórico de Campina Grande, Casa Elpídio de Almeida. 19/04/2012

e comissões temáticas em trabalho conjunto, respeitando os Estatutos e as necessidades iniciais para organização da Instituição de forma a provê-la de acervo tratado tecnicamente, e que atualmente se encontra na etapa de higienização, separação, descrição dos documentos, para, em segunda fase, passar pelo processo de digitalização, coordenando o trabalho final para que se produzam fontes alternativas de consulta – presencial ou virtual – através da página em criação na internet, a cargo da assessoria de comunicação, à frente o Jornalista Diego Araújo, e da Revista Eletrônica a cargo da Comissão Editorial. Importante o registro que o primeiro acervo recebido pelo Instituto Histórico de Campina Grande pertenceu ao nosso Patrono Elpídio de Almeida e que foi doado pelo seu filho primogênito e Presidente de Honra do IHCG, Humberto Cesar de Almeida, falecido em 10 de janeiro de 2013.

Membros do IHCG Fazem parte do IHCG, Pós Doutores, Doutores, Mestres, Especialistas em várias áreas do conhecimento da História, Geografia, das Ciências Sociais e notáveis personalidades do Brasil e do Exterior, que se integraram em reuniões posteriores à fundação, nas categorias de sócios efetivos e correspondentes, emprestam sua vasta experiência no ramo e na linha de pesquisa em que atuam em prol da produção científica, escopo da atividade da instituição e que se deseja, a partir de então, com o olhar voltado para a cidade pólo do Compartimento da Borborema, desde os seus primórdios aos dias atuais em regime ad infinitum, a divulgação desses trabalhos. Nos moldes das instituições congêneres, o IHCG adota o sistema de Patrono e Ocupante, em número de setenta, e que serão escolhidos por comissão especialmente indicada, com anúncio previsto no decorrer de 2014. O trabalho está em andamento com a análise da vida e obra do candidato a Patrono e a candidatura a Ocupante seguirá o rito estabelecido no Regimento

Interno. Desde o início dos trabalhos em prol da Casa de Memória Local o grupo de articulação e em caráter institucional, recebeu personalidades da historiografia como o citado e renomado professor Arno Wehling, Esther Caldas Bertoletti, Diplomata André Ricardo Heráclio do Rêgo, em eventos realizados pelo IHCG, de modo parceiro ou a convite, capitaneados pela Professora Doutora Juciene Ricarte Apolinário, da UFCG, atuante Vice Presidente do IHCG, que não tem medido esforços para alavancar os trabalhos científicos da instituição em alto nível. “Em síntese, é nosso compromisso trabalhar em conjunto ou em parceria, sempre se respeitando os memoráveis feitos das pessoas, de todas as camadas sociais, das instituições públicas e privadas, do resgate das memórias passadas e atuais. O acesso à informação é um direito humano, e o IHCG instalará o seu Centro de Documentação para que todo cidadão utilize seus espaços à serviço da memória e para a memória de nossa querida cidade,” finaliza Maria Ida.

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DOCUMENTO PARA A HISTÓRIA

CAMPINA GRANDE

E OS ÍNDIOS CARIRIS

C Zé Elias em trabalho com os índios Canela

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ampina Grande foi fundada em princípios de dezembro de 1697, por TEODÓSIO DE OLIVEIRA LEDO, com participação de três grupos indígenas linguística e culturalmente diferentes: os ARIÚS, trazidos de Piranhas, que eram Tarairius, os DZUBUCUÁ-CARIRIS, oriundos do rio São Francisco, e os TUPIS (Potiguaras e Tabajaras), que vieram das aldeias de Mamanguape e Jacoca (Conde). Tais afirmativas se inferem a partir da leitura da carta de MANOEL SOARES ALBERGARIA, Capitãomor da Paraíba, escrita ao Rei de Portugal em maio de 1699 e publicada pela primeira vez em 1892, pelo historiador campinense IRINEU JOFFILY, em suas “Notas sobre a Paraíba”. A análise desse importante documento, o único existente sobre a fundação de Campina Grande, feita nos últimos anos, à luz de novas descobertas em arquivos históricos e das contribuições de Elpídio de Almeida e Wilson Seixas entre outros, constituem o fio da meada que nos possibilitou chegar a essas conclusões. Sobre o ARIÚS, já escrevemos diversos trabalhos publicados na Revista Campinense de Cultura e no Anuário de Campina Grande, apresentando um esboço histórico de sua participação na fundação da cidade e de sua caracterização étnico-cultural. Quanto aos Tupis, “índios que tirara das aldeias”, na carta de ALBEGARIA, não se estabeleceram eles em aldeia, na região de Campina Grande; devem ter retornado aos seus lugares de origem, Mamanguape e Jacoca, embora sempre acompanhassem

