Revista Ordem dos Médicos Nº149 Abril 2014

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são sinais do apoio à formação pós-graduada e dos esforços reunidos para a sua melhoria. Destes, tive oportunidade em participar no 1º Congresso de Psicologia em Angola, no Lubango, com a comunicação “Quando a vítima se apaixona pelo agressor – o exemplo da Síndrome de Estocolmo” que deu enfoque a uma das problemáticas sociais e culturais da atualidade da violência doméstica; e em Luanda no IX Congresso Internacional dos Médicos em Angola com a comunicação: “Não há saúde, sem saúde mental”, expondo a visão de Portugal. Espero que esta minha experiência de intercâmbio e os contactos através dela estabelecidos contribuam para o incremento de Protocolos de Colaboração entre Portugal e os restantes países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), nomeadamente com Angola, na área da saúde no plano assistencial e formativo, agilizando e facilitando efetivamente, de parte a parte, destacando Portugal como parceiro preferencial de relevo na área da saúde. Muitos são os países que têm acolhido médicos oriundos de vários locais, estando Portugal a destacar-se como país dador, e tendo Angola potencial de recetor, o que aumentaria o número de quadros especializados neste país. Nesse sentido, seria importante o apoio das instituições formadoras à realização de experiências congéneres nas várias áreas, pois os jovens médicos poderão encontrar em Angola oportunidades que no Portugal contemporâneo se apresentam difíceis de alcançar. Espero que o futuro reforce a exigência de atualizar os conhecimentos médicos, de aprofundar o espírito crítico, premiando de forma independente, de modo a melhorar a saúde das populações, almejando que o acesso aos cuidados de saúde seja universal e que os serviços oferecidos sejam progressivamente de superior qualidade.

“A vida é curta; a arte, longa; a ocasião, fugaz; a experiência, traiçoeira, e o julgamento difícil." Hipócrates. As mais-valias que assinalo neste estágio são muitas: a possibilidade de diagnosticar patologias que entre nós não se observam, o descobrir e empregar recursos de naturezas diversas, adquirindo competências no contacto com diferentes sintomatologias e opções terapêuticas, por vezes não tradicionais e até pouco convencionais, aprendendo e compreendendo o valor das diferenças interculturais na área da saúde em geral, e na psiquiatria em particular. De salientar a troca de experiências, a partilha de conhecimentos e toda a socialização com o grupo de pares, fomentando redes de trabalho e a discussão de estratégias profissionais. Claramente de manifesto interesse foi assistir e participar no desenrolar do progresso num país em desenvolvimento que implementa novos métodos. Além da oportunidade de contribuir em Angola na perspetiva clínica e académica com o saber obtido na aprendizagem em curso no Internato de Psiquiatria no Hospital Magalhães Lemos no Porto e no Mestrado Internacional de Políticas e Serviços de Saúde Mental na Universidade Nova de Lisboa, conduzi também em Luanda um projeto de investigação no âmbito dos consumos de álcool e outras substâncias. O trabalho nestas circunstâncias foi um desafio inesquecível e os frutos

desta experiência serão certamente duradouros. Neste ambiente de mudança, os esforços reunidos permitem que cada dia seja melhor, vivendo-se um sentimento de esperança no futuro. Regressada de Angola, espero que a partilha desta vivência sirva de incentivo e apoio - é este o meu intuito. Desejo que esta minha experiência seja um estímulo para reforçar a escolha de países da CPLP para a realização de estágios no âmbito do Internato Médico. Recordarei que o sol nasce só para os acordados, enquanto faço o balanço deste estágio, que é francamente positivo. Deixo lá colegas e amigos, voltando com a sensação de ter em mente projetos para os próximos 100 anos e a vontade de um dia voltar. De Angola trouxe o pensador, a palanca negra, o imbundeiro e o desejo de continuar a aprender todos os dias, com a máxima de que é preciso coragem para ser diferente e muita competência para fazer a diferença. A todos os que de muitas formas me apoiaram, incentivaram e permitiram que vencesse as dificuldades e cumprisse os meus objectivos em Angola, o meu muito obrigada! “Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciência, peçam-me tudo, menos que tape os olhos.” Miguel Torga.

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