Revista Lopes 4º Edição

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ano 2 mai / jun / jul - 2011

Literatura na sala de aula: História do

Brasil vira best seller

A reputação na era digital Os mistérios da Turquia

Os desafios do trânsito na Região Sul






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Sumário Nº 4 - maio / jun

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Brasil

florianópolis Rua Demétrio Ribeiro, 117 – Centro cep 88020-700 – Florianópolis – SC Fone/fax: (48) 3027.7100 www.lopes.com.br

Diretor-Geral João Paulo Galvão

ano 2 2011 mai / jun / jul -

Literatura na sala dedo aulavir: aHisbestórt selia ler

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curitiba Av. Iguaçu, 2180 – Água Verde CEP 80240-030 – Curitiba – PR Fone/fax: (41) 3111.0777

/ jul - 2011

PORTO ALEGRE Rua Mostardeiro, 322 – Loja 01 – Moinhos de Vento CEP 90430-000 – Porto Alegre – RS Fone/fax: (51) 2102.4400

digital A reputação na era Turquia Os mistérios da

bras: O autor e as o rasil a história do B mais no ranking dos vendidos

Os desafios do Sul trânsito na Região

Coordenadora de Marketing Luisa Martins Salles Assistente de Marketing Paula Rangel Sterzi Escreva para a Revista Lopes Sul Envie comentários sobre as matérias publicadas e sugestões de assuntos que você gostaria de ler na Revista Lopes Sul para o e-mail revista@lopes.com.br

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www.navecomunica.com.br nave@navecomunica.com.br Jornalista responsável Lucia Porto - RP 8296 Redatores Carol Becker, Fabiana Miranda, Fernando Costa e Mariana Costa Produção Manoela Tomasi Fotografia Alberto Goldman, Alexandre Battibugli, Bárbara Felder, Clleber Passus, Daniel Isolani, Diego Pisante, Denny Sach, Edu Lopes, Eduardo Barcellos, Fernando Costa, Germano Preichardt, Guilherme Puppo, Luiz Henrique Pereira, Marcelo Stammer, Ricardo Almeida, Secretaria Municipal de Turismo de Ponta Grossa, Secretaria de Estado de Comunicação de Santa Catarina IMPRESSÃO Gráfica Editora Pallotti Tiragem 40.000 exemplares As matérias publicadas não expressam necessariamente a opinião da Administração da Lopes Sul. O conteúdo da Revista Lopes Sul pode ser reproduzido, desde que mencionados o autor e a fonte.

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Mercado Há espaço para grandes e pequenas empresas do setor imobiliário?

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Empreendimento Desenvolvimento de novas áreas nas grandes metrópoles

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Gestão Mandamentos para manter a reputação na nova era digital

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Capa História do Brasil vira best seller

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Orçamento Como administrar o seu dinheiro

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Por Aí Refúgios e belas paisagens

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Destino Turismo cultural, histórico e arquitetônico na Turquia

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Política A Região Sul pelo olhar dos governadores

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Intervenção Porto Alegre pelo olhar de Germano Preichardt

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Metrópole O trânsito nas capitais da Região Sul

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Comportamento Mulheres nos canteiros de obras

Sabor Slow Food, o movimento pela alimentação saudável

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Eventos Arte no Paraná

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Notícias Workshop e parcerias

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Editorial

Crescimento planejado Seguimos 2011 com o mercado acelerado e aquecido. Ainda estamos comemorando o recorde do ano que passou – a Lopes Brasil fechou 15,6 bilhões em vendas contratadas, número que corresponde a 0,5% do PIB do país em 2010 – e a construção civil continua em franca expansão, devendo ultrapassar os números do ano anterior, época de ouro para a comercialização de imóveis. O cenário atual do país está contribuindo para este momento de pujança e solidez que estamos vivendo, e os diversos indicadores econômicos mostram evolução e prosperidade.

Em termos de desempenho, publicações como o jornal Valor Econômico apontam que os imóveis foram determinados como os ativos que devem ter a melhor performance neste ano, com 34% das respostas, e também na próxima década, com 26%. Guardadas as peculiaridades regionais e outras condicionantes, a média geral de valorização fica em torno de 20%. Os dados do IBGE atestam que o aumento do poder aquisitivo da classe C, que hoje já corresponde a 50% da população, superior aos 32% em 2008, fortalecem o mercado interno e estimula o acesso ao crédito e ao financiamento. A trajetória ascende ainda mais quando falamos em investimentos externos e em bônus demográfico – o crescimento da população economicamente ativa em relação à inativa – um dos fatores estruturais que explicam o otimismo dos investidores internacionais com o Brasil. A população brasileira se tornou um fator impulsionador da decolagem do desenvolvimento e do crescimento econômico.

Diante disso a Lopes Sul vem buscando competir no mercado com preços que fiquem em patamares compatíveis, impedindo que haja especulação e contribuindo para que o consumidor tenha mais opções e vantagens, conhecendo os fatores que podem favorecer o investimento e evitando regiões de pouca lucratividade. Da mesma forma colabora para que as empresas parceiras moldem seus produtos ao gosto do consumidor final. E é pensando nisso que esta edição da Revista Lopes Sul traz matérias relacionadas aos nichos de mercado da Região Sul e ao processo de desenvolvimento e infraestrutura nas grandes cidades. Também preparamos uma matéria que ajuda a fazer um planejamento financeiro. E a capa destaca um campeão de vendas, o paranaense Laurentino Gomes, autor dos best sellers 1808 e 1822. Aproveite. João Paulo Galvão (Jota) Diretor-executivo da Lopes Sul

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ento

Empreendim

Porto Alegre

Há muito tempo ouvimos sobre a definição e a implantação de políticas públicas para o desenvolvimento urbano. Elas estão na Constituição Federal e na lei federal Estatuto da Cidade. Quanto aos números, não são poucos os que nos orientam e nos fazem perceber o quanto realmente crescem as cidades. Antigos modelos de urbanização formataram cidades fragmentadas, nas quais nem todos têm acesso a bens de consumo, lazer e entretenimento. Regiões desprovidas de infraestrutura acabaram ficando à margem de um processo de evolução e desenvolvimento social, econômico e cultural. Mas esta realidade está mudando. Muitos investimentos estão sendo realizados e muitos bairros, antes periféricos, agora começam a se integrar às demais zonas das cidades.

A cidade não para,

a cidade só cresce A infraestrutura acompanha o crescimento populacional das grandes cidades?


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Curitiba

Florianópolis

O crescimento da capital curitibana está se dando hoje na zona sul da cidade e, principalmente, nos municípios da Região Metropolitana, que, conforme dados do IBGE, apresentaram uma taxa de crescimento, incluindo a Capital, de 14,46% em dez anos, ou cerca de 400 mil pessoas a mais em relação a 2000. O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Cléver de Almeida, afirma que o eixo da Linha Verde, que corta a cidade de norte a sul e integra 10 bairros, é o mais propício. “A Linha Verde é a mais recente intervenção urbana. O trecho, de 18 quilômetros de extensão, é considerado, no plano diretor da cidade, como área especial com parâmetros de construção diferenciados. Isso possibilita a criação de polos de desenvolvimento no entorno das estações de transporte e, nesses polos, as edificações podem ter até três vezes a área do terreno e altura livre”, explica o presidente. Conforme o diretor de Atendimento da Lopes no Paraná, Luiz Augusto Brenner Rose, há dez anos houve uma estagnação no setor imobiliário, o que gerou um acúmulo de demanda. “Curitiba ainda tem para onde crescer. Essa estagnação acabou ocasionando interesse de todos os grandes players nacionais, que buscavam novos mercados para ampliar suas operações. E com o mercado aquecido novas fronteiras estão sendo abertas pelas incorporadoras”, diz ele. Brenner também aponta a parte sul e a Região Metropolitana como os locais que mais crescem. “Desde o Batel indo até o Pinheirinho ou Xaxim, no sul da cidade. No sentido norte, a partir do Cabral indo até a região de Santa Cândida e, em direção a oeste, do Champagnat ao Ecoville. Esses são os três vetores mais fortes de crescimento. E também temos a Região Metropolitana, apesar de ainda ser pouco explorada”. Nesse cenário de expansão e desenvolvimento, é um desafio manter a qualidade de vida das pessoas sem que haja problemas de adensamento populacional. Mas o diretor se mostra otimista e afirma que a cidade é muito bem planejada, e que o transporte coletivo serve de modelo para outras cidades, o que acaba facilitando o escoamento e a mobilidade urbana, além de deixar a cidade mais atrativa para novos investimentos.

Curitiba

A capital catarinense cresceu o dobro da média do país, 18,08%, e ficou em 10o lugar no ranking nacional. A cidade foi também a que mais aumentou a sua população entre as capitais sulinas. Cidades da Região Metropolitana, como São José e Palhoça também tiveram um acréscimo significativo nas suas populações, 16% e 32,09%, respectivamente. Muito embora movimentos migratórios sejam benéficos do ponto de vista econômico, ressalvando que a classe predominante nessas regiões é a C, essas cidades não apresentam resultados satisfatórios quando o assunto é mobilidade urbana. O que acaba interferindo no progresso, na prosperidade da economia de um modo geral e na dinâmica cultural e social dessas regiões. Para o diretor de Marketing e Novos Negócios da Lopes em Santa Catarina, Luciano Faraco, quando se fala em Florianópolis temos que pensar na Ilha e fora dela. “Na circunstância de crescimento atual devemos levar em consideração Palhoça, São José e Biguaçu, pois é tudo um grande polo. Pensando dessa forma, aí sim temos oportunidades de dilatação ainda dentro da Ilha”, explica Faraco. Faraco lembra que na capital, as localidades junto a SC-401 despontam como fortes candidatas à expansão, em especial para o segmento comercial e, também, o residencial nas áreas mais internas dos terrenos. No sul da Ilha, áreas como Campeche e Rio Tavares estão passando por forte desenvolvimento. “Já no continente, é possível encontrar ainda boas oportunidades no bairro do Pagani. Em poucos anos estará totalmente diferente do que é hoje, com ótimas ofertas de produtos imobiliários”.

Palhoça

Porto Alegre


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ento

Empreendim

Porto Alegre

Porto Alegre

Entre 2000 e 2010, a população da capital gaúcha aumentou 3,63%, de acordo com os dados do Censo 2010. Pioneira nas questões envolvendo planejamento urbano, Porto Alegre foi a primeira capital do país a formatar um Plano Diretor. Ainda que muito questionado e debatido pelos porto-alegrenses, as diretrizes do projeto nortearam e deram forma à capital gaúcha. O secretário de Planejamento Municipal, Márcio Bins Ely, explica que a cidade tem um grande potencial de crescimento. “Esse fato pode ser constatado em várias regiões, como por exemplo, na zona sul, onde estão sendo construídos vários condomínios”. Outro exemplo, diz ele, “e também o 4º Distrito, cuja revitalização já está em andamento devido a iniciativas que buscam qualificar o espaço urbano e incentivar o mercado imobiliário a construir e empreender, por meio da participação do poder público e de agentes sociais”. Com investimentos e infraestrutura em novas áreas na cidade, tanto os segmentos residencial quanto o comercial são muito favoráveis para o mercado imobiliário. Em Porto Alegre é consenso que a zona sul e o 4º Distrito estão em franca ascensão. “A região que deve ter uma expansão imobiliária é a da orla do Guaíba, próximo ao estádio Beira Rio, passando pelo 4º Distrito junto ao centro da cidade, indo até a Arena do Grêmio, no bairro Humaitá”, afirma o diretor de Atendimento da Lopes do Rio Grande do Sul, André Oliveira. Diante de tantas construções e investimentos outros setores da economia também acabam sendo favorecidos, principalmente o setor de serviços. “Hoje temos uma baixa oferta de produtos na zona sul, mas com a construção do BarraShoppingSul essa região vem se valorizando e novos empreendimentos deverão surgir. As imediações próximas ao shopping Iguatemi também continuarão recebendo grandes lançamentos”, diz o diretor.