os desbravadores em suas andanças pelo interior. A respeito dos Cariris, grupo que mais temos estudado nos últimos anos, pouco publicamos. Este é pois o motivo do presente trabalho. Na carta de ALBEGARIA, vemos que TEODÓSIO “aldeou os ARIÚS, junto dos Cariris, onde chamam a Campina Grande”. Isso indica que os Cariris ocupavam anteriormente a região. Além disso, lemos na carta, que Teodósio se fazia acompanhar de 40 Cariris que haviam seguido o Capitãomor até as Piranhas e Piancó, para onde retornariam em 1698, dando origem à atual cidade de Pombal. Esses Cariris eram oriundos de Pilar e, diferentemente do que se acredita, não eram inimigos dos Portugueses. Em muitos outros documentos patenteia-se a amizade desses índios com a família Oliveira Ledo, como, por exemplo no resgate de Constantino, feito no sertão por DOMINGOS JORGE VELHO, quando os Taraírius , contra quem estavam guerreando, mataram quatro homens do citado Constantino, inclusive um cacique Cariri. Foi quando TEODÓSIO matou a sangue frio muitos dos Tarairius capturados, poupando os ARIÚS que eram batizados. Não há dúvida de que os índios Cariris, na época da penetração nos sertões, (segunda metade do século XVII) habitavam a região de Campina Grande, embora essa área fosse domínio dos Tarairius. Na verdade, o missionário capuchinho francês MARTIN DE NANTES, nos fala na sua “Relação (recentemente traduzida e publicada pela Coleção Brasiliana- N.E. esse

texto de Borges foi escrito em 1982), que esteve , em 1671, com o padre TEODORO DE LUCÉ missionando os Cariris (localizados em Boqueirão segundo JOFFILY) , a pedido de Antonio de Oliveira Ledo. Também Frei Santa Maria Jaboatão em seu Novo Orbe Seráfico nos fala dos Cariris aldeados possivelmente em Fagundes, que em 1670, foram transferidos para Pilar . E os estudos que fizemos dos topônimos BODOCONGÓ e BODOPITÁ indicam origem Cariri. Mas há um outro documento, pouco divulgado, que confirma, em definitivo essa presença dos Cariris na região de Campina Grande. Trata-se da data de sesmaria publicada por João de Lyra Tavares em seus “Apontamentos para a História Territorial da Paraíba”, sob o n. 115 , concedida a 24 de março de 1714. Eis a sua transcrição: “Os índios Cariris, por seu governador, D. Pedro Valcácer, sitos na Missão de Nossa Senhora do Pilar de TAIPU, dizem que sendo senhores e possuidores por carta de sesmaria de uma sorte de terras, sitas no lugar chamado BULTRINS, cuja data tem de sesmaria uma légua de terra tão somente, que parte do oeste com Antonio de Miranda Paes e o capitão-mor José Freire e pela parte do sul com terras onde os índios tem situados seus gados e suas lavouras e pela parte do leste com as terras do PAÓ; e porque estas terras que os ditos índios tem seus gados e lavouras a largos anos estão fora da dita data que é o sitio chamado Genipapo, que há tempos logrão, que pela parte do leste confronta com as terras e data do capitão Antonio

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por José Elias Borges | Publicado originalmente no Anuário Campina Grande - 1982

de Oliveira Ledo e pela parte do norte com as terras dos mesmos índios, onde tem a sua aldeia, e pela parte oeste (sic) com as mesmas serras do Paó e pela parte sul com as terras do Capitão Manoel Correia, e porque nestas confrontações estão algumas terras devolutas , que eles suplicantes estão possuindo e sejam duas ou três léguas ou o que se achar, pedem os suplicantes por devolutas, e em remuneração dos seus serviços como leais vassalos, e porque nas terras referidas está o sitio deles índios GENIPAPEIRO, povoado há muitos anos, por isto requeriam a citada terra. Foi feita a concessão de tres léguas de terras de comprimento e uma de largura, estando nelas a que se concedeu, no governo de João Maria da Gama”. O documento mostra, portanto, que os Cariris, diferentemente do que dizem os historiadores paraibanos, a partir de Irineu Joffily , eram leais vassalos, como vimos antes e haviam lutado contra os tapuias bárbaros (Tarairius), ao lado dos portugueses. De outra maneira não lhes seria concedida a segunda sesmaria. Há um outro documento importante, que data de 1659, a respeito dos Cariris da Paraiba. Trata-se do requerimento de Antonio Mendes, cabo das tropas dos índios de Pernambuco, publicado pelo Barão de Studart no 4 volume de “Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará”, Fortaleza, 1921. O Antonio Mendes que era índio, pede a Sua Majestade missionários para catequizar índios do sertão de Pernambuco, Itamaracá, Paraiba e Rio Grande do Norte. As páginas 100 e 101, encontramos: “...E que convém

muito que assistam nelas para comodidade dos povos, como tem avisado Vossa Majestade por vezes os oficiais da Câmara da Paraiba, por seu procurador Antonio de Albuquerque e Jorge Tagaibuna , por suas petições porque de mais de habitarem na dita terra da Capaoba (Borborema segundo Elpídio de Almeida) uns tapuias da nação CARIRIS, infiéis, que facilmente receberão nossa santa fé, e sagrado batismo, distante destes há outros tapuias, da casta dos Janduizes (Tarairius), que também receberão nossa amizade e fé, se não houver quem os reduza, porque são soberbos e mal intencionados e fizeram muitas tiranias entre os ...” Essa última referencia é sobre guerras holandesas, quando os Janduís eram aliados dos flamengos. Na época do requerimento de Antonio Mendes, a Rainha autorizou a vinda do Padre Pedro de Lara Morais para a catequese, embora não tenhamos documento que registre a passagem daquele sacerdote em nossas terras. Mas, onde se localizavam as terras dos Cariris ? Ora, Antonio de Oliveira se localizou, em 1665, na região de Boqueirão, trazendo em 1670 e 1671, do Recife, os missionários capuchinhos franceses TEODORO DE LUCÉ e MARTIN DE NANTES, que estiveram com esses índios até o ano seguinte. Em 1694, Teodósio, sobrinho de Antonio de Oliveira, é nomeado Capitão-mor dos Cariris, Piancó e Piranhas, em substituição a Constantino de Oliveira Ledo que desde 1687 enfrentava os Tarairius no sertão, acompanhado de índios Cariris. A 21 de maio de 1695, Dom João de Lencastro, governador Geral escreve ao Capitão-mor da Paraiba, pedindo-lhe a execução das ordens régias de criação da

