Revista atualizada sesqui

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MEMÓRIAS DA TURMA
Edição Comemorativa • Porto Alegre, RS • 2022
MODELO 3

Serenidade para aceitar o imutável, Coragem para mudar o possível, Sabedoria para conhecer a diferença.

Mensagem do Coronel Plácido na Abertura do Ano Letivo de 1966

“...apenas conquistaram o direito de tomar par te na grande batalha pelo saber, porque aqui não há distinção de nome, credo, côr ou origem”.

Meus caros alunos!

Iniciamos, hoje, nossas atividades relativas ao ano escolar de 1966.

Estão alegres nossos corações, chocam-se em nossos espíritos mil e um sentimentos por vê-los reunidos novamente, para unidos e confiantes conti nuarmos trilhando esse caminho que vos conduzirá aos píncaros da glória, para felicidade vossa e de vos sos pais, que almejam ver concretizados vossos so nhos de jovens, alicerçados nos sagrados princípios do patriotismo.

Esperamos que as merecidas férias vos tenham proporcionado um sadio repouso, que vossas fôrças estejam retemperadas, a vontade de vencer seja re dobrada e que vossos pensamentos estejam voltados para o provir.

Durante vossa ausência realizamos um trabalho consciente e intenso, procurando sanar fa lhas e aprimorar o que julgamos certo, a fim de oferecer-vos um ambiente de entendimento, de concórdia, uma mão afetiva, estudo, compenetração de responsabilidade e um entusiasmo contagiante.

Rearticulamos o ensino de acordo com a nova orientação e planejamos minuciosamente a atividade diária do nôvo ano letivo, dentro do bom senso e nossas possibilidades.

Cada detalhe do ensino, da disciplina e da administração foram cuidadosamente examinados e encaixados dentro de um todo harmônico e consciente, procurando dar-vos momentos de alegria e bem estar.

4 | Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência Cel. Plácido de Castro Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre

Para vós, meus caros alunos, estarão voltadas as nossas atenções e esforços no sentido de que haja progresso nos estudos, no fortalecimento da disciplina consciente, no desenvolvimento físico e na formação de vosso caráter porque brevemente sereis a expressão do provir.

Aos novos alunos, que hoje recebemos com imensa alegria, apresentamos os nossos cumpri mentos pela brilhante vitória alcançada no concurso de admissão.

Queremos lembrar que apenas conquistaram o direito de tomar parte na grande batalha pelo saber, porque aqui não há distinção de nome, credo, côr ou origem.

Os louros obtidos são realmente significativos, mas ainda pequenos diante do que terão de conquistar.

Lembro, ainda, que acabaram de ingressar num colégio diferente dos demais, dada a sua ca racterística militar.

Terão a obrigação de proceder dignamente, para manter bem alto o nome que o Estabele cimento desfruta, pois o seu conceito e a sua tradição são patrimônios que orgulham vossos superiores e camaradas.

Ao ingressarem nessa Cidadela da fé e da disciplina, todos vós tereis o dever de perpetuar o legado de caráter, fibra e educação cívica de nossos heróis e antepassados, de honrar a farda, compreender e respeitar os superiores e camaradas.

Aos professores, nossa satisfação de vê-los dispostos e unidos para continuar a mais nobre e a mais sagrada missão do homem: “A DE EDUCAR”!

Por isso, nos sentimos honrados em poder, no cumprimento do dever, apoiar o ensino com maior prioridade, não esquecendo que pelo exemplo educamos, e educar não é apenas “ENSINAR”, é, isto sim, “AJUDAR O ALUNO A APRENDER”.

Meus caros alunos, sêde felizes durante o ano letivo que, nesta data, iniciamos.

JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO NOGUEIRA Cel. Comandante do CMPA

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
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1º/03/1966.

EDITORIAL

GUARDAR A HISTÓRIA É COMEMORAR

O PASSADO E ACREDITAR NO FUTURO.

Oregistro histórico é o tônico da memória e ele tem de retratar a verdade, colhida de documentos da época e de relatos de quem viveu e/ou testemunhou os fatos narrados.

