6ª Edição da Revista O CONGADO - A fé na Santa do Rosário 2014

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O CONGADO Projeto e Coordenação Reginaldo Ribeiro CNPJ 01.343.898/0001-63 Textos Reginaldo Ribeiro / Leiza Rosa Fotos Reginaldo Ribeiro / Foto Zaga Revisão Prof. José Francisco da Silva Formação em Letras - UFG / Catalão-GO jfranciscoSRP@hotmail.com Projeto Gráfico Rafael Rodovalho 64 3411-6799 / 9924-6722 / rrodovalho.go@gmail.com Impressão Gráfica Imagem

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06

congada

tradição, devoção e fé

O

Congado originou-se na África, no país do Congo, se inspirando no cortejo aos Reis Congos, uma expressão de agradecimento do povo aos seus governantes. Ao receber a colonização portuguesa, vários africanos foram trazidos para o Brasil para serem escravos e, acabaram trazendo esta tradição, mesclada com a cultura local. No Brasil, o Congado é celebrado em várias localidades, como nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, entre outros.    Em Catalão, cidade do Sudeste de Goiás, esta cultura folclórica se mistura a religiosidade e é tradicional há mais de 138 anos. Uma tradição emanada com a devoçaõ e a fé de vários devotos de Nossa Senhora do Rosário. Na cidade, a festa em louvor a santa atrai uma mutidão, de pessoas vindas de várias localidades. Os preparativos começam ao som das caixas, pandeiros e acordeons, sendo ouvido a distância pelos dançadores, os congadeiros que organizam seus ternos para mais uma jornada de

fé e devoção. Desde o mês de julho os dançadores, capitães, general e seus familiares se preparam para mais um ato de fé.    Cada pessoa envolvida nesta grandiosa festa de devoção, dedica-se inteiramente, não somente nos meses que antecedem a comemoração, mas o ano todo. A fé é expressamente estampada no rosto de cada um, perceptível nas lágrimas, nos pedidos de graça, nas homenagens à santa. Uns já nascem com esta tradição no sangue, passada de geração a geração. Outros, tocados pela fé, começam a participar fervorosamente da festa.     Durante a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, no mês de outubro, os dançadores de congado mobilizam suas famílias, irmãos que perpetuam as danças, cantos de devoção religiosa, representados num mosaico multicolorido de vestimentas, estandartes em desfile pelas ruas avenidas da cidade e ao redor da centenária Igreja do Rosário.      Esta obra é uma homenagem àquelas pessoas que ajudaram de alguma forma e contribuem para o crescimento da cultura em nossa cidade. Salve o Rosário!

Dedicatória Dedico este trabalho aos congadeiros de Catalão e região, em especial a José Mário Ribeiro, Maria Aparecida da S. Ribeiro (in memoriam), Pedro Alcino Ribeiro (in memoriam), Carlinda Ribeiro (in memoriam). A minha esposa Luciana Borges da Silva meus aos filhos Clayver Alves Ribeiro, Eithel Alves Ribeiro e ao enteado João Paulo B. Mesquita aos meus irmãos Luiz André, Simone e Alessandra sem esquecer-se dos amigos e antigos que iniciaram a tradição. Reginaldo Ribeiro O CONGADO eD. vi ano 2014



08 O Congado

e a fé

na Santa do

Rosário

C

ores, ritmo, alegria, tradição, fé. Muitas são as vertentes que se podem abordar ao falar sobre a congada de Catalão e a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Porém, pouco se fala sobre as cantigas dos ternos e suas rezas pelas ruas da cidade, um detalhe quase insignificante aos ouvidos alheios, mas de fundamental importância para quem faz parte de um legítimo terno de congada. A história do congado e suas cantigas a partir da tradição do negro africano encantam gerações diferentes da gente catalana e turística. Mais que a recuperação de traços que identificam um sentimento étnico e grupal, durante os dez dias de danças, cantos, crenças e evoluções, as congadas oferecem uma riqueza muito diversa, em cantigas inventadas e reinventadas pelo povo congadeiro.    Originalmente, as congadas são práticas de negros, mas por muitas vezes não há branco que resista ao ritmo dançante e colorido, fundindo-se uma mistura de raças na exaltação da tradição e da fé. Entoando suas cantigas, os brincadores deixam de ser meros cidadãos cotidianos, numa organização social de classes, passam de pessoas comuns para personagens coloridos e alegres, sob os olhares atentos da multidão e os aplausos calorosos da platéia.    Cantam santos que não sabem a história e outros que sabem, e segue a fé, misturada com tradição e ritmo, muito ritmo, o importante para esses donos da festa é acreditar no que estão cantando. O batuque das caixas artesanais contagia até o mais tímido transeunte. Os versos são repetitivos, curtos, fáceis de guardar na memória e no coração, às vezes expressam tristeza e angústia, em que os negros relem-


09 uma verdadeira mistura de religião e ritual africano, a fé que se junta à luta pela liberdade, É o espaço que promove a abolição das diferenças bram seus sofrimentos; outros são cantados em agradecimento a ajudas e farturas, pelas bênçãos alcançadas. Mais que a fé na Santa do Rosário, as cantigas dizem de dores, medos, desejos e da conversão do negro ao catolicismo do branco. A lembrança triste do passado torna-se música para celebrar a festa da fé.    Em Catalão, a Congada é constituída por vinte e um ternos registrados, que todo ano participa da festa, fazendo das Congadas de Catalão uma das maiores manifestações culturais conhecidas no Estado, na região e em todo país. Cerca de três mil e oitocentos dançadores desfilam pelas ruas da cidade, nos ternos, blocos de congo, moçambique e catupé cacunda. Uma verdadeira mistura de religião e ritual africano, a fé que se junta à luta pela liberdade. É o espaço que promove a abolição das diferenças, negros, igreja, comércio e elite local, se juntam para transformar a cidade em palco de folclore e tradição.   A origem – A origem das congadas retorna ao ano de 1.482, na África, período no qual o império do Congo foi aos poucos sendo destruído por Portugal. O título de rei do congo tem um significado especial, equivale ao poder do negro na luta contra o branco português. No Brasil, os escravos saíam em procissão, ao som de atabaques e reco-recos para relembrar as lutas do Congo contra Portugal. Cantavam, dançavam (capoeira e outras danças), até chegar a uma igreja, onde acontecia a encenação de coroação do rei e da rainha.   Dessa encenação surgiram os bailados das congadas, que é inspirado na luta pela liberdade. Os grupos chamados ternos se dividem em cantadores, dançadores e tocadores. Também recebem nomes como congo, moçambique, catupé, vilão, capitães, marinheiro e marujeiro e, é claro, o rei e a rainha. A primeira manifestação registrada por escrito no Brasil foi em Recife, em 1.674. Hoje o congado é tradição em muitas localidades no país. Pode ser compreendida como um meio de expressão de conflitos sociais decorrentes das disparidades sociais entre o escravo e a elite constituída pelas oligarquias, Igreja, e o Estado durante todo o período colonial e regencial.   Em Catalão – Em Catalão a origem da congada se embrenha em várias versões, nas palavras do historiador Cornélio Ramos, “conta o cidadão catalano”, Azamor Neto Carneiro, que seu avô, Pedro Neto Carneiro Leão, descendente da família Montadon, de origem alemã, mudou-se de Araxá - MG para Catalão, com a intenção de tornar-se aqui um grande fazendeiro, o que realmente aconteceu. Depois de estabilizar-se, casou-se com D. Enriqueta