aldeia de Piranhas, Jaguaribe e Assu e “...ordenando a Vossa Mercê, que provesse logo a das Piranhas com a Aldeia que chamam Mamanguape, e Tapuias Cariris...”(Documentos históricos). O Capitão-mor da Paraíba, Manuel Nunes Leitão demorou em obedecer às ordens do Governador Geral, no que foi por este repreendido, posteriormente. A ajuda a Teodósio, em armas, mantimentos e homens seria enviada em fins de 1696 ou princípios de 1697, através de Goiana. Os índios de Mamanguape e os Cariris (certamente de Pilar ou Boqueirão) também foram unir-se a Teodósio, pois é com eles que o desbravador funda Campina Grande. Na verdade, a carta de Albergaria fala de 40 Cariris, mas deve-se supor que seu número era maior, pois alguns devem ter morrido nos combates com os Tarairius (Pegas e Panatis) Em 1702 Teodósio receberia a sesmaria de Bodopitá (Fagundes), onde ficaram alguns índios cuidando das plantações de mandioca. Ora, esses índios deviam ser Cariris, pois já há referencias a eles, desde 1670. Jaboatão apud Irineu Pinto em suas “Datas e Notas para a História da Paraíba”, pg. 65 assim se refere aos Cariris de Pilar: “Tiveram estes índios a sua primeira situação e aldeia no sertão dos Cariris, que chamam de fora, e por inconvenientes de sustento, e outros mais e ficarem em distancia da cidade (atual João Pessoa), além de algumas trinta léguas, os seus missionários antigos, que eram sacerdotes seculares, os transferiram

para o lugar donde agora existe, que por isso lhe chamam Cariri de baixo e fica esta sua aldeia acima do engenho Taipu (Pilar). Naqueles primeiros Cariri têm terras próprias que lhes pagam foros”. E, na Relation Sccinte, do Padre Martin de Nantes (tradução brasileira), pg. 2: “...Fiquei somente oito meses nessa aldeia com o padre TEODORO; mas tendo sabido desses mesmos índios, um dos quais falava português, que havia no rio São Francisco uma grande quantidade de aldeias de sua mesma nação, resolvi transferir-me para lá.” E, continuando na página 33: “Nessa aldeia tínhamos abundancia de feijão e milho; mas não tínhamos nem carne, nem peixe, senão alguma caça de tempos em tempos; o mais desagradável era que a água (de Boqueirão) não era boa e não havia vinho senão para a missa. Fiquei somente oito meses nessa aldeia.” Martin de MNantes tinha vindo do Recife para Carnoió (Boqueirão) e voltou, após oito meses, à capital pernambucana, acompanhado de índios Cariris. Ele havia encontrado o padre Teodoro de Lucè, logo que desembarcou. O padre Lucé, na ocasião se fazia acompanhar de um rapazola Cariri, de quem tinha gostado uma família francesa, dando-lhe um bonito chapéu. Mas quando passeava pela cidade com o chapéu, um negro escravo tentou toma-lo e tendo o índio reagido, o negro matou-o. Apesar da revolta dos Cariris que clamavam por vingança, o negro não recebeu punição do seu dono, o que revoltou

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CAMPINA E OS ÍNDIOS ainda mais os Cariris. Foi nesse ambiente que Martin de Nantes foi para a aldeia de Boqueirão, sem o padre TEODORO e acompanhado de quatro índios e alguns negros. É muito interessante a descrição de NANTES das terras por onde passou, de Recife a Boqueirão, na época quente e seca de novembro. Mas é uma das primeiras descrições da “caatinga” nordestina. Isso também mostra que desde 1670 já havia comunicação de Recife com os Cariris Velhos. Revendo os arquivos dos padres de São Bento da época (Livro de Tombo do Mosteiro de Olinda), encontramos doação feita por um francês JEAN VOLTRIN, àqueles missionários. Ora, os padres de São Bento tinham terras em Pilar, onde viviam os Cariris. Não é de se estranhar, portanto, nossa suposição de que esses índios quisessem homenagear a terra de sua primeira sesmaria, perto de Campina grande com o nome daquele francês amigo. Bultrins foi o nome dado à Aldeia Velha dos Cariris, situada entre São Sebastião de Lagoa de Roça e Alagoa Nova. Os Cariris dessa região ficaram depois conhecidos como Bultrins ou Cariris-Butre. Um outro ponto importante do livro de NANTES diz respeito ao seu relacionamento com Antonio de Oliveira, conforme se vê às páginas 40 e 41 de sua tradução. Antonio de Oliveira, temendo a catequese dos missionários franceses, acusou-os de ensinar os índios a manejar armas, fazendo uma representação à Camara da Paraiba. Mas um amigo de NANTES informou-o da carta acusadora e apesar do padre Teodoro de Lucé já haverse queixado das atitudes de Antonio de Oliveira ao Governador, o