Com esse pensamento, empreitamos o pro jeto que, hoje realidade, buscou narrar a passa gem de um grupo de garotos, iniciada em mar ço de 1966 até dezembro de 1972, pelo Colégio Militar de Porto Alegre e também para homena gear esta instituição que ajudou na nossa forja como homens e cidadãos.

O grupo inicial era formado por meninos de todos os cantos do Brasil. Para a maioria deles, uma vitória, o início de um sonho; para alguns outros, mais uma etapa na vida e, para raros ca sos, a derradeira tentativa dos pais de “não tens mais jeito, vais para o Colégio Militar”.

Ao ingressarem pelo Pórtico Monumental do CMPA, sob os aplausos dos familiares, mar chando inseguros e encabulados, com os olhos assustados, mal sabiam que aqueles eram os primeiros passos de grandes aprendizados, en saios de camaradagem e formação de amizades que transpassariam os obstáculos do tempo e das distâncias.

Muitos se agregaram, assim como muitos outros partiram para novos desafios. Esta mes cla dos que estavam com os que chegaram e

a saudade dos que deixaram o grupo formou a Turma do Sesquicentenário da Independência do Colégio Militar de Porto Alegre que agora comemora 50 anos da sua formatura naquele educandário.

Para que esta publicação fosse possível, mui tas foram as colaborações, as esferas oficiais que permitiram e facilitaram as pesquisas, aqueles que ajudaram no financiamento do projeto e, o mais importante, os membros da Turma que narraram suas experiências e ou que confirma ram as narrativas, que forneceram fotografias, que estimularam o trabalho e torceram pelo re sultado final (foram muitos).

Os conteúdos publicados foram divididos em duas grandes fases: a primeira, que marca o período escolar (1966-1972) e a segunda, que contextualiza a amizade formada, fonte maior da comemoração.

Todos os dados publicados são resultados de trabalho de pesquisa nos arquivos do CMPA e narrativa dos agentes com a devida e necessá ria verificação pelas testemunhas dos fatos.

Muito ficou fora da publicação e poderá ser utilizado na Revista do Centenário. Até lá!

6 | Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência

OS MENINOS CALOUROS DE 1966

| OS FATOS

Em 1º de março, data do ingresso, o Jornal Correio do Povo exibia sua manchete com des taque: “Castelo Branco anuncia o novo mínimo e a reformulação da estabilidade”.

O ano de 1966 foi repleto de acontecimen tos importantes no mundo todo, mas nenhum deles teve maior relevância aos estudantes que se inscreveram para realizar as provas de ingres so a uma das escolas mais tradicionais e fortes do Rio Grande do Sul, o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).

Os meninos sabiam o quanto era difícil con seguir uma vaga, pela alta exigência do concur so, executado em fevereiro daquele ano, por filhos de civis, e, em dezembro de 1965, por filhos de militares. A disputa era acirrada e o número de aprovados foi baixo, fato noticiado nos jornais.

No começo de março, 109 meninos inicia ram sua jornada. Entre assustados, confiantes, tímidos ou curiosos, todos vestiram seus novos uniformes e embrenharam-se nos corredores ainda desconhecidos do chamado Casarão da Várzea, onde aprenderam rapidamente o que significava ser um “baleiro”, mas também sou beram o real sentido das palavras responsa bilidade, hierarquia, lealdade, conhecimento, companheirismo e amizade.

Na mesma capa, o jornal anunciava um aci dente aéreo que resultou na morte de dois as tronautas norte-americanos.

Em 13 de setembro de 1966, era criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, ano também da formação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

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Porto Alegre era uma metrópole em ascen são. Com 641.173 habitantes, (Censo IBGE de 1960) a capital era considerada uma das mais belas cidades brasileiras.

O Cinejornal Informativo número 127, do Arquivo Nacional (Agência Nacional), mostrava a importância social e econômica de Porto Ale gre, com imagens da época.

Na área do esporte, o Campeonato Gaúcho de Futebol foi vencido pelo Grêmio. Em 21 de fevereiro de 1966, o ídolo Pelé, Edson Arantes do Nascimento, casava com Rosimeri dos Reis Choibi.