Porto Alegre





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Mercado

Tamanho é Documento? O mercado da construção civil no Brasil responde por uma divisão nem sempre igualitária. Os dados levantados a partir de pesquisas do núcleo de inteligência de mercado da Lopes, mostram que as grandes empresas ainda são maioria nas três capitais. Com o aquecimento do mercado da construção civil, a oferta de crédito facilitada e di-

versos benefícios para o cliente, os canteiros de obras estão sempre em movimento e o trabalho não para, independentemente do porte da empresa ou do projeto. Essa situação traz alguns questionamentos: há mercado para todos? Para o empresário, quais as vantagens e desvantagens? E para o consumidor final, muda alguma coisa?

Seguem algumas opiniões de quem lida com essas situações diariamente.

“Todas as empresas deverão estar adequadas à nova realidade, as incorporadas em relação aos direitos do consumidor e as construtoras à segurança de trabalho. As incorporadoras menores vão prospectar terrenos menores, que não atenderão ao VGV (Valor Geral de Vendas) mínimo estipulado pelas grandes. Para o consumidor final, só vejo vantagens: mais concorrência, oferta de produtos e empresas buscando cada vez mais diferenciais para sair do lugar comum”. Luis Napoleão Filho Diretor de Incorporação da unidade Sul - PDG

“Há espaço, porém é indispensável um trabalho de levantamento de dados que analise a demanda em cada região, o público e o padrão e preço de mercadoria. As linhas de financiamento e crédito disponíveis viabilizam uma grande quantidade de empreendimentos. As facilidades para as construtoras se traduzem em benefícios para o consumidor.” Alfredo Gulin Filho membro do Conselho de Administração do Grupo Noster


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“O setor imobiliário segue atravessando um período de alterações em sua estrutura. A principal é a ampliação da demanda em todos os segmentos. O que possibilita a criação ou descoberta de novos nichos, permitindo um campo fértil e diversificado para desenhos e posicionamentos estratégicos. Os ganhos para o consumidor final são: a segurança do investimento e a diversidade de produtos e opções.” Marcos Colvero Diretor de incorporação da Melnick Even S/A

“A existência de empresas de perfis diversos contribui muito para o desenvolvimento de um mix de produto, com características para todos os tipos de clientes no que se refere a prazo e flexibilidade de pagamento, serviços agregados e customização de unidades. Assim, o cliente pode escolher a empresa que melhor atende as suas expectativas e necessidades”. André Lucarelli Superintendente de incorporação da Brookfield Incorporações

“No mercado de nichos, as incorporações são viáveis quando a rentabilidade é superior à média ou quando a incorporadora tem liderança expressiva em determinado nicho. As construtoras tendem a ter um custo de construção mais caro, sendo menos competitivas quando tem que disputar espaço por preço”. Enio Pricladnitzki Diretor Comercial da Nex Group

“A consolidação de grandes players em grupos imobiliários acarretou na necessidade desses em entregar resultados cada vez maiores. Por essa razão é inevitável que esses grupos tenham estratégia generalista de produto. Isso abriu espaço para pequenas e médias incorporadoras buscarem terrenos de menor porte, não tão atrativos para esses grupos, e assim criar o seu próprio mercado. Em virtude disso o consumidor final sempre será atendido por diferentes ofertas”.

“O mercado é bastante pulverizado, mas o que se observa é uma tendência de consolidação, com fusões e aquisições por parte das companhias maiores. As empresas de grande porte trazem no seu bojo técnicas mais avançadas de construção, padronização e racionalização dos serviços, o que na ponta se traduz em preços mais competitivos. O processo ‘artesanal’ tende, a meu ver, a se extinguir nas próximas décadas.” Pedro Côrtes Diretor Superintendente de Incorporação da Multiplan S/A

“Durante muitos anos, o setor se manteve só com os investimentos de construtoras e incorporadoras. Atualmente, com o aumento do crédito e dos incentivos, houve uma aceleração na cadeia produtiva. Nesse cenário, muitas empresas abriram o seu capital e se fortaleceram. No momento em que se criam condições para a expansão das empresas, é preciso ousadia e coragem para enfrentar a concorrência.” Henry Borenstein Vice-presidente executivo da Helbor Empreendimentos S.A.

“O mercado é muito complexo e depende da expertise de cada um. Para as construtoras e para o consumidor final a existência de incorporadoras ou DI (desenvolvimento imobiliário) que atuam em nichos aumenta a oferta de terrenos e, consequentemente, de empreendimentos, diluindo pressões de elevação de preços dos imóveis, o que é bom para todos.” Paulo Vedova Diretor geral da Cicomac

Tiago Rotta Ely Diretor Rotta Ely Construções e Incorporações

“Os empreendimentos das empresas maiores são grandes em VGV, requerem investimentos altos e, consequentemente, um tempo maior de legalização. Para as menores, existem os terrenos que atendem a demanda de público que prefere empreendimentos pequenos. Para o consumidor essa diversidade é boa, pois aumenta o número de opções de escolha.” Rodrigo Chade Diretor de negócios da VIVER

“Embora exista uma tendência de consolidação de mercado, o que já vem acontecendo há alguns anos, entendemos que exista espaço para as incorporadoras de diversos tamanhos, desde que ofereçam qualidade e diferenciação nos seus produtos.” Fabio Valle Diretor comercial Alphaville Urbanismo S/A


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Gestão

Os mandamentos da nova reputação

Muitas mudanças ocorreram do final do século passado até hoje. Uma das mais marcantes foi a revolução tecnológica. Além de alterar a configuração nas relações humanas e no mundo dos negócios, a revolução tecnológica criou uma nova era. A humanidade precisou se adaptar aos novos modos de produção e criou uma maneira diferente de agir.


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Falar de construção da imagem e de reputação requer novas e urgentes respostas na esfera pública virtual. Como devemos nos portar nessa nova era de observação constante? Como manter a reputação no meio desta enxurrada de informações? Como sobreviver ao mundo digital? O jornalista Mário Rosa, ex-editor da revista Veja, responde a essas perguntas no livro A Reputação na Velocidade do Pensamento – A imagem e ética na era digital. Na obra, ele mostra como a revolução tecnológica mudou as formas de se preservar a credibilidade na esfera pública. O autor esclarece que todos nós estamos sob observação constante, em qualquer situação. “Ninguém, do cidadão comum ao presidente da República, do artista ao empresário, está salvo da vigilância e do ataque inimigo, justo ou injusto”, explica. O jornalista vai além e diz que não adianta reconhecermos que o mundo mudou com a revolução tecnológica se continuarmos agindo como no passado. “Ou seja, como há uma década. O que nos separa dos anos 1990 não são dez ou vinte anos, é uma era”. O fato é que a reputação e a credibilidade de uma vida inteira podem desabar em segundos, reduzindo a nada a credibilidade, a honra, a imagem de pessoas públicas, empresas ou instituições. “Não existe mais privacidade, ninguém está protegido”, complementa.

O Autor Mário Rosa é jornalista ganhador de dois prêmios Esso, consultor com ampla experiência na condução e no planejamento de projetos de comunicação corporativa e institucional. É também autor de outros dois livros que tratam da questão da imagem: A Síndrome de Aquiles (Como lidar com as crises de imagem) e A Era do Escândalo (Lições, relatos e bastidores de quem viveu as grandes crises de imagem).

Os 10 mandamentos da nova reputação 1. Não desprezarás a tecnologia A tecnologia não é algo teórico nem distante. Está impregnada em todos os detalhes da vida atual e exige ser compreendida em todos os seus múltiplos impactos sobre a reputação e a imagem pública. Deve estar no topo não só de qualquer planejamento, mas de qualquer forma de pensar o mundo de hoje. Deve, sobretudo, estar refletida em novas ações – e não apenas em novos “diagnósticos”. 2. Romperás com velhos condicionamentos Fomos criados numa outra Era e somos chamados a interagir com uma realidade em que a lógica é diferente da qual fomos treinados a entender. Por sermos a primeira geração a enfrentar esse desafio, carregamos condicionamentos ultrapassados em nossa forma de pensar, de avaliar os riscos e de nos posicionarmos diante da nova realidade que surgiu há pouco. Temos que adquirir novos condicionamentos e abandonar aqueles que não funcionam mais. 3. Viverás sempre em público Deixamos nosso rastro eletrônico praticamente em todo lugar. Mesmo em casa, quando usamos o computador, estamos potencialmente expostos ao olhar de alguém, que pode rastrear nossos passos digitais. No banco, no telefone, na rua, em qualquer lugar temos de entender que todos somos pessoas públicas ou potencialmente públicas, independentemente de nossa posição social. Não existe mais o cidadão comum. Agora somos todos cidadãos incomuns. 4. Obedecerás a uma nova ética Nova tecnologia significa nova ética, novos conflitos, novas formas de detectar velhas transgressões. Segredos antes invioláveis serão expostos à luz, concordemos ou não. Para evitar transtornos, a melhor atitude é adotar preventivamente uma nova forma de conduta. Não se trata mais de uma opção moralista. Trata-se de uma necessidade concorrencial: Num mundo no qual o olhar do público está superdemandado por tanta informação, confiar é algo muito mais perigoso e desconfiança é sinônimo de descarte.


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Gestão

8. Não esquecerás o passado

5. Não mentirás Esse é um dos mandamentos que sobreviveram de forma literal, entre aqueles “originais”. Com tantas formas de cruzar informações, com tantos registros que se tornam inevitáveis em nossa forma de viver digital, mentir significa abrir um flanco perigoso e expor-se a um enorme risco de contestação cabal. Há quem julgue ingênuo falar a verdade. Mas ingenuidade vai ser imaginar que os outros são todos ingênuos.

6. Serás uma marca Marcas deixaram de ser empresas. Passaram a ser pessoas. Todos somos marcas e devemos buscar construir um significado claro e positivo perante a percepção alheia. Essa nitidez é ainda mais crucial porque competimos hoje muito mais pela atenção do outro. Uma marca é a expressão de um conceito previamente definido na realidade. Ela fala ao coração; deve despertar um sentimento. E suas virtudes devem estar ligadas a um valor maior que transcenda apenas à qualidade ou à eficiência.