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Padre Nantes escreveu uma carta à Rainha de Portugal, francesa de nascimento, protestando sua inocência. A carta foi encaminhada à Rainha através do Padre Gabriel Serrent, superior da Ordem em Lisoboa. A missiva, segundo Nantes, impediu a saída dos capuchinhos do Brasil, pois a Rainha aceitou as suas explicações, apesar do processo em que foram envolvidos os missionários. Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual os Cariris foram transferidos de Fagundes e Boqueirão para Pilar e entregues, por algum tempo aos padres seculares. É interessante notar que os historiadores paraibanos, e mesmo Joffily que leu a Relation, nunca se tenham referido a esses fatos. Apenas Coriolano de Medeiros , dá a entender alguma coisa sobre o assunto, no seu excelente livro “MANAÍRA”, escrito nos moldes de “IRACEMA” de José de Alencar, não se podendo, todavia, nele perceber o que havia de real ou fictício. Foi grande a contribuição de Martins de Nantes, não só para a História da Paraíba e do povoamentodo rio São Francisco, como para a maior parte do que se conhece sobre a cultura e língua dos Dzubucuá-Cariris. Na Relação, estão descritos os costumes desses índios, embora um pouco parcimoniosamente, tal o medo do religioso de estar descrevendo algo relacionado com o Diabo. Mas preparou um vocabulário, gramática e catecismo na língua dos índios, que passou ao Padre Bernardo de Nantes, seu sucessor nas missões do São Francisco; este, posteriormente publicou o grande Catecismo CaririPortuguês. Mas a Martin de Nantes também se deve a publicação dos dois únicos mitos Cariris que se conhece.

Foi principalmente através de sua obra que pudemos propor que o Dialeto Cariri falado em Campina Grande era certamente o DZUBUCUÁ, o qual foi objeto de nossa tese de Livre Docência em Linguística, defendida na Universidade Federal da Paraíba em 1977. Voltando às terras dos Cariris, podemos dizer que TEODÓSIO deve ter levado índios Cariris do Carnóio ou de Pilar para o brejo de Fagundes, quando requereu sua sesmaria em 1702 na serra de Bodopitá. Em artigo que publicamos na Revista Campinense de Cultura, mostramos ser BODOPITÁ topônimo Cariri, significando “brejo de canas bravas”. Esses índios ali foram para se dedicar à agricultura, principalmente para a plantação da mandioca, pois a farinha era imprescindível nas guerras do sertão e na subsistência das fazendas. Alguma terra deve ter sido doada aos Cariris de Fagundes, ou por Teodósio ou leis régias, já em vigor, que determinavam uma légua quadrada de terra para os indígenas aldeados. O certo é que em 1739 Frei Próspero de Milão, esteve em Fagundes, conforme se vê no relatório do Governador Pedro Monteiro de Macedo, publicado por Wilson Seixas, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano . Vale salientar que Teodósio era originário de Vila Nova (Propriá), situada às margens do São Francisco onde já havia aldeias de índios Cariris, catequisados desde 1660, pelo padre João de Barros. Por outro lado, os Cariris de Pilar, quando requereram suas três léguas de terras nos Bultrins, já tinham uma sesmaria anterior de uma légua quadrada. As terras contínuas dos

Bultrins mediam pois 4 léguas de comprimento por uma de largura, cobrindo parte dos municípios de Lagoa Seca, São Sebastião de Lagoa de Roça, Alagoa Nova e Esperança, que surgiu da fazenda BANABUYÉ (topônimo Cariri).Vejamos as suas delimitações, através de outras sesmarias com as quais confrontava, conforme se vê em João Lyra Tavares. Em 1714 ela se limitava com as terras de Antonio de Oliveira Ledo, com as terras do PAÓ, e ao sul com as de MANOEL CORREIA LEDO e com as terras de ANTONIODE MIRANDA PAZ e as do Capitão JOSÉ FREIRE. A 11 de fevereiro de 1720 foi concedida outra sesmaria a ANTONIO DE MIRANDA PAES, também confrontando com as terras de MANOEL CORREIA LEDO e com as terras dos Bultrins. A 8 de julho de 1726 veio a sesmaria de AMARO SECO DAS NEVES, confrontando com a Aldeia Velha dos Cariris, igualmente se limitando com as terras do Padre Belchior GARCIA e LUIZ DE MELO CUNHA. A 10 de junho de 1744 aparece outra sesmaria confrontando com as terras dos Cariris: a de ROSA MARIA, viúva de BALTHASAR GOMES, por dote que lhe fez seu pai, JOÃO GONÇALVES SEIXAS. Em 1757, faz testada com as terras dos Cariris, a sesmaria concedida a ISIDRO PEREIRA GONDIN e AGOSTINHO PEREIRA PINTO. MARIA TAVARES LEITÃO e seu filho JOSÉ DE ABREU FRANCA recebem a 11 de fevereiro de 1763, uma sesmaria entre as terras de MATHIAS SOARES TAVEIRA e as dos índios Cariris. Em 24 de abril de 1766 recebem uma sesmaria o Capitão ANTONIO MENDES FERREIRA e PASCHOAL MENDES DA SILVA, limitandose pelo poente com as terras