De 11 a 30 de julho deste mesmo ano, era realizada a 8ª Copa do Mundo na Inglaterra, que teve o país sede como campeão. O Brasil não passou da fase de grupos.

Na televisão, os seriados hipnotizavam jo vens e crianças, como Viagem ao Fundo do Mar, A Feiticeira, Batman e Robin, Jeannie é um Gênio, Jornada nas Estrelas, O Túnel do Tempo, Perdidos no Espaço, Tarzan e Thunderbird, entre outros.

Aponte a câmera

| OS BONDES

Os barulhentos bondes elétricos da Carris ain da cruzavam a cidade, em viagens que renderam centenas de histórias. Aqueles que utilizavam este meio de transporte formavam quase uma fa mília e muitos pais confiavam seus filhos aos mo torneiros, para que levassem as crianças à escola.

| UM ANO MUSICAL

As músicas que mais tocavam no ano de 1966 embalaram muitos casais, como “Summer Wind”, com Frank Sinatra, ou “When a Man Loves a Woman”, cantada por Percy Sledge. Os jovens, porém, preferiam a revolução que os Beatles causavam na década de 60, mudando hábitos, moda e gosto musical, mas também fazia su cesso a Jovem Guarda.

Em setembro e outubro de 1966, foi realiza do o Segundo Festival de Música Popular Bra sileira, no Teatro Record em São Paulo. A músi ca “A Banda”, de Chico Buarque, empatou com “Disparada”, interpretada por Jair Rodrigues. Os meninos do CMPA seguiam seu rumo.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência Bondes - Década de 1970
Fonte:
Shigueru Nagassawa - Agência RBS
de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo
The Beatles, os quatro garotos de Liverpool

EDITORIAL PRIMEIRA PARTE

Quando ingressamos no colégio, há 56 anos, tínhamos muitas expectativas, mas pouco conhecimento das experiências que iríamos vi venciar. O colégio era, exclusivamente, masculi no, com alunos de idades que iam dos onze aos dezoito anos. Com regime de internato e semi -internato. Na maioria dos dias da semana, em tempo integral, manhã e tarde, atuava com as mais variadas atividades: aulas, educação física, instruções militares, hora de estudo.

A infraestrutura do colégio era excelente, um lugar protegido, com muitas salas de aula, biblioteca, laboratórios, enfermaria, refeitório e um pátio enorme, com canchas de futebol,

basquete e vôlei, numa área muito grande para as instru ções militares e formaturas, bem como para as reuniões de alunos nos intervalos de aulas e recreio, momento que nós curtíamos e nos divertía mos muito.

Naquele pátio, recebí amos nossas instruções de Ordem Unida, admirando as evoluções diferenciadas dos colegas que integravam a guarda Porta Bandeira, e pra ticávamos para nossa partici pação nos desfiles de Sete de Setembro. Ali, desfilávamos todas as manhãs e “lagarte ávamos” no sol de inverno durante os intervalos das au las. O pátio era o quintal dos alunos internos que, quando podiam, davam suas escapadas para o Bar do Beto, ou uma es ticada até o Instituto de Educação, a chamada “4ª Companhia”.

Passando o Portão da Guarda, encontráva mos o Parque Farroupilha, ou a Redenção, ver dadeira extensão do Colégio, palco das aulas de Educação Física e das disputadas Olimpíadas.

Aquelas quatro alas do Colégio, certamente, têm muitas histórias para contar e vamos nos valer das memórias dos colegas para trazê-las, assim como muitas outras vividas fora do Colégio.

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Colégio Militar com iluminação especial nas comemorações dos 100 anos

REFLEXÕES ACERCA DO CONTEXTO EM 1966

Oano de 1966 se iniciava, para nós, com muitas novidades, como um novo ciclo na vida, e com muita ansiedade e a pre paração do “enxoval”, ingressávamos no Colégio Militar de Porto Alegre.