7. Serás mais transparente A tecnologia decretará a morte de segredos que, no passado, até podiam passar incólumes. O melhor a fazer é se antecipar, porque do contrário quando esses fatos, dados ou atitudes vierem à luz poderão ser vistos como transgressão a normas, ainda mais num momento em que os valores éticos deverão estar em transformação. Será preciso também encontrar novas formas de despertar percepção sobre os compromissos com os valores mais corretos.

Por vivermos num novo estágio do conhecimento humano e ter de incorporar uma nova forma de lidar com a realidade que se transformou, devemos evitar a tentação de agir como se a História estivesse começando agora. Carregamos muitos condicionamentos de tempos imemoriais e jogá-los fora não é o mais apropriado porque nem todos os condicionamentos antigos deverão ficar desativados. O desafio é encontrar um novo ponto de equilíbrio entre nosso pensar primitivo e o nosso pensar “ponto.com”. 9. Viverás em duas dimensões Viveremos cada vez mais nossa realidade concreta, mas estaremos crescentemente também vivendo e interagindo com uma outra dimensão: a dimensão da informação em tempo real, que nos transporta para qualquer lugar. Estaremos mais próximos de fatos geograficamente distantes e ao mesmo tempo distantes de fatos fisicamente ao lado de nós. Se estamos mais próximos dos outros, os outros também estão mais próximos de nós. Principalmente de nossos erros. 10. Aprenderás a ver e a se expor Uma nova forma de ver implica uma forma nova de ser visto, numa nova forma de se expor. Isso significa que teremos de repensar nossos conceitos sobre exposição e também sobre não exposição. O que antes era de domínio privado pode ser um novo espaço público. Do mesmo modo, o que antes era público, mas nos parecia longe do olhar alheio, agora pode não ser mais. Há uma nova esfera pública na qual teremos de praticar uma nova forma de percepção. Uma nova forma de provocar a percepção nos outros. E uma nova forma de compreender a percepção em nós.



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Sabor

Slow Food

pelo bem do mundo e da sua vida Até 30 anos atrás praticávamos o Slow Food e não sabíamos. Era um tempo em que comíamos melhor, sentávamos à mesa sem pressa e ao lado de pessoas queridas, e investíamos tempo e energia para obter alimentos gostosos e saudáveis. Sem nos dar conta, o ato de comer – e de cozinhar – era uma experiência gratificante e prazerosa.


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O movimento vai na contracorrente do fenômeno da alimentação rápida e padronizada que é o Fast Food São exatamente essas as características do Slow Food, movimento que vem na contracorrente do fenômeno da alimentação rápida e padronizada que é o fast food. A oposição ao fast food não é só à velocidade com que se faz uma refeição, mais que isso, é ao ritmo frenético da vida moderna, ao desaparecimento das tradições culinárias regionais, ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação e na procedência e sabor dos alimentos. Criado em 1986 pelo ativista Carlo Petrini, na pequena cidade italiana de Bra, o objetivo inicial era apoiar e defender a boa comida, o prazer gastronômico e um estilo de vida mais lento – o slow living. Com o passar dos anos, a iniciativa foi ampliada para abranger a qualidade de vida e, como consequência, a preservação do planeta. A tese de Petrini é simples: a gastronomia pertence ao domínio das ciências, da política e da cultura. O movimento está comprometido com a proteção dos alimentos tradicionais e sustentáveis. O catarinense Cláudio Andrade aderiu à causa há cinco anos e, desde então, é líder do Slow Food em Florianópolis. Andrade explica que mais de quarenta pessoas se reúnem anualmente na cidade para debater o grande problema da monocultura e a preservação das sementes crioulas. “As sementes

crioulas são importantes para a biodiversidade e ninguém se dá conta disso; o homem é o grande guardião delas e tem a obrigação de guardá-las e passá-las para as novas gerações”. No dia a dia, ele tenta mostrar para os agricultores da região que o tipo de agricultura praticado pelos seus avós era o correto. “Ensinamos que o milho híbrido e a soja transgênica fazem mal para o planeta”.

O Slow Food foi criado em 1986, na Itália, pelo ativista Carlo Petrini Para o chef de cozinha Felippe Sica, slow food é um estilo de vida. “Todas as semanas, eu tento transformar o domingo no dia do slow food, almoçando com a família sem pressa, utilizando ingredientes orgânicos e curtindo o momento”. Além de dar preferência para frutas e verduras orgânicas, Sica utiliza os ingredientes da estação. “Sempre me pergunto por que usar frutas que precisam vir de outros países, viajar de avião ou de container? O certo é utilizarmos o que a estação oferece”, sentencia. Para ele, o grande desafio do chef é aproveitar ao máximo o produto. “Temos que tirar o melhor dele sem modificar o sabor e descobrir a que potência ele pode ser elevado”. Sica não faz parte de nenhum movimento do Slow Food, mas adota um comportamento que vai na contramão do mundo atual. “O meu engajamento faço com a gastronomia. É um trabalho informal, mas tenho certeza que é muito eficiente”.


ANÚNCIO



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Capa

A história

de uma nação sem memória vira best seller “Um livro tem grande poder de transformação. E o primeiro alvo da mudança geralmente é o próprio autor”. A frase é de Laurentino Gomes, jornalista e escritor, autor dos sucessos 1808 e 1822, obras que iniciaram a trilogia que se refere a alguns dos períodos e acontecimentos que transformaram a história do nosso país: a chegada da família real portuguesa e a Independência do Brasil. O próximo da série, 1889, um relato sobre o Segundo Reinado e a Proclamação da República, deve ser lançado em 2013. Natural de Maringá, no interior do Paraná, seus livros viraram best sellers, com mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil e em Portugal, despontaram no ranking dos mais vendidos da revista Veja e lhe renderam dois Prêmios Jabuti – nas categorias Livro-Reportagem e Livro do Ano de Não-Ficção, além do prêmio da Academia Brasileira de Letras de Melhor Ensaio de 2008.


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O estudo dessas três datas é fundamental para entender o Brasil de hoje. Elas explicam a construção do Estado brasileiro durante o século XIX Paralela ao jornalismo, a História sempre foi uma paixão para Laurentino Gomes. Na infância em Maringá, suas notas na escola eram melhores nessa matéria do que nas exatas, interesse que também o levou a escolher a profissão de jornalista. Aos 20 anos foi para Curitiba estudar na Universidade Federal. No início da carreira, trabalhou em dois jornais locais, o Correio de Notícias e O Estado do Paraná. Em seguida, foi trabalhar nas sucursais de O Estado de São Paulo e da revista Veja. Ao longo de trinta anos, Laurentino trabalhou como repórter e editor de jornais e revistas, locais onde aprendeu e aperfeiçoou a técnica e a linguagem jornalísticas para tornar a história um tema acessível e atraente para um público mais amplo, não habituado a ler sobre os períodos e acontecimentos que transformaram a história do Brasil. Nos seus livros, o autor quer demonstrar que a História do Brasil pode ser fascinante, divertida e interessante. Para Laurentino um bom escritor precisa ter a habilidade de escolher as palavras para contar ou transmitir uma ideia, ampliando o interesse do público sem banalizar o conteúdo. “Repórteres e editores escrevem a história ‘a sangue quente’, relatando fatos no instante em que eles acontecem e entrevistando, ao vivo, personagens que no futuro serão objetos de estudo dos historiadores acadêmicos."

“A única diferença entre os trabalhos dos jornalistas e dos historiadores está na dimensão do tempo”

E é por meio dessa habilidade que suas obras estão fazendo tanto sucesso. Ele conta que para escrever seus livros e assim chamar a atenção do leitor, lança mão de elementos pitorescos, engraçados, às vezes até bizarros, de um acontecimento ou personagem, sem deixar de fazer um mergulho mais profundo, o que considera uma linha tênue e perigosa. Laurentino procura sempre observar as coisas com os olhos de um leitor adolescente ou um adulto mais leigo. Ele acredita que, se esse leitor conseguir entender o que ele tenta explicar, todos os demais entenderão.

de tantos livros sobre esse tema nas listas de best sellers. Sinal de que os brasileiros estão olhando o passado em busca de explicações para o país de hoje. Uma sociedade que não estuda História não consegue entender a si própria porque desconhece as razões que a trouxeram até aqui”, comenta. E complementa dizendo que uma sociedade que não consegue entender a si mesma, provavelmente também não estará preparada para construir o futuro de forma organizada e estrutura.

Considerado um fenômemo de vendas, o autor diz que tem sido surpreendido com a reação dos leitores, que enviam e-mails todos os dias fazendo elogios, sugerindo temas para futuras obras e pedindo para que não pare de escrever. “É com grande alegria que vejo a presença

Quanto à ideia de escrever sobre a história do Brasil, o autor revela que o tema o acompanha desde sempre, pois teve especial curiosidade e predileção pelos momentos fundadores da nacionalidade – o século XIX, que funciona como o código genético de cada país e ajuda a explicar suas características.


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Capa

"Depois de permanecer mais de três séculos como uma grande fazenda extrativista de Portugal, o Brasil foi inventado como país em 1808, ano da chegada da corte de D. João. Nenhum outro período testemunhou mudanças tão profundas e aceleradas quanto os treze anos de permanência da família real no Rio de Janeiro. A principal consequência foi o Grito do Ipiranga, marco da nossa Independência em 1822. Os riscos da separação de Portugal, no entanto, eram tão grandes que a elite brasileira da época preferiu manter o regime de monarquia constitucional e o poder concentrado nas mãos do imperador Pedro I, em vez de se aventurar em um projeto republicano que poderia conduzir à guerra civil e à fragmentação do território nacional. Essa situação permanece até 1889, quando ocorre a drástica mudança de regime política, de monarquia para república."

Segundo Laurentino, o estudo das três datas 1808 – 1822 – 1889 é fundamental para entender o Brasil de hoje e a edificação da identidade nacional, já que estes períodos explicam a construção do Estado brasileiro. Assim, a trilogia foi tomando corpo naturalmente a partir da publicação do primeiro livro, 1808. Para compor seus livros, lê muito, consulta documentos e confronta diferentes fontes de informação, na tentativa de chegar o mais próximo possível da verdade. Não se limita a pesquisar os livros e fontes tradicionais, visitando os locais dos acontecimentos para mostrar como estão hoje. Para facilitar a compreensão do leitor, se preocupa em atualizar valores da época, fazer comparações e dar exemplos bastante didáticos.


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“Tento demonstrar com os meus livros que a Quando questionado sobre as História do Brasil pode ser práticas e perspectivas do mercaA destreza com a linguagem e a sua presença nas redes sociais fazem com que fascinante, divertida e do editorial brasileiro, ele diz que Laurentino atinja novas audiências e leio país está mudando rapidamente interessante, mas sem tores. “Já que estamos em um novo sécupara melhor, e em quase todas as ser banal” lo, que pede linguagem e formato diferente, precisamos ter estratégias multimídia”, diz. Laurentino defende que os autores sejam generosos com esse novo leitor, de modo a atraí-lo definitivamente para o fascinante mundo dos livros. Ainda mais no Brasil onde os índices de leitura são baixíssimos, e os jovens passam boa parte do tempo surfando na internet, seduzidos pela linguagem audiovisual. “Temos de oferecer preços acessíveis, ter boas estratégias de marketing, escrever de forma didática e promover eventos e programas que incentivem a leitura no país”. Sobre novos formatos e tecnologia, Laurentino crê que estamos às vésperas de uma mudança radical nos hábitos de leitura e que os livros digitais – incluindo os audiolivros – prometem universalizar o acesso. “São mais fáceis e baratos de produzir e distribuir. Na loja da Amazon.com, por exemplo, um livro digital para o Kindle já custa metade do preço de um livro em papel. E a entrega é instantânea, por rede sem fio digital”, explica.