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do Genipapo do gentio Cariri. Por aí se vê que as terras dos Índios já se encontrava ameaçada pelos vizinhos, que já começavam a esquecer a ajuda dada pelos Cariris. Um fato importante ocorreu em 1767, dois anos antes de Campina ter a sua freguesia, desligando-se de São João do Cariri. Conforme documento descoberto pela Professora ELZA RÉGIS, do Departamento de História da UFPB, existe, no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, uma carta dirigida ao Rei pelo Juiz de Fora de Olinda, MIGUEL CARLOS DE PINA CASTELO BRANCO, encarregado pelo Marquês de Pombal de reunir índios dispersos, reduzindo o número de aldeias, encaminhando requerimento de JOÃO PEREIRA DE OLIVEIRA, da Capitania da Paraiba, no qual pede a Sua Majestade a mercê de mandar demarcar para os índios chamados CAVALCANTIS (Arius, portanto Tarairius), a terra dos Bultrins, e não a que rodeava a sual aldeia de Campina Grande, apesar do pai do suplicante tê-los situado lá. Não temos todavia o documento em mãos para que possamos analisá-lo em detalhes. Disso tudo, verifica-se que os índios ARIUS (ou CAVALCANTIS) que foram trazidos por TEODÓSIO das Piranhas estavam aldeados no local onde hoje se encontra a cidade. Na verdade, era costume entre os índios do grupo Tarairiu, adotarem o nome do seu chefe imediato, quando este morria, como etnônimo da fração da tribo. CAVALCANTI deve ter morrido antes de 1746, pois a partir desta data os documentos não mais falam dos ARIUS. Cerca de 1775 entretanto, conforme se vê na sesmaria concedida ao Capitão FRANCISCO NUNES DE SOUSA, este comprava o direito às terras dos índios Cavalcantis

para criar gado. Essa légua quadrada de terra seria pouco a pouco absorvida, mas até recentemente, os moradores do bairro da Conceição ainda pagavam foros a descendentes da família NUNES. Em março de 1771, pela sesmaria concedida ao alferes JACINTO PEREIRA DO PRADO, administrador dos bens de sua filha AGOSTINHA MARIA DE JESUS, já se fala nos limites “até topar com a lagoa das terras que foram dos índios da Missão de Campina Grande (Cavalcantis), confrontandose também com a data de Bodocongó (topônimo cariri), do Padre Domingos da Cunha Filgueira . Era o fim das terras dos ARIÚS, ou seja da aldeia, que dentro de mais 19 anos se tornaria VILA NOVA DA RAINHA. A pressão dos criadores e agricultores, a pressão religiosa e urbana fez com que desaparecessem esses índios, por essa época, certamente, bastante miscigenados com a população ou em vias de extinção.De todo modo, os Cavalcantis ou Arius muito ajudaram aos primeiros colonozadores, inclusive na descoberta de olhos d’água na região, para o pedido de novas sesmarias. Documento transcrito por Irineu Pinto indica que em 1746, Campina estava sob a invocação de São João e os índios eram tapuias da nação CAUCHEENTES (Cavalcantis), enquanto que a do BREJO era de Tapuios FAGUNDES e o missionário um religioso capuchinho, possivelmente Frei Próspero de Milão ou Frei Carlos de Ferrara, acrescentamos. Em documento de 1774 (Idéia da População) fala-se também dos índios Cavalcantis, na aldeia de Campina Grande e dos índios Fagundes da aldeia do Brejo. WILSON SEIXAS, com base no relatório do Governador MONTEIRO MACEDO,

citado, afirma que em 1739 encontravam-se 40 casais de ARIUS em Campina Grande, sob a direção de um clérigo, que, pela análise dos documentos do cartório de São João do Cariri era o padre DOMINGOS DA CUNHA FILGUEIRA. Este, como vimos, tinha terras no atual bairro de Bodocongó, desde 1776. Em 1782, quando Campina já era freguesia, embora não se saiba o nome de seu vigário, o Padre Filgueira teria já abandonado suas terras em virtude de atritos com a família OLIVEIRA LEDO. Nesse ano se havia mudado para AREIA, onde recebera sesmaria. Quanto às terras dos BULTRINS, em 25 de setembro de 1778, o capitão João Lourenço de Almeida, o Padre João Martins Granjeiro e Joana Francisca da Conceição recebiam data de sesmaria ,confrontando de um lado com a atual cidade de Campina Grande e do outro (norte), com as terras da Aldeia Velha dos Cariris. À medida que os brancos iam pouco a pouco invadindo suas terras, os índios Cariris ou foram se miscigenando com a população ou desaparecendo ou retornando a sua antiga missão do Pilar, onde a situação também já não era boa. Embora as terras de FAGUNDES tenham sido absorvidas, as dos BULTRINS, como eram objeto de uma sesmaria especial do Rei, não o foram, e lhes pertenceriam por direito ainda hoje, apesar das informações de que passaram depois de 1930 para o domínio do Governo do Estado da Paraíba, que continua a receber foros de seus ocupantes. Centenas de exemplos do passado colonial nos mostram que era comum se declarar a inexistência de índios nas aldeias para justificar sua ocupação e posse. Mas, documentos de fins do século passado mostram que ainda

existiam índios Cariris em Pilar, os mesmos que, durante muito tempo, receberam foros de suas terras nos Bultrins. A fundação de Campina grande se deve,portanto, muito mais aos índios Cariris que aos Ariús. Originários do São Francisco e catequisados desde 1660 pelo Padre João de Barros, já ocupavam a região, com suas lavouras e criação de gado, desde 1670.Acreditamos mesmo que esses índios já estivessem na região desde 1584, trazidos por Piragibe, pois a sua presença foi indicada em João Pessoa na época da Fundação da Paraiba, conforme artigo que publicamos em “O Norte” de 5 de agosto deste ano( N.E.1982). Foi por indicação dos Cariris que TEODÓSIO escolheu o sitio para implantação da cidade. A causa principal da fundação foi a guerra contra os Tarairius (erroneamente denominada Confederação dos Cariris), que forçou o Rei de Portugal a ordenar a transferência de alguns índios TUPIS de Mamanguape ou Jacoca (Conde) juntamente com os Cariris de Pilar ou Boqueirão, para ajudar TEODÓSIO na luta contra ARIÚS, PEGAS, PANATIS e SUCURUS, todos Tarairiús , e na fundação das aldeias do Jaguaribe, Piranhas e Assu. A causa imediata foi a necessidade de afastamento dos ARIÚS catequisados, dirigidos por Cavalcanti, do Teatro de Guerra e a escassez de farinha, mantimento essencial nas penetrações, para o que era preciso a utilização de terras fertéis como as de brejo de Fagundes, Alagoa Nova e de índios que tinham uma agricultura desenvolvida como os Tabajaras e Potiguares de Mamanguape e os Cariris de Pilar. Esperamos, em outros trabalhos, detalhar os costumes e língua dos índios Ariús, mas principalmente dos Cariris.

