LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Taís Curi Santos/SP
Narcisismo auricular Todas as vezes que fico diante de um ‘interlocutor’ que se extasia com a própria voz, ignorando completamente todas as outras que o cercam, lembro-me de um grande amigo. Ele possui um diagnóstico perfeito para esse tipo de ‘anomalia’: narcisismo auricular. Brincadeira à parte, o fato é que não raras vezes tenho encontrado pessoas que preferem mesmo ouvir e se deleitar somente com o que dizem, sem dar qualquer chance para um comentário complementar e, muito menos, que ofereça oposição ao que expressam. Dia desses pude constatar - mais uma vez - o quanto meu amigo foi assertivo na classificação. Entrei ansiosa em uma live, na qual seria tratado um assunto que me interessava muito. Outros participantes foram ingressando rapidamente e, em pouco tempo, já formávamos um grande grupo. O coordenador então se apresentou e a sala foi aberta. Passados os primeiros quinze minutos, só ele falava, não dando a menor bola para os sinais de mãozinha levantada, que apareciam na tela para indicar que mais pessoas desejavam participar da conversa. Eu fiz três tentativas, pelo menos, e não obtive sucesso em nenhuma delas. E a criatura, prosseguia... Próximo dos quarenta minutos e sem que houvesse qualquer concessão por parte do ‘Narciso’, a sala já estava praticamente vazia, restando somente eu e mais dois inscritos. De minha parte, já havia perdido o interesse pelo tema tratado, mas queria ver até onde aquela situação iria. Penso que o mesmo deveria estar ocorrendo com os outros que ficaram. E não é que aos 60 minutos – cravados –, a live é encerrada, com o seguinte comentário: “Foi muito importante a participação de todos vocês para jogar luz
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