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ltural também de peso metafísico, inclusive: cultura e subjetividade. Neste texto, explicitaremos, a partir da perspectiva de Félix Guattari e Gilles Deleuze, dois expoentes do pensamento filosófico contemporâneo, os conceitos de subjetividade, cultura e identidade, suas imbricações no processo de subjetivação contemporânea, através do qual se fabricam sujeitos, estabelecem-se prá-

ticas discursivas de controle, vigilância, criam-se identidades postiças, de acordo com as exigências do mercado globalizado, do capitalismo mundial. Para Félix Guattari, a palavra cultura teve vários sentidos no decorrer da história: o seu sentido mais antigo, segundo ele, é o que aparece na expressão “cultivar o espírito”. É a “cultura-valor”, pois revela um julgamento de valor que determina quem tem cultura e quem não tem. Possui um sentido bastante elitista, aristocrático, na verdade: há os que pertencem a meios cultos e os que pertencem a meios incultos. Há um segundo sentido da palavra cultura: “cultura-alma coletiva”, sinônimo de civilização. Surge com a modernidade, com o Romantismo e a revolução burguesa. É o sentido que vai mais nos interessar aqui, pois possui uma relação direta com a noção de identidade, que veremos mais adiante. É um sentido muito democrático, pois não se trata mais de ter ou não ter cultura. Todos têm, todos podem reivindicar sua identidade cultural. É a partir desse sentido que se pode falar em cultura negra, cultura indígena, cultura técnica, etc. Segundo Félix Guattari, esse conceito de cultura se prestou a toda espécie de ambiguidade: serve tanto para as reivindicações nazi-fascistas, cultura ariana, superior, pura, quanto para os numerosos movimentos de emancipação que querem se reapropriar de sua cultura, de sua “identidade cultural”. Há ainda um terceiro sentido da palavra cultura, que corresponde à cultura de massa, a cultura-mercadoria. Neste sentido, não há nem julgamento de valor nem territórios coletivos da cultura. A cultura são todos os bens produzidos: equipamentos culturais, as casas de cultura, as pessoas que trabalham nesse tipo de equipamento, produtores culturais, todas as referências teóricas relativas a esse funcionamento, produção de filmes, cds, livros, etc... Produz-se cultura da mesma forma que se produz cigarros, coca-cola, sabonete. O interessante disso tudo, é que esses três conceitos de cultura estão intrin-

Féliz Guattari, filosofo e revolucionário francês, atuou junto com Gilles Deleuze. Juntos escreveram Anti-Étipo, Capitalismo e Esquizofrenia e O que é Filosofia?. Foi muito longe nesta desterritorialização e criou uma obra na qual o ploblema do desejo singular é inseparável do político, da industria, dainformática, das ijnstituições. Incociente institucional, para além, aquém, junto com o inconciente individual. Coloca o problema da subjetividade - em um sentido diferente da tradição filosofica - no centro das questões políticas e sociais contemporâneas. Teorizou também sobre a questão da transdisciplinaridade.

Para Deleuze, “a filosofia é criação de conceitos”, coisa da qual nunca privou-se (máquinas-desejantes, corpo-sem-órgãos, desterritorialização, rizoma, ritornelo etc.)

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