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PERSONAGEM DA HISTÓRIA

CORBINIANO: AUTOR DO MONUMENTO AOS PIONEIROS VIVE LÚCIDO E TRABALHA EM RECIFE AOS 90 ANOS DE IDADE

C Nesta foto, sem data, o corpo da deusa Minerva já havia desaparecido do painel, restando apenas o braço. Hoje, não existe mais nada da obra de Corbiniano no prédio.

CORBINIANO HOJE

ampina Grande também se notabiliza pelos seus artistas e obras de arte espalhadas em museus, galerias e nos espaços ao ar livre. Nomes como Chico Pereira, Antonio Dias, Julio César, Labas, Pedro Correa, Saulo Ais, Fred Ozanan e muitos outros escultores, pintores, desenhistas, chargistas etc atestam a também vocação dessa cidade no campo das artes plásticas. Porém, uma das obras expostas a céu aberto em Campina, das mais queridas, mais fotografada, mais reproduzida e mais visitada, foi feita por um artista pernambucano, nascido em Olinda no dia 2 de março de 1924, seu nome: José Corbiniano Lins ou simplesmente Corbiniano. Nos referimos ao Monumento aos Pioneiros, escultura em cimento armado feita em 1963 e instalada nas margens do açude Velho em 1964 por ocasião do primeiro Centenário da cidade. Esta não é a única obra de Corbiniano em Campina, o painel do

frontispício da antiga sede do Forum Afonso Campos na Floriano Peixoto e o símbolo do Clube do Trabalhador no bairro da Prata, ambos de 1963, também são da lavra desse artista que tem mais de sessenta anos dedicados a arte(pena que essas duas obras tenham sumido de seus locais de origem e ninguém sabe onde foram parar. Com a palavra, os responsáveis). Seus trabalhos estão espalhados em diversas cidades do Brasil como Recife,Maceió,Paulo Afonso e Fortaleza.

CORBINIANO NO CINEMA Neste mês de maio de 2014 foi lançado na 18ª edição do Festival Audiovisual Cine PE o longa metragem “Corbiniano” produzido pelo Ateliê Produções e dirigido por Cezar Maia. O documentário abarca mais de 50 anos de criação do acervo de esculturas, gravuras e pinturas de Corbiniano. Esse filme bem que merece uma exibição na próxima edição do Comunicurtas (agosto). Fica a sugestão.

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DE MEMÓRIA TAMBÉM É HISTÓRIA

CAPITÃO TONY na Muralha da Morte!

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li onde estão situados os prédios da antiga Telpa (hoje funciona uma loja de operadora de telefonia móvel) e do “Shopping Ramos”, na Floriano Peixoto, já foi um local para entretenimento dos campinenses. Lá, foi realizada no ano de 1947, a “Feira de Amostras”, um grande evento que ocupou até uma parte da Praça da Bandeira. Era ali também onde se instalava a tradicional e concorrida “Festa da Mocidade”, com carrosséis, roda-gigante, trem-fantasma e o desconcertante “tira-prosa”, um brinquedo que botava

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à prova as moças e moços que frequentavam aquele espaço. Circos também foram armados ali no vasto terreno que existia no passado. Já nos anos 50 e 60, as tradicionais festas de fim-de-ano, Natal e Ano Novo, se concentravam ao longo da Floriano Peixoto. Os dois principais parques de diversões, o Lima e o Maia, armavam seus brinquedos no lado direito da avenida (sentido bairro-centro). Geralmente o Parque Lima se instalava na área onde hoje é o prédio já referido, e o Maia colocava sua grande (era a maior mesmo) roda-gigante bem em frente ao Museu de Arte do centro da cidade. Isso sem falar nas barracas de tiro ao alvo, roletas de todo tipo, pavilhões e o famoso jogo do preá, também conhecido como jogo do caipira, cujo slogan era “quanto mais joga, menos tira”.

Faquir ciclista e Tarzan Em outras épocas do ano, o grande terreno abrigava atrações variadas, como por exemplo, um ciclista que prometia pedalar sua bicicleta, dentro de um quadrado cimentado que existia lá, por 30 dias seguidos sem dormir

e comendo e fazendo as necessidades fisiológicas a bordo da “magrela”. Outra vez apareceu um galego, “torado no grosso” como se dizia na época, autointitulado “Tarzan Moderno”, os anos 60 já tinham passado da primeira metade e o “Tarzan” acompanhava a onda jovem exibindo uma vasta cabeleira cacheada que se derramava até os ombros. Além de levantar halteres (que eram chamados de “marombas”) com vários pesos, puxar com uma corda presa aos dentes um utilitário parado, envergar barras de ferro, partir correntes com as mãos e permitir que um carro passasse por cima de uma taboa colocada em seu tórax, o “Tarzan Moderno” reservou para o final da temporada na cidade um número arrasador: segurar por uma corda dois jipes acelerados em força máxima, um pela esquerda e o outro pela direita do jovem Tarzan vindo não se sabe de onde. A multidão se formou nos dois sentidos da pista em frente onde hoje fica o prédio da operadora, os jipes, engatados na primeira marcha, com os motores roncando indicando potência total, foram se distanciando aos poucos, a corda se tensionando, o Tarzan galego trajando apenas uma

