Revista O Comércio Especial Cidade do Livro

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Curandeiro

Lençóis Paulista Abril de 2012

Benzedor Figura popular, Zé Mineiro atende quem procura conforto físico ou espiritual na sua modesta casa em Alfredo Guedes

Foto: Revista O Comércio

Zé Mineiro diz que descobriu vocação de benzedor quando tinha apenas sete anos e curou uma picada de cobra

U

ma das figuras mais carismáticas do folclore brasileiro, presente em todo o país, é o ‘benzedor’. Em geral, trata-se de um homem ou mulher da comunidade, que recebeu ensinamentos dos mais velhos, sempre pela tradição oral. São conhecedores de ervas e plantas capazes de curar doenças ou trazer conforto espiritual. Os benzedores socorriam a população de regiões remotas, onde o acesso a hospitais era difícil e os remédios inacessíveis. As distâncias encurtaram, os serviços públicos de saúde atingem boa parte da população, mas esta figura tão querida resiste ao tempo. No distrito de Alfredo Guedes, o benzedor Zé Mineiro já ajudou muita gente de Lençóis Paulista e de toda a região. “Para ‘benzer’, basta crer em Deus”, resume ele. Zé Mineiro nasceu José Rocha dos Santos Filho, no município de Teófilo Otoni, interior de Minas Gerais – daí a origem do ape-

lido. Sua história é cheia de curiosidades, a começar pela idade. Ele tem duas identidades. Numa delas, a data de nascimento é de 1919. Na mais recente, 1931. Ele garante que a data mais antiga é a verdadeira e só tirou documentos novos porque estava com dificuldade em achar emprego numa determinada época de sua vida. Ele conta que a vocação de benzedor despertou quando ainda era criança, em Minas Gerais. “Eu tinha sete anos de idade. O meu primeiro pedido foi para curar uma ofensa de cobra. Tinha esse rapaz que tinha acabado de ser picado na perna. Estavam esperando chegar o Galdino, que era o benzedor na época. Eu via o rapaz chorando, reclamando de muita dor. Peguei um cipó verde e pedi para ele deixar eu rasgar a calça. Ele olhou para mim bravo e falou: o que você entende, moleque? Mas acabou cortando a calça ele mesmo, com uma faca de cabo torto. Eu amarrei o cipó ver-

de, fiz o sinal da cruz. Dali a três horas é que foi chegar o benzedor. Ele olhou e perguntou quem tinha feito aquilo. Aí disseram que tinha sido eu. O benzedor disse: olha, foi a salvaguarda desse homem. Se esse menino não faz essa simpatia, ele não resistia”. Apesar do apelido, Zé Mineiro deixou sua terra natal ainda jovem e rodou muito por esse país. Foi do Pará ao Paraná. Também viveu um tempo na Bolívia. Além de atender pessoas que o procuram em busca de conforto físico e espiritual, sempre trabalhou na lavoura. Zé Mineiro tem uma vida no mínimo curiosa. Já acompanhou um circo. Teve 14 companheiras diferentes e mais de 20 filhos. Agora, está com endereço fixo em Alfredo Guedes. Vive plantando, colhendo, fazendo vassouras e atendendo quem o procura, não importa o dia da semana ou o horário. Para finalizar, garante. “Eu só peço coisas boas”.


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