Revista Ordem dos Médicos Nº162 Setembro 2015

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opinião

são de trombose venosa profunda, pesquisa de pulsos pediosos bilateralmente, entre todos os outros procedimentos que permitiam efetuar um exame global de uma forma fundamentada pela vigilância, contudo também dirigida ao motivo de consulta, com maior enfâse aos possíveis sinais de alarme do mesmo. O médico de família francês também observou as crianças e mulheres em consulta de Saúde Infantil, Planeamento Familiar ou rastreio. Raramente os contactos programados tinham muita antecedência, a sua agenda era do doente e este contactava na altura próxima das vigilâncias previstas para a marcação, estando assim responsabilizado por assegurar a sua observação atempada e logo, uma vigilância adequada. O médico estava encarregue do boletim de vacinas e do seu cumprimento, sendo ele próprio a administrar as vacinas nas idades chave. Na Suíça, a ressalva deve-se à multivalência do clínico, uma vez que o médico suíço que a interna acompanhou era médico de família com formação em medicina estética, com larga experiência hospitalar e com abordagens completas e inovadoras na sua consulta. Praticamente todos os dias surgia uma situação de intervenção dermatológica agendada, com a histologia recolhida rapidamente por um funcionário do laboratório com o qual trabalhava em parceria. O laboratório de análises do consultório dava resposta às análises gerais, com a colheita efectuada dentro da consulta, e quando necessários parâmetros mais específicos, sem resposta no laboratório interno, as colheitas eram envidas ao laboratório externo. Era também o médico também administrava 70 | Setembro | 2015

injetáveis de prática comum no local, sempre que prescrito (vitamina B12, Ferro injetável, corticoides intramusculares, entre outros), efetuava radiografias variadas em sala própria de radiologia permitindo um diagnóstico rápido em tempo útil de consulta, todavia eram enviadas para um centro de radiologia para re-observação e relatório especializado posterior. Estes eram alguns dos vários procedimentos que efetuava sozinho, sem recurso a enfermeira ou analista. No que refere ao exame objectivo, na Suíça era mais dirigido, um pouco similar ao que se efetua na consulta de vigilância de saúde de adultos em Portugal. O médico de família não fazia por norma consultas agudas ou de vigilância de saúde infantil (estas estariam a cargo do pediatra), nem as colpocitologias, que ficavam a cargo do ginecologista. A optimização terapêutica dos diabéticos era da responsabilidade do diabetologista, sendo que a referenciação para avaliação pelo mesmo era efectuada logo após o diagnóstico.

O processo de Consulta Na Suíça a interna assistiu à consulta mais cosmopolita de sempre, os doentes eram de nacionalidades diferentes, com diferentes valores culturais e todos acolhidos e tratados de uma forma respeitosa, acolhedora e com uma incrível empatia numa relação médico doente mais do que estabelecida. O médico falava várias línguas e adaptava claramente o seu discurso à língua e à cultura do doente. Logo no inicio da consulta e por cortesia o médico oferecia um café aos doentes.

O tempo de consulta, sobretudo na Suíça, mas também na França, dependia do tipo de consulta e não propriamente se é uma consulta de vigilância ou de doença aguda ou grupos vulneráveis. Não há imposição e é o clínico que define o tempo que cada consulta pode ocupar na sua agenda. Em casos mais complexos, por exemplo do foro psiquiátrico, uma demência ou um problema familiar, o clínico tem o poder de alargar antecipadamente o tempo que previa ocupar nessas consultas, não se sujeitando a atrasar todas as outras consultas. A interna considera esta liberdade positiva, face a realidade que assiste diariamente em Portugal, em que uma consulta mais exigente em termos horários compromete o cumprimento do agendamento estipulado no próprio dia e, se tal ocorre com frequência, pode influências negativamente os indicadores, dada a impossibilidade de criar exceções num sistema único de tempo de consulta determinado e regulamentado para cada unidade de saúde. A empatia dos dois médicos com os doentes da sua lista era incrível, a confiança estava presente e era reforçada pelos doentes assim que se apercebiam que havia outro médico (a interna) presente nas suas consultas.

Os Utentes Os utentes em qualquer parte do mundo são pessoas com potencialidades díspares, contudo nos países onde a interna efetuou o estágio deparou-se com uma população mais organizada, menos reivindicativa, humilde e respeitosa para com o clínico. No nosso país, parte dos por-


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