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sunga vermelha, calçando botas de pele de carneiro, concentrado como um monge tibetano e com expressões mais assustadoras que as de Bela Lugosi (o astro húngaro importado por Hollywood nos anos 30 para aterrorizar a América), segurou as cordas e freou os jipes que ficaram “patinando”; dos pneus travados em atrito com o paralelepípedo da rua, subia uma fumaça com seu cheiro característico e a plateia urrava delirantemente com a façanha do louro “Tarzan” da selva de pedra.

A mulher e as cobras Outra vez apareceu uma atração muito especial, uma faquiresa misteriosa, deitada numa urna de vidro tendo como companhia umas quatro ou cinco cobras que passeavam sobre seu corpo enquanto ela lançava seu olhar misterioso para os perplexos espectadores que pagavam o ingresso para vê-la dentro de uma tenda armada no terreno. A atração se chamava “A mulher e as cobras”, e tal e qual o atletafaquir da bicicleta, a faquiresa também não dormia, não comia e não sabemos até hoje como fazia suas necessidades fisiológicas dentro daquela urna cercada por nauseantes répteis. O pequeno travesseiro de cetim branco que ela usava para recostar a cabeça era apoiado numa enorme e sonolenta jiboia que fazia companhia à moça dentro da caixa de vidro. A vestimenta dela era um biquíni prateado e na cabeça trazia um véu transparente de odalisca que de vez em quando cobria seu rosto aumentando a aura de mistério.

A Muralha da Morte Mas a grande, a extraordinária, a memorável e inesquecível atração que passou por ali foi sem dúvida

alguma “Capitão Tony na Muralha da Morte”! Imaginem um grande cilindro de madeira, com dez metros de diâmetro e 6 metros de altura, e nele um homem pilotando uma motocicleta em alta velocidade completamente paralela ao chão, desafiando a lei da gravidade, rodando naquela máquina em torno da parede do cilindro, a um passo de se projetar no espaço vazio do oco do enorme cilindro e se estatelar no chão para sempre. Era de tirar o fôlego, congelar as pestanas, arregalar os olhos e não conseguir fechar a boca durante todo o espetáculo. O Capitão Tony concretizava ao vivo e sem truques o desejo oculto de todos os mortais: desafiar a morte e zombar dela por ela não conseguir levá-lo apesar dele facilitar tanto o trabalho da portadora da gadanha fatal. Tudo isso em cima de uma moto, girando como um carrossel humano na muralha da própria morte. Para a meninada que teve acesso à exibição, ali estava um super-herói em carne e osso, o destemido, o corajoso, o imbatível Capitão Tony. A Muralha da Morte foi instalada exatamente ali onde hoje fica aquela antena ao lado do edifício da loja de celulares, tinha uns degraus por onde os espectadores subiam e lá dentro se acomodavam ao redor da boca do enorme cilindro, olhando para dentro e para baixo, aguardando o esperado momento em que o Capitão Tony adentrava na arena tal um gladiador moderno e olhando para cima saudava a impaciente e nervosa plateia. A seguir, ligava a motocicleta, acendia o farol, calçava suas luvas pretas, e começava a escalada da Muralha da Morte. No ápice da subida ele passava quase rente aos narizes da audiência provocando um frio no estomago dos mais frágeis. Mas isso não era tudo, o gran finale da apresentação era feito num Fusca adaptado, sem capota, com os eixos dianteiro

Em cima, o trecho citado da Floriano Peixoto hoje. Em baixo, o pavilhão do Capitão Tony (veja à direita a escada de acesso)

e traseiro bem mais próximos que o normal, uma espécie de “minicarro” próprio para escalar a Muralha da Morte na palpitante apoteose final.

A “morte” das estrelas Quando o Capitão Tony foi embora, pouco depois surgiu um boato que ele tinha morrido de uma queda na Muralha da Morte. Era só um boato mesmo, aliás, era comum naquela época esse tipo de boato, do qual não escapou o “Tarzan Moderno” nem a faquiresa das cobras que diziam ter sido engolida pela jiboia morgada logo que saiu de Campina.

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APRENDA E CANTE

HINO DE CAMPINA GRANDE, PARAÍBA Composição: por Fernando Silveira Melodia: por Antônio Guimarães

Venturosa Campina querida, Ó cidade que amo e venero! O teu povo o progresso expande, És na terra o bem que mais quero! O teu céu sempre azul cor de anil, Tuas serras de verde vestidas Salpicadas com o ouro do sol, Ou com a hóstia dos brancos luares! Eterno poema De amor à beleza, Ó recanto abençoado do Brasil! Onde o Cruzeiro do Sul resplandece. Capital do trabalho e da paz! Oficina de ilustres varões, Canaã de leais forasteiros, És memória de índios valentes. E singelos e alegres tropeiros! Tua glória revive, Campina, Na imagem dos homens audazes, Aguerridos heróis de legendas Que marcaram as tuas fronteiras! Eterno poema De amor à beleza, Ó recanto abençoado do Brasil! Onde o Cruzeiro do Sul resplandece, Capital do trabalho e da paz!