"É mais prático e barato distribuir livros digitais instantaneamente para milhares de escolas em todos os municípios brasileiros, de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, às barrancas do Rio Solimões, no Amazonas, em vez de gastar recursos no transporte de milhares de toneladas de livros em papel por caminhões, trens, barcos e aviões. No caso dos deficientes visuais, o custo de produzir e distribuir um livro em áudio é muito inferior ao de um livro em braile no papel, com a vantagem de ainda poder ser ouvido por pessoas que passam muitas horas no trânsito."

áreas, “e isso não é mérito individual de nenhum governo”. Além de ser um resultado do exercício continuado da democracia por quase três décadas, uma experiência inédita em nossa história. “Estamos colhendo, finalmente, os frutos da participação de todos os brasileiros na construção da nossa própria história. Hoje temos, entre outras melhorias, mais renda, mais empregos, mais educação e oportunidades do que há trinta anos”, analisa. Ele vê, como uma das consequências diretas disso, o aumento no número de leitores e o crescimento do mercado editorial brasileiro, o que acaba impondo novas responsabilidades para escritores, editores e distribuidores. “Portanto”, conclui, “há grandes oportunidades abertas em diversas áreas do conhecimento. Só precisamos saber aproveitá-las.”

Falando sobre mercado, produções literárias regionais e novos escritores, Laurentino lembra que Curitiba tem hoje uma das mais ricas produções literárias do Brasil. Cita seu autor mais conhecido, Dalton Trevisan, “com sua inigualável capacidade de captar a alma da capital paranaense”, e destaca “a mais importante e também promissora revelação atual”, Cristóvão Tezza – ganhador de alguns importantes prêmios literários brasileiros em 2008 com o romance O Filho Eterno. E completa lembrando que há outros autores menos conhecidos do grande público, “mas de uma riqueza literária fabulosa”, como Paulo Leminsky e Helena Kolody, “poucas capitais brasileiras de médio porte podem se orgulhar de ter uma galeria tão importante de escritores”. Quanto ao futuro do livro e o futuro do papel, acredita que o formato papel parece estar mesmo com seus dias contados, mas o conteúdo continuará a ser tão relevante quanto sempre foi. A República, de Platão, que já foi uma obra-prima no pergaminho, permanece relevante hoje no papel e continuará a ser nos meios digitais. "Nosso desafio, portanto, não é a mudança nos formatos, mas a qualidade do conteúdo," sentencia.


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Capa O autor que vai ao encontro do leitor: “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Desde que lançou seu primeiro livro, Laurentino deciEle cita alguns exemplos como 1776, do americano diu ir também ao encontro dos leitores, participando de David McCullough, sobre a guerra da Independênfeiras literárias, simpósios, aulas e palestras. E garante cia dos Estados Unidos, e A History of the American que tem sido uma experiência fascinante ver os leitoPeople, do inglês Paul Johnson, além de Founding res reagirem de forma carinhosa e entusiasmada à sua Brothers, do americano Joseph Ellis. No Brasil, lempresença, em noites de autógrafos com mais bra que há grandes jornalistas que se dedicam de quinhentas pessoas na fila, durante “Uma aos livros de história, como Jorge Caldeira, mais de três horas das quais saiu com sociedade que autor da biografia do Visconde de Mauá, os braços doídos, mas muito feliz. não estuda História e Elio Gaspari, autor de uma soberba hisA mudança de atitude também é não consegue entender tória sobre o Regime Militar em quatro percebida nos professores. “Existe volumes. “Mas também existem bons hisa si própria porque uma preocupação maior com a lintoriadores que escrevem como bons jordesconhece as razões guagem, de modo a tornar o ensino nalistas, como Octavio Tarquínio de Sousa, de História acessível, especialmente que a trouxeram considerado o melhor biógrafo de D. Pedro I, para estudantes crianças e adolescenaté aqui” Mary Del Priore, autora de O Príncipe Maldito tes. Acho que há também um empenho e Condessa de Barral, entre outras boas obras, e há com uma visão mais equilibrada a respeito dos também o trabalho de José Murilo de Carvalho, que personagens e acontecimentos”, observa. acredito ser hoje o nosso maior historiador vivo e o Perguntado sobre suas referências de livros-reportagem, maior especialista brasileiro em Segundo Reinado”, o autor diz que observa com muita atenção a produção ressalta. editorial dos ingleses e americanos na área de História.


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“Temos de ser generosos com esse novo leitor, de modo a atraí-lo definitivamente para Seu trabalho atual, com planos de publicação para o fascinante mundo 2013, consiste na pesquisa para o livro 1889, que dos livros” encerra a trilogia e pretende explicar o final do Segundo Reinado e a Proclamação da República. O trabalho que tem pela frente é árduo: para os próximos dois anos tem mais de cem livros para pesquisar, trabalho a ser realizado em estilo bem semelhante ao feito nas obras anteriores. O resultado deve ser parecido, serão capítulos curtos, com pequenos perfis dos principais personagens e linguagem didática e acessível. Haverá ainda capítulos dedicados aos grandes protagonistas de 1889, incluindo o imperador Pedro II e o marechal Deodoro da Fonseca. Laurentino pretende explicar em detalhes que Brasil era aquele do final do século XIX, já bastante afetado pelas ideias que varriam o mundo naquela época, pelas grandes transformações tecnológicas, mas ainda dominado pelo analfabetismo, pelo latifúndio e pelo fantasma da escravidão, abolida apenas um ano antes da Proclamação da República.

"Sou típico produto da surpreendente mobilidade social brasileira" Mesmo tendo nascido em uma região distante e carente de tudo, Laurentino demonstra muito orgulho das suas origens e conta que seus pais eram cafeicultores pobres e com poucos anos de estudo, mas que, apesar disso, valorizavam muito a educação, em especial a leitura. “Meu pai, que havia estudado só até o quinto ano primário, era um leitor voraz. Lia obras de História e Filosofia que tomava emprestadas ao pároco local, um homem bastante culto”. Ele conclui dizendo que é um “típico produto da surpreendente mobilidade social brasileira” e um exemplo das transformações que a educação pode proporcionar na vida das pessoas. “Tenho orgulho das minhas origens, o que também reforça em mim um grande senso de missão como escritor. Espero, pela leitura, ajudar a promover a vida de outras pessoas, tanto quanto meus pais fizeram ao me estimular a ler, despertando em mim o interesse pela história”.

Bibliografia 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007; Lisboa: Livros D’Hoje, 2008. 1808: edição juvenil ilustrada, voltada para o público adolescente, na faixa etária entre 10 e 16 anos. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008; Lisboa: Leya, 2008. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010; Porto (Portugal): Porto Editora, 2010. 1822: edição juvenil ilustrada, voltada para o público adolescente, na faixa etária entre 10 e 16 anos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.


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Orçamento

Equilibre

sua vida

financeira Pagar todas as contas do mês e ainda economizar um dinheirinho não é impossível. Com organização e disciplina, pessoas de qualquer classe social podem ter uma qualidade de vida financeira, independente da renda mensal. Com um controle do orçamento doméstico, é possível verificar para onde está indo o dinheiro e classificar suas despesas e receitas por categorias, como alimentação, habitação, saúde, transporte, educação, impostos, lazer e vestuário. E ainda sobrar algum.


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De acordo com o economista e sócio-diretor da Money Sul Educação Financeira, Everton Lopes, o primeiro passo para ter o controle do orçamento doméstico é anotar todos os ganhos e as despesas. “Quando deixamos de anotar nossos ganhos ou despesas corremos o risco de ter o descontrole do orçamento doméstico. E esse é o grande responsável pelo endividamento e inadimplência”, afirma. Lopes explica que a administração das finanças pessoais não depende de quanto você ganha no final de cada mês, e sim, como você controla cada real que entra e sai de seu bolso. “Existem duas regras básicas nas finanças pessoais para que uma família viva em paz com suas finanças. A primeira delas é: nunca gaste mais do que ganhar e invista bem a diferença. A segunda é: jamais esqueça a regra nº1”. Para manter o equilíbrio financeiro ao longo do ano, o ideal é que se faça uma planilha de controle de gastos. Comece detalhando todas as despesas, sem esquecer nenhuma. Essa descrição de gastos deve ser feita mês a mês, ao longo de um ano. “É fundamental, inclusive, manter o controle das pequenas despesas, pois elas são o grande vilão do orçamento doméstico. Sem perceber, você gasta R$ 1,00 aqui, outros R$ 5,00 ali e no fim do mês lá se vão R$ 100,00 ou R$ 200,00 que podem fazer falta”, explica.

A administração das finanças pessoais não depende de quanto você ganha no final do mês, e sim, como você controla cada real que entra e sai


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Orçamento

Financiamentos

Antes de fazer um financiamento, como o de um imóvel, o economista recomenda que toda família verifique qual será o comprometimento da parcela do financiamento dentro de seu orçamento. Além de reservar uma parcela da renda para a compra do bem desejado, é necessário formar uma reserva financeira para imprevistos. “É preciso estar atento a este grau de comprometimento por causa dos imprevistos, pois eles acabam fazendo com que algumas famílias, que não têm uma reserva financeira, se tornem inadimplentes”, afirma.

Prepare-se para os imprevistos

E para não virar um devedor, o conselho do economista é formar uma reserva financeira. Esta reserva poderá ser utilizada não só para imprevistos, mas também para investimentos. “Reserve pelo menos 5% a 10% de sua renda líquida como parte de seu orçamento, pois assim qualquer imprevisto que aconteça poderá ser sanado ou amenizado. Caso ele não venha a acontecer servirá para aumentar seus investimentos ou até mesmo realizar um sonho”, explica.

O controle dos gastos e uma reserva financeira podem ajudar a realizar sonhos

Dicas 1 A note todos os seus ganhos e despesas. Ter o controle completo de quanto você ganha e também de quanto você gasta é o primeiro passo para evitar o endividamento.

2 Controle cada centavo que sai do seu bolso. Existem duas regras básicas para que uma família viva em paz com suas finanças. A primeira delas é: nunca gaste mais do que ganhar e invista bem a diferença. A segunda é: jamais esqueça a regra nº1

3 O rganize seu orçamento familiar em uma planilha. Detalhe todas as despesas e receitas, sem esquecer nenhuma. Atualize o orçamento pelo menos uma vez ao mês.

4 Procure manter o controle das pequenas despesas, pois elas são o grande vilão do orçamento doméstico. Somadas, no final do mês elas representam uma quantia que pode fazer falta.

