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Pediatria

NA CONSULTA COM A PEDIATRA: “MEU FILHO NÃO COME”

Essa é uma queixa muito frequente no consultório, onde mães muito ansiosas querem soluções rápidas, remédios ou técnicas que trarão resultados imediatos. Aqui é muito importante o papel do pediatra, que precisa ter conhecimento para conduzir a situação.

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Transtornos alimentares são comuns e podem fazer parte de etapas do desenvolvimento normal da criança. A alimentação é um ato de relacionamento do indivíduo com o mundo. A relação que ele vai estabelecer com ela ao longo de toda a vida é fruto da dinâmica das primeiras relações que ele criou com a mãe, família e tudo que estava ao seu redor.

Etapas da criança

No primeiro ano de vida, ela se relaciona com o mundo por via oral. Aos 6 meses, complementa-se o aleitamento materno com alimentos. Aos 9 meses, surge uma nova demanda por autonomia, aparece a recusa alimentar, junto aos acessos de fúria. Aos 15 meses, relaciona-se a alimentação com o ato de brincar; 17 a 20 meses, começa a selecionar os alimentos e quer comer sozinha. Aos 4 anos, há vontade de juntar-se ao grupo familiar e a difi culdade em relação à hora da alimentação é que ela fala demais e não consegue fi car quieta. E aos 5 anos há melhora no apetite, que se acentua por volta dos 8 anos.

A falta de apetite

A falta de apetite ou anorexia é a condição em que a criança não ingere espontaneamente a quantidade de alimento necessária para o seu desenvolvimento, o que pode ocasionar a desnutrição. Na queixa: “meu fi lho não come”, o pediatra observa o peso da criança, se ela mostrar uma evolução do peso em relação à altura menor do que a esperada nas curvas de crescimento, trata-se de uma anorexia verdadeira, caso a criança não apresente alterações, trata-se de uma falsa anorexia, que traduz a preocupação excessiva dos familiares em querer impor superalimentação. A falsa anorexia é a situação na qual a criança come pouco, porém apresenta crescimento e desenvolvimento normais. E a pseudoanorexia está atribuída à recusa alimentar por um problema como difi culdade de mastigação ou condições que provoquem dor ou sofrimento.

Diagnóstico

Na consulta, detalhamos a história alimentar: alimentos oferecidos, como são oferecidos, o intervalo entre refeições, quem a alimenta, como foi a amamentação e o desmame, quando e como notou o início do problema. No exame clínico, verifi cam-se sinais da pele, olhos, cabelos e boca, que estariam relacionados com uma nutrição inadequada.

Causas comportamentais são frequentes e mais difíceis de serem tratadas, pois são determinadas por erros de condutas dos pais, que estabelecem quantidades arbitrárias de alimento, sem considerar o apetite da criança ou consideram que bom apetite é “raspar o prato”. Pais ansiosos desencadeiam uma insistência exagerada, forçando a criança a comer, transformando o momento da alimentação numa “praça de guerra”, diminuindo o prazer na hora de comer. Durante a consulta, a atitude dos pais diante do problema deve ser observada junto ao tipo de relação que eles mantêm com a criança.

Como cuidar da criança

O tratamento da anorexia infantil deve levar em conta a etiologia, causas orgânicas detectadas, as quais são tratadas de acordo com as rotinas pediátricas. Os pais devem ser esclarecidos de que o apetite chega gradualmente e tentativas de “forçar a alimentação” criarão um mecanismo de repulsa.

As substâncias “estimulantes do apetite” são requisitadas pelos pais, para solução da recusa alimentar. Muitas vezes, essas drogas agem como tranquilizantes de uma mãe afl ita, melhorando a relação entre ela e a criança, tendo-se, assim, o aumento do apetite, sendo esta ação transitória, pois as causas fundamentais prevalecem. Em relação à anorexia de origem comportamental, o tratamento é recuperar o prazer de alimentar-se. Para isso, é importante orientar adequadamente e acompanhar os pais quanto às necessidades nutricionais da criança, esquemas e condutas alimentares a serem seguidos.