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CASA ESPORTE Desde 1952 é líder no segmento e acompanha a evolução do mundo esportivo oferecendo novas opções em suas quatro lojas, uma delas só para o público infanto-juvenil.

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fundador da mais tradicional loja de artigos esportivos de Campina Grande e região foi o cearense, de Massapê, José Mamede de Sousa. Aficionado e jogador praticante de futebol amador, “seu” Mamede era um homem comunicativo e muito observador, logo percebeu que a cidade naquele inicio da década de 1950 do século XX, apesar do grande número de atletas e praticantes de diversas modalidades esportivas, não tinha ainda uma loja especializada neste ramo. Foi assim que decidiu abrir a Casa Esporte, uma loja que se tornou sinônimo dessa atividade em nossa cidade. Desde a bola até o troféu e medalhas dos campeões, tudo podia ser comprado na Casa Esporte. A loja sempre foi um sucesso e nunca enfrentou nenhum tipo de dificuldade, mesmo com o surgimento da concorrência. “Seu” Mamede esteve à frente de seu empreendimento pioneiro até o início

dos anos 1970, quando assumiu o comando o seu filho José Mamede de Sousa Junior que esteve atuando até o seu falecimento em 2011. Hoje, a Casa Esporte é dirigida pelo jovem e dinâmico empresário Danilo Mamede (com o apoio logístico de sua mãe, a também empresária Roseana Mamede), representante da terceira geração da família que inaugurou a comercialização de artigos e equipamentos esportivos em Campina Grande. A exemplo do avô, Danilo também é um esportista, tendo alcançado a faixa marrom no karatê, esporte ao qual dedicou 10 anos de sua vida. Atualmente ele se dedica ao atletismo na modalidade corrida. Além do tradicional endereço na Rua Venâncio Neiva, 109, a loja tem filiais no Shopping “Luiza Mota” no Catolé, na academia Korpus no Açude Velho e na Rua Maciel Pinheiro, 365, no Centro. Essa filial da Maciel Pinheiro, a Casa Esporte Kids, é especializada na faixa etária que vai de

seis meses até dezesseis anos. Além dos artigos esportivos, todo material relacionado à prática do balé também é encontrado na “Kids”. Nesses 62 anos de vida, a Casa Esporte evoluiu e cresceu acompanhando as mudanças e tendências do mundo dos esportes. A tecnologia de ponta se faz presente para proporcionar segurança e bem estar nas práticas esportivas como, por exemplo, um equipamento de última geração que faz a leitura do pé e indica com exatidão o tipo de tênis adequado para a pessoa, essa máquina está disponível na renovada Casa Esporte. As ultramodernas camisas produzidas com fibras especiais que protegem contra a ação dos raios UV, bermudas térmicas que previnem distensões, óculos especiais e relógios para medição cardíaca durante os exercícios são parte dos mais de 10 mil artigos comercializados pela loja em todas as modalidades esportivas.

Danilo e o pai José Mamede: duas gerações da tradicional Casa Esporte

GRUPO TEM MAIS QUATRO LOJAS ESPECIALIZADAS Além da Casa Esporte, o Grupo Mamede possui também A Bola (antiga concorrente que foi incorporada ao grupo), na Rua Vila Nova da Rainha; a Speed Runner que é voltada para toda evolução esportiva da atualidade, na Rua Venâncio Neiva, 59, no Centro, e a Classic Shoes, especializada na moda “casual” que mescla esportividade com conforto, segurança e elegância, em dois endereços: Shopping Luiza Mota e na Rua Cardoso Vieira, 189-A, no Centro.

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CHICO MARIA

“ERA UMA CAMPINA GRANDE...”

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a longa caminhada terminou aqui. Não mais a busca rumo ao litoral de Pernambuco, pela eternidade de Olinda ou pelo cheiro do açúcar dos velhos engenhos de Goiana. Tangerinos e almocreves, eles vieram do sal do Rio Grande do Norte ou dos mares bravios do Ceará. Caminharam raios de sol e a poeira das secas, pelo traçado dos rios e nas alturas das serras, na esperança de uma nova conquista, fiéis ao exemplo dos ancestrais-bandeirantes audazes. E eles chegaram. Vieram de longe, de muito longe. Da distancia dos caminhos e da demora do tempo. Nos trapos da sandália o pó dos atalhos e veredas. E chegaram, cansados. Desfeitos os matulões, arriaram o corpo de trabalho e suor e dormiram abraçando a terra. Os primeiros raios já os encontraram nos preparativos para a batalha decisiva pela conquista da terra encontrada.

Uma campina, grande, do tamanho dos seus sonhos, incrustada no alto da Serra, como um presente do Céu. Armada a tenda, fincaram as estacas do trabalho e amor eternos, jurados de joelhos, na força da fé, no impulso do destemor. Tropeiros de um novo tempo, aqui plantaram a própria vida, esquecidos o cansaço, as paisagens vencidas, pela certeza de que ali estavam começando o presente e construindo o futuro. E a terra se fez mãe e mulher, na oferta do seio farto, para que deles tirassem o sustento da existência, ali começada. A lembrança da penosa caminhada, deles fez uma só vontade, na perseguição de um mesmo horizonte, tecendo uma mesma manhã. E deram-se as mãos. Trataram a terra, regando a semente com suor e lágrimas. E o sonho se fez realidade. Das entranhas desabrochou uma semente. Não mais uma campina, grande. Surgiu uma nova Canaã: Nasceu Campina Grande!

RUA MARQUÊS DO HERVAL, Nº17 CENTRO CAMPINA GRANDE - PB 83

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