5 F orme uma reserva financeira para imprevistos. Reserve entre 5% a 10% de sua renda líquida como parte de seu orçamento, pois assim qualquer imprevisto poderá ser sanado ou amenizado. Caso ele não venha a acontecer, servirá para aumentar seus investimentos ou até mesmo realizar um sonho.





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Por Aí

Em busca de um refúgio Lugares especiais para fugir do stress e da rotina das grandes cidades

TEMPLO BUDISTA

O maior Templo Budista Tibetano da América Latina, Chagdud Khadro Ling é um belo passeio a ser feito, principalmente para aqueles que buscam momentos de meditação e paz interior. Localizado em um dos pontos mais altos de Três Coroas, no Rio Grande do Sul, o templo é cercado por uma paisagem natural inspiradora, que transmite serenidade aos milhares de visitantes que passam por lá. Fundado pelo mestre do budismo tibetano, Chagdud Tulku Rimpoche, cuja intenção era de que esse local fosse, além de um lugar propício para a prática do budismo, um ambiente em que todas as pessoas, independente da sua crença religiosa, pudessem encontrar tranquilidade e bem-estar. Dentro dos templos, imagens de Buda e mantras recepcionam e convidam a todos para a prática meditativa.


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VILA VELHA

A 100 km da capital paranaense, o Parque Estadual de Vila Velha, na cidade de Ponta Grossa, encanta por sua variedade de esculturas naturais. Esculpidas pela erosão do terreno, pela ação dos ventos e das chuvas nos arenitos, as rochas "Cálice", "Bota", "Cabeça de Camelo" e "Esfinge" intrigam e atraem turistas do mundo todo. O parque possui infraestrutura com churrasqueiras e lanchonetes. Todos os passeios são feitos por trilhas e acompanhados por guias.


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Por Aí

TREZE TÍLIAS

Não só de belas praias vive o turismo de Santa Catarina. Com a chegada do outono, uma bela opção para quem busca descanso e conforto é Treze Tílias. A cidade, chamada Dreizehn Linden em alemão, foi fundada por imigrantes austríacos, e fica a oeste da capital Florianópolis. A região é famosa por seus belos campos, a arquitetura alpina com suas sacadas de madeira trabalhada cobertas de flores e o parque aquático Termas de Treze Tílias. O Tirol Brasileiro, como é conhecida a cidade que representa um pedaço da Áustria no Brasil, abriga a Cervejaria Bierbaum, que produz cervejas artesanais e conta com uma ampla estrutura hoteleira e gastronômica, onde o visitante encontra bom atendimento, apresentações folclóricas e culturais.

Templo Budista Pode ser visitado de terças às sextas-feiras das 9h30 às 11h30 e das 14h às 17h. Sábados, domingos e feriados das 9h às 16h30min. Para visitas em grupos é indispensável agendar com antecedência. www.kl.chagdud.org (51) 3546-8201

Vila Velha Funciona de quarta à segundafeira, das 8h às 17h. Os ingressos custam R$ 18 para brasileiros, R$ 25 para estrangeiros, e meia-entrada para estudantes e residentes. www.pontagrossa.pr.gov.br/ parque-estadual-vila-velha (42) 3228-1138

Treze Tílias www.trezetilias.com.br (49) 3537-0997



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Destino

UM PAÍS ENTRE DOIS

CONTINENTES Localizada em uma das regiões de mais longa ocupação humana contínua do mundo, a Turquia moderna é herdeira de diversas civilizações por Fernando Costa

Basílica de Santa Sofia: a maior igreja do mundo por vários séculos é hoje um museu

Talvez país nenhum represente com mais vivacidade os esplendores e os traumas da relação entre Ocidente e Oriente do que a Turquia. Seu território se estende por toda a área da península da Anatólia, na Ásia Ocidental, e por uma pequena faixa dos Balcãs, no Sudeste Europeu. As histórias e o legado de incontáveis povos e de grandes civilizações, dos hititas aos otomanos – passando por gregos antigos, romanos e bizantinos – se entrecruzaram nesta região que ora separou ora uniu dois continentes, dois mundos.

Istambul

Cortada pelo estreito de Bósforo, entre o Mar Negro e o Mar de Marmara, Istambul é a ponte entre a Europa e a Ásia: a única cidade do planeta partilhada por dois continentes. Sua importância geopolítica para a história de ambos é quase sem paralelo, foi capital de nada menos que três grandes impérios: o Romano do Oriente, o Bizantino e o Otomano. Não é por acaso que ao longo da história Istambul foi conhecida por diferentes nomes, como Bizâncio, Nea Roma (Nova Roma) e Constantinopla, em homenagem ao imperador romano Constantino, o Grande. Os bizantinos a chamavam de “Rainha das Cidades”. Talvez essa beleza majestosa a que se referiam os bizantinos seja mais perceptível na praça de Sultanahmet, na parte europeia de Istambul. Lá estão duas das mais belas realizações arquitetônicas da cidade: a Basílica de Santa Sofia (Aya Sofya) e a Mesquita Azul (Sultanahmet Camii). Mais antiga igreja de Istambul, datando do reinado de Constantino, Santa Sofia se converteu numa importante mesquita do Império Otomano no século XV quando a cidade foi tomada pelo Sultão Ahmet II. Em seu interior, complexos mosaicos cristãos e refinada arte islâmica se combinam


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com extrema beleza. Do outro lado da praça de Sultanahmet, jaz a Mesquita Azul, uma construção imponente de seis torres até hoje muito importante para os muçulmanos de Istambul.

de suas importantes rotas comerciais, esses complexos subterrâneos serviam de abrigo durante as guerras ou de refúgio aos povos perseguidos. “A primeira grande civilização da Capadócia foi a dos hititas, à época de 2250 a 1200 antes de Cristo”, como explica Ahmet Guven, um dos vários guias culturais do local. “Eles vieram do outro Os brasileiros que visitam o célebre Grand Bazar lado do Mar Negro, atravessaram o Bósforo e se estabeletêm uma grata surpresa: encostada ao portão de ceram no centro da Anatólia. Os hititas criaram o primeiro acesso número 9, uma discreta joalheria ostenta parlamento da história. Eles também fizeram arquivos uma bandeira do Brasil. Seu dono é Oskar de sua época, de seus feitos. O primeiro Tratado de Os Paz registrado, o Kadesh, foi assinado pelos hititas Osçelik, um brasileiro muito simpático bizantinos pelos egípcios”. Após a queda do Império Hitique há trinta anos trabalha no local ta, a região foi conquistada pelos persas, que a chamavam ''É imenso, tem em torno de 4 mil lobatizaram com o nome pelo qual é atualmente jas e 20 entradas. É um labirinto. É o Istambul de conhecida, “Capadócia”, “a terra dos belos camaior bazar coberto do mundo e o pri“Rainha das valos”. meiro centro comercial também'', resuCidades” Esta região também guarda importantes resquíme Oskar. E argumenta dizendo que vale cios da predominância do cristianismo na Anatólia a pena comprar ouro no Bazar: ''Aqui a mão antes do domínio otomano. “A história da religião cristã de obra do ouro é barata. Também é uma prática na Capadócia começa com os romanos. Não havia liber-

de artesanato muito antiga, do tempo dos otomanos. A diversidade e a quantidade de trabalhos em ouro é imensa. O preço que eu faço não é para pechinchar'', brinca.

Capadócia

Reconhecida como Patrimônio Mundial pela Unesco desde 1950, a Capadócia, uma pequena região no coração da Anatólia, é outro caso exemplar da rica herança cultural da Turquia. Seu relevo é notável: um magnífico platô elevado a mil metros de altitude constituído por basalto e pedra de tufo remanescentes das antigas – já há muito extintas – erupções vulcânicas. Com o correr do tempo, a erosão agiu sobre os sedimentos de lava resfriada, esculpindo as maravilhosas formações rochosas que hoje vemos. Popularmente conhecidas como “chaminés de fadas”, estas elevações de rocha erodida compõem uma paisagem que fascina e estranha – é como se toda a Capadócia fosse um outro mundo a ser explorado. As mais extraordinárias chaminés de fadas da região estão localizadas em Göreme, numa área cuja riqueza histórica e beleza geológica fazem jus ao nome que comumente a designa: Museu a Céu Aberto.

A Turquia moderna emergiu dos destroços do Império Otomano

dade religiosa na Roma pagã, então os primeiros cristãos que fugiram para a Capadócia e cavaram suas igrejas nos vales, longe dos povoados”, observa Ahmet. As escavações cristãs resultaram em mais de 400 igrejas dispersas por toda a Capadócia, algumas das quais podem ser visitadas no Museu a Céu Aberto em Göreme e também no belo Vale de Ihlara. “A partir do século IV os romanos aceitaram o cristianismo como a religião oficial do império e os cristãos puderam escavar suas igrejas livremente”, conclui. Os afrescos, importantes meios de ensino religioso na Idade Média, ainda se conservam, mesmo que danificados, quando não pelo tempo, pelos surtos de iconoclasmo (destruição de ícones religiosos) que marcaram as doutrinas oficiais do Império Bizantino entre os séculos VIII e IX.

Não só o tempo esculpiu a frágil pedra de tufo, vários povos que ocuparam sucessivamente a Capadócia escavaram nela cidades subterrâneas inteiras – 36 foram

descobertas até o momento. Numa região instável e suscetível a disputas pelo controle

Museu a Céu Aberto de Göreme


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Destino Atatürk

Os cristãos predominaram na Capadócia até o século XIII, quando da ascensão de uma vasta população turca que trazia consigo a religião islâmica e o embrião do que viria a ser o vasto Império Otomano, que perdurou até sua derrota na Primeira Guerra Mundial. A Turquia moderna emergiu dos destroços deste império.

Desde a fundação Entre 1919 e 1923, couda república, a be ao general otomano Mustafa Kemal liderar as manutenção do laicismo do Estado tropas do movimento nafoi uma das diretivas cionalista turco na Guerra de Independência contra mais importantes as invasões dos Aliados ao da agenda antigo território otomano. política turca Sucedeu-se a proclamação

da República da Turquia e a ascensão de Kemal à presidência, posto que ocuparia ininterruptamente até sua morte, em 1938. Mais que o primeiro presidente, ele se tornou o líder supremo da jovem nação: impôs um processo implacável de ocidentalização da política e dos costumes, secularizou o Estado, reformou instituições e latinizou o alfabeto. Em 1934, o Parlamento atribuiu-lhe o nome honorífico pelo qual ele é hoje célebre, Atatürk (Pai dos Turcos). Imagens de Atatürk são onipresentes em toda a Turquia: casas e lojas ostentam seu retrato, estátuas suas decoram praças, prédios públicos expõem seu semblante em painéis gigantescos e mesmo objetos cotidianos como relógios, calendários, isqueiros e peças de porcelana são veículos de sua iconografia. O culto a Atatürk é quase uma doutrina oficial. E é, sem dúvida, irônico que o pai do secularismo turco tenha se tornado, ele próprio, um mito fundador sem paralelo na história recente; o que não chega a ser inesperado, já que estamos falando de um país que, ao longo da história, fez das contradições sua identidade.