Cristina da Silveira. Ao iniciar sua grande aventura, fez uma promessa a Nossa Senhora do Rosário, Santa de sua devoção em Araxá, que se bem sucedido fosse, haveria de realizar em Catalão, uma festa como ninguém antes realizara, em homenagem a sua Santa protetora.    Decorrido pouco mais de uma década, bem sucedido nos negócios, ficou rico e preparava-se para o cumprimento da promessa, quando foi acometido por uma pertinaz moléstia. Receioso de ser impedido pela morte, chamou á cabeceira da sua cama, seu filho de nove anos de idade, Augusto Neto Carneiro, e pediu-lhe caso faltasse, para pagar sua dívida com a Santa. Faleceu como previra. Augusto Neto Carneiro cresceu e como o pai, prosperou. Já adulto, casou-se com D. Maria Luiza da Costa Neto, filha do Padre Luiz Antônio da Costa Souto. Rico senhor de muitos escravos e também apreciador das festas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, na época realizadas salpicadamente nas fazendas da redondeza, preparou um grupo de negros, mandou-os para Araxá, a fim de aprenderem as regras e técnicas das danças praticadas na terra de seu falecido pai.    De volta, juntou-se este terno aos demais grupos de pretos das várias fazendas da região, formando-se um numeroso agrupamento de dançadores. Cada grupo obedecendo ordens de um ‘Capitão’, e todos, sob comando de um ‘General’. Gastou-se muito dinheiro para dar a todos uma idumentária característica. Quando se achava todo aquele pessoal treinado e preparado para a maior festa a ser realizada em Catalão, surgiu um inesperado obstáculo: o vigário da cidade, Padre Joaquim Manoel de Sousa, não concordou com a realização da festa e desapareceu levando a chave da Igreja.    Todavia, o coronel Augusto Neto Carneiro, desabusado como todos os coronéis daquele tempo, determinado como estava em cumprir a promessa do pai, custasse o que custasse, mandou chamar o rezador de terços. Antônio Romualdo Fernandes, um glutão, também conhecido por Antônio Guloso, para rezar as novenas e cantar as ladainhas. Arrombaram a porta da Igreja e deram início á maior festa até então realizada em Catalão. “Divididos em dois grandes ternos, os negros dançadores foram colocados nas ruas devidamente enfatiotados, providos com seus instrumentos de percussão, de um lado os Congos e do outro os Moçambiques”. Fonte:

“Catalão de ontem e de hoje”, (Curiosos fragmentos de nossa história) Cornélio Ramos O CONGADO eD. vi ano 2014


Grandiosa missa campal, celebrada pelo bispo Dom Guilherme da diocese de Ipameri aos milhares de fiéis de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.



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glossário do

congadeiro

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ão só de aspecto físico se constitui a cultura de um povo. Há muito mais contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas e em diversas manifestações, transmitidas oralmente ou através de gestos, recriadas coletivamente e modificadas ao longo dos anos. Por isso, é reconhecida como patrimônio religioso e cultural num município em franco desenvolvimento no interior do Estado de Goiás.    Divulgar uma das maiores festas folclóricas do Estado, a Festa de Nossa Senhora do Rosário em Catalão, nos faz reconhecer a nossa origem, história,

Levantamento da bandeira – A Festa do Rosário em Catalão tem duração de dez dias, com a alvorada festiva, terços, missas, procissões e entrega da coroa. No dia em que se comemora a nona novena, por volta das 19h, milhares de pessoas participam da procissão acompanhada por religiosos e todos os ternos de Congo, Moçambique, Catupé, Vilão e Penacho ainda sem fardas. Ao final da cerimônia religiosa, são levantadas duas bandeiras, a de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Todos os ternos realizam suas evoluções ao mesmo tempo ao redor dos mastros erguidos, cantando, dançando e batendo as caixas.

Caixa de congo – O ciclo da festa da congada de Catalão em louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito inicia-se sempre no segundo domingo de Agosto, quando as batidas das caixas podem ser ouvidas por toda cidade. Os ternos sempre comandados pelos seus capitães, levam seus oratórios com os Santos de devoção e coreografias. O CONGADO eD. vi ano 2014

fé e a nossa força cultural. Ao evidenciar ao mundo nossa dimensão, a complexidade e a diversidade do patrimônio cultural, promovemos a importância de se reconhecer a beleza, a força, o valor e as pessoas que preservam a tradição dessa expressiva manifestação religiosa existente na centenária cidade catalana.   Esta publicação não pretende aprofundar as reflexões sobre a temática, mas apenas apresentar os grupos de congada que compõem a maior manifestação de fé e cultural da cidade. São esses grupos, as famílias, as pessoas, a alma de tudo, a verdadeira essência de um dos mais ricos e importantes patrimônios vivos de Catalão.

Novena – Durante as novenas são realizadas missas, reza de terços e os leilões que são organizados no Salão de Festa ao lado da Igreja. Os leilões são promovidos para ajudar na elaboração da festa.

Entrega da coroa – Ao final da festa, a comissão festeira sai em cortejo da porta da Igreja do Rosário, acompanhado por todos os dançadores, religiosos, milhares de populares e pagadores de promessa, os ternos de Moçambique são responsáveis por acompanhar a família real, que leva a coroa de ouro. Vale ressaltar, a presença de policiais militares que garantem a segurança. Após anunciar os próximos festeiros e equipe responsável pela festa do ano seguinte, cada terno realiza sua apresentação perante os populares.