Para o mundo, as novidades também eram muitas, vivíamos o auge da guerra fria, a dispu ta espacial em pleno andamento, o conflito no Vietnã se ampliava, os conflitos sociais se espa lhavam, a América do Sul passava pelos chama dos “anos de chumbo”.

da contrarrevolução de 64; o prefeito de Porto Alegre era Célio Marques Fernandes. Eleito vere ador pelo PSD, assumiu a Prefeitura no lugar de Sereno Chaise, cassado pelo novo regime.

No Brasil, os militares estavam no poder e uma nova Constituição estava em preparação, o Rio Grande do Sul era governado por Ildo Mene ghetti. Eleito pelo PSD, aderiu à Arena, quando

Porto Alegre vivia, a ressaca dos Jogos Mun diais Universitários de 1963, empreitada fan tástica enfrentada com muita eficiência pela cidade, deixando, como legado, um pulo de modernidade no planejamento urbanístico, mas, ainda, recortada pelos trilhos dos velhos bondes elétricos.

Nos esportes, o Brasil se preparava para pôr em disputa o seu título de bicampeão mundial de futebol; os norte-americanos e russos eram os adversários a serem batidos nos esportes olímpicos.

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Em 1969, a histórica chegada do homem à Lua Prefeito Célio Marques Fernandes (a direita na foto)

Os movimentos sociais, principalmente dos jovens, começavam a chegar ao Brasil, os ca belos cresciam, as ideias afloravam, as canções embalavam os dias e as noites nos movimentos das minissaias e das bocas de sino e, com elas, as drogas iam ocupando espaços cada vez maio res, no cotidiano da juventude.

Nossa opção, no entanto, era a vida cas trense, de muito estudo, disciplina, cabelo zero, uniforme (que nada tinha de bonito), mas sem abrir mão de ser jovem e feliz.

A tecnologia engatinhava, os carros ganha vam câmbio de quatro marchas, no chão, rádios com toca fitas e alto-falantes potentes, o “fusca” era o queridinho da rapaziada.

O terno de linho era o principal traje mas culino, a calça “Lee” chegava ao mercado brasi leiro, ponto de compra no porto da Capital, nos navios mercantes. A concorrente nacional era a calça de “brim coringa”, fabricada pela Alparga tas, rejeitada pelo mercado jovem.

A telefonia passava a ter discagem direta para as ligações urbanas, às numerações das linhas telefônicas era agregado o quarto algaris mo, mas, ainda, era necessária a interferência da telefonista nas ligações interurbanas.

As reuniões dançantes eram o ponto alto da diversão, whisky a go go, cuba libre, caipirinha, gim com tônica, cerveja, as bebidas populares, a moda era fumar cigarros: Marlboro, Continen tal e Hollywood com filtro, Marlboro e Free, que tinha uma versão mentolada, nacionais con corriam com os importados Parliament, Camel, Palmall, Kent, Dunhill…

Os cadernos escolares, agora, com espiral, caneta esferográfica com ponta retrátil, algumas até com quatro cores e as canetinhas coloridas; as provas mimeografadas com cheiro de álcool eram sucesso; os projetores de slide e retropro jetores abrilhantavam as aulas.

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EXPEDIENTE Grupo Gestor Coordenador Geral: Jayme Luiz de Souza Pinent Cooordenador Administrativo: Renato Dias da Costa Aita Coordenador Operacional: Cylon Rosa Rodrigues de Freitas Grupo Editorial Flávio Eichenberg Campello Homero José Zanotta Vieira Itacyr Omar Leitune Leonardo Roberto Carvalho de Araujo Márcio Baldino Karam Ricardo Fogliatto Madaleno Sérgio Luiz Duarte Zimmermann Data da Edição: 11/2022 Impressão: Gráfica Pallotti, Santa Maria (RS) Jornalista Responsável: Erika Hanssen Madaleno - Registro Profissional 4728 MTB Designer Gráfico: Juarez Rodolpho dos Santos Revisão: Dizy Ayala Projeto Revista Comemorativa Cinquentenário de Formatura da Turma Sesquicentenário da Independência – CMPA Os relatos dos escritores não refletem, necessariamente, o espírito ou opiniões dos AA editores. As fotos publicadas fazem parte do arquivo pessoal dos Antigos Alunos.
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