Iconografia cristã e arte islâmica decoram o interior de Santa Sofia

Política e religião

A modernização abrupta imposta por Atatürk não suprimiu a religião islâmica ainda predominante no país (97% da população a professa), mas, sem dúvida, minou sua força política. Desde a fundação da república, a manutenção do laicismo do Estado foi uma das diretivas mais importantes da agenda política turca. O estudante universitário Murat Altundag é um fervoroso defensor dessa tradição secular, única entre os países de maioria islâmica na Ásia ocidental: “Estado e religião não devem se misturar, essa foi a grande lição de Atatürk, e o motivo pelo qual é lembrado e admirado”, observa. Em 1996, essa hegemonia secular foi desafiada, quando Necmettin Erbakan, líder do Partido do Bem-estar (RP, em turco), de orientação abertamente islâmica, foi nomeado Primeiro Ministro. No ano seguinte, uma Comissão Constitucional baniu o partido e depôs Erbakan, sob a alegação de defender o laicismo do Estado. Mas a reviravolta na política turca veio a ocorrer apenas em 2002, com a vitória do Partido islâmico AKP nas eleições nacionais. No ano seguinte, com maioria absoluta no Parlamento, o AKP conseguiu a nomeação de Recip Erdoğan, o líder do partido, como novo Premiê. A popularidade do governo foi confirmada nas eleições municipais de 2009 e com a recente aprovação, por meio de um referendo, de uma grande reforma constitucional.


Cinema Turco: etnia, diversidade e beleza O cinema é um meio que permite acesso privilegiado à cultura turca em todas as suas dimensões belas e contraditórias. Atravessando a ponte: o som de Istambul (Crossing the bridge, de Fatıh Akin, 2005) é um documentário turco-alemão sobre a diversidade musical de Istambul, das canções tradicionais ao som de bağlama (um instrumento de cordas típico do país) aos ritmos das tribos urbanas da cidade.

A estudante Melike Türkyılmaz está entre os que apoiam a política mais conservadora do novo governo: “Pela primeira vez, temos um governo que zela pela tradição. Estamos sendo ouvidos”. Para Murat, o atual governo é uma regressão. “A maioria das pessoas na Turquia é mal informada. Mas o maior problema é quando tentam colocar religião na política”, pontua. Para ele, a erosão da base secular pode comprometer o tão esperado (e ainda incerto) ingresso da Turquia como membro na União Europeia, aspiração que já é amplamente reconhecida como uma das prioridades políticas do país. Em sua loja no Grand Bazar, o brasileiro Oscar, como a maioria dos turcos, é hesitante ao falar de política: “A Turquia é um país moderno. Aqui, especialmente em Istambul, as pessoas são muito tolerantes com religião”. Ainda assim, ele teme o pior: “Por enquanto não temos problemas com fundamentalismo político e religioso, mas acho que em alguns anos...”, e, de súbito, silencia.

Oskar: gravata verde e amarela e bandeira brasileira Oskar: gravata verde e amarela e bandeira brasileira

Menos urbanos e mais difíceis são os filmes do diretor curdo Yılmaz Güney, clássicos não só do cinema turco, mas também do realismo social de cunho político. Güney foi, por muitos anos, ativista que lutou pelos direitos dos curdos (grupo étnico que constitui 18% da população da Turquia); devido à perseguição política, exilou-se na França, onde dirigiu filmes “à distância”, em parceria com cineastas. Seu cinema retrata desde as tradições curdas destroçadas seja pelo excesso de conservadorismo seja pela modernização (O Rebanho – Süru, 1979) até as brutalidades cotidianas das vidas nas prisões (O Muro – Duvar, 1983). Um de seus filmes mais importantes e comoventes, O Caminho (Yol, 1982), premiado com a Palma de Ouro em Cannes, narra a história de cinco presos que ganham liberdade provisória de uma semana para reverem seus entes queridos; fora da prisão, cada um deles depara com uma forma particular da ditadura militar então vigente, como se a opressão social fizesse de todo o país um cárcere. Outro filme premiado em Cannes, com o prêmio de direção, 3 Macacos (Üç maymun, de Nuri Bilge Ceylan, 2008) também carrega uma poderosa – e perturbadora – mensagem, uma tragédia familiar motivada pela tentativa malsucedida de reparação de um crime com qual nenhum deles teria, aparentemente, relação. Um interessante projeto que chamou a atenção de cinéfilos do mundo inteiro para o cinema turco é a trilogia do diretor Semih Kaplanogu: Ovo (Yumurta, 2008), Leite (Süt, 2009) e Um doce olhar (Bal, 2010). Os três filmes contam a história de Yusuf, jovem aspirante a poeta que se depara com as incertezas da vida. Entre o mundo real e os sonhos a narrativa se movimenta, com simplicidade, pelo interior da Turquia, revelando belas paisagens e momentos de intenso lirismo.

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Política

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul:

a empreitada dos governantes da Região Sul

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a participação dos estados sulinos no PIB do país chegou a 16,6% em 2008, último ano de consolidação disponível. Só a construção civil impulsionou, naquele ano, 5,6% no RS, 7,5% em SC, 7,9% no PR. Com uma economia dinâmica e diversificada a Região Sul também contribui, e vem contribuindo, significativamente na arrecadação tributária do país. O mercado imobiliário vem se consagrando com destaque não só no cenário regional como também no nacional. Conversamos com os governadores eleitos na última eleição para saber quais as expectativas e políticas que serão adotadas na nova gestão dentro desse setor.

O Estado paranaense conta com Beto Richa, do PSDB; o catarinense com Raimundo Colombo, do DEM. Ambos partidos de oposição ao da presidente Dilma Rousseff. Já o Estado Rio-grandense conta com Tarso Genro, do PT. Todos garantiram suas vitórias ainda no primeiro turno. O governador Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, também foi convidado a participar, mas informou, por meio de sua Secretaria de Comunicação e Inclusão Digital, que no momento está atendendo somente os veículos de caráter geral.


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Beto Richa

Revista Lopes - Que medidas seu governo pretende tomar para impulsionar o mercado imobiliário no seu Estado? Beto Richa – Estamos agindo em três frentes diferentes para estimular o mercado imobiliário no Estado. Em primeiro lugar, com a criação de uma política industrial que contempla a descentralização econômica, criando novos polos de industrialização, hoje concentrados em algumas áreas do Paraná, especialmente a Região Metropolitana de Curitiba. Já estamos trabalhando, por exemplo, no apoio às prefeituras que planejam criar novos parques industriais. Em segundo lugar, com a ampliação e modernização da infraestrutura de transporte e logística. Já concluímos a dragagem emergencial do porto de Paranaguá e já iniciamos o diálogo com as concessionárias para reduzir as tarifas do pedágio. O terceiro ponto, mais específico, é a política de moradia, comandada pela Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) com um viés essencialmente social. Raimundo Colombo – Serão adotadas medidas estruturais e administrativas. Entre as principais ações, destacam-se: a manutenção da redução da alíquota do ICMS da cesta de material de construção (de 17% para 12%); projetos para ampliação das redes de água e esgoto para atender a crescente demanda; novas formas para agilizar os licenciamentos ambientais para empreendimentos sociais; compra e urbanização de terrenos para incentivar a construção de habitações para população de baixa renda; parceria com o poder público para exonerar os tributos municipais, principalmente nos empreendimentos de cunho social e o estudo de taxas de subvenção para famílias carentes, tendo como alvo prioritário os catarinenses que vivem no campo e em áreas de risco.

Raimundo Colombo

Lopes - A mão de obra especializada na construção civil é escassa, o que acaba incidindo em custos adicionais para as empreiteiras, uma vez que elas precisam investir na qualificação de pessoas. Que medidas o seu governo tomará para resolver este problema? Richa – O governo vai atuar em parceria com as instituições do Sistema S (Sebrae, Senac, Senar, etc.), com os sindicatos, as universidades estaduais e as entidades representativas da sociedade (Faep, Fiep, Ocepar, Federação do Comércio, Faciap, Sinduscon, Instituto de Engenharia, Secovi, CREA e outras) na capacitação profissional. A qualificação da mão de obra vai se nortear pelas demandas locais de mercado, de acordo com as vocações regionais. Colombo – O Governo do Estado de Santa Catarina, através da Cohab/SC, participa de uma parceria com Fiesc, Senac e sindicatos setoriais para a implantação de oito escolas regionais para a capacitação de mão de obra em construção civil, com destaque para formação de jovens e mulheres. Além da qualificação de pessoas, o governo do Estado também estuda a utilização de novas tecnologias, limpas e sustentáveis, neste ramo.


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Política

Lopes - De que forma o seu governo está trabalhando para resolver o déficit habitacional do Estado? Richa – O Estado trabalha na habitação urbana e rural para resolver o déficit de moradias e a melhoria da habitabilidade das famílias com renda de até três salários mínimos. As ações serão dirigidas à construção de novas unidades, regularização da titulação fundiária, melhoria das casas já existentes e realocação das famílias que residem em áreas impróprias, às margens de rios e mananciais, para regiões dotadas de infraestrutura social e urbana. A habitação será tratada como medida fundamental da qualidade de vida das famílias paranaenses, como fator de segurança e estabilidade. Para isso, a Cohapar atuará em conjunto com a Sanepar na questão do saneamento, em parceria com os municípios, e com a Copel, que tem um papel estratégico na difusão de novas tecnologias, especialmente na oferta de acesso à internet com banda larga. Colombo – Santa Catarina é hoje o Estado com o menor déficit habitacional do país: 7,6% (índice relativo, proporcional ao número de domicílios). Para diminuir esse déficit, o Estado trabalha na criação de estímulos, como facilitar os licenciamentos para habitações populares, a urbanização de áreas para construção de moradias destinadas a famílias de baixa renda, as parcerias com municípios, sindicatos, cooperativas, associações e entidades do setor, além da elaboração do Plano Catarinense de Habitação de Interesse Social (PCHIS).

Lopes - Como o seu governo está lidando com as alterações no cenário local causadas pelo mercado imobiliário? Richa – O mercado imobiliário passou e passa por transformações explosivas, caracterizadas pela valorização dos imóveis e demanda acelerada. O Estado deve lidar com este cenário em sinergia com os municípios, sobretudo no apoio e fomento ao desenvolvimento econômico, social e urbano. Colombo – Na posição de Estado que apresentou o maior crescimento populacional da Região Sul na década, conforme o Censo 2010 realizado pelo IBGE, Santa Catarina estuda soluções para garantir o desenvolvimento de forma ordenada. Para as grandes cidades, uma das iniciativas que devem ser adotadas é o incentivo à verticalização dos empreendimentos. A Cohab/SC planeja também a produção de bairros sustentáveis, integrados à malha urbana e com todos os equipamentos sociais instalados nas proximidades, de maneira que permitam uma menor mobilidade e também evitem grandes deslocamentos.