13 Visita às residências – Casas simples, muitas vezes também morada de dançadores, filhos, netos e parentes, preparam-se para receber o oratório e a bandeira que todos os ternos de congo trazem. Normalmente o proprietário da casa, oferece aos capitães, dançadores e bandeirinhas, refrescos, biscoitos, bolo, pão de queijo ou mesmo um copo d’água para repor as energias.

Reinado – Composto pelo rei, rainha, príncipes e princesas, que podem ser coroados perpétuos. Sua função é manter uma vigilância constante com orações de proteção e ensinamentos ou como o Rei de Ano, ou seja, o Rei Coroado para a festa daquele ano, cuja função é orar e buscar contribuições para a festa da Irmandade.

Capitães – Divididos em primeiro, segundo e terceiro capitão, cada um com funções especificas dentro do terno.

Encontro dos ternos – Vindo de diferentes localidades da cidade, os ternos se reúnem sempre na Praça em frente à Igreja do Rosário.

Oração – Sempre que os dançadores se reúnem para louvar em nome dos santos, antes fazem um momento de oração. Bastão - É o símbolo de comando dentro dos ternos de congado.

Vestuário – Os moçambiques usam as cores de Nossa Senhora do Rosário, o azul e o branco. Os congos se vestem em cores diversas, significando o caminho, com galhos e flores, para a Senhora passar.

Rainha – Só pode ser substituída quando morrer e sua substituta é uma pessoa da própria família.

Bandeirinhas – Tem o significado da Virgem do Rosário. As meninas vão levando as bandeiras com a imagem dos santos de devoção, sempre à frente dos ternos.

Caixeiros ou dançadores – São tocadores de tambores ou caixas, que dão ritmo aos ternos. Além dos caixeiros temos os tocadores de viola ou violão, acordeom, tamborim, pandeiro, reco-reco e gunga (campanha).

Símbolos – A presença visível do invisível é muito forte nas manifestações de fé do congado. Eles expressam e tornam presente a memória dos antepassados e divindades do povo negro e a fé no Deus criador, Salvador, em Nossa Senhora do Rosário e nos Santos e Santas patronos e protetores das Irmandades. O CONGADO eD. vi ano 2014


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Catalão

está inserida no diA do

folclore

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m 22 de agosto é comemorado o Dia do Folclore e, em Catalão temos uma expressão típica e forte para comemorar esta data. As congadas que fazem parte da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, são uma marca registrada da cidade. A data que comemora o dia do folclore foi criada em 1965 através de um decreto federal. No Estado de São Paulo, um decreto estadual instituiu agosto como o mês do folclore.    Folclore tal como aparece no dicionário pode ser definido como o conjunto de todas as tradições, lendas e crenças de um país. A origem da palavra é inglesa, “folk” significa povo e “lore”, conhecimento, assim, folklore quer dizer “conhecimento popular”. Segundo a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, “constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação”.    Em seu livro “Catalão – Poesias, Lendas e Histórias”, Cornélio Ramos conta a sua versão da origem da tradição das congadas e da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário em Catalão. Ocorre que as primeiras manifestações das congadas na cidade surgiram em 1880. Nas ruas, devidamente enfeitados, com seus instrumentos de percussão os dois ternos de dançadores, de um lado os Congos, de outro os Moçambiques. Hoje, estes grupos se multiplicaram, são vinte e um ternos cadastrados e o que presenciamos, é uma grande festa que atrai romeiros e turistas de várias partes do país. Todo mês de outubro, durante dez dias de festa, Catalão se enfeita com um rancho no meio da rua, na Praça do Rosário, onde se realizam bailes dançantes, leilões e apresentações. Além das inúmeras barracas de comerciantes de outros estados, parque de diversão e muita dança.

Fonte:

http://educaterra.terra.com.br/almanaque/datas/folclore.html O CONGADO eD. vi ano 2014


O manto sagrado sempre hasteado a frente de todos os congadeiros.


Centenas de integrantes do Terno Catupé São Benedito, cantam e dança suas canções inovadoras.



18 José Mário Ribeiro Anos dedicados à congada

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o rosto de José Mário Ribeiro não é possível ver as marcas do tempo, homem forte, de voz firme, é através de suas histórias que tomamos conhecimento dos anos já passados e bem vividos, quase todos eles dedicados à congada. Atualmente ele é segundo capitão do Terno de Congo São Benedito, de Goiânia. Todos os anos, juntamente com o primeiro capitão, Osório Alves e o terceiro capitão, André, José Mário sai em cortejo pelas ruas de Catalão com os dançadores fardados nas cores verde e preto. “Nosso terno tem cerca de 70 integrantes, mas como fica difícil a locomoção de todos, apenas uma parte vem à Catalão participar da Festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário”, diz.    José Mário conta que começou a dançar na congada criança, dançou por muitos anos no Terno de Congo Nossa Senhora do Rosário, fundado pelo pai, Pedro Alcino Ribeiro. O terno ainda existe, mas com outro nome, Congregação do Rosário. Antes disso, passou com o pai por um terno de Moçambique. “Quando era bem criança, com dois ou três anos, meu pai, que era dançador do Moçambique, fez um voto para que eu me curasse de um problema na perna, tinha dificuldades para andar, saiu dançando comigo no colo. Aí comecei na congada, me curei e não deixei de ser dançador”, conta.    Com o passar dos anos, outras gerações entraram para o terno de congo do qual o pai fazia parte, José Mário diz que começou a não concordar com algumas posições e ideias, pois isso deixava de lado algumas tradições que o pai lhe havia repassado, pediu que ele passasse o terno para um sobrinho; no ano seguinte Pedro Alcino faleceu, José Mário preferiu deixar o terno. Mudou-se para Goiânia e lá Osório Alves o convidou para fazer parte do Terno São Benedito. “Fui muito bem recebido, estava há um ano sem dançar e me sentindo triste com isso, entrar para um novo terno me deu ânimo e energia”, diz.    José Mário se apresenta com o terno em Goiânia durante a festa que acontece em setembro, também em louvor à Nossa Senhora do Rosário.

