Revistapzz18lemos

Page 58

DOCUMENTÁRIO avivação da memória lemista. Nesse ano do traslado dos restos mortais do Intendente para Belém, o jornalista Carlos Rocque publicou o livro Antonio Lemos e sua Época, obra encomendada pelo prefeito Nélio Lobato, para fazer parte dos eventos de retorno das cinzas de Antonio Lemos. Rocque propôs-se a fazer uma “análise fria” para que “o leitor sinta com mais crueza ou mais realismo”. Compartilhando com autores que escreveram no início do século XX, ele deu ênfase aos embates político-partidários e às vozes dos biógrafos lemistas, desprezando um olhar social que pudesse trazer à cena os indivíduos anônimos, os trabalhadores da cidade, a gente simples que circulava nas ruas, atores dessa história construída em fragmentos. O autor, ao mesmo tempo em que tenta justificar a neutralidade de sua

“A Província do Pará” o melhor jornal de todo o Norte, e sem qualquer exagero, um dos maiores do Brasil; transformou...”. análise, enfatiza que não saberia dizer em que Lemos foi mais perfeito, visto que: Como político, criou a maior oligarquia que já houve no Pará, enfrentando os mais respeitáveis nomes do republicanismo local; como jornalista, fez de “A Província do Pará” o melhor jornal de todo o Norte, e sem qualquer exagero, um dos maiores do Brasil; como administrador transformou a pequena Belém em uma das mais modernas metrópoles do país. Trata-se de uma análise fragmentada muito comum nos escritos biográficos de então, lembrando que Carlos Fernandes, um dos primeiros biógrafos de Lemos, também havia pensado a sua obra compartimentando as ações do Intendente, no homem, no político, no jornalista e no administrador. Aliás, esta mesma compreensão tinha Romeu Mariz, como se o indivíduo a cada momento tivesse que desempenhar um papel que lhe era atribuído. É sabido que o contexto econômico 58 www.revistapzz.com.br

da época favoreceu a execução de um audacioso projeto de urbanização da cidade, assim como a qualificada equipe de jornalista de A Província do Pará deu-lhe condições para tornar-se chefe de um dos melhores jornais do país, assim como a própria conjuntura política lhe favorecera a sua ascensão política. Isto não quer dizer que não possamos reconhecer a competência do urbanizador e o seu compromisso com a cidade que lhe acolhera, tanto que é possível afirmar que as obras de urbanização sobreviveram ao seu desaparecimento, funcionando como testemunhos de um passado que deverá ser sempre lembrado. Nesse mesmo ano de 1973, dedicado ao sesquicentenário da Adesão do Pará à Independência do Brasil, o his-

toriador Ernesto Cruz, com o patrocínio da Universidade Federal do Pará, publicou um livro em dois volumes, intitulado História de Belém, no qual dedica um dos capítulos a Antonio

“Um verdadeiro urbanista, um artista primoroso, plasmando com o cinzel de sua imaginação a cidade que amava com o enternecimento de um poeta”. Lemos. Nesta obra, o historiador fez questão de ressaltar apenas as obras urbanísticas realizadas na cidade que se transformou em “um ninho de cultura e de beleza [...], por isso não era


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.