Lopes - Que medidas o seu governo tomará para manter a demanda por imóveis e o setor da construção civil aquecidos? Richa – Na primeira semana de governo determinamos um corte de 15% nas despesas de custeio e a suspensão dos pagamentos, pelo prazo de 90 dias, como forma de recuperar a capacidade de investimentos do Estado em obras e políticas públicas. Sem este ajuste fiscal não haveria como restaurar as condições de investir, que são imprescindíveis para a modernização da infraestrutura urbana e de transporte. Fizemos isso na prefeitura de Curitiba já no início da gestão, em janeiro de 2005, e o resultado foram cinco anos seguidos de superávit fiscal harmonizado com uma média de investimentos de quase 10% das receitas líquidas municipais, bem acima da média nacional. O crescimento sustentado da construção civil está fortemente vinculado à capacidade do Estado de oferecer sua contrapartida. A atração de novos investimentos e novas empresas interessadas em aqui se instalar é outro fator central de geração de oportunidades na construção civil. Nos últimos anos, o capital produtivo não teve um terreno propício ao investimento. Agora, a ordem é dialogar. Portas abertas à produção. E também à determinação de flexibilidade fiscal – sempre nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal – para atrair empreendimentos geradores de emprego, tecnologia e inovação. De outra parte, vamos reproduzir, no Estado, a excelente parceria que mantivemos em Curitiba com as entidades do setor, como o Secovi, o IEP (Instituto de Engenharia do Paraná), o CREA e o Sinduscon/PR. Colombo – Oferecendo esses incentivos já citados anteriormente e realizando parcerias com todos os setores da sociedade, para atender todas as faixas da população, além de buscar informações sobre novas formas de financiamentos para o setor habitacional no Estado.



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Intervenção

Germano Preichardt

“A orla de Porto Alegre deveria ser melhor aproveitada”. Essa é a justificativa do fotógrafo Germano Preichardt por ter escolhido essa imagem como o seu olhar da capital dos gaúchos. A bela foto retrata o lago Guaíba emoldurado pelo Cais do Porto e pelos edifícios típicos de uma grande metrópole. Germano Preichardt é fotógrafo e coordenador do projeto “Fotografia com Exposição”. É professor convidado de extensão do Núcleo de Fotografia da UFRGS. Fundador do Paralelo 30 fotoclube e colaborador da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul, da Revista Sul Sports e de diversos sites. Para saber mais sobre o trabalho do profissional, escreva para manoge@gmail.com


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Metrópole

Desengarrafe-se Região Sul é apontada em pesquisa com o maior índice de congestionamentos

Uma pesquisa divulgada em janeiro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, no total, 36,5% da população brasileira é atingida por congestionamentos. A análise intitulada Sistema de Indicadores de Percepção Social: Mobilidade Urbana mostra ainda que, de todo o país, é a Região Sul que registra o maior índice de pessoas que ficam trancadas no trânsito: 21,9%. A região Sudeste aparece logo em seguida, com 21,6%.

Porto Alegre


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Curitiba

E tanto congestionamento tem uma razão: a grande quantidade de veículos nas ruas. De acordo com dados da Urbanização de Curitiba (URBS), a frota de Curitiba é de um carro para cada 1,6 habitante. A situação é semelhante em Florianópolis, onde o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) registra o equivalente a um veículo para cada 1,8 habitante. Já em Porto Alegre, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) registra um carro para cada dois habitantes. Com tantos veículos nas ruas, fica praticamente impossível um motorista não enfrentar, ao longo de seu trajeto, ao menos uma rua com trânsito lento. Em Porto Alegre e Florianópolis os engarrafamentos já fazem parte do cotidiano de quem se desloca pelas ruas das capitais. Diferente do que ocorre nas capitais gaúcha e catarinense, o trânsito de Curitiba apresenta maior fluidez no horário de pico. Uma das explicações é que a cidade conta com diversas avenidas de mão única, o que contribui para a melhor circulação. Conforme dados da URBS, o Plano Diretor prevê um tripé integrado: transporte, uso do solo e sistema viário. Esses eixos permitem ao motorista atravessar de um bairro a outro em mão única.

Em Curitiba a frota é de um carro para cada 1,6 habitante

Melhorias

Nas três capitais, os órgãos responsáveis estão trabalhando em obras e projetos para melhorar a situação. No dia a dia, ações emergenciais: a retirada de estacionamentos das ruas em Curitiba, proporcionando um aumento de 50% da capacidade das vias; a abertura da Rua Ramiro Barcelos como uma rota alternativa no sentido Sul-Norte, em Porto Alegre; e a Operação Bom Dia da Guarda Municipal de Florianópolis, que foi criada para diminuir os congestionamentos para quem chega na Ilha durante as primeiras horas da manhã, geraram reflexos positivos na mobilidade urbana.


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Metrópole

Florianópolis Em Florianópolis, para melhorar a situação no longo prazo, a grande aposta das prefeituras está nas obras para a Copa de 2014. Em Curitiba, a URBS está implantando o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM). Composto por softwares, equipamentos especializados e obras de aperfeiçoamento, o sistema permitirá uma análise contínua das condições do trânsito e transporte coletivo. Já os moradores de Porto Alegre vão enfrentar dez obras para melhorar a mobilidade urbana. No total, serão destinados cerca de R$ 480 milhões para tentar solucionar o tráfego nas principais vias de acesso à cidade. Além disso, a capital gaúcha também possui um sistema de monitoramento. Equipado com câmeras, o Centro de Controle do Sistema Viário proporciona o controle do trânsito em tempo real e permite ações como a tomada de medidas de emergência em situações especiais no atendimento a acidentes, desvios de tráfego e alterações nos tempos de semáforos. Em Florianópolis, as obras já estão em andamento. Em agosto de 2012, a Prefeitura deve entregar o viaduto do Rita Maria, localizado logo após o elevado Dias Velho, no acesso à avenida Beira-Mar Norte. Finalizada, a obra terá duas pistas com 390 metros de comprimento e oito de largura, com capacidade diária de fluxo de até 50 mil veículos. O viaduto ajudará a desafogar o fluxo de trânsito para o Norte da Ilha.

Ciclovias

Aqueles que pensam em trocar o carro pela bicicleta, ainda podem encontrar dificuldades de locomoção, entretanto, as projeções para o futuro são um pouco mais animadoras. Em Curitiba, além dos cem quilômetros já existentes de ciclovias, a prefeitura também iniciou a im-

plantação dos primeiros dez quilômetros de ciclofaixas – um espaço exclusivo para bicicletas, ao lado da via usada por carros, mas separado por tachões. A situação é animadora também em Florianópolis. Entre continente e praias da Ilha, a capital conta com mais de 39,7 quilômetros de ciclovias. Porto Alegre conta com oito quilômetros de ciclovias. Além disso, a capital gaúcha oferece vias de lazer exclusivas para pedestres e ciclistas aos finais de semana. Conforme a EPTC, está prevista a construção de uma ciclovia na extensão da Avenida Ipiranga, em parceria público-privada. O Plano Diretor Cicloviário estabelece um potencial de cerca de 600 quilômetros de ciclovias na capital.

Existe solução?

Na opinião do diretor-presidente do Detran-RS, Alessandro Barcellos, planejar melhor o crescimento das cidades, para que cresçam de forma organizada e um transporte público de qualidade, com regularidade de horários são duas medidas que podem ajudar a resolver o caos no trânsito a longo prazo. “A saída imediata é mais difícil porque depende de soluções paliativas, como estudo de fluxo, caminhos e vias alternativas. São soluções imediatas e muitas não resolvem o problema do ponto de vista mais geral”, explica.

Em Porto Alegre há dez obras pela frente para melhorar a mobilidade urbana



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Eventos

20o Festival de Curitiba: todos os holofotes das artes nacionais para a capital paranaense

Guta Stresser na peça As Próximas Horas Serão Definitivas Entre 29 de março e 10 de abril, o evento promoveu perto de 400 peças teatrais, shows musicais, ilusionismo, mostra de cinema, debates, lançamentos de livros e gastronomia Música, circo, stand up, dança, gastronomia, cinema e teatro, muito teatro. O Festival de Curitiba – o grande guarda-chuva que abriga o Festival de Teatro de Curitiba, Gastronomix, Risorama, Guritiba, Mish Mash, É Tudo Improviso, PUC Ideias e Sesi Dramaturgia – que aconteceu na capital paranaense de 29 de março a 10 de abril, transformou a cidade, pela vigésima vez, em um imenso e democrático palco. Ao longo de seus 13 dias e oito eventos, o Festival de Curitiba movimentou cerca de três mil artistas, empregando em torno de 700 profissionais das áreas técnicas, direta e indiretamente. Esses profissionais se dividiram diariamente para atender as necessidades das companhias instaladas em 83 espaços espalhados pela cidade, que abrigaram mais de 60 apresentações diárias, em média – com picos que ultrapassaram 150 apresentações nos finais de semana. Nesta edição, foram ao todo 31 espetáculos, com oito estreias, duas pré-estreias e, como já é de praxe, um espetáculo internacional: o argentino Tercer Cuerpo.

Entre as estreias, Sua Incelença, Ricardo III, com o grupo Clowns de Shakespeare, sob direção de Gabriel Villela, foi um presente do Festival para Curitiba, que fez aniversário no dia da abertura da mostra. Édipo, com direção de Elias Andreato; Preferiria Não?, com Denise Stoklos; Sete Por Dois, com Stella Miranda e Tim Rescala; Tio Vânia, com o grupo Galpão e O Último Stand Up, dos Satyros, completam a grade de estreias da Mostra Oficial, que junto com o Fringe compuseram o Festival de Teatro de Curitiba. Dois espetáculos, Tathyana, da Cia. de Dança Deborah Colker e Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, da Sutil Cia. de Teatro foram as pré-estreias. “O mundo mudou e, cada vez mais, temos que entender o que acontece no nosso contexto, se adequar a ele. O público está mais participante, exigente e questionador”, avalia Leandro Knopfholz, diretor do Festival. “As peças também passaram a usar cada vez mais recursos tecnológicos, exigindo da produção cada vez mais profissionalismo. Acompanhar o avanço dos encenadores tem sido um grande desafio técnico do festival”, completa.

História Ao longo de duas décadas, o Festival se consolidou como a grande vitrine para artistas e companhias de teatro do Brasil e do exterior. Um espaço aberto para todas as artes, mas mantendo o pé firme no teatro. Nessa caminhada de 20 anos, o Festival de Curitiba também firmou a cidade como referência no cenário teatral brasileiro e reservou seu espaço na agenda cultural do país. O Festival de Teatro de Curitiba nasceu em uma mesa de restaurante. Sem saber ao certo o alcance e a força das ideias que ali surgiram, um grupo de jovens amigos dava os primeiros passos para o que viria a ser um dos mais importantes eventos de teatro do período de transição entre os séculos 20 e 21. Os estudantes Leandro Knopfholz e Carlos Eduardo Bittencourt, então com 18 e 22 anos, tinham acabado de ver a peça New York, New York, de Edson Bueno, no Teatro Guaíra e resolveram esticar a noite. Lamentavam o baixo número de peças de teatro em cartaz na cidade quando Leandro sugeriu que ao invés de lamentar, poderiam organizar um festival na cidade. A partir daí começou o corre-corre: campanha, patrocínios, programação e produção. Leandro e Carlos chamaram os


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amigos Cássio Chamecki e Victor Aronis. Em dezembro de 1991 promoveram a festa de lançamento do Festival, que iria estrear no dia 19 de março do ano seguinte. A edição 1992 do Festival trouxe ao Paraná grandes nomes do teatro brasileiro, como Antunes Filho, José Celso Martinez Correia e Gabriel Villela. Quando viram os convidados no saguão do hotel, os amigos sentiram um frio na barriga: "Meu Deus, olha só o que a gente fez". Desde então, em março Curitiba transforma-se em um imenso palco, onde – até a edição passada – foram apresentados cerca de 2800 espetáculos para um público estimado em 1,6 milhão de pessoas.