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Me criei nesse meio, aprendi a respeitar e herdei a fé que meus pais tinham, quando eu vestia uma farda de dançador me sentia um anjo Em outubro recebe os companheiros em Catalão. Nos fundos de casa mantêm um cômodo repleto de colchões e utensílios de cozinha, ao lado está outro cômodo onde guarda as caixas que ele mesmo confecciona com o couro que encomenda na cidade, caixas cuidadosamente elaboradas. Tantos cuidados para que o terno saia bonito e bem preparado; além das caixas, os integrantes utilizam violão, pandeiro e acordeom, batidas e som que José Mário guarda na lembrança e em algumas fitas K-7 que conserva com cuidado.    Ele conta que as músicas são criadas por ele e pelos outros capitães espontaneamente no momento da marcação. Mas faz questão de cantar sempre uma antiga canção de Léo Canhoto e Robertinho. A voz afinada dá vida à memória: “Eu queria conversar, com Jesus no infinito, sei que ele está me ouvindo, minha voz e o meu grito”. Não deixa de seguir todos os ensinamentos do pai, também lembra da mãe Carlinda, muito devota de Nossa Senhora, benzedeira. “Me criei nesse meio, aprendi a respeitar e herdei a fé que meus pais tinham, quando eu vestia uma farda de dançador me sentia um anjo, era uma emoção muito grande”, lembra.    José Mário diz que fica triste porque percebe que os ternos hoje em dia têm muitos integrantes, mas boa parte dançam apenas por vaidade, não por fé ou devoção. “Danço até hoje pela minha fé, ensinei isso aos meus quatro filhos. Todos já dançaram, mas não fazem mais parte de nenhum terno”, conta. Além de dançador e capitão, José Mário organiza um encontro que começou quando a esposa Maria Aparecida ainda era viva, toda quinta-feira à noite se reúne com outros devotos para rezar o terço. Atualmente, mais de cem pessoas frequentam o terço, cada semana num local. “Rezamos no ritmo da congada, levo as caixas e cantamos as orações, somos bem recebidos onde vamos. Não pretendo abandonar a congada nunca, a fé me move”, diz.    Histórias guardadas na memória, lembranças de um congadeiro nato. A emoção de fazer parte da congada e o louvor a Nossa Senhora do Rosário acompanham sempre José Mário, no olhar, nos gestos e, principalmente, nas palavras, guiando o Terno São Benedito à celebração da fé.



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Eduardo Camilo

De dançador a general

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duardo Camilo traz no coração a felicidade e o orgulho de fazer parte das congadas de Catalão há quase quarenta anos. “Comecei aos cinco anos de idade, dançando no terno do meu tio, Congregação do Rosário, seguindo a tradição da família; comecei nas fileiras, depois passei a dançar na guia, fiquei no terno 35 anos”, conta. Pedro Alcino fundou o terno que hoje é dirigido pelo neto Roberto, primo de Eduardo, terno em que o pai Antônio Camilo também fez parte como dançador. Depois de todos esses anos, Eduardo quis conhecer outro terno e foi fazer parte do Moçambique Coração de Maria. “Sempre achei bonita a batida do Moçambique”, conta. Por dois anos saiu às ruas com o terno. Mas com a morte do primo Eurípedes Rita ano passado, que era Rei, a irmã dele, Eloene Rita convidou Eduardo para ser segundo general, para substituir Cleiber, o sobrinho que ocupava o posto e passou a ser Rei da Congada com a morte do tio. “Num primeiro momento eu hesitei, porque requer uma responsabilidade muito grande, além disso eu ia ficar fora do terno e não poderia vestir a farda de dançador para sair às ruas, por falta de tempo, mas deixei essa decisão nas mãos de Nossa Senhora do Rosário e ela intercedeu para que eu me tornasse general”, conta.    Eduardo acompanha o primeiro general Dimiro, durante os ensaios dos ternos, o ensaio geral, uma semana antes da festa começar e em todos os dias de festa. “Nossa responsabilidade maior enquanto generais é conduzir os ternos nos cortejos, na alvorada, percorrer os ensaios, orientar os capitães, tudo para que a festa seja organizada e tenha uma unidade”, diz. Ele conta que ficou muito feliz com a recepção que teve em seu primeiro ano

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A dança é bonita, as fardas também, mas eu sempre frisei para que a devoção e a fé aparecesse mais que tudo isso como general, por parte de capitães e dançadores. “Fui muito respeitado, acho que até pelos anos de convivência na congada fui bem aceito, isso facilitou meu trabalho”, diz.    No ensaio geral os ternos se apresentam para os generais para que esses autorizem a participarem da festa, caso esteja tudo certo. Durante os dias da festa os dois generais se revezam para acompanhar os ternos, bem como na entrega da coroa. Eduardo conta que sempre foi católico e devoto de Nossa Senhora do Rosário, por isso preza muito para que os dançadores dancem e cantem em louvor à santa. “A dança é bonita, as fardas também, mas eu sempre frisei para que a devoção e a fé aparecesse mais que tudo isso”, diz.    Segundo Eduardo, desde a primeira reunião realizada entre generais e capitães durante o ano, pediu para que Nossa Senhora fosse ressaltada nos cânticos e a fé elevada, louvar sempre, em qualquer circunstância. “Os ternos mudaram, houve evolução, crescimento, acredito que os mais jovens dançam com menos louvor que os antigos capitães e dançadores, por isso estamos frisando muito isso, pois se tiver fé e louvor tudo continua; colocando Nossa Senhora na frente a festa nunca vai acabar, porque em todo terno tem idoso, tem jovem e tem criança, isso é continuação”, disse.    Na casa do general o altar com a imagem da santa de devoção fica montado o ano todo. Ali, num canto especial da sala, Nossa Senhora do Rosário recebe com boas vindas e bênçãos. O general Eduardo será sempre o dançador; no coração a alegria de exercer um ofício por fé, nos olhos a emoção e na alma a farda de um congadeiro. “Vou lutar para que essa tradição nunca acabe e enquanto Nossa Senhora me der forças estarei aqui”, diz, orgulhoso de sua tarefa.



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Silésio Teixeira

O segundo capitão do terno Vilão II cresceu na Congada

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uem olha para o jovem Silésio Teixeira não imagina o tamanho da responsabilidade que ele tem nas mãos, todo outubro ele veste a farda e sai às ruas como segundo capitão do Terno de Congo Vilão II. Aos 26 anos, comanda com o tio Eurípedes, primeiro capitão e José Carlos, terceiro capitão, os mais de cem dançadores vestidos de laranja, azul e preto. Os ensaios começam no segundo domingo de agosto na porta da casa de Silésio e Ana Cristina, a esposa que ele conheceu dentro da Congada e que dançou no terno do Prego por muitos anos.    Com caixas, facões, cambitos e as manguaras enfeitadas de fitas coloridas, o Vilão II entra em cortejo e dança para louvar Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e encantar os catalanos com suas coreografias famosas e cheias de estilo.    Silésio conta que começou a dançar congo ainda criança, porque essa sempre foi uma tradição na família. “Meu avô trouxe o terno de Minas, então sempre fiz parte de um terno da minha família, ele e meu tio viram que eu tinha talento, me colocaram como caixeiro, depois passei a capitão, isso faz uns seis anos”, conta.    Ele diz que a responsabilidade em ser capitão é diferente, porque esse é um posto que exige alguns deveres. “O dançador preocupa em cumprir os horários, vestir sua farda e fazer uma boa apresentação. O capitão tem essas mesmas preocupações, só que com todos os integrantes do terno; confere os instrumentos e dirige tudo, então é mais corrido”, conta Silésio.

