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de interação entre o público e o universo do conteúdo em questão, podendo seus usuários, inclusive, interferir na própria narrativa. Exemplo dessa prática é o novo livro de ficção @re_vira_volta. Uma experiência em Twitteratura, recentemente lançado por André Lemos.168 A narrativa foi construída em duas contas no Twitter169, sendo a primeira o eixo central da história. Esta, durante a narrativa, remete à segunda, que faz o papel de “alter ego do narrador”. Apresentada como a primeira experiência de literatura sequencial no Brasil, “uma novela via Twitter”, a obra conta a história de um personagem que se vê desaparecendo dos bancos de dados eletrônicos que comandam a vida social. A narrativa cruza referências e citações da literatura (Paul Auster, T.S. Eliot, S. Mallarmé, P. Verlaine, S. Beckett, J.L. Borges, C. Baudelaire) e da música (R.E.M, P.J. Harvey, Lou Reed, Pink Floyd) e se inspira em três eixos: a discussão sobre o livro do futuro, ou o fim do livro; os mecanismos de controle, monitoramento e vigilância, a memória e a existência fragmentada na sociedade informacional do século XXI. Desde o século XX, a indústria cultural já vem praticando narrativas transmidiáticas: exemplo disso é o tráfego de personagens entre os animes e os mangás – os filmes de animação e os quadrinhos japoneses, respectivamente. Com os novos recursos digitais, superproduções cinematográficas são lançadas juntamente com video games e séries de animação para a internet, bem como para as microtelas dos celulares e portáteis, o que faz das narrativas transmídia um foco privilegiado de atenção da publicidade e do marketing, já que estas trabalham no sentido da construção de comunidades, onde se estimula o engajamento e a participação ativa dos internautas, de acordo com os hábitos de mídia de cada um170. Todas as possibilidades já mencionadas são, nesse momento, radicalmente ampliadas a partir do desenvolvimento das mídias locativas – tecnologias e processos info-comunicacionais baseados em localização, isto é, dispositivos, sensores e redes digitais, bem como serviços associados a estes, que reagem ao contexto local. Com base nesses recursos, um consumidor cadastrado em uma rede social onde registrou seus

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O livro foi lançado como e-book pela editora Simplíssimo. @re_vira_volta e @re_viravolta. As contas do Twitter podem ser vistas on-line. Disponível em (http://twitter.com/re_vira_volta e http://twitter.com/re_viravolta). Acesso em 22/09/10. 170 A TV Globo criou, recentemente, o posto de “produtor de conteúdo transmídia”, figura que vai abastecer não apenas os sites dos programas com programação específica, como acontece hoje. Roteirista, esse profissional trabalhará com os autores no sentido da criação de material também para celular, ônibus etc. Grande parte das discussões internas do jornal giram, hoje, em torno do futuro multiplataforma, de acordo com a Coluna Patrícia Kogut no jornal O Globo, em 12/08/2010. 169

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