Gastronomix Entre os vários eventos do Festival de Curitiba, o Gastronomix, sob o comando do renomado chef Celso Freire, reuniu estrelas da cozinha e seus pratos requintados, apresentados e servidos em “barraquinhas” de quermesse. Em suas duas primeiras edições, o Gastronomix atraiu oito mil pessoas e contou com a presença de Flávia Quaresma, Emmanuel Bassoleil, Rodrigo Oliveira, entre outros grandes chefs brasileiros. Esse ano, entre os que aceitaram o convite foram Thomas Troisgros, Ivan Faria, Helena Rizzo e Manu Buffara. O Gastronomix foi apresentado pela Electrolux, com o importante apoio da Rossi e da Fundação Grupo Boticário.

Comprometimento com a sustentabilidade

integrar as ideias de sustentabilidade, empreendimentos e gastronomia”, afirma Elaine Moro Costa, idealizadora do projeto. O mobiliário do estande foi composto por caixas de verduras (provenientes do refugo do Ceasa), que serviram de base para a mesa. Já o tampo utilizou vidro reciclado. Toda a iluminação do espaço foi feita em LED, que, na comparação com uma lâmpada incandescente tradicional, proporciona uma economia de energia de 80%. Houve, ainda, três luminárias feitas com ralador de queijo, complementando a cenografia. Os visitantes que foram ao estande da Rossi participaram de uma oficina de customização de ecobags, com a orientação da artista plástica Rita Torres. A profissional, especializada em trabalhos naturais, utilizou materiais como grãos de café, retalhos de tecidos descartados, fitas e botões reaproveitados. “Sempre estamos preocupados com as questões de sustentabilidade. Já adotamos isso nos nossos projetos e apoiar um evento como esse só reforçou o nosso comprometimento com o meio ambiente”, destaca o diretor da Regional Sul da Rossi, Gustavo Kosnitzer. “A Rossi não poderia ficar de fora de um evento tão importante e consagrado em Curitiba. Atuamos na cidade há seis anos e sabemos que o público daqui é exigente e, ao mesmo tempo, sofisticado quando o assunto é gastronomia”, finaliza Kosnitzer.

A Rossi - uma das principais incorporadoras e construtoras do País – inovou na criação de seu estande na terceira edição do Gastronomix. Como uma das apoiadoras do evento, a empresa projetou um estande ecológico, com produtos reutilizáveis e naturais. O piso foi executado com sobras de pneus reciclados, picados e tratados. As paredes que compuseram o ambiente foram produzidas com tijolos ecológicos, provenientes de demolição. Hortaliças orgânicas cultivadas em vasos feitos a partir da reciclagem de cascas de ovos foram usadas na decoração. Na parede de vidro, que separava o estande da Rossi, foi feita uma ambientação com samambaias penduradas. “Houve uma relação entre os tijolos à vista e sua mistura com as plantas, favorecendo a compreensão da área em que a Rossi atua e o conceito do estande, de Gastronomix




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ento

Comportam

Batom e... Mãos à obra Atento às qualidades do gênero feminino, o mercado da construção civil aposta nas mulheres

A Revolução Industrial definitivamente foi um marco na história da civilização. Trouxe avanços tecnológicos e muitas facilidades, mas também contribuiu para uma mudança significativa no processo social: a vida familiar tradicional estava com os dias contados. Antes submissa, as mulheres eram responsáveis por todas as tarefas da casa e dos cuidados com os filhos. Depois da revolução, elas foram entrando pouco a pouco no mercado de trabalho, ocupando funções e desenvolvendo tarefas até então exclusivas aos homens.

Considerado um reduto masculino, a construção civil não contava que iria admitir mulheres nas suas empreitadas. Mas essa realidade está mudando. Atentas ao capricho, à organização e à delicadeza das mulheres, as empresas vêm investindo nelas para fazer acabamentos, montar azulejos, rejuntar e até coordenar as instalações elétricas e hidráulicas. Números do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que em 2006, o setor empregava mais de 50 mil mulheres em todo o país. Em 2010, o número subiu para 92.298 mil. Consagrado como um dos setores que mais gerou empregos nos últimos quatro anos – quase meio milhão – a construção civil ainda emprega mais homens do que mulheres.


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De acordo com lideranças do segmento, hoje o mercado está aquecido, mas carente de pessoal qualificado. Na capital gaúcha, no mês de março, a prefeitura assinou um protocolo de intenções que oferece mais de 600 vagas para mulheres em cursos de qualificação na área de construção civil. Desenvolvido em parcerias com outras entidades o projeto quer incentivar primeiramente a complementação da renda familiar. A chegada das mulheres aos canteiros de obra parece um caminho sem volta e a tendência é de aumento. No programa Doutores da Construção – uma comunidade virtual que presta serviços para o público que necessita de mão de obra civil –, que tem como objetivo melhorar a experiência do consumidor final em relação a construções e reformas, e oferecer treinamento e aulas em várias especialidades, elas já representam entre 12% e 13% do total de 56 mil capacitados. De acordo com a gerente-geral do programa, Kátia Matias, em 2010, as mulheres representaram 3,9% dos formados no Rio Grande do Sul, 2,1%, em Santa Catarina e 1,3%, no Paraná. “Os milhares de postos de trabalho abertos a cada dia e os salários atrativos contrastam com a falta de mão-de-obra qualificada. Entendo que as mulheres já perceberam que há espaço e oportunidades para todos no setor e, por isso, elas estão buscando capacitação”, diz ela e acrescenta, “as mulheres são muito requisitadas para tarefas que envolvam mais detalhamento, sensibilidade, intuição e concentração”. É o caso da servente de obra, Teresinha Aparecida de Castro, 43, que trabalhou durante 22 anos em uma casa de família e hoje está na sua primeira obra. “Antes eu trabalhava de segunda a sexta como doméstica e de sexta a domingo em uma lanchonete. Aí eu li no jornal que a construção civil era um mercado que precisava de mão de obra e que iria começar um curso só para mulheres. Então eu fui lá me inscrever. O curso foi muito puxado, abaixo de sol, abrimos valeta, fizemos contrapiso, reboco, tijolos com restos de materiais, levantamos paredes, assentamos azulejos”, conta ela. Diante de tanta iniciativa e determinação os homens agora estão curiosos e preocupados. Teresinha diz que hoje tem o apoio do marido e dos filhos, mas que no início eles levaram um susto:

Quando eu disse que iria fazer o curso eles não gostaram muito. Ficaram preocupados, disseram que era um trabalho pesado e que eu iria passar muito tempo com outros homens. Mas hoje eles têm orgulho e até me ajudam a cuidar da casa, porque sabem que eu chego cansada. No canteiro de obras, os pedreiros não contavam que os seus serventes seriam “as serventes” e ficaram surpresos quando viram as duas colegas de capacete, querendo usar a betoneira para mexer a massa. “Eu já pedi a eles para assentar bloco de concreto também. Ah, pedi! Porque eu quero ser pedreira, que ganha mais, e eu já quero me preparar”, conta entusiasmada Teresinha. Segundo o contramestre de obra, Ricardo Machado, que monitora e controla o trabalho de Teresinha e sua colega, tem muitos homens que ainda não aceitam: ''Eles acham que mulher não tem que fazer serviço pesado. Já outros acham que se agora nós temos uma mulher como presidente, não vêem porque não ter mulheres também trabalhando em obras''. O contramestre acha que, com o tempo, os homens podem perder espaço se não buscarem qualificação e aceitarem a presença delas. “Eu trabalho há 20 anos com construção, em outra obra cheguei a trabalhar com 14 mulheres, e posso afirmar que o serviço delas rende, em média, 50% a 70 % mais que o dos homens. Elas são dedicadas e organizadas”. A assistente administrativa de Recursos Humanos, Patrícia Reis, que supervisiona a rotina das duas serventes e dos demais funcionários, acredita que ter mulheres em um ambiente onde a maioria são homens só favorece o relacionamento. “Nós temos 190 funcionários nessa obra e estas duas são minhas aliadas! Os pedreiros estão aceitando bem, mas ficaram muito curiosos, pois acharam que as mulheres que viriam pra cá seriam para os trabalhos administrativos e para fazer limpeza”, conta Patrícia. A assistente também observa que as serventes são caprichosas, cumprem prazos, chamam a atenção dos colegas, zelam pela empresa e não se atrasam.

CURSO

Porcentual de mulheres no curso em 2010

Matemática na Construção Civil

6,30%

Leitura de Plantas

5,20%

Texturas e Efeitos Especiais

5,00%

Execução de Fundações e Alicerces

4,70%

Contrapiso

4,60%

Telhados

4,60%

Sistemas de Aterramento

3,90%

Tipos de Reboco

3,90%

Introdução à Hidráulica

3,80%

Técnicas de Revestimento Cerâmico

3,80%

Fonte: www.doutoresdaconsturcao.com.br


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Notícias

Workshop Regional Sul No fim do mês de março, gerentes de vendas, diretores, gerentes e coordenadores da área administrativa passaram três dias em Balneário Camboriú (SC) participando do workshop Lideranças – Regional Sul. O grupo ficou hospedado no Recanto das Águas – Resort & Spa e os 68 participantes aprenderam um pouco mais sobre integração, motivação e capacitação de competências.

Carolina Tostes de Alencar, coordenadora de RH e organizadora do workshop, ressalta que o evento foi importante para alinhar metas e objetivos, melhorar a performance individual e solidificar a base conceitual e a prática consistente. “Além de desenvolver competências para a gestão de pessoas”, complementa.

Parceria exclusiva Dell Anno e Lopes Sul A Lopes Sul fechou uma parceria exclusiva com a Dell Anno: o cliente que comprar um imóvel com a Lopes recebe vantagens especiais nas autorizadas da marca de móveis planejados em Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba. O feliz proprietário de uma casa própria terá a sua disposição projetos pré-programados e exclusivos, desenvolvidos pela equipe de projetistas da Dell Anno.

Claudio Sachet, diretor da Dell Anno, afirma que a empresa vê inúmeras vantagens de se estabelecerem parcerias. A primeira delas é a associação de marcas destacadas no segmento, conferindo credibilidade e segurança ao negócio. “Outro fator importante é que estamos num tempo em que os clientes buscam personalização nas suas escolhas e formatar parcerias entre empresas possibilitam que o atendimento indicado seja personalizado nas diversas fases da aquisição”, avalia Sachet.



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Onde encontrar? São muitos os locais onde você pode encontrar a Revista Lopes Sul. Confira abaixo o ponto de distribuição mais próximo de você ou mande um e-mail para revista@lopes.com.br e receba em sua casa:

Paraná

Santa Catarina

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