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quem quer se tornar um dançador tem que querer de verdade, gostar muito, ter disciplina e ser devoto de Nossa Senhora do Rosário    Silésio diz que todo ano tem pessoas querendo entrar para o terno, outras que optam por deixar o grupo, e são os capitães que elas procuram. “Não tem exigência, mas quem quer se tornar um dançador tem que querer de verdade, gostar muito, ter disciplina e ser devoto de Nossa Senhora do Rosário”, diz. O capitão teme pelo futuro dos ternos e da própria festa, não queria que os mais jovens deixassem de seguir a tradição passada pelos pais e avôs. “As mudanças sempre acontecem, há interferências, o que não pode é acabar, no que depender de mim, enquanto eu tiver vida vou seguir em frente”, diz.    Silésio diz que gosta muito da congada, não há como não fazer parte de algo que está inserido na família desde que ele nasceu. “Qualquer mudança dentro do Vilão depende do meu tio Eurípedes, hoje ele é o dono do terno, há uma hierarquia que deve ser respeitada”, diz. Continua seguindo os ensinamentos do tio e do avô.    As fardas são de responsabilidade de cada dançador, as manguaras também, os instrumentos são confeccionados, as caixas, por exemplo, são feitas na casa do tio Eurípedes, com couro de verdade. Quase todo ano é preciso fazer novas ou restaurar alguma. Para Silésio, a motivação de seguir todos os anos na festa é Nossa Senhora do Rosário. “É muito trabalho, nós organizamos o terno o ano todo, capitão não tem descanso, então a fé e a devoção na santa é o que me move”, diz.    Desde criança e para sempre, o jovem capitão que foi criado no meio da congada sabe da responsabilidade e cultiva a alegria de ser um eterno congadeiro. Seu amor a tradição da festa é visível em sua vivacidade e inovação no comando do Vilão II.



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Matheus Alves

O jovem capitão moçambiqueiro

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atheus Henrique Alves é daqueles jovens que começou criança na congada e decidiu ficar. Aos 20 anos já segura o posto de segundo capitão do terno Moçambique Mamãe do Rosário. “Lembro que estávamos nos apresentando em frente à Igreja do Rosário e o Diogo, que é o primeiro capitão do terno me pediu ajuda para marcar, foi no susto e na vontade, um desafio que venci no momento”, conta Matheus. O convite oficial para ser capitão veio depois e, apesar da responsabilidade tão grande, Matheus aceitou, este é o terceiro ano que sai às ruas com a farda de capitão. O terno ainda tem um terceiro capitão, Fabrício Alves.    Mas a história desse jovem na congada começou bem antes. Matheus lembra que tinha cerca de quatro anos de idade quando vestiu uma farda de dançador pela primeira vez, levado pelo pai, João César Alves, dançador do terno Congregação do Rosário. De lá só saiu para ir para o Moçambique. “Há muitos anos dançando no terno com o meu pai, certo dia recebi um convite do Diogo para dançar como convidado no terno Moçambique São Jorge Guerreiro, de Ouvidor. Depois ele me convidou pra dançar no Moçambique de Catalão, aceitei, porque era uma novidade boa pra mim”, conta.    Mateus começou como dançador, mas o posto de segundo capitão foi deixado, então Diogo precisou de ajuda e convidou o companheiro. No dia que começou a marcar ele conseguiu improvisar e deu

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Sou apaixonado por essa festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário, a fé me motiva sempre, não pretendo nunca deixar a congada e a tradição certo. “Primeiro eu cantei um verso conhecido, ‘Oi sinhô, oi sinhá, me deixa entrar na igreja, deixa eu rezar’. Depois pedi inspiração à Nossa Senhora para conseguir cantar e louvar à ela”, lembra. Ele conta que sempre admirou o terno de Moçambique, só faltava o convite para participar. É claro que precisou aprender a tocar novos instrumentos, mas com dedicação tudo foi possível.    A mãe de Matheus também faz parte de uma família tradicional na congada, do terno Catupé Amarelo, a irmã já foi bandeirinha, os tios e primos são dançadores, está realmente no sangue da família. “Sou apaixonado por essa festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário, a fé me motiva sempre, não pretendo nunca deixar a congada e a tradição, no que depender de mim, vai continuar”, diz. Matheus conta que o capitão tem que ter um punho forte, inspiração para cantar, tocar todos os instrumentos e saber a história da congada, muito além de vestir uma farda. O Moçambique que ele dirige juntamente com Diogo e Fabrício tem cerca de 120 componentes, além disso, o terno é responsável por conduzir a coroa de Nossa Senhora no dia da entrega aos novos festeiros. “Tenho respeito de todos, mesmo sendo mais jovem, isso me deixa muito feliz”, diz.    É visível a paixão e o encantamento do jovem capitão pela congada e pelo terno que representa. Somando isso à fé que possui, é possível mesmo que Matheus não tenha condições de deixar esse posto de congadeiro por vontade própria. O moçambique agradece!



Com suas vestimentas diferenciadas, o Terno de Congo Penacho Caboclinho, recebe a cada ano a admiração dos populares.



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O Congado Terno de Congo Sagrada Família. Farda em branco, vermelho e faixa verde. Fundado em 1973. Quantidade de dançadores estimada em 55 Dono do terno: 1º Capitão – Antônio Serafim de Freitas Moçambique Mamãe do Rosário. Farda em branco e rosa. Fundado em 1951. Quantidade de dançadores estimada em 100, Dono do terno e 1º Capitão – Diogo G. de Resende 2º Capitão – Matheus Silva Terno Moçambique Coração de Maria. Farda em branco e rosa. Fundado em 1999. Quantidade de dançadores estimada em 100, Dono do terno e 1º Capitão – Antônio Carlos Ribeiro. 2º Capitão – Vinicius Luiz A. da Silva 3º Capitão – Edson Barbosa Terno de Congo Vilão Santa Efigênia / I. Farda em preto, rosa e faixa azul. Fundado em 1954. Quantidade de dançadores estimada em 150, Dono do terno - Lázaro Joaquim José da Silva. 1º Capitão – Nain Abadio B. de Oliveira 2º Capitão – Fábio Biola 3º Capitão – Clesio Arcanjo Terno de Penacho Caboclinho. Farda em lilás, preto e faixa vermelha. Fundado em 2003. Quantidade de dançadores estimada em 82, Dono do terno e 1º Capitão – José Gercino Vitor (Didi) 2º Capitão – Sebastião de Assis Victor 3º Capitão – Ricardo da Silva Gonçalves O CONGADO eD. vi ano 2014

Terno de Congo Santa Terezinha. Farda em azul e branco, faixa vermelha. Fundado em 1948. Quantidade de dançadores estimada em 60, Dono do terno e 1º Capitão – Antônio Alves de Lima. 2º Capitão – Maurício Jose Coelho 3º Capitão – Paulo Victor Terno de Congo São Francisco. Farda em branco e verde, faixa verde. Fundado em 1940. Quantidade de dançadores estimada em 80, 1º Capitão – Reginaldo Nascimento Reis. 2º Capitão – Renato Nascimento Reis Vilão II N. S. de FÁTIMA Farda em preto, laranja e faixa azul. Fundado em 2003. Quantidade de dançadores estimada em 150, 1º Capitão – Eurípides Luiz Severino (Pavão) 2º Capitão – Silésio Teixeira Da Silva 3º Capitão – José Carlos 4º Capitão – Paulo Alex Terno de Congo do Prego. Farda em branco, azul e faixa vermelha. Fundado em 1961. Quantidade de dançadores estimada em 90, 1º - Capitão – Elzon Arruda. 2º Capitão – Lucas Arruda Terno de Congo Catupé Cacunda Nossa Senhora das Mercês. Farda em preto, amarelo e faixa vermelha com fitas coloridas. Fundado em 1953. Quantidade de dançadores estimada em 400, 1º Capitão – Antônio Lucimário (Bigu) 2º Capitão – Cristovão Luiz 3º Capitão – Rosemir dos Santos


29 Reinado Farda em branco. Quantidade de dançadores estimada em 14, REI: Cleiber Francisco RAINHA: Eloene de Jesus Rita PRINCIPES: Enismar / Barbosa Martins / Douglas Nascimento GENERAIS: Laudimir da Silva / Eduardo Camilo PRINCESAS: Eloar Rita / Luiza Barbosa GUARDA COROA: Antero Martins / João Emiliano / Debrantino Terno de Congo Catupé São Benedito. Farda em verde, azul e faixa com fitas coloridas. Fundado em 1970. Quantidade de dançadores estimada em 280, 1º Capitão – Valdivino Rosa. 2º Capitão – Ronaldo Carlos Terno de Congo Catupé Nossa Senhora do Rosário. Farda em preto, branco e faixa vermelha. Fundado em 1986. Quantidade de dançadores estimada em 394, 1º Capitão – Leonardo Rosa Santos 2º Capitão – Altair de Oliveira 3º Capitão – Carlos Francisco Rosa da Silva. Terno de Congo Feminino Mariarte. Farda em marrom e laranja. Fundado em 2005. Quantidade de dançadores estimada em 36, 1ª Capitã – Aldanice Moreira dos Reis. 2º Capitã – Wanda Fayad Terno de Congo Nossa Senhora do Rosário e da Guia. Farda em azul, verde limão e faixa branca. Fundado em 2003. Quantidade de dançadores estimada em 80, Dono do terno e 1º Capitão – Edson Correia de Matos 2º Capitão – Manoel Messias N. Silva 3º Capitão – Julio Camargo 4º Capitão – José Serafim Terno de Congo Congregação do Rosário. Farda em preto, branco e faixa vermelha. Fundado em 1942. Qtde. de dançadores estimada em 120, 1º capitão – Roberto Ribeiro 2º Capitão – Leonardo C. Bueno 3º Capitão – John Kenedy

Terno de Congo Marujeiro. Farda em preto, azul claro e faixa vermelha. Fundado em 1989. Quantidade de dançadores estimada em 40, Dono do terno – 1º Capitão – Durval Salviano. 2º Capitão – Sérgio Eurípedes 3º Capitão – José Marques Terno de Congo São Benedito (Goiânia). Farda em preto, verde com fitas coloridas e faixa amarela. Fundado em 1972. Quantidade de dançadores estimada em 80, Dono do terno e 1º Capitão – Ozório Alves. 2º Capitão – José Mário Ribeiro 3º Capitão – André Lúcio Terno de Congo Marinheiro. Farda em azul marinho, e faixa vermelha. Fundado em 1975. Quantidade de dançadores estimada em 90, Dono do terno e 1º Capitão – Roberto Santana 2º Capitão – João Diniz da Silva 3º Capitão – José Igor Terno de Congo do Bairro Pio Gomes. Farda em branco, rosa faixa vermelha. Fundado em 1935. Quantidade de dançadores estimada em 50, 1º Capitão – Eder Cássio 2º Capitão – Salviano Terno de Congo Nossa Senhora de Fátima. Farda em azul, rosa e faixa branca. Fundado em 1975. Quantidade de dançadores estimada em 100, Dono do terno e 1º Capitão Carlos do Rosário Alves 2º Capitão – Alvim José Alves 3º Capitã – Denise do Rosário Alves Terno Catupé Cacunda Santa Efigênia Farda em Prata e Preto Quantidade de dançadores estimada em 60 Dono do terno e 1º Capitão – Saulo Souza da Costa Junior 2º Capitão – Samuel Tomaz da Silva 3º Capitão – Ricardo Alves 4º Capitão – Luiz Antônio O CONGADO eD. vi ano 2014


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Edson Arruda

Eternos Congadeiros

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anúncio da Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário chega no mês de agosto. Som de caixas, pandeiros e acordeom podem ser ouvidos pela cidade desde o segundo domingo do mês. São os dançadores anunciando o início dos ensaios. A inconfundível batida começa depois da reza do terço e do hasteamento do mastro com a bandeira da santa de devoção. Sinais de fé que se misturam à tradição mais popular em nossa cidade, as Congadas. Tradição que perdeu dois grandes representantes ano passado, o Capitão do terno Prego, Edson Arruda e o Rei Eurípedes Rita.   Edson Arruda – Ano passado, no quintal da casa do lendário Geraldo Arruda, fundador do terno Prego, permaneceu o silêncio, Edson Arruda, que era segundo capitão do terno deixou a Congada em maio, aos 69 anos, sua morte trouxe tristeza e muita saudade. “Congo é aquele dançador que participa um ou outro ano e sai, às vezes só dança para pagar alguma promessa, o Congadeiro é aquele que sempre participa, que mantém uma tradição que passa de pai para filho”, palavras do velho Edson,

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sabedor das coisas, Congadeiro de alma. Dançava Congo desde 1 ano de idade. Foi festeiro e presidente da Irmandade do Rosário mais de uma vez. “Ele contribuiu muito com essa festa, com o terno, era meu braço direito”, conta o irmão Elzon, com saudade.    Em 2009 o terno Prego não se apresentou por questões de saúde dos irmãos, ano passado novamente o Prego não alegrou as ruas da cidade. “Eu tenho apoio dos dançadores, muitos me ofereceram ajuda, mas a minha força interior ninguém pode me devolver de imediato. A lembrança do Edson é muito forte, os ensaios são no quintal da casa dele; achei melhor assim”, explicou Elzon. A expectativa é que estejam participando da festa este ano.    O irmão conta que era companheiro de Edson em todas as horas. “Desde criança éramos grudados, sem ele estou menos forte”, diz. Há mais de 50 anos, o azul e branco do terno dos Arruda está na memória e no coração dos catalanos, as cores do manto de Nossa Senhora pelas ruas, abençoando e levando alegria a diferentes gerações.    Rei Eurípedes – Poucas pessoas sabem o significado do que é ser Rei. A Congada também tem sua realeza, por tradição, por simbologia, por fé. O


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Rei Eurípdes. Foto: Fernando Cândido

Rei Eurípedes Rita deixou o posto em julho do ano passado, morreu aos 67 anos, vítima de infarto. Dos oito irmãos, quatro estão vivos, e é a irmã Eloene, Rainha, que conta as histórias do Rei. Eurípedes, filho mais velho, herdou o trono do pai Antônio, estava há 40 anos no posto. “Meu irmão foi moçambiqueiro a vida toda, passou a Príncipe, depois Rei. A vida inteira dedicada à Congada”, conta Eloene. A mãe de Eurípedes, Carolina, ao colocar um filho no mundo sempre dizia, “nasceu um filho do Rosário”. A irmã conta que Eurípedes tinha orgulho de ser Rei e sempre a acompanhava. “Estávamos sempre juntos, éramos muito ligados, nos dava muito apoio e tínhamos muito respeito por ele. O que aconteceu foi inesperado e muito triste, mas nós temos que continuar a tradição que meu pai nos deixou, tirar a força que meu irmão tinha para seguir”, diz Eloene.   Rei Cleiber – Com a morte de Eurípedes, quem assumiu o trono de Rei da Congada foi o sobrinho, Cleiber Francisco Inês, escolhido pela tia e Rainha Eloene. Cleiber tem 36 anos, era general da Congada há nove e deixou o posto para substituir o tio. “Foi minha tia que praticamente me criou desde menino, respeito a escolha dela e prometo ser digno disso, ainda estou muito triste com a morte do

meu tio, mas muita gente está me ajudando”, diz. O novo Rei foi dançador do terno Congregação do Rosário por 14 anos, passou para príncipe, depois general, substituindo o tio João Cláudio. Pelo segundo ano sairá em cortejo com o reinado pelas ruas de Catalão como Rei.    O Reinado da Congada tem dez componentes, entre Rei, Rainha, Príncipes, Princesas, Generais e Guarda Coroa. “A função do Reinado é conduzir a coroa de Nossa Senhora do Rosário. O Rei passa os comandos para o General para que este organize os ternos durante os cortejos, acompanhamos algumas visitas, participamos das missas e da entrega da coroa”, explica Cleiber.    Cleiber disse que ser Rei é muita responsabilidade, há muita cobrança, além de ser um cargo vitalício. “Me preparei com força, alegria e me comprometi a fazer o melhor de mim, é uma honra”, diz. Ele acredita que, mesmo sendo jovem vai ser respeitado dentro da Congada, pois já era enquanto general. Ano passado, visitou os ternos durante os ensaios para se apresentar aos dançadores e capitães, saiu em cortejo com o reinado e, este ano já estará mais habituado com a farda real. O Congado e a Festa do Rosário recebe Rei Cleiber com braços abertos e tambores em riste. O CONGADO eD. vi ano 2014


O 1º Capitão, Antônio Lucimário (Bigu), impressiona com sua farda impecável.



34 Irmandade de Nossa Senhora do Rosário

Guiando congadeiros e disseminando o louvor à Santa

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som das batidas das caixas anuncia que a Festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário se aproxima. Nos ensaios dos ternos de Congo, Catupé, Moçambique, já é possível sentir a vibração e a energia que é movida pela tradição e pela fé. Este ano, entre os dias 03 e 13 de outubro, a região próxima à Igreja do Rosário se transforma em palco de rezas, danças e cantos para louvar à santa padroeira e São Benedito.    É chegada a 138ª edição. São 21 ternos e mais de 4.500 dançadores nas ruas de Catalão, membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. A festa inicia com a Alvorada na madrugada do dia 03, quando o apito inicial do general convida dançadores e toda a população a prestigiar as congadas, terminando com um imenso café da manhã no Centro do Folclore.    Festa 2014 - A programação da festa é definida meses antes. Tradicionalmente, como todos os anos, no dia da santa do Rosário há a missa de coroação e o integrantes de todos os terno formam o “Misturado da Irmandade” para uma apresentação. Rituais importantes que se repetem a cada ano, como o levantamento do mastro com a bandeira dos santos de devoção, o cortejo da missa de domingo, terços, novenas, tudo já programado. O tradicional ranchão que não é mais erguido com palha, mas com tendas, também estará montado. No Centro do Folclore acontecem várias ceias. As barraquinhas com vários tipos de produtos a serem comercializados também chegam, como sempre, em grande número.    De acordo com o presidente da Irmandade, Leonardo Bueno, durante o ano foram realizadas reuniões entre os capitães de todos os ternos e o Reinado, para que houvesse uma interação de ambos durante a festa, principalmente com os generais, que comandam os cortejos e os horários de apresentação. “Esse diálogo é importante, inclusive com o pároco da Paróquia São Francisco, Padre Emerson, que é novato e substituiu o Padre Roberto”, conta Léo.    Com relação à comissão de festeiros, a conversa gira em torno principalmente da Entrega da Coroa. Segundo Léo, esse momento tem que ser bem organizado, com distribuição de água durante todo o tempo. “Não podemos cometer mais essas falhas de faltar água no dia da entrega da coroa, durante os almoços oferecidos para os ternos é preciso ter um tempo para que esses possam agradecer, um terno

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não pode ser mais privilegiado que o outro em nenhum desses eventos”, disse.    Museu das Congadas - Vale ressaltar também que, pelo segundo ano o Museu das Congadas, que fica numa sala do Centro do Folclore ficará aberto durante todos os dias da festa. Lá é possível que os visitantes vejam fotos e objetos raros de dançadores e capitães. O Museu fica aberto normalmente de segunda à sexta a partir de 8h e 30min até 16h e 30min, fechando no intervalo do almoço. Antes da festa, em agosto, todos os anos a Irmandade organiza o Encontro de Congadas, com participação dos ternos da cidade e de várias partes do país. Nova diretoria - Este ainda é ano de eleição na Irmandade, pois a cada dois anos uma nova diretoria é eleita através dos votos de dançadores filiados. De acordo com Leonardo Bueno, seu foco principal é a festa, depois que acabar ele deve sentar com membros da diretoria para avaliar se será apresentada uma chapa para concorrer às eleições desse ano, que acontecem em novembro. Léo, que já está em seu quinto mandato como presidente, tem como vice João Costa, a diretoria é composta por 19 membros. Ele também é segundo capitão do Terno Congregação do Rosário, conciliar as duas funções é um desafio.    Segundo ele, o mais importante é ter alguém que vá trabalhar em prol da Irmandade. “Tenho me dedicado, gosto muito, visto a camisa. Além do museu criado ano passado, durante nossa gestão, foi construída a gruta com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, o salão do Centro do Folclore foi organizado e modernizado com ar condicionado, também mantemos o salão do bairro São Francisco para uso não somente dos dançadores, mas de toda a comunidade. A Igreja foi reformada, veículos para uso da Irmandade, um carro e uma moto foram adquiridos e, a verba que é repassada pela prefeitura todos os anos, para cada terno aplicar nos gastos com a festa, tem ajudado”, enumera o presidente. Recursos - O valor do repasse é de R$ 5 mil para cada terno. Léo conta que, como a Irmandade é uma entidade religiosa, não pode receber recursos por parte do governo estadual e federal, apenas a Associação da Congada pode receber e foi criada para este fim. Porém, há um impasse que tramita no Ministério Público devido a divergências ocorridas na última eleição para escolha da diretoria da Associação. Enquanto o problema não for resolvido, nenhuma verba pode ser repassada. Ainda de acordo com o presidente, 80% da renda obtida com a festa fica para a Irmandade, os 20% restante é da Paróquia.



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Comissão organizadora

Preparação para a festa em outubro dura o ano todo

Q

uem pensa que os casais membros da Comissão Organizadora da Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário trabalham apenas em outubro se engana. Os preparativos começam já na festa do ano anterior e, só terminam com a prestação de contas no ano seguinte. É o que garante o casal de festeiros responsável pela comissão da festa deste ano, Joel Fernandes e Joana D’arc.    Escolhidos em reunião pela Irmandade do Rosário, pela primeira vez serão os festeiros, mas os dois já participaram de seis comissões organizadoras. Joel também foi tesoureiro da Irmandade por seis anos e presidente da Associação das Congadas por quatro anos. Este ano, 40 casais participam da comissão organizadora e trabalho é o que não faltou ao longo dos meses que antecederam a festa.    A primeira responsabilidade foi receber a coroa de Nossa Senhora do Rosário das mãos do casal de festeiros do ano anterior, para que saísse tudo conforme planejado nesse dia, muito trabalho e dedicação foram necessários. O ano começa e termina com reza, entre pedidos e agradecimentos, todo dia 07 de cada mês, os casais se reúnem para rezar um terço, no Centro do Folclore ou na casa de algum membro da comissão.   Eventos – O primeiro evento após a entrega da coroa, já organizado pela comissão deste ano foi o Festival do Chope. De acordo com Joel, o evento foi realizado pela segunda vez, pois já havia sido ideia de outra comissão e este ano, mais uma vez, foi um sucesso. O festival aconteceu em fevereiro no Centro do Folclore e, quem participou sempre pede para que haja novamente, cada pessoa adquiriu um convite e pôde se servir de almoço e chope gelado à vontade.    O próximo encontro foi em maio, na tradicional Festa da Amizade. Várias barraquinhas de co-

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midas e bebidas foram montadas no largo da Igreja do Rosário, cada equipe ficou responsável por uma barraca e a população marcou presença. Além de várias opções de comidas deliciosas, quem foi ao evento conferiu apresentações artísticas com muita música todas as noites.    Também aconteceu o Leilão de Artes, como todos os anos, artistas catalanos vendem suas obras por um preço simbólico e a comissão organiza um leilão para que os apreciadores possam arrematar por um preço maior. Em julho a comissão ainda montou uma barraca de comidas e bebidas na Exposição Agropecuária e também participou em agosto do Encontro de Congadas, promovido pela Irmandade. Todos esses eventos servem para que a comissão arrecade dinheiro para a realização da Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário, em outubro.   A festa – Às vésperas da grande festa, os membros da comissão se reúnem para definir detalhes, como por exemplo a decoração do Ranchão e do Centro do Folclore, além, claro de definir equipes para trabalhar durante todos os dias e a Entrega da Coroa. No Centro do Folclore acontecem as ceias, num total de oito, a primeira é a síria, organizada pela própria comissão, as demais são realizadas por instituições e clubes de serviço.   Motivação – Joel e Joana se emocionam ao falar da motivação que têm para realizar esse trabalho, apesar das dificuldades e da responsabilidade. “O que motiva é a fé. Nós somos católicos e devotos de Nossa Senhora do Rosário. Eu sou dançador há 30 anos do terno do Prego, sempre acompanhei essa festa, é quase impossível não participarmos de alguma maneira, seja dançando, nos terços, nas ceias ou nas comissões organizadoras, é emocionante fazer parte”, diz o festeiro. Apesar da correria, no final todo o esforço vale a pena, pois o orgulho e a emoção de fazer parte de uma festa tão grandiosa e tradicional em Catalão compensam e muito o trabalho árduo que é ajudar a organizá-la.



Milhares de fieis de pés no chão participam da tradicional procissão em louvor a Nossa Senhora do Rosário, seguida de missa celebrada pelo bispo Dom Guilherme.



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Sob aplausos dos devotos e turistas, os integrantes do Terno de Congo Vilão Santa Efigênia I, se despede após apresentação impactante.



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Procissão com as imagens de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito saindo da Matriz São Francisco de Assis para a capela de Nossa Senhora